aspectos da relação entre arquitetura, urbanismo e educação - Ces-JF

Propaganda
Aspectos da relação entre arquitetura, urbanismo e educação..., p. 13 - 28
ASPECTOS DA RELAÇÃO ENTRE ARQUITETURA,
URBANISMO E EDUCAÇÃO: O CASO DA ESCOLA NORMAL
OFICIAL DE JUIZ DE FORA1
Klaus Chaves Alberto*
Luciane Tasca**
Ana Paula de Souza Teixeira***
Eron Rossignoli Emerick***
Patrícia de Moura e Silva Toledo***
Vinícius Resende Pereira***
RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar alguns profícuos aspectos das
relações entre os campos da arquitetura, urbanismo e a história da educação
através do estudo da trajetória inicial da Escola Normal Oficial de Juiz de Fora.
A construção de equipamentos escolares representa ideais de um grupo de
lideranças governamentais e intelectuais e influi diretamente na construção
das cidades nas quais está inserido. Essas posturas trazem à tona diversos
temas que, embora permaneçam atrelados ao campo da educação, também
se aproximam das temáticas urbanísticas. Uma abordagem que leve em
consideração a diversidade de temáticas apresenta a oportunidade de promover
uma compreensão mais ampla do objeto de estudo. A pesquisa para este artigo
exigiu a coleta e análise de dados de diferentes fontes tais como jornais, livros,
dissertações, artigos, memoriais justificativos e processos, além de um vasto acervo
de imagens composto por fotografias, projetos arquitetônicos e urbanísticos.
Analisar a história da cidade através de seus edifícios permite compreender seu
processo de desenvolvimento e crescimento através das heranças deixadas por
seus antepassados. A Escola Normal de Juiz de Fora não só interferiu no cenário
urbano como também sofreu com os desejos de mudança do município e, hoje,
configura-se como um patrimônio urbano que ainda carece de estudos os quais
levem em consideração a amplitude de suas relações com a urbe.
Palavras-chave: Arquitetura. Escola. História. Urbanismo.
1
Este artigo foi produzido a partir do projeto de iniciação científica apoiado pelo CES/JF através de seu
programa de iniciação científica.
*
Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo do CES/JF, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestre e Doutor em Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação
em Urbanismo (PROURB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
**
Professora do curso de arquitetura e Urbanismo do CES/JF graduado em Arquitetura e Urbanismo
pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestre e Doutoranda em Urbanismo pelo Programa de PósGraduação em Urbanismo (PROURB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
***
Alunos do curso de arquitetura e urbanismo do CES/JF.
13
Juiz de Fora, 2008
Klaus Chaves Alberto, Luciane Tasca, Ana Paula de Souza Teixeira...
ABSTRACT
This article intends to show many common aspects of architeture, urbanism and
the education’s history by the study of the beginnings of Escola Normal Oficial
of Juiz de Fora. The Intelectuals and governmental leaders’ ideas are represented
throughout a direct interference at the building of scholars equipage and this
influence reaches the cities where they are.These conducts and behaviors called
to mind many themes althoug linked to the education in inspite of being closer to
the urbanistic thematic. An approach that is concerned about to these different
themes is a oportunity to promote an enlarge compreenhension of the objective
of this study.The article’ search demanded input analyze from different sources
of information: newspapers, books, dissertations, articles, reports, proceedings
and a wide database of photographs besides urbanistics and architectures
projects .Having the history of the city being analize through its buildings, allows
us comprehending the growth and the development left by the ancestors. The
Escola Normal of Juiz de Fora not only interfered in the urban scenery as well as
has received interferences and today is a urban patrimony claming to studies that
take into account the enlarge connection with the city.
Keywords: Architecture. School. History. Urbanism.
1 INTRODUÇÃO
“Aqui houve uma prisão, hoje há uma escola”1
A primeira instituição escolar com o nome de Escola Normal foi criada
pela Convenção de Paris em 1794 por proposta do educador francês Lakanal e
foi instalada nessa mesma cidade no ano seguinte. Recebeu o título de Escola
Normal porque deveria servir de exemplo na formação de professores para as
demais unidades escolares.
Embora sua origem possa ser remontada no século XVIII, ainda antes, o
educador Comenius, no século anterior, já indicava a necessidade de preparação
do professor, ainda que não tivesse criado esse tipo de ensino.
