XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM UM FORNECEDOR DE LUBRIFICANTES Vilciane de Oliveira França (UFSC) [email protected] Mônica Maria Mendes Luna (UFSC) [email protected] ALEX GUERRA PIRES (UFSC) [email protected] Elisete Santos da Silva Zagheni (UFSC) [email protected] Este artigo buscou compreender a relação existente entre o nível de serviço no canal de distribuição e suas características. Constatou-se que um bom relacionamento entre os membros do canal e sua estrutura física são substanciais para o auumento das vendas na ponta da cadeia. Este trabalho iniciou-se com uma pesquisa sobre indicadores de desempenho específicos para canais de distribuição - algo pouco estudado. Realizou-se um estudo de caso em um fornecedor de lubrificantes e seus canais de distribuição (concessionárias, atacadistas e varejistas). Essa análise foi feita durante o período promocional do fornecedor, onde foi diagnosticado que o canal com o melhor desempenho nas vendas possuía os melhores indicadores de relacionamento e comunicação. Um limitação desta pesquisa foi não obtenção de indicadores logísticos - em virtude do não registro dos dados necessários pela empresa - sendo a logística o atributo mais importante para aumentar o nível de serviço no canal e reter clientes em longo prazo. Apesar desta limitação, esta pesquisa contribuiu para a reflexão de dois pontos-chaves sobre canais de distribuição: (1) a forma de como as empresas vêm avaliando os seus canais;(2) a importância da prática de gerenciamento de canais como unidades negociais da empresa, com estratégias próprias e instrumentos de medição apropriados. Palavras-chaves: Canais de distribuição; Indicadores de desempenhochave (KPI); Supermercados. XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 1.Introdução É incipiente no mercado atual a percepção de que o nível de serviço logístico é responsável por grande parte da agregação de valor ao cliente, mais do que as medidas tradicionais adotadas pelo Marketing – relativas a produto, preço e promoção. A integração estratégica da interface funcional Marketing/Logística e a adoção de medidas de gerenciamento de canais de distribuição ainda são realizadas de forma tímida pelas empresas (CHRISTOPHER, 1999). Esse não gerenciamento discriminado dos canais dificulta o processo de sinergia e cooperação entre os seus membros (fabricantes, distribuidores, atacadistas, varejistas, etc.), compromete o nível de serviço ao consumidor final, podendo assim, desencadear outros problemas, tais como miopia de marketing, elevação dos custos da cadeia, ineficiência do canal, desalinhamento estratégico, redução da base de clientes em longo prazo, entre outros. Em vista disso, este trabalho avalia a relação entre estrutura técnica-gerencial nos canais de distribuição e o nível de serviço aos clientes (membros dos canais), planejamento e prática de promoções comerciais de um fornecedor de lubrificantes. A pesquisa foi realizada, através de uma metodologia de estudo de caso, junto a 2 canais de distribuição do fornecedor. Os objetivos específicos do trabalho visam ressaltar a importância da logística dentro do composto dos “4 Ps” de Marketing, e sua relação com o nível de serviço ao cliente. Além de buscar, compreender os aspectos de relacionamento entre os membros dos canais de distribuição que mais contribuem para o melhor desempenho do canal. E enfatizar a importância do gerenciamento dos canais de distribuição, através de ferramentas de indicadores de desempenho. 