ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GERIATRIA FATORES PREDITIVOS DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM IDOSOS COM DIABETES MELLITUS, NO MUNICÍPIO DE IRACEMA-CE, EM 2007 ALEXANDRE VIANA FONTES DE MEDEIROS FORTALEZA/CE 2007 ALEXANDRE VIANA FONTES DE MEDEIROS FATORES PREDITIVOS DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM IDOSOS COM DIABETES MELLITUS, NO MUNICÍPIO DE IRACEMA-CE, EM 2007 Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Geriatria, da Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará, como parte do requisito para obtenção do título de Especialista em Geriatria. Orientador (a):Profª Drª.Rita Erotildes Maranhão Mariano FORTALEZA/CE 2007 ALEXANDRE VIANA FONTES DE MEDEIROS Aprovado em: ___/ ___/ 2007. BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________ Profª Drª.Rita Erotildes Maranhão Mariano (Orientadora) ______________________________________________________ Profª. Drª. Virgínia Mª Costa de Oliveira (Membro Efetivo) ______________________________________________________ Profª. MSc. Jane Cris de Lima Cunha (Membro Efetivo) AGRADECIMENTOS À Deus, razão maior de nossa existência. Que sempre me guia e fortalece nos momentos difíceis. Aos meus pais, pelo amor, dedicação, incentivo e apoio em todos os momentos de minha vida. À minha irmã, pelo carinho e apoio à mim sempre dedicado. Aos colegas de turma pela amizade, incentivo e companheirismo. À minha prima Suely, pela contribuição na formatação deste trabalho. Aos idosos que participaram da pesquisa, pela boa vontade e colaboração. À Drª Helena e Arlete, pela dedicação e empenho no curso. À Prefeitura do Município de Iracema, por proporcionar condições para realização desta pesquisa. Em especial à Profª Drª Rita Erotildes Maranhão Mariano, pela atenção dispensada e pelas valiosas sugestões, correções e críticas fundamentais enriquecimento e concretização desta monografia. para o RESUMO Nas últimas décadas houve uma importante mudança no perfil da mortalidade da população brasileira, com aumento dos óbitos causados por doenças crônicas-degenerativas. As doenças cardiovasculares são, atualmente, consideradas uma das principais causas de morbi-mortalidade entre idosos, tendo a diabetes mellitus como fator agravante. O objetivo deste estudo foi analisar os fatores de risco relacionados às doenças cardiovasculares, em idosos com diabetes mellitus tipo 2, assistidos pela equipe “A” do Programa Saúde da Família (PSF), do município de Iracema - Ce. Participaram da pesquisa 65 idosos, com idade variando entre 60 a 87 anos, sendo 23 (35,4%) do sexo masculino e 42 (64,6%) do sexo feminino, todos diagnosticados diabéticos tipo 2 e atendidos no Centro de Saúde Francisco Pinheiro de Sousa, no período de maio a junho de 2007. Estes idosos foram avaliados quanto a situação socioeconômica e demográfica, caracterizandose como uma amostra populacional predominantemente de baixo nível de escolaridade, com 58,5% dos idosos com ensino fundamental incompleto ou analfabetos, sendo que 57% apresentaram uma renda familiar inferior a um salário mínimo, 53,9% eram de etnia branca, 49,3% tinham situação conjugal estável e 60% eram economicamente inativos. Dentre os fatores de risco para doenças cardiovasculares, verificou-se que a amostra apresentou: 55,4% com excesso de peso, 63,1% com acúmulo de gordura a nível abdominal, 72,3% com hipercolesterolemia, 93,8% com hipertrigliceridemia, 89,2% com níveis elevados de glicemia plasmática, 63,1% com níveis de pressão sistólica elevada, 50,8% com níveis de pressão diastólica elevada, 90,7% com antecedentes familiares para diabetes e 50,7% para hipertensão. Assim, pode-se concluir que os indivíduos com diabetes mellitus tipo 2, precisam não apenas ter um controle glicêmico adequado, mas também atentar para todos os outros fatores de risco cardiovasculares associados, para garantir uma melhor qualidade de vida. ABSTRACT In the last few decades it had an important change in the profile of the mortality of the Brazilian population, with increase of the deaths caused for chronicledegenerative illnesses. The cardiovascular illnesses currently are considered one of the main causes of morbimortality between aged, having diabetes mellitus as factor aggravation. The objective of this study was to analyze the related factors of risk to aged the cardiovascular illnesses in with diabetes mellitus type 2, attended for the team “A” of the Family Health Program (PSF), in the city of Iracema - Ce. They had participated of research 65 years, with age varying between 60 and 87 years, being 23 (35.4%) of masculine sex and 42 (64.6%) of the feminine sex, all diagnosised diabetic type 2 and taken care of in the Center of Health Francisco Pinheiro de Sousa, in the period of May the June of 2007. They had been evaluated in agreement the partner-economic and demographic situation, characterizing itself as a predominantly low-level population sample of low educational level, with 58,5% of years with incomplete basic education or illiterate, with 57% presenting an inferior familiar income to a minimum wage, 53.9% of white ethia, 49.3% with steady conjugal situation and economically inactive 60%. Amongst the factors of risk for cardiovascular illnesses, we verify that the sample presented: 55.4% with weight excess, 63.1% with accumulation of fat the abdominal level, 72.3% with hipercolesterolemia, 93.8% with hipertrigliceridemia, 89.2% with high levels of plasmatic glicemy, 63.1% with levels of high sistólica pressure, 50.8% with levels of high diastólica pressure, 90.7% with familiar antecedents for diabetes and 50.7% for hypertension. Thus, we can conclude that the individuals with diabetes mellitus type 2, not only need to have adequate a glicêmico control but also to attempt against for all the other cardiovascular factors of risk associates to guarantee one better quality of life. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 8 2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................ 9 2.1 Epidemiologia do envelhecimento............................................................. 9 2.2 Doenças cardiovasculares........................................................................ 9 2.3 Fatores de riscos cardiovasculares........................................................... 10 2.3.1 Idade........................................................................................................ 12 2.3.2 Sexo........................................................................................................ 13 2.3.3 História Familiar....................................................................................... 13 2.3.4 Dislipidemia............................................................................................. 14 2.3.5 Diabetes................................................................................................. 15 2.3.6 Hipertensão arterial................................................................................ 15 2.3.7 Tabagismo............................................................................................... 17 2.3.8 Etilismo................................................................................................... 18 2.3.9 Sedentarismo......................................................................................... 19 2.3.10 Obesidade............................................................................................. 19 2.3.11 Dieta...................................................................................................... 21 3 OBJETIVOS.................................................................................................. 23 3.1 Geral.......................................................................................................... 23 3.2 Específicos................................................................................................ 23 4 METODOLOGIA........................................................................................... 24 4.1 Tipo de estudo............................................................................................ 24 4.2 Local de estudo......................................................................................... 24 4.3 Período do estudo..................................................................................... 24 4.4 População do estudo................................................................................. 24 4.5 Desenvolvimento do estudo...................................................................... 25 4.6 Processamento e análise dos dados......................................................... 28 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................... 29 6 CONCLUSÃO............................................................................................... 39 7 RECOMENDAÇÕES .................................................................................... 41 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 42 9 APÊNDICE.................................................................................................... 49 Apêndice A - Instrumento de coleta de dados............................................. 50 8 1 INTRODUÇÃO No presente estudo avaliou-se a diabetes mellitus como uma condição agravante para as doenças cardiovasculares. Esta, em pacientes com diabetes mellitus tipo 2, é a principal causa de mortalidade, sendo que o controle rigoroso da hiperglicemia é capaz de reduzir a mortalidade e as complicações causadas pelo diabetes mellitus (Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2001). Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2002), há uma deficiência de estudos clínicos direcionados à população idosa, o que dificulta o conhecimento das co-morbidades e a determinação de condutas padronizadas que atendam a este grupo populacional. A correlação da diabetes mellitus aos fatores de risco para doenças cardiovasculares pode variar em diferentes populações, havendo a necessidade de estudos regionais que colaborem para um melhor conhecimento destas patologias, e suas consequências e para a melhoria do estilo de vida dos grupos expostos (Brasil MS., 2006a). Os estudos sobre o comportamento dos fatores de risco para doenças cardiovasculares em idosos são considerados de suma importância para a redução da morbidade dessa população, já que existe um consenso entre os pesquisadores de que as doenças crônicas tratam-se de um processo patológico com fatores causais evitáveis (Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2002). Diante do fato de que os fatores de risco passíveis de intervenção estão relacionados ao estilo de vida do indivíduo, pretendeu-se neste estudo analisar os fatores de risco para as doenças cardiovasculares presentes em uma amostra de idosos diabéticos tipo 2, atendidos em uma Unidade de Saúde do Município de Iracema – Ce, com o intuito de subsidiar ações para uma adequada orientação na avaliação do paciente, bem como favorecer a determinação de estratégicas de prevenção e redução da morbimortalidade cardiovascular e contribuir para a melhoria da qualidade de vida dessa população. Considerando-se o diabetes mellitus como condição agravante, esperase uma maior incidência de fatores de risco cardiovasculares entre os idosos da amostra em estudo e, diante desse quadro, buscar-se-á incentivar a um estilo de vida saudável, como forma de prevenção das doenças cardiovasculares. 9 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Epidemiologia do envelhecimento O expressivo aumento da expectativa de vida e do envelhecimento populacional constituem importantes mudanças no perfil demográfico e epidemiológico observadas em todo o mundo (SOCERJ, 2004). Segundo Piccini et al. (2006), há uma unanimidade em torno da previsão de que a população idosa crescerá mais rapidamente do que a população em geral. Estima-se que em 2025 o país alcançará o sexto lugar, com mais de 32 milhões de indivíduos com 60 anos e mais, com uma taxa de crescimento cerca de 15 vezes maior, enquanto o restante como um todo terá aumentado cerca de cinco vezes (Silvestre et al., 1996). O envelhecimento populacional brasileiro, com o consequente aumento do número de idosos, é um processo demográfico em ritmo acelerado, tendo como consequência uma maior incidência de doenças crônicas (Chaimowicz,1997). Conforme Ramos et al. (2003), a grande maioria dos idosos apresenta pelo menos uma morbidade crônica. Diante desta realidade, há de se considerar as implicações que os agravos crônicos têm para a saúde das pessoas que envelhecem, como, por exemplo, a possibilidade de perda da capacidade funcional, a utilização excessiva de medicamentos e de serviços de saúde, resultando em importante ônus econômico ao país (Brito & Litvoc, 2004). Assim, torna-se necessário conhecer a situação de saúde desta parcela da população, e uma das mais valiosas fontes de dados é representada pelas estatísticas de mortalidade (Mathias et al., 2004). De acordo com a SOCERJ (2004) e Firmo et al. (2004b), as doenças cardiovasculares são as maiores responsáveis pela mortalidade de idosos no Brasil, correspondendo a quase 40% entre as várias causas de mortalidade nessa faixa etária. 2.2 Doenças cardiovasculares Atualmente, o Brasil vem atravessando um período de transição epidemiológica, onde observa-se uma diminuição na mortalidade por doenças 10 infecciosas e um expressivo aumento na mortalidade pelas doenças crônicasdegenerativas, como as doenças cardiovasculares (SOCERJ, 2004). Segundo Lessa (1998), o conceito de doenças crônico-degenerativas compreende as patologias com longo período de latência, assintomáticas, com curso clínico lento e ocasionadas por diversos fatores de risco. São consideradas doenças crônicas: as cardiovasculares, a diabetes, a hipertensão arterial, vários tipos de cânceres, as doenças auto-imunes, entre outras (Silva Junior et al., 2003). As doenças cardiovasculares constituem várias afecções separadas, com etiologias e manifestações clínicas diversas, como a Doença Arterial CoronáriaDAC, a doença vascular cerebral e a doença vascular periférica (Friedewald, 1997). Em 2002, 1/3 da mortalidade total no Brasil foram causadas por doenças cardiovasculares, o que equivalente a 85.599 óbitos, sendo responsáveis por 29,2% da mortalidade mundial, o que equivale a 16,7 milhões de óbitos (Rosini et al. 2006). Entre as doenças cardiovasculares, as doenças cerebrovasculares e as isquemias do coração são as causas mais freqüentes de óbitos no Brasil, tendo como principal fator de risco a hipertensão arterial (Firmo et al, 2004a). No Brasil, em 2003, 27,4% dos óbitos foram decorrentes de doenças cardiovasculares, sendo que o acidente vascular cerebral é considerado a principal causa de morbidade em todas as regiões do Brasil, e em maior proporção entre as mulheres (V Diretrizes, 2006). 2.3 Fatores de riscos cardiovasculares O termo fatores de risco foi proposto pelo estudo de Framinghan (1961), após constatação da existência de múltiplos fatores correlacionados ao desenvolvimento da doença arterial coronariana (Samora & Ferreira, 2005). Os fatores de risco cardiovasculares são traços ou características que estão associados a um maior risco de desenvolver a enfermidade (Brasil M.S., 2006b). As manifestações clínicas das afecções crônicas podem ser assintomáticas, e aparecem geralmente após longa evolução, o que dificulta um diagnóstico clínico precoce. Havendo um consenso de que a correlação entre determinadas doenças e determinados fatores de risco e que uma menor exposição ou remoção desses fatores podem diminuir a incidência de eventos coronários (II Consenso Brasileiro sobre Dislipidemias, 1996). 11 Os fatores de risco podem ser classificados quanto à possibilidade de serem ou não modificáveis através de intervenções na mudança do estilo de vida e/ou utilização de medicamentos. Dentre os fatores de risco para as doenças cardiovasculares, não modificáveis, estão a idade, o sexo e a história familiar. As dislipidemias, a diabetes, a hipertensão arterial, o tabagismo, o sedentarismo, a obesidade e o estresse são fatores modificáveis, enquanto o fibrinogênio, o HDLcolesterol, a homocisteína são considerados fatores parcialmente modificáveis (Silva & Marchi, 1997). Entretanto, segundo Amaganijam & Bertlouni; Dressler & Santos (2000), a doença cardiovascular resulta da interação de diversos fatores bem estabelecidos e considerados de risco como: a predisposição genética, a idade, o sexo, a hipertensão arterial, as dislipidemias, o diabetes mellitus, a obesidade e o padrão andróide de distribuição de gordura, a resistência à insulina e os antecedentes familiares de doenças cardiovasculares; além dos fatores ditos comportamentais, como o estilo de vida sedentário, o tipo de dieta, o tabagismo e o etilismo associados, bem como os determinantes socioeconômicos e culturais do indivíduo. Stuchi & Carvalho (2003) demonstram que a doença coronariana e suas complicações estão associadas a uma variedade de fatores de risco. Os fatores de risco coronariano referem-se às condições capazes de aumentar a suscetibilidade de um indivíduo à morbidade e mortalidade da aterosclerose coronariana e podem ser classificadas em alteráveis (hipertensão arterial, dislipidemia, tabagismo, diabetes, obesidade e sedentarismo); e não alteráveis (idade, sexo, raça e antecedentes familiares da doença coronariana). De acordo com o Ministério da Saúde (2006a), são inúmeros os fatores que podem estar relacionados com as doenças cardiovasculares, dentre eles destacam-se: história familiar de DAC prematura; idade, tabagismo, hipercholesterolemia, hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade, gordura abdominal, sedentarismo, dieta pobre