conflito no iêmen, o caso huti

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V. 3, n. 2 - Abril de 2016
CONFLITO NO IÊMEN, O CASO HUTI
Henrique Roder
Carolina Soprani
Hajar Jomaa
João Victor Scomparim
Luisa Oliveira
Poliana Garcia1
Os Hutis foram historicamente mobilizados pela rejeição de influência Salafi no Iêmen, através de muitos documentos e ensinamentos, via brochuras
escritas por Badreddin Al-Huti ou seu
filho Hussein, aos quais defenderam
avidamente, denunciando os adeptos
de Wahhabismo2 e a fé sunita.
Em 17 de Janeiro de 2002, uma massa
de seguidores de Houssein Badr AlDin Al-Huti (antigo líder do movimento Huti), incitam o grito “Deus
é grande, morte à América, morte à
Israel, amaldiçoados sejam os judeus,
vitória para o Islã”, próximos a mesquita em Sanaa. O “choro”, como
veio a ser conhecido, pode ser interpretado como um “clamor em face da
arrogância” de acordo com Al-Huti
Houssein. Após ter exposto os seus
pensamentos referentes à tirania
norte-americana e a desgraça que o
povo árabe e islâmico sofria há anos,
Al-Huti invocou seus seguidores a
disseminar a sua mensagem.3
Houssein encabeçou o denominado “Conflito de Sadaa”, iniciado em
2004 no norte do Iêmen, tendo falecido em combate com as forças
armadas do país em 18 de junho daquele ano.4 Após sua morte, seus seguidores mantiveram o movimento,
cujo objetivo era contestar o governo
de Abd Rabbuh Hadi e denunciar as
discriminações sociais sofridas pelos
Hutis na sociedade ienemita. O conflito teve cinco ciclos de combates
entre o governo e os Hutis5 (20042010), que resultaram no deslocamento interno de cerca de 160 mil
pessoas no país.
Logo o conflito se espalhou. Os eventos de 2004 tiveram influência nos
ocorridos de 2009, quando o conflito
ganhou maior grau de intensidade,
na medida em que as insatisfações
dos Hutis se disseminaram e acaba-
1
Takara Osaka
RESUMO HISTÓRICO
Bandeira Huti
ram por influir em um descontentamento generalizado contra o governo
do país. O conflito entre os “rebeldes
xiitas” (como foram inicialmente denominados os Hutis na mídia internacional, inclusive a brasileira)6 e o
governo iemenita, incitou naquele
momento insurgências de cunho separatista envolvendo alguns grupos
rebeldes provenientes do sul que,
com apoio e colaboração dos Hutis,
Série Conflitos Internacionais
entraram em conflito direto com o
governo do Iêmen.7
Hart-Davis, Duff. The War That Never Was. Arrow Books, 2012
O estudo sobre a situação política
estrutural passada do Iêmen ajuda a
compreensão da luta atual dos Huti.
O país localizado entre o centro do
Oriente Médio e a Índia foi, durante
o período medieval, uma das principais passagens comerciais. A “Arábia
Feliz”, como era denominada a região antes da chegada do islamismo
por volta de 630 d.C., era governada
por várias dinastias locais divididas
em diversos reinos.8 Vale a ressalva
de que o Iêmen nunca teve um governo que controlasse todo o país,
permanecendo em grande parte
como uma sociedade tribal. Durante
séculos, líderes tribais preencheram
o vazio governamental em algumas
regiões, às vezes até desenvolvendo
programas de auxilio social. Durante
o século XIX o Iêmen foi dominado
pelo Império Turco Otomano, que
juntamente com os britânicos desmantelou a região, dividindo o país
em Iêmen do Norte, pertencente aos
otomanos, e Iêmen do Sul, pertencente aos britânicos. Após a dissolução do Império Turco Otomano, no
ano de 1922, a região norte passou a
ser governada pelo grupo xiita Zaidi,
representantes monárquicos da região. Em 1962, a monarquia do Iam
Zaidi foi derrubada pelos egípcios e
em seu lugar tentou-se instalar uma
república. Contudo, em decorrência
das divergências existentes, iniciouse uma guerra civil entre as forças
monarquistas apoiadas pela Arábia Saudita e pela Jordânia e os que
apoiavam a república.9
No Sul, em 1963, a maioria dos estados tribais, juntamente com o
protetorado britânico de Áden10 e a
colônia de Áden (colônia da Coroa
Britânica que reunia a cidade portuária de Áden e suas imediações)11,
juntaram-se para formar a Federação
da Arábia do Sul, financiada pelo governo britânico. Contudo, o grupo
denominado Frente Nacional de Libertação Marxista (FNLM) conquistou o poder, mudando o nome do
país para República Popular Democrática do Iêmen (RPDI) em 1970.