2.Referencial teórico O tradicional “4 Ps” de Marketing afirma que uma empresa para atrair e reter clientes necessita investir em produto, preço, promoção e praça. Todavia, os clientes atuais estão cada vez mais sensíveis ao nível de serviço oferecido do que aos meros aspectos do produto, menor preço, ou fidelidade à marca da empresa. Ainda que haja clientes que comprem pelo menor preço, um alto nível de serviço é preponderante no processo de seleção de fornecedores e de formação de parcerias. Para Christopher (1999, pg. 26), “a única opção para evitar a concorrência de preços é concentrar-se em aumento de valor ao cliente”. Na visão moderna da Logística empresarial, esta área é o fator–chave no processo de retenção de clientes. Uma vez que o Marketing os atrai, cabe a logística a tarefa de mantê-los fiéis à organização, através de um produto sempre entregue dentro do prazo, sob todas as especificações atendidas corretamente. Sendo assim, a logística é quem, de fato, agrega valor ao serviço, pois o Marketing planeja, mas é a Logística quem concretiza. Novaes (2004, pg. 8), afirma “a Logística Moderna agrega valor de lugar, tempo, qualidade e informação ao serviço prestado”, elementos estes, essenciais para o quebra-cabeça de serviço ao cliente, como se vê na fig. 1. O Marketing, por sua vez, também apresenta uma vertente moderna e adaptada à realidade do mercado atual. Para ele, aos “4 Ps” deve-se adicionar a atividade de fidelizar clientes em longo prazo. Essa visão chama-se “Marketing de Relacionamento”, cuja missão é estabelecer relacionamentos duradouros e lucrativos com os clientes. 2 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 Christopher (1999, pg. 47) ressalta “o Marketing de relacionamento preocupa-se com a qualidade da participação de mercado, e não apenas com a posição em relação a outras empresas”. Em outras palavras, preocupa-se com a minimização do abandono da clientela e com a construção de parcerias duradouras com clientes. 2.1.O desempenho do canal como peça-chave do quebra-cabeça Compreendendo que a integração funcional Marketing/Logística é fundamental para alavancar a vantagem competitiva, evidencia-se que o principal elo desta integração são os canais de distribuição. Simões (1983, pg. 253) conceitua este canal como “o caminho percorrido pelo produto à medida que troca de propriedade, acumulando serviços e utilidades na sua movimentação entre a produção e o consumo”. Embora os canais de distribuição constituam elemento importante para que a empresa alcance seus clientes e, portanto, mereça maior destaque – pois o seu desempenho determina o nível de serviço ao cliente – observa-se que ferramentas voltadas ao gerenciamento de canais são pouco utilizadas na prática (CHRISTOPHER, 1999). Isso pode implicar em perda de eficiência por parte do fornecedor, dado que informações estratégicas sobre as necessidades dos clientes poderão não ser identificadas e atendidas. Nesse sentido, torna-se importante estudar os elementos que compõem o canal de distribuição, a fim de compreender suas respectivas relações e influencias no nível de serviço. Lambert et al. (1998, pg. 87), ressalta “tanto o fluxo físico de produtos (canais de logística), quanto a troca formal de propriedade (canais de transações) devem ocorrer com eficácia para que os canais de distribuição sejam bem-sucedidos”. Conforme esse autor, a estrutura do canal afeta: “(1) o controle sobre o desempenho das funções; (2) a velocidade de entrega e comunicação e; (3) o custo das operações”. Portanto, a peça-chave do quebra-cabeça – um alto nível de desempenho junto aos consumidores - deriva de aspectos estruturais e de gerenciamento dos canais de distribuição. Figura 1 - Quebra-cabeça do serviço ao cliente Fonte: o autor De acordo com a fig.1, os componentes estruturais do canal (tipo de distribuição, de 3 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 transação, número de intermediários, etc.) têm influencia sobre os componentes de gerenciamento (comunicação, controle e relacionamento entre os membros do canal). A natureza do canal tem influência direta sobre o seu gerenciamento, o qual por sua vez, influencia no desempenho geral junto aos consumidores. Dessa forma, quando se obtém um nível de serviço ao cliente não satisfatório é necessário avaliar o canal para identificar se há necessidade de reestruturação ou de um melhor gerenciamento. Um ponto crucial no desempenho destes diz respeito ao relacionamento entre os membros que o compõem, o qual constitui o foco deste artigo. 