BRUXISMO : Um Mal Silencioso A origem do termo bruxismo data de 1907, quando foi utilizado por Marie & Pietkiewicz com o la bruxomanie (bruxomania, em português) – derivado da palavra grega brychein que significa triturar ou ranger os dentes, com a terminação mania, cujo significado é compulsão. Devido a esse último significado, a palavra foi depois rebatizada como bruxismo. Para falar sobre o tema, a reportagem da revista Sala de Espera foi ouvir os profissionais CROMF, especializado em reabilitação oral. Na verdade, o termo bruxismo é associado a qualquer pessoa que range os dentes. Mas isso não é específico e causa muita confusão. Segundo o cirurgião dentista Marcelo Fontes Teixeira , especialista em Dor Orofacial e Disfunção Temporomandibular, especialista em Periodontia , mestrando em Implantodontia , Professor dos cursos de especialização em Implantodontia da ABO /RJ e UVA /RJ e Coordenador do curso de atualização em implantodontia do CEPO / VR “acredita-se que todas as pessoas rangem os dentes em alguma etapa de sua vida. Então, o bruxismo seria aquele ranger repetitivo, estereotipado dos dentes, normalmente do mesmo jeito, da mesma forma”. Ranger os dentes é um dos movimentos de buxismo e é classificado como excêntrico, enquanto o tipo cêntrico refere-se a apertar ou bater de forma centrada os dentes. De acordo com o Dr. Marcelo, o excêntrico causa desgaste dos dentes e aumento do volume. Já o cêntrico não provoca desgaste dos dentes. “Ultimamente tem-se considerado um terceiro tipo, com movimento descoordenado, farmacologicamente induzido por diversas causas, principalmente por antidepressivos ou outras drogas. Ocorre durante o sono”, diz Dr. Marcelo. O Fisioterapeuta ( Pós - Graduado em Disfunção Temporomandibular ) e Cirurgião – Dentista ( Pós - Graduando em Periodontia ), Dr. Fernando Fontes Teixeira, enfatiza que “bruxismo é todo contato que ocorre fora da função. O contato só deve ocorrer na mastigação e na deglutição vazia (engolir saliva). Qualquer contato fora disso é parafuncional e é caracterizado como bruxismo”. O bruxismo cêntrico, bem como o excêntrico “asseguram uma grande força de contato entre as superfícies oclusais dos dentes superiores e inferiores”, afirma a Drª Ângela Onofre Fontes, especialista em Ortodontia . Ela explica que “o ranger dos dentes envolve movimentos da mandíbula e produz sons indesejáveis que freqüentemente acordam o companheiro. O apertamento dental, por outro lado, envolve o contato dental com força, silencioso, contínuo e desacompanhado dos movimentos mandibulares”. Sua ocorrência, de acordo com a Drª Ângela, é classificada nas seguintes formas de manifestação: - Primária ou idiopática - sem causas médicas ou dentais pregressas. - Secundária - associada a uma condição médica e/ou psicológica préexistente. Iatrogênica – decorrente de tratamentos prévios concluídos ou em andamento. TIPOS - Existem dois tipos de bruxismo, o que ocorre à noite, hoje chamado de bruxismo do sono; e outro durante o dia, referido como bruxismo acordado. “A atividade cerebral, a produção de hormônios e atividade muscular são diferentes. Então, o bruxismo diurno é diferente do bruxismo noturno. O diurno parece estar mais relacionado ao estresse, à tensão muscular e também à hábitos parafuncionais, os vícios. Geralmente, o paciente com bruxismo diurno tem mais do que um vícios relacionado à musculatura”, esclarece Dr. Marcelo Fontes. TRANSIÇÃO – De tempos em tempos, uma série de teorias surge para trazer luz às questões, mas a maioria delas vai, uma a uma, sendo descartada pelas pesquisas e pelos estudos realizados. Agora, porém, há bastante expectativa, pois o tema bruxismo está passando por um momento de transição: do total desconhecimento para o conhecimento parcial. Segundo Dr. Marcelo, “embora seja possível que as pessoas em geral movimentem sua mandíbula durante o sono, as com bruxismo do sono têm algum padrão diferente que faz com que elas ranjam os dentes mais freqüentemente, e isso ainda não foi identificado exatamente. Possivelmente, em breve, tenhamos boas respostas sobre o bruxismo em si. Talvez até tenhamos tratamento para o próprio bruxismo, e não apenas para suas seqüelas odontológicas, como ocorre atualmente”. DIAGNÓSTICO – Segundo os especialistas do CROMF, “teoricamente todos os indivíduos executam algum bruxismo, sendo que em