Rinite atrófica dos suínos

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S UINOCULTURA
D INÂMICA
Ano II – No 7 – Abril/1993 – Periódico técnico-informativo elaborado pela EMBRAPA–CNPSA
Rinite atrófica dos suínos
J. R. F. Brito
I. A. Piffer
M. A. V. P. Brito1
A renite atrófica dos suínos é uma doença
contagiosa do trato respiratória superior, caracterizada por atrofia das conchas nasais (Foto 1).
A doença pode afetar o desempenho produtivo,
ocasionando perdas econômicas, mas não está
ainda esclarecido porque tais perdas só ocorrem
em determinados rebanhos. A renite atrófica
está disseminada por todas as principais áreas de
produção de suínos no Brasil.
Há divergência com respeito à predisposição
que os animais com rinite atrófica têm para
adquirir peneumonias. Em nossos estudos observamos que esta predisposição ocorre nos animais
com lesões graves.
Os mecanismos envolvidos no desencadeamento da rinite atrófica e as relações entre a
gravidade da doença e os fatores genéticos a
metabólicos e o meio ambiente não estão, ainda,
totalmente esclarecidos.
Figura 1: Corte transversal do focinho de suíno
adulto, mostrando atrofia grave das conchas nasais: e desvio do septo nasal.
Etiologia
Os agentes primários da rinite atrófica são algumas amostras de bactérias Gram-negativas das
espécies Bordetella bronchiseptica e Pasteurella
multocida, capazes de produzir uma toxina que
provoca necrose na pele de cobaias. As amostras
1
Pesquisadores da EMBRAPA–CNPSA
Suínos e Aves
que produzem estas toxinas são designadas
TDN+ (toxina dermonecrótica).
Organismos da espécie B. bronchiseptica TDN+
são amplamente distribuídos em rebanhos suínos.
Eles aderem fortemente às células da mucosa
nasal, multiplicam-se e produzem a toxina capaz
de causar perda parcial dos ossos das conchas
nasais. Isto ocorre duas a três semnas após
a infecção. As alterações das conchas nasais,
resultantes da infecção por B. bronchiseptica, são
regeneráveis e podem não ser observadas no
animal adulto. Quando ocorrem infecções mistas,
principalmente com P. multocida TDN+, os danos
causados por B. bronchiseptica são amplificados
e as alterações, persistentes e irreversíveis. Experimentalmente, é possível produzir este tipo de
alterações em leitões inoculados com P. multocida
TDN+, após infecção com B. bronchiseptica, ou
após o tratamento da cavidade nasal dos leitões
com ácido acético. Animais submetidos a estes
tratamentos podem ter suas conchas nasais completamente destruídas em duas semanas.
A doença com estas características é designada atualmente "rinite atrófica progressiva".
Amostras de P. multocida são, também, disseminadas em rebanhos suínos, mas apenas
aquelas produtoras de toxina (TDN+) parecem
estar envolvidas nos surtos severos da doença. A
maioria das Pasteurelas importantes na etiologia
da rinite atrófica são do tipo capsular D, embora
também sejam isoladas amostras do tipo A, de
leitões afetados.
Os fatores que auxiliam a colonização do trato
respiratório dos suínos por P. multocida TDN+, em
condições de campo, permitindo a manifestação
da doença não são inteiramente conhecidos.
É provável que a B. bronchiseptica e irritantes
da mucosa nasal com os gases sulfídrico e
amônia, poeira e alergenos diversos, facilitem a
colonização de P. multocida, contribuindo para o
surgimento ou agravamento da doença.
Figura 2: Leitão jovem (1a semana de idade) com
rinite atrófica.
superior, um defeito conhecido como braquigmatia
superior (Foto 3). Animais severamente afetados
apresentam atraso no desenvolvimento corporal.
O diagnóstico clínico é realizado mais facilmente
em leitões a partir de cinco semans de idade.
