A Extensão Rural no Brasil e as Questões de

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GRUPO DE TRABALHO 7
RURALIDADES E MEIO AMBIENTE
A EXTENSÃO RURAL NO BRASIL E AS QUESTÕES
DE GÊNERO:
CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO
SOCIAL
Sibele Vasconcelos de Oliveira
2
A EXTENSÃO RURAL NO BRASIL E AS QUESTÕES DE GÊNERO:
CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Sibele Vasconcelos de Oliveira1
Resumo
Iniciada em 1948, a Extensão Rural no Brasil tem um passado balizado pela perspectiva de
desenvolvimento exógena e por práticas difusionistas. Percebe-se a preocupação, entre 1940-1960,
em instituir o mundo social dos agricultores via percepções distintas de trabalho, a saber, lavoura
para homens e trabalho doméstico feminino. Posteriormente, surge a política de formação de
agricultores norteada por fundamentos de desigualdades sociais, os quais frisavam diferenças de
papéis e relações entre agricultores (as), extensionistas rural e doméstica. Contudo, a partir de 1980,
com o direcionamento político em prol do desenvolvimento local, passa-se a priorizar a
participação dos sujeitos na formulação e destinação de políticas públicas. Destarte, a presente
pesquisa visa analisar o processo de incorporação das questões de gênero nas políticas brasileiras de
Extensão Rural, identificando formas de aliciação junto às populações. Para tanto, analisou-se a
empresa Emater-RS, que atua como instrumento do Governo Rio Grande do Sul para ação
operacional e planejamento no setor agrícola estadual. Assumindo relevante papel social, a empresa
busca minimização das desigualdades de gênero. Através da realização de estudos sobre a situação
das agricultoras, evidenciou-se que fatores como divisão do trabalho por sexo, geração e herança da
terra explicam o subdesenvolvimento social de algumas regiões. Neste sentido, os programas da
Emater-RS procuram superar tais dificuldades, fomentando o processo de inclusão social-produtiva
com fins ao combate da pobreza e ao desenvolvimento local. Ressaltam-se ainda as iniciativas de
mobilizações femininas rurais que explicitam estratégias de valorização dos saberes e respeito às
diferenças culturais.
Palavras-chave: Agricultura; Gênero; Extensão Rural.
Abstract
Begun in 1948, the Rural Extension in Brazil has a history marked by the prospect of exogenous’s
development and dissemination practices. Find the concern between 1940-1960, to establish the
social world of farmers by different perceptions of work, namely farming for men and women's
domestic work. Subsequently, it is the policy of training for farmers guided by reasons of social
inequalities, which highlighted differences in roles and relationships between farmers, rural and
domestic extension. However, from 1980, with the political direction for the local development, is
to prioritize the participation of subjects in the formulation and allocation of public policies. Thus,
this research aims to analyze the process of incorporation of gender issues in policies of Brazilian
Rural Extension, identifying ways of seduction with the people. For both analyzes the company
Emater-RS, which acts as an instrument of Rio Grande do Sul government for action and
operational planning in the state agricultural sector. Assuming relevant social role, the company
seeks mitigation of gender inequalities. Through studies on the situation of farmers, showed that
factors such as division of labor by gender, generation and inheritance of land explain social
underdevelopment of some regions. In this sense, the programs of Emater-RS seeking overcome
such difficulties, the process of promoting social inclusion-productive to the purpose of combating
poverty and local development. Stress is also the initiatives of rural women's movements that
explicit strategies for enhancement of knowledge and respect for cultural differences.
1
Especialista em Finanças, UNIFRA; Bacharel em Ciências Econômicas, UFSM; Mestranda em Extensão Rural,
UFSM Graduanda em Matemática, UFSM. E-mail: [email protected].
3
Key-Words: Agriculture; Gender; Rural Extension.
1.
