E.E.F. Mercados Financeiros Fevereiro 2015 Temas em Destaque O programa do BCE - Impacto na dívida pública portuguesa O Banco Central Europeu não surpreendeu pelo anúncio de um programa alargado de compra de activos de longo prazo, incluindo dívida privada e pública, mas pela dimensão do programa. Entre Março de 2014 e Setembro de 2016 (o termo do programa pode ser adiado, dependendo do comportamento da inflação), o BCE irá comprar 60 mil milhões de euros de dívida pública e privada todos os meses, expandindo o seu balanço em cerca de 1.2 biliões de euros. As compras mensais para além de incluírem os actuais Programa de aquisição de activos de longo prazo programas de aquisição de ABS mil milhões de euros e covered bonds, incluem a aquisição de dívida soberana. Programa Total em Portugal Total em % do PIB % do PIB Tendo por base o ritmo de Mensais Total Mensais Total aquisição dos programas de compra de covered bonds e ABS, ABSPP+CBPP3 11.5 230.0 2.3% 0.29 5.75 3.3% desde Outubro e Novembro de Agências Europeias 5.8 110.6 1.1% 0.15 2.76 1.6% 2014, respectivamente – cerca 42.7 810.9 8.1% 1.07 20.27 11.7% de 12 mil milhões de euros por Dívida Pública pelo BCE 3.4 64.9 0.6% 0.09 1.62 0.9% mês – admite-se que o montante das compras mensais de títulos pelos BC Nacionais 39.3 746.0 7.4% 0.98 18.65 10.7% de dívida soberana situar-se-á Total 60.0 1,151.5 11.4% 1.5 28.8 16.6% em torno dos 43 mil milhões Fonte: BCE, calc. BPI de euros. Ou seja, no final do programa as compras de dívida soberana do BCE ascenderão a 811 mil milhões de euros (nível mínimo), representando cerca de 9% do montante de dívida pública emitida por países da zona euro, o que compara com cerca de 15% nos EUA e de 25% no Japão. Com a implementação deste programa, o BCE conseguirá cumprir o seu objectivo de expansão do balanço para um valor em torno dos 3 biliões de euros, equivalente a cerca de Fed BoJ BCE* 29% do PIB da zona euro (nos EUA, o peso dos activos no PIB ronda os 27% e no Japão os 60%). As compras abarcam Dívida pública, detida pelo BC % do PIB 15% 25% 8% um alargado leque de maturidades, que pode ir dos 2 aos 30 Dív.pub. detida pelo BC, % stock div.pub. 13% 17% 9% anos. De acordo com o comunicado do BCE, “as aquisições Activo, % do PIB 27% 60% 29% de títulos de instituições europeias (que constituirão 12% das Nota: * dados estimados para o fim do programa. aquisições adicionais de activos e que serão adquiridos pelos bancos centrais nacionais) estarão sujeitas a partilha de perdas. As restantes aquisições adicionais de activos pelos bancos centrais nacionais não estarão sujeitas a partilha de perdas. O BCE deterá 8% das aquisições adicionais de activos. Tal implica que 20% das aquisições adicionais de activos estarão sujeitas a um regime de partilha de riscos.”1 Ou seja, o grau de mutualização da dívida é reduzido. Admitindo que as aquisições mensais pelos bancos centrais nacionais ascenderão a cerca de 39 mil milhões de euros, temos que em cerca de 93% das compras de dívida emitida pelos estados membros não há partilha de riscos, pelo que eventuais perdas de valor da dívida de um determinado estado-membro, tenderão a reflectir-se negativamente no balanço do banco central nacional e nas contas públicas desse estado. O programa incidirá sobre dívida com classificação de risco na zona denominada de investimento, admitindo, todavia, a elegibilidade da dívida de estados-membros classificados na zona de não-investimento, desde que estes estejam sob programas de assistência financeira, abrindo a porta à aquisição de dívida grega, caso o país acorde um novo programa, e dívida cipriota; e as instituições que venderem os títulos poderão usar a liquidez obtida tanto na compra de outros activos, como na concessão de crédito à economia. As compras de dívida pública não podem superar 33% da dívida de cada país, 25% de cada emissão e