NEMATÓIDES DA BANANEIRA Carlos Eduardo Rossi Instituto Biológico, CP 70, 13001-970 Campinas – SP. E-mail: [email protected] Introdução Nematóides são animais microscópicos, essencialmente aquáticos, usualmente chamados de vermes (designação antiga dada também a minhocas e outros organismos, cuja forma do corpo é longa e delgada). Há espécies que se alimentam de fungos ou de bactérias e, são chamados de nematóides de vida livre. Outros parasitam animais (zooparasitos) ou plantas (fitoparasitos). Os parasitos de plantas vivem no solo ou no interior de estruturas vegetais, tais como: folhas, caules e, principalmente, raízes. Possuem um órgão similar a uma agulha de seringa, o estilete, com o qual introduzem substâncias nas células, digerindo-as e, em seguida, sugando o líquido resultante. É dessa forma que os nematóides se alimentam e também podem “intoxicar” a planta (Thorne, 1961). Os problemas com nematóides na agricultura, fundamentalmente, são fruto do desequilíbrio ocasionado por práticas agrícolas inadequadas, por exemplo, a monocultura. A disponibilidade de alimento favorece o aumento da população de certas espécies de nematóides que podem causar danos e, consequentemente, prejuízos a agricultura. Nunca será atribuída a um só indivíduo a responsabilidade do dano a uma planta. Será preciso um número significativo de parasitos para que isso ocorra. A bananeira, infortunamente, é uma ótima hospedeira de vários importantes nematóides. Os principais são: o nematóide cavernícola (Radopholus similis), o nematóide espiralado (Helicotylenchus multicinctus), o nematóide de lesões (Pratylenchus coffeae), o nematóide de galha (Meloidogyne spp.) e o nematóide reniforme (Rotylenchulus reniformis). Até o presente momento, muitas outras espécies distribuídas por 25 gêneros de importância desconhecida estão associadas à planta. Segundo Zem & Lordello (1983), os nematóides cavernícola e espiralado são considerados fatores limitantes à produção de banana em várias partes do mundo, apresentando oneroso e difícil controle. Quando há pouca infestação, a presença do nematóide será observada a longo prazo, quando as plantas apresentarem redução na longevidade, queda no vigor, diminuição da produção com menor massa nos cachos. Com altas infestações, as plantas não se desenvolvem, as folhas ficam pequenas, o cacho não atinge a massa ideal, o sistema radicular apresenta-se pobre em raízes e as mesmas são curtas permitindo o tombamento da planta ocasionado por ventos fortes ou pela massa do cacho. Nematóide Cavernícola 21 Essa é a espécie mais importante para a cultura. Foi descoberta no Brasil em 1959 pelo Dr. Jair Carvalho do Instituto Biológico (Carvalho, 1959) a partir de mudas oriundas do litoral de São Paulo. Mais de 40 anos após esse relato, ainda há ampla disseminação do parasito para outras regiões produtoras. É um nematóide endoparasito migrador, ou seja, penetra nas raízes da bananeira e migra pelos tecidos radiculares, podendo chegar até o rizoma. O ato de migrar internamente nas raízes ocasiona a desintegração dos tecidos, formando cavidades. Daí o nome comum do nematóide. Os tecidos necrosados, inicialmente de coloração parda e, após a colonização de fungos: enegrecidos, podem coalescer originando extensas necroses. Essa destruição do sistema radicular favorece o tombamento das plantas sob ventos fortes ou pelo peso do cacho. Esses são sintomas indicativos do ataque dessa espécie. Com a evolução desse processo, o parasito pode voltar ao solo a procura de novas plantas hospedeiras ou permanecer em pedaços de rizoma no campo. Sem alimento ele pode sobreviver pouco menos do que seis meses com reservas de seu próprio organismo. À temperatura de 24 º C, o ciclo biológico se completa em 21 dias. Pode haver variação nesse período em decorrência de fatores ligados às plantas hospedeiras ou ao meio. Nematóide Espiralado É a segunda espécie mais importante para a cultura da banana. Onde o nematóide cavernícola não ocorre, esse pode ser considerado o principal nematóide daninho. Tem características biológicas similares ao cavernícola, porém não migra até o rizoma e causa lesões superficiais nas raízes. 