Introdução
A interação social entre homens e mulheres, as relações entre classes e raças, permeiam as
práticas sociais e as formas organizacionais desta. No contexto das questões de gênero, o apoio ao
desenvolvimento rural na concepção de desenvolvimento local sustentável passa pelo
reconhecimento do protagonismo das mulheres (LIMA, 2006).
Para Nobre (2003) abordar as relações de gênero e suas incoerências leva-nos ao
requerimento de que se tornem visíveis as experiências femininas, como geradoras de renda e
participação política, assim como considerar a forma como as mulheres organizam o trabalho, a
gestão, como articulam a vida profissional e doméstica. As referências são positivas e contribuem
para que sejam valorizadas as iniciativas que levam em conta as relações sociais sob o ponto de
vista de gênero (LIMA, 2006).
De fato, as mulheres desempenham função importante para atender as necessidades de suas
famílias. No entanto, somente a partir dos anos 1980, que suas ações começaram a ser reconhecidas
por meio de conquistas e obtenções de direitos (MENASCHE, 1999).
Considerando o contexto rural, esta realidade não é diferente. Em especial, destaca-se a
divisão social do trabalho, realizada por gênero2. A mulher tem a função de atender as necessidades
da família, além cuidar dos afazeres domésticos, ocupa-se também com atividades de cunho
agrícola, como citado em Heredia et al. (1984, p. 30-31):
[...] Se o lugar do homem é o roçado, o lugar da mulher, mãe de família, é a casa.
[...] A casa não se restringe ao espaço físico ocupado pela construção; ela inclui
também o terreiro (pátio) que a rodeia, local onde vive a criação (aves de quintal),
cabras e porcos. [...] As atividades que esses animais exigem são também, como a
casa, de responsabilidade feminina e não reconhecidas como trabalho (HEREDIA et
al.,1984, p. 30-31).
A partir destas observações, destaca-se o papel da mulher como agente propulsora do
desenvolvimento local. Este é entendido por Navarro (2001) como uma ação previamente articulada
que induz mudanças em um determinado ambiente, ações estas que buscam ao longo do tempo
promover o bem estar das populações rurais.
Com base no levantamento de dados e revisão bibliográfica, a presente pesquisa visa
analisar o processo de incorporação das questões de gênero nas políticas brasileiras de Extensão
Rural, identificando formas de aliciação junto às populações. Para tanto, durante o ano de 2009,
analisou-se as atividades da empresa Emater-RS, que atua como instrumento do Governo Rio
Grande do Sul para ação operacional e planejamento no setor agrícola estadual.
2
O conceito de gênero é entendido aqui como a relação hierárquica entre mulheres e homens.
4
2.
Algumas considerações sobre a Associação Riograndense de Empreendimentos de
Assistência Técnica De Extensão Rural – EMATER/RS
Fundada no dia 2 de junho de 1955, a Associação Sulina de Crédito de Assistência Rural
(ASCAR) se consolida como representante natural do serviço oficial de extensão rural do Estado
através da trajetória edificada pela tenacidade de profissionais que buscam ações que possibilitem a
melhor e mais atuante performance das políticas públicas do Governo do Rio Grande do Sul.
Com a missão de promover ações de assistência técnica e social, de extensão rural,
classificação e certificação, cooperando no desenvolvimento rural sustentável, no decorrer desse
tempo vem incorporando novos valores e conceitos exigidos pelo agronegócio, atividade crucial
para o comportamento positivo da economia nacional (EMATER/RS, 2009).
Os principais assistidos pela Instituição são os agricultores familiares, quilombolas,
pescadores artesanais, indígenas, assentados, formando contingente superior a 250 mil famílias de
assistidos com áreas em mais de 480 municípios. Em mais de 9.550 comunidades rurais dessas
comunidades há a atuação transversal do Serviço de Extensão Rural, restaurada pelas parecerias
com as prefeituras municipais e sociedade (EMATER/RS, 2009).
Atualmente, aproximadamente 2.000 empregados prestam assistência técnica e extensão
rural. Aliados aos recursos humanos, a Instituição mantém grande estrutura de capacitação rural
com a responsabilidade em orientar o uso de tecnologias nas mais diversas áreas, quer na área de
saneamento básico ou ambiental, quer para melhorar o desempenho de lavouras (EMATER/RS,
2009).
