III Congresso Internacional de Educação Ambiental dos Países e Comunidades de Lingua Portuguesa 132 132 ambientalMENTEsustentable,2015, 2015,(II), (II),20 20 ambientalMENTEsustentable, EA, IDENTIDADE(S) DO CAMPO E POLÍTICAS PÚBLICAS ISSN: 1887-2417 eISSN: 2386-4362 Programa de mobilização social para a construção participativa das políticas municipais de educação ambiental no Norte do Espírito Santo, Brasil Program of social mobilization for the participative construction of the municipals politics of environmental education in the North of the Espírito Santo State, Brazil Marcos da Cunha Teixeira e Aline Fernandes de Jesus.Universidade Federal do Espírito SantoUFES (Brasil). Resumo Apresentam-se os primeiros resultados do programa de mobilização social para a construção da política municipal de educação ambiental no Norte do Espírito Santo. Foram analisadas 4 categorias, como segue: (1) as estratégias para desenvolvimento do programa. (2) O envolvimento dos poderes públicos: (3) O envolvimento da sociedade em geral. (4) Os aspectos conceituais veiculados pelos atores durante o processo. Até o momento apenas no município de Linhares já foi implantada a lei da política municipal de educação ambiental. No entanto, ao contrário de São Mateus, em Linhares a agilidade do programa se deveu à opção dos gestores municipais em reduzir o programa de mobilização a um processo breve de comunicação e chamamento público para a conferência municipal, desconectado de um programa mais amplo de debate e formação. Em São Mateus destacou-se o pouco envolvimento dos gestores públicos e a identificação dos movimentos sociais com a concepção crítica de meio ambiente. Em Conceição da Barra as ações ainda são incipientes, mas já contam com uma comissão local de mobilização. Em todos os municípios merece destaque o desconhecimento de diversos professores e representantes sociais quanto ao caráter interdisciplinar e transversal do tema meio ambiente e das concepções de educação ambiental. Astract it presents the first results of social mobilization program for the construction of municipal policy on environmental education in the north of the Espirito Santo. Four categories were analyzed as right next: (1) Strategies for developing the program. (2) The involvement of public authorities; (3) The involvement of the whole society. (4) The conceptual aspects conveyed by the actors during the process. So far only the Linhares municipality has already implemented the law of municipal policy for environmental education. However, unlike Sao Mateus, Linhares agility on program was due to the option of municipal managers in reducing the mobilization program to a brief communication process and public call for the municipal conference, disconnected from a broader program of debate and training. In Sao Mateus stood out the little involvement of public officials and the identification of social movements DOI: 10.17979/ams.2015.2.20.1607 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 ambientalMENTEsustentable 133 xullo-decembro 2015, ano X, vol. II, núm. 20, páxinas 133-149 MARCOS DA CUNHA TEIXEIRA E ALINE FERNANDES DE JESUS with critical design environment. In Conceicão da Barra city actions are still incipient, but already have a local commission of mobilization. In every municipalities deserve a better attention the void of many teachers and social representatives on the interdisciplinary and cross-cutting nature of the environment issue and the environmental education concepts. Palavras chave Pedagogia do ciclo de vida, Educação Ambiental, Sociedade, Comsumo, Sustentabilidade. Key-words Pedagogy Lifecycle, Environmental Education, Society, Consumption, Sustainability. Introdução de 2004 (BRASIL, MEC, 2007). Os dados indicaram que 94,95% das escolas de ensino fundamental declaram ter educação O processo de institucionalização da ambiental de alguma forma, por inserção Educação Ambiental no governo federal temática no currículo, em projetos ou, até brasileiro teve início em 1973 com a cria- mesmo, uma minoria, em disciplina espe- ção da Secretaria Especial do Meio Am- cífica. De acordó com os resultados do biente (SEMA), vinculada à Presidência Censo, em 2001 cerca de 25,3 milhões de da República. Mas, só foi definitivamente crianças tiveram acesso à educação am- institucionalizada em 1999, com a Políti- biental e em 2004, esse total subiu para ca Nacional de Educação Ambiental que 32,3 milhões. reafirmou a necessidade de implementar as políticas e os programas de Educação Apesar dos avanços de oferta da Educa- Ambiental em todas as unidades federati- ção ambiental nos municípios, o ques- vas do país. Essa implantação tem como tionamento que vem sendo feito desde instrumento normativo o Programa Nacio- a institucionalização da Educação é qual nal de Educação Ambiental utilizado pelo educação ambiental é feita nas escolas órgão gestor da educação ambiental para brasileiras. Segundo LAYRARGUES “[…] estimular a ampliação e o aprofundamen- atualmente parece não ser mais possível to da educação ambiental em todos os afirmar simplesmente que se faz ‘Edu- municípios, contribuindo para a constru- cação Ambiental’. Dizer que se trabalha ção de territórios sustentáveis. com educação ambiental, apesar do vocábulo conter em si os atributos mínimos