UFABC Pós-Graduação em Ensino, História e Filosofia das

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UFABC
Pós-Graduação em Ensino,
História e Filosofia das Ciências e
Matemática
Filosofia da Ciência
Karl Popper e o falseacionismo
Prof. Valter Alnis Bezerra
Karl Popper e o falseacionismo
Principais obras de Popper:
Os problemas gêmeos fundamentais da teoria do conhecimento (1933)
A lógica da pesquisa científica (1934; trad. inglesa 1959)
Pós-escrito à lógica da pesquisa científica (3 vol.):
• A teoria quântica e o cisma na física
• O universo aberto: Um argumento em prol do indeterminismo
• O realismo e o objetivo da ciência
A sociedade aberta e seus inimigos (2 vol.) (1945):
• Sob o feitiço de Platão
• A profecia em alta: Hegel, Marx e depois
Conjecturas e refutações (1963)
Conhecimento objetivo: Uma abordagem evolucionária (1972)
Busca sem fim: Uma autobiografia intelectual (1976)
O eu e seu cérebro (com John Eccles) (1977)
Toda a vida é solução de problemas (1994)
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Karl Popper e o falseacionismo
As questões que interessavam prioritariamente a Popper:
• Problema da demarcação
• Problema da indução
As questões que não interessavam a Popper:
• Problema do significado
• Problema da verdade
As questões que passaram a interessar a Popper:
• Problema da aproximação à verdade
As questões que deixaram de interessar a Popper:
• Problema da justificação
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Karl Popper e o falseacionismo
O CRITÉRIO DE DEMARCAÇÃO SEGUNDO POPPER:
Os enunciados e as teorias dividem-se em:
(A)
Enunciados falseáveis ≡ Científicos
(B)
Enunciados não-falseáveis ≡
Não-científicos
(porém não necessariamente desprovidos de significado!)
• Ex.: Teoria da relatividade
• Mecânica newtoniana
• Psicologia behaviorista
• “Todos os cisnes são brancos”
• Ex.: Astrologia
• Psicanálise
• Metafísica
• Programa de pesquisa darwinista
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Karl Popper e o falseacionismo
Compare com...
CRITÉRIO DE DEMARCAÇÃO SEGUNDO O EMPIRISMO LÓGICO:
Os enunciados da linguagem dividem-se em:
(A)
Enunciados significativos ≡
Empiricamente interpretáveis ≡
Científicos
(B)
Enunciados não-significativos ≡
Empiricamente não-interpretáveis ≡
Não-científicos
• Ex.: “O amperímetro marca 10 mA”
• “A massa do objeto X é igual a (12,5±0,5) g”
• “O Sr. X tem hipertensão”
• Ex.: “Somente o absoluto é verdadeiro”, “O
real é racional” (Hegel)
• “Sou uma sombra” (A. dos Anjos)
• “Não sou nada” (F. Pessoa)
Note que a linha de demarcação “significativo / não-significativo”
dos empiristas lógicos não coincide com a linha de demarcação
“falseável / não-falseável” de Popper.
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A assimetria entre verificação e falseamento
Verificação
Um número arbitrariamente
grande de instâncias
confirmadoras não basta para
estabelecer a verdade da teoria
Falácia de afirmação do
consequente
T→C
C
_______
T
Argumento inválido!
Falseamento
Um falseamento basta para
estabelecer a falsidade da
teoria[1]
Modus tollens[2]
T→C
¬C
_______
¬T
Argumento válido!
Observação 1: O falsemento não
pode depender de uma ocorrência
única do fenômeno. O fenômeno
falseador deve ser replicável.
Observação 2: Esta é a versão mais
popular, e utilizada inclusive pelo
próprio Popper. Porém, trata-se de
uma simplificação, uma vez que, a
rigor, a estrutura lógica do
falseamento é mais complicada.
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O eclipse de 1919 — Teste de uma previsão arriscada da Teoria da Relatividade Geral
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Na página anterior:
À esquerda: Fotografia do eclipse de 1919 tirada pela expedição de Eddington a Sobral (CE).
À direita: Deflexão gravitacional da luz por um objeto massivo. Imagem gerada por Markus Poessel
(Max-Planck Institut), com base no cálculo da solução das equações de Einstein para um objeto
esfericamente simétrico.
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Karl Popper e o falseacionismo
«(1) É fácil obter confirmações ou verificações para quase toda teoria – desde que as
procuremos.
(2) As confirmações só devem ser consideradas se resultarem de predições arriscadas;
isto é, se, não esclarecidos pela teoria em questão, esperarmos um acontecimento
incompatível com a teoria e que a teria refutado.
(3) Toda teoria científica “boa” é uma proibição: ela proíbe certas coisas de acontecer.