Diagnóstico anátomo-patológico
O diagnóstico definitivo deve ser feito pelo
exame das conchas nasais de leitões, com cinco
a dez semanas de idade, ou de animais enviados
aos frigoríficos. É aconselhável o exame de,
pelo menos, 20 animais, provenientes de várias
leitegadas.
As conchas nasais são examinadas, após o
corte transversal do focinho, entre o primeiro
e o segundo dentes pré-molares. Deve-se usar uma serra afiada, se possível elétrica. É
necessária alguma experiência, antes de se tomar
decisões, quanto à natureza das alterações, por
isso recomenda-se o exame de vários animais,
comparando-se os vários graus de alterações
(Foto 4).
Diagnóstico microbiológico
O material para exame laboratorial deve ser
colhido de leitões jovens, entre cinco e dez
semanas de idade, que não tenham sido medicados com antibióticos nas últimas duas ou
três semanas. Colhe-se material da cavidade
nasal de leitões vivos, com auxílio de suabes
estéreis, feitos com arame flexível e algodão na
ponta. De leitões necropsiados coletam-se as
amígdalas. Estudos realizados mostram ser mais
fácil o isolamento de P. mutocida das amígdalas,
enquanto B. bronchiseptica é isolada mais facilmente das secreções nasais. O material colhido
deve ser acondicionado em gelo e encaminhado,
Diagnóstico
Diagnóstico cliníco
A rinite atrófica é caracterizada, clinicamente,
por espirros, formação de placas escuras nos cantos internos dos olhos (Foto 2), corrimento nasal
seroso ou mucopurulento e encurtamento e/ou
desvio lateral do focinho. Alguns animais podem
apresentar a arcada dental inferior à frente da
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infectados vindos de outros rebanhos. Estes
animais podem não apresentar sintomas de rinite
atrófica, o que dificulta o controle da doença.
Tabela 1: Classificação de rebanhos de acordo com
o índice de lesão de rinite atrófica
Índice de
Rinite Atrófica
0 a 0,30
0,31 a 0,45
0,46 a 3,0
Classificação
dos rebanhos
Livres ou com nível significante da doença
Levemente afetados
Moderada a severamente
Os animais mais afetados são leitões que se
infectam nas primeiras semanas de vida com
ambos os agentes. Se estes leitões não estiverem
protegidos com anticorpos específicos, recebidos
através do colostro, provavelmente desenvolverão
a forma mais grave da doença.
com urgência, ao laboratório. Os exames laboratoriais são realizados com o objetivo de isolar
B. bronchiseptica e P. multocida. É necessário
identificar o tipo capsular e a capacidade das
Pasteurelas produzirem TDN. Com as bactérias
isoladas, o laboratório pode realizar antibiogramas
para orientação da medicação dos animais.
A doença se inicia pela colonização da mucosa
da cavidade nasal por B. bronchiseptica, seguida,
ou não, pela colonização por P. multocida. A
colonização por B. bronchiseptica depende da
imunidade do leitão tranferida da mãe, através do
colostro.
Tem sido demonstrado em rebanhos com deficiência no manejo, que a infecção por B. bronchiseptica geralmente ocorre na primeira semana
de vida do leitão, enquanto a infecção por P. multocida ocorre entre três e cinco semanas. Em
rebanhos submetidos a condições mais favoráveis
de manejo e onde a imunidade das porcas é mais
eficientemente tranferida aos leitões, a infecção
por B. bronchiseptica pode ocorrer entre três e
quatro semanas e por P. multocida após as cinco
semanas de idade.
Classificação de rebanhos com
rinite atrófica por meio de índice
Os rebanhos podem ser monitorados, quanto à
ocorrência da renite atrófica, usando-se um índice
que se baseia no número de animais examinados
e nos graus de alterações da suas conchas
nasais. Para isto, recomenda-se, inicialmente,
o exame de grupos de animais, no frigorífico, a
intervalos mensais ou bimestrais, por um período
de 6 a 12 meses. Se o índice permanecer
estacionário, dentro do esperado (ver adiante
a interpretação), reduz-se a periodicidade dos
exames para três a quatro vezes ao ano. Para
calcular o índice, suponha que o exame de 16
animais tenha resultado similar ou mostrado na
Foto 4.