Essa idéia foi seguida por vários países no século XIX. Em 1835 foi
implantada a primeira Escola Normal na Inglaterra e, em 1838, nos Estados
Unidos. Na Alemanha, somente no início do século XIX, em decorrência do
movimento Pestalozziano, que a preparação de professores para o ensino
1
Epígrafe no acesso da Escola Normal de Juiz de Fora
14
CES Revista, v. 22
Aspectos da relação entre arquitetura, urbanismo e educação..., p. 13 - 28
elementar institucionalizou-se. (REIS FILHO, 1981, p. 128).
Na América Latina, a primeira Escola Normal foi criada em 1835 no Brasil,
na cidade de Niterói, no contexto de sua recente elevação à capital do estado do
Rio de Janeiro, e foi a primeira de caráter público no continente.
Em Minas Gerais, na capital Ouro Preto, foi inaugurada a primeira Escola
Normal de ensino primário em 1840. No ano de 1882 havia um total de cinco
escolas com este caráter no estado (OLIVEIRA, 2000, p. 43).
Durante o governo do então presidente do estado de Minas Gerais (192630) Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, houve um grande aumento do ensino
normal no estado. Andrada, em seu mandato, tinha por objetivo reformular a
base do ensino, atuando nas escolas primárias de forma direta, criando as escolas
primárias anexas às Escolas Normais, mas principalmente de forma indireta,
investindo na formação de professores. Os dados do crescimento na área da
educação no Estado são demonstrados na tabela a seguir:
TABELA 1 - UNIDADES DO ENSINO PÚBLICO EM MG (1926-1930)
NATUREZA
1926
1930
TAXA DE
CRESCIMENTO
Ensino Primário
2117
3926
179%
Ensino secundário
2
6
200%
Ensino normal
2
21
950%
5954
170%
TOTAL
212
Fonte: OLIVEIRA, 2000, p. 53
2 ESCOLA NORMAL EM JUIZ DE FORA
A pesquisadora Delaine Gomes de Oliveira (2000) destaca em sua
dissertação de mestrado sobre a Escola Normal de Juiz de Fora, a existência
de outras instituições de ensino que promoviam o ensino normal na cidade.
Segundo Albino Esteves (1915, p. 263-6) foram elas: 1. Colégio e Escola Normal
Lucindo Filho, fundado por Machado Sobrinho, em janeiro de 1911; 2. Colégio
e Escola Normal Delfino Bicalho, fundado em janeiro de 1905; 3. Escola Normal
Santa Cruz, fundada em abril de 1913 (ILUSTRAÇÃO 1); 4. Colégio Malta,
fundado em 1893.
15
Juiz de Fora, 2008
Klaus Chaves Alberto, Luciane Tasca, Ana Paula de Souza Teixeira...
ILUSTRAÇÃO 1 – 1. Escola Normal Lucindo Filho; 2. Colégio e Escola Normal
Delfino Bicalho; 3. Escola Normal Santa Cruz.
Fonte: ESTEVES, 1915, p. 265-76.
Diferente dessas escolas já existentes na cidade, a Escola Normal Oficial,
criada em 1894, inicialmente destinada exclusivamente para formação de
mulheres, era de responsabilidade do Estado. Inicialmente ocupou o prédio
onde funcionara o antigo Mercado Municipal, e, posteriormente, passou a
funcionar no Palacete de Santa Mafalda. Esta primeira tentativa teve vida curta,
pois, quatro anos depois, foi fechada por motivos econômicos durante o governo
de Silviano Brandão.
No decreto nº. 8245 de 20 de Fevereiro de 1928 no governo de
Antônio Carlos, a Escola Normal Oficial de Juiz de Fora foi reaberta. Instalouse provisoriamente no dia 21 de Março de 1928 na Rua Espírito Santo na
antiga residência do Sr. Luís Eugênio Horta Barbosa sob direção do professor
João Augusto Massena. As obras de adaptação desse edifício foram realizadas
por supervisão do Engenheiro Lourenço Baeta Neves2 auxiliado por Benjamim
Quadros (OLIVEIRA, 2000, p. 62-64).
2
Lourenço Baeta Neves foi diretor da Viação e Obras Públicas do Estado de Minas Gerais e consultor
técnico do Presidente do Estado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. (OLIVEIRA, 2000, p. 86).
16
CES Revista, v. 22
Aspectos da relação entre arquitetura, urbanismo e educação..., p. 13 - 28
3 A ESCOLHA DO TERRENO
Neste contexto aparece a necessidade de se instalar o novo edifício
da Escola Normal Oficial em um espaço diferenciado, onde se destacaria o
investimento do Estado na educação e simbolizaria a importância da inserção
do ensino normal no desenvolvimento e imagem da cidade.