serão feitas de acordo com a participação de cada estado-membro no capital do BCE. Não sendo claro qual a prioridade dada a cada um dos limites, admite-se a hipótese mais conservadora, i.e., de que as compras adicionais de dívida pública respeitarão o limite mais baixo das três condições. A implementação de um programa alargado de compra de dívida pública tenderá a ter efeitos positivos na actividade através de diversos canais, na medida em que o aumento da liquidez reforçará a percepção de que as taxas de juros continuarão em níveis reduzidos, aumentando a apetência pela tomada de risco. No curto prazo, é de esperar que o efeito mais positivo se associe à perda de valor do euro face às principais moedas rivais, na medida em que a percepção de que as taxas de juro 1 http://www.ecb.europa.eu/press/pr/date/2015/html/pr150122_1.pt.html 7 E.E.F. Mercados Financeiros Fevereiro 2015 Temas em Destaque O programa do BCE - Impacto na dívida pública portuguesa (cont.) tenderão a manter-se em níveis reduzidos, tornará a moeda única menos atractiva. A depreciação do euro tenderá a favorecer o crescimento, tanto através do aumento das exportações, já que os bens e serviços produzidos na zona euro tornar-se-ão mais competitivos, como através do aumento do preço dos bens importados que limitará a actual tendência de queda dos preços no consumidor e os efeitos de segunda ordem associados, por exemplo, à evolução dos custos laborais, favorecendo um comportamento mais dinâmico da procura. Um outro canal através do qual o programa poderá beneficiar a economia relaciona-se com o esperado efeito riqueza associado à valorização de activos financeiros – preço dos títulos de dívida pública (principalmente nos países periféricos, já que nas economia core o espaço de valorização é muito reduzido), da divida diversa e dos índices bolsistas – contribuindo para a melhoria da confiança dos agentes económicos e gerando maior apetência pela realização de investimentos. Um outro canal de transmissão do quantitative easing prende-se com a capacidade de dinamização do mercado de crédito à economia. Este canal poderá ser aquele onde os efeitos não serão visíveis senão a médio prazo, na medida em que a fragilidade do mercado de crédito reflecte ainda uma fraca apetência pela procura de crédito por parte dos agentes económicos e níveis de endividamento ainda elevados. mil milhões de euros Estado-membro Capital key re-ponderado Compras de dív. Publica de acordo com a capital key Dívida pública total* Dív.Pública com maturidade entre 2-30 anos Alemanha 25.6% 207.6 2,106.1 806.2 França 20.1% 163.0 2,039.2 1,064.2 Itália 17.5% 141.9 2,140.7 1,239.2 Espanha 12.6% 102.2 1,039.0 521.0 Holanda 5.7% 46.2 452.4 260.4 Bélgica 3.5% 28.4 425.4 258.8 Grécia 2.9% 23.5 317.2 54.6 Áustria 2.8% 22.7 286.6 160.0 Portugal 2.5% 20.3 223.2 84.1 Finlândia 1.8% 14.6 121.5 67.0 Irlanda 1.6% 13.0 203.1 93.5 Eslováquia 1.1% 8.9 40.7 24.7 Lituania 0.6% 4.9 14.9 1.2 Eslovénia 0.5% 4.1 30.4 11.6 Letónia 0.4% 3.2 9.7 0.5 Luxemburgo 0.3% 2.4 10.9 3.1 Estónia 0.3% 2.4 1.9 0.0 Chipre 0.2% 1.6 18.6 1.5 Malta 0.1% 0.8 5.6 4.1 Total 100% 810.9 9,487.2 4,655.7 Fonte: Ameco, IGCP, BCE, DB. Nota:* Dívida pública total de acordo com o procedimento dos défices excessivos, inclui dívida transaccionável, não transacionável e empréstimos Evolução do euro vs dólar Expectativas inflacionistas ímplicitas nos swaps 5 Anos (euros) (%) 3.0 1.50 1.45 1.40 1.35 1.30 1.25 1.20 1.15 1.10 1.05 1.00 2.5 Anúncio do QE 2.0 1.5 1.0 0.5 jan-15 jul-14 out-14 jan-14 abr-14 jul-13 out-13 jan-13 abr-13 jul-12 out-12 jan-12 abr-12 jul-11 out-11 jan-11 abr-11 jul-10 out-10 jan-10 abr-10 jan-15 jul-14 out-14 jan-14 abr-14 jul-13 out-13 jan-13 abr-13 jul-12 out-12 jan-12 abr-12 jul-11 out-11 jan-11 abr-11 jul-10 out-10 jan-10 abr-10 0.0 Fonte: Reuters Fonte: Reuters 8 E.E.F. Mercados Financeiros