Informati Informativo Digital - Nº5 – Maio/2014 HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO O hipotireoidismo congênito (HC) é o distúrbio endócrino congênito mais frequente. No Brasil, a prevalência do HC varia de 1:2595 a 1:4795. A prevalência é variável entre os grupos étnicos. Crianças com Síndrome de Down têm um risco 35 vezes maior para apresentar o HC que a população geral. CAUSAS A causa mais frequente de HC permanente resulta de defeitos na formação glandular durante a embriogênese, denominados disgenesias tireoidianas (ectopia – localização fora do leito tireoidiano, agenesia – ausência da glândula e hipoplasia – glândula pouco desenvolvida), e representam 85% dos casos. Outras etiologias de HC permanente são os defeitos da produção hormonal, denominados disormonogênese, e representam cerca de 15% dos casos. São defeitos autossômicos recessivos e incluem mutações que codificam o transportador de iodo-sódio (NIS), a tireoperoxidase (TPO), a geração de peróxido de hidrogênio, a tireoglobulina e iodotirosina deiodinase. Causas incomuns incluem defeitos no transporte do hormônio tireoidiano (HT), a resistência à ação do HT (Síndrome de Resistência ao Hormônio Tireoidiano), a resistência ao TSH e o hipotireoidismo central. O hipotireoidismo central decorre da deficiência isolada de TSH ou, mais comumente, do hipopituitarismo resultando na deficiência de diversos hormônios da adeno-hipófise. A resistência ao hormônio liberador de tireotrofina (TRH). A resistência ao TSH é definida quando as concentrações séricas de TSH são elevadas na ausência de bócio. Indivíduos afetados têm glândula normal ou hipoplásica e valores séricos de T4 e T3 normais ou baixos. Defeitos no transporte de HT causados por mutações no gene MTC-8, fazem com que o transporte de T3 fique prejudicado, levando ao retardo mental. A síndrome é caracterizada por concentrações séricas elevadas de T3, baixas de T4 e elevadas de TSH. O HC PODE SER TRANSITÓRIO O hipotireoidismo neonatal pode ser permanente ou transitório. Recomenda-se reavaliação após os 3 anos de idade com a suspensão da levotiroxina (LT4) nas crianças em tratamento, que não apresentem etiologia estabelecida. TRIAGEM NEONATAL O objetivo principal é evitar sequelas, principalmente o retardo mental secundário ao hipotireoidismo, o que pode ser conseguido com início da terapêutica adequada nas duas primeiras semanas de vida. A sensibilidade dos testes de triagem neonatal para HC é elevada, o que a torna eficaz para rastrear a doença, sendo recomendada para o rastreamento do HC. A idade recomendada para coleta do RN para triagem neonatal é após 48 horas de vida até o quarto dia ou antes que o RN deixe o hospital nas altas precoces e sempre antes de transfusões sanguíneas. Existem diferentes estratégias para a triagem do HC. No Brasil, a triagem neonatal para HC é realizada pela dosagem de TSH em papel-filtro, seguida de T4 total e/ou livre no soro, quando necessária. Esta estratégia é eficaz e adotada em outros países. Os testes de triagem não são diagnósticos e resultados alterados devem ser confirmados por métodos quantitativos de rotina para as dosagens séricas de TSH, T4 total ou livre. IDENTIFICAÇÃO DA ETIOLOGIA DO HC Exames complementares são utilizados para estudar a etiologia do HC, mas nunca devem postergar o início do tratamento. A ultrassonografia cervical (US) seria o principal exame inicial, uma vez localizada a glândula, seriam descartadas a agenesia e a ectopia. O mapeamento com 99mTc está indicado quando a US não detecta a glândula ectópica. A cintilografia pode ser realizada com pertecnetato de tecnésio (99mTc) ou iodo (123I), em vez do 131I, devido à menor radiação. A dosagem da tireoglobulina apresenta sobreposição entre as diferentes causas de HC. Se não é visualizado tecido tireoidiano ao US e há tireoglobulina e T4 mensuráveis, algum tecido funcional está presente. A dosagens de anticorpos antitireoidianos (TPO, TRAb) podem ser úteis para justificar a presença de TSH elevado em filhos de mães com tireoidite de Hashimoto (hipotireoidismo transitório), assim como em filhos de mães com doença de Graves. A iodúria poderá confirmar a falta ou excesso de ido em casos suspeitos. TRATAMENTO O início do tratamento deve ser o mais precoce possível, preferencialmente nas duas primeiras semanas de vida. A idade de início do tratamento, a dose de LT4 e o monitoramento do tratamento são essenciais para o desenvolvimento cerebral do paciente com HC. É recomendada a dose de 10-15mcg/kg/dia. A meta do tratamento é assegurar à criança o crescimento adequado e o desenvolvimento psicomotor mais próximo do possível do seu potencial genético. Cuidado deve se ter para evitar tratamento excessivo por período prolongado, pois pode levar a craniossinostose e alterações no temperamento da criança. Assessoria Científica Lab Rede Bibliografia Maciel LMZ et al. Hipotireoidismo congênito: recomendações do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57(3):184-92