MONOPOLIZAÇÃO DA TERRA PELO CAPITAL DA INDÚSTRIA AVÍCULA NO MUNICÍPIO DE CENTENARIO DO SUL – PR Aline Ross (PET/SESu- UEL), Maressa B. Costa (PET/SESu- UEL), Ruth Youko Tsukamoto (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Geociências/Londrina, PR. Geografia/ Geografia Agrária. Palavras-chave: avicultura, pequeno agricultor, indústria. Resumo: Muitos autores apontam que nos últimos anos a expansão das relações capitalistas direcionadas ao campo tem sido responsável por (re) criar as relações não-capitalistas de produção. Como Oliveira (1990) coloca o próprio desenvolvimento do processo contraditório de reprodução e ampliação do capital, pressupõe a criação de relações não-capitalistas de produção, uma vez que o capital, em função de reproduzir-se, dará origem a formas ampliadas de suas contradições. Partindo do pressuposto que a monopolização da terra pelo capital industrial é uma das expressões do desenvolvimento contraditório do capitalismo, que tem ocorrido por meio da integração entre o campo e a cidade, através do capital industrial, o presente texto abordará a relação entre os camponeses avicultores e as respectivas indústrias as quais dirigem suas produções. Também, busca analisar como se estabelece a expansão do capitalismo sobre o campo por meio da avicultura e a monopolização da terra através desse capital industrial. Além de explanar acerca da avicultura como estratégia de reprodução do camponês é importante abordar as relações não-capitalistas como a mãode-obra familiar. A área territorial desse estudo refere-se ao município de Centenário do Sul, localizada no Norte do Paraná, o qual é composto por estabelecimentos pequenos cujos lucros têm origem essencialmente na agricultura familiar. Introdução O presente trabalho pretende analisar em linhas gerais, como se dá o processo de monopolização do território por parte da indústria avícola no município de Centenário do Sul, norte do Paraná, através de pesquisas bibliográficas e execuções de pesquisas de campo. Analisar-se-á quais são as principais estratégias de recriação do campesinato, bem como os mecanismos e estratégias dominação da sujeição da renda ao capital. O trabalho tem como preocupação realizar uma abordagem geográfica, tendo como elemento norteador a sua territorialidade e os processos de monopolização por parte do capital industrial. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. No caso capitalista de produção, Oliveira (1994) ressalta que muitas vezes o capital industrial em vez de territorializar-se através da criação de mecanismos necessários para sua reprodução como instalações físicas, apropriação de terra, contratação de trabalhadores entre outros, ele age monopolizando o território, ou seja, apenas subordina o trabalho realizado no campo, apropriando-se da renda da terra na circulação. Através de uma pesquisa em campo os pesquisadores procuraram analisar como se dá às formas de relação do capitalismo no contexto do município de Centenário do Sul, enfocando a realidade dos pequenos produtores de aves. Materiais e métodos Em busca de um conhecimento a respeito da relação existente entre o pequeno produtor, e sua recriação, com o capital industrial foi realizado um levantamento bibliográfico com bases em dados textuais e referencias disponíveis em livros, trabalhos e artigos encontrados na biblioteca da Universidade Estadual de Londrina e na internet. Para o desenvolvimento da pesquisa de campo utilizou-se um questionário a fim de caracterizar as características das propriedades, as relações de trabalho, as comercializações, bem como as perspectivas e opiniões dos produtores. As entrevistas foram realizadas no inicio do mês de agosto de 2009, com quatro famílias de avicultores do município de Centenário do Sul. Além do questionário aplicado aos produtores foi feita uma coleta de dados junto a EMATER, e uma entrevista direcionada ao engenheiro agrônomo Sérgio de Souza Lopes, do mesmo órgão. Os questionários foram digitados no programa Access e tabulados em Access e Excell. Resultados e Discussão Como resultado da pesquisa pode-se verificar que o processo de monopolização da indústria aviária no município proporciona uma aproximação das relações capitalistas desenvolvidas na cidade às relações não-capitalistas desenvolvidas no campo. Também podemos verificar que as estratégias utilizadas pelo capital resumem-se em atrair o pequeno produtor e oferecer os subsídios necessários para sua manutenção como ração para as