O terreno escolhido para sua implantação estava localizado na esquina da
Rua Espírito Santo com a Avenida Quinze de Novembro (atual Getúlio Vargas),
onde abria a Rua Doutor Fontin.
Neste local existia o prédio da Cadeia Municipal (ILUSTRAÇÕES 2 e 3),
essa era uma das primeiras edificações que se via ao chegar a Juiz de Fora pela
Estrada União e Indústria.
Essa edificação possivelmente gerava uma desagradável recepção no
acesso do município. Era do interesse das autoridades inverter esse quadro,
erguendo uma escola, simbolizando aos visitantes uma nova imagem que, ao
invés de punir, seria admirável formar cidadãos dignos através da educação.
ILUSTRAÇÃO 2 - Situação do terreno em 1884
Fonte: PASSAGLIA, [198-]. (grifo nosso).
17
Juiz de Fora, 2008
Klaus Chaves Alberto, Luciane Tasca, Ana Paula de Souza Teixeira...
ILUSTRAÇÃO 3 - Cadeia Municipal
Fonte: Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Juiz_de_fora_(1893).
jpg (destaque nosso)
É fato que a implantação de Escolas Normais no Brasil sempre teve como
princípio a ocupação de terrenos centrais nas cidades, sendo pontos de destaque
na cena urbana, de modo que refletisse o ideal republicano (ILUSTRAÇÃO 4).
Segundo Bencosta et al. (2005, p. 97):
[...] a construção de edifícios específicos para os grupos escolares
foi uma preocupação das administrações dos estados que tinham
no urbano o espaço privilegiado para sua edificação, em especial,
nas capitais e cidades prospera-se economicamente. Em regra
geral, a localização dos edifícios escolares deveria funcionar como
ponto de destaque na cena urbana, de modo que se tornasse
visível enquanto signo de um ideal republicano, uma gramática
discursiva arquitetônica que enaltecia o novo regime.
18
CES Revista, v. 22
Aspectos da relação entre arquitetura, urbanismo e educação..., p. 13 - 28
Escola Normal Liceu Lakanal
Colégio Estadual do Paraná
ILUSTRAÇÃO 4 - Outras Escolas Estaduais no Brasil
Fonte: BENCOSTA, 2005, p. 86, 252
Em Juiz de Fora, não foi diferente. Ficou idealizado que o prédio deveria
estar em uma posição de destaque na cidade e esse terreno atendia a essa
preocupação. Situado na Praça Antônio Carlos, a Escola Normal era envolvida
por prédios de grande relevância para cidade como o Edifício da Fábrica
Bernardo Mascarenhas, a Alfândega Seca, o Prédio da Companhia Industrial e
Construtora Pantaleone Arcuri e o Edifício da Companhia Mineira de Eletricidade.
(ILUSTRAÇÕES 5 e 6).
19
Juiz de Fora, 2008
Klaus Chaves Alberto, Luciane Tasca, Ana Paula de Souza Teixeira...
ILUSTRAÇÃO 5 - Foto aérea mostrando a Escola Normal e seu entorno
em 11 de setembro de 2008
Fonte: Acervo pessoal de Eron Rossignoli Emerick.
ILUSTRAÇÃO 6 - Planta da Zona Central, mostrando o entorno da Escola
Normal.
Fonte: Mapa consultado no Arquivo Histórico de Juiz de Fora grifo nosso).
20
CES Revista, v. 22
Também podemos verificar a importância desse terreno no memorial
descritivo de Lourenço Baeta Neves, engenheiro responsável pelo projeto.
Dentro do núcleo central da cidade, envolvido pela linha circular
de bondes da Companhia Mineira de Eletricidade, passando pela
estação da Central do Brasil, a situação escolhida, de conveniência
para o ensino normal, permitira que o grupo escolar e jardim de
infância que se anexa à escola normal, para tirocínio profissional,
sirvam à população do extremo sudoeste da cidade, de um lado
e do outro do Paraibuna; e como a edificação daí por diante se
rareia, o ponto tem também verdadeira situação vestibular, para o
lado do Rio de Janeiro. (ESCOLA..., 1927).
