ASPECTOS DE LEXICOLOGIA, DE LEXICOGRAFIA, DE TERMINOLOGIA E DE TERMINOGRAFIA: LEXEMAS E TERMOS DA ÁREA MÉDICA (ASPECTS OF LEXICOLOGY, LEXICOGRAPHY, TERMINOLOGY AND TERMINOGRAPHY: LEXEMES AND TERMS FROM THE FIELD OF MEDICINE) Fernanda Mello DEMAI ABSTRACT: This article tries to outline the relations between lexicology, lexicography, terminology and terminography - there are some differences: the nature of objects (lexemes, terms - the ‘words’) and the concepts and the models of analysis and organization, structuration - and gives some examples taken from the field of Medicine. KEYWORDS: lexicology; lexicography; terminology; terminography; medicine Introdução As linguagens humanas, os códigos concebidos pelo homem, constroem os estereótipos que são legitimizados e cristalizados pelas práticas decorrentes. Os textos dicionarísticos são instrumentos genitores de axiologias e de ideologias, responsáveis pela manutenência e pela modificação de valores sociais e individuais; legitimizam conhecimentos e decorrentes práticas. Dentro do Universo dos textos dicionarísticos, há o conjunto dos vocabulários técnico-científicos, que, ao contrário do conjunto de dicionários de sistema, de língua, não registrarão o maior número possível (segundo o critério convencionado) de acepções de uma lexia numa determinada periodização, sincrônica ou diacrônica: tais vocabulários registram termos em nível de normas (sendo que adotaremos neste trabalho a conceituação de Eugênio Coseriu que propõe três níveis de atualização da língua: sistema, norma(s) e falar), normas técnicas, cuja unidade padrão é o termo/ vocábulo, restritas a determinados conjuntos de falantes – profissionais de uma área, elementos de um universo discursivo que necessita de um vocabulário específico para precisar e legitimizar seus valores, seus conhecimentos e suas práticas. Os dicionários chamados de língua registram lexias em nível de sistema e sua unidade-padrão é o lexema. Para o nível de atualização do falar, do discurso-ocorrência, a obra dicionarística equivalente é o glossário e a unidade-padrão é a palavra. I. Objetivo Propomos, para este trabalho, uma análise de microestruturas de dicionários de língua, de dicionários de normas e de dicionários de discurso-ocorrência da área de Medicina. Os termos pertinentes à area médica ou a subáreas correlatas, escolhidos aleatoriamente, nas obras do corpus, para terem suas microestruturas analisadas, são: a) cérebro; b) coração. II. Referencial teórico Nossa proposta de análise de obras dicionarísticas, para o âmbito deste trabalho, pautar-se-á nos conceitos e nas definições de macroestutura, de microestrutura e de remissividade; a primeira é concernente à organização vertical dos verbetes; já a segunda, a microestrutura, é a organização horizontal dos artigos/verbetes. Adotaremos, como parâmetro, o seguinte modelo de análise, que descreve uma das inúmeras possibilidades de organização de microestruturas, de acordo com as proposições teóricas de Barbosa (1989), feitas à luz destas definições de ReyDebove: Artigo = {entrada + enunciado lexicográfico [PI + PD + PP]}, em que: PI = Paradigma I (informacional) = {PI1, PI2, ..., PIn}= {abreviatura, categoria, gênero, número, conjugação, pronúncia, homônimos, campos léxico-semânticos etc.) PD = Paradigma D (definicional} = {PD1, PD2, ..., PDn}= {sema1, sema2, ..., seman} PP = Paradigma P (pragmático) = {PP1, PP2, ..., PPn}= {classe contextual1, classe contextual2, ... classe contextualn} Já a remissão é o processo de remeter a