aproximadamente 5% da população essa parafunção promove danos”. E para se chegar a um diagnóstico, não basta o relato do paciente. Nem todos que dizem ranger os dentes realmente rangem e nem todos que afirmam não ranger os dentes não rangem. Diante dessa constatação, o professor Marcelo Fontes destaca alguns parâmetros para se chegar a um diagnóstico clínico mais seguro, que são: - Se possível, o relato do ranger de dentes freqüentemente vindo de um companheiro que durma assiduamente com o paciente. - Constatação de alguns sinais associados à parafunção, como: desgastes uniformes dos dentes; relato do paciente quanto à fadiga muscular facial e dor facial ou de cabeça matutina; ou relato do paciente dizendo que acorda durante a noite com os dentes travados, com a boca apertada freqüentemente. Na dúvida, a confirmação do problema poderá ser definida pela polissonografia (exame que monitora uma noite de nosso do paciente}, que consegue confirmar de forma relativamente segura o bruxismo do sono. “O bruxismo pode adquirir um caráter extremante destrutivo e é fundamenta diagnosticá-lo o quanto antes”, destaca Dr. Marcelo, salientando ainda que é necessário diagnosticar ainda se o paciente tem bruxismo cêntrico ou excêntrico até mesmo para se poder selecionar o tipo do material a ser utilizado em processos restauradores que envolvam próteses, unitárias ou amplas, quando necessário. Para o Dr. Marcelo, no entanto, não existe contra-indicação formal de qualquer material restaurador para o paciente com bruxismo, desde que vantagens e desvantagens sejam discutidas com o paciente. Enquanto o bruxismo em si ainda é uma incógnita, suas conseqüências são relativamente claras. Dependendo da intensidade do brusimo, - há o desgaste dos dentes ao longo dos anos. Outras complicações tradicionais são dores de natureza variada, como dor nos próprios dentes; dor facial ou dor de cabeça – sempre matutina e que passa após algumas horas -, normalmente associada a cansaço ou fadiga do maxilar, dependendo da atividade noturna. TRATAMENTO – Nos dias de hoje, o cirurgião-dentista só consegue mesmo tratar as conseqüências do bruxismo. O tratamento, principalmente em adultos, é a indicação das placas de acrílico noturnas ou estabilizadas quando há desgaste de dentes e dores faciais e de cabeça. “A literatura e a experiência clínica mostram que as placas miorrelaxantes são ainda eficazes em alguns casos do bruxismo do sono, mas elas não reduzem ou acabam com o bruxismo em si”, pontua Marcelo Fontes. Para o professor, o papel do cirurgião-dentista é, além de tratar as conseqüências do bruxismo, pincipalmente, prevenir que o sistema estomatognático continue sendo lesado. “Nossa intervenção evita o desgaste dos dentes, protege a ATM e modula a ação da musculatura. Quanto antes foi feito o diagnóstico, mas efetivo é o tratamento”. Ele ressalta a necessidade da freqüente avaliação da placa usada pelo paciente com bruxismo, pois “o acrílico se desgasta 20 vezes mais do que o dente e, dependendo da intensidade e freqüência do bruxismo, as guias, que foram projetadas para promover desoclusão e equilíbrio ortopédico, são perdidas e a placa assume um forte potencial iatrogênico”. PESQUISAS ATUAIS - São muitas as pesquisas que estão neste momento, investigando o bruxismo. Mas, enquanto o tratamento é limitado aos efeitos, o profissional da Odontologia não deve substimar o problema. ”Não se deve confundir ausência de sinal e/ou sintoma com não ter de tratar.O fato de o bruxismo ser freqüente não significa ser normal. Mão se pode confundir freqüência com normalidade”, complementa o Dr. Marcelo Fontes. Quando um paciente com bruxismo chega ao consultório tem ânsia de saber duas coisas: primeiro, o que é esse termo que parece ter relação com bruxaria; e, segundo, quais suas seqüelas e complicações.O dentista, por enquanto, sabe responder a ambas as questões, mas consegue apenas tratar as seqüelas e complicações. Agora, a expectativa dos profissionais é de, no futuro, poder tanto ter respostas mais cientificamente embasadas quanto ter um tratamento efetivo para o bruxismo em si. E, assim, sair da escuridão. Segundo o professor Marcelo Fontes, a ciência ainda não descobriu a etiologia do bruxismo. Existem especulações sobre a multifatorialidade e o dentista deve recorrer a outros profissionais para resolver o problema do paciente.