Após implantação da Política Nacional cujos sentidos diferenciadores da Edu- de Educação Ambiental houve um rápido cação (que não é ambiental) são indiscu- crescimento da educação ambiental nas tivelmente conhecidos, parece não fazer instituições de ensino em praticamente mais plenamente sentido. A diversidade todos os municípios brasileiros, conforme de nomenclaturas hoje enunciadas, retrata aparece nos resultados do Censo Escolar um momento da educação ambiental que aponta para a necessidade de se re-signifi- 134 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Programa de mobilização social para a construção participativa ... car os sentidos identitários e fundamentais cas municipais de educação ambiental na dos diferentes posicionamentos político- Microrregião Litoral Norte do Estado do pedagógicos”. Espírito Santo e Linhares, Brasil. Além dos aspectos ligados aos diferentes posicionamentos políticos pedagógicos uma questão importante no proceso de institucionalização da educação ambiental no Brasil é sua oferta e gestão no nivel local. Nesse aspecto, o Brasil está muito O Programa de Mobilização Social pela Educação Ambiental no Norte do Espírito Santo distante de atender ao Tratado Internacional para as Sociedades Sustentáveis, do qual é signatário. Ainda podem ser identifi- TORO & WERNECK (1995) ensina que mo- cados pelo menos 3 problemas que têm li- bilizar significa convocar vontades para mitado a efetivação da educação ambien- atuar na busca de um propósito comum, tal na esfera local: (1) a descontinuidade sob uma interpretação e um sentido tam- das atividades de educação ambiental, bém compartilhados. Por isso, para os restritas a ações isoladas, (2) poucos são autores, a mobilização não se confunde os municípios que possuem políticas pú- com as manifestações públicas, pois essa blicas capazes de efetivar a educação am- ocorre quando um grupo de pessoas ou biental e (3) políticas públicas construídas uma comunidade decide e age com um a partir de regimes não democráticos e objetivo comum, buscando cotidianamen- desconectados de um processo formativo. te, os resultados desejados por todos. Diante desses problemas cabe aos muni- Assim, a mobilização constitui um ato cípios estabelecerem suas bases legais democrático, pois as pessoas, ao serem para gestão da educação ambiental, como convocadas, tem a liberdade de partici- o Código Municipal de Meio Ambiente, par ou não. A mobilização é, portanto, um podendo ainda criar leis específicas para meio de motivação para a participação so- a educação ambiental além do Programa cial na vida coletiva. Municipal de Educação Ambiental. Esses documentos facilitam a articulação com Participar significa tomar parte ou ter parte as instâncias estaduais e federais além de em algo, ou, ainda, fazer ou ser parte de nortear as ações locais. algo (BORDENAVE, 1994, p. 22). Enveredando por essa afirmativa, participação Neste artigo, apresenta-se os resultados popular é o processo pelo qual a socieda- da primeira etapa do Programa de Mobi- de se insere nas discussões e formulações lização social para construção das políti- de políticas públicas propostas pelo Esta- ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 135 MARCOS DA CUNHA TEIXEIRA E ALINE FERNANDES DE JESUS do. GADOTTI (2013) discute a participação no Brasil, assim como em outros setores sob duas perspectivas: Participação Social da organização do governo, é algo recen- e Participação Popular. Segundo o autor te, pois só ocorre de forma efetiva a partir “a Participação Social se dá nos espaços da promulgação da Constituição de 1988. e mecanismos de controle social, como Foi a partir daí que ficou assegurado aos nas conferências, conselhos, ouvidorias, brasileiros o direito e a liberdade de ex- audiências públicas etc. Esses são os es- pressão, até então cerceado pela ditadu- paços e formas de organização e atuação ra militar instalada na década de 1960 e da Participação Social. É assim que ela é que permaneceu até meados dos anos de entendida, como categoria e como concei- 1980. O mesmo pode ser dito a respeito to metodológico e político pelos gestores da participação em conselhos de acom- públicos que a promovem. Essa forma de panhamentos e controles sociais. No en- atuação da sociedade civil organizada é tanto, a consolidação dessa participação fundamental para o controle, a fiscaliza- ainda se constitui um desafio, tendo em ção, o acompanhamento e a implementa- vista que a mesma não aparece de forma ção das políticas públicas, bem como para efetiva nos acontecimentos que marca- o exercício do diálogo e de uma relação ram a história do Brasil, entre outras coi- mais rotineira e orgânica entre os governos sas, caracterizada pela centralização do e a sociedade civil. A Participação Popu- poder, modelo que ainda se mantém nas lar, por outro lado, corresponde às formas diversas instituições sociais, econômicas, mais independentes e autônomas de orga- e políticas da atualidade. Nesse contexto, nização e de atuação política dos grupos Quintas (2006) destaca a importância da das classes populares e trabalhadoras e educação ambiental como instrumento que se constituem em movimentos sociais, estratégico para a concretização do con- associações de moradores, lutas sindicais, trole social sobre o processo