2.2.O Relacionamento entre os membros dos canais de distribuição As relações comerciais tradicionais, baseadas na interface compra-venda entre fornecedores e clientes encontram-se inadequadas a canais de distribuição atuais, dado que estes são fluidos, dinâmicos e voltados para o consumidor (BLACKWELL, 2001). Nesse sentido, medidas de integração e parceria entre agentes comerciais passam a ser o principal indicador para avaliar o desempenho dos canais, já que, para se obter a vantagem competitiva, é indispensável obter a “vantagem colaborativa” entre as empresas de um mesmo canal de distribuição (CHEN et al., 2004). No entanto, a maioria das empresas desconhece sistematicamente o grau de colaboração que há com seus agentes comerciais, ou não tem interesse no assunto, apesar de alguns pesquisadores já terem identificado as principais variáveis que favorecem a “vantagem colaborativa”, sendo elas: a confiança, o comprometimento, a interdependência, o poder, a cooperação, a comunicação, a adaptação, vínculos sociais, e, envolvimento, entre outros (DWYER et al., 1987) A baixa troca de informações e a falta de confiança em disponibilizar as informações para o parceiro, talvez sejam os fatores que determinam o resultado da relação. O baixo índice obtido no parâmetro que representa as ações comprova que o caminho de colaboração que está sendo desenvolvido pelos parceiros, não está levando aos resultados esperados (ALCANTARA e PIGATTO, 2007). Christopher e Lee (2001, pg.18) afirmam“as empresas tendem a concentrar-se nos elementos tangíveis tradicionais da cadeia; e falham para reconhecer os efeitos prejudiciais que a falta de confiança entre os usuários da cadeia podem ter”. Vale ressaltar que: [...] embora seja difícil quantificar precisamente, o fator confiança pode ter consideráveis impactos nos níveis de estoque e custos operacionais, e um dos principais direcionadores para aumentar a confiança é a informação precisa e oportuna, possibilitando aos parceiros comerciais uma transparente visibilidade e controle ao longo da cadeia de suprimentos [...] (CHRISTOPHER e LEE, 2001). Segundo Pressey e Mathews (2000, pg.7), “é clara a falta de consenso sobre quais deveriam ser as variáveis presentes em um relacionamento comercial que o caracterizasse como colaborativo”. Todas essas dificuldades, portanto, podem ser decorrente da incipiência de pesquisas referentes a ativos intangíveis, como colaboração e parceria. 2.3.A estrutura dos canais de distribuição A estrutura dos canais de distribuição está relacionada a decisões estratégicas sobre como os produtos chegarão ao consumidor final, partindo dos produtores, com maior grau de eficiência em custos e nível de serviço. Essas decisões envolvem: (1) a extensão ou diretividade do canal; (2) a intensidade da distribuição; (3) os tipos de intermediários; e (4) o número de 4 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 canais distintos que coexistem no mercado (COUGHLAN et al., 2002). Segundo Consoli et al. (2006, apud COUGHLAN et al., 2002): [...] a extensão dos canais, ou seja, o número de agentes envolvidos desde o produtor até o usuário final pode ser explicada com a estrutura de adiamento-especulação de Bucklin (1965), que baseia-se no risco, incerteza e custos envolvidos na facilitação das trocas, melhorando assim o entendimento das condições em que a presença de canais diretos ou indiretos deverá prevalecer [...] A intensidade da distribuição, por sua vez, representa a decisão sobre quantos tipos de certos parceiros de canal devem se envolver em um mercado (Consoli et al., 2006, apud COUGHLAN et al., 2002, p.4). Estas, segundo Simões (1983), são: [...] (1) distribuição intensiva - quando o produto é vendido para o maior número possível de intermediários; (2) distribuição exclusiva - quando um único varejista ou atacadista recebe uma franquia para vender o produto em uma limitada área geográfica; (3) distribuição