Repara-se nesta argumentação que, além da situação privilegiada como
monumento a ser erigido no acesso da cidade, o terreno ainda responderia a
uma questão que se tornava relevante para o espaço urbano: nesse momento
consolidava-se a importância de se permitir o acesso à escola para alunos dos
mais variados pontos do município. A partir disso, houve a preocupação de se
explorar as conexões viárias a fim de permitir o acesso e socializar a cidade para
seus habitantes.
O terreno atendia às expectativas dos idealizadores do projeto, porém
essa visão não era consensual. A escolha também foi alvo de críticas, como se
pode verificar na seção de leitores do Jornal Diário Mercantil em 11 de agosto
de 1928.
[...] na esquina das ruas Espírito Santo e 15 de novembro, facilmente se verifica, não deve funccionar um estabelecimento de ensino para moças e meninas. Naquele local, além do alarido constante e ensurdecedor, provocado das sete horas da manhã às cinco
da tarde pelas grandes officinas da Companhia Pantaleone Arcuri,
da Fábrica Meurer, da Distribuidora da Mineira de Eletricidade e
da Fábrica Mascarenhas, há o grande trânsito de carroças e autocaminhões que se destinam ao serviço de cargas da Central, além
do cruzamento , à esquina, das linhas de bondes da Mineira. Mais
ainda. Das 10 às 11, de 1 a ½ e de 4 a 5 horas, naquele trecho,
centenas de operários se agglomeram, aguardando os intervalos
das refeições para o trabalho, daí advindo o grave inconveniente
da promiscuidade entre as alunas e os operários, quando bem se
sabe que a pedagogia e a hygiene escolar aconselham devam os
estabelecimentos de ensino ser localizados em pontos tanto quanto possível afastados do movimento urbano [...] [sic].(ESCOLA...,
1928)
21
Juiz de Fora, 2008
Klaus Chaves Alberto, Luciane Tasca, Ana Paula de Souza Teixeira...
O autor do artigo ainda sugere outros terrenos para a construção da
Escola Normal, como o do antigo teatro da Rua Espírito Santo e alguns da Avenida Rio Branco, onde já funcionavam algumas repartições administrativas do
Estado.
Temas como os levantados não foram respondidos oficialmente. Parece
que a implantação no acesso da cidade, de fácil conexão viária, suplantava
problemas considerados de menor escala. Mas parece, também, que temas
como esses já haviam sido debatidos pelos idealizadores da escola. Afinal, eles
já compreendiam as dificuldades da implantação em um local de antigos aterros
alagadiços e inconsistentes.
As deficiencias sanitarias que se pudessem encontrar nesse terreno, pela proximidade do ribeirão que vem de São Matheus, pelos
fundos dos quintais da rua do Espirito Santo, seriam totalmente removiveis com o trato aconselhável para esse curso, nos estudos do
saneamento geral da cidade, que, em 1915, fiz com o engenheiro
Saturnino de Brito3 [sic]. (ESCOLA..., 1927).
4 REPRESENTATIVIDADE
Para uma análise mais completa do desenvolvimento formal do edifício
serão utilizados trechos do texto justificativo do projeto da Escola Normal, feito
pelo engenheiro Lourenço Baeta Neves em 1927.
No documento, o autor esclarece que a volumetria do projeto procura
favorecer um melhor aproveitamento do terreno disponível. A configuração feita
pelo engenheiro, então, foi o resultado da própria forma triangular do terreno.
Por outro lado percebe-se uma ênfase na escala do edifício e a importância
das relações entre ele e seu entorno urbano. E assim, segundo ele, estar “[...]
em conveniente harmonia com o conjunto dos bons prédios da vizinhança”.
(ESCOLA..., 1926)
Noutro sentido, para o engenheiro, a forma do edifício deveria representar
valores desatrelados à tradição arquitetônica configurando uma arquitetura em
estilo moderno. O discurso de modernidade presente no texto do projetista é
3
Francisco Saturnino Rodrigues de Brito foi engenheiro sanitarista que fez os principais estudos urbanísticos
e de saneamento de cidades como Vitória (ES), Campinas, Ribeirão Preto, Limeira, Sorocaba, Amparo,
Petrópolis, Paraíba do Sul, Itacocara e até de Campos sua terra natal. Disponível em: http://www.
novomilenio.inf.br/santos/fotos096.htm. Acesso em: 10 set. 2008.
