1 II CONGRESSO DE INOVAÇÃO E METODOLOGIAS DE ENSINO Nome do Eixo Temático: 4- Metodologias de ensino-aprendizagem EM BUSCA DA APRENDIZAGEM EFETIVA: AVALIANDO EFICIÊNCIA DE ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE ECOLOGIA Ana Flávia de Paula Teixeira Universidade Federal de Viçosa - UFV [email protected] Carlos Frankl Sperber Universidade Federal de Viçosa - UFV [email protected] Bruno Costa Universidade Federal de Viçosa - UFV [email protected] Rita Márcia A. Vaz de Mello Universidade Federal de Viçosa - UFV [email protected] Resumo: Ecologia Básica é oferecida a 700 alunos/ano; por este motivo observamos desafios em despertar interesse e desenvolver proficiências teóricas e práticas. Para enfrentar esse desafio, introduzimos estratégias pedagógicas alternativas, e avaliamos quantitativamente quais foram mais eficientes. Mensuramos, a partir de questionário anônimo, o desempenho dentro da disciplina, fora dela e a integração dos estudantes. Para estimar o desempenho dos estudantes dentro da disciplina, utilizamos a autoavaliação destes em perguntas relacionadas a motivação e satisfação, e o quanto o aluno avaliou que os objetivos da disciplina foram alcançados. Para avaliar se o desempenho fora da disciplina foi afetado, somamos as autoavaliações relacionadas com a contribuição à formação profissional e conhecimento prático. Para estimar o grau de aprendizagem ativa, utilizamos as notas que os alunos deram para o comportamento do professor e suas metodologias pedagógicas. Ajustamos uma regressão linear múltipla para cada variável, e verificamos que três das quatro estratégias aumentaram o desempenho dos estudantes dentro da disciplina, duas aumentaram o desempenho fora, e duas aumentaram a integração entre os estudantes. Palavras-chave: Aprendizagem ativa. Ecologia básica. Múltiplas pedagogias. Didática. Análise quantitativa. INTRODUÇÃO 2 Empiricamente, podemos dizer que grande parte dos alunos apresenta desinteresse pelas formas de ensino convencionais. Nas Universidades, poucos são os professores que buscam formas de ensino diferentes, visando a eficácia do processo de ensino/aprendizagem seja eficaz. Além disso, não há uma sistematização de experiências e mensuração de seus resultados, de forma a intensificar e ampliar experiências bem-sucedidas, questionar e reformular técnicas e processos, além de monitorar os resultados, a curto e longo prazo. Apesar dos trabalhos mais recentes apontarem para a importância de metodos de ensinoaprendizagem ativa (FREEMAN et al., 2014), a insipiência do conhecimento desse tipo de abordagem, e a falta de mensuração quantitativa, que permita avaliar a eficiência de pedagogias alternativas, é um ponto que dificulta a disseminação entre os professores e os alunos. Nosso objeto de estudo, a disciplina Ecologia Básica – BIO 131, é uma disciplina oferecida a cerca de 700 alunos/ano. Devido ao grande contingente de alunos e diversidade de seus interesses, vivenciamos a dificuldade em atrair a atenção e de desenvolver proficiências teóricas e práticas nos estudantes. Para enfrentar esse desafio, introduzimos estratégias pedagógicas de aprendizagem ativa e cooperativa, associadas à avaliação de sua efetividade. O objetivo central desse trabalho foi avaliar a eficiência de estratégias alternativas de ensino. Especificamente visamos (i) avaliar se características do estudante alteram os efeitos de diferentes estratégias de ensino no seu desempenho dentro da disciplina, fora dela, e em sua integração com os colegas, professores e monitores; (ii) testar as seguintes hipóteses: H1: estratégias de aprendizagem ativa promovem melhor desempenho em avaliações na própria disciplina; H2 estratégias de aprendizagem ativa promovem melhor desempenho fora da disciplina; H3: estratégias de aprendizagem ativa promovem a integração dos estudantes com mais dificuldades; H4: Características específicas de cada aluno afetam a eficiência das estratégias de ensino. REFERENCIAL TEÓRICO 3 Desde Paulo Freire (1987), já