As tarefas do quadro funcional incluem a capacitação dos agricultores e jovens rurais
e a identificação de saneamento básico como instrumento de saúde pública, ações
que promovem proteção à saúde das populações e à preservação do meio ambiente.
A agenda diária coloca em prática um conjunto de ações educativas e concretas que
resultam no abastecimento de água para consumo humano, na disposição adequada
dos esgotos domésticos e dos resíduos sólidos das propriedades rurais, e iniciativas
que asseguram a segurança alimentar dos públicos assistidos, entendida
principalmente como a produção de alimentos na propriedade (EMATER, 2009).
Atua no meio rural por meio do repasse de conhecimentos e experiências via a média de oito
eventos diários que promove diariamente no estado gaúcho ou por meio de programas em rádios e
tevês e publicações. Além disso, busca a promoção do desenvolvimento sustentável na perspectiva
da cidadania sem desconsiderar a necessidade de resgate da auto-estima da população. E entende
que é na conquista do respeito próprio e no resgate da auto-estima que homens, mulheres, jovens,
idosos e crianças do meio rural descobrem possibilidades coletivas de trabalho permanente por uma
vida melhor, mais solidária e fraterna.
5
3.
Questões de gênero: a mulher e seu papel frente ao meio rural
A mulher rural exerce funções essenciais na sociedade. Estimativas da Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) demonstram que a mulher representa mais
da metade da mão-de-obra necessária para produzir os alimentos consumidos no mundo em
desenvolvimento.
As africanas realizam cerca de 90% do trabalho relacionado aos cultivos alimentares,
fornecimento de água e lenha para a família. Na Ásia e na América Latina, as mulheres e os homens
também trabalham juntos, além de cultivarem parcelas separadas na propriedade familiar. A mulher
latina desempenha função importante na agricultura familiar, contribuindo na colheita, pós-colheita
e comercialização (IFPRI, 1995).
A partir desta realidade, o entendimento do conceito de gênero permite a visualização do
papel desempenhado pela mulher diante da comunidade e demonstra a relação entre a produção e a
reprodução, o mundo do trabalho e o mundo da família, além de avaliar os diferentes efeitos que
estes fatos provocam na vida de homens e mulheres (RME, 1996).
O fato das mulheres trabalhadoras desenvolverem atividades em duas esferas
simultâneas - a doméstica e produtiva – de forma mais intensa que o homem, faz
com que ela se tornem mais versátil, com mais alternativas de realização da sua
identidade como mulher, que não se identifica com a de ser produtivo. Sua
capacidade de autopercepção como força de trabalho e de percepção do seu marido e
dos companheiros as conduz ao momento da critica e da busca de superação da
exploração, através da busca de seus direitos, de maneira mais forte e persistente do
que os homens trabalhadores (NORONHA, 1986, p. 22)
Percebe-se que a mulher firma relações para além das do espaço produtivo, seus sonhos e
objetivo de vida estão para além disso; se alargam por suas experiências e pelas representações que
constroem acerca de si e do mundo, (SILVA, HAERTER e GERMANO, 2008). Desta forma, a
mulher rural, pelo conhecimento que desenvolve da lida na lavoura, galga espaços na definição dos
nortes da propriedade, até mesmo de seus parceiros e muitas administram suas terras sozinhas.
Observa-se que a desigualdade entre gêneros não se alicerça somente na não visualização
social do trabalho feminino, ou em seu distanciamento do processo produtivo, mas também nos
valores ideológicos que abarcam uma sociedade patriarcal (PASTORE, POLESE e PASTORE,
2006).