de acesso e etc (GADOTTI, 2013 pag. 2, 3). uso do patrimônio ambiental brasileiro. Os processos de mobilização social para A participação social nas políticas públi- participação popular na gestão dos recur- cas de meio ambiente também está ex- sos naturais tem sido uma das principais pressa no Princípio nº 10 da Declaração características do setor ambiental, desde do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e a década de 1970. Foram as mobilizações Desenvolvimento, realizada em 1992. No sociais que costuraram a participação dos Brasil, essa participação tem sido efetiva- diferentes movimentos que culminaram da por meio dos diferentes conselhos de com o surgimento da educação ambien- representação da sociedade civil organi- tal. No entanto, a participação popular zada. Para GOHN (2001) os conselhos são nas políticas públicas de meio ambiente como instrumentos de reconfiguração da 136 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Programa de mobilização social para a construção participativa ... participação popular e a reinvenção da públicas municipais de Educação Am- política com participação popular no es- biental do Norte do Espírito Santo, Brasil, paço público. No plano da sociedade civil, nasceu no âmbito do curso de Licencia- a participação dos grupos e movimentos tura em Biologia da Universidade Federal organizados também contribuiu para a de- do Espírito Santo – UFES, Campus São marcação da preocupação ambiental en- Mateus. quanto esfera de ação política e cidadã, isto é, esfera plural de decisões comuns A educação ambiental constitui um im- que afetam o interesse público. Seja pela portante componente dentro do Projeto via dos movimentos nomeadamente eco- Pedagógico do curso de Licenciatura em lógicos, seja pela via de lutas sociais pelo Biologia da UFES – Campus São Mateus acesso público aos bens ambientais, uma onde está representada por duas disci- diversidade de atores entre os movimen- plinas: uma destinada aos fundamentos tos sociais, grupos de interesse e ONGs da matéria, ofertada preferencialmente incorporaram a temática ambiental em no quinto período (Educação ambiental – suas agendas (CARVALHO, 2008, p.14). CAB 10589) e outra de cunho mais prático (Pesquisa, Extensão e Prática Pedagógica Diante do exposto, concordamos com em Educação Ambiental – CAB 11332), DEMO (1987, p. 17) quando afirma que a ofertada preferencialmente no oitavo perí- participação “[...] é a melhor obra de arte odo. A primeira é desenvolvida em 60 ho- do homem em sua história, porque a his- ras e a segunda em 120 horas. Além disso, tória que vale a pena é a participativa, ou o Projeto Político e Pedagógico do curso seja, com o teor menor possível de desi- assume a Educação ambiental como uma gualdade, de exploração, de mercantiliza- das cinco linhas de pesquisa e extensão ção, de opressão”. Sobre a participação (p. 89), reconhecendo seu potencial para social na gestão pública DEMO (1999), a formação do egresso, em especial para afirma ainda que trata-se de conquista a “formação cultural e humanística, com e não de concessão de direito. É nesse ênfase nos valores éticos gerais e profis- sentido que apresentamos, neste artigo, sionais” (p. 20). nossas reflexões sobre a primeira fase do Projeto de mobilização social para cons- Originalmente, as primeiras atividades que trução participativa da Política Municipal vieram a constituir o programa de mobili- de Educação ambiental (PMEA) do muni- zação foram desenvolvidas com objetivo cípio de São Mateus-ES. de oportunizar aos estudantes do curso de licencitura a vivência de uma educação O programa de mobilização social para ambiental crítica, a partir da imersão na re- capacitação e elaboração das políticas alidade local. O marco inicial do projeto foi ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 137 MARCOS DA CUNHA TEIXEIRA E ALINE FERNANDES DE JESUS a realização da I Audiência Pública sobre Litoral Norte do ES e para o município de Educação Ambiental de São Mateus, or- Linhares (figura 1). ganizada em 30 de janeiro de 2014 pelos estudantes das disciplinas citadas acima, cujo título foi: “Os desafios da construção democrática da política municipal de Educação Ambiental”. O evento mobilizou os A Microrregião Litoral Norte do Estado do Espírito Santo e Linhares: aspectos gerais gestores públicos, os meios de comunicação e a comunidade em geral para discussão do tema e culminou com a criação de uma pré-comissão de mobilização social para Construção de uma política pública de educação ambiental no municipio de São Mateus. A partir dessa iniciativa o programa foi ampliado para a Microrregião A Microrregião Litoral Norte do Espírito Santo, destacada na figura 01, possui uma área total de 4.621,693 km² e é formada pelos municípios de Pedro Canário, Conceição da Barra, São Mateus e Jaguaré. Sua população, segundo o IBGE (Censo 2010), é de 185.949 habitantes, dividida entre os 4 municípios conforme tabela 01. Município IDHM população São Mateus 0,735 109.028 Conceição da Barra 0,681 28449 Jaguaré 0,678 24.678 Pedro Canário 0,654 23.794 Linhares 0,724 141.306 Tabela 1. IDH e população da Microrregião Litoral Norte do Espírito Santo e Linhares, Brasil. Linhares é o município com maior extensão territorial do Espírito Santo, com uma área de 3.506 km². Possui também o maior litoral do Estado, com uma extensão de 68 km. De acordo com dados do InsFigura 1. Mapa do Estado do Espírito Santo apresentando a Área de Abrangência do Programa de Mobilização Social pela Educação Ambiental, formada pela Microrregião Litoral Norte (em gris) e Linhares (em gris oscuro). 