4 animais com grau 0 (normais), 4 com grau
1,4 com grau 2 e 4 com grau 3. A média
ponderada será (4x0=0) + (4x1=4) + (4x2=8) +
(4x3=12); total: 24. Este total é dividido pelo
número examinado (16), obtendo-se o índice 1,5.
A interpretação proposta para o índice de rinite
atrófica, considerando-se os graus de lesões de
0 a 3, á apresentada na Tabela 1.
Controle da rinite atrófica
Os métodos mais comuns de tratamento e
controle da rinite atrófica são a vacinação e/ou
medicação das porcas gestantes e suas leitegadas. Estes métodos devem ser acompanhados
por procedimentos que melhorem o conforto e o
ambiente dos leitões jovens e são descritos mais
adiante.
tipos de vacinas
Disseminação da rinite atrófica
As primeiras vacinas contra a rinite atrófica surgiram há 2o anos e eram bacterianas, preparadas
com B. bronchiseptica. Depois surgiram bacterinas mistas, preparadas com B. bronchiseptica e
P. multocida. Mais recentemente tem-se tentado
a incorporação do toxóide (toxina in ativada) de
P. multocida às bacterinas. Encontram-se em
estudo vacinas baseadas em tecnologia de DNA
recombinante.
A rinite atrófica não se transmite facilmente
entre rebanhos. A transmissão da infecção exige
proximidade entre os animais. Os leitões jovens
geralmente se infectam a partir da mães.
Quando a doença surge pela primeira vez é,
geralmente, o resultado da introdução de animais
3
Figura 4: Graduação das lesões das conchas
nasais de animais com rinite atrófica: normal(0),
alteração leve (1), moderada (2) e grave ou
completa (3)
o desmame, separadamente ou em combinação.
É importante escolher bem o antimicrobiano, com
base nos exames laboratoriais (antibiograma) e
as características do produto, pois nem todas
as drogas atingem níveis terapêuticos no trato
respiratório. Deve-se observar, também, o tempo
de retirada do antimicrobiano antes do envio
dos animais para abate. O veterinário deve ser
sempre consultado para estabelecer o programa
de medicação.
Figura 3: Animal adulto com braquignatia superior.
Esquemas de vacinações
Recomenda-se a vacinação das porcas gestantes entre cinco e seis semanas (primeira dose)
e duas a três semanas (segunda dose) antes do
parto. Os leitões são vacinados a primeira vez entre sete e dez dias de idade, recebendo a segunda
dose duas semanas depois. Tem se demonstrado
ser este o esquema que resulta em melhor
proteção contra a infecção por B. bronchiseptica e
os efeitos negativos da toxina de P. multocida. Os
cachaços devem ser vacinados duas vezes, com
intervalo de aproximadamente duas semanas. O
uso de uma única dose de vacina em leitões
desmamados não protege contra a toxina de
P.multocida, sendo necessário, sempre, aplicar
as duas doses a intervalos de duas semanas.
Em rebanhos com pressão infecciosa muito baixa,
justifica-se-ia a vacinação das porcas gestantes
somente.