Desta forma, o tradicionalismo da sociedade rural, procedente dos valores patriarcais,
intrínsecos às famílias e culturas rurais, é o principal determinante das desigualdades das relações
de gênero neste meio. Observa-se que há elevada relação entre divisão social do trabalho e as
relações de gênero. Fato este que remete a uma discussão sobre a importância do papel atribuído à
mulher, como mãe e esposa “responsabilizada” pelas atividades domésticas, em contraposição a
6
idéia de “ajudante” nas atividades produtivas, a qual é compreendida como extensão das atividades
domésticas (PASTORE, POLESE e PASTORE, 2006).
Ainda que tenhamos uma estrutura patriarcal e uma diferenciação clara acerca dos
papéis sociais assumidos por cada um, a mulher consegue construir formas
heterogêneas de lidar com isso e não pode ser vista apenas como a explorada ou a
dominada, como é tão comum em produções que ao longo do tempo vêm discutindo
gênero e campo (SILVA, HAERTER e GERMANO, 2008, p. 4-5).
Mesmo desempenhando múltiplas funções, o trabalho feminino geralmente é desvalorizado
social e economicamente. Tal realidade se ratifica não somente na agricultura, porém em outros
setores da economia como ressalta Arriagada (1991), ao afirmar que trabalhar para familiares de
forma gratuita e por conta própria acontece especialmente no Brasil e em outros países da América
Latina.
Para Di Sabbato e Melo (2006) a invisibilidade do trabalho feminino fica evidenciada na
produção para o autoconsumo que ocupa grande contingente de mulheres, cerca de 40,7% do total
da ocupação feminina e apenas 8,9% de homens.
No ano de 2004, do total de pessoas que se dedica a esta produção 68% são mulheres. O não
reconhecimento do trabalho da mulher, principalmente na produção para o autoconsumo, tem como
base o modelo de família patriarcal que tradicionalmente tem na figura masculina o chefe e o
provedor da família (DI SABBATO e MELO, 2006).
Na fala das mulheres fica evidente todo peso de uma sociedade machista e que
valoriza a figura do homem em detrimento da sua. Isso qualquer conversa
informal dá conta de mostrar. Muitas mulheres reconhecem que não se divorciam,
por exemplo, por uma relação de subordinação econômica (SILVA, HAERTER e
GERMANO, 2008, p. 4-5).
A negação da mulher na condição de agricultora é um fato histórico que tem excluído ou
limitado sua participação na esfera agrícola. Embora esta seja a realidade da mulher agricultora,
mudanças neste sentido podem ser identificadas pelo trabalho desenvolvido durante décadas
(MELO, 2003, p. 3).
Em estudo realizado com agricultores, no Vale do Taquari (RS), Menache et al. (2008)
ressaltam que, nas famílias analisadas, as mulheres são as principais responsáveis pela produção e
obtenção de alimentos para subsistência. Mesmo passando por modificações tecnológicas, as
práticas alimentares femininas conservam especificidades locais que estão relacionadas a diversas
expressões de sociabilidade, como a movimentação de alimentos e a realização de festas
comunitárias, que, carregadas de símbolos, atualizam o modo de vida e garantem a segurança
alimentar.
7
Dá-se destaque ao papel da mulher como propulsora do desenvolvimento local, este
entendido como algo não estático e capaz de conciliar o desenvolvimento social e econômico
estável e equilibrado, através de elementos de distribuição de riquezas, geração da inclusão social e
respeito à fragilidade e a interdependência dos ecossistemas (CRUZ, SCHENINI e SILVA, 2006).
Assim, a mulher por estar envolvida na produção dos alimentos, na segurança nutricional da
família e na contribuição econômica a estes alimentos, está, consequentemente, incorporando o
desenvolvimento em suas práticas diárias.
A alimentação e a nutrição na sociedade estão predominantemente sobre o
acompanhamento e responsabilidade das mulheres, evidenciando a relevância do
papel desempenhado por elas na promoção da segurança alimentar. Portanto, fazse necessário que elas, como agentes do desenvolvimento social, sejam ouvidas e
tenham participação acentuada na tomada de decisões estratégicas no que tange às
políticas em prol da saúde da família (OLIVEIRA e DALCIN, 2008, p. 6).