138 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Programa de mobilização social para a construção participativa ... tituto Brasileiro de Geografia e Estatística gestores municipais dando-se preferên- (IBGE), em 2000 tinha uma população de cia aos espaços formados por comitês, 112.617 habitantes e em 2005 uma pro- conselhos e comissões municipais, como jeção de 121.418 habitantes. Linhares é comitê de educação do campo, conselhos cortado no sentido norte-sul pela rodovia de meio ambiente, conselho municipal de BR-101, e esta é a principal via de liga- educação, entre outros. Além disso, são ção do município com os demais municí- realizados cursos de educação ambiental pios capixabas e com o Brasil. A cidade para professores, palestras e oficinas. Os de Linhares é a maior do norte do Espírito cursos e palestras são ministrados por es- Santo e está a uma distância de 135 km pecialistas da UFES que contam também da capital do Estado, Vitória. A população com profissionais das secretarias de esta- atual é de aproximadamente 141.306 ha- do da educação e do meio ambiente. Após bitantes (IBGE, 2010). os eventos, realiza-se a I Conferência de Educação Ambiental onde os setores da sociedade civil, setor produtivo e gestores Material e métodos públicos apresentam suas propostas que esperam compor o projeto de lei da política municipal. Na plenária da conferência Desenvolvimento das atividades de formação e mobilização as propostas são apresentadas, votadas e consolida-se um documento final, o qual é revisado pela Comissão Interestadual de Até o momento foram realizadas Em cada Educação Ambiental (CIEA). município o programa vem sendo desenvolvido em parceria com o poder munici- Coleta dos dados pal local por meio das secretarias municipais de educação e de meio ambiente. Para avaliação desta etapa do programa a Cada município delega servidores para coleta dos dados foi orientada para gerar integrar a equipe de execução do progra- informações capazes de contribuir com ma. O programa é desenvolvido por meio reflexões acerca das seguintes categorias da promoção de eventos nos diversos de análise: (1) a iniciativa e as estratégias espaços públicos onde são debatidos os para desenvolvimento do projeto de mo- diversos aspectos teóricos e práticos que bilização, (2) o envolvimento dos poderes envolvem a educação ambiental visando públicos (3) o envolvimento da sociedade a formação dos participantes e seu en- em geral e (4) os aspectos conceituais vei- volvimento na elaboração de uma política culados pelos atores durante o processo. pública para seus respectivos municípios. No caso das três primeiras categorias, Esses eventos são organizados pelos a coleta dos dados se deu por meio do ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 139 MARCOS DA CUNHA TEIXEIRA E ALINE FERNANDES DE JESUS acompanhamento dos encontros e atividades da comissão de mobilização por meio de observação e registro dos discursos dos atores envolvidos. Quando autorizado pelos sujeitos, foram realizadas gravações em áudio dos encontros. No caso da última, utilizou-se a técnica de evocação livre para análise das representações sociais de meio ambiente e de educação ambiental dos professores envolvidos no processo Figura 2. Conferência municipal de Educação ambiental do municipio de Linhares-ES. de formação e de mobilização social. Resultados e discussão Sobre as estratégias para desenvolvimento do projeto de mobilização O primeiro aspecto que merece destaque Resultados gerais Até o momento foram realizadas 17 eventos dos quais participaram 622 pessoa nos municípios de São Mateus, Conceição da Barra e Linhares (tabela 2). São Mateus é o município com o maior numero de eventos realisados enquanto que em Conceição da Barra o inicio das atividades se deu recentemente com a formação da equipe local de mobilização. Em Linhares já foi realizada a Conferência Municipal de Educação Ambiental (figura 2) e a Política Municipal de Educação Ambiental foi aprobada como lei pela Câmara Municipal em maio de 2015. Dessa forma, Linhares passa a ser o primeiro municipio da Região a possuir uma política específica de regulação da oferta da Educação ambiental. Agora, o município se prepara para elaborar seu plano municipal de Educação Ambiental. 