22
CES Revista, v. 22
Aspectos da relação entre arquitetura, urbanismo e educação..., p. 13 - 28
um sintoma do que estava sendo desenvolvido em empreendimentos escolares
no Brasil. No Rio de Janeiro, então capital da República, a partir do ano de
1928, foram se consolidando diversas posturas administrativas e projetuais que
reforçavam a necessidade de todo o país se engajar em um novo momento dos
espaços educacionais, a partir de então representativos de um novo projeto de
modernização mais amplo da sociedade.
Assim, foram criados diversos edifícios escolares que procuravam se
distanciar do viés eclético das primeiras escolas republicanas que referendavam
o gosto, comum na época, pelas idéias européias do século XIX. (OLIVEIRA,
1991).
Na Escola Normal, a modernidade arquitetônica teria outros motivos
pois também servia “[...] para attender principalmente a sua utilidade e à
leveza de ornatos que melhor convem ao processo de construcção escolhido
em cimento armado [sic]”. (ESCOLA..., 1927). Nesse sentido, suas fachadas
sustentam linhas verticais dominantes, criadas por jogos de colunas superpostos,
sem muitos ornamentos, adaptando a estética do prédio ao processo construtivo
estrutural de concreto armado que, na época, era considerado como uma
inovadora técnica de construção. Esta tecnologia permitiria o uso reduzido de
alvenarias, conquistando espaço útil para o ensino e deixando vãos mais livres e,
conseqüentemente, mais iluminados e ventilados. Além disso, permitiria reduzir
o tempo de construção da obra.
Outro tema importante que a leitura do objeto arquitetônico apresenta é a
preocupação com os aspectos sanitários da construção. Baeta Neves afirma que a
implantação do edifício teria um afastamento em relação ao terreno vizinho para
garantir larga abertura que proporcionaria circulação de ar em todo o prédio. O
afastamento das faces do edifício em relação às edificações vizinhas seria de pelo
menos dez metros. Nas fachadas foram projetadas amplas janelas, reforçando
a questão do aproveitamento máximo da iluminação natural e promovendo a
ventilação adequada. Segundo Neves “As salas de aula têm largura maxima na
direção da iluminação preponderante de sete metros e de oito a cêrca de nove
e meio metros em direção normal à primeira [sic]” (ESCOLA..., 1927).
Cabe ainda frisar que a planta da escola tinha o plano arquitetônico em V,
o que resguardava o pátio interno, dando-lhe privacidade em relação ao exterior
do edifício. Essa configuração gera um limite físico e visual, uma linha divisória
entre o exterior e o interior do edifício.
23
Juiz de Fora, 2008
Klaus Chaves Alberto, Luciane Tasca, Ana Paula de Souza Teixeira...
As obras da Escola Normal tiveram início em 23 de julho de 1928,
(ILUSTRAÇÃO 7) e sua execução ficou a cargo da Companhia Pantaleone Arcuri,
uma importante construtora da época que já havia realizado relevantes obras no
município, como os edifícios das Repartições Municipais, o Clube Juiz de Fora,
o Banco do Brasil, a Associação Comercial, o colégio Granbery e o Cine Teatro
Central entre tantas outras. A iluminação do edifício ficou sob responsabilidade
da firma Sangiorgi & Oliveira. A pintura ficou sob encargo do artista Ângelo Bigi.
A cor predominante na fachada era o cinza e internamente o verde claro e o
bege.
ILUSTRAÇÃO 7 - Início das obras da Escola Normal Oficial de Juiz de Fora
Fonte: Foto consultada na Divisão de Patrimônio Cultural de Juiz de Fora
(DIPAC).
O prédio foi inaugurado em 14 de agosto de 1930 (ILUSTRAÇÃO 8),
sendo um dos primeiros edifícios de Juiz de Fora a se beneficiar de elevador.
Segundo Baeta Neves, “[...] haverá também um grupo de elevadores de serviço
e, para ocasiões especiais, estabelecido na mesma caixa da escada principal e
das que lhe ficam superpostas”. (ESCOLA..., 1927).
Após a inauguração ainda foram realizadas as obras do pátio, Jardim de
Infância e classes anexas.
24
CES Revista, v. 22
Aspectos da relação entre arquitetura, urbanismo e educação..., p. 13 - 28
ILUSTRAÇÃO 8 - Escola Normal Oficial de Juiz de Fora
Fonte: Acervo Histórico da UFJF.
Em 1968, novamente, as questões urbanas interferiram diretamente na
dinâmica do espaço educacional. Nesse ano, iniciou-se a abertura da Avenida
Independência que, em 1970, levou a demolição de uma das alas da Escola,
deixando uma marca indelével do desenvolvimento urbano no patrimônio
educacional da cidade. (ILUSTRAÇÃO 9).
