ESTÁGIO E FORMAÇÃO DOCENTE: REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DO FUTURO PROFESSOR Lidiane Rodrigues do Amaral da Silva; Ronaldo Sagrillo; Paola Flores Sturza; Catiane Mazocco Paniz Acadêmica do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas - IFF Farroupilha, Câmpus São Vicente do Sul; Acadêmico do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas -IFF Farroupilha, Câmpus São Vicente do Sul ; Acadêmica do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas IFF Farroupilha, Câmpus São Vicente do Sul; Professora - IFF Farroupilha, Câmpus São Vicente do Sul Introdução O estágio supervisionado é de extrema importância para a formação do acadêmico de licenciatura. Durante o período de estágio, podemos vivenciar a prática docente de forma real, onde desenvolvemos atividades diversas como planejar aulas, avaliações, aulas em laboratório de informática, aulas práticas usando material em sala de aula. Enfim, uma preparação completa que possibilita o licenciando enxergar como será sua futura profissão. A oportunidade de estágio está baseada justamente na possibilidade efetiva do aluno vivenciar de forma prática o que aprendeu na teoria. Estágio é o ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho que visa à preparação para o trabalho produtivo do estudante. Tem sua importância na integração do processo educativo e na formação do estudante, de modo que prepare para as atividades profissionais valorizando a função social da parte concedente do estágio (IEL/Núcleo Central, 2010). O estágio é uma forma de vivenciarmos a docência, ao mesmo tempo em que nos permite testar o caráter didático do professor que fomos durante esse período e com a análise crítica de que profissional nos tornar. Dentro dessa forma de pensamento, a vivência em sala de aula nos permite analisar a forma como agimos, a didática e a teoria que conseguimos estabelecer com o que queremos mudar e de que forma devemos buscar essas mudanças. Para Pimenta & Lima (2005/2006) o estágio é “(...) um campo do conhecimento, o que significa atribuir-lhe um estatuto epistemológico que supera sua tradicional redução à atividade prática instrumental”. Muito mais do que nos permitir vivenciar a teoria, o estágio nos permite estabelecer o contato social, o que ao futuro profissional da educação é fundamental, tendo em vista que o desempenho de sua função está intimamente ligado com a cultura e cotidiano da comunidade que o cerca e com a qual, ou para qual, ele irá desempenhar seu trabalho. Em relação a essa integração social podemos utilizar as palavras de TARDIF (2012, p.13): (...) esse saber também é social porque seus próprios objetos são objetos sociais, isto é, práticas sociais. Contrariamente ao operário de uma indústria, o professor não trabalha apenas um “objeto”, ele trabalha com sujeitos e em função de um projeto: transformar os alunos, educá-los e instruí-los. Ensinar é agir com outros seres humanos (...). Daí decorre todo um jogo sutil de conhecimentos, de reconhecimentos e de papéis recíprocos, modificados por expectativas e perspectivas negociadas. Portanto o saber não é uma substância ou um conteúdo fechado em si mesmo; ele se manifesta através das relações complexas entre o professor e seus alunos. Portanto, a importância do estágio de docência se dá no decorrer da integração entre aprendizagem teórica, vivência da prática e estabelecimento de relações sociais. Essas relações são proporcionadas ao professor no laboratório de estudo mais amplo, a sala de aula. O estágio de docência O estágio de docência é um espaço que permite ao graduando a criação de suas próprias metodologias, bem como construir de forma crítica o processo de ensinar e aprender. Além de possibilitar ao licenciando a vivência de seu aprendizado, o estágio é uma forma diferenciada de conhecimento, sintetizando todas as etapas de ensino. De acordo com Garrido & Pimenta (2011) “ter competência é diferente de ter conhecimento e informação sobre o trabalho, sobre aquilo que se faz; é ter visão de totalidade,(...) e implicações do que se faz para além da situação em que se está (...)”. O estágio é um momento difícil, no qual os estagiários encontram problemas, dilemas e frustrações que precisam ser entendidos como parte do aprendizado. A competência para compreender e gerir este complexo universo fará uma grande diferença (PANIZ; FREITAS, 2011). Para o desenvolvimento do estágio, há a necessidade de conhecimento específico, assim como a responsabilidade de ser um orientador do conhecimento e não um simples “transmissor” do conteúdo estudado. Dessa forma o futuro educador deve perceber a ciência como uma “forma de curiosidade que deve ser estimulada”. Furmam (2009) sintetiza a ideia da responsabilidade atribuída ao professor: ensinar Ciências naturais no Ensino Fundamental nos coloca em um lugar de privilégio, porém, de muita responsabilidade. Temos o papel de orientar nossos alunos para o conhecimento desse mundo novo que se abre diante deles quando começam a se fazer perguntas e a olhar além do evidente. Será nossa tarefa aproveitar a curiosidade que todos