Fevereiro 2015 Temas em Destaque O programa do BCE - Impacto na dívida pública portuguesa (cont.) Evolução da yields do Bund a 10 anos Evolução dos índices boslsistas (%) (Índice) 12,000.00 2.50 10,000.00 2.00 8,000.00 1.50 6,000.00 1.00 4,000.00 2,000.00 0.50 DAX IBEX jan-15 dez-14 nov-14 out-14 set-14 ago-14 jul-14 jun-14 mai-14 abr-14 fev-14 jan-14 jan-15 nov-14 jul-14 set-14 mai-14 jan-14 mar-14 nov-13 jul-13 set-13 mai-13 jan-13 mar-13 nov-12 jul-12 set-12 mai-12 jan-12 mar-12 CAC mar-14 0.00 0.00 PSI20 Fonte: Reuters Fonte: Reuters No caso de Portugal, as compras potenciais ao abrigo deste programa estão limitadas pela participação de Portugal no capital do BCE (2.5%, re-ponderado excluindo países fora da zona euro), ascendendo a cerca de 29 mil milhões de euros, dos quais cerca de 20-25 mil milhões podem ser aplicados na aquisição de dívida pública. Todavia, das declarações de Mario Draghi2 depreende-se que o limite das compras de dívida de cada um dos estados-membro inclui a dívida detida pelo BCE ao abrigo do SMP, que no caso de Portugal ascenderá a 14-15 mme, de acordo com declarações à imprensa de responsáveis do IGCP, reduzindo o montante disponível para 5 mil milhões de euros, equivalente a 6% da dívida elegível para o programa. No entanto, este montante poderá ser superior: a não referência quanto à distribuição das compras entre dívida soberana e dívida diversa, deixa em aberto a possibilidade de que os bancos centrais nacionais possam canalizar o montante de potenciais compras de dívida diversa para a aquisição de dívida pública, elevando, no caso de Portugal, o valor das compras de dívida soberana para cerca de 10 mme. Portugal - Dívida pública no final de 2014 Dívida em euros (mme) Transacionável 133.3 110.0 OT's 92.4 das quais com maturidade entre 2-30 anos 84.1 Limites das compras: 33% da dívida transacionável 36.3 Capital key de Portugal no BCE (2.5%) 20.3 Hipótese: BCE detem 15 mil milhões de euros de dívida publica portuguesa ao abrigo do SMP Montante disponível para o programa 5.3 Fonte: IGCP, BCE, calc. BPI. A dimensão das compras de dívida pública importa, na medida em que quanto maior for a procura maior será o impacto na redução das yields exigidas à dívida pública portuguesa. No entanto, importa ter presente que a evolução dos custos da dívida soberana nacional será também influenciada pelo facto das yields dos principais títulos europeus se encontrarem em níveis muito reduzidos (quando não negativos), aumentando a apetência dos investidores por aplicações em títulos com melhor rentabilidade, sobretudo tendo presente que a existência de um programa de aquisição de dívida pública por parte do banco central sugere a existência da figura do credor de último recurso (com recursos potencialmente ilimitados), embora este seja minorado pelo sistema de partilha de perdas, que recai maioritariamente em cada estado. Assim, a probabilidade implícita de incumprimento tende a ser avaliada de forma mais favorável para o emitente soberano. Admitindo que as compras do Banco de Portugal incidem apenas sobre dívida pública portuguesa, seria razoável admitir que enquanto os títulos estiverem na sua posse, o estado estará a beneficiar de um financiamento a custo nulo, na medida em que os juros recebidos seriam devolvidos ao estado na forma de resultados, representando uma potencial redução do grau de restritividade da política fiscal. Todavia, não é certa a amplitude deste efeito, pois os lucros destas operações poderão ser alocados segundo o critério de capital key. Por outro lado, a percepção de menor risco de incumprimento poderá traduzir-se em redução dos custos de emissão de nova dívida, contribuindo para a redução dos custos associados ao serviço da dívida. We don't have any special rule for Greece. We have basically rules that apply to everybody. There are obviously some conditions before we can buy Greek bonds. As you know, there is a waiver that has to remain in place, has to be a program. And then there is this 33% issuer limit, which means that, if all the other conditions are in place, we could buy bonds in, I believe, July, because by then there will be some large redemptions of SMP bonds and therefore we would be within the limit". 