informação de um ponto a outro, de remeter uma unidade semântica a outra unidade semântica do mesmo campo paradigmático. A remissiva surge no âmbito da microestrutura, mas vai determinar a macroestrutura estrutural da obra dicionarística: vai tecer redes semânticas, ligando as entradas em grupos e em subgrupos de campos léxicos. Há vários modelos de apresentação de um artigo/ verbete, segundo a natureza da obra lexicográfica a que pertencem, uma vez que "o tipo da obra lexicográfica condiciona a quantidade, os tipos de paradigma, sua distribuição, sua combinatória e as coerções no enunciado. (Barbosa, 1989) III. O corpus O corpus de análise é o seguinte: 1. Dicionários de língua BORBA, Francisco S. Dicionário de usos do português do Brasil. São Paulo: Ática, 2002. CUNHA, Antônio Geraldo. Dicionário etimológico nova fronteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1997. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário aurélio básico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Folha de S. Paulo & Nova Fronteira. out. de 1994 a fev de 1995. HOUAISS, Antonio & VILLAR, Mauro de Salles Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 2. Dicionário de normas MALTESE. Grande dicionário de medicina. São Paulo: Maltese, 1994. ZACHARIAS, Manif; ZACHARIAS, Elias. Dicionário de medicina legal. Curitiba; São Paulo: Ed. Universitária Champagnat; Instituição Brasileira de Difusão Cultural, 1991. 3. Dicionários de discurso-ocorrência SPENCE, A. P et. al. . "Glossário" in Anatomia humana. São Paulo, 2000. IV. Análises de microestruturas, de macroestruturas e de redes de remissivas dos termos médicos a) cérebro; b)coração a1) cérebro. S.m. 1. Anat. Porção do encéfalo que ocupa, na caixa craniana, toda a parte superior e anterior. 2. Fig. Inteligência, cabeça, talento. Cérebro eletrônico. Proc. Dados. V. computador (2). (FERREIRA,1994-1995, p. 141) a2) cérebro. sm. (sXV cf. IVPM) 1. ANAT. parte do sistema nervoso central situada na caixa craniana do homem e de outros vertebrados. INF obsl. m.q. COMPUTADOR c. exsicado FARM m.q. CÉREBRO DESSECADO ETIM lat. (...) (HOUAISS, 2001, p. 678) a3) cérebro. parte mais expandida do encéfalo, consiste de hemisférios cerebrais direito e esquerdo. (SPENCE et al. p. 677) Das obras dicionarísticas de nosso corpus em que pesquisamos a entrada ‘cérebro’, as duas primeiras – FERREIRA (1994-1995) e HOUAISS (2001) são dicionários de língua e a terceira – SPENCE et. al. (1994) – é um dicionário de discurso-ocorrência, pois é um glossário apresentado ao final de uma obra, de um manual de anatomia, com o objetivo de explicitar o significado de termos, talvez obscuros, ao leitor. Em a1, a microestrutura apresenta os paradigmas: 1. informacional: a. classe gramatical – s.m. (substantivo masculino); b. o domínio/ área a que é pertinente – anatomia - Anat 2. definicional: a. ‘Porção do encéfalo que ocupa, na caixa craniana, toda a parte superior e anterior´; este é o conjunto de semas denotativos, em oposição ao conjunto de semas conotativos, da segunda acepção. É critério do dicionarista selecionar qual será a ordem das acepções dentro da microestrutura, se é por classificação temporal (da acepção mais antiga até a mais recente ou vice-versa), se é por classificação semântica (das acepções em sentido ‘literal’ até as derivadas por metáfora, por metonímia, por sinódoque, por analogia etc.), se é classificação pelo nível de formalidade ou de cientificidade (das acepções pertinentes às áreas técnicas e à científicas até as ´banalizadas´); b. ‘Fig. Inteligência, cabeça, talento’; a rubrica ´fig.