BLOCO a que o trabalho se candidata: 1 – Mesas-redondas TEMA: Lexicografia mono, bi e multilíngüe: objetos, métodos e perspectivas. DICIONÁRIO MULTILÍNGUE DE REGÊNCIA VERBAL: DELINEAMENTO, PADRONIZAÇÃO, RESULTADOS Claudia Zavaglia (Universidade Estadual Paulista – UNESP, Câmpus de São José do Rio Preto – IBILCE) Pode-se dizer que o conhecimento do universo está registrado no chamado léxico de uma língua natural. A geração do léxico se processa pelo ato cognitivo e de categorização da experiência, cristalizada como signos linguísticos. É a Lexicografia, área antiga e tradicional, que se encarrega da descrição desse léxico, com a produção de obras lexicográficas, os diversos tipos de dicionários. Observa-se que nos dicionários de língua geral existe certa imprecisão no tratamento das preposições devido ao fato de que o lexicógrafo, supostamente motivado pelo desejo de que o dicionário seja facilmente compreendido, atente mais para o enfoque semântico-pragmático das entradas, omitindo, por vezes, o papel da preposição, seja quanto ao regime verbal, seja quanto ao nominal. No caso de obras bi ou multilíngues, a informação gramatical trazida é normalmente ainda menos detalhada que a dos dicionários monolíngues, talvez porque nos bilíngues o público-alvo pareça buscar apenas equivalentes semânticos. Assim, a maioria desse tipo de dicionário oferece somente algumas informações a respeito das unidades “descritas”, como a categoria gramatical à qual pertence e suas formas flexionadas, não se estendendo à indicação das preposições adequadas, com algumas exceções, principalmente em dicionários bilíngues de língua inglesa. Este trabalho descreve a elaboração de uma obra de referência multilíngue especial e inédita, desde a sua concepção até os resultados atuais: um dicionário de regência verbal, cujos verbos do corpus apresentem complementos preposicionados, na direção portuguêsalemão/espanhol/francês/inglês/italiano/japonês, desenvolvido simultaneamente por pesquisadores do GP “Lexicologia e Lexicografia contrastiva”, intitulado Dicionário Multilíngue de Regência Verbal: verbos preposicionados – DMRV, cujo aporte teórico considera “verbo transitivo indireto”: todo verbo cujo sentido só se completa por meio de objeto indireto e por “objeto indireto”: o complemento preposicionado que preenche traços semânticos intrínsecos e essenciais ao verbo. Uma importante questão considerada foi a frequência, visto que não era nosso objeto de estudo verbos que, embora se enquadrassem no que definimos como verbo necessariamente preposicionado, não fossem usuais ou apresentassem baixa frequência na língua portuguesa do Brasil. Desse modo, o arrolamento dos verbos transitivos indiretos ou transitivos diretos e indiretos mais frequentes da língua portuguesa do Brasil baseou-se nos Dicionário gramatical de verbos do português contemporâneo do Brasil (Borba, 1991) e no Dicionário de usos do português do Brasil (Borba, 2002), uma vez que ambos se basearam em um confiável banco de corpora textuais, instalado no Laboratório de Lexicografia da Faculdade de Ciências e Letras (Unesp, Câmpus de Araraquara), que reúne hoje mais de 200 milhões de ocorrências. A lista de verbos obtida foi ainda contrastada com o Dicionário Houaiss de Verbos: conjugação e uso de preposições (Rodrigues, 2003). Para a proposta de equivalentes nos seis idiomas, foram utilizados diversos dicionários monolíngues especiais ou de língua geral nesses idiomas. O verbete proposto atende ao seguinte modelo: ENTRADA EM PORTUGUÊS 1. acepção frequente com especificação esquemática dos complementos (direto e indireto) ou apenas do complemento direto, com destaque nas preposições exigidas que virão em MAIÚSCULAS (algum(ns) sinônimo(s) esclarecedor(e)s e elucidativo(s) → Exemplo criado adequadamente para ilustrar o sentido, com contextos simples. Equivalentes em itálico nos seis idiomas, especificados por uma letra maiúscula que os define, e destaque em negrito da preposição ou indicação de que o verbo equivalente não é preposicionado. Por fim, tentamos contribuir com os estudos lexicográficos do Brasil, especialmente aqueles multilíngues, mesmo sabendo que nenhuma obra final é completa e perfeita, ao contrário, é passível de inexatidões e imperfeições.