140 é o fato de o projeto ter sido concebido como parte integrante das atividades de ensino e pesquisa de um curso de formação de professores. Esse aspecto é relevante porque nos remete à discussão sempre atual sobre o papel social das universidades. Nesse aspecto, a iniciativa e as estratégias adotadas pelo projeto corroboram a ideia de Boaventura de Souza Santos de que sem pesquisa e extensão não se tem universidade, mas ensino superior (SANTOS, 2004). O segundo aspecto crucial a ser analisado nesta mesma categoria é a estratégia de trilhar o caminho de elaboração da política pública por meio de um processo de mobilização social, de forma lenta, porém, com uma postura democrática e inclusiva, possibilitando a formação dos sujeitos envueltos por meio da troca de saberes. Essa estratégia está em ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Programa de mobilização social para a construção participativa ... Tabela 2. Atividades desenvolvidas e total de pessoas mobilizadas em cada município atendido pelo programa de mobilização social pela educação ambiental na Microrregião Litoral Norte do Espírito Santo e Linhares, Brasil. plena sintonia com a proposta do Progra- discussão, formulação, implementação, ma Nacional de Educação Ambiental. fiscalização e avaliação das políticas ambientais voltadas à construção de valores A participação e o controle social também culturais comprometidos com a qualidade são diretrizes que permeiam as estraté- ambiental e a justiça social; e de apoio à gias e ações do Programa Nacional de sociedade na busca de um modelo socio- Educação Ambiental, por intermédio da econômico sustentável (http://www.mma. geração e disponibilização de informações gov.br). Esse contexto é bastante relevan- que permitam a participação social na te nas discussões sobre a gestão e oferta ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 141 MARCOS DA CUNHA TEIXEIRA E ALINE FERNANDES DE JESUS da educação ambiental no Brasil, pois a a clara preocupação dos gestores públi- participação e o controle social como es- cos em utilizar as atividades do projeto de tratégias e ações ainda representa o maior mobilização como instrumento de respos- desafio nesse campo da educação. ta aos Termos de Ajustamento de Conduta assumidos com o Ministério Público, nos Ainda que pese, nesse ponto de nossa quais estão previstas ações de educação reflexão, uma discussão sobre os concei- ambiental visando, entre outros, o cumpri- tos e teorias sobre democracia, cabe aqui mento da Política Nacional de Resíduos ressaltar como aspecto positivo a des- Sólidos. Em todos os encontros os dis- centralização das decisões no processo cursos do secretário de meio ambiente de construção da política pública de edu- de São Mateus foi marcado pelas dificul- cação ambiental que se pretende com o dades da gestão municipal dos resíduos projeto de mobilização. Essa negação à urbanos. Notou-se, inclusive, um maior in- centralização dá claros sinais de que o que teresse pela geração e aquisição dos do- se pretende é construir uma concepção de cumentos comprobatórios de realização educação ambiental em uma perspectiva dos eventos. Dessa forma, a participação popular, crítica e emancipatória, conforme e mobilização dos gestores municipais, vem sendo defendido, no Brasil, por diver- que antes era contagiante, encerraram- sos autores, como LOUREIRO, LAYRAR- -se após o mês de julho, provavelmente GUES, CARVALHO, PEDRINI, TOZZONI- em função do término do prazo estipulado -REIS, entre outros. Isso fica ainda mais pela política de gestão de resíduos. Essa explícito no discurso de um dos membros postura dista consideravelmente de uma da comissão ao afirmar que “não se trata visão mais complexa do conceito de meio de uma ação do governo municipal, nem de ambiente, como tem sido defendida na da universidade, ainda que a iniciativa tenha atualidade. nascido dentro dos muros da academia, mas de um movimento popular que deverá No caso de LINHARES cita-se que o pro- construir, ao seu tempo, a legitimação junto grama foi eficientemente incorporado pela à sociedade” (Pu1). É nesse contexto que secretaria de meio ambiente que traba- passamos à segunda categoria de análise: lhou de forma integrada com a secretaria o envolvimento do setor público. de educação. No entanto, esse processo foi construído muito mais nos moldes da Sobre o envolvimento dos poderes públicos eficiência técnica do que da eficiência participativa, pois foram poucos os eventos de mobilização e formação. Nesse caso, Durante os encontros no municipio de São os gestores públicos compreenderam que Mateus um aspecto que ficou evidente foi a conferência municipal, para a qual foi 142 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Programa de mobilização social para a construção participativa ... realizado um amplo chamamento público, zação das atividades estando representa- representou um espaço democrático, pois dos os 3 principais setores: público, pri- todos os segmentos foram convocados vado e terceiro setor. Entre as questões e estiveram representados. Nesse caso, levantadas pela comunidade destacam-se torna-se iportante analizar o teor da lei as formas e garantias da oferta da Educa- municipal que originou a política municipal ção ambiental nas escolas e os possíveis de educação ambiental. Para isso, toma- desdobramentos políticos do processo de mos emprestadas as palabras de Tamaio mobilização social e elaboração da Políti- (2008) quando analisa a Lei da Política Na- ca municipal de educaçãoo ambiental. No cional de Educação Ambiental. Para ese primeiro caso ganha destaque a discussão autor trata-se de um avanço importante, sobre a disciplinarização, que esteve pre- ainda que não represente todas as aspira- sente em todas as reuniões, embora seja ções de segmentos da educação ambien- um assunto praticamente esgotado entre tal, sobretudo aqueles referenciados pela aqueles que estudam a Educação ambien- abordagem crítica e emancipatória. Da tal. Diversas lideranças, entre elas mem- mesma