se criticava a forma de ensino do tipo “educação bancária”, embora isso ainda prevaleça no Brasil. Nesse formato, o professor é o único detentor de conhecimento, e o aluno funciona como receptáculo passivo do mesmo, o que reduz a aprendizagem efetiva do aluno. Em uma meta-análise de 225 estudos sobre notas em exames e taxas de reprovação, nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, Freeman e colaboradores (FREEMAN et al., 2014) verificaram que metodologias de aprendizagem ativa resultam em aumento de 6% nas notas e redução em 1.5 vezes na probabilidade de reprovação. As metodologias ativas de ensino envolvem os estudantes no processo de aprendizado. Assim os estudantes se tornam mais do que simples receptores, produzindo conhecimento. A relação professor-aluno nesse sistema não é baseada na hierarquia, e sim na troca. Todas as experiências são valorizadas e compartilhadas. No ensino superior brasileiro, em que os estudantes passaram por um ensino médio fraco, isto se torna ainda mais importante, pois muitas vezes o professor subentende que o discente já possui conhecimentos prévios sobre o assunto, tornando a aprendizagem pouco efetiva, caso não se explicitem e sejam sanadas as lacunas de formação dos estudantes. Na UFV, existem esforços com o intuito de inovar e modificar os sistemas tradicionais de ensino (ZUANON, 2002), porém isso se contrapõe a inúmeras pressões em sentido oposto. Os professores são pressionados a dar aulas para um contingente anual crescente de estudantes, o que é desfavorável à qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Ainda existe pouco preparo dos docentes em relação a técnicas de ensino/aprendizagem. Elas poderiam ser muito mais efetivas se houvesse uma integração dos saberes e uma maior aplicação em campo da teoria com a prática. Para que este processo tenha maior êxito é necessário conhecer melhor algumas teorias educacionais, particularmente sobre os processos de aprendizagem (FELDER; BRENT, 1999). O processo de aprendizagem está relacionado à forma como o estudante absorve novas informações e as ressignifica de acordo com sua bagagem cultural preexistente. Todo conhecimento que, de alguma forma, altera o modo como o estudante vê o mundo, ou complementa um quadro cognitivo, afetivo ou psicomotor deve constar no campo da aprendizagem. Segundo Paulo Freire (1987), o princípio básico da aprendizagem seria uma leitura do mundo em que uma pessoa está inserida. Consequentemente, esta pessoa seria sujeito de sua própria aprendizagem. Porém, muito poucos registros sobre processos exitosos de aprendizagem na área de ecologia verdadeira são publicados. Outra abordagem pedagógica seria a aprendizagem baseada em problemas, em que estímulos ambientais sobre o indivíduo responsável pela resolução podem gerar aprendizado (COELHO; JOSÉ, 1999). Segundo Moreira (1942), pode-se categorizar três tipos diferentes de aprendizado: cognitivo, afetivo e psicomotor. Trabalhamos fundamentalmente com as duas primeiras categorias, sendo que, aqui, tipos de conhecimento não podem ser considerados independentes, já que se inter-relacionam de forma rizomática (COMIER, 2008). Não consideramos o domínio psicomotor, pois este perpassa por campos da psicologia e da medicina, não podendo ser mensurado apenas por observação. O aprendizado cognitivo é medido através de avaliações sistêmicas e refere-se ao armazenamento de ideias. O domínio afetivo só pode ser observado na medida em que o indivíduo exterioriza sinais como satisfação, angústia, ansiedade, entre outros que podem ser decorrentes da experiência pedagógica. Um processo satisfatório de aprendizagem exige estímulos diferentes para alunos diferentes para que se consiga situações estimuladoras que gerem respostas na maior parte dos alunos (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010). METODOLOGIA Anteriormente a esse experimento pedagógico, a disciplina BIO 131 – Ecologia Básica, se resumia a aulas expositivas, exercícios em sala, respondidos por