2" 9 E.E.F. Mercados Financeiros Fevereiro 2015 Temas em Destaque O programa do BCE - Impacto na dívida pública portuguesa (cont.) As necessidades de financiamento em 2015 e as emissão líquidas estimadas de Ot's mil milhões de euros 2015 1. Necessidades de Financiamento Líquidas % das compras do BCE na emissão líquida de Ots em 2015 11.2 Défice Orçamental 6.0 Prog. Recapitalização sistema Bancário 0.0 Outras aquisições de activos financeiros1 5.2 Privatizações 0.0 2. Reembolsos 7.1 Obrigações do Tesouro 6.6 PAEF 0.5 Necessidades de Financiamento Brutas (1+2) 18.3 Fontes de financiamento Utlização de depósitos 2.2 Executado 5.5 Obrigações do Tesouro 5.5 Instrumentos de dívida no retalho Outros PAEF Por executar 10.6 PAEF Obrigações do Tesouro 8.1 Bilhetes do Tesouro (expectativa de rollover de saldo) Instrumentos de dívida no retalho 2.5 Emissões líquidas de OT's 7.0 Compras adicionais pelo Banco Central em 2015 Potenciais 10.7 152% Excl. divida detida pelo BCE ao abrigo do SMP 2.8 40% Admitindo que o Banco Central só compra dívida pública (não ABS e CB) 5.7 81% Fonte: IGCP, calc. BPI. Nota: 1Inclui financiamento de outras entidades públicas no ambito da Ad. Pública (EP's e regiões) que não implicam aumento da dívida do Estado. Também inclui recapitalização da CGD, resolução do BPN, participação no MEE e resgate de CoCos. Para além do programa de aquisição de activos de médio e longo prazo, o BCE anunciou a revisão das condições de acesso às cedências de liquidez de longo prazo direccionadas para a dinamização do mercado de crédito: a taxa de juro das próximas seis operações passa a ser igual à das operações principias de financiamento, ie, igual à taxa principal de refinanciamento (0.05%). Teresa Gil Pinheiro 10 E.E.F. Mercados Financeiros Fevereiro 2015 Temas em Destaque Previsões de Inverno – Mais crescimento mas ainda muitas sombras As principais entidades que regularmente reportam previsões económicas globais continuam a antecipar crescimento económico ainda muito tímido, longe do padrão do início do século, e inflação com tendência de declínio, agravada pela queda substancial dos preços do petróleo. Acresce referir que as políticas económicas tradicionais estão aparentemente quase esgotadas: os principais bancos centrais fornecem liquidez sem precedentes ao sistema financeiro, as taxas de juro estão em zero ou mesmo abaixo, e os níveis de endividamento público aumentaram em muitos países, suscitando dúvidas quanto à capacidade de actuação da política orçamental. Na actualização do cenário macroeconómico de Inverno, a Comissão Europeia reviu em alta as Previsões de Crescimento económico - WEO Update, Jan 2015, FMI suas projecções de crescimento económico para os países da zona euro, que apenas em 2015 2009 2010 2011 2012 2013 2014P deverão ultrapassar os patamares de riqueza Mundo 0,01% 5,4% 4,1% 3,4% 3,3% 3,3% gerada antes da crise financeira internacional de 2007/08. O sentido da revisão de crescimento não Economias Desenvolvidas -3,4% 3,1% 1,7% 1,2% 1,4% 1,8% deixa de ser também marcante, na medida em que se trata da primeira instituição supranacional Economias Emergentes 3,1% 7,5% 6,2% 5,1% 4,7% 4,4% a efectuar uma revisão em alta do cenário para o 2,4% PIB. A Comissão espera agora que, em conjunto, EUA -2,8% 2,5% 1,6% 2,3% 2,2% 2,2% os países da UEM registem um crescimento de 1.3% e 1.9% em 2015-16, que compara com Zona Euro -4,5% 2,0% 1,6% -0,7% -0,4% 0,8% 1.1% e 1.7%, respectivamente, nas previsões Reino Unido -5,2% 1,7% 1,1% 0,3% 1,7% 2,6% de Outono. Todavia, ainda é cedo para afirmar que a actividade económica vai acelerar China 9,2% 10,4% 9,3% 7,7% 7,8% 7,4% sustentadamente. De facto, evidenciando as Fonte: WEO Update, Jan 2015, FMI. dúvidas que ainda persistem e os factores de risco que prevalecem, recentemente o Fundo Monetário Internacional reviu em baixa o crescimento da região, para +1.2% e +1.4%, respectivamente em 2015 Endividamento do Sector Privado e 2016. 