seletiva - quando se negocia com um número limitado de atacadistas/ varejistas, mas não a ponto de uma negociação exclusiva [...] De acordo com Simões (1983, pg.32), “os tipos de intermediários podem variar de acordo com o mix de produtos e nicho de mercado”, por exemplo, atacadistas podem ser gerais, de linha ou de especialidade; distribuidores podem ser exclusivos, autorizados, etc. e varejistas podem ser lojas de departamento, lojas de conveniência, supermercados, empórios, etc. 3.Estudo de caso A empresa em estudo está atuando no Brasil e toda a América Latina, mas pertence a uma holding internacional. Ela é uma das mais importantes companhias de fluidos e lubrificantes no Brasil e dispõe de linhas completas de lubrificantes para motores a gasolina/álcool, para motores a diesel, para transmissões, além de graxas, lubrificantes industriais, fluidos e produtos especiais. No rol dos principais clientes da empresa estão: montadoras de automóveis, concessionárias de veículos, atacadistas, distribuidores, varejistas, etc. Sendo que os grupos de clientes que proporcionam o maior faturamento à empresa são as concessionárias/montadoras e os atacadistas/distribuidores, os quais constituem a amostra analisada neste trabalho. Todas as concessionárias usam os produtos da lubrificantes, e os automóveis e caminhões do grupo das montadoras recebem o primeiro enchimento nas fábricas com produtos da empresa, prevalecendo o abastecimento dos produtos originais no prazo de garantia. 5 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 Figura 2 - Canais de distribuição da empresa Fonte: o autor No canal das concessionárias o principal atendimento é feito nas próprias concessionárias (serviços de auto-atendimento, revisão, trocas de óleo, etc.), sendo que, 20% destas atendem também o varejo (oficinas, postos de combustível, hipermercados, etc.), através de vendedores próprios e telemarketing (fig.2). O canal atacadista tem papel estratégico para a empresa, pois constitui o elo entre a indústria e o pequeno e médio varejo. Este canal tem importante representatividade pois trabalha com um amplo mix de produtos, e atende clientes que tem dificuldade de documentação, de pagamento, etc. Além disso, o canal atacadista também atende locais mais distantes, os quais são inviáveis para o atendimento pela própria empresa. Outra característica desse canal é que os principais atacadistas trabalham com produtos multi marcas, ou seja, com produtos de várias empresas, diferentemente do canal concessionária, que tem natureza exclusiva. 3.1 - Metodologia da pesquisa Quanto à natureza do trabalho, este pode ser classificado como pesquisa aplicada. Menezes e Silva (2001, pg 21) afirmam que “a pesquisa aplicada objetiva gerar conhecimentos para a prática dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais.” Do ponto de vista de seus objetivos, trata-se de uma pesquisa exploratória, pois “visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses (GIL, 2001). Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas, etc. Assume, em geral, as formas de Pesquisas Bibliográficas e Estudos de Caso”. O procedimento metodológico pode ser descrito em 3 etapas básicas, quais sejam: Pesquisa bibliográfica para seleção dos indicadores de desempenho apropriados para a avaliação do desempenho de canais; Obtenção dos indicadores na empresa; Análise da influência da estrutura e do desempenho dos canais sobre o resultado das promoções (análise dos indicadores). Os indicadores selecionados são, em sua maioria, propostos por Lambert et al. (1999) e Christopher (1999), na área de canais de distribuição. Estes indicadores, por sua vez, são de natureza quali-quantitativa, a fim de que os aspectos de intangibilidade dos canais também possam ser contemplados. A pesquisa bibliográfica abordou os autores com maior relevância na área de canais de distribuição, dentre os pesquisados destacam-se os trabalhos sobre indicadores de desempenho de canais de Lambert e Dornier (1999), como mostram os quadros I e II. Exemplos de indicadores Nível de coordenação do canal Relações com grupo de consumidores Nível de cooperação Disponibilidade de informação sobre: Inventário físico; características de produto; estrutura de determinação de preço; dados promocionais; condições de mercado; serviços disponíveis e Nível de conflito Nível de desenvolvimento de liderança 6 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 Nível de comprometimento/compromisso mudanças organizacionais. Nível de poder desenvolvido local Nível de flexibilidade em mudanças funcionais Assimilação de tecnologia nova Fonte: Adaptado de Lambert et al., (1999) Extensão de rotinização de tarefas Extensão de competição entre marcas Inovação na distribuição Quadro I - Medidas qualitativas de desempenho do canal Foram selecionados alguns desses indicadores para serem aplicados na empresa. O critério de seleção foi à disponibilidade de dados e informações na mesma, ressaltando-se que o foco desta pesquisa é medição e avaliação do nível de relacionamento entre os membros do canal de distribuição, bem como a estrutura do canal, o que resulta no nível de serviço oferecido ao cliente, como já foi explicado anteriormente. A aplicação dos indicadores foi realizada através de questionários (em anexo), sendo respondidas pelo gerente de Marketing da empresa. Tais indicadores coletados são referentes à estrutura e gerenciamentos dos canais (tabela 1 e quadro III, respectivamente). Exemplos de Indicadores Custo total de distribuição Número e % de novos distribuidores Custos associados à reposição de estoques Número de novos mercados conquistados % de unidades fora de estoque Precisão de previsão de vendas % de estoque obsoleto Capacidade de está nivelado com novas tecnologias de transmissão de dados Nível de serviço ao cliente por produto Tamanho dos pedidos % de volume de reclamações Nível de serviço ao cliente por segmento de mercado Fonte: Adaptado de Lambert et al., (1999) Quadro II - Medidas quantitativas de desempenho do canal 4- Resultados Os indicadores estruturais dos canais da empresa evidenciam dois canais de naturezas distintas: (1) canal concessionárias - com sistema de distribuição exclusivo, canais híbridos, menor mix de produtos, marcas e clientes. (2) canal atacadista - com sistema de distribuição intensivo, expressivo números de clientes, marcas e alto mix. Indicador Número de intermediários Sistema de distribuição Tipos de cliente Mix de produtos Marcas Número Fonte: o autor Concessionárias/montadoras 2 Exclusivo Concessionárias e varejistas 79 5 372 Atacadistas/distribuidores 3 Intensivo Atacadistas especialistas; 297 14 Atacadistas (500), distribuidores (3) Tabela 1 - Indicadores estruturais dos canais de distribuição Pode-se notar, que a estrutura do canal condiciona fortemente a forma de gerenciamento junto aos clientes. Pois como se observa no quadro III, a empresa estabelece uma relação mais 7 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 estreita no canal concessionárias, convocando este parceiro para o desenvolvimento de estratégias de ação, como elaboração de promoções, pesquisa e desenvolvimento (P&D) e definição de objetivos e metas de venda. Isso se reflete, nos números mostrados no quadro IV, onde os valores dos objetivos e estratégias das promoções, definidos pela empresa, estão mais próximos da realidade. De forma geral, observa-se no canal concessionárias uma consolidação de parcerias e uma maior motivação dos funcionários das concessionárias, ou seja, a empresa tem o canal concessionária como uma própria extensão sua. Ao contrário, no outro canal, os objetivos das promoções visam apenas ganhar fatias de mercado, através do alto volume de vendas e mix de produtos, caracterizando uma relação baseada em transações. Com relação ao fluxo de informação nos canais, bem como as políticas de previsão de demanda, não há grandes diferenças nos dois canais quando se avalia as tecnologias usadas. Não ocorre