forma que Tamaio (2008) observou bros do Conselho Municipal de Educação para a política nacional, também afirma- Ambiental, reforçaram a ideia de criação mos que a política municipal de Linhares de uma disciplina para garantir a oferta caracteriza-se pelos avanços no enfoque da educação e como forma de garantir o democrático e participativo, a concepção cumprimento da Lei. Essa mesma suges- plural de meio ambiente, e o reconheci- tão apareceu entre estudantes do ensino mento da educação ambiental como pro- superior e alguns profesores. cesso permanente. Agora, espera-se que na elaboração do programa municipal de Sobre a disciplinarização da educação educação ambiental, enquanto desdo- ambiental no ensino básico, cita-se que, bramento da política, o proceso encampe em seu Art. 10, a Lei 9795 de 1999, que um olhar mais participativo e formativo no estabbelece a Política Nacional de Edu- qual a sociedade seja a protagonista do cação Ambiental, estabelece que “a edu- processo. cação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua Sobre o envolvimento da comunidade e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal” e “§ 1o A educação ambiental não deve ser implantada Nessa categoria foi contabilizada a parti- como disciplina específica no currículo de cipação de 622 pessoas representantes ensino”. Portanto, fica evidenciada a ca- dos diversos segmentos da sociedade rência dos gestores da educação munici- que atenderam aos chamados para reali- pal no que se refere ao tema em estudo o ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 143 MARCOS DA CUNHA TEIXEIRA E ALINE FERNANDES DE JESUS que justifica a proposta de formação cole- Este discurso revela a transferência da vi- tiva do projeto. são social baseada na luta de classes para o campo das questões ambientais, carac- No que se refere ás propostas de ações terística da abordagem crítico-dialética. destaca-se a ideia de criação dos agentes LOUREIRO (2008) ao avaliar as relações mobilizadores da educação ambiental, os entre os movimentos sociais e a educação quais trabalhariam em regiões definidas ambiental afirma que, há uma opção pelo para fomentar e dar assistência a projetos “enfoque crítico-participativo e privilegiam interdisciplinares das escolas. o conhecimento das instituições sociais, dos conflitos e processos sociais instaura- Um dos resultados que confirmam a acei- dos pelos sujeitos, e da realidade histórica tação do programa de mobilização social em suas múltiplas determinações, contra- pelos segmentos sociais são as solici- dições e complexidade para transformá-la, tações das lideranças para a realização em um movimento que visa a emancipa- de cursos de formação para seus pares, ção humana” (p. 199). No entanto, essa como Movimento dos Pequenos Agricul- abordagem não se traduziu em presença tores, Diocesse, Movimento dos Traba- efetiva dos movimentos sociais enquan- lhadores Sem Terra, Organizações Não- to agentes participativos, pois a partir da -Governamentais, Conselhos Municipais, terceira reunião a participação dos repre- entre outros. Isso demonstra o nível de sentantes das instituições e instâncias consciência das lideranças sobre a im- de representação foi sendo reduzida gra- portância da Educação ambiental para o dativamente, o que fica explícito quando exercício da cidadania. analisamos os retornos das mensagens/ convites veiculadas pelo Coordenador da Ficou constado que há uma clareza por Comissão e o esvaziamento em algumas parte dos movimentos sociais de que a reuniões. Diante disso, tomo emprestadas construção de uma política pública de edu- algumas das questões importantes postas cação ambiental é palco de enfrentamento por LOUREIRO (2008) que deverão figu- político-ideológico, o que pode ser ilustrado rar na pauta do projeto de mobilização: O com o seguinte discurso de um participan- “ambiental” é uma temática ou conteúdo te: “Uma coisa importante na elaboração de explícito dos processos formativos dos uma política dessa é que essa lei irá mexer movimentos sociais? É um componen- com muitos interesses, especialmente do te estruturante do mesmo? Para dialogar setor privado. Então, os movimentos sociais com Loureiro, nos valemos de Saviani devem ficar atentos e participarem ativa- (2009) que, ao refletir sobre o caminho da mente da comissão que irá elaborar a Políti- educação, desde o senso comum á cons- ca Pública de Educação Ambiental.” ciência filosófica, nos propõe uma reflexão 144 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Programa de mobilização social para a construção participativa ... sobre os valores e objetivos na educação relevante sobretudo porque esas conce- e ensina que educar “significa tornar o põe foram notadas principalmente nos homem cada vez mais capaz de conhecer discursos dos profesores da rede muni- os elementos de sua situação para intervir cipal de ensino de São Mateus e Linha- nela transformando-a, no sentido de uma res. Essa representação social1 enxerga o ampliação da liberdade, da comunicação e meio ambiente apenas como conceito de da colaboração entre os homens (p. 46)”. natureza, confundindo-se com conceitos Nesse contexto, para contribuir com esse ecológicos, sem que haja a inclusão dos debate, acrescentamos uma questão pro- aspectos sociais neste contexto, confor- posta