´ marca que esta acepção não é a literal do lexema e sim derivada por metáfora ou por metonímia ou por sinédoque. 3. entradas correlatas semanticamente: a. ‘cérebro eletrônico´ 4. rede de remissivas: a. Proc. Dados. V. computador (2) – ou seja: a microestrutura remete a leitura do consulente a outra parte da macroestura, a uma outra entrada: ‘computador’, em sua acepção 2. Em a2, a microestrutura apresenta os paradigmas: 1. informacional: a. classe gramatical – s.m. (substantivo masculino); b. datação: o primeiro registro da acepção em obra lexicológica/ lexicográfica, segundo critérios dos autores; b. o domínio/ área a que é pertinente – anatomia – Anat; c. etimologia: indica a língua-origem do lexema: ´lat´ - latim e tranformações de grafia sofridas: ´ ETIM lat. (...)´ 2. definicional: a. ‘1. parte do sistema nervoso central situada na caixa craniana do homem e de outros vertebrados (...) controlam todas as atividades vitais´; este é o conjunto de semas que formam a primeira acepção, a primordial. As cifras à esquerda da entrada, em seu início, indicam as diferentes acepções de uma única entrada, observando-se as subdivisões em campos/ áreas de conhecimento; b. ‘2. p. ana. ANAT. ZOO. centro nervoso dos invertebrados, formado por um ou mais gânglios supraesofágicos; cerebrogânglio’; a rubrica ´por ana.´ marca que esta acepção não é a primeira do lexema e sim derivada por analogia e pertencente a outro domínio – o que denota a rubrica: ‘ANAT. ZOO’ - ‘anatomia zoológica’; c. ‘p. metf. sede da inteligência, do poder, da vontade; cabeça;´ - acepção não-literal do lexema e sim derivada por metáfora; d. ´5. indivíduo que lidera intelectualmente; cabeça’; e. ´6. p met indivíduo que privilegia a razão em detrimento da emoção´ 3. pragmático: é o que apresenta as classes de contexto em que o lexema é encontrado; são exemplos representativos de uso concreto dos lexemas, escolhidos pelo autor da obra dicionarística para ilustrar suas diversas possibilidades de emprego; nesta obra, HOUAISS (2001), a entrada não é grafada, na íntegra, nos paradigmas pragmáticos e sim somente sua inicial, para efeitos de economia de espaço: a. < o Estado-Maior é o c. das decisões estratégicas>; b. < o c. da equipe >; c. < João é todo c. > 4. Entradas correlatas semanticamente: a. ‘c. abdominal´; b. ´c. dessecado´; c. ´c. eletrônico´; d. ´c. exsicado´ 5. rede de remissivas: ao final do verbete, ao consulente são oferecidas possibilidades de maiores averiguações do significado de termos sinônimos (´SIN´), de variantes (´VAR´) e de antônimos (´ANT´) e também de combinações morfo-sintagmáticas, por meio de antepositivo ´encefal(o)´: a. ´SIN/ VAR ver sinonímia de inteligência´ ; b. ´ ANT ver sinonímia de inépcia´; c. ´ NOÇÃO DE ´cérebro´, usar antepos. encefal(o)-´ b1) coração1. S.m. 1. Anat. No homem e nalguns vertebrados, órgão oco, muscular, situado na cavidade torácica, constituído de duas aurículas e dois ventrículos, (...) Coração de ouro. 1. coração2 S.f. Ato ou efeito de corar. (FERREIRA, 1994-1995, p. 178) b2) coração Nm [Concreto. Não-animado] [+- Classif: de +nome] 1. órgão oco e musculoso, de forma cônica, centro motor da circulação do sangue (...) 