Quanto mais uma teoria proíbe, melhor ela é.
(4) A teoria que não for refutada por qualquer acontecimento concebível não é científica.
A irrefutabilidade não é uma virtude, como freqüentemente se pensa, mas um vício.
(5) Todo teste genuíno de uma teoria é uma tentativa de refutá-la. A possibilidade de
testar uma teoria implica igual possibilidade de demonstrar que é falsa. Há, porém,
diferentes graus na capacidade de se testar uma teoria: algumas são mais “testáveis”,
mais expostas à refutação do que outras; correm, por assim dizer, maiores riscos.
(6) A evidência confirmadora não deve ser considerada se não resultar de um teste
genuíno da teoria; o teste pode-se apresentar como uma tentativa séria porém malograda
de refutar a teoria. (Refiro-me a casos como o da “evidência corroborativa”).
(7) Algumas teorias genuinamente “testáveis”, quando se revelam falsas, continuam a ser
sustentadas por admiradores, que introduzem, por exemplo,alguma suposição auxiliar ad
hoc, ou reinterpretam a teoria ad hoc de tal maneira que ela escapa à refutação. Tal
procedimento é sempre possível, mas salva a teoria da refutação apenas ao preço de
destruir (ou pelo menos aviltar) seu padrão científico. (Mais tarde passei a descrever essa
operação de salvamento como uma “distorção convencionalista” ou um “estratagema
convencionalista”).»
— Popper, “Ciência: Conjecturas e refutações”, Seção I
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Karl Popper e o falseacionismo
«(1) A indução – isto é, a inferência baseada em grande número de
observações – é um mito: não é um fato psicológico, um fato da vida corrente
ou um procedimento científico.
(2) O método real da ciência emprega conjecturas e salta para conclusões
genéricas, às vezes depois de uma única observação (conforme o demonstram
Hume e Born).
(3) A observação e a experimentação repetidas funcionam na ciência como
testes de nossas conjecturas ou hipóteses – isto é, como tentativas de
refutação.
(4) A crença errônea na indução é fortalecida pela necessidade de termos um
critério de demarcação que – conforme aceito tradicionalmente, e
equivocadamente – só o método indutivo poderia fornecer.
(5) A concepção de tal método indutivo, como critério de verificabilidade,
implica uma demarcação defeituosa.
(6) Se afirmarmos que a indução nos leva a teorias prováveis (e não certas)
nada do que precede se altera fundamentalmente. (Vide em especial o cap. 10
deste livro.)»
— Popper, “Ciência: Conjecturas e refutações”, Seção VIII
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O “estratagema convencionalista”
T1
T1
T*1
E1
E1
¬E1
EXP
¬E1
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T*1
T**1
¬E1
E2
¬E2
EXP
¬E1
¬E2
E3
¬E3
EXP
e assim por diante...
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O avanço do conhecimento segundo a visão tradicional:
Crescimento da classe de instâncias confirmadas
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(continuação)
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(continuação)
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(continuação)
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(continuação)
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Epistemologia negativa
O avanço do conhecimento segundo a perspectiva popperiana
Parte 1
Aumento da classe de conjecturas refutadas (‘eliminação de erros’)
‘Conjectura arriscada’ de
validade presumivelmente
universal
Falseamento
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(continuação)
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(continuação)
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(continuação)
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(continuação)
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Epistemologia evolucionária
O avanço do conhecimento segundo a perspectiva popperiana
Parte 2
O processo de solução de problemas por
conjecturas e refutações (‘eliminação de erros’)
Após o falseamento se tornar significativo o bastante para levar a considerar a teoria original como
refutada, surge a necessidade de propor uma nova teoria em substituição à primeira:
P1 → TT1 → EE → TT2 → P2
(Situação
problema
original
Teoria
tentativa
#1
Eliminação Teoria
de erro
tentativa
#2
Situação
problema
nova
P2 → TT3 → EE → TT4 → P3 ...
Isso dá origem a um ciclo ilimitado de conjecturas e refutações, que nunca se repete, pois o ato
criativo do cientista sempre se renova.
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Karl Popper e o falseacionismo
«Por onde quer que comecemos, toda resposta dada de
acordo com os princípios da experiência sempre coloca uma
nova questão, que também requer uma resposta.»
[I. Kant, Prolegomena to any Future Metaphysics That Will be Able to Come Forward as Science,
with Selections from the Critique of the Pure Reason, p. 103. (“Prolegômenos a toda
metafísica futura que venha a se apresentar como ciência, com seleções da
Crítica da razão pura”.) Trad. por Gary Hatfield. Edição revisada.
Cambridge: Cambridge University Press, 2004.]
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«Não sabemos: só podemos conjecturar.»
— Karl Popper em All life is problem-solving
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