por TEIXEIRA; SANTANA; FERREI- me ficou confirmado na técnica de evo- RA (2012), ao avaliarem as contribuições cação livre. Utilizamo-nos das análises de dos movimentos sociais com a educação GONÇALVES (1990) para explicar o pre- ambiental: Estaria a essência da educação domínio dessa visão reducionista sobre ambiental na práxis das mobilizações so- as questões ambientais como resultado ciais ao se (re)inventarem para o enfren- do processo histórico guiado pela ciência tamento das armadilhas dos modos de moderna, que fragmenta o conhecimento produção do cotidiano que ameaçam a e, consequentemente, simplifica a visão manutenção dos valores sociais? Longe de mundo. Nesse âmbito, confirmamos a de dar uma resposta definitiva ao proble- importância do caráter formador dos en- ma, se considerarmos o processo histó- contros de mobilização social, pois está rico da construção do conceito de meio possibilitando uma (re)construção de olha- ambiente e a amplitude das questões am- res mais complexos dos sujeitos sobre o bientais propostas pelos autores críticos, tema bem como da importância de uma a resposta às questões postas aqui cami- educação ambiental crítica, como ilustram nharia no sentido positivo. os discursos seguintes: Aspectos conceituais dos atores envolvidos • “Nossa! Nunca tinha visto as questões ambientais dessa forma... então não é só bichos e plantas... acho que ainda Sobre a terceira categoria a análise dos conteúdos dos discursos dos participan- estou meio confuso.” • “Essa apresentação me fez ver que tes nos eventos de mobilização revelou essa abordagem é diferente. Ela deve uma representação naturalista de meio ser levada para nossos encontros, ambiente (REIGOTA, 1995) e uma abordagem pedagógica da natureza não-hunana (SANTOS, 2005) quanto à abrangência da educação ambiental. Esse aspecto é ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1 O Termo representação social está sendo utilizado aqui em referência àquele proposto por Moscovicci (1961). 145 MARCOS DA CUNHA TEIXEIRA E ALINE FERNANDES DE JESUS mostrar essa visão de natureza em Nesse processo de (re)construção das que foi construída ao longo da histó- concepções sobre o meio ambiente e do ria é muito importante para ajudar as raio de ação da educação ambiental du- pessoas a ver de outra forma”. rante as atividades entendemos que o as- Nota-se, com isso, um claro esforço do pecto mais relevante foi a adoção dos as- projeto de mobilização social de provocar pectos históricos e filosóficos da relação uma reflexão sobre as questões ambien- homem-natureza na condução do proces- tais a partir de uma visão histórica-dialé- so de formação. Apresentando e proble- tica. LEFF (2006), chama à atenção para matizando os fatores históricos e sociais as contribuições do pensamento dialético e suas relações com os diferentes concei- no enfrentamento da racionalidade domi- tos de natureza em cada período, de for- nante e para inaugurar uma racionalidade ma cronológica, foi possível a inserção de ambiental, “elucidando o campo conflitivo novos elementos e conceitos na estrutura dos interesses em jogo e os processos es- cognitiva dos participantes que permitiram tratégicos no campo do poder que mobili- olhar mais complexo sobre o tema. Os dis- zam as mudanças ambientais globais e os cursos abaixo ilustram essa constatação: processos de reapropriação da natureza” (p. 116). Nesse mesmo contexto, LOU- • “Essa forma que você abordou os REIRO (2006, p. 126), ao refletir sobre as conceitos de meio ambiente foi mui- contribuições dessa abordagem a educa- to interessante. Isso ajuda a entender ção ambiental, conclui que mudar com- muita coisa. Por exemplo, aquelas portamentos, atitudes, aspectos culturas atividades de educação ambiental so- e formas de organização, significa pensar bre o lixo... então aquilo somente não em transformar o conjunto das relações é educação ambiental. Tem que ter a sociais nas quais estamos inseridos, as discussão política junto.” (Peb32). quais constituímos e pelas quais somos constituídos, o que exige, dentre outros, É nesse contexto que TOZZONI-REIS ação política coletiva, intervindo na esfe- (2001) chama à atenção para o papel dos ra pública, e conhecimento das dinâmicas educadores ambientais, afirmando que social e ecológica. Entende-se que, diante estes têm o papel de mediar a interação dos resultados obtidos, os eventos pro- dos sujeitos com seu meio natural e so- movidos pelo programa de mobilização cial e que, para exercer esse papel, co- vem se constituindo como um espaço de nhecimentos vivos e concretos tornam-se ação coletiva para a (re)construção dos instrumentos educativos. Para a autora a conhecimentos para intervenção qualifi- educação sistematizada tem papel socio- cada nos procesos de gestão publica, nos cultural relevante e indissociável às práti- moldes que defedem LEFF e LOUREIRO. cas sociais. Esta sistematização, porém, 146 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Programa de mobilização social para a construção participativa ... não obedece à lógica formal - racional - públicas municipais de educação ambien- mas à sistematização de conhecimentos, tal que represente as reais necessidades valores e atitudes de conteúdos culturais de cada sociedade da Microrregião Litoral ambientais, sociais