uso de ferramentas modernas que venham a favorecer um gerenciamento de estoques, ou troca de dados e informações de processamentos de pedidos em tempo real. Apesar disto, o tipo de contrato exclusivo e a freqüência de reuniões mais intensiva favorecem a uma comunicação mais estreita junto ao canal concessionária, dado que compras freqüentes e sob contratos prolongados contribuem para estudos de previsão de demanda mais eficazes. Isto explica a maior rentabilidade neste canal (tabela 2). Indicadores Concessionárias/montadoras Atacadista/distribuidores Contratos Contratos exclusivos e de longo prazo Não há contratos, as compras ocorrem quando há necessidade. Promoções São definidas em conjunto pela empresa e clientes Fornecedor não consulta o cliente perante a concepção das promoções São definidos somente com os clientes classe A Semestral ou anual Objetivos e metas de venda Freqüência de reuniões Pesquisa e desenvolvimento P&D Tecnologia da informação Política de avaliação das promoções Rentabilidade das promoções no canal Volume São definidos pessoalmente junto às concessionárias Mensal ou trimestral Realizado através de parcerias formalizadas Realizadas informalmente Extranet Extranet É avaliado somente através do desempenho das vendas É avaliado somente através do desempenho das vendas 9,1 2,9 Alto volume para produtos “top de linha”, e baixo para baixo valor Alto volume para produtos de baixo valor, e baixo para os “top de linha”. Fonte: O autor Quadro III- Indicadores gerenciais dos canais de distribuição Promoção Canal Objetivos Estratégias 8 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 AeB CONC. MONT. -Valorizar aqueles - Premiação com bônus; profissionais que mais se - Contrato de exclusividade; empenham na venda dos -Participação estratégica na concepção do projeto produtos da empresa nas dos motores dos carros lançados mundialmente; concessionárias; -Fornecimento de lubrificantes específicos para -Reforçar a parceria. os novos modelos de automóveis. -Aumentar o market share com captura de volume; C e D Atacadista/ - Disponibilizar um alto Distribuidor grau de mix de produtos. Fonte: O autor Incrementar as vendas e mix de produtos com maior rentabilidade nos pontos de vendas foco da promoção; Relacionamento comercial. Quadro IV – Promoções comerciais nos canais concessionárias e atacadistas Promoção A B C D Fonte: o autor Margem de contribuição Desempenho em relação a: Canal Ano anterior Budgeti Objetivos 34% 11% 4% Concessionária 41% 18% (1%) 2% Atacadista/ 55% 0% distribuidor 20% (34%) (54%) Tabela 2 – Desempenho financeiro das promoções Como afirma Chopra (2003) esta maior aproximação permite a redução do efeito chicote, bem como, dos custos de transação e de processamentos de pedidos, decorrente da rotinização de tarefas. Vale à pena ressaltar que o uso de tecnologia de informação, por si só, não é determinante ou não indica boa comunicação, pois esta está intimamente relacionada a confiança, tipos de relações contratuais, alinhamento estratégico, entre outros. Assim, as promoções do canal concessionárias são mais rentáveis, e tendem a continuar sendo. 5-Conclusões Nesta pesquisa, observou-se que o desempenho das promoções no canal concessionárias é melhor que no canal atacadista em virtude do tipo de relacionamento existente entre os seus membros: o primeiro enfatiza um tipo de relacionamento baseado em maior colaboração e participação entre as empresas; o segundo enfatiza uma relação transacional focada em aumento de vendas. Conforme destaca a literatura de Christopher (1999), a vantagem competitiva no mercado pode ser alcançada por meio de uma melhor gestão da cadeia, ou neste caso, de um melhor gerenciamento do canal de distribuição . É através de uma gestão baseada na confiança mútua e colaboração entre as organizações, com troca de informação, que melhores previsões, uma melhor definição das promoções e menores custos logísticos podem ser alcançados. Há uma tendência que as empresas busquem