Dois anos após a mudança, ambas as
regiões norte e sul do país estavam
em conflito, com o Norte recebendo
auxílio da Arábia Saudita e o Sul sendo financiado pela União Soviética.
Ou seja, o conflito entre o norte e o
sul do país foi fortemente influenciado pela Guerra Fria, com as partes
sendo financiadas pela URSS e pelos
Estados Unidos.
É importante ressaltar que durante
esse período uma reunificação começou a ser esboçada e, em 1979, houve a assinatura de um acordo entre
os dois países. Porém a unificação
de fato ocorreu somente após a extinção da União Soviética, em 1990,
formando-se a República do Iêmen.
Com a unificação, o país enfrentou
uma dura crise econômica e política
que enfraqueceu o quadro político,
abrindo oportunidade para a atuação
de grupos minoritários e marginalizados, como por exemplo, tribos que
haviam sido oprimidas pelo governo.
No Norte a população xiita sofreu
Mercenários britânicos na guerra civil no Iêmen do Norte (1962-1967)
2
V. 3, n. 2 - Abril de 2016
O contexto histórico político do país
é importante para se entender os anseios de grupos como os Hutis. Esse
grupo acabou criando, após anos de
opressão e luta, um movimento em
prol dos direitos civis. O nome “Huti”
deriva de Houssein Badr Al-Din
Al-Huti, que liderou revoltas desde
2002, em uma tentativa de conseguir
mais autonomia para a província de
Sadaa, considerada pelos rebeldes a
sua terra natal, e também a busca de
maior proteção da religião e das tradições culturais praticadas.13 Outra
característica é que os participantes
da luta não formam um grupo homogêneo, mas sim diversas comunidades tribais.
Mesquita Tahla, visão de Sanaa, Iêmen
Abdullah Saleh, acusado de não melhorar as condições de vida do país,
governar de forma autoritária e ser
marcado pelo extremismo islâmico.
No dia 03 de fevereiro de 2011 os
protestos transformaram-se em um
movimento de massa18, resultado do
anuncio governamental acerca de
projetos de emendas constitucionais
que permitiriam Saleh concorrer
de maneira ilimitada nas eleições
presidenciais. Um grande grupo de
estudantes e ativistas autodenomi-
nado “a Juventude”19 (referem-se a
si mesmos como Juventude da Revolução) atraiu dezenas de milhares
de pessoas para protestos na capital
Sanaa. Os manifestantes exigiam a
destituição do corpo governamental
considerado corrupto, demissão do
filho do presidente Saleh da chefia
da Guarda Republicana e das Forças
Especiais, dissolução do Parlamento,
nomeação de um governo de unidade nacional, devolução dos fundos
desviados, renúncia de Saleh à presidência e seu comprometimento
Indian Navy/CC
Os Hutis são Zaidis14 e afirmam ser
descendentes diretos do profeta
Maomé, através de sua filha Fátima. É também um grupo revivalista,
acreditando que a identidade Zaidi
é ameaçada pela identidade Sunita15
ou Salafi.16 Os Zaidistas governaram
o Iêmen do Norte seguindo um sistema conhecido como “imanato” durante quase mil anos, até a revolução
em 1962. A revolução marcou o fim
do Imanato e o início da falência econômica e política dos Zaidis, abrindo
precedentes para o desenvolvimento
do atual conflito em Sanaa.17
yeowatzup/CC
uma série de ataques militares, encabeçadas por Ali Abdullah Saleh, que
governava o Iêmen desde 1978, com
objetivo de desmantelar os Zaidi.12
Nesse cenário, em 1994, uma guerra
civil ocorreu no país e todas as medidas políticas no sentido de cessar o
conflito fracassaram.
