Instituições a serviço da cidadania: um grande desafio O Ministério Público de Minas Gerais, de forma talvez pioneira, possui um órgão novo, cujo nome - Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais (Cimos) - indica suas atribuições. A Cimos acaba de nascer, embora muitos integrantes da Instituição já abracem e defendam, há anos, a causa dos mais necessitados, buscando a efetivação dos direitos básicos dos excluídos, por meio das várias Promotorias de Justiça especializadas, como a de Defesa dos Direitos Humanos e a de Combate aos Conflitos Agrários. Por mais novo que seja o trabalho do Ministério Público no resgate e na promoção da inclusão social, é necessário citar ações que veem contribuindo para vencermos alguns desafios, comuns à maioria das Instituições, e que passam pela aproximação com a cidadania, incorporando-a como valor em sua estratégia e finalidade de atuação. Nesse pouco tempo de criação, apenas oito meses, a Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais tem buscado colocar em prática a articulação com os interesses e órgãos da sociedade civil, constituindo-se como espaço de diálogo efetivo e de canal de expressão da participação popular no âmbito do Ministério Público, para garantir ampliação e efetividade dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal, em uma perspectiva de inclusão social. A Cimos tem procurado buscar uma interlocução mais efetiva entre os movimentos sociais e os promotores de Justiça, atores fundamentais da transformação social, cada qual na sua esfera de autonomia e atuação. Mas é preciso voltar ao tema proposto. Poderia citar nomes de grandes pensadores e estudiosos sobre a ética, a exemplo de muitos aqui presentes, como Frei Betto, Leonardo Boff, entre tantos, mas prefiro repetir a reflexão do Frei Gilvander Moreira: “Mais do que um pensar ético, um agir ético é imprescindível para realizarmos o desafio de transfigurar as instituições e as pessoas”. É assim que tentamos agir quando recebemos membros de acampamentos pressionados a deixar o local, sem um mínimo de condições de higiene e de saúde, para tentarmos promover junto aos órgãos públicos e promotores de Justiça o fim do impasse. Ou então, quando nos reunimos com associações de bairros para encontrarmos uma solução jurídica e uma organização contábil para que elas passem a ter mínimas condições de receber recursos para o desenvolvimento de seus projetos. Também ao incentivarmos a venda dos artesanatos produzidos pelos recuperandos da Apac; de contribuirmos para proposta de lei que garanta aposentadoria aos catadores de materiais recicláveis, entre outras interlocuções, a exemplo dos quilombolas, movimentos negros, de gênero e população em situação de rua. Também não vejo futuro para as instituições que não estejam preocupadas em elevar o nível de participação da sociedade e que sejam distanciadas da discussão pública. É necessário construir instituições que incorporem as demandas e experiências sociais e nas quais seus agentes verdadeiramente sejam promotores de justiça. Em síntese, o desafio ético e transformador de aperfeiçoar instituições para que elas, indo além da natureza de aparelho burocrático-corporativo, se constituam em espaços essencialmente públicos, diferentes do formato original que historicamente desenvolveram, assentado na exclusão, nas injustiças e na indiferença. Fácil não é. Mas, se os movimentos sociais passarem a exercer efetivamente o protagonismo da agenda pública, sobretudo influenciando a ação das instituições, tornando-as mais abertas aos excluídos, poderemos pensar que um mundo melhor é possível, a partir de uma ética comprometida com a transformação social. Com fé e política. Fernando Antônio Fagundes Reis – procurador-geral de Justiça adjunto institucional e coordenador da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais do Ministério Público de Minas Gerais. Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora