interessa-lhe saber Medicina futuro p O que aproxima e separa a medicina integrativa da medicina alternativa? B e m-esta r Saú de do A ideia de unir os avanços da medicina ocidental aos benefícios de algumas terapias alternativas, técnicas da psicologia e descobertas da nutrição reúne cada vez mais adeptos entre a comunidade científica. A chamada medicina integrativa, que nasceu nos EUA na década de 90, é hoje lecionada em quase metade das mais prestigiadas faculdades de medicina norte-americana e, há dois anos, foi criada a European Society of Integrative Medicine, contou-nos Cristina Sales, médica. Há seis anos, esta especialista em medicina geral conjugou, de forma pioneira, a abordagem terapêutica da medicina integrativa com o método de diagnóstico da medicina funcional, que, em busca das causas das doenças crónicas, não se satisfaz «com a eliminação pontual dos sintomas». emagrecer a l i m e n ta ç ã o Medicina integrativa não é medicina alternativa. E não é a inclusão de terapias complementares na prática médica. Na definição do Consortium of Academic Health Centers for Integrative Medicine - USA, é a prática médica que reitera a importância da relação entre médico e doente, dando ênfase à pessoa no seu todo, baseada na evidência científica e utilizando todas as abordagens terapêuticas, dos profissionais de cuidados de saúde e das disciplinas adequadas à obtenção de um estado de saúde e de tratamento ótimos. Em forma Beleza p E qual o objetivo da 42 medicina funcional? Entrevista a// Dra. Cristina Sales, médica especialista em medicina geral e familiar e diretora da clínica Cristina Sales - Medicina Funcional Integrativa Por// Nazaré Tocha PreveniR junho 2012 saiba mais www.cristinasales.pt Cientificamente fundamentada, procura entender os desequilíbrios dos mecanismos biológicos, bioquímicos, imunológicos, toxicológicos, nutricionais, metabólicos, neuro endócrinos, músculoesqueléticos e emocionais que estão subjacentes aos sintomas recorrentes que caracterizam as patologias crónicas e tenta corrigi-los tão amplamente quanto possível para que os sintomas diminuam de intensidade e frequência ou desapareçam. p A integração da medicina funcional e da medicina integrativa é um método criado em Portugal... Juntamos as duas metodologias, o que nos permite aumentar a eficácia e melhorar os resultados clínicos. Embora, há seis anos, quando adotámos esta metodologia e designação tivesse sido absolutamente original, agora já podemos ver nos EUA algumas equipas que seguem este caminho. p A abordagem da medicina funcional integrativa é mais eficaz do que a da medicina “clássica”? A medicina funcional integrativa alicerça-se na medicina “clássica” mas representa uma evolução na forma de olhar e interpretar o processo da doença crónica ou recorrente. Integra múltiplos recursos e técnicas terapêuticas em relação aos quais existe evidência científica sobre a sua mais-valia junho 2012 PreveniR 43 interessa-lhe saber na sua aplicação na intervenção médica. Alguns autores dizem que a medicina integrativa de agora é a boa pratica médica do futuro. Tome nota Na medicina funcional integrativa o doente é incentivado a participar nas decisões terapêuticas a l i m e n ta ç ã o B e m-esta r Saú de p Em que casos se recomenda o recurso à medicina funcional integrativa? Especialmente nos casos dos doentes crónicos. Quando não é possível uma total recuperação, o objetivo é um compromisso entre o melhor bem-estar e a maximização dos efeitos terapêuticos com o minimizar dos efeitos secundários indesejáveis de alguns tratamentos. p Há outros casos em que esteja indicada? Pessoas com várias doenças recorrentes ou que, embora não apresentem critérios necessários para o estabelecimento de diagnóstico de doença, não se sentem bem, referem múltiplos sintomas dispersos e se sentem muito abaixo do seu potencial físico e mental. p O que pode estar na origem destes casos? Podem ser reflexo de discretas disfunções neuro-hormonais, metabólicas e nutricionais. A abordagem diagnóstica da medicina funcional permite evidenciar estas disfunções e os recursos terapêuticos da medicina integrativa possibilita a sua recuperação. p Quais as terapêuticas complementares utilizadas? Acupuntura, osteopatia, terapêutica ortomolecular, homeopatia, homotoxicologia, fitoterapia e varias técnicas eletromagnéticas derivadas da acupuntura. Mas também recorremos muito a nutrição e psicologia. p Envolve também abordagens terapêuticas que trabalham a relação mente-corpo… Este é um campo muito vasto mas, em linhas gerais, recorremos também à psicoterapia, psicologia positiva, relaxamento, mindfulness, meditação, yoga, pilates e estimulação de uma rede de relações sociais satisfatórias. p Esta medicina é útil na prevenção de doenças? Sim. Por exemplo, as doenças degenerativas são precedidas de anos ou décadas de alterações funcionais minor, com agravamento progressivo, que não são habitualmente valorizadas. O stress oxidativo, a desnutrição em elementos nutricionais essenciais e a intoxicação por xenobióticos e metais pesados e a inflamação silenciosa sistémica são comuns nas pessoas com doenças degenerativas neurológicas. O tratamento precoce destas disfunções metabólicas poderia evitar ou retardar o aparecimento da doença degenerativa neurológica. p Que cuidados deve ter quem procura uma consulta de medicina funcional integrativa? Deve estar atento ao curriculum e formação dos médicos, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas/osteopatas. Estas medicinas são uma evolução do conhecimento base nuclear de cada um dos profissionais que deve ter a mais sólida formação de acordo com a sua profissão, atestado pelos seus cursos de licenciatura – medicina, nutrição, psicologia, fisioterapia – e pela sua formação específica de medicina funcional ou em alguma das terapêuticas que se incluem na medicina integrativa. p Em forma Beleza emagrecer Alicerces da (sua) saúde 44 8 equilíbrios biológicos, segundo a medicina funcional, cuja alteração está na origem de doenças crónicas 1 Vigilância imunológica Se o sistema imunitário não funcionar corretamente, por inibição ou por estar exageradamente ativado, a saúde é afetada. Doenças autoimunes e alérgicas são exemplos de patologias relacionadas com a vigilância imunológica que a medicina funcional ajuda a resolver. PreveniR junho 2012 2 Digestão Se os alimentos não forem bem digeridos não serão devidamente absorvidos e o organismo não terá “matéria” para funcionar de forma eficaz. Aprender a combinar os alimentos facilita o aproveitamento dos nutrientes. 3 Absorção e Integridade de barreira No intestino existe uma “rede” de malha muito fina que permite a passagem dos nutrientes para o sangue. Se estiver muito larga ou danificada, eles não são absorvidos corretamente, podendo afetar o equilíbrio do sistema imunitário. 4 Homeodinâmica oxidativa/ redutora O stress oxidativo resulta do equilíbrio entre a produção/ingestão de antioxidantes e a produção de radicais livres no organismo. Em grande escala, contribui para o envelhecimento dos órgãos e, em caso de diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, doenças alérgicas e autoimunes, deve ser vigiado. 5 Processo inflamatório A inflamação crónica é responsável pela maior parte das doenças atuais, mas só quando já há sintomas é que são notórias as suas consequências. A avaliação dos tipos de gorduras (ómega 3 e ómega 6) que o organismo contém pode ajudar a detetar a inflamação, nomeadamente em doenças como asma, psoríase, artrite reumatoide, doença cardiovasculares ou obesidade. 6 Desintoxicação e biotransformação Estes processos dão-se no fígado e no intestino e são responsáveis pela transformação de “tóxicos” em “não tóxicos” para que possam ser excretados. Muitos sintomas, sem aparente explicação, têm origem no excesso de carga tóxica ou mau funcionamento das vias de desintoxicação. A suplementação e ajustes alimentares são usados para reequilibrar o organismo. 7 Regulação hormonal e de neurotransmissores Se as hormonas e os neurotransmissores, que transmitem informação entre os diversos órgãos e entre o exterior e o interior, não estiverem a funcionar devidamente o bem-estar é posto em causa. Por exemplo, o stress crónico condiciona o aumento de adrenalina e cortisol o que, a longo prazo, tem consequências graves. 8 Equilíbrio psicológico e espiritual As crenças, forma de ver a vida e o equilíbrio psicológico devem ser tidos em conta em todos os processos terapêuticos. O desencadear de um desequilíbrio biológico pode ter início em situações emocionais. Psicoterapia, mindfullness, meditação, ioga, relaxamento são técnicas indispensáveis no processo de reequilíbrio de diversas patologias Fonte: Adaptado de dados fornecidos por Cristina Sales, médica especialista em medicina geral junho 2012 PreveniR 45