A Primavera Árabe iniciada em dezembro de 2010, na Tunísia, foi outro evento intimamente ligado ao
conflito no Iêmen. A população iemenita foi às ruas em janeiro de 2011
pedindo a renúncia do presidente Ali
Evacuação de cidadãos indianos no Iêmen
3
Série Conflitos Internacionais
a não reeleição. Em 3 de junho de
2011, Saleh foi alvo de um ataque na
mesquita do palácio presidencial em
Sanaa, seguindo para tratamento na
Arábia Saudita.20 Ao retornar ao Iêmen, negociou a sua renúncia.
O vice-presidente, Abd Rabbuh
Mansur Al Radi, assumiu o poder,
sendo eleito três meses depois como
candidato único à Presidência. Porém, mesmo com a posse de Radi,
Saleh continuava influenciando a
política local.21 Em 21 de setembro
de 2011, o grupo radical Huti, localizado originalmente no norte do Iêmen, avançou para a capital do país.
Segundo Chacra, o grupo representa
cerca de um terço da população do
Iêmen que é de 26.737.317.22 Então,
pode-se estimar em aproximadamente 8.8 milhões a quantidade de
apoiadores do grupo rebelde, sendo
principalmente de origem árabe.
Distribuição de grupos etnicos e principais áreas tribais
EVOLUÇÃO DO CONFLITO ATUAL
grupos de casta hereditária (a condição social/política que o indivíduo
passa de pai para filho), em áreas urbanas como o grupo Al-Akhdam.23
Considerados camada inferior na
escala social, esses grupos são socialmente segregados e, na maioria
das vezes, confinados a trabalhos
braçais nas principais cidades do
Ibrahem Qasim/CC
No Iêmen, o governo é uma instituição secundária em uma sociedade
tradicionalmente tribal que proíbe
seus membros de abandonar as tradições em virtude de uma nova crença,
incluindo ameaças de pena de morte
ou banimento. No norte, nas áreas
montanhosas do país, existem cerca
de 400 tribos Zaidistas. Há também
país. A maioria Al-Akhdam vive em
favelas na periferia de grandes centros urbanos do Iêmen, a maioria na
capital Sanaa.24
Dentre os diversos grupos étnicos o
árabe é predominante, mas também
estão presentes afro-árabes, sul-asiáticos e europeus. A religião no Iêmen
é constituída principalmente pelos
dois principais grupos religiosos islâmicos: 53% da população muçulmana é sunita e mais de 45% é xiita.
Há, ainda, cerca de 3.000 cristãos e
400 judeus.25
Após algumas rodadas de negociações entre o governo e o grupo rebelde, em setembro de 2011, a resistência dos Hutis só aumentou. A tomada
da capital Sanaa e outros territórios,
principalmente no sul do país, ocor-
Bombardeio em Sanaa em 11 de maio de 2015
4
V. 3, n. 2 - Abril de 2016
reu principalmente após o anúncio
de cortes nos subsídios voltados para
o setor petrolífero.26 O slogan Huti
diz: “Deus é grande, morte à América, morte à Israel, amaldiçoados sejam os judeus, vitória ao Islã”. Apesar
das palavras fortes o grupo clama por
uma menor influência desses governos externos no território iemenita,
e não realmente sua aniquilação. Essencialmente, os objetivos do grupo
são aqueles que todo o povo iemenita
reivindica: responsabilidade fiscal do
governo, fim da corrupção, serviços
públicos regulamentados, preço justo
para o combustível, oportunidade de
emprego para os mais pobres e o fim
da influência do Ocidente. Dessa forma, o grupo Huti não é contra a república, mas sim, contra o atual governo.