7. forma de galanteio para referir-se ou dirigir-se à pessoa amada [PP] 8. pessoa generosa e boa [PP] [Abstrato de estado] [+- Classif: de +nome 9. sede de sentimentos e paixões: [PP] 10. sensibilidade 11. pressentimento [PP] 12. sentimento [PP] 13. memória [PP] 14. caráter; índole [PP] 15. o ponto mais profundo; o cerne [PP] [Núcleo de construção (BORBA, 2002, pp. 405-406) b3) CORAÇÃO. - S.m./ Vocábulo de etimologia incerta./Órgão muscular, oco, propulsor da circulação sangüínea./ Situa-se na caixa torácic (...) (ZACHARIAS, 1991, pp. 102-104) Em b1, a microestrutura apresenta os paradigmas: 1. informacional: a. classe gramatical – s.m. (substantivo masculino); b. o domínio/ área a que é pertinente – anatomia – Anat 2. definicional: na leitura vertical dos verbetes, na organização da macroestrutura, ocorre homonímia inter-verbetes: verbetes distintos de um dicionário de língua, que apresentam a mesma expressão com conteúdos diferentes; dentro do mesmo verbete, intra-verbete, na leitura horizontal, da microestrutura, ocorre polissemia stricto sensu ou propriamente dita: a uma mesma expressão correspondem dois ou mais conteúdos diferentes, mas com núcleo sêmico em comum, conforme se verifica nas acepções de ‘coração1 e na acepção de coracão2 em relação à leitura de coração1: coração1. a. ‘No homem e nalguns vertebrados, órgão oco, muscular, situado na cavidade torácica (...) 3. P. ext. A parte anterior do corpo humano onde se convenciona estar o coração; o tórax, o peito. 4. Fig. A parte mais interna, ou a mais central, ou a mais importante, de um lugar, de uma região. coração2 S.f. Ato ou efeito de corar. 3. entradas correlatas semanticamente: a. Coração de ouro. 1. O de pessoa extremamente generosa. 2. Pessoa com essa qualidade.; b. Coração de pedra. 1. O de pessoa insensível, desalmada, cruel. 2. Pessoa com essa qualidade. 4. rede de remissivas: a. ´sístole [q.v] e diástole [q.v.]´: a microestrura remete a leitura do consulente a outra parte da macroestrutura, à entrada ´sístole´ e à entrada ´diástole´ Em b2, a microestrutura apresenta os paradigmas: 1. informacional : a. classificação gramatical – n.m. (nome masculino); ´concreto´; ´não-abstrato´; ´abstrato de estado´; ´núcleo de construção adverbial. 2. definicional : a. ´1. órgão oco e musculoso, de forma cônica, centro motor da circulação do sangue: o ferimento era por baixo do coração (CCA); 2. parte anterior do peito onde se sente pulsar o coração (ED) 3. peito 4. objeto em forma de coração 5. parte interna, miolo [PP] 6. centro [PP] [Humano] 7. forma de galanteio para referir-se ou dirigir-se à pessoa amada [PP] 8. pessoa generosa e boa [PP] [Abstrato de estado] [+- Classif: de +nome 9. sede de sentimentos e paixões: [PP] 10. sensibilidade 11. pressentimento [PP] 12. sentimento [PP] 13. memória [PP] 14. caráter; índole [PP] 15. o [Núcleo de construção adverbial] [com o + ~] 16. ponto mais profundo; o cerne [PP] emocionalmente, sentimentalmente´ 3. pragmático: a. ´o coração de Pacuera entra em ritmo acelerado (R)´; b. ´encostei minha cabeça no coração de Minguinho (PL)´; c. ´A filha tomou-lhe o pulso, apalpoulhe o coração´; d. ´o coração começa a me apertar (CJ)´; e. ´Gerúndio fica de pé, põe a mão no coração (PEM)´; f. ´Por que o coração, o de metal, não tornará o homem mais cordial (CAR-O)´ 4. entradas correlatas semanticamente: de (todo o) coração sinceramente; com todo o prazer: [PP] de coração aberto 1. com sinceridade [PP]; com todo prazer (PP) de coração aberto [PP] 1. com sinceridade [PP] 2. sincero: [PP] de coração de ouro (pessoa) muito generosa [PP] (de) coração mole [PP]; o símbolo ´ ´ , segundo a introdução do autor, indica as ‘subentradas’. Em b3, a microestrutura apresenta os paradigmas: 1. informacional: a. classe gramatical – s.m. (substantivo masculino); b. etimologia – ‘vocábulo de etimologia incerta´ - Por não ser o caráter primordial da obra a etimologia, sendo que se trata de um dicionário de normas, das normas da medicina legal, não houve aprofundamento quanto a esse aspecto no verbete em estudo. 