e políticos que contri- Norte e do municipio de Linhares. buam para a construção não só de uma relação mais equilibrada entre o homem e Dentre as atividades e estratégias ado- a natureza, mas também de uma relação tadas pela educação ambiental, o plane- equilibrada entre os homens. Assim, os jamento e a construção participativa das conhecimentos técnico-científicos sobre políticas públicas é uma das ações mais os processos ambientais só têm sentido importantes, pois à medida que se planeja como conteúdos educativos da Educação e elabora os projetos também se criam es- Ambiental se ligados de forma indissoci- paços de formação coletiva, oportunizan- ável aos significados humanos e sociais do à comunidade ser protagonista de seu desses processos. presente e de seu futuro. Essa forma de construção democrática busca minimizar Portanto, Essa busca pelo desenvolvi- os efeitos negativos da educação tradi- mento de uma compreensão integrada do cional, que tem na autoridade do gestor a ambiente em suas múltiplas e complexas mola mestra do processo. É nessa pers- relações, envolvendo aspectos ecológi- pectiva que o projeto de mobilização so- cos, psicológicos, legais, políticos, so- cial vem sendo desenvolvido. Por meio da ciais, econômicos, científicos, culturais e mobilização de instâncias representativas éticos é, certamente, o maior desafio pos- já conquistadas e reconhecidas pela so- to ao programa de mobilização social para ciedade (Conselhos municipais, Comitês, a educação ambiental na Região Norte do Comissões, etc...) são criados espaços de Espírito Santo. formação coletiva para elaboração democrática das Políticas Municipaos de Educação Ambiental. Conclusão No campo das possibilidades, o aspecto mais positivo rumo à meta de elaboração Diante do exposto, entendemos que o das políticas municipais tem sido a aceita- programa de mobilização social vem dan- ção do projeto junto às comunidades, pro- do importantes contribuições no enfrenta- fesores, gestores públicos e à sociedade mento do desafio de buscar o envolvimen- civil organizada, conifirmada pelas cons- to de todos os setores da sociedade para tantes solicitações de criação de espaços o debate formativo que tem como objetivo de formação pelas lideranças. final a elaboração democrática de políticas ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 147 MARCOS DA CUNHA TEIXEIRA E ALINE FERNANDES DE JESUS No campo dos limites, dois fatores ficaram públicas, ainda há um distanciamento en- explícitos e precisam ser superados: (1) a tre estas esferas e a realidade local, pois representação social naturalista de educa- é no município que as políticas públicas ção ambiental, sobretudo dos professo- têm impacto mais efetivo e direto na vida res, que reduz o olhar sobre as questões do cidadão. É no município que a práxis ambientais e dificulta uma agenda mais da educação ambiental ganha legimitade. crítica para elaboração de uma política pú- Portanto, é aí, no nível local que as ativida- blica mais adequada à realidade e (2) o es- des podem contribuir para as mudanças vaziamento das reuniões da comissão de necessárias no enfrentamento da crise mobilização no municipio de São Mateus, socioambiental. Assim, os municípios re- provocado, possivelmente, pelo afasta- presentam, ao mesmo tempo, o elo mais mento dos gestores municipais. Embora frágil e também o mais importante do sis- isso não tenha levado à desmobilização, tema de gestão da educação ambiental, que permanece unas atividades da equi- necessário ao estabelecimento do desen- pe da UFES – Campus São Mateus, pode volvimento sustentável. levar à perda da legitimidade que vem sendo conquistada pelo programa. Dian- Após o acompanhamento da primeira eta- te das observações, ficou evidente que pa do projeto de mobilização social nossa o primeiro fator vem sendo superado por reflexão é que a construção de políticas meio dos espaços de formação coletiva. públicas a partir de um processo de am- No entanto, no segundo caso será preci- pla participação social ainda representa so um maior esforço dos coordenadores um grande desafio à sociedade brasileira, mais engajados na militância em Educa- pelo menos no que se refere às políticas ção ambiental no sentido de mostra aos públicas municipais de educação ambien- sujeitos envolvidos novos significados que tal. Por outro lado, no campo das possi- o mobilize para continuidade do processo. bilidades, concluímos que é no âmago Esse esforço será ainda maior, sobretudo, dos movimentos sociais que se encontra para garantir a participação do setor pro- a semente capaz de germinar e consolidar dutivo no processo, já que este ainda tem uma política pública capaz de guiar a prá- se ausentado. xis da educação adequada à realidade dos municípios avaliados até esta etapa. Essas reflexões indicam que ainda há um déficit no cumprimento das metas de gestão da oferta da educação ambiental no Brasil, pois, apesar dos esforços das esferas federal e estadual no funcionamento do sistema articulado das políticas 148 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 Programa de mobilização social para a construção participativa ... Referências bibliográficas BRASIL, Lei 9.9795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. 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