2000 Mais do que discutir ritmos exactos de crescimento esperado, importa reconhecer que a tendência é positiva e, pela primeira vez desde há algum tempo, confluem vários factores de suporte e estimulo à actividade nas economias desenvolvidas – políticas monetárias amplamente laxistas, políticas fiscais mais neutrais, depreciação do câmbio (no caso da UEM) e, sobretudo, preços do petróleo mais baixos. Todavia, não há certezas quanto ao funcionamento dos mecanismos de transmissão habituais. Efectivamente, para além dos riscos de natureza política, crescem os receios de regresso da instabilidade aos mercados financeiros num ambiente de evidente dependência da ampla almofada de liquidez e das políticas monetárias ultraexpansionistas. Acresce referir que se é certo que os níveis de alavancagem desceram em alguns países e em alguns sectores (no sector privado, em Espanha, nos EUA ou no Reino Unido, por exemplo), os montantes de dívida global aumentaram*. Nalguns casos por aumento da dívida pública (caso de Portugal, por exemplo), noutros pelo reforço da posição de instituições não reguladas em alguns países: caso do shadow-banking na China. Em suma, sobram factores que apontam para a permanência de ritmos de crescimento fracos; as taxas de inflação vão manter a tendência de queda pelo menos até que o salto discreto nos índices de preços devido à queda dos preços do petróleo seja ultrapassado (as taxas de inflação subjacentes reagirão com desfasamento); e o mercado de trabalho continuará a evoluir de forma muito lenta, com excepção das economias anglo-saxónicas onde os progressos têm sido mais rápidos. Luxemburgo Chipre 2016P 3,5% 3,8% 3,7% 4,0% 2,4% 2,3% 2,4% 4,3% 4,7% 5,0% 5,2% 3,6% 3,1% 3,3% 1,2% 1,4% 1,3% 1,7% 2,7% 2,4% 6,8% 6,3% 7,1% 6,8% 3,1% 2008 2013 Var. desde 2008 Var. desde 2000 391.4 356.2 -35.2 356.2 306.3 285.2 344.8 59.6 38.5 : 237.4 266.3 28.9 n.a. 206.2 217.3 229.7 12.4 23.5 Irlanda Holanda PIB: tva, % 2015P Dinamarca 158.1 222.8 223.2 0.4 65.1 Portugal 137.1 196.2 202.8 6.6 65.7 Suécia 142.1 200.1 200.1 0.0 58.0 Lituânia : 264.9 194.7 -70.2 n.a. Espanha 102.9 196.6 172.2 -24.4 69.3 Bélgica 114.5 157.9 163.0 5.1 48.5 Finlândia 91.9 131.3 146.6 15.3 54.7 França 99.0 122.2 137.3 15.1 38.3 : 158.6 136.5 -22.1 n.a. 53.1 113.5 135.6 22.1 82.5 108.4 Malta Grécia Bulgária 26.4 134.2 134.8 0.6 Áustria 121.7 130.3 125.5 -4.8 3.8 Estónia : 136.7 119.4 -17.3 n.a. 75.8 113.7 118.8 5.1 43.0 : 109.4 117.6 8.2 n.a. 123.0 109.3 103.5 -5.8 -19.5 Itália Croácia Alemanha Eslovenia : 105.6 101.9 -3.7 n.a. Hungria 56.2 106.0 95.5 -10.5 39.3 Letónia : 104.3 90.9 -13.4 n.a. Polónia : 67.7 74.9 7.2 n.a. Eslováquia 47.2 65.8 74.8 9.0 27.6 República Checa 57.0 63.7 73.7 10.0 16.7 Roménia 26.6 65.5 66.6 1.1 40.0 Valores não consolidados Estados Unidos 180.8 212.3 196.5 -15.8 15.7 Reino Unido 160.7 210.9 189.0 -21.9 28.3 Fonte: Eurostat, OCDE. Estudo da McKinsey de Fev.2015 "Debt and (not much) deleveraging". * Paula Gonçalves Carvalho 11 E.E.F. Mercados Financeiros Fevereiro 2015 Temas em Destaque Suíça - Fim da indexação do franco suíço ao euro A crise financeira de 2008/09 afectou várias economias desenvolvidas, entre elas a Suíça. Em 2009, o país atingiu taxas de crescimento perto dos -3%, embora, mais recentemente, o consumo doméstico tenha impulsionado o crescimento económico e, em 2014, o país tenha conseguido atingir uma taxa de 2% (dados relativos ao 3T 