Segundo Hussein Al-Bukhaiti, que
se descreve como um ativista Huti,
o grupo julga que a maneira corre-
ta de alcançar o poder é através de
eleições e da possibilidade e o dever
das mulheres em participar da política, até mesmo como presidente.27
Isso demonstra uma visão diferente
da veiculada na grande massa midiática que apresenta os Hutis como um
grupo extremamente inflexível culturalmente e religiosamente. Além
disso, o grupo denuncia estreitos
vínculos do governo com os EUA,
assim como interferências sauditas
através do financiamento do governo e de tribos locais.
Em contrapartida, os apoiadores do
ex-presidente Saleh e pesquisadores mais pessimistas sobre a situação
atual do Iêmen alegam que o grupo Huti objetiva derrubar o regime
e reinstaurar o sistema rigoroso de
monarquia religiosa que já havia governado o país durante séculos. Não
obstante, afirmam que o grupo rebel-
Controle do território no Iêmen (Junho de 2015)
5
de é aliado ao Irã, assim como o Hezbollah libanês, e seu objetivo é tomar
o poder do Iêmen.28
INTERESSES EXTERNOS
Para deter a insurreição rebelde, o
governo saudita formou uma coalizão com países árabes como o Egito,
Jordânia, Sudão e Bahrein. A coalizão conta com o apoio de países
como os Estados Unidos, Bélgica,
Líbia, dentre outros, sob a forma de
fornecimento de armas, inteligência, aplicação do bloqueio naval e até
mesmo bombardeio aéreo.29
Tornando a situação mais complexa, numerosos grupos lutam entre si
dentro do Iêmen, incluindo facções
do Estado Islâmico e da Al Qaeda, os
quais não são aliados dos Hutis. Esses,
por sua vez, contam com aliados que
possuem alguma divergência com a
Ibrahem Qasim/CC
Série Conflitos Internacionais
Casa destruída no sul de Sanaa
Arábia Saudita. Países como o Irã,
Iraque, Rússia, Argélia e o grupo libanês Hezbollah, atuam diretamente no treinamento, fornecimento de
provisões, participação em bombardeios e até em apoio financeiro. Esses
países não carregam necessariamente
a bandeira do movimento Huti, mas
cooptam com a posição do grupo
iemenita contra o possível ‘imperialismo’ saudita e estadunidense na
região. Dessa forma, esses países visariam um maior equilíbrio de poder
na região.
Fica evidente que o Iêmen se transformou em um palco de disputa de
poder principalmente entre o Irã e
a Arábia Saudita, fato que envolve
também as divergências religiosas
entre xiitas (Irã) e sunitas (Arábia
Saudita).30 Tal atrito possui desdobramentos dentro do Iêmen por conta de ações militares e o uso da luta
iemenita para consecução de interesses particulares por outros países.
Pode-se dizer que, o apoio ao movimento em si é pequeno, visto que,
trata-se de uma luta local, que busca
melhorias exclusivamente dentro do
Iêmen. No entanto, vão contra aos
interesses da potência na região, a
Arábia Saudita. A tensão criada pelo
conflito se acirrou no início de 2016
após a execução do clérigo saudita
Nimr Al-Nimr, o subsequente incêndio da embaixada saudita em Teerã e
a subsequente expulsão de diplomatas iranianos de Riad.
