ANEMIA FALCIFORME: DA ETIOLOGIA À CURA Mirela Feistauer

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II Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG
http://ojs.fsg.br/index.php/pesquisaextensao
ISSN 2318-8014
ANEMIA FALCIFORME: DA ETIOLOGIA À CURA
Mirela Feistauera, Aline de Souza Norab, Tiago Capellatic, Julia Poetad
a
Graduanda em Biomedicina (FSG), Faculdade da Serra Gaúcha (FSG); [email protected]
b
Graduanda em Biomedicina (FSG), Faculdade da Serra Gaúcha (FSG); [email protected]
c
Graduando em Biomedicina (FSG), Faculdade da Serra Gaúcha (FSG); [email protected]
d
Mestre em Ciências Médicas; Doutoranda pela UFRGS; Faculdade da Serra Gaúcha (FSG); [email protected]
Informações de Submissão
Mirela Feistauer: Rua Os Dezoito do
Forte, 2366 - Caxias do Sul - RS - CEP:
95020-472
Palavras-chave: Anemia Falciforme.
Diagnóstico. Tratamento.
Resumo
A anemia falciforme é a enfermidade hereditária mais frequente do
mundo, onde a população negroide é a mais acometida pela doença.
Apesarde causar fortes dores vaso-oclusivas, a maior causa de morte
destes pacientes são as infecções virais e bacterianas. O diagnóstico
se dá a partir do sexto mês de vida, pois o recém-nascido apresenta
altos níveis de hemoglobina fetal. Para o tratamento, utilizam-se
medicações, sendo a mais utilizada a hidroxiuréia e como tratamento
curativo existe o transplante de medula óssea, mas deve ser avaliado
risco-benefício para o paciente. A partir de uma revisão
bibliográfica, abordamos desde a etiologia até a possível cura da
doença.
1 INTRODUÇÃO
As hemoglobinopatias constituem uma das principais e mais frequentes doenças
genéticas que acometem seres humanos - estima-se que aproximadamente 7% da população
mundial seja acometida por transtornos das hemoglobinas. Dentre elas, a anemia falciforme
representa a enfermidade hereditária mais prevalente do mundo. Dados do Ministério da
Saúde do Brasil estimam a existência de mais de dois milhões de portadores do traço
falciforme. A cada ano nascem cerca de 700 a 1000 casos novos de indivíduos com esta
doença.
A hemoglobina S é uma proteína mutante cuja principal característica é a de sofrer
polimerização sobre baixas tensões de oxigênio. A deformação mais conhecida é provocada
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por feixes de polímeros organizando-se mais ou menos paralelamente, dando à hemácia uma
forma alongada conhecida por "hemácia em foice” ou drepanócito(GUIMARAES,
2009).Entre as doenças falciformes, esta é a forma que apresenta maior gravidade clínica e
hematológica além de ser a mais prevalente (SILVA, 2006). Com episódios repetidos de
falcização, os eritrócitos tornam-se cada vez mais desidratados, densos e rígidos
(GUIMARAES, 2009).
Os elevados índices de indivíduos com esta doença e a alta porcentagem de
mortalidade inspiraram nosso trabalho. Nossa busca, através da revisão da literatura e
publicações atuais, é por informações sobre os mecanismos da doença e sua relação com
infecções e inflamações. Além de formas de prevenção, diagnóstico, tratamento e cura.
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 Alterações Moleculares
A alteração molecular primária na anemia falciforme é representada pela substituição
de uma base no códon 6 do gene da globina beta, com a substituição de uma adenina por
timina (GAG → GTG) (SILVA, 2009). Esta mutação resulta na permuta do resíduo glutamil
pelo valil (β6Glu →Val) provocando a polimerização das moléculas dessa hemoglobina
anormal (HbS) quando desoxigenadas (BANDEIRA, 1999).
A doença falciforme decorre de uma alteração de um gene estrutural levando à
produção de uma hemoglobina anômala (FERRAZ, 2007). Genótipos que produzem uma
menor concentração de HbS ou uma elevação de HbF (que não interage com as moléculas de
HbS) dificultam a polimerização e a falcização, reduzindo a gravidade e intensidade das
manifestações clínicas (ZAGO, 2007).
Os eventos citados constituem a base para o encurtamento da vida média dos
eritrócitos, com consequente anemia hemolítica, e na oclusão da microcirculação com
isquemia e o infarto tecidual, resultando em lesão orgânica crônica e em crises dolorosas
agudas, que são as manifestações mais típicas das doenças falciformes.
2.2 Alterações Fisiopatológicas
SegundoZago et al(2007) as principais alterações fisiopatológicas da doença
falciforme são:
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a. Nível molecular e celular: mutação da hemoglobina, polimerização da Hb
desoxigenada, falcização e alterações de membrana.
b. Nível tecidos e órgãos: adesão celular ao endotélio, hipóxia local, isquemia,
inflamação, lesão microvascular e ativação da coagulação.
c. Nível Organismo: dor, anemia hemolítica e insuficiência de múltiplos órgãos.
Os pacientes afetados costumam apresentar anemia já na infância (níveis de
hemoglobina de 6 a 10 g/dL), atraso de crescimento, esplenomegalia e infecções repetidas. As
crises também ocorrem em pacientes maiores, e decorrem da obstrução vascular e de infartos
dolorosos em vários tecidos, incluindo ossos, músculos, baço e pulmões.
