Bem-estar de matrizes suínas submetidas ao enriquecimento ambiental com inclusão de capim elefante (Pennisetum purpureum)¹ Carlos Barbosa dos Santos2*, Francisco Darlemberty dos Santos Medeiros3, Francisco Lago dos Santos4, Nhaira Maia Vilarinho4, Tiago Vieira de Andrade2, Lilian Silva Catenacci5, Marcos Jácome Araújo6, Leonardo Atta Farias7 1 Parte da trabalho de conclusão de curso do segundo autor. Mestrando do programa de Pós-Graduação em Zootecnia, bolsista da FAPEPI/CAPES – CPCE/UFPI, Bom Jesus, PI. [email protected]; [email protected] 3 Graduado em Medicina Veterinária CPCE/UFPI, Bom Jesus, PI. [email protected] 4 Mestrandos do programa de Pós-Graduação em Zootecnia – CPCE/UFPI, Bom Jesus, PI. [email protected] 5 Professora Assistente do Curso de Medicina Veterinária/CPCE/UFPI, Bom Jesus, PI. [email protected] 6 Professor Adjunto do curso de Zootecnia/CPCE/UFPI, Bom Jesus, PI. [email protected] 7 Professor Titular do curso de Medicina Veterinária e Zootecnia e do PPGZ /CPCE/UFPI, Bom Jesus, PI. [email protected] *Autor apresentador. 2 Resumo: O trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar o bem-estar de matrizes suínas após serem submetidas ao enriquecimento alimentar com a introdução de capim fresco. Utilizaram-se dez matrizes suínas distribuídas em delineamento experimental o inteiramente casualizado com três tratamentos e dez repetições. Os tratamentos consistiram em três períodos, no primeiro os animais receberam somente ração farelada, no segundo período, os animais receberam, além da mesma ração, capim elefante, como forma de enriquecimento ambiental e no terceiro período, os animais voltaram a receber somente a ração farelada. As variáveis analisadas foram quesitos de um etograma. Para alguns comportamentos foram observadas alterações com uso do enriquecimento alimentar após o fornecimento de capim elefante. Observou-se que alguns comportamentos aumentaram e outros diminuíram, isso em razão do fornecimento do capim influenciar na rotina dos animais. Conclui-se que o enriquecimento ambiental através do fornecimento de capim elefante influenciou positivamente no bem-estar das matrizes, melhorando o comportamento mesmo após a retirada do capim. Palavras-chave: comportamento, estresse, etograma Welfare of sows submitted to environmental enrichment inclusion of elephant grass (Pennisetum purpureum) Abstract: The work was carried out to evaluate the sows welfare after they are submitted the food fortification with the introduction of fresh grass. They used ten distributed sows a completely randomized experimental design with three treatments and ten repetitions. Treatments consisted of three periods, the first animals received only middlings in the second period, the animals received the same ration addition, elephant grass, as a form of environmental enrichment, and in the third period, the animals returned to only receive the mash diet. The variables analyzed were questions of a ethogram. For some behavior changes were observed with use of food fortification after the supply of elephant grass. It was observed that some behaviors increased and decreased others that because the grass supply influence the routine of animals. It is concluded that environmental enrichment by providing elephant grass positive influence on the well-being of mothers, improving behavior even after the removal of the grass. Keywords: behavior, stress, ethogram Introdução No Brasil, a suinocultura tem se mostrado bastante competitiva no comércio mundial. No entanto, alguns problemas ainda precisam ser corrigidos. Um tema atual que veio à tona, o bem-estar animal, ainda é pouco conhecido da sociedade brasileira. Em razão dessas circunstâncias, a única imposição do bem-estar animal na suinocultura brasileira seria as exigências do mercado externo (MAIA et al., 2013). O sistema de produção adotado para pratica da suinocultura é o confinamento, com o intuito de maximizar