A Arábia Saudita alegava possuir
mais de 150.000 militares mobilizados, sendo 5.000 atuando no conflito
em agosto de 2015.31 Relatórios afirmavam que autoridades egípcias se
comprometeram em fornecer apoio
aéreo, territorial e naval à coalizão.32
Entre outras medidas ofensivas mencionados na mídia, deve-se ressaltar o
bloqueio naval imposto pelos sauditas
aos navios que se aproximam do Iêmen, os quais podem sofrer rigorosas
inspeções por tempo indeterminado
que, por vezes, se prolongam indefinidamente.33 Pode-se inferir, também,
que o governo saudita procura intervir no Iêmen em busca de um maior
equilíbrio político local, já que a proximidade entre ambos pode levar instabilidade política à Arábia Saudita, fo-
6
mentando insurgências naquele país.
Para complicar ainda mais a situação, a filial da al-Qaeda no Iêmen –
Exército Islâmico de Aden-Abyan,
se aproveitou do conflito para tomar
o controle de boa parte da província
de Abyan e declarar a criação de um
emirado islâmico. No início de 2012
conseguiram assumir o controle de
outras cidades do sudeste em meio
a batalhas com as forças armadas do
país. Em 2015, beneficiado pelas vitórias na Síria e no Iraque, o Estado Islâmico estabeleceu presença em pelo
menos três províncias nas regiões sul
e central do Iêmen, iniciando uma
competição com a al-Qaeda.34
CONCLUSÃO
Desde a unificação do Iêmen do Norte e do Sul em 1990, o novo país experimentou constantes convulsões
violentas em seu território. As causas
do atual conflito iemenita estão intimamente ligadas à condição social e
ao sentimento percebido pelos Zaidis
de marginalização e de opressão vindas do governo de Abdullah Saleh.
V. 3, n. 2 - Abril de 2016
Mas, o problema do Iêmen vai além
da luta de um grupo localizado. Na
realidade o país sofre com a pobreza
extrema e a não representação política de vários grupos no Estado.
No desenrolar do movimento, os
Hutis carregaram a bandeira por mudanças no país. No entanto, o grupo
não goza do pleno apoio da comunidade Zaidi e os países vizinhos colocaram o movimento em desvantagem
por conta da coalizão liderada pela
potência regional, a Arábia Saudita.
Por outro lado, os Hutis são apenas
parte dos problemas que o governo iemenita enfrenta hoje. Há uma
a extensa lista de tensões subjacen-
tes dentro da sociedade do Iêmen
que leva a movimentos de oposição.
Além disso, a situação humanitária é
preocupante, visto que cerca de 13
milhões de iemenitas necessitam de
ajuda humanitária, 7,6 milhões civis
sofrem de ‘insegurança alimentar
grave’ e 2,5 milhões foram deslocados internamente pelo conflito desde
janeiro de 2014, conforme relatos de
representantes da Organização Mundial de Saúde e do Programa Mundial de Alimentos.35
Não se percebe que as divergências
entre os Hutis e o governo do Iêmen
sejam resolvidas de forma pacifica. A
coalizão liderada pela Arábia Saudi-
ta continua agindo militarmente no
país, enquanto que os combatentes
rebeldes continuam mantendo a tenacidade na luta. Diversas tentativas
da ONU de cessar-fogo e de negociações de paz ocorreram no Kuwait em
maio de 2016, mas fracassaram em
razão das intransigências de ambos
os lados.36 A obtenção de um acordo
de paz fica ainda mais difícil quando
os maiores interesses são externos.
Qualquer solução para o conflito
deve levar em consideração as demandas dos diversos grupos no interior do Estado, mas também, acomodar os diversos interesses externos
que acabam por insuflar ainda mais a
violência do que resolvê-la.
xiismo. O movimento é considerado ‘extremista’ no campo político (a terminologia árabe
usa a palavra ghuluww para caracterizar o movimento). No campo religioso é considerado
moderado. O zaidismo não exige ligações de sangue com os Hasânidas ou com os Husaynidas
(descendentes de Hasan ou de Husayn, os dois filhos de Ali ibn Abi Talib e de Fátima Zarah
ibn Mohamad) para pleitear a liderança do Islamismo. Determina, porém, que legalmente
o poder será atribuído a quem souber guiar os muçulmanos contra os usurpadores e
opressores, o que dá uma conotação ‘militante’ ao movimento, o que contribuiu para que
fosse considerado subversivo nos primeiros séculos do Islã, assim como os kharijitas e
os carmatas ismaelitas. Vale-se lembrar que nem todo Zaid é Huti. AL-MUFID, Shaykh.