2.3 Diagnóstico
O recém-nascido com doença falciforme é, geralmente, assintomático devido ao efeito
protetor da hemoglobina fetal, que, neste período da vida, representa cerca de 80% do total da
hemoglobina. Por este motivo, os testes de falcização (pesquisa de drepanócitos) e os testes de
solubilidade não se aplicam durante os primeiros meses de vida (FERRAZ, 2007). A triagem
neonatal (TN) é uma ação preventiva que permite detectar diversas patologias e realiza-se por
meio do teste do pezinho em população com idade de 0 a 30 dias (preferencialmente entre o
2º e o 7º dia de vida) (MARQUES, 2012.).
O diagnóstico laboratorial é realizado após o sexto mês de vida, devido à grande
produção de hemoglobina fetal, considerada protetora contra a falcização. Exames como
hemograma completo com pesquisa de drepanócitos, eletroforese de hemoglobina, dosagens
de hemoglobina A e F, cromatografia líquida de alta performance (HPLC) e estudo genético
dos pais auxiliam para a detecção desta doença (FERRAZ, 2007).
Em doentes falciformes, testes de função hepática podem apresentar alterações agudas
importantes. Elevação de bilirrubinas, LDH e AST podem ser atribuídas ao processo de
hemólise que ocorre nos doentes falciformes. A elevação da fosfatase alcalina pode ser de
origem óssea e não hepática e a elevação da GGT pode estar associada ao uso de álcool e
drogas. Desta forma, níveis plasmáticos de ALT são os melhores indicadores laboratoriais de
lesão hepática crônica em doentes falciformes (SAAD, 2007).
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2.4 Infecções e Inflamações
Pacientes com anemia falciforme estão expostos à infecções virais e bacterianas. O
alto índice de morbimortalidade nestas situações deve-se, principalmente à septicemia que se
torna um risco permanente devido à redução ou ausência de função esplênica, principalmente
nos 6 primeiros anos de vida(BRAGA, 2007). A mortalidade na doença falciforme se dá
principalmente por infecção bacteriana ou por sequestro esplênico, justificando a importância
do diagnóstico precoce (FERRAZ, 2007).
A criança com doença falciforme, além de receber todas as vacinas recomendadas no
calendário de vacinação, requer outras adicionais, como a vacina contra o pneumococo,
meningite e vírus influenza. Além disso, a profilaxia com Penicilina é recomendada,
principalmente até os cinco anos de idade, onde o risco de infecções por agentes bacterianos é
mais elevado (BRAGA, 2007).
As doenças falciformes caracterizam-se por manifestações inflamatórias crônicas. De
fato, parece que a gênese de grande parte das manifestações clínicas dessas doenças liga-se a
três mecanismos inter-relacionados: adesão de eritrócitos, granulócitos, monócitos e plaquetas
ao endotélio vascular; fenômenos inflamatórios crônicos, exacerbados por episódios agudos;
produção de intermediários inflamatórios, como as citocinas. O estado inflamatório crônico
que ocorre nos pacientes com doença falciforme é decorrente de diversos fatores que se
interligam e se retroalimentam, formando um ciclo inflamatório permanente (ZAGO, 2007).
2.5 Tratamento
O único tratamento curativo conhecido hoje é o transplante de células-tronco
hematopoiéticas. O objetivo do transplante em pacientes falciformes é o de restabelecer uma
hematopoese normal, eliminando as obstruções vasculares causadas pelas hemácias falcizadas
e a lesão crônica e recorrente do endotélio vascular (SIMÕES, 2007).
ParaPerioniet al(2007) a curada doença na maioria dos pacientesfalciformes
submetidos ao transplante de células tronco hematopoiéticas (TCTH) comdoador HLA
compatível revela que osbenefícios do procedimento excedem osriscos para pacientes
selecionados.
A hidroxiuréia (HU) foi o único medicamento que, efetivamente, teve impacto na
melhora da qualidade de vida dos pacientes com anemia falciforme, reduzindo o número de
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crises vaso-oclusivas, número de hospitalizações, tempo de internação, além de demonstrar,
de maneira contundente, redução da taxa de mortalidade quando comparada à mesma taxa
grupo de pacientes sem o uso da medicação (CANÇADO, 2009). Vários estudos têm
demonstrado que a concentração elevada de Hb Fetal (Hb F) em pacientes com anemia
falciforme é particularmente útil na proteção contra os eventos de eritrofalcização e vasooclusão, e indicam ser um fator moderador das consequências clínicas deste processo
(SILVA, 2006).
Para controle, devem-se avaliar os níveis de hemoglobina a cada consulta, onde o
paciente deve ter conhecimento dos seus valores médios de hemoglobina, a fim de que sejam
evitadas transfusões desnecessárias. A cada retorno deve-se reavaliar se a profilaxia contra as
infecções através das vacinas e do uso da penicilina está sendo realizada adequadamente
(BRAGA, 2007).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A anemia falciforme é a enfermidade hereditária mais frequente do mundo, onde a
população negroide é a mais acometida pela doença. Apesar de causar fortes dores vasooclusivas, a maior causa de morte destes pacientes são as infecções virais e bacterianas. Para o
tratamento, utilizam-se medicações, sendo a mais utilizada a hidroxiuréia e como tratamento
curativo existe o transplante de medula óssea, mas deve ser avaliada a relação risco-benefício
para o paciente.
Nos artigos analisados, evidenciamos a alta incidência de mortalidade de crianças de 4
a 6 as por septicemia. Os estudos mostram que o uso profilático de penicilina juntamente com
o tratamento com hidroxiuréia é de grande auxílio na prevenção de infecções, aumentando as
chances de sucesso da terapia.
Vários estudos têm demonstrado que a concentração elevada de Hb Fetal (Hb F) em
pacientes com anemia falciforme é particularmente útil na proteção contra os eventos de
eritrofalcização e vaso-oclusão, e indicam ser um fator moderador das consequências clínicas
deste processo (SILVA, 2006).
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