grupos de até quatro alunos, 4 e eventualmente uma pesquisa científica extra-classe, orientada pelo professor ou por alunos de pós-graduação. Implantamos as seguintes estratégias de aprendizagem ativa: professores ativos (que interrompem a aula expositiva para fazer perguntas a serem respondidas em grupo, em 3 min, ou que fazem perguntas diretamente a alunos escolhidos arbitrariamente, buscando não repetir o escolhido), trabalho extra-classe (que puderam resultar em apresentações, vídeodocumentários, poesia, teatro, música, maquete, mobilização popular, instalação artística, palestra em escola fundamental ou de ensino médio, entre outros), avaliações online (individuais, com uma a duas semanas para resposta) e refacção de prova em dupla (em que as duplas que acertassem > 90% ganhavam 5 pontos adicionais na prova). “Professores ativos” refere-se ao comportamento dos professores dentro de sala. Um professor considerado ativo é aquele que encoraja e dá devida atenção às dúvidas, checa com periodicidade se os alunos estão absorvendo o conteúdo, busca o engajamento da turma mesmo em aulas essencialmente expositivas, e valoriza e discute todas as respostas, mesmo quando não correspondem ao esperado pelo professor. O trabalhos extra-classe foram desenvolvidos em grupos. Cada grupo teve liberdade tanto na escolha do tema quanto na forma de exposição do mesmo, fato que coloca o estudante como protagonista em sua aprendizagem. Ao longo do semestre, houve várias etapas para a construção do Trabalho Extra-Clase, que envolveram desde a constituiçõ dos grupos, do tema e título do trabalho, até a confecção de um cronograma, divisão de tarefas entre os componentes do grupo, reavaliação e eventual redirecionamentos, e, quando da apresentação final, uma avaliação recíproca dos componentes de cada grupo, incluindo auto-avaliação, que ponderou a nota dada à apresentação. O trabalho final foi apresentado em até 10 min, para todos os colegas de turma. Nos casos em que o Trabalho Extra-Classe envolveu atividades realizadas com outras pessoas, como palestras, mobilização ou enquetes, o grupo registrou esses eventos e os apresentou como slides de powerpoint ou vídeo. Finalmente, a nota da apresentação foi a média da avaliação do docente e de mais dois ou três estudantes de outros grupos. 5 As provas online foram solucionadas no PVAnet, na plataforma online da UFV. A refacção de provas em dupla fi feita na semana seguinte à prova, em que prova semelhante foi refeita por dupla de estudantes. Aplicamos um questionário a todos os alunos matriculados no segundo semestre de 2015. Como o questionário foi anônimo, não tivemos acesso direto às identidades, e consequentemente às notas dos respondentes. Assim, para estimar o desempenho dos estudantes dentro da disciplina, utilizamos as notas que os alunos se deram em perguntas relacionadas a sua motivação e satisfação, e o quanto o aluno avaliou que os objetivos da disciplina foram alcançados. Quando o aluno está motivado, um desempenho bom pode ter sido insatisfatório para o aluno; quando o aluno não está motivado, um desempenho mediano pode ter sido considerado excelente pelo aluno. Assim, multiplicamos a pontuação para motivação pela pontuação dada para satisfação, de forma a distinguir estudantes motivados e com boas notas. Somamos isto à nota que o aluno deu a quanto os objetivos da disciplina foram alcançados, gerando nossa variável resposta de desempenho Para avaliar se o desempenho fora da disciplina foi afetado, somamos as notas que os alunos deram para contribuição à formação profissional e conhecimento prático. Para estimar o grau de aprendizagem ativa, utilizamos as notas que os alunos deram para as atitudes de estímulo, atenção e respeito do professor com os alunos, e a nota dos alunos às diferentes metodologias pedagógicas ativas executadas. Para estimar o grau de integração realizamos o somatório de três outras variáveis: integração entre alunos e professores, índice de promoção da integração de alunos