2. definicional : a. ‘ Órgão muscular, oco, propulsor da circulação sangüínea´ 3. informações enciclopédicas: a. ‘Situa-se na caixa torácica, entre os dois pulmões, no mediastino anterior. Tem a forma de um cone achatado (...)´ V. Considerações finais As ´palavras´, objeto dos estudos e das práticas científicas da Lexicologia e da Lexicografia e de outras áreas de estudos lingüísticos, formam o pensamento humano, fundam instituições, valores e decorrentes práticas, num mundo semioticamente construído. As obras dicionarísticas são receptáculos e também pontos de partida da construção de conhecimentos humanos, das diferentes áreas de conhecimento, das diferentes civilizações, em diferentes lugares e em diferentes periodizações. Os estudiosos e trabalhadores da Lexicologia, da Lexicografia, da Terminologia, da Terminografia, assim como os da Fonologia, da Morfologia, da Sintaxe, da Semântica, da Pragmática e de outras disciplinas e ciências que têm intersecção objetal e metodológica com a Lingüística, têm a função de participar da construção e do registro dos saberes humanos, tomando como ponto de honra suas obrigações éticas e políticas, além de seus postulados filosóficos, seja qual for a área de conhecimento, sobretudo naquelas que, como a Medicina, lidam diretamente com vidas humanas no sentido físico-fisiológico. RESUMO: Este trabalho visa a expor as relações existentes entre lexicologia, lexicografia, terminologia e terminografia e, sobretudo, o que as difere, como a metodologia de tratamento das diferentes unidades-padrão (lexemas, termos e palavras). Apresenta conceitos e modelos de análise pertinentes a essas ciências lingüísticas e fornece alguns exemplos da área de Medicina. PALAVRAS-CHAVE: lexicologia; lexicografia; terminologia; terminografia; medicina REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUBERT, Francis Henrik. Introdução à metodologia da pesquisa terminológica bilíngüe. Cadernos de Terminologia nº 3. São Paulo: Humanitas. FFLCH/ USP,1996. BARBOSA, Maria Aparecida. Língua e discurso: contribuição aos estudos semânticosintáxicos. São Paulo: Global, 1978. _____. Léxico, produção e criatividade/ processos de neologismo. São Paulo: Global, 1981. _____. Da microestrutura dos vocabulários técnico-científicos in Anais do IV encontro nacional da anpoll. Recife, 1989. BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. Terminologia e Lexicografia in Trad Term 7 Revista do centro interdepartamental de tradução e terminologia. São Paulo: FFLCH/ USP, 2001. CABRÉ. Maria Teresa. La terminología/teoría, metodologia, aplicactiones. Barcelona: Editorial Antártida/ Empúries,1993. DUBOIS, Jean; DUBOIS, Claude. Introduction à la lexicographie/ le dictionnaire. Paris: Larousse, 1971. GREIMAS, Algirdas Julien. Sémantique structurale. Paris : Larousse, 1966. HJELMSLEV, Louis. Essais linguistiques. Paris: Minuit, 1971. PAIS, Cidmar Teodoro. Conditions sémantico-syntaxiques et sémiotiques de la productivité systémique, lexicale et discursive. Thèse de Doctorat d´État. Paris; Lille: Université de Paris IV. ANRT,1993. POTTIER, Bernard. Théorie et analyse en linguistique. Paris: Hachette,1991. REY-DEBOVE, Josette. Étude linguistique et semiotique des dictionnaires français contemporains. Paris: The Hague Mouton, 1971.