XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL RESTINGA DE ALCÂNTARA: CONTRIBUIÇÃO FLORÍSTICA PARA O LITORAL DO MARANHÃO Bruna E. Freire Correia - Universidade Federal do Maranhão, Departamento de Biologia, São Luís, MA. [email protected] Eduardo B. Almeida Jr - Universidade Federal do Maranhão, Departamento de Biologia, São Luís, MA. INTRODUÇÃO Denomina-se como vegetação de restinga o ecossistema adjacente ao oceano, onde se desenvolve vegetação herbácea, arbustiva até arbórea, sobre planícies arenosas datadas do quaternário (SOUZA, 2008). O estado do Maranhão está localizado na Porção Setentrional do Nordeste, estando também incluído no litoral amazônico, juntamente com os estados do Amapá e Pará. Embora o Maranhão apresente o segundo litoral mais extenso do Brasil, ainda são escassos os estudos relacionados ao ecossistema de restinga, principalmente quanto ao conhecimento florístico. Nesse contexto, é imprescindível o desenvolvimento de estudos que destaquem a importância desse ecossistema, contribuindo para o conhecimento da flora e minimizando a lacuna existente para o litoral. Por ser um ambiente praiano, as restingas sofrem pressões antrópicas que acabam descaracterizando a composição florística, fazendo-se necessários estudos que visem compreender a vegetação para subsidiar projetos de conservação (SANTOS-FILHO & ZICKEL, 2013). OBJETIVO O objetivo deste estudo foi conhecer a flora fanerogâmica de uma área de restinga no litoral do município de Alcântara, descrevendo espectro biológico das espécies. METODOLOGIA Área de estudo O presente estudo foi realizado na restinga da praia de Itatinga (02°24’46.6”S 044º24’01.7”W) localizada no município de Alcântara, situada no litoral ocidental no estado do Maranhão. A área apresenta 2Km de extensão, formada por vegetação de restinga e manguezal, abrangendo espécies do tipo herbáceo, arbustivo e lenhoso. O estado do Maranhão apresenta fragmentos de floresta Amazônica em seu território e, com isso a composição florística da praia de Itatinga apresenta espécimes provenientes do bioma amazônico. Coleta de dados As coletas foram iniciadas em 2014 e seguem até o presente momento, através de caminhadas exploratórias por toda área, coletando os espécimes que apresentem flor e/ou fruto seguindo a metodologia usual em estudos 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL florísticos. As identificações foram realizadas através de literatura especializada e chaves analíticas seguindo o sistema de classificação do APG III. As formas biológicas das espécies foram classificadas de acordo com Whittaker (1975) e após as identificações, as exsicatas produzidas foram incorporadas ao acervo d Herbário do Maranhão (MAR), da UFMA. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram listadas 116 espécies, 97 gêneros e 47 famílias. As famílias mais representativas foram: Fabaceae (18 spp.), Cyperaceae (10 spp.), Rubiaceae (9), Myrtaceae (5 spp.), Asteraceae e Lamiaceae (4 spp. cada), Malvaceae (3), que representaram 46% das espécies amostradas. As famílias registradas também foram observadas nas restingas do Nordeste (ALMEIDA JR. & ZICKEL, 2009; CANTARELLI et al., 2012), contribuindo para a riqueza das áreas litorâneas. Além disso, as famílias citadas possuem facilidade de dispersão e propagação, promovendo o sucesso reprodutivo em solo arenoso. Dentre as espécies coletadas, Chamaecrista diphylla (L.) Greene, Cyperus ligularis L., Fimbristylis cymosa R. Br., e Aeschynomene brasiliana (Poir.) DC. foram as que se destacaram como as mais comuns para o estrato herbáceo, distribuindo-se de forma espaçada na área. Para o estrato arbustivo, as espécies Dalbergia ecastaphyllum (L.) Taub., Poincianella bracteosa (Tul.) L.P., e Byrsonima crassifolia (L.) Kunth, são encontradas