com mais dificuldades através da aplicação de metodologias ativas e o índice de cooperação entre alunos no extra-classe. Todas as variáveis foram centradas em zero e escalonadas, de forma a padronizar a variação de cada variável, e com isso, evitar que variáveis mais discrepantes tivessem maior peso (ZUUR et al., 2010). Para avaliar as hipóteses H1, H2 e H3, ajustamos regressões lineares múltiplas para cada variável resposta (H1: desempenho dentro da disciplina, H2: desempenho 6 fora da disciplina, H3: grau de integração). Para avaliar se características dos estudantes alteraram os efeitos das estratégias pedagógicas, ajustamos análises de covariância (ANCOVA), acrescentando variáveis referentes às características dos estudantes como variáveis explicativas categóricas com eventual interação com as variáveis explicativas mantidas nos modelos mínimos de cada uma das hipóteses H1, H2 e H3. Em H4, verificamos possíveis interações de características do estudante com a eficácia das estratégias pedagógicas aplicadas e com o desempenho dentro e fora da disciplina. Analisamos as seguintes características: sexo, idade, nota do ENEM, tipo de instituição onde cursou o ensino médio e área do conhecimento. Para todas as análises ajustamos modelos lineares generalizados (GLM) com distribuição normal, e avaliamos os resíduos. Todas as análises foram feitas no programa R (R CORE TEAM, 2015). RESULTADOS O questionário anônimo foi respondido por 86 de 174 estudantes matriculados na disciplina “Ecologia Básica” no segundo semestre de 2015 da Universidade Federal de Viçosa. Verificamos que três das quatro estratégias pedagógicas avaliadas aumentaram significativamente o desempenho dentro da disciplina (Figura 1): comportamento que estimula aprendizagem ativa dos professores (encorajam e dão atenção a perguntas, checam se os alunos estão aprendendo), trabalho extraclasse em grupo, e exercício online, enquanto a refacção de prova em duplas não tivera efeito. O desempenho fora da disciplina (Figura 2) foi incrementado pelos trabalhos extraclasse e exercícios online (P<0.001), porém não foi afetado pelo comportamento dos professores nem provas em dupla (P>0.2). 7 8 Figura 1. Pontuação dada pelos alunos em variáveis relacionadas a seu desempenho dentro da disciplina (Desempenho), em função da pontuação em itens relacionados ao comportamento dos professores (Professores 'ativos'), ao trabalho extraclasse feito em grupo, às avaliações online, respondidas individualmente, e à refacção de provas em duplas. Todas as variáveis foram centradas em zero. As linhas correspondem a efeitos significativos (P<0.05), enquanto ausência de linha indica ausência de efeito (P>0.05), em regressão múltipla. 9 Figura 2. Pontuação dada pelos alunos em variáveis relacionadas a seu desempenho fora da disciplina (Desempenho Fora), em função da pontuação em itens relacionados ao comportamento dos professores (Professores 'ativos'), ao trabalho extraclasse feito em grupo, às avaliações online, respondidas individualmente, e à refacção de provas em duplas. Todas as variáveis foram centradas em zero. As linhas correspondem a efeitos significativos (P<0.05), enquanto ausência de linha indica ausência de efeito (P>0.05), em regressão múltipla. O comportamento ativo dos professores e o extra-classe aumentaram a integração dos estudantes; as provas online e a refacção das provas em dupla não apresentaram impacto relevante sobre a variável em questão 10 Figura 3. Pontuação dada pelos alunos em variáveis relacionadas a integração entre colegas, professores e monitores em função de itens relacionados ao comportamento dos professores (Professores 'ativos'), ao trabalho extraclasse feito em grupo, às avaliações online, respondidas individualmente, e à refacção de provas em duplas. Todas as variáveis foram centradas em zero. As linhas correspondem a efeitos significativos (P<0.05), enquanto ausência de linha indica ausência de efeito (P>0.05), em regressão múltipla. 