Vinte e seis anos depois, a escola foi tombada como patrimônio municipal,
consolidando sua importância histórica para a configuração da cidade.
25
Juiz de Fora, 2008
Klaus Chaves Alberto, Luciane Tasca, Ana Paula de Souza Teixeira...
ILUSTRAÇÃO 9 - Escola Normal antes e depois da demolição
e uma das torres
Fonte: ESCOLA normal. Revista Juiz de Fora em 2 Tempos, Juiz
de Fora, 1997, p. 99.
5 CONCLUSÃO
Todo o processo que envolveu a construção do prédio para a nova Escola
Normal Oficial de Juiz de Fora demonstra a importância desse equipamento
para a cidade. Sua implantação em um terreno de destaque na cena urbana
afirma o significado do projeto, no sentido de refletir o interesse do município
na educação, que simbolizava o próprio ideal Republicano.
Na década de 20, Juiz de Fora teve um crescimento urbanístico considerável
com o surgimento de escolas, teatros, jornais e instituições culturais. A Escola
Normal Oficial de Juiz de Fora fez parte desse crescimento, uma vez que o
governo tinha a preocupação de inserir a educação na cidade, proporcionando
26
CES Revista, v. 22
Aspectos da relação entre arquitetura, urbanismo e educação..., p. 13 - 28
alfabetização a toda população e, ao mesmo tempo, reforçando seu caráter de
modernidade.
No projeto arquitetônico do edifício foram levados em conta questões
de higiene, circulação, ventilação, implantação, iluminação, disposição e o
dimensionamento dos espaços, proporcionando um ambiente mais adequado
à tarefa de educar.
São necessários ainda estudos mais focados no campo da Arquitetura
e do Urbanismo referentes a esse e a tantos outros espaços educacionais da
cidade, pois a análise histórica da educação de uma sociedade e o espaço físico
que o fato envolve ajuda-nos a compreender, não somente as transformações
que essas instituições sofreram por força de seu próprio campo disciplinar, mas
também a relação do espaço estudantil com a complexidade urbana de uma
cidade.
Artigo recebido em: 10/09/2008
Aceito para publicação: 23/10/2008
27
Juiz de Fora, 2008
Klaus Chaves Alberto, Luciane Tasca, Ana Paula de Souza Teixeira...
REFERÊNCIAS
PENNA, José Menezes Procópio de Rezende. As obras da Escola Normal. Diário
Mercantil, Juiz de Fora, 11 ago. 1928.
BENCOSTA, Marcus Levy Albino; SOUZA, Rosa Fátima de; VIÑAO, Antônio;
COEUR, Marc Le; SCHIMMELPFENG, Regina Maria; IWAYA, Marilda;
CHORNOBAI, GISELE Quadros Ladeira; CORREIA, Ana Paula Pupo; COLOMBO,
Irineu. História da Educação, Arquitetura e Espaço Escolar. São Paulo: Cortez,
2005.
ESTEVES, Albino. Álbum do município de Juiz de Fora. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1915.
ESCOLA Normal de Juiz de Fora. Jornal Gazeta Comercial, Juiz de Fora, 22 out.
1926.
ESCOLA Normal de Juiz de Fora. Jornal Gazeta Comercial, Juiz de Fora, 18
dez. 1927.
ESCOLA Normal de Juiz de Fora: as obras de adaptação do prédio à rua do
Espírito Santo ficarão concluídas até 20 do corrente. Jornal Diário Mercantil,
Juiz de Fora, 13 mar. 1928.
OLIVEIRA, Beatriz Santos de. A modernidade oficial: a arquitetura das Escolas
Públicas do Distrito Federal (1928-1940). 1991. Dissertação (Mestrado em
Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP, São Paulo, 1991.
OLIVEIRA, Delaine Gomes de. Memórias e representações acerca da Escola
Normal Oficial de Juiz de Fora (1928-1968). 2000. 131 f. Dissertação (Mestrado
em Educação) - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2000.
PASSAGLIA, Luiz Alberto do Prado. A preservação do patrimônio histórico de
Juiz de Fora: medidas iniciais. Juiz de Fora: Esdeva/IPPLAN, [198-].
REIS FILHO, Casemiro dos. A Educação e a Ilusão Liberal. São Paulo: Cortez,
1981.
28
CES Revista, v. 22
Download