em frutas e vegetais e estresse psicossocial (Brasil MS., 2006b). O conhecimento destes fatores de risco constitui um grande avanço para o desenvolvimento de estratégicas para a prevenção das doenças cardiovasculares (Castro et al.,2004). Segundo Monteiro et al. (2005), o monitoramento dos fatores de risco para doenças crônicas não vem sendo satisfatório, embora seja relevante para o 12 entendimento do perfil epidemiológico da população, sendo o alto custo e a complexidade de realização de inquéritos domiciliares uma das razões para explicar esta situação. O grau de risco cardiovascular estimado para cada indivíduo pode ser classificado em 3 níveis (baixo, moderado e alto) e baseia-se em dados clínicos como idade e sexo; história clinica (antecedentes familiares); pressão arterial, circunferência abdominal, peso, altura, Índice da Massa Corporal - IMC, e exame clínico focalizado em manifestações de aterosclerose (Brasil MS., 2006b). Dentre os fatores de riscos associados a doenças cardiovasculares, podemos citar: 2.3.1 Idade De acordo com o Ministério da Saúde (2006a), há uma maior prevalência de doenças cardiovasculares entre pacientes do sexo masculino, com idade superior a 45 anos e do sexo feminino, com mais de 55 anos de idade (Brasil MS., 2006a). Dados epidemiológicos da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (2004) demonstram que a prevalência de doenças cardiovasculares aumenta com a idade, pelo fato de os indivíduos idosos apresentarem uma combinação tanto do envelhecimento do sistema arterial, como a presença de fatores de risco para doença aterosclerótica. Conforme Tavares (2000), estudos revelam que a probabilidade de um indivíduo de 50 anos, sem exposição a fatores de risco conhecidos, desenvolver um evento coronariano é de 6% em 10 anos; enquanto que em um indivíduo de 60 anos essa probabilidade aumenta para 9%. Na abordagem da DAC deve-se considerar o papel dos esteróides sexuais e a produção estrogênica endógena, que atuam como fator protetor e respondem pelas razões da menor prevalência de coronariopatias no período reprodutivo. Por outro lado, o aumento destes na pós-menopausa, assim como a maior incidência de complicações, acontecerão mais tardiamente, de 7 a 10 anos após a sua diminuição o que resulta em taxas de mortalidade maiores na mulher, em comparação ao homem (Luz & Solimene, 1999). 13 Por essa razão, Murad (2005) afirma que a incidência de doenças cardiovasculares é menor na mulher pré-menopausa, em relação ao homem, mas aumenta com o passar dos anos, chegando a igualar-se após os 65 anos de idade. 2.3.2 Sexo De acordo com a Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (2004), durante os anos reprodutivos a incidência de doenças cardiovasculares no sexo feminino é inferior ao sexo masculino. Entretanto, com a instalação da menopausa e o declínio dos hormônios esteróides, a prevalência de doenças cardiovasculares em mulheres aumenta progressivamente, sugerindo um efeito cardioprotetor do estrogênio. Segundo o III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (1998), após a menopausa há uma diminuição da atividade estrogênica, o que eleva em duas a quatro vezes o risco cardiovascular. A reposição hormonal provavelmente reduz esse risco, exercendo um efeito favorável sobre o perfil lipídico, levando a uma diminuição do LDL-colesterol e um aumento no HDL-colesterol. Mulheres com diabetes do tipo 2, principalmente as pós-menopáusicas, apresentam um risco relativo para doenças cardiovasculares 3,5 vezes maior do que os homens com a mesma patologia. Parece que o efeito protetor cardiovascular do estrógeno no sexo feminino é anulado pelo diabetes (O’brien et al., 1998). Conforme Oliveira (2000), pacientes diabéticos apresentam uma prevalência maior de desenvolverem doenças cardiovasculares, sendo de 4 vezes no sexo feminino e 2,5 vezes no sexo masculino. 2.3.3 História Familiar Para a identificação de indivíduos com alto risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares é necessário verificar a história familiar detalhada do paciente, analisando o grau de parentesco, uma vez que, a presença de doenças cardiovasculares entre familiares de primeiro grau do sexo masculino, com idade inferior 55 anos ou do sexo feminino, com menos de 65 anos são indicativos de risco significativo (Castro et al.,2004; Brasil MS., 2006b). Segundo Moriguchi & Vieira (2000), é de suma importância à avaliação dos fatores de risco cardiovascular, tanto nos parentes de primeiro grau de qualquer paciente que venha manifestar doenças cardiovasculares numa idade precoce, como também em indivíduos saudáveis. O risco de doenças cardiovasculares 14 aumenta à medida que se torna mais próximo o grau de parentesco em relação ao membro da família que apresenta problemas cardiovasculares ou ainda se a percentagem de membros da família afetados por essa doença for elevada. 2.3.4 Dislipidemia Conforme Castro et al. níveis de colesterol (2004), existe uma correlação direta entre os plasmático e triglicerídeos e o aumento de doenças cardiovasculares, sendo que esta depende da concentração das lipoproteínas (LDL e HDL) que transportam o colesterol na corrente sanguínea. Os mecanismos pelos quais as lipoproteínas se relacionam com as doenças cardiovasculares são complexos e envolvem: a formação de células espumosas, a resposta inflamatória, as alterações plaquetárias, as alterações do endotélio e a formação de placas ateroscleróticas (Bertolami, 2000; III Diretrizes, 2001). Segundo o Consenso Brasileiro de Diabetes (2002), a dislipidemia é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares em pacientes com diabetes mellitus, os quais apresentam frequentemente alterações lipídicas, como a hipertrigliceridemia, o HDL-colesterol reduzido e a formação de partículas LDLcolesterol pequenas e densas. As alterações lipídicas são importantes na determinação do desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Uma elevação de 10% no LDLcolesterol está associada a um maior risco cardiovascular de até 20%. E para cada 10% de redução do colesterol plasmático, o risco de mortalidade por doenças cardiovasculares pode ser reduzido em 15% (Castro et al., 2004). Segundo o III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (1998), a dislipidemia é considerada um dos maiores fatores de risco cardiovascular. O nível de colesterol sérico deve ser mantido abaixo de 200 mg/dl, com LDL-colesterol abaixo de 130 mg/dl. Conforme Castro et al. (2004), concentrações plasmáticas de colesterol total abaixo de 180 mg/dl é rara para a ocorrência de doença cardíaca coronariana. A população diabética apresenta um risco aumentado para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, devido à presença de alguns padrões de risco distintos da população em geral, como o perfil de dislipidemia característico, a hipertrigliceridemia, o HDL-colesterol baixo e as alterações 15 qualitativas das lipoproteínas, com aumento do LDL-colesterol, que são aterogênicas (Iochida, 2003). De acordo com Kluthcouski & Porto (1999), a hiperlipidemia favorece o desenvolvimento de doença coronariana por propiciar o acúmulo de lipídio na artéria, em consequência da sua maior concentração no plasma. 2.3.5 Diabetes Conforme Marcondes & Hayashida (2005), a incidência das doenças cardiovasculares é de duas a quatro vezes maior em pacientes diabéticos do que nos não diabéticos. O paciente com diabetes mellitus tipo 2 apresenta risco aumentado para doenças cardiovasculares, devido principalmente à concomitância de obesidade, hipertensão arterial e dislipidemia (Brasil MS., 2006a). Segundo Chaves et al. (2002), o diabetes mellitus têm sido indicado como a principal causa de morbidade e mortes prematuras, estando os idosos mais sujeitos à ocorrência de doenças cardiovasculares. O diabetes mellitus, conforme Iochida (2003), atua como importante fator potencializador e acelerador de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Portanto, o seu tratamento deve buscar a manutenção dos níveis glicêmicos o mais próximo possível da normalidade. A sintomatologia das três grandes manifestações cardiovasculares (doença coronariana, doença cerebrovascular e doença vascular periférica) é, em geral, semelhante à de pacientes não diabéticos. Contudo, alguns pontos devem ser ressaltados: a angina de peito e o infarto do miocárdio podem apresentar-se de forma diferenciada e na caracterização da dor; as manifestações cerebrais de hipoglicemia podem mimetizar ataques isquêmicos transitórios; e a evolução pós infarto é pior nos pacientes diabéticos (Brasil MS., 2006a). Segundo Oliveira et al. (2000), as complicações cardiovasculares são as principais causas de óbitos entre indivíduos com diabetes mellitus tipo 2, sendo 50% relacionadas à doença arterial coronariana e 15% ao acidente vascular cerebral. 2.3.6 Hipertensão arterial A hipertensão arterial tem sido reconhecida como o principal fator de risco para morbidade e mortalidade precoces causadas por doenças 16 cardiovasculares. Níveis elevados de pressão arterial aumentam o risco de doenças vascular cerebral, doenças coronarianas e insuficiência cardíaca congestiva (Conceição et al., 2006). De acordo com a V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2006), a hipertensão arterial é responsável por 40% dos óbitos por acidente vascular cerebral e 25% por doenças coronarianas, sendo que a mortalidade por doença cardiovascular aumenta progressivamente com a elevação da pressão arterial (PA) a partir de 115/75mmHg. A associação da hipertensão arterial com o diabetes é uma situação clínica frequentemente encontrada e requer atenção especial, pois o paciente que apresenta-se com diagnóstico de hipertensão e diabetes possui um risco duas vezes maior de desenvolver eventos cardiovasculares (Gus & Fuchs, 2006). Comumente encontrada em idosos, a hipertensão arterial sistólica caracteriza-se pela elevação da pressão sistólica a níveis iguais ou superiores a 140 mmHg e deriva principalmente da perda de elasticidade e enrijecimento das paredes da aorta (Carvalho Filho et al., 1994). Rosa et al. (2006) indicam uma prevalência de hipertensão em cerca de 70% da população de diabéticos. A coexistência da hipertensão acentua o risco das complicações micro e macrovasculares no diabetes e terá impacto direto na morbimortalidade cardiovascular nesta população. Segundo Brandão et al. (2002), a hipertensão representa não apenas uma enfermidade por si só, mais um importante fator de risco para o aparecimento de outras, como a doença arterial periférica, o acidente vascular cerebral e a insuficiência cardíaca entre os idosos. A mortalidade por doenças cardiovasculares é bem maior entre idosos hipertensos do que entre os normotensos, visto que, a presença de hipertensão arterial aumenta de duas a três vezes o risco de desenvolvimento de insuficiência cardíaca (Freitas, 2003). A elevação da pressão arterial representa, segundo V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2006), um fator de risco independente, linear e contínuo para doença cardiovascular. Quanto maior for a pressão arterial do paciente, maior será o risco de ocorrer infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e acidente vascular encefálico (Guerredo et al., 2005). 17 É indiscutível a relação entre os níveis pressóricos e os eventos cardiovasculares. Na faixa etária de 40 a 70 anos, para cada aumento de 20mmHg na pressão sistólica e de 10mmHg na pressão diastólica dobra o risco cardiovascular (Batista et al., 2003; Guerredo et al., 2005). Entre indivíduos acima dos 50 anos, considera-se a pressão arterial sistólica maior que 140mmHg, um fator de risco de doença cardiovascular mais importante do que o valor da pressão arterial diastólica (Neves et al., 2005). Entretanto, conforme Freitas (2003), a pressão do pulso (diferença entre PA sistólica e PA diastólica) é o melhor índice de risco cardiovascular entre os idosos, sendo que 10mmHg acima do valor normal da pressão de pulso, pressupõe um aumento de 13% na incidência de eventos cardiovasculares e de 20% nos casos de óbitos. A V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2006) recomenda para diabéticos, a redução da pressão arterial para valores inferiores a 130/85 mmHg, e a 125/75 mmHg, se houver proteinúria > 1g/24h (SBH, 2006). O adequado controle da pressão arterial reduz significativamente a morbimortalidade cardiovascular, portanto, informações sobre a sua distribuição na população são de interesse da Saúde Pública (Amado; Arruda, 2004). A terapia antihipertensiva associa-se à redução média do risco de 35% a 40% de acidente vascular cerebral, de 20 a 25% de infarto do miocárdio, e mais de 50% de insuficiência cardíaca (Guerredo et al.,2005). 2.3.7 Tabagismo O tabagismo representa um dos maiores fatores de risco para as doenças cardiovasculares, podendo ser totalmente modificável pelo abandono do hábito de fumar. A interrupção do tabagismo é responsável pela redução de até 65% do risco de eventos cardiovasculares (Souza et al., 2006). De acordo com Kluthcouski & Porto (1999), o fumo duplica a incidência de doenças coronarianas e a cessação do vício, depois de um ano, torna o risco semelhante ao de um indivíduo que nunca fumou. Os efeitos nocivos do cigarro ao sistema cardiovascular são proporcionais ao número de cigarros fumados e à profundidade da inalação (Rosa et al., 2006). 18 Conforme Souza et al. (2006), indivíduos que fumam 20 ou mais cigarros por dia têm de duas a três vezes mais doença coronariana, se comparados a não fumantes. Segundo o III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (1998), o tabagismo é responsável por um em cada seis óbitos, sendo associado ao aumento da prevalência de doenças coronarianas. Indivíduos que fumam mais de uma carteira de cigarros ao dia, têm risco cinco vezes maior de morte súbita do que não fumantes. O ato de fumar aumenta as chances de dano vascular, por induzir a um maior tônus simpático, maior adesividade e reatividade plaquetárias, maior produção de radicais livres, maior dano ao endotélio e por oscilar repentinamente os níveis da pressão arterial (Kluthcouski & Porto,1999). Segundo Stuchi & Carvalho (2003), existem quatro substâncias presentes no cigarro, identificadas e relacionadas aos danos cardiovasculares: o monóxido de carbono, a nicotina, o benzopireno e os radicais livres. A nicotina e o monóxido de carbono são os mais envolvidos no desenvolvimento das doenças coronarianas e suas manifestações. Sendo que o risco relativo do indivíduo desenvolver vezes e está relacionado infarto do miocárdio varia em média 2,8 diretamente ao número de cigarros fumados, independentemente do uso de cigarros pobres em nicotina (Stuchi & Carvalho, 2003). Conforme Stocco & Barreto (2000), os malefícios do fumo sobre o sistema cardiovascular resultam do estímulo adrenérgico, no qual os receptores colinérgicos nicotínicos ativam gânglios autonômicos, promovendo a liberação de noradrenalina e adrenalina da medula supra-renal, provocando taquicardia e hipertensão arterial, além de vasoconstrição periférica, com diminuição da temperatura cutânea e aumento da resistência periférica. 2.3.8 Etilismo O consumo excessivo de álcool é um fator de risco para o acidente vascular cerebral, além de ser uma das causas de resistência à terapêutica antihipertensiva (III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial,1998). De acordo com Castro et al. (2004), apesar dos estudos mostrarem um provável fator protetor do álcool em quantidades moderadas, ainda não bem 19 definidas, é sabido que a ingesta excessiva de álcool está relacionada com o aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, podendo contribuir para a obesidade, aumento dos níveis de triglicerídeos e pressão arterial sistólica, indução de arritmias e infarto agudo do miocárdio. Segundo Murad (2005), o consumo de 10 a 15g de álcool por dia (1 lata de cerveja, 1 cálice de vinho ou 1 dose de vodka, whisky, gim) diminui a incidência de doenças cardiovasculares, pois aumenta o HDL. Os efeitos do consumo de álcool dependem fundamentalmente da quantidade e da regularidade da ingestão, do tipo de bebida utilizada, do estado nutricional do indivíduo, do tabagismo associado à bebida, da suscetibilidade individual e até mesmo de fatores genéticos (Stocco & Barreto, 2000). 2.3.9 Sedentarismo Segundo o Ministério da Saúde (2006a), a prática regular de exercícios físicos é indicada para todos os diabéticos, podendo ocasionar uma melhora no controle metabólico, reduzir a necessidade de hipoglicemiantes orais, auxiliar no emagrecimento dos pacientes obesos e diminuir os riscos de doenças cardiovasculares (Brasil MS., 2006a). A atividade física regular, de acordo com Carvalho Filho et al. (1996), traz inúmeros benefícios, pois combate a obesidade, eleva a sensibilidade à insulina, baixa os níveis pressóricos e melhora o perfil lipídico, além de exercer um efeito positivo para o estresse, a depressão, a insônia, melhorando, portanto, a qualidade de vida dos indivíduos. A prática de exercícios físicos modifica o perfil lipídico, pois proporciona a transformação das lipoproteínas de baixa densidade (LDL), que possui um grande poder de adesão às paredes dos vasos sanguíneos, em alta densidade (HDL), impedindo, portanto, a formação de placas de gordura e posterior formação de obstrução vasculares (Gorinchteyn, 1999). Para os idosos, segundo Matsudo et al. (2001), recomenda-se atividades aeróbicas de baixo impacto, como hidroginástica, dança e caminhada, sendo esta última, a mais importante, pelo fato poder ser realizada em diferentes intensidades, em qualquer local e de envolver grandes grupos musculares. O fortalecimento muscular aumenta a densidade óssea e evita a principal causa de imobilidade e quedas, sendo um treinamento de resistência importante para a execução das 20 atividades da vida diária e que deve ser direcionado a grandes grupos musculares e alongamento muscular para aumentar a flexibilidade corporal. O exercício deve ser iniciado de forma gradual, como caminhadas por 10 minutos em terreno plano, aumentando semanalmente, até alcançar 30 a 60 minutos diários, 5 a 7 dias por semana (Brasil MS., 2006a). 2.3.10 Obesidade O diagnóstico de obesidade é realizado a partir do IMC, sendo o ponto de corte ≥ 30Kg/m² (Brasil MS., 2006b). O excesso de peso aumenta a contratilidade cardíaca, a pressão arterial sistêmica, os níveis de colesterol e triglicerídeos, e diminui a tolerância à glicose, o que leva à maior propensão de desenvolver doenças cardiovasculares (Castro et al., 2004). Segundo Negrão et al. (2000), a obesidade está comumente associada à resistência à insulina, o que pode levar à intolerância à glicose e ao diabetes tipo 2, aumentando consideravelmente o risco de eventos cardiovasculares. A redução de peso com dieta hipocalórica aumenta a tolerância à glicose e a sensibilidade à insulina. Indivíduos com peso acima de 30% do ideal têm uma probabilidade maior de sofrer infarto, do que os que possuem peso normal (Murad, 2005). Como os indivíduos diferem em relação à composição corporal e à localização da gordura, o uso do IMC deve ser associado à medida da distribuição da gordura, como forma de melhor predizer o risco cardiovascular (Castro et al., 2004). A Organização Mundial de Saúde - OMS (1998) recomenda a utilização das medidas antropométricas, como Índice de Massa Corpórea (IMC), Razão Cintura Quadril (RCQ) e Circunferência de Cintura (CC) para a estimação do volume e distribuição de gordura corpórea, a fim de detectar os fatores de risco para as doenças crônico-degenerativas (WHO, 1995). Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2006), a combinação do IMC com a medida da circunferência abdominal (CA) pode estimar o grau de risco do paciente, bem como avaliar longitudinalmente a diminuição de risco cardiovascular, em função da redução destas medidas. 21 Assim, o excesso de gordura na região abdominal tem maior capacidade preditiva que a massa corporal total para infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (Castro et al., 2004). De acordo com a OMS (1998), quando a circunferência da cintura é superior a 94cm nos homens e 80cm nas mulheres, os riscos de complicações metabólicas passam a ser aumentadas e, ainda mais, quando maior que 102cm (homens) e 88cm (mulheres) (Castro et al., 2004). Apesar da obesidade normalmente estar associada a outros fatores de risco, esta por si só, constitui um fator de risco independente para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Contudo, a correlação entre a obesidade e a doença cardiovascular torna-se ainda maior quando há um predomínio de tecido adiposo na região do abdômen, denominada de obesidade do tipo andróide (Samora & Ferreira, 2005). Geralmente a tendência a uma maior proporção de gordura abdominal, chamado padrão andróide, ocorre predominantemente nos homens. As mulheres por sua vez, tendem ao acúmulo de gordura na região glútea, denominado padrão ginecóide de distribuição de gordura corporal (Castro et al., 2004). Portanto, como a distribuição abdominal está associada a um maior risco cardiovascular, além da meta de IMC inferior a 25kg/m², preconiza-se que a circunferência da cintura seja inferior a 88 cm, para as mulheres, e inferior a 102 cm, para os homens (PlavniK & Júnior, 2002). 2.3.11 Dieta Conforme Castro et al. (2004), estudos têm evidenciado a relação entre as características qualitativas e quantitativas da dieta e a ocorrência de doenças cardiovasculares. A frequência de consumo alimentar pode ser um método de escolha para avaliar a qualidade da dieta e seu efeito potencial nos níveis séricos de colesterol total e lipoproteínas de baixa densidade (Castro et al., 2004). Uma dieta dita inadequada, caracterizada por um alto consumo de gorduras saturadas e baixo teor de fibras, está diretamente relacionada ao risco de desenvolver doenças cardiovasculares. A chamada dieta “ocidental”, de maneira detalhada, é caracterizada por uma alta ingestão de carnes vermelhas, produtos 22 lácteos integrais, bebidas adocicadas, açúcares e sobremesas, com redução do consumo de frutas, verduras e legumes (Molena-Fernandes et al., 2005). Apesar do baixo consumo de gordura está associado a níveis mais baixos de colesterol e, consequentemente, menor incidência de cardiopatias coronarianas, deve-se ressaltar que o tipo de gordura presente na dieta é mais importante que a quantidade de gordura ingerida (Castro et al., 2004). Santos (1998) enfatiza que a ingestão de gorduras do tipo saturadas está fortemente correlacionada com o nível de colesterol, e este com a incidência de infarto do miocárdio. Para Guyton (2000), uma dieta com alto teor em gorduras, principalmente aquelas contendo colesterol e gorduras saturadas, aumenta a probabilidade de desenvolvimento da aterosclerose, que leva a lesões da parede arterial. Por isso, a diminuição da ingestão de gorduras auxilia bastante a proteger contra a aterosclerose, bem como pode beneficiar até pacientes que já sofreram crises coronarianas. 23 3 OBJETIVOS 3.1 Geral ♦ Verificar os fatores de riscos relacionados às doenças cardiovasculares em idosos com diabetes mellitus tipo 2, atendidos por uma equipe de PSF do município de Iracema-Ce. 3.2 Específicos ♦ Descrever o perfil socioeconômico e demográfico da população de idosos diabéticos assistidos por uma equipe de PSF do município de Iracema-Ce; ♦ Conhecer as características comportamentais da população estudada; ♦ Caracterizar a população do estudo em relação aos antecedentes familiares e às variáveis clínicas e bioquímicas. 24 4 METODOLOGIA 4.1 Tipo de estudo Trata-se de um estudo descritivo e transversal, com abordagem quantitativa. O modelo de investigação utilizado baseia-se na análise dos resultados obtidos sem intervenção nas variáveis estudadas. 4.2 Local de estudo O estudo foi desenvolvido no Centro de Saúde Francisco Pinheiro de Sousa, situado à rua Elpídio José de Queiroz, no bairro Centro, pertencente ao município de Iracema -Ce, onde funciona o Programa Saúde da Família - PSF, da equipe “A”. O atendimento dos pacientes do PSF da equipe “A” é destinado a todos indivíduos pertencentes à área Sede I (Bairro da Paz, Centro e Caixa D’água) e compreende o atendimento no Centro de Saúde Francisco Pinheiro de Sousa e visitas domiciliares periódicas e programadas. O município de Iracema situa-se na região do médio Jaguaribe do Estado do Ceará, e conta com uma população estimada, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2006), de 13.345 habitantes, destes, 4.604 pessoas fazem parte da população rural e 7.818 da população urbana. Apresenta 13,74% de sua população total de indivíduos idosos, o que equivale a 1.834 habitantes. 4.3 Período do estudo O estudo foi realizado no período de maio a junho de 2007. 4.4 População do estudo A população total de famílias cadastradas na área da equipe “A”, segundo a Secretaria de Saúde do Município (2006), é de 1480, o que corresponde a 3.758 25 indivíduos, dentre os quais, 572 apresentam-se com idade igual ou superior a 60 anos. Destes, 248 (43,4 %) são do sexo masculino e 324 (56,6%) do sexo feminino. Segundo dados do Sistema de Informação de Atenção Básica - SIAB (2006), na área “A” existem 80 pacientes cadastrados no Programa de Atendimento ao Diabético, destes, 25 (31,3%) são do sexo masculino e 55 (68,7%) do sexo feminino. A partir dos dados apresentados, identificou-se como amostra do estudo, 65 idosos que participam do Programa de Atendimento ao Diabético, sob responsabilidade da equipe do PSF e que obedeceram aos critérios estabelecidos para inclusão na pesquisa: • Compareceram à consulta médica no Centro de Saúde Francisco Pinheiro de Sousa, no período de maio a junho de 2007; • Possuem idade igual ou superior a 60 anos, de ambos os sexos; • Pacientes diabéticos do tipo 2, cadastrados ou diagnosticados no prontuário; • Pacientes que concordaram em participar da pesquisa. 4.5 Desenvolvimento do estudo A partir da identificação dos indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 foi elaborado e aplicado um questionário estruturado, contendo informações sobre os possíveis fatores de risco correlacionados a doenças cardiovasculares: • Variáveis socioeconômicas e demográficas (sexo, idade, cor/raça, escolaridade, estado civil e renda familiar); • Variáveis relacionadas ao estilo de vida (tipo de dieta, atividade física, tabagismo e etilismo); • Variáveis relacionadas aos antecedentes familiares (doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia). • Variáveis relacionadas aos dados clínicos e exames laboratoriais (IMC, padrão de distribuição de gordura corporal, pressão arterial sistólica e diastólica, colesterol total e frações, glicemia em jejum plasmática e capilar). O referido instrumento foi aplicado pelo pesquisador durante consulta médica no Centro de Saúde Francisco Pinheiro de Sousa, onde os pacientes foram 26 entrevistados face a face, para obtenção dos dados, após expresso consentimento em participar da pesquisa. Os dados das medições de pressão arterial, peso e altura foram coletados do prontuário do paciente, na ficha de pré-consulta de enfermagem, no dia da consulta médica, sendo estes aferidos pela auxiliar de enfermagem, segundo técnicas padronizadas: • Pressão arterial: a medida foi coletada utilizando-se de um esfigmomanômetro calibrado tipo aneróide, com o paciente na posição sentada e confortável, após repouso de pelo menos cinco minutos e com o braço posicionado na altura do coração, conforme recomendado na V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2006); • Peso e altura: foram obtidos com o paciente descalço, com roupas leves, pés paralelos e tornozelos unidos, utilizando-se uma balança antropométrica regulada periodicamente, sendo que a medição da altura foi realizada com o indivíduo de costa para o antropômetro. Mediante os dados peso e altura, o pesquisador pode calcular o IMC através da divisão entre o peso (quilogramas) pela altura (metros) ao quadrado e definida pela fórmula: IMC = peso (Kg) / altura2 (m). E posteriormente classificou o estado nutricional da população pesquisada, utilizando os pontos de cortes recomendados pela OMS e mostrados na tabela 1. Tabela 1 Classificação do estado nutricional de acordo o Índice de Massa Corporal (IMC). Classificação Magreza ou baixo peso Normal Pré-obeso ou sobrepeso Obeso grau I Obeso grau II Obeso grau III IMC (Kg/m2) < 18,5 18,5 a 24,9 25,0 a 29,9 30,0 a 34,9 35,0 a 39,9 ≥ 40,0 Fonte: World Health Organization,1998. E, através da aferição da pressão arterial do paciente, tornou-se possível detectar a presença de hipertensão arterial e sua posterior classificação, segundo a V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2006), demonstrados na tabela 2. 27 Tabela 2 Classificação e diagnóstico da pressão arterial. Classificação Ótima ou ideal Normal Limítrofe Hipertensão estágio I (leve) Hipertensão estágio II (moderada) Hipertensão estágio III (grave) Sistólica isolada PAS (mmHg) <120 < 130 130-139 140-159 160-179 ≥ 180 ≥ 140 PAD (mmHg) < 80 < 85 85-89 90-99 100-109 ≥ 110 > 90 Fonte: V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2006). Com relação à medida da circunferência abdominal, a mesma foi executada pela enfermeira do PSF, sendo coletada pelo pesquisador através da análise de registros dos prontuários. Estas medidas foram executadas estando o indivíduo em posição ortostática, com fita métrica padrão, não elástica, de 150 cm de comprimento. Para aferição da circunferência abdominal (CA) a fita foi colocada ao redor dos pontos determinados, entre as costelas e a crista ilíaca. Os pontos de corte adotados para (CA) foram preconizados de acordo com o grau de risco para as doenças cardiovasculares: risco aumentado para as mulheres (CA > 80 cm) e para homens (CA > 94 cm) e risco muito aumentado para mulheres (CA > 88 cm) e para homens (CA > 102), segundo a OMS/1998. As análises bioquímicas (dosagem de glicemia plasmática em jejum, colesterol total, triglicerídeos, HDL-colesterol, LDL-colesterol) foram obtidas através do registro em prontuário, sendo os pacientes anteriormente esclarecidos da necessidade de um jejum de 12 horas antes da realização da coleta de sangue, para haver validação dos resultados obtidos. Estes exames são realizados periodicamente por todos os pacientes cadastrados no Programa de Diabetes, sendo também realizado a cada consulta médica, a dosagem de glicemia capilar, para o acompanhamento da resposta ao tratamento recomendado. A aferição da glicemia capilar em jejum, sob responsabilidade da enfermeira do PSF, foi obtida através da utilização de glicosímetro da marca Accu-Chek-Active e tiras reativas e, posteriormente, registrada em prontuário, do qual o pesquisador pode obter estas medições. 4.6 Processamento e análise dos dados 28 Os dados coletados pelo pesquisador mediante a aplicação do questionário com os pacientes e pelo exame clínico e consulta aos prontuários foram contabilizados em apuração manual e analisados, um a um, utilizando-se de freqüência relativa e percentual. Os resultados foram apresentados por meio de tabelas e gráficos, sendo que os achados do pesquisador foram comparados com as evidências descritas na literatura sobre o tema estudado. 29 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES A pesquisa foi realizada com 65 idosos, diagnosticados como diabéticos do tipo 2 e cadastrados no Programa de Atendimento ao Diabético, sob responsabilidade da equipe “A” do PSF. Destes, 42 (64,6%) são do sexo feminino e 23 (35,4%) do sexo masculino. A idade da população estudada variou de 60 a 87 anos, sendo a média de idade de 69,5 anos. Verificou-se que mais da metade dos idosos (55,3%) estavam na faixa etária de 60 a 69, 21 (32,4%) de 70 a 79 anos e apenas 8 (12,3%) com idade igual ou superior a 80 anos, não havendo diferenciação entre os sexos na faixa etária predominante. A distribuição da amostra analisada segundo sexo e faixa etária é apresentada na figura 1. Figura 1 - Distribuição dos idosos diabéticos do tipo 2 pesquisados, segundo faixa etária e sexo, Iracema-Ce (2007). 55 ,3 % Distribuição dos idosos diabéticos do tipo 2 segundo faixa etária e sexo 60,0% 32 60 a 69 ,5 26 % ,2 % 33 40,0% 70 a 79 12 7% 6% 7, 2% >= 80 4, 10,0% 6, 20,0% ,3 % 21 30,0% ,4 ,8 % % 50,0% 0,0% Masculino Feminino Total Fonte: Pesquisa direta (Iracema - CE / maio a junho - 2007). O maior percentual da amostra composto de pacientes do sexo feminino pode ser justificado pela procura maior das mulheres ao serviço de saúde, dada à maior preocupação por parte desta com sua saúde (Goldenberg, 2003). Além do que, o crescente aumento da expectativa de vida não é um fenômeno uniforme entre 30 os sexos, sendo mais significativo no sexo feminino do que no masculino (Silvestre, 1996). De acordo com Silva & Lima (2002), o diabetes mellitus tipo 2 apresenta uma maior incidência, alcançando entre 90 e 95% dos casos, acometendo geralmente indivíduos de meia idade ou em idade avançada, podendo a hiperglicemia estar presente por vários anos, anteriormente ao seu diagnóstico. A Tabela 3 mostra os resultados obtidos para as características demográficas e sócioeconômicas da amostra. Tabela 3 - Distribuição dos idosos diabéticos do tipo 2, segundo características sócioeconômicas, demográficas e sexo. Iracema-CE (maio a junho 2007). Variáveis sócioeconômicas e demográficas Cor/raça Branca Parda Negra Sexo Total Masculino N° % Feminino N° % N° % 11 4 8 16,9 6,2 12,3 24 9 9 37,0 13,8 13,8 35 13 17 53,9 20,0 26,1 Estado Civil Casado (a) Solteiro (a) Separado (a) Viúvo (a) 12 1 3 7 18,5 1,5 4,6 10,8 20 4 9 9 30,8 6,2 13,8 13,8 32 5 12 16 49,3 7,7 18,4 24,6 Escolaridade Analfabeto Ensino Fundamental incomp. Ensino Fundamental comp. 9 11 3 13,9 16,9 4,6 17 21 4 26,2 32,3 6,1 26 32 7 40,1 49,2 10,7 Renda Familiar Até 1 salário mínimo De 1 a 2 salários mínimos De 2 a 4 salários mínimos 12 9 2 18,5 13,8 3,1 25 15 2 38,5 23,0 3,1 37 24 4 57,0 36,8 6,2 Ocupação Inativo Ativo 10 13 15,4 20,0 29 13 44,6 20,0 39 26 60,0 40,0 31 Predominaram neste estudo, em ambos os sexos, os pacientes de raça branca (53,9%), sendo que as raças negra e parda apresentaram-se com 26,1% e 20,0%, respectivamente. Diferentemente do esperado, já que estudos mostram que a prevalência de diabetes tipo 2 é maior entre negros do que entre indivíduos da raça branca, contudo as razões destas diferenças raciais ainda não estão bem estabelecidas (Brito et al., 2001). Os resultados sobre o estado civil dos indivíduos estudados apontam que 49,3% dos idosos eram casados, 29,6% viúvos, 18,4% separados e apenas 7,7% solteiros. Em relação ao grau de instrução, os dados mostram que 40,1% eram analfabetos e 49,2% não completaram o ensino fundamental, portanto, apresentaram uma baixa escolaridade. De acordo com o DATASUS, no ano de 2005, a taxa de analfabetismo no Brasil era de 11,39%, já os indivíduos que estudaram menos de quatro anos corresponderam a 24,42% da população brasileira. É importante salientar que, no Brasil, a maior concentração de pessoas encontra-se na faixa dos que estudaram oito anos, o que não corresponde ao que foi encontrado na população estudada. Este fato pode ser explicado pela localização da Unidade de Saúde da Família em uma cidade do interior do Ceará, que possui baixo nível socioeconômico, além da elevada média de idade da amostra. Segundo Almeida et al.(2002) o aumento da prevalência das doenças crônicas é inversamente proporcional ao aumento da escolaridade. A baixa escolaridade pode dificultar o atendimento, por parte do paciente, das orientações terapêuticas, médicas e de saúde, assim como a assimilação de novos hábitos para uma melhor qualidade de vida (Modeneze, 2004). Cerca de 57% dos indivíduos tinham renda familiar per capita de até um salário mínimo mensal, 36,8% possuíam renda de 1 a 2 salários mínimos e 6,2% de 2 a 4 salários mínimos. A baixa renda mensal encontrada na amostra está provavelmente associada ao baixo nível de escolaridade e ao tipo de ocupação para a obtenção de renda. Além disto, foi encontrado um grande número de aposentados e donas de casa, e os que exerciam alguma atividade de trabalho remunerado estavam ligados 32 a ocupações que tradicionalmente geram baixos salários, corroborando com a baixa média de renda salarial encontrada entre os participantes da pesquisa. A análise dos resultados sobre ocupação mostrou que houve predominância dos indivíduos inativos (60%) em relação à (40%) de ativos. Dentre os idosos ativos, 20% eram do sexo masculino e 20% do sexo feminino, ressaltando-se que o elevado percentual entre as mulheres deve-se à ocupação ligada à agricultura. Portanto, observou-se como ocupação citada pelos pesquisados do sexo feminino, 30,8% agricultura, 6,1% ensino e 3,1% comércio. Com relação ao sexo masculino, 17% tinham como ocupação a agricultura e apenas 1,5% referiram comércio e, no mesmo percentual, carpintaria. A Tabela 4 mostra as características do estilo de vida e hábitos da população em estudo. Tabela 4 - Distribuição dos idosos diabéticos do tipo 2, segundo características do estilo de vida e sexo. Iracema-CE (maio a junho – 2007). Variáveis comportamentais Sexo Total Masculino N° % Feminino N° % N° % Dieta Adequada Inadequada 12 11 18,5 16,9 22 20 33,8 30,8 34 31 52,3 47,7 Atividade física Pratica Não pratica 9 14 13,9 21,5 33 9 50,7 13,9 42 23 64,6 35,4 Tabagismo Fumante Não fumante Ex-fumante 13 2 8 20,0 3,1 12,3 8 27 7 12,3 41,5 10,8 21 29 15 32,3 44,6 23,1 Etilismo Bebe Nunca bebeu Abandonou 10 7 6 15,3 10,8 9,3 16 26 0 24,6 40,0 0,0 26 33 6 39,9 50,8 9,3 Em relação à dieta, a maioria referiu consumir dietas adequadas (52,3%), de acordo com os hábitos alimentares saudáveis sugeridos por orientação dietética. Um menor percentual referiu consumir dietas inadequadas (47,7%), fato este 33 esperado, já que trata-se de pacientes que vêm sendo orientados sobre a importância da alimentação, pelos profissionais da saúde. Segundo Sartorelli & Franco (2003), considera-se adequada uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos integrais e pobres em gordura saturadas. A prevalência da obesidade e, consequentemente, do diabetes associa-se a uma dieta moderna e inadequada, caracterizada por um elevado consumo de gordura saturada e baixo teor de fibras (Molena-Fernandes et al., 2005). Assim, uma mudança nos hábitos alimentares, com a diminuição de gordura saturada e açúcares e o aumento da ingestão de fibras pode exercer uma forte influência na prevenção da obesidade e da diabetes (Molena- Fernandes et al., 2005). No que se refere à prática regular de atividade física, verificou-se que 64,6% dos pesquisados praticavam exercícios físicos, enquanto que 35,4% relataram ser sedentários. Dentre o percentual de idosos que relataram não praticar atividade física com regularidade constatou-se uma maior proporção no sexo masculino (21,5%) em relação ao feminino (13,9%), contudo a frequência de atividade entre os homens é na sua maioria inferior ao recomendado, o que não ocorre entre as mulheres, que praticam pelo menos três vezes por semana. Conforme Kopiler (1997), a atividade física faz parte do tratamento não medicamentoso de doenças crônicas, como diabetes mellitus e tem demonstrando ser bastante útil na melhora do controle e evolução desta doença. As recomendações para a realização de atividades físicas, independente da doença associada, são a prática de atividades físicas aeróbicas, ao menos três vezes por semana, com duração de pelo menos 30 minutos. A prática de atividade física regular melhora o metabolismo da glicose e do perfil lipídico, bem como reduz a pressão arterial do paciente, proporcionando uma diminuição no risco de doenças cardiovasculares (OPAS, 2003). Em relação ao tabagismo, predominaram os indivíduos não fumantes (44,6%), sendo o percentual de fumantes (32,3%) e ex-fumantes (23,1%). No sexo masculino, 20% eram fumantes, 12,3% ex-fumantes e apenas 3,1% não fumantes. Já no sexo feminino, a grande maioria (41,5%) era não fumantes. Portanto, o hábito do tabagismo mostrou associação significativa com o sexo, apresentando-se um maior percentual de não fumantes entre o sexo feminino. 34 Conforme Stuchi & Carvalho (2003), o risco relativo de desenvolver infarto no miocárdio está diretamente associado ao número de cigarros consumidos por dia. Portanto, o risco de doenças cardiovasculares é duas a quatro vezes maior quando o indivíduo fuma 20 ou mais cigarros por dia (Murad, 2005). Quanto ao etilismo, a maioria (50,8%) não possuía este hábito, enquanto 39,9% referiram serem etilistas e 9,3% abandonaram o consumo de bebida alcoólica após o diagnóstico de diabetes mellitus. Verificou-se uma associação significativa com o sexo feminino, onde um maior percentual de não etilistas eram deste sexo. Conforme Castro et al (2004), a ingestão excessiva de bebida alcoólica está diretamente relacionada ao aumento dos fatores de risco coronariano, pois contribui para o aumenta dos níveis de triglicerídeos, elevação da pressão arterial sistólica e indução de arritmias e infarto agudo do miocárdio. A Tabela 5 mostra os resultados da distribuição percentual de antecedentes familiares para doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia. Tabela 5 - Distribuição dos idosos diabéticos do tipo 2 segundo variáveis de história familiar e sexo. Iracema-CE (maio a junho - 2007). Variáveis de história familiar Sexo Total Masculino N° % Feminino N° % N° % Doenças cardiovasculares Presente Ausente 9 14 13,8 21,6 17 25 26,2 38,4 26 39 40,0 60,0 Diabetes Presente Ausente 19 4 29,2 6,2 40 2 61,5 3,1 59 6 90,7 9,3 Hipertensão arterial Presente Ausente 14 9 13,8 21,6 24 18 36,9 27,7 38 27 50,7 49,3 Dislipidemia Presente Ausente 7 16 10,8 24,6 18 24 27,7 36,9 25 40 38,5 61,5 35 A análise destes dados mostra a influência dos fatores hereditários na gênese dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, como a hipertensão e a diabetes. Pode-se, portanto, constatar percentual significativo de pacientes com antecedentes familiares de diabetes e hipertensão arterial, sendo estes pacientes com respectivamente de, 90,7% e 50,7%. Tratando-se de uma amostra exclusivamente de diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2, já era esperado a elevada incidência de história familiar de diabetes. Conforme descreve Shimoda et al (1996), a anamnese familiar é de suma importância para investigar a possível existência de outros indivíduos acometidos com a patologia, assim como o grau de parentesco com o afetado. Segundo Ortiz & Zanetti (2001), indivíduos com familiares de primeiro grau portadores de diabetes mellitus tipo 2 apresentam de duas a seis vezes maior risco de vir a desenvolver diabetes, do que pacientes sem histórico familiar. A Tabela 6 mostra a distribuição dos pacientes segundo o índice de massa corporal, na qual observa-se que a população em estudo apresentou, 18,5% de sobrepeso, 36,9% possuíam obesidade e 44,6% estavam com IMC normal. Tabela 6 - Distribuição dos idosos diabéticos do tipo 2 segundo índice de massa corporal (IMC) e sexo. Iracema-CE (maio a junho – 2007). Estado nutricional (IMC) Normal Sobrepeso Obeso grau I Obeso grau II Obeso grau III Obesidade mórbida Sexo Masculino N° % 13 20,0 2 3,1 4 6,2 2 3,1 1 1,5 1 1,5 Feminino N° % 16 24,6 10 15,4 11 17,0 3 4,6 1 1,5 1 1,5 Total N° % 29 12 15 5 2 2 44,6 18,5 23,2 7,7 3,0 3,0 Dentre os paciente com obesidade: 23,2% apresentavam grau I, 7,7% grau II, 3% grau III e 3% obesidade mórbida. No sexo masculino, 20% apresentava IMC normal e apenas 12,4% estavam com excesso de peso. Já no sexo feminino houve a predominância de 40% 36 entre pacientes com IMC classificado como sobrepeso ou obesidade, e somente 24,6% normal. Conforme Sartorelli & Franco (2003), estima-se que entre 80 e 90% de indivíduos acometidos pela diabetes mellitus tipo 2 apresentam-se com obesidade e/ou sobrepeso. Desta maneira, observa-se que o risco de desenvolver diabetes mellitus está diretamente associado ao aumento do índice de massa corporal. Uma vez que a obesidade e o diabetes são fatores de risco independentes para o desenvolvimento da doença coronariana, a sua associação aumenta consideravelmente o risco cardiovascular do indivíduo (Negrão et al., 2000). Na figura 2 observa-se os valores da circunferência abdominal dos idosos, que mostrou um predomínio de 63,1% de indivíduos ditos inadequados, ou seja, que apresentaram valores > 102cm para homens e > 88cm para mulheres. Ao se comparar os resultados de ambos os sexos, verificou-se que as mulheres apresentaram 52,3% de obesidade a nível central, e entre os homens o percentual foi de apenas 10,8%. Figura 2 - Distribuição dos idosos diabéticos do tipo 2 pesquisados, segundo circunferência e sexo, Iracema-Ce (2007). 