Assim, abarcando as várias dimensões do desenvolvimento local, as mulheres rurais
desempenham atividades fundamentais para o alcance deste. Além do aspecto meramente
econômico, o novo paradigma de desenvolvimento local articula três grandes questões: o conceito
de desenvolvimento, os mecanismos que favorecem os processos de desenvolvimento e as formas
eficazes de atuação dos atores econômicos, sociais e políticos.
A perspectiva de desenvolvimento local passa por um esforço de mobilização de
pequenos grupos no município, na comunidade, no bairro, na rua, a fim de
resolver problemas imediatos ligados às questões de sobrevivência econômica, de
democratização das decisões, de promoção de justiça social (SALLET e
CALLOU, 1995, p. 45).
Destarte, o conceito de desenvolvimento local se apóia na idéia de que as localidades e
territórios dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais, ambientais e culturais, além
de economias de escala não exploradas, que constituem seu potencial de desenvolvimento
(PEDROSA et al., 2006). Calcada nesta conceitualização, parte-se para a identificação e análise das
principais ações sociais implementadas pela empresa EMATER/RS frente à população rural
feminina.
4.
Ações sociais da EMATER/RS vinculadas ao contexto de desenvolvimento
As ações sociais da EMATER/RS estão vinculadas ao contexto de desenvolvimento e,
conseqüentemente, não podem ser concebidas de forma fragmentada ou segmentada, e sim
permeando todo o trabalho extensionista. Desse modo, analisar-se-á as ações sociais de extensão
rural a partir do conjunto das equipes de extensionistas em todas as instâncias da EMATER/RSASCAR.
8
Percebe-se que as diretrizes da Instituição apreciam o desenvolvimento mais além do
aspecto econômico com base no grande grau de industrialização urbana, elevado Produto Interno
Bruto e renda per capita, referenciado por uma sociedade urbano-industrial, onde o “progresso”
media-se pela industrialização, urbanização, e crescimento econômico (EMATER, 2007). De fato, o
conceito de desenvolvimento é construído cotidianamente.
Considera-se, sobretudo, que o crescimento da economia e o aumento da eficácia dos
sistemas de produção mostraram-se insuficientes para atender às necessidades básicas de maior
parte da população. Diante deste cenário, na última década, as diretrizes da entidade têm crescido
na reflexão de que o crescimento econômico implica em acréscimo da base produtiva e da
produção, enquanto o desenvolvimento é um processo complexo que abrange toda a vida em
sociedade considerando os aspectos ambientais, sociais, políticos, econômicos e tecnológicos
(EMATER, 2007).
Genericamente, assume-se que é o progresso econômico que se insere no contexto de
progresso mais geral da sociedade, compreendido como fenômeno amplo, embasado pela contínua
melhoria da qualidade e bem-estar humano, abrangendo toda a população na repartição eqüitativa
da riqueza que a própria sociedade condiciona.
Neste panorama, as questões social e ambiental passam a assumir relevantes papéis no
processo de desenvolvimento, como metas prioritárias a serem alcançadas. Assim, a EMATER/RS
defende que o desenvolvimento deve ser sustentável em todas as suas dimensões, a saber, as
dimensões econômica, social e ambiental.
Entende-se por sustentabilidade econômica a atualidade tecnológica, ganhos de
produtividade e sua disseminação na sociedade. Embora crucial à sociedade, considera-se que o
crescimento econômico é um suporte ao desenvolvimento e não a sua síntese.
Já a sustentabilidade social depende da organização da sociedade e da eqüidade, isto é, de
“como” e “com que intensidade” as riquezas geradas são distribuídas em benefício da população
(EMATER, 2007). Deste modo, o crescimento da economia, da produtividade e o progresso
tecnológico deve gerar a melhoria da sociedade. Com esta perspectiva analisa-se a distribuição da
renda, os indicadores de saúde, os níveis de nutrição, habitação, lazer, educação, graus de emprego,
mobilidade e articulação social da população, etc.