relacionamentos sustentáveis e duradouros entre si. 9 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 Uma gestão adequada de canais de distribuição não deve estar sustentada apenas em desempenho financeiro, mas também em aspectos como conflitos, comunicação, nível de satisfação, dispor de maior flexibilidade, de atendimento segmentado, etc., contribui para o atendimento das expectativas dos membros dos canais e consumidores, favorecendo ao processo de retenção destes e formação de parcerias em longo prazo. Entretanto, o nível de serviço logístico dos canais analisados não foi identificado neste trabalho, pois a empresa não possui indicadores dessa natureza, tornando-se isso, uma limitação desta pesquisa. Apesar de não se ter avaliado o desempenho usando indicadores associados os custos logísticos, os números que mostram a variação entre os volumes previstos e comercializados para cada promoção permitem afirmar que os custos logísticos serão maiores no canal atacadistas, tendo em vista os custos de manter estoques mais altos ou atender pedidos de emergência. Dessa forma, é importante que os fornecedores no canal entendam quais são as reais necessidades e problemas enfrentados pelos intermediários de forma direcionada a cada tipo de canal. Existem medidas gerenciais que facilitam essa gestão. Megido e Szulcsewski (2002) afirmam que uma dela é o trade marketing. Segundo esses autores “o objetivo do trade marketing é encontrar meios para que produtores e seus canais tirem o máximo partido de um acordo de colaboração”. Exemplos de ações do trade marketing são: incremento da cadeia de valor cliente/consumidor; adequação do mix de produtos para cada loja e demanda de consumidor; suporte na área de vendas com informações sobre tendências de mercado; análise da implantação e dos resultados das ações promocionais no ponto-de-venda; atuar no gerenciamento de categorias, etc. Finaliza-se ressaltando a importância de pesquisas sobre técnicas de gestão de canais de distribuição em vista da tamanha dinamicidade dos canais de distribuição e grande importância da sua gestão para a melhoria do desempenho das empresas no mercado atual. Referências ALCANTARA, R.; PIGATTO, G. Relacionamento colaborativo no canal de distribuição: uma matriz para análise. São Carlos: Revista Gestão & Produção, jan-abr/2007. BLACKWELL, R. D. Da criação ao mercado: reinventando a cadeia de suprimento do varejo. São Paulo: Campus, 2001, 264p. CHEN, I. J.; PAULRAJ, A.; LADO, A. A. 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R1 – Contratos de longo prazo (acima de 1 ano). R2 – Contratos de médio prazo (de 6 meses a 1 ano). R3 – Não há contratos (as compras são realizadas uma a uma, quando há necessidade de produtos). P2 – A Empresa convida o cliente para participar do processo de elaboração de suas respectivas promoções? R1 – Todas as promoções são elaboradas em conjunto R2 – A Empresa define como vão ser realizadas as promoções, com base em consultas aos seus clientes. R3 – A definição das promoções é feita pela Empresa sem interferência dos clientes P3 – Qual a freqüência das reuniões com o cliente, a fim de propor mudanças, receber feedback, alinhar objetivos, etc. ? R1 – Mensal ou Trimestral. Canal CONC/ A/D MONT. x x CONC/ MONT. A/D x x CONC/ MONT. x A/D 11 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 R2 – Semestral ou anual. R3 – Não existem reuniões. x Quadro V – Indicador 1 : Nível de comprometimento/ integração Descrição Avalia o nível de integração e agilidade no processo de trocas de informação entre a empresa e seus canais P4 – Quais são os meios de comunicação usados entre a Empresa e os CONC/ A/D clientes? MONT. R1 – Portal corporativo ou intranet/extranet x x R2 – EDI/ e-mail R3 – Telefone e fax P5 – A Empresa tem disponibilidade de informação sobre as vendas e CONC/ A/D estoque do cliente? MONT. R1 – Sim, e isso é em tempo real. R2 – Sim, mas isso deve ser solicitado. x x R3 – Não. P6 – Como é realizada a previsão de vendas