Identificação e correção de fatores de
risco
Os fatores de risco podem aumentar a severidade da rinite atrófica, provavelmente porque
facilitam o crescimento das bactérias responsáveis pela doença, propiciando-lhes condições
favoráveis para a liberação de fatores de virulência como as toxinas. Ao mesmo tempo,
debilitam o organismo dos animais, tornando-os
mais suceptíveis. Os fatores de risco podem estar
relacionados:
1. ao número excessivo de primíparas ou nulíparas no plantel. Esta condição determina
menor proteção, via colostro, aos leitões, com
o subseqüente aumento de carga infeccionsa
no ambiente, proporcionando a disseminação
mais rápida da doença;
medicação
2. a alimentação (fêmea malnutridas podem
não produzir leite suficiente para os leitões
quando eles mais necessitam);
Em surtos severos da doença os métodos mais
usados são: a medicação das porcas na fase
final da gestação, complementada por injeção dos
leitões lactantes com antibióticos de ação prolongada, e o fornecimento de ração medicada, após
3. a presença de outras infecções (doenças
de Aujeszky, outras infecções do trato respiratório e diarréias);
4
Produção em três sítios
4. as condições de alojamento dos animais
(volume de ar inferior a 3 m3 por animal,
variações diárias de temperatura superiores a
6o C, terminação com lotação superior a 500
animais; piso ripado; mais de duas fileiras de
baias, etc);
É uma modificação do sistema “desmame precoce medicado”. As porcas são vacinadas e/ou
medicadas contra as doenças que se deseja
combater. Os leitões são desmamados entre 10
a 21 dias de idade e tranferidos para uma nova
instalação, a uma distância de, pelo menos, três
quilômetros da maternidade. Igual distância deve
ser mantida de outros rebanhos, mas a distância
ideal não está ainda determinada. Os leitões
são mantidos obedecendo-se o sistema “todos
dentro, todos fora”. Com oito a dez semanas
de idade, os leitões são tranferidos para outro
local, o terceiro sítio, onde permanecem até a
idade de abate. Esta última unidade pode ser
instalada mais próxima do abatedouro, facilitando
e economizando os custos com o transporte.
5. ao manejo do rebanho (repopulação de terminações com animais de várias origens; não
adoção do sistema “todos dentro-todos fora”
(all in, all out) para todas as fases da criação,
falta de atendimento aos leitões ao nascer,
etc).
Métodos auxiliares de controle
Depopulação
Sistema “Zimmerman”
Até algum tempo atrás, a erradicação ou o
controle de doenças como a rinite atrófica e a
pneumonia micoplásmica eram conseguidos por
métodos drásticos como a depopulação total, ou
de métodos caros e laboriosos como a instalação
de rebanhos SPF (livres de patógenos específicos). A depopulação consiste na eliminação
do rebanho, seguida de limpeza, desinfecção,
vazio sanitário de pelo menos sete dias e restabelecimento do rebanho com animais comprovadamente sadios, se possível SPF. Cuidados devem
ser tomados para evitar a reintrodução da infecção
no rebanho, o que geralmente ocorre após três e
quatro anos.
A seguir são apresentados alguns conceitos
sobre sistemas de produção que oferecem alternativas para a redução dos riscos de doenças.
É apropriado para rebanhos pequenos, de até
30 matrizes. Doenças como rinite atrófica, pleuropneumonia e pneumonia micoplásmica podem
ser controladas, sem necessidade de eliminação
total do rebanho. O sistema consiste na eliminação de todos os animais jovens, permanecendo
o plantel de reprodutores por 14 dias, recebendo
medicação e vacinação para as doenças que
se deseja controlar. Os leitões nascidos serão
medicados continuamente, do nascimento ao desmame. O esquema "todos dentro, todos fora" deve
ser obedecido.
Os sistemas descritos (desmame precoce medicado, produção em três sítios e o sistema Zimmerman) podem ser associados, adaptando-os para
as condições especiais de cada propriedade.
Revisores Técnicos:
• Sergio Renan Alves
Desmame precoce medicado
• Nelson Mores
Neste sistema, as matrizes são vacinadas e
medicadas com antimicrobianos imediatamente
antes do parto.
Os leitões são medicados
com antimicrobianos desde o nascimento até o
desmame, aos cinco dias de idade, quando são
retirados para local isolado, onde devem receber
atenção especial com relação ao manejo e à
qualidade da ração.
É importante observar o sistema “todos dentro,
todos fora”.
Este método oderece boas alternativas para o
controle de outras doenças como a pneumonia
micoplásmica ou enzoótica, a pleuropneumonia e
a disenteria suína.
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