Quanto à sustentabilidade ambiental, avalia-se a capacidade de preservação de um sistema
ambiental, abalizando como deve ser um sistema em que a produção não comprometa os recursos
naturais, na sua forma original, bem como a sua renovação (EMATER, 2007).
Diante desses referenciais, através da busca pelo desenvolvimento com sustentabilidade,
contempla-se aspectos de inclusão, dignidade humana, segurança e justiça nas ações implementadas
pela entidade.
9
De modo geral, as propostas de desenvolvimento são diversas, visando adequação específica
a cada cenário. As diretrizes de desenvolvimento rural como processo de inclusão ponderam, além
dos temas produtivos agrícolas, problemáticas rurais abrangendo infra-estrutura social3, melhoria da
saúde, nutrição e redução dos índices de mortalidade infantil, de analfabetismo, bem como o
planejamento familiar.
Percebe-se, no entanto, que não há um único padrão de atuação, mas sim um leque variado
de estratégias flexíveis, que sincronizadas, almejam a heterogeneidade local, adaptando a análise da
realidade, a idealização das ações e a consolidação das propostas à multidimensionalidade e a ampla
permissibilidade de interações multisetoriais no meio rural.
Resumidamente, as ações sociais, políticas públicas e programas de apoio, processos
tecnológicos e serviços de apoio à comercialização são sintetizados e priorizados em cinco frentes
programáticas, conectando ações estruturantes, programas e projetos, para fazer frente ao
desenvolvimento rural sustentável do Rio Grande do Sul (EMATER, 2008).
As Frentes Programáticas da EMATER/RS-ASCAR são:
a) Conservação Ambiental
b) Oportunidades de Negócios
c) Alimentos Para Todos
d) Inclusão Social e
e) Fortalecimento do Agronegócio
Esta síntese do Plano Anual de Trabalho da EMATER/RS-ASCAR-2009 apresenta o como
e a razão do processo de mudanças na potencialização dos recursos disponíveis, já que o ser
humano é centro e objetivo de trabalho. Contemporaneamente, verifica-se a intensificação da
humanização e intangibilidade das propostas, com o fortalecimento das relações entre sociedade
local e poder público, acréscimo da participação da sociedade civil, aumento do processo de
descentralização e o incentivo a endogenização. Diante destes aspectos, o desenvolvimento rural é
percebido como um processo de construção social, tanto no âmbito municipal quanto no regional
(estadual).
3
Por exemplo: escolas, postos de saúde, estradas e comunicações.
10
4.1 EMATER/RS e as a promoção do desenvolvimento social feminino
Por meio da Promoção da Cidadania e Organização Social4, área que busca a organização
social das pessoas, famílias e comunidades no espaço onde estão vivendo e que estimula a
participação nos variados níveis de organização da sociedade onde ocorrem as tomadas de decisões,
a EMATER/RS vem ofertando ações que potencializam e socializam o conhecimento sobre direitos
e deveres sob as perspectivas de gênero, diferenças entre gerações, públicos diferenciados e pessoas
em vulnerabilidade social.
Uma das ações sociais operantes pela entidade são as Políticas de Relação de Gênero, que
visam a promoção da equidade de gênero, buscando a inclusão das mulheres nos diferentes espaços
de decisões, formando novas lideranças e fortalecendo as organizações sociais e a participação em
conselhos, sindicatos e cooperativas (EMATER, 2008).
Os principais objetivos destas políticas são, segundo a EMATER (2008):
a) promover a formação e troca de experiências, abordando as questões de gênero, direitos e
deveres aos beneficiários do trabalho de ATER;
b) incentivar a participação das mulheres nas tomadas de decisões em comunidade, em
movimentos de
trabalhadoras, conselhos, cooperativas, sindicados, clubes e associações e nas atividades de
desenvolvimento de liderança;
c) apoiar a organização das mulheres na luta pelos seus direitos;
d) contribuir para melhorar a percepção da sociedade sobre as atividades produtivas e
reprodutivas das mulheres;
e) informar e orientar as mulheres sobre o acesso à terra e crédito rural;
f) fazer intercâmbios entre grupos para trocas de experiências e resgate da história e cultura.