11 Figura 4. Pontuação dada pelos alunos em variáveis relativas ao desempenho fora da disciplina, em relação ao trabalho extraclasse feito em grupo em função da área do conhecimento. 12 Figura 5. Pontuação dada pelos alunos em variáveis relativas ao desempenho fora da disciplina, em relação ao trabalho extraclasse feito em grupo em função da idade do estudante. DISCUSSÃO Percebemos que as metodologias ativas de ensino apresentaram um grande impacto na aprendizagem de Ecologia Básica. Das quatro estratégias pedagógicas avaliadas, apenas as provas em dupla não surtiram efeito dentro ou fora da disciplina, nem auxiliaram para a melhoria da integração entre os estudantes. Na disciplina BIO 131 – Ecologia Básica, a grande maioria das questões de prova são fechadas, logo a discussão destas pode ter causado impasses que dificultaram o aprendizado, causando assim ineficácia desta metodologia. Uma eventual revisão da matéria da prova posterior à sua aplicação, mas anterior à refacção em duplas, poderia aumentar a eficácia pedagógica dessa estratégia de ensino. O desempenho dentro da disciplina foi altamente otimizado pelo comportamento ativo dos professores. Uma vez estimulados, os alunos se tornaram mais engajados com o conteúdo apresentado, pois a cobrança era feita durante a aula. Como parte do processo, o aluno foi induzido a participar efetivamente, seja através de respostas a perguntas ou testes de aprendizagem ativa. Aqui, o principal papel do professor foi encorajar o aluno, conferir o nível de aprendizado com periodicidade e estimular a exposição livre de ideias. Aqui cabe o relato pessoal de um dos alunos, posteriormente à conclusão da disciplina (CF Sperber, observação pessoal): o fato do professor selecionar arbitrariamente alunos na sala teria levado os mesmos a estarem sempre alerta, pois poderiam ser os escolhidos da vez. O trabalho extra-classe e as avaliações também contribuíram para a melhoria do desempenho dentro da disciplina. A pesquisa prévia de determinados assuntos inerentes a estas estratégias de ensino permitiu que o aluno chegasse à sala já com uma pequena base teórica, aumentando assim a disponibilidade para aquisição de conhecimentos novos. O desempenho fora da disciplina foi potencializado pelos trabalhos extra-classe e pelas avaliações online. As provas em dupla e o comportamento ativo dos professores não surtiram efeito sobre o desempenho fora da disciplina. A liberdade de escolha do tema para o extraclasse permitiu que o discente direcionasse o aprendizado para sua área de interesse. Por ser uma disciplina de massa, a BIO-131 grande dificuldade em fornecer conhecimentos específicos, e, através do extra-classe o aluno pôde direcionar parte do seu aprendizado na disciplina para seus interesses específicos, e, desta forma, fortalecer principalmente os conhecimentos aplicáveis em áreas específicas de estudo. O trabalho extra-classe apresentou também um forte impacto sobre a integração entre os alunos, professores e monitores. Isto se deve, principalmente ao inevitável contato entre os alunos para a realização do mesmo. Os trabalhos foram executados em grupos de aproximadamente cinco pessoas e mesclava proficiências práticas e teóricas. No geral, obtivemos resultados instigantes, como apresentações artísticas (musicais, teatrais, etc.), 13 intervenções sociais e produções culturais. O resultado satisfatório pode ser explicado por esse alto índice de integração estimulado. O comportamento ativo dos professores também contribuiu para a promoção da integração entre os alunos, porém com menor intensidade. As provas em dupla não apresentaram efeito positivo. A discussão das questões propostas pode ter conflitos causando efeito reverso ao que estávamos buscando. Como esperado, as provas online também não afetaram o nível de integração. Solucionadas em horário extracurricular, provavelmente de forma individual, o estudante não aprimorou vínculos sociais com nenhum professor ou colega nesta etapa. Sexo, idade, tipo de instituição em que o estudante cursou