2014, de acordo com o Banco Nacional da Suíça). A par disso, a inflação negativa, gerada pela queda dos preços noutras economias desenvolvidas e com as quais o país tem relações comerciais, assim como o efeito de apreciação cambial do franco que condiciona em baixa os preços dos bens importados, tem afectado o país, apesar de, em 2014, ter já apresentado um valor próximo de 0 (ainda que continue negativa). Apesar dos períodos de deflação, o consumo doméstico não ficou comprometido (cresceu 2.4% entre 2012 e 2013), explicado pelas boas condições no mercado de trabalho (taxa de desemprego nos últimos anos rondou os 3%) e aumento dos salários reais (em 2013, o crescimento dos salários reais rondou 1%). A economia suíça assenta num sector exportador muito forte (as exportações representaram 61% do PIB, no 3T 2014), especialmente de produtos químicos, farmacêuticos e de bens de luxo. O principal destino das exportações é a Zona Euro, especialmente a Alemanha. Os constantes excedentes da balança corrente (balança excedentária desde 1981), assim como a posição líquida de investimento internacional positiva (quarta mais elevada em 2013, segundo o FMI), tornam a economia suíça uma das mais saudáveis em comparação com outras economias desenvolvidas. Produto Interno Bruto Inflação (y/y%) (y/y%) 3 8.00 2.5 6.00 2 4.00 1.5 2.00 1 0.5 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 -2.00 2000 0.00 0 -0.5 -4.00 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 -1 Fonte: BNS Fonte: BNS Deste modo, os activos suíços são vistos como activos de refúgio. Durante a última crise financeira, registou-se um aumento muito substancial dos fluxos de entrada no país, assinalando um máximo de 13 anos em 2010 (CHF 78.6 mil milhões). A procura de activos suíços reflecte-se também na moeda helvética, que, em momentos de crise, vê a sua procura aumentar, aumentado o valor face a outras relevantes moedas estrangeiras. EUR 2004 GBP 2006 2008 USD 2010 2012 2014 Fonte: BNS 2013 2002 2012 2000 2011 0 2010 0.5 2009 1 2008 1.5 2007 2 2006 2.5 2005 90,000 80,000 70,000 60,000 50,000 40,000 30,000 20,000 10,000 0 -10,000 -20,000 3 2004 (milhões francos suíços) 2002 (francos suíços) 2001 IDE - inflows 2000 Taxa de câmbio do franco suíço face ao euro, dólar e libra 2003 Fonte: BNS Face a estes dados, o Banco Nacional da Suíça (BNS) tinha decidido estabelecer uma taxa de câmbio mínima do franco suíço face ao euro, em CHF 1.20 por euro. Esta decisão tinha sido tomada em Setembro de 2011, quando a crise da dívida soberana se abateu sobre os países da Zona Euro e o receio de uma corrida aos activos suíços adensou-se. A manutenção do franco suíço num nível mais baixo e estável permitia defender as exportações da indústria do país, assim como o sector do turismo. De facto, numa economia praticamente estagnada, manter a moeda artificialmente estável era uma estratégia que visava ajudar a economia a reagir, não perdendo a competitividade artificial por via cambial. 12 E.E.F. Mercados Financeiros Fevereiro 2015 Temas em Destaque Suíça - Fim da indexação do franco suíço ao euro (cont.) A fixação do câmbio tinha como contrapartida a compra de grandes quantidades de activos em moeda estrangeira (euros), reduzindo o valor da moeda doméstica e mantendo o câmbio estável. Esta política reflectiu-se numa melhor performance da economia helvética, melhor que a economia da área do euro, mas, em contrapartida, induziu a acumulação de uma grande quantidade de reservas em euros. A compra de elevados montantes de euros aumentou o balanço do BNS para níveis sem precedentes e desajustados comparativamente à dimensão da economia suíça. O risco associado ao aumento do balanço do banco foi aparentemente considerado demasiado grande. Desde 2012 que o balanço do BNS aumentou de forma muito significativa, registando, nesse ano, cerca de 80% do PIB suíço, comparativamente