da Empresa? CONC/ A/D MONT. R1 – O cliente disponibiliza as informações sobre as vendas e a Empresa é responsável pela reposição dos estoques. R2 – A Empresa realiza seu estudo de previsão de vendas, com base no x x histórico de compras do cliente. R3 – A Empresa não realiza previsão de vendas para cada grupo de cliente devido a dificuldades em obter as informações necessárias e limita-se a atender os pedidos em carteira R4 – Devido a grande variação de volume dos pedidos neste canal, resultados das promoções, não há como realizar previsões P7 – A Empresa utiliza as informações, sugestões ou críticas, apresentadas CONC/ A/D pelos clientes sobre seus produtos, para definir novos produtos ou MONT. modificar aqueles comercializados (características físicas, forma e tamanho de embalagens, etc)? R1 – Sim, inclusive para este canal há produtos personalizados x x R2 – Não, porque nunca recebeu tal tipo de sugestão do cliente, mas se caso sim, ela faria isso. R3 – Não, apesar de receber feedback do cliente. Quadro VI– Indicador 2: Grau de disponibilidade de informação Descrição Avalia o grau de organização na execução dos processos/ tarefas da empresa para o atendimento de cada tipo de canal P8 - A Empresa tem formalizada alguma estrutura padrão de execução de CONC/ A/D tarefas/procedimentos para o atendimento dos pedidos do cliente? MONT. R1- Sim, e isso é aplicado na prática. x x R2- Sim, mas isso não se aplica na prática. R3 - Não existe nada formalizado. P9 – A empresa Empresa possui um canal logístico reverso de produtos e (ou) de informação (feedback) para o atendimento do cliente? R1 – Sim. E este foi elaborado de forma planejada para o cliente. R2 – Sim. Mas este não está bem estruturado, pois não foi devidamente planejado para o cliente. R3 – Não existe canal reverso para o cliente. x x Quadro VII- Indicador 3 : Extensão de rotinização de processos/tarefas Avalia se a empresa faz uso de indicadores de medição de 12 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 Descrição desempenho/satisfação de seus canais. E se caso sim, em que instância isso ocorre para cada tipo de canal P10 – A Empresa possui instrumentos de coleta /medição do desempenho CONC/ A/D de seus canais de distribuição? MONT. R1 – Sim. E os indicadores envolvem análise do desempenho dos fluxos logísticos e de desempenho das vendas. R2 – Sim. Mas os indicadores somente avaliam o desempenho das vendas. x x R3 – Não existe estudo de medição de desempenho dos canais. P11 – Como a Empresa avalia o nível de desempenho das promoções de CONC/ A/D cada canal? MONT. R1 – Através de contato direto com o cliente, a fim de saber o grau de satisfação/repercussão, bem como, o próprio desempenho das vendas. R2 – Somente através do desempenho das vendas. x x R3 – A empresa não avalia o desempenho das promoções. P12 – A empresa mede o alinhamento estratégico das promoções em relação aos dos canais? R1- Sim. R2- Não, pois a empresa não tem uma estratégia bem definida em relação as promoções. R3- Não, pois a empresa não tem uma estratégia bem definida em relação x x a canais de distribuição. P13 – Como a Empresa avalia o nível de satisfação dos clientes. CONC/ A/D MONT. R1 – Através de contato direto com o cliente, sob iniciativa da Empresa, e x x de forma programada. R2 – Através do número de reclamações do cliente, por meio SAC, entre outras formas de atendimento. R3 – A empresa não avalia a satisfação do cliente. Quadro VIII - Indicador 4 : Medição de desempenho/satisfação i Budget é um Orçamento Empresarial. Antes de iniciar o ano, a empresa analisará fatores econômicos, mercado, capacidade de produção etc., e definirá qual o volume de vendas é previsível que se atinja. Com base neste volume de vendas a empresa orçará todos os custos e demais despesas. Clientes devem ser entendidos como os canais de distribuição. No caso do canal “CONC/MONT.”, os clientes são as concessionárias e montadoras. E no canal “A/D”, os clientes são os atacadistas e distribuidores. ii 13