Imam Ali Ibn al Husayn (as). 2010. Disponível em: <https://www.al-islam.org/articles/
imam-ali-ibn-al-husayn-shaykh-al-mufid>. Acesso em: 23 abr. 2016. O Zaidis dão menos
importância às qualidades do Imam do que os grupos xiitas dominantes. O imã não tem
poderes sobrenaturais, é apenas uma questão de preferência teológica e política, mas deve
ser descendente de Ali ibn. Além disso, pode haver mais de um Imã e a ausência de um Imã
não é interpretada em termos negativos. A teologia Zaidi é em grande parte influenciada
pela orientação racionalista do Mu’tazilis, uma escola de teologia islâmica baseada na razão
e pensamento ponderado, que floresceu nas cidades de Basra e Bagdá durante os Séculos
VIII e X. ZAYDI Islam. 2011. Disponível em: <http://www.globalsecurity.org/military/intro/
islam-zaydi.htm>. Acesso em: 23 abr. 2016.
Henrique Roder, Carolina Soprani, Hajar Jomaa, João Victor Scomparim,
Luisa Oliveira e Poliana Garcia Discentes do Curso de Relações Internacionais
da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus de
Marília e membros do Observatório de Conflitos Internacionais (OCI).
1
O Wahhabismo tem o nome inspirado em um pregador e estudioso do século XVIII chamado
Muhammad ibn Abd al-Wahhab (1703-1792), que começou um movimento revivalista na
região remota e pouco povoada de Nejd, no centro da Arábia Saudita, defendendo purificar o
islamismo para devolvê-lo às suas raízes do século VII. Tomado como ortodoxo e extremista,
seu principal objetivo é restaurar o “culto monoteísta puro”. WAHHABI. 2011. Disponível
em: <http://www.globalsecurity.org/military/world/gulf/wahhabi.htm>. Acesso em: 23 abr.
2016.
2
ANOUTI, Hani. The Houthi Insurrection in Yemen: Shedding light on the Problem of
Minorities in the Middle East. Master of Arts in International Affairs. Lebanese American
University, Líbano, 2011. Disponível em: <http://laur.lau.edu.lb:7080/xmlui/bitstream/
handle/10725/385/Hani_Anouti_Thesis.pdf? sequence=1>. Acesso em: 20 ago. 2015.
3
YEMEN kills cleric’s followers, offers reward. 2004. Disponível em: <http://www.smh.com.
au/articles/ 2004/07/10/1089000402822.html>. Acesso em: 23 jul. 2015.
4
O termo sunita tem origem na palavra sunna, que significa ‘trajetória’, ‘caminho percorrido’,
em referência ao documento sagrado que narra a trajetória do profeta Maomé, figura central
da Islã, o revelador da vontade de Deus (Alá). São comprometidos intimamente com as
práticas de Maomé, além do desejo de manter a comunidade islâmica unida, através de um
governo formado pela lei e pela persuasão. Os sunitas acreditam que Abu Bakr, pai de Aisha,
esposa de Maomé, é o sucessor, e que o método de escolha ou eleição de líderes (shura),
aprovado pelo Alcorão legitimou o consenso da ummah. SUNNI Islam. 2011. Disponível
em: <http://www.globalsecurity.org/military/intro/islam-sunni.htm>. Acesso em: 23 abr.
2016.
15
WHAT it Means to be a Houthi: The Divided House of Zaydism. The Majalla: The Leading
Arab Magazine. London, v. 1, n. 1, p.1-3, 10 out. 2009. Disponível em: <http://eng.majalla.
com/2009/10/article557320>. Acesso em: 17 set. 2015.