o ensino médio, nota do ENEM e área do conhecimento, não afetaram o desempenho do aluno dentro da disciplina. Neste caso, muito se deve ao comportamento ativo dos professores, buscando a inserção do corpo estudantil como um tudo. As características dos estudantes também não causaram efeito sobre a efetividade das estratégias de ensino aplicadas dentro da disciplina. Quando se trata do desempenho fora da disciplina, fatores como idade e área do conhecimento repercutiram sobre a efetividade do trabalho extra-classe. Estudantes com faixa etária entre 19 e 24 anos foram os mais atingidos positivamente por esta estratégia. Podemos presumir que, nesta faixa, o estudante se encontra mais engajado com sua formação universitária. Na faixa de estudantes mais velhos, acima de 24 anos, o efeito foi negativo, mostrando que para estes estudantes o extra-classe não é indicado. Quanto à área do conhecimento do curso dos estudantes, os resultados mostram que esta estratégia de ensino é particularmente interessante para estudantes de ciências exatas. Esse resultado nos surpreendeu, e sugere que o esforço de relacionar o conteúdo às áreas específicas dos cursos, por parte do professor, aliado à abordagem de aplicação, inerente ao trabalho extra-classe, estimula o a pensar e relacionar conteúdos e conhecimentos extradisciplinares. Por ser uma disciplina distinta do conteúdo apresentado normalmente a estes cursos, a Ecologia desperta grande interesse em muitos alunos de exatas, sendo que, ao 14 realizar o extra-classe, muitos destes mesclam conteúdos, expandindo assim os conhecimentos captados de áreas do conhecimento. Para os alunos de biológicas ou agrárias, o conhecimento adquirido na disciplina, pode ser considerado superficial e repetitivo, já que é exposto de formas diversas em outras disciplinas da graduação, diminuindo assim o nível de interesse nestes grupos. CONCLUSÕES Mostramos que estratégias pedagógicas de aprendizagem ativa influenciam positivamente no aprendizado de alunos em disciplina de massa, segundo avaliação deles próprios. Além disso, atividades extraclasse em grupo e individuais, extrapolam o âmbito da disciplina em si, contribuindo para o aprendizado dos alunos fora da disciplina. Em oposição à aprendizagem passiva, bancária, baseada na transmissão de informação, cria-se oportunidades para a construção de conhecimento. As pedagogias ativas tiveram efeito positivo no desempenho dentro e fora, com exceção de refacção de prova em duplas, mas não de forma indiscriminada. Verificamos ainda que o trabalho extra-classe é particularmente importante para estudantes da área de exatas e para estudantes mais novos (entre 19 e 24 anos), sendo pouco menos eficiente para estudantes mais velhos (acima de 24 anos) e para estudantes da área de agrárias, porém deve-se considerar que nem todos possuem facilidade para desempenhar um papel mais ativo ou colaborativo durante o processo ensino-aprendizagem. Nossos resultados sugerem uma ênfase no comportamento ativo dos professores, no trabalho extra-classe e em avaliações online. Concluímos que a implementação de múltiplas estratégias de aprendizagem ativa e cooperativa aumentam a eficiência de aprendizagem, na percepção dos alunos, mesmo se tratando de disciplina de massa. Ensejamos que gradativamente o sistema educacional superior se aproprie dessas ideais e as transforme em uma prática educacional e social produtiva para os professores e alunos, haja vista que vivemos em um contexto em que somos massacrados por informações desestruturadas, divergentes, de fácil acesso e massificadas. 15 REFERÊNCIAS 16 COELHO, Maria Teresa; JOSÉ, Elisabete da Assunção. Problemas de aprendizagem. São Paulo: Ática, 1989. COMIER, Dave. Rhizomatic Education: Community as Curriculum. Innovate: Journal of Online Education, v. 4, n.5, Article 2, 2008. FELDER, Richard M.; BRENT, Rebecca. Ensino efetivo: uma oficina. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1999. 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