isoladas e próximas ao ambiente praial, podendo existir indivíduos arbóreos isolados que não chegam a formar um estrato contínuo (SACRAMENTO, 2007). A espécie Chrysobalanus icaco L. foi encontrada em moitas em alguns trechos da área delimitando a linha de praia com o manguezal. O registro da Poincianella bracteosa, reforça a importância do desenvolvimento de estudos florísticos para contribuir e ampliar o conhecimento de espécies comuns para os ecossistemas de Caatinga e Cerrado, mas que também foi registrada nas restingas maranhenses. Esta ampla distribuição pode estar relacionada tanto a fisiologia da espécie, devido à capacidade de resistência a ambientes com escassez de água e por ser considerada uma espécie tolerante a luminosidade (FERRAZ et al., 2014) quanto a proximidade entre os ecossistemas, contribuindo para uma maior amplitude de desenvolvimento dessa espécie. Quanto às formas biológicas, foi observado o predomínio das ervas (com 48 espécies), seguida dos arbustos (31 spp.), trepadeiras (17 spp.), árvores (11 spp.) e subarbusto (9 spp.). Esse maior número de espécies herbáceas justifica-se por apresentar famílias tolerantes ao excesso de luminosidade e pela distinção no tipo reprodutivo e a vasta quantidade de representantes no banco de sementes (CABRAL-FREIRE E MONTEIRO, 1993). Na área de estudo, a família Myrtaceae, possui uma elevada riqueza apesar de não formar populações abundantes, assim como encontrado por Almeida Jr et al. (2009), no litoral de Pernambuco. Esta família também tem sido observada como característica da floresta Atlântica, floresta de restinga e tabuleiros arenosos do Nordeste do país (SACRAMENTO, 2007; CANTARELLI, 2012). CONCLUSÕES A restinga de Itatinga se destaca, entre as áreas litorâneas do Maranhão, devido a riqueza de espécies, ampliando assim o registro para o litoral do Estado. Contudo, fazem-se necessários mais estudos para compreender esta composição vegetal, através de parâmetros ecológicos a fim de ampliar o conhecimento sobre a flora maranhense e investigar de que forma a floresta Amazônica influencia as áreas litorâneas. AGRADECIMENTOS 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL Ao CNPq pela concessão das bolsas (PIBIC/ UFMA), a FAPEMA, pela bolsa de produtividade do último autor e financiamento do projeto Flora Maranhense: Ampliação e Informatização da Coleção Botânica do Herbário do Departamento de Biologia – UFMA (Processo 2887/12). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA JR., E.B.; OLIVO, M.A.; ARAÚJO, E.L.; ZICKEL, C.S. 2009.Caracterização da Vegetação de Restinga da RPPN de Maracaípe, Pernambuco, com base na fisionomia, flora, nutrientes do solo e lençol freático. Acta Botanica Brasilica. v. 23 (1): 36-48. ALMEIDA JR., E.B.; ZICKEL, C.S. 2009. Fisionomia psamófila-reptante: riqueza e composição de espécies na praia da pipa, Rio Grande do Norte, Brasil. Pesquisas, Botânica. 60: 289-299. APG III. 2009. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society 161:105 121. CANTARELLI, J.R.R.; ALMEIDA JR., E.B.; SANTOS-FILHO, F.S.; ZICKEL, C.S. 2012. Tipos fitofisionômicos e florística da restinga da APA de Guadalupe, Pernambuco, Brasil. Insula 41:95-117. FERRAZ, J.S.F.; et al. Estrutura do componente arbustivo-arbóreo da vegetação em duas áreas da caatinga, no município de floresta, Pernambuco. Revista Árvore, v.38, n.6, 2014. 1055-1064. FREIRE, M.C.C.M.; MONTEIRO, R. 1993. Praias e dunas da Ilha de São Luis, estado do Maranhão, Brasil: florística e topografia. Arq. Biol. Tecnol. 37 (4): 865-876. SACRAMENTO, A.C.; ZICKEL, C.S.; ALMEIDA JR., E.B. 2007. Aspectos florísticos da vegetação de restinga no litoral de Pernambuco. Revista Árvore 31: 1121-1130. SANTOS-FILHO, F.S.; ZICKEL, C.S. 2013. 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