a 44% e 56% em 2010 e 2011, respectivamente. Ao mesmo tempo, as reservas de divisas estrangeiras aumentaram substancialmente em 2012 e atingiram em Novembro de 2014 o valor mais elevado (mais de CHF 462 mil milhões em comparação com CHF 202.7 mil milhões em 2010). Em Janeiro deste ano, o BNS decidiu abandonar o limite cambial. A justificar, agora, a retirada da decisão, de acordo com o banco central, esteve a menor pressão apreciativa sobre a moeda local, a capacidade que a economia suíça demonstrou para se adaptar a esta nova situação e a desvalorização do euro face a outras moedas, como o dólar, que coloca o franco suíço mais “fraco” face a outras moedas internacionais. As divergentes políticas monetárias adoptadas pelas diferentes regiões eliminou a necessidade de manutenção de um limite mínimo para a taxa de câmbio, de acordo com o banco central. Balanço do Banco Nacional da Suíça Reservas de divisas estrangeiras (percentagem do PIB) (milhões de francos suíços) 90.0% 80.0% 70.0% 60.0% 50.0% 40.0% 30.0% 20.0% 10.0% 0.0% Fonte: BNS, calc. BPI 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 500,000 450,000 400,000 350,000 300,000 250,000 200,000 150,000 100,000 50,000 - Fonte: BNS No entanto, outros desenvolvimentos recentes poderão ter estado na base desta opção. A crise na Rússia, que levou a uma fuga de capitais para a Suíça, a forte queda do preço do petróleo e o anúncio que se antecipava (e que veio a concretizar-se) do novo programa de quantitative easing do BCE, que aumentaria a liquidez nos mercados e a pressão sobre a moeda suíça. Importa realçar que cerca de 45% das reservas estrangeiras do BNS são euros, o que implica que uma apreciação do franco em relação ao euro teria impactos negativos muito significativos para o próprio banco central (o BNS estaria a comprar activos que estão a perder valor face à moeda doméstica). Ao mesmo tempo, o BNS decidiu reduzir em 0.5 p.p. as taxas de juro sobre depósitos para -0.75%, assim como o intervalo para a Libor a 3 meses, que passou de -0.75% e -0.25% para -1.25% e -0.25%. A apreciação da moeda pode afectar a economia suíça de várias maneiras, embora a mais óbvia seja através do comércio internacional, já que as exportações suíças têm um peso relevante no PIB e cerca de metade tem como destino a Zona Euro. Espera-se que, ao longo do tempo, as exportações se tornem menos competitivas e, pelo peso significativo que esta componente tem no PIB, esta situação pode gerar um declínio do crescimento económico. As empresas exportadoras que poderão ser mais afectadas são as de média dimensão e aquelas cuja produção está mais orientada para o mercado externo, como o retalho e maquinaria, a par do sector dos serviços, especialmente o turismo. Pelo contrário, as grandes farmacêuticas e os produtores de artigos de cuidados de saúde não deverão ser afectados. No entanto, as empresas exportadoras podem beneficiar do preço mais barato das matérias-primas importadas. Com um franco mais forte, fica mais barato às empresas recorrerem a inputs nos mercados externos, beneficiando de preços mais acessíveis e reduzindo a necessidade de aumentar os preços das exportações e, assim, atenuar o impacto negativo da decisão do BNS (“natural hedging”). Por outro lado, a apreciação do franco faz com que as importações fiquem mais baratas, colocando pressão descendente sobre a taxa de inflação. Apesar de puder impulsionar ainda mais o consumo doméstico, a Suíça tem vivido períodos de deflação, problema que não está totalmente resolvido. Considerando que 23% do consumo doméstico é satisfeito através de importações, com o preço do petróleo a cair nos mercados internacionais e os preços dos produtos importados mais baixos, a inflação pode reduzir até -4%, segundo estimativas da Capital Economics. Vânia Patrícia Duarte 13 E.E.F. Mercados Financeiros Fevereiro 2015 14