4. Nematóide de Lesões Não há muitos estudos específicos para essa espécie. Entretanto, em grande parte das amostras de solo e raízes analisadas, ele está presente. Também, é um endoparasito migrador. Nematóides de Galha É um grupo de nematóides de substancial importância para a agricultura. Contudo, para a cultura da bananeira, eles podem ser considerados como nematóides secundários, diante do nematóide cavernícola, por exemplo. Blake (1969) cita que o nematóide de galhas não consegue estabelecer um local para alimentação, já que essa espécie é sedentária, por causa do tipo de dano que os nematóides migradores causam, ou seja, a destruição das raízes pela migração nos tecidos e infecção por patógenos. Em locais onde predomina altas populações do nematóide de galhas, não ocorrendo outras espécies e, em condições de solo seco ou outros estresses, pode haver algum dano mais significativo. Controle Para controlá-los, a melhor medida é não ter o nematóide na área de cultivo. 22 Para isso, na implantação de um bananal em área nunca cultivada com essa fruteira, amostras de solo devem ser enviadas a um laboratório nematológico para análise e comprovação da isenção do parasito no local. Feito isso, instalar a lavoura com mudas oriundas de cultura de tecidos ou de viveiros idôneos, ou seja, mudas sem nematóides. Pode-se tratar mudas pouco infestadas por um processo chamado descorticamento. Consiste, na retirada de tecidos necrosados com facão. Após isso, a imersão das mudas em solução nematicida, proporciona um bom controle aos nematóides que contaminavam a muda. Por outro lado, constatando-se a ocorrência de nematóides em áreas com bananais já instalados, agrava-se o problema, pois poucas estratégias são disponíveis para efeito “curativo”, além do uso de nematicidas. Nesse caso, o planejamento levando em consideração o item nematóides na reforma do bananal é recomendado. Eliminação de todas as partes da planta na área a ser reformada, como pedaços de raízes, rizomas e implantar culturas não hospedeiras do nematóide (p. ex. para o nematóide cavernícola: mandioca, kudzu, abóbora, siratro, rami, mamona, capim ‘Pangola’, algodão, capim ‘Elefante’, estilosantes, quiabo e crotalária) (Zem & Lordello, 1983) não permitindo o desenvolvimento de outras plantas invasoras por um período mínimo de seis meses são medidas essenciais. No momento do plantio, devese utilizar matéria orgânica na cova e mudas não infestadas. Novas estratégias como injetar pequenas doses de abamectin no pseudocaule (Janson & Rabatin, 1997) e aplicação de agentes de controle microbiano (fungos e bactérias) estão sendo estudadas. Considerações Finais O maior problema no momento na relação nematóides – bananeira é a utilização indevida de produtos fitossanitários. Utilizam-se produtos não registrados e formas de aplicação não recomendadas e devidamente estudadas. Novas pesquisas encontram-se em andamento. Cabe ao bananicultor utilizar o que é recomendado por um engenheiro agrônomo a fim de evitar danos à saúde de trabalhadores, bem como ao meio ambiente. Referências Bibliográficas BLAKE, C.D. Nematode parasites of banana and their control. In: PEACHEY, J.E. Nematodes of tropical crops. St. Albans: CAB, 1969. p.109-132. CARVALHO, J.C. O nematóide cavernícola e seu aparecimento em São Paulo. Biológico, v.25, n.9, p.195-198, 1959. JANSSON, R.K.; RABATIN, S. Curative and residual efficacy of injection applications of avermectins for control of plant-parasitic nematodes on banana. J. Nematol., v.29, n.4, p.695-702, 1997. THORNE, G. Principles of Nematology. New York: McGraw-Hill, 1961. 553p. ZEM, A.C.; LORDELLO, L.G.E. Estudos sobre hospedeiros de Radopholus similis e Helicotylenchus multicinctus. In: Reunião de nematologia, 7., Piracicaba, 1983. Trabalhos apresentados. Publicação Sociedade Brasileira de Nematologia, n.7, p. 175-187, 1983. 23