Restinga: a vegetação do litoral em perigo

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Prática Pedagógica
Restinga: a vegetação do
litoral em perigo
Para aproximar os alunos das discussões ambientais,
apresente a eles a restinga e mostre como o homem altera
as suas características
Beatriz Santomauro
UMA RICA FLORA À BEIRA-MAR As
plantas desse ecossistema apresentam
marcas que variam de acordo com a
proximidade do mar, que interfere nas
condições do solo e do clima. Ilustrações:
Anna Cunha
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Estudar a vegetação que cresce em meio à areia das praias brasileiras,
dividindo espaço com conchas e siris, não pode ser uma tarefa somente de
quem mora perto do litoral. Restringir a abordagem do assunto dessa maneira
seria o mesmo que somente quem mora próximo a ela explorar questões
ligadas à floresta Amazônica. E mais: com a crescente e desenfreada ocupação
da costa, a cobertura vegetal das áreas de restinga está desaparecendo e
precisa ser conservada. Parte integrante da mata Atlântica, as plantas desse
ecossistema, formado no período geológico quaternário (que envolve a história
da Terra nos últimos 2,58 milhões de anos), já cobriram toda a faixa costeira
brasileira, nos 17 estados litorâneos. Hoje, o cenário é desolador: só uma
pequena área está preservada.
As crianças precisam conhecer as particularidades desse ecossistema para
saber por que e como protegê-lo. Quando intacta, por exemplo, a mata de
restinga impede que a areia se desloque para outras áreas, seja para o interior
de lagos e manguezais, seja para dentro de casas e quiosques. "As turmas do
4o e do 5o ano precisam conhecer o que é característico desse ecossistema
num âmbito geral. Detalhes devem ser explorados no 6º e no 7º ano", explica
Carla Beatriz Barbosa, coordenadora de Educação Ambiental do Aquário de
Ubatuba, em Ubatuba, a 234 quilômetros de São Paulo.
No caso de quem leciona no interior e não pode analisar a restinga ao vivo,
buscar textos, fotos, vídeos e outros materiais para apresentar o tema e
fomentar discussões e análises sobre ele é indispensável (leia a sequência
didática). No entanto, se a praia é o quintal da escola ou fica a poucas horas de
viagem, é interessante desenvolver um trabalho com as crianças para estudar
in loco. Mas atenção: sair a campo não dispensa o professor de planejar aulas
expositivas e com situações-problema para os alunos resolverem. Visitar a
restinga, esteja ela conservada ou devastada, só faz sentido se for uma
atividade com propósitos claros e significativos para a aprendizagem.
Variedade de plantas compõe a mata da restinga
Devido a presença de areais, correntes
litorâneas, alteração do nível do mar e
aporte de sedimentos, essa vegetação é
adaptada a ventos fortes e solos pobres
em nutrientes. A restinga faz a transição
entre o ecossistema marinho e o terrestre,
exercendo a função de fixadora de areia e
estabilizadora de ecossistemas costeiros,
como os mangues.
CADÊ A MATA QUE ESTAVA AQUI?*
Todo o litoral brasileiro era coberto por
plantas da restinga brasileira. Com a
ocupação humana da área, pouco restou
* Considerando apenas vegetação
arbórea.
Fonte: Atlas dos Remanescentes
Florestais da Mata Atlântica, da Fundação
SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), 2009
"As plantas que a compõem estão
distribuídas segundo as características do
solo e da inf luência dos rios que
serpenteiam por ela e das marés, que, por
causa da variação diária do nível de água e
da salinidade, afastam as mais sensíveis a
essas condições", diz João Carlos Nucci,
geógrafo da Universidade Federal do
Paraná (UFPR). Mais próximas à água do
mar são encontradas espécies ralas e
rasteiras com raízes superficiais e
resistentes ao sol (como a erva-baleeira e a
araiçoba) e que sobrevivem em um solo
arenoso e com alta taxa de salinidade. É
válido destacar que elas não podem ser
menosprezadas por estarem mais
dispersas. Como todos os outros, esse tipo
de vegetação tem sua importância no
equilíbrio do ambiente, pois combate a erosão e o desgaste do solo. Já
distantes da praia, nas áreas mais elevadas e formadas por rochas resistentes,
as formações vegetais se modificam, predominando os emaranhados de
arbustos (como a aroeirinha e a abarema) e árvores (como o guanandi e a
canela), que podem atingir entre 15 e 20 metros de altura (veja a ilustração na
primeira página).