a produtividade animal, no entanto essa prática trás impactos negativos para o bem-estar animal. Neste contexto é necessário mediadas que venham contribuir para melhoria do bem-estar animal. Uma alternativa é o enriquecimento ambiental. Ou seja, consiste em promover melhorias no próprio ambiente em que os animais estão confinamento. São formas de enriquecimento ambiental o fornecimento de palha, madeira, feno, serragem, turfa, composto de cogumelo entre outros, que não afetem a saúde dos animais (MAIA et al., 2013). Neste sentido, este trabalho foi conduzido com o objetivo avaliar o bem-estar de matrizes suínas após serem submetidas ao enriquecimento alimentar com a introdução de capim fresco. Material e Métodos O trabalho foi realizado no Setor de Suinocultura do Campus Professora Cinobelina Elvas da Universidade Federal do Piauí em Bom Jesus – PI, no mês de abril do ano de 2012. Foram utilizadas dez matrizes suínas na fase de pré-gestação da linhagem Agroceres PIC alojadas em baia 40 m2 com piso compacto providas de comedouro e bebedouros do tipo chupeta. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com três tratamentos e dez repetições, que consistiram nos animais. Os tratamentos consistiram em três períodos, no qual no primeiro, tratamento um, os animais receberam ração farelada à base de milho, farelo de soja e farelo de trigo suplementada com minerais e vitaminas, formulada para atender as exigências dos animais de acordo com recomendações de Rostagno et al. (2011), no segundo período, tratamento dois, os animais receberam, além da mesma ração, capim elefante (Pennisetum purpureum), como forma de enriquecimento ambiental e no terceiro período os animais voltaram a receber apenas a ração farelada do primeiro tratamento. Os três períodos tiveram duração de três dias cada, onde a ração farelada foi fornecida duas vezes ao dia, às sete e dezessete horas, na quantidade de 1,5 kg por animal, por turno. As variáveis analisadas foram quesitos de um etograma elaborado para verificar o comportamento dos animais nos três dias antes e após o fornecimento do capim, os quais estão descritos a seguir na (Tabela 1). Dois observadores registraram o comportamento dos animais a cada cinco minutos das oito as dez, catorze a dezesseis e dezoito às vinte horas. Os dados do etograma do primeiro e terceiro períodos foram analisados pro meio do Teste do Qui Quadrado, através do programa Assistat Software 7.0 (Assistat, 2012), para verificar se houve alteração do comportamento dos animais com o enriquecimento ambiental, testando-se as seguintes hipóteses (H): H0:O comportamento dos animais não é alterado com a intervenção no manejo através do fornecimento de capim elefante; e H 1: Há alteração no comportamento dos animais com a intervenção no manejo através do fornecimento de capim elefante. Resultados e Discussão As observações das variáveis de comportamento de matrizes suínas antes e após o enriquecimento ambiental através do fornecimento de capim elefante e os valores do Qui Quadrado das variáveis de comportamento de matrizes suínas antes e após o enriquecimento ambiental através do fornecimento de capim elefante estão apresentadas na Tabela 01. Os resultados descritos na (Tabela 1) mostram que os animais antes e após o fornecimento de capim tiveram uma mudança de comportamento significante por estarem em atividade em quase todos os nove comportamentos. Dessa maneira, os animais não apresentaram comportamentos agonísticos. De acordo com Campos et al. (2010) os comportamentos agonísticos são caracterizados por briga, mordedura ou arranhando um ao outro. Portanto o enriquecimento alimentar atuou de forma positiva, melhorando as condições de bem-estar das matrizes. Isto porque, os animais, de uma maneira geral, realizaram um maior número de atividades, quando comparados ao período prévio do enriquecimento, evidenciando o comportamento natural dos suínos, que é explorar