os alunos trazem para a escola como plataforma sobre a qual estabelecer as bases do pensamento científico e desenvolver o prazer por continuar aprendendo. O docente não pode, e nem deve ter a ilusão, de que todos seus alunos irão desenvolver o “gosto” pelo conteúdo abordado, mas deve sim, de alguma forma, tentar torná-lo cada vez mais atraente e estimular a criatividade de seu aluno, para que ele desperte o sentido e a importância que essa disciplina terá em sua vida, seja para torná-la mais fácil de ser compreendida à medida que vai se descobrindo seus sentidos. De acordo com Cunha (2010, p. 33 e 34): O professor pode teorizar sobre formas mais recomendáveis de estabelecer relações com seus alunos e, na prática, vivenciar situações em que reaja de modo diferente do manifestado teoricamente, ou então pode contar uma experiência vivida, acrescentando ou subtraindo alguma informação. É o filtro, consciente ou não, que o relato carrega em função do sujeito que o faz. O estágio de docência permite ao acadêmico criar uma análise crítica diferenciada, proporciona mais do que experiência, permitindo compreender a importância da integração, da troca de vivências, a importância da curiosidade e principalmente, do quanto podemos aprender com os outros e com nossos alunos. Desempenhar o papel de professor em sala de aula não é simples, exige muito empenho, dedicação, estudo, tempo, criatividade e superação, seja ela de inseguranças, medos ou mesmo estrutura emocional e física, já que podemos perceber que ser professor é também uma tarefa árdua e desgastante. Viver um fato faz com que possamos nos sentir parte da história e não somente espectadores da mesma. Dessa forma, vivenciar a docência através do estágio fez com que percebêssemos mais notoriamente a responsabilidade que é ser um educador, nos tornarmos presente na vida de alguém e nela poder influenciar de forma positiva ou negativa, gerar mudanças ou manter ideias mortas, sem quebra de paradigmas e com formas fixas que não são capazes de gerar motivações na busca da construção do saber. Durante o estágio, o estudante passa a vivenciar as teorias vistas em sala de aula e torná-las algo mais concreto. O futuro professor passa a organizar essas propostas de forma real, e em conjunto com um grupo visar um bem maior, possibilitando aos seus discentes o desenvolvimento de um pensamento crítico do mundo que o cerca. Foi possível presenciar tanto por parte da direção, quanto por parte da professora regente, total apoio para que o estágio fosse realizado da melhor forma possível, sendo ouvido quando precisei, opinando quando julgava necessário, e o mais importante sendo tratado com respeito e carinho e não como alguém que estivesse ali para prejudicar ou transformar o ambiente em um local diferente do que se apresentava até o momento. Podemos analisar os benefícios criados ao graduando através da realidade de sua prática e da proximidade com a sociedade, estabelecendo relações de troca entre o que ensina e o que se aprende e a forma como esta relação é abordada. Considerações finais Desenvolvendo o estágio, o graduando percebe que toda escola precisa de pessoas competentes e principalmente interessadas em melhorar o ensino e a forma de ensinar. Contudo, é necessário que haja participação de toda a comunidade escolar, em principal dos pais, que devem buscar saber mais sobre o que acontece na escola onde seu filho esta inserido. De acordo com Pimenta & Lima (2005/2006, p.11), o estágio deve ser considerado não apenas como uma fonte de conhecimento prática, mas como uma integração entre a teoria e a prática, para dessa forma auxiliar no aprendizado e vivência do estudante. O reducionismo dos estágios às perspectivas da prática instrumental e do criticismo, (...) expõe os problemas na formação profissional docente. A dissociação entre teoria e prática aí presente resulta em um empobrecimento das práticas nas escolas, o que evidência a necessidade de se explicitar por que o estágio é teoria e prática ( e não teoria ou prática). Por fim, a vivência do estágio dá ao futuro professor a oportunidade de relacionar teoria e prática, podendo refletir sobre seu fazer docente sempre em busca da aprendizagem dos educandos. Referências CUNHA, I. M. O bom professor e sua prática. Ed. 22, Campinas, SP: Papirus, 2010, p. 158. FURMAN, M. O ensino de Ciências no Ensino Fundamental: colocando as pedras fundacionais do pensamento científico. Sangari Brasil, 2009. GARRIDO, G.; PIMENTA, L. L. S. M. Estágio e docência. ed. 6, São Paulo, SP, Cartaz, 2011. INSTITUTO EUVALDO LODI. Lei de Estágio: tudo que você precisa saber/Instituto Euvaldo Lodi, Brasília, 2010, disponível em: <http://www.sitedoestagio.com.br/go/down/cartilha_estagio_IEL.pdf>. Acesso em: 07 de jul. 2013. PANIZ, C. M.; FREITAS, D. S. O uso de diários na formação inicial de professores. Jundiaí - São Paulo: Paco editorial: 2011. PIMENTA, G. S.; LIMA, L. S. M. Estágio e docência: diferentes concepções. Revista Poiésis, V.3, n. 3 e 4, p. 5-24, 2005/2006. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. ed. 13; Vozes; Petrópolis, RJ, 2012.