Embora as diferenças citadas sejam facilmente percebidas, é comum cair no
erro de considerar que as espécies das encostas e os manguezais fazem parte
da restinga também. Atentar ao fato de que se trata de ecossistemas
diferentes ajuda a turma a compreender que não existem limites rígidos na
natureza, como as fronteiras, e que eles variam conforme a geografia das
regiões.
Além de aspectos físicos, questões referentes à ocupação humana são
igualmente importantes de serem enfocadas em sala. O litoral, por ter sido a
porta de entrada para a ocupação do território brasileiro na época do
descobrimento e ter abrigado as primeiras cidades, sofre com devastações
desde muito tempo atrás. Atualmente, os maiores responsáveis pelo
desmatamento são o boom imobiliário e o despejo e o depósito de resíduos. É
cada vez mais difícil encontrar áreas de restingas forradas com sua cobertura
vegetal típica. O que é possível encontrar ainda são focos de preservação,
como a praia da Fazenda, no Parque Estadual da Serra do Mar em Ubatuba, e
praias mais selvagens, como a de Trancoso, a 743 quilômetros de Salvador
(veja o mapa acima) . Hoje, na maior parte do litoral, principalmente em áreas
urbanizadas, como Copacabana, no Rio de Janeiro, sobraram poucas folhas
para contar a história.
Natureza em foco
As questões relativas ao meio ambiente ganham importância a cada dia. Para
ajudar o professor a conhecê-las melhor e, assim, trabalhá-las de forma
consistente, NOVA ESCOLA lança em 24 de maio um especial sobre o tema. A
edição trará as informações sobre água, energia, consumo, clima e
sustentabilidade. Todas as reportagens têm infográficos, que explicam temas
como a mudança da matriz energética brasileira e as soluções mais modernas para
aproveitar a luz do Sol ou os resíduos orgânicos. Artigos de especialistas
enriquecem a reflexão sobre esses conteúdos, que fazem parte do currículo
escolar. Uma reportagem sobre a escola sustentável mostra como as instalações
podem contribuir para o menor consumo de energia e a diminuição de descarte de
resíduos - tudo mostrado num detalhado infográfico. O texto trata também da
necessidade de combinar discurso e prática: de que adianta falar para a turma não
desperdiçar água se as torneiras do banheiro vivem pingando? Uma reportagem
sobre a educação ambiental e uma entrevista com uma especialista no tema
completam a edição. Tudo isso por 6,40 reais.
Quer saber mais?
CONTATO
Carla Beatriz Barbosa
BIBLIOGRAFIA
A Conservação de Florestas Tropicais, Sueli Ângelo Furlan e João Carlos Nucci, 112 págs., Ed. Atual, tel. 0800-0117875, 28,70 reais
A Ferro e Fogo: A História e a Devastação da Mata Atlântica Brasileira, Warren Dean, 484 págs., Ed. Companhia
das Letras, tel. (11) 3707-3500, 76 reais
Em Busca do Conhecimento Ecológico, Ana Maria Giulietti (org.), 128 págs., Ed. Blucher, tel. (11) 3078-5366 (edição
esgotada)
Regiões Litorâneas, Neide Simões de Mattos e Suzana Facchini Granato, 64 págs., Ed. Atual, 26,70 reais
INTERNET
Download gratuito do livro Restinga: Conceitos e Empregos do Termo no Brasil e Implicações na Legislação
Ambiental (Celia Regina Souza e outros, 104 págs., editado pelo Governo do Estado de São Paulo)
Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/2344/restinga-a-vegetacao-do-litoral-em-perigo
Links da página
http://revistaescola.abril.com.br/geografia/pratica-pedagogica/analise-ecossistema-litoral555338.shtml
http://www.igeologico.sp.gov.br/ps_down_outros.asp
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 232, 01 de Maio de 2010
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