ESTADO E MODO DE VIDA NO QUILOMBO DA POÇA Márcio de Jesus Lima, Júlio César Suzuki Departamento de Geografia/FFLCH/USP O Vale do Ribeira, apesar de ser uma área de povoamento bastante antigo, é uma das regiões mais pobres do estado de São Paulo, caracterizando-se pela dificuldade de locomoção de sua população rural, pela forte presença de comunidades quilombolas que apresentam um modo de vida peculiar e resquícios da Mata Atlântica. São conhecidas também as inúmeras intervenções estatais, buscando uma integração dessa região ao desenvolvimento da economia urbanoindustrial, entretanto essas intervenções por vezes causaram inúmeros problemas às comunidades tradicionais da própria região, como é o caso da Comunidade do Quilombo da Poça, nos municípios de Eldorado e Jacupiranga, reconhecida pelo ITESP (2006). Objetivos Nosso objetivo foi o de analisar as transformações do modo de vida no Quilombo de Poça a partir da atuação do Estado, por meio de políticas desenvolvimentistas no Vale do Ribeira, a partir da segunda metade do século XX. Métodos/Procedimentos Como procedimentos de pesquisa, foram realizados trabalhos de campo em que se colheram testemunhos, por meio de entrevistas, e a composição de séries fotográficas da área de estudo em questão além do aprofundamento teórico a partir da consulta a bibliografia pertinente ao tema abordado. Resultados O processo de transformação mais intenso do território da Poça teve início a partir da atuação do Estado, na segunda metade do século XX, incentivando o incremento da agricultura capitalista na região, intensificando o processo de incorporação dessa região ao mercado urbano-industrial com a construção de infraestruturas e incentivos fiscais (MÜLLER, 1980). A partir da década de 1960, se, por um lado, a ação do Estado realizando a titulação das terras aos que ali já viviam fez com que diminuísse o processo de expulsão dos pequenos posseiros pelos maiores proprietários, por outro, proporcionou, do ponto de vista institucional, a possibilidade de alienação da terra por meio da compra e venda, ou seja, transformou-a em mercadoria. Tal fato fez com que os moradores da comunidade passassem a ser pressionados para vender suas propriedades por preços irrisórios, o que conduziu para a substituição da policultura pela monocultura da banana, um dos fortes elementos da alteração do modo de vida, entendido como um conjunto de hábitos pelos quais o grupo que os pratica assegura sua existência, ou seja, corresponde a um conjunto de práticas cotidianas desenvolvidas por um determinado grupo social e decorrentes de sua história, a posição que ocupa na sociedade envolvente e da forma que assegura sua reprodução social. (MARQUES, 1994) Nas falas dos moradores do quilombo da Poça, é reiterada a supressão de práticas comuns, como a do mutirão. Conclusões As transformações do modo de vida quilombola em Poça acabaram colocando em risco a própria comunidade, pois a inserção dos sujeitos, de forma subalterna, no mundo da mercadoria, dificultou a sua própria reprodução material e imaterial, bem como do seu território. Referências ITESP. Relatório Técnico-Científico sobre a Comunidade de Quilombo da Poça, localizada nos municípios de Jacupiranga e Eldorado/São Paulo. São Paulo: Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, 2006. MARQUES, Marta Inez Medeiros. O modo de vida camponês sertanejo e sua territorialidade no tempo das grandes fazendas e nos dias de hoje em Ribeira-PB. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 1994. MULLER, Geraldo. Estado, Estrutura Agrária e População: Ensaio sobre estagnação e incorporação regional. Cadernos CEBRAP nº32. Petrópolis: Vozes/ CEBRAP, 1980.