o ambiente em que se encontram. Além disso, observamos que tanto o número, como o tipo de comportamento aumentou inclusive após a retirada do enriquecimento. Outro fator importante a considerar, está relacionado às baias coletivas em que as matrizes se encontravam, esse fator aumenta a incidência de agressão entre os animais prejudicando o bem-estar animal uma vez que, normalmente, o ambiente não possui enriquecimento ambiental (REMIENCE et al., 2008). Foi observado no presente trabalho menor frequência dos comportamentos de parada em pé vocalizando, parada em pé lambendo o piso ou comedouro e parada em pé farejando a parede do recinto, após o enriquecimento (Tabela 1). Comportamentos como, deitada e vocalizando, deitada realizando pequenos movimentos de mastigação, deitada com os olhos fechados e com atividade oral, deitada alerta, dormindo, sentada e alerta, obtiveram uma redução em relação a o período antes do enriquecimento ambiental, evidenciando que o fornecimento de capimelefante contribuiu para essa redução, pois antes não era oferecido nenhum substrato extra, evitando assim, as estereotipias, que são considerados comportamentos anormais, repetitivos e sem função (CAMPOS et al., 2010). O enriquecimento ambiental atua de forma positiva no manejo animal, pois contribui para uma melhor qualidade de vida dos animais em confinamento, pelo fornecimento de estímulos ambientais que favorecem o bemestar psíquico e fisiológico (CAMPOS et al., 2010). Tabela 1. Observações de comportamento de matrizes suínas antes e após a intervenção e valores do Qui Quadrado das variáveis de comportamento de matrizes suínas antes e após o enriquecimento ambiental através do fornecimento de capim elefante Períodos Variável Antes Após Qui quadrado1 H02 Parada em pé bebendo água 71 62 0,63 Aceita Parada em pé comendo ração 143 143 0 Aceita Parada em pé vocalizando 26 10 7,17 Rejeita Parada em pé realizando pequenos movimentos de mastigação 1 4 1,8 Aceita Parada em pé lambendo o piso ou comedouro 96 125 4 Rejeita 7 Parada em pé farejando a grade do recinto 0,07 Aceita 14 7 Parada em pé farejando o ar 0,22 Aceita 8 4 Parada em pé farejando a parede do recinto 4,78 Rejeita 13 74 Parada em pé farejando o chão 2,34 Aceita 14 50 Parada em pé em alerta 3,1 Aceita 34 6 Deitada e vocalizando 11,72 Rejeita 25 173 Deitada realizando pequenos movimentos de mastigação 8,28 Rejeita 228 1106 Dormindo 38,92 Rejeita 898 71 Deitada com os olhos fechados e com atividade oral 5,77 Rejeita 102 350 Deitada alerta 11,65 Rejeita 437 50 Sentada e alerta 17,77 Rejeita 16 6 Deitada bebendo água 0,08 Aceita 7 1 P<0,05; 2Hipótese de nulidade Conclusões O enriquecimento ambiental através do fornecimento de capim elefante influenciou positivamente no bemestar das matrizes, melhorando o comportamento mesmo após a retirada do capim. Referências CAMPOS, J. A.; TINÔCO, I. F. F.; SILVA, F. F.; PUPA, J. M. R.; SILVA, I. J. O. Enriquecimento ambiental para leitões na fase de creches advindos de desmame aos 21 e 28 dias. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, v. 5, n. 2, p. 272-278, 2010. MAIA, A. P. A.; SARUBBI, J.; MEDEIROS, B. B. L.; MOURA, D. J. Enriquecimento ambiental como medida para o bem-estar positivo de suínos (Revisão). Revista Eletronica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v.14, n.14. p.2862-2877, 2013. REMIENCE, V.; WAVREILLE, J.; CANART, B.; MEUNIER-SALAU, N. M. C.; PRUNIER, A. BARTIAUXTHILL, N.; NICKS, B.; VANDENHEEDE, M. Effects of space allowance on the welfare of dry sows kept in dynamic groups and fed with an electronic sow feeder. Applied Animal Behaviour Science, v.112, p.284-296, 2008. ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T.; DONZELE J.L.; GOMES, P.C.; OLIVEIRA, R.F.; LOPES, D.C.; FERREIRA, A.S.; BARRETO, L.S.T.; EUCLIDES, R.F. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 3.ed. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2011. 252p.