Abaixo, as metas almejadas pela EMATER/RS para a Política de Relação de Gênero para o
ano de 2009. Essas incluem ações que direcionem o acesso das mulheres rurais às políticas públicas
e direitos sociais, investimento constante em conhecimento, formação e qualificação, aumento do
empreendedorismo das mulheres e intercâmbios entre grupos e associações.
4
Objetivos da Promoção da Cidadania e Organização Social (EMATER, 2008):
a) potencializar as ações sociais realizadas pela ATER que perpassam a transversalidade das Políticas Públicas nos
diversos setores;
b) estimular a participação da ATER e da sociedade civil nos diversos conselhos municipais;
c) atuar como uma entidade de Assistência Social e prestar os esclarecimentos necessários, em consonância com a Lei
Orgânica de Assistência Social (LOAS) e com a Política Nacional de Assistência Social, a fim de obter o
reconhecimento do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social;
d) elaborar Projetos Sociais com objetivo de captar recursos para desenvolvimento sustentável das comunidades e
famílias rurais beneficiadas.
11
Ações
Municípios
Metas
Unidade Medida
Ações e direitos em gênero
Quantidade
104
Pessoas
19.338
Ações estaduais de gênero/ mulher
6
Pessoas
1.725
Ações de articulação
12
Pessoas
230
Tabela 01 Metas almejadas pela EMATER/RS para a Política de Relação de Gênero (2009)
Fonte: Emater (2008)
Outras ações sociais também vêm sendo implantadas nas áreas de educação, promoção da
saúde e lazer comunitário, segurança e soberania alimentar, geração de renda no âmbito das ações
sociais e atividades não-agrícolas5, gestão ambiental, manejo sustentável, habitação e paisagismo,
incentivo a produção de plantas bioativas (medicinais, aromáticas e condimentares), entre outras
atividades.
5.
Considerações finais
O entendimento de como as relações se compõe nos mais variados ambientes, constitui-se
um trabalho em que, para se obter resultados satisfatórios, é imprescindível que se conheçam quem
são os componentes sociais desses ambiente e como eles se organizam em determinado contexto.
Por meio da análise de ações sociais realizadas pela empresa Emater-RS, que atua como
instrumento do Governo Rio Grande do Sul para ação operacional e planejamento no setor agrícola
estadual, pode-se visualizar a incorporação das questões de gênero nas políticas de Extensão Rural,
identificando formas de aliciação junto às populações.
Assumindo relevante papel social, a referida Instituição visa a minimização das
desigualdades de gênero através da realização de estudos sobre a situação das agricultoras,
evidenciando que fatores como divisão do trabalho por sexo, geração e herança da terra explicam o
subdesenvolvimento social de algumas regiões.
Neste sentido, os programas da Emater/RS procuram superar tais dificuldades, fomentando o
processo de inclusão social-produtiva com fins ao combate da pobreza e ao desenvolvimento local.
Várias ações sociais podem ser citadas, como a Política de Relação de Gênero, Organização Social,
Juventude Rural, Idosos, Atendimento à Públicos Especiais por Demanda, Programa de
Qualificação Profissional de Produtoras, Programa de Crédito Rural entre outras.
5
Como o turismo rural e artesanato.
12
Ressaltam-se ainda as iniciativas de mobilizações femininas rurais que explicitam
estratégias de valorização dos saberes e respeito às diferenças culturais.
Por fim, destaca-se que as questões de gênero são temas de suma importância e que
merecem maiores estudos e visualização por parte do poder público. Não se pretende aqui esgotar
todos os debates sobre o assunto, no entanto, abre-se caminho para novas abordagens.
13
Referências Bibliográficas
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________. Plano anual de trabalho da EMATER/RS-ASCAR - 2009. Porto Alegre, 2008.
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