52 ,3 % 70,0% 36 ,9 % 60,0% Inadequada 12 ,3 % 20,0% Adequada 10 ,8 % 30,0% 24 ,6 % 50,0% 40,0% 63 ,1 % Distribuição dos idosos diabéticos do tipo 2 segundo circunferência abdominal e sexo 10,0% 0,0% Masculino Feminino Total Fonte: Pesquisa direta (Iracema - CE / maio a junho - 2007). *Adequada: ≤ 102 cm homens e ≤ 88 cm mulheres *Inadequada: > 102 cm homens e > 88 cm mulheres De acordo com Castro et al. (2004), o uso do IMC deve ser associado à medida da distribuição de gordura, como forma de melhor predizer o risco de desenvolvimento de morbidades crônicas. Deste modo, o excesso de gordura na 37 região abdominal tem maior capacidade preditiva que a massa corporal total para o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral. Segundo Hermsdorff (2004), o aumento de tecido adiposo visceral, subcutâneo abdominal ou mesmo o acúmulo de gordura intramuscular podem estar associados ao prejuízo no metabolismo de lipídios e carboidratos e aos processos que favorecem a aterosclerose, a resistência à insulina, a diabetes mellitus tipo 2, a hipertensão arterial e a dislipidemia. Portanto, são os elos entre as complicações inerentes a obesidade, a síndrome metabólica e as doenças cardiovasculares. A Tabela 7 mostra a distribuição dos pacientes conforme as variáveis clínicas e bioquímicas, na qual verifica-se que, 41 (63,1%) idosos diabéticos do tipo 2 apresentaram pressão arterial sistólica ≥ 130mmHg e 33 (50,8%) pressão arterial diastólica ≥ 85mmHg. Tabela 7 - Distribuição dos idosos diabéticos do tipo 2 segundo variáveis clínicas e bioquímicas por sexo. Iracema-CE (maio a junho - 2007). Variáveis clínicas e bioquímicas Sexo Total Masculino N° % Feminino N° % N° % P. A. sistólica < 130 mmHg ≥ 130 mmHg 11 12 16,9 18,5 13 29 20,0 44,6 24 41 36,9 63,1 P. A. diastólica < 85 mmHg ≥ 85 mmHg 10 13 15,4 20,0 22 20 33,8 30,8 32 33 49,2 50,8 Colesterol total < 200 mg/dl ≥ 200 mg/dl 6 17 9,2 26,2 12 30 18,5 46,1 18 47 27,7 72,3 Triglicerídeos < 150 mg/dl ≥ 150 mg/dl 0 23 0,0 35,4 4 38 6,2 58,4 4 61 6,2 93,8 Glicemia em jejum (plasmática) < 126 mg/dl ≥ 126 mg/dl 2 21 3,1 32,3 5 37 7,7 56,9 7 58 10,8 89,2 Faria et al (2002), ressaltam que a ocorrência de associação entre diabetes e hipertensão multiplica o risco de eventos cardiovasculares e da incidência de mortalidade por problemas cardíacos. 38 Conforme Coelho et al (2005), a elevação de pressão sistólica entre idosos contribui significativamente para o risco de complicações cardiovasculares atribuídas à hipertensão arterial. Em relação aos níveis de colesterol, 47 pesquisados (72,3%) possuíam hipercolesterolemia e 18 (27,7%) apresentavam valores normais para colesterol total sérico. Segundo o Ministério da Saúde (2006), indivíduos com diabetes tipo 2 têm uma prevalência aumentada de alterações lipídicas, que contribui para a elevação do risco de doenças cardiovasculares (Brasil MS., 2006a) O papel das dislipidemias está bem documentado na literatura como um dos mais importantes fatores de risco para aterosclerose (Rabelo & Martinez, 1998) A população em estudo apresentou um percentual de 93,8% com hipertrigliceridemia, sendo que apenas 6,2% apresentaram valores abaixo de 150mg/dl. Devendo-se ressaltar que dentre os idosos do sexo masculino a hipertrigliceridemia encontrava-se presente em toda esta parcela da população. No que se refere à dosagem de glicemia plasmática em jejum, 58 (89,2%) pacientes apresentaram valores ≥ 126mg/dl, o que demonstra a necessidade de um controle mais rigoroso da glicemia do paciente mediante, o uso de hipoglicemiantes orais e reforço na orientação dietética prescrita. 6 CONCLUSÃO 39 A análise dos resultados obtidos permitiu concluir que: Quanto às características sóciodemográficas da população estudada, observou-se que a maioria encontrava-se na faixa etária de 60 a 69 anos, do sexo feminino, de etnia branca, casados, inativos, com baixa escolaridade e baixa renda mensal familiar “per capita”; Em relação às variáveis relacionadas ao estilo de vida, predominaram os indivíduos que relataram dieta adequada, praticantes de atividade física regular, não-fumantes e não etilistas; Dentre os antecedentes familiares, constatou-se que a diabetes mellitus e a hipertensão arterial foram às morbidades mais frequentes; A análise das variáveis antropométricas apontou um elevado percentual de pacientes com excesso de peso (sobrepeso/obesidade) com um padrão de distribuição de gordura a nível central, principalmente entre as mulheres da população estudada, conferindo-lhes um maior risco de doenças cardiovasculares; Quanto à análise das variáveis clínicas e bioquímicas observou- se a existência de diversos fatores de risco cardiovascular, dentre eles: a elevação dos níveis de pressão arterial sistólica e diastólica, de colesterol total, de triglicerídeos e de glicemia plasmática em jejum; Com relação a frequência de fatores de risco cardiovascular, na amostra em estudo, verificou-se a existência de fatores comuns a ambos os sexos, tais como: hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, elevados níveis de glicemia plasmática em jejum, pressão arterial sistólica elevada e antecedentes familiares para diabetes mellitus. Constatou-se também existir predominância de fatores específicos a determinado gênero da amostra em estudo. No sexo masculino observou-se, o sedentarismo, o tabagismo, o etilismo e a pressão diastólica 40 elevada. Já no sexo feminino verificou-se antecedentes familiares de hipertensão arterial e o excesso de peso com padrão de distribuição a nível central. 41 7 RECOMENDAÇÕES Mediante análise dos resultados do presente estudo recomenda-se: Para a prevenção e tratamento da diabetes mellitus tipo 2 faz-se necessária a intervenção multidisciplinar que contemple práticas educativas para conscientizar a população a respeito da importância da mudança do estilo de vida, com adoção de dieta adequada e atividade física regular; O fato da amostra em estudo possuir baixa escolaridade implica na necessidade do profissional de saúde utilizar-se de uma linguagem mais clara e acessível para favorecer a compreensão, por parte do paciente, da terapêutica recomendada e assegurar adequada adesão ao tratamento; Deve ser meta dos profissionais de saúde a identificação precoce e abordagem adequada dos fatores de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares. Entre as medidas preventivas, pode-se destacar a adoção de hábitos alimentares saudáveis, combate ao sedentarismo e o abandono do tabagismo; Considerando a tendência crescente do sobrepeso e obesidade na população brasileira e sua associação com os fatores de risco cardiovascular, reforçado neste estudo, intervenções visando reduzir o peso corporal, em especial a gordura abdominal, são de extrema importância para prevenção e controle das doenças cardiovasculares. 42 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M. F. Prevalência de doenças crônicas auto-referidas e utilização de serviços de saúde, PNAD/1998, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 7, n. 4, p. 743756, 2002. AMADO, T. C. F. & ARRUDA, I. K. G. Hipertensão arterial no idoso e fatores de risco associados. Revista Brasileira de Nutrição Clinica, v. 19, n. 2, p. 94-99, 2004. ARMAGANIJAN D & BERTLOUNI M. Impacto dos Fatores de Risco Tradicionais. Revista da Sociedade Cardiológica. São Paulo 2000, v.10, p.686-691. BATISTA, M. 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Escolaridade: Analfabeto ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) 5. Ocupação: Inativos ( ) Ativos ( ) Qual? ______________ 6. Renda familiar: Até 1 SM ( ) De 1 a 2 SM ( ) De 2 a 4 SM ( ) C) Variáveis relacionadas ao estilo de vida: 1. Dieta: Açúcar ( ) Adoçante ( ) Frituras ( ) Carnes vermelhas ( ) Massas ( ) Folhas verdes ( ) Legumes ( ) Fibras ( ) Carboidrato em geral ( 2. ) Atividade física regular : Pratica ( ) Não pratica ( ) Se sim, com que frequência? ( ) 2x/semana ( ) 3x/semana ( ) Mais de 3x/semana 3. Tabagismo: Fumante ( ) Não-fumante ( ) Ex-fumante ( ) 4. Alcoolismo: Consome bebidas alcoólicas ( ) Nunca consumiu ( ) ( ) Abandonou o consumo D) Variáveis relacionadas aos antecedentes familiares: 1. Doenças cardiovasculares: Presente ( ) Ausente ( ) 2. Hipertensão arterial: Presente ( ) Ausente ( ) 3. Dislipidemia: Presente ( ) Ausente ( ) 4. Diabetes: Presente ( ) Ausente ( ) E) Variáveis relacionadas aos referentes dados clÍnicos e bioquímicos: 1. Peso : ______ Altura: _______ Índice de massa corpora (IMC): _______ 2. Circunferência abdominal ________ 3. Colesterol total: __________________ Triglicerídeos:____________ 4. Glicemia em jejum: capilar _____________ plasmática _____________ Pressão arterial: _________________