5
ESCRITÓRIO de enviado da ONU no Iêmen nega atentado; parlamentar é morto. Folha de
São Paulo. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/11/1375186enviado-da-onu-para-o-iemen-sai-ileso-de-tentativa-de-assassinato.shtml>. Acesso em: 24
set. 2015.
6
Salafistas são fundamentalistas que acreditam em um retorno às formas originais do Islã.
A palavra ‘Salafi’ vem da frase em árabe ‘as-salaf as-Saliheen’, que se refere às três primeiras
gerações de muçulmanos (começando com os Companheiros do Profeta), também
conhecidos como os antecessores piedosos. Os salafistas são socialmente e religiosamente
conservadores e apoiam a aplicação das leis islâmicas. SALAFI Islam. 2011. Disponível em:
<http://www.globalsecurity.org/military/intro/islam-salafi.htm>. Acesso em: 23 abr. 2016.
16
‘WHAT it Means’, op. cit.
HISTORY of Yemen. Disponível em:<http://www.nationsonline.org/oneworld/History/
Yemen-history.htm>. Acesso em: 24 ago. 2015.
7
8
THAROOR, Ishaan. A Brief History of Yemen: Rich Past, Impoverished Present. 2010.
Disponível em: <http://content.time.com/time/world/article/0,8599,2028740,00.html>.
Acesso em: 23 set. 2015.
9
DRESCH, Paul. A History of Modern Yemen.Cambridge. UK: Cambridge University Press,
2000.
17
WHAT it Means, op. cit.
18
ANOUTI, op. cit.
10
11
Criado em 1997 por Houssein Al-Huti. O grupo que procura reviver o ativismo Zaidi
através da educação e proselitismo. MENA. Iémen: um ano depois do início dos protestos.
2012. Disponível em: <http://www.amnistia-internacional.pt/index.php?option=com_cont
ent&view=article&id=863:iemen-um-ano-depois-do-comeco-dos-protestos&catid=53:men
a&Itemid=120>. Acesso em: 23 ago. 2015.
19
Idem
GIOVANNI, Janine di. The Complex Politics Behind the Chaos in Yemen. 2015. Disponível
em: <http://www.newsweek.com/why-yemen-fell-apart-322149>. Acesso em: 24 ago. 2015.
12
13
ANOUTI, op. cit.
DITADOR do Iêmen vai à TV e diz que passou por oito cirurgias. Folha de São Paulo.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2011/07/940339-ditador-do-iemen-vaia-tv-e-diz-que-passou-por-oito-cirurgias.shtml > Acesso em 09 set.2015.
20
O Zaidismo deve seu nome a Zayd ibn Ali ibn al-Husayn, um dos filhos do quarto Imã
(autoridade religiosa muçulmana) xiita, Zayn al-Abidin, que se rebelou em Cufa, no ano
de 740 d.C., contra o poder dos Omayyad, constituindo uma dissidência bastante antiga do
14
7
Série Conflitos Internacionais
Novo governo do Iêmen assume o poder após a queda de Saleh. Opera Mundi.
Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/18435/
novo+governo+do+iemen+assume+o+poder+apos+queda+de+saleh.shtml> Acesso em
12 set.2015.
ONU alerta sobre situação humanitária no Iêmen. AFP Brasil. 2016. Disponível
em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2016/05/onu-alerta-sobre-situacaohumanitaria-no-iemen-5803588.html>. Acesso em: 18 mai. 2016.
21
35
ONU: negociações de paz no Iêmen continuam apesar de violações ao cessar-fogo.
ONUBR. 2016. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/onu-negociacoes-de-paz-noiemen-continuam-apesar-de-violacoes-ao-cessar-fogo/>. Acesso em: 10 mai. 2016.
36
CHACRA, Gugu. Afinal, quem são houthis? O Estadão. São Paulo, 30 mar. 2015, p. 1-1.