aves, ajudas técnicas, cursos de aprimoramento e ao mesmo tempo regula o preço das aves visando o seu lucro e faz exigências de qualidade ao produtor. No entanto, podemos notar que há um descontentamento por parte deste, em razão do estado quase que total de subordinação em relação aos ditames do capital industrial. Sem qualquer autonomia o pequeno produtor está sujeito aos altos e baixos do mercado e as regras impostas pela indústria para a qual trabalha. Por outro lado, conforme revelado pelo questionário aplicado, esta mesma atividade proporciona uma qualidade de vida superior ao pequenos produtores de outras áreas do município. Percebemos que estes desfrutam Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. de vários confortos que a tecnologia e a modernidade oferecem. Embora habitem o campo estão totalmente inseridos em relações que se dão no âmbito da cidade. Fig. 1: Barracão da granja de Oséias Argelino dos Santos. Fig. 2: Caminhão da Agroindústria AVEBOM LTDA. despejando ração no barracão da granja de Oséias Argelino dos Santos. Conclusões Como nas demais regiões do Brasil, o sistema capitalista de produção desenvolve-se de forma contraditória não implicando quanto à expropriação do campesinato, ocorrendo de forma contrária. Assim, conforme Oliveira (1986) coloca, o desenvolvimento e manutenção do capitalismo fazem com que haja a expansão das relações não-capitalistas de produção no campo, de forma que se utilize desta para obter lucro. No município de Centenário do Sul, observamos que o capital industrial avícola acaba por moldar a atuação do pequeno produtor através de exigências quanto a serviços e a qualidade da manutenção e finalização da produção, além de não precisar se munir de capital para adquirir os meios de produção pertencentes ao produtor – a propriedade, os aviários e a mãode-obra familiar. A produção das famílias de avicultores, que tem suas propriedades como instrumento de trabalho, acaba por ter a renda de suas terras direcionada às agroindústrias as quais dirigem sua produção, AVEBOM e BIG FRANGO. Esses usufruem da renda da terra por meio das relações comerciais intensas, subordinando a produção à circulação, e do baixo preço pago ao produtor, que ainda terá a renda de sua terra drenada aos sistemas de créditos bancários realizada para a instauração e manutenção dos aviários. Assim, o capital industrial avícola acaba por monopolizar a terra enquanto a Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. renda gerada pelo trabalho familiar fica retida. Mas, como esse tem o objetivo de criar condições de sobrevivência, mesmo que mínimas, continua a resistir permanecendo na terra, devido à falta de perspectivas no cenário agrícola a qual o Brasil se encontra atualmente. Agradecimentos As autoras agradecem aos pais e amigos somados as Profs. Ruth Youko Tsukamoto, Alice Yatiyo Asari e Rosely Maria de Lima, e principalmente as famílias de criadores de frango que as receberam em suas casas e disponibilizaram-se a responderem ao questionário, que foi de tão importância para o desenvolvimento da pesquisa. Referências CASARIL,Carlos C.; PINTO, Leia A. V.; Tsukamoto,Ruth Y. Breve análise da Jaguafrangos no município de Jaguapitã no Norte do Estado do Paraná. In: III Simpósio Nacional de Geografia Agrária – II Simpósio Internacional de Geografia Agrária-Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Presidente Prudente, 2005. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social./Caderno Estatístico Município de Centenário do Sul./Maio 2009.Disponível em: < http://www.ipardes.gov.br/cadernos/Montapdf.phf?Municipio=86630> Acesso em : 01 maio de 2009. MARTINS, José de Souza. A sujeição da renda da terra ao capital e o novo sentido da luta pela reforma agrária. In: os camponeses e a política no Brasil.Petropolis: Vozes, 1983. MOREIRA,Roberto José. Agricultura familiar: processos sociais e competitividade. Rio de Janeiro: Mauad; Seropédia, RJ: URFR,curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade,1999. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Agricultura e industria no Brasil. Boletim Paulista de Geografia. n.58 , SP.AGB,1981. PAULINO, Eliane Tomiasi. Terra e Vida: A Geografia dos Camponeses no Norte do Paraná. 2003. Tese – Doutorado – UNESP. Presidente Prudente. Sistema de Produção familiares do Norte do Paraná. Adenir de Carvalho et al.;Coordenado por João José Passini. Londrina: IAPAR / EMATER, 2001. 56 p. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.