Disponível em: <http://internacional.estadao.com.br/blogs/gustavo-chacra/afinal-quemsao-houthis-veja-a-explicacao-em-7-pontos/>. Acesso em: 30 mar. 2015.
22
Provém da palavra no singular Khadem, que significa ‘servo’ em árabe, também chamado
Al-Muhamasheen – ‘os marginalizados’. É um grupo social minoritário no Iêmen. As origens
exatas da Al-Akhdam são incertas. Uma crença popular afirma que são descendentes de
nilóticos sudaneses, pessoas que acompanharam o exército da Abissínia durante a ocupação
do Iêmen. Outros afirmam que seriam de origem ‘Veddoid’. AKHDAM people suffer history
of discrimination. IRIN. 2005. Disponível em: <http://www.irinnews.org/report/25634/
yemen-akhdam-people-suffer-history-discrimination>. Acesso em: 23 jun. 2016.
23
YEMEN: Akhdam people suffer history of discrimination. IRIN. 2005. Disponível
em:
<http://www.irinnews.org/report/25634/yemen-akhdam-people-suffer-history-ofdiscrimination>. Acesso em: 10 set. 2015.
24
THE GENERAL Census of Population 2004. Yemen News Agency. 2004. Disponível em:
<http://www.sabanews.net/en/news85385.htm>. Acesso em: 13 set. 2015.
25
YEMEN’S oil and gas resources, a tale of money and politics. Yemen
Post Staff.
2014. Disponível em: <http://yemenpost.net/Detail123456789.
aspx?ID=100&SubID=7617&MainCat=6>. Acesso em: 16 set. 2015.
26
AL-KARIMI, Khalid. Al-Bukhaiti to the Yemen Times: “The Houthis’ Takeover cannot
be Called an Invasion”. 2014. Disponível em: <http://www.yementimes.com/en/1826/
intreview/4467/Al-Bukhaiti-to-the-Yemen-Times-“The-Houthis’-takeover-can-not-becalled-an-invasion”.htm>. Acesso em: 12 set. 2015.
27
28
WHAT it Means, op. cit.
MASI, Alessandria. Iran, Saudi Proxy War In Yemen Makes International Enemies, Local
Friends For Houthis. 2015. Disponível em: <http://www.ibtimes.com/iran-saudi-proxy-waryemen-makes-international-enemies-local-friends-houthis-1860896>. Acesso em: 14 set.
2015.
29
As diferenças entre os dois grupos mais concentradas nos campos da doutrina, rituais, leis,
teologia e da organização religiosa. Muçulmanos sunitas se consideram do ramo ortodoxo e
tradicionalista do Islã, utilizam-se de práticas baseadas em precedentes ou relatos das ações
do profeta Maomé (profeta derradeiro) e daqueles próximos a ele. Os xiitas reivindicavam
o direito de Ali, genro do profeta Maomé, e de seus descendentes de guiar a comunidade
islâmica, possuem uma hierarquia de clérigos que praticam interpretações independentes
e constantemente atualizadas dos textos islâmicos. ENTENDA as diferenças e divergências
entre sunitas e xiitas. BBC Brasil. 2016. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/
noticias/2016/01/160104_diferencas_sunitas_xiitas_muculmanos_lab>. Acesso em: 23 abr.
2016.
30
YEMEN: Arabia Saudita dice que destruyó en centro de control rebelde en Saná. BBC.
2015. Disponível em: <http://www.bbc.com/mundo/ultimas_noticias/2015/03/150326_
ulnot_yemen_ataque_arabia_saudita_ np>. Acesso em: 17 set. 2015.
31
FRAGATAS de guerra egípcias partem rumo ao Iêmen para bombardear houthis. Terra.
2015. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/asia/fragatas-de-guerraegipcias-partem-rumo-ao-iemen-para-bombardear-houthis,333d43dac565c410VgnCLD20
0000b2bf46d0RCRD.html>. Acesso em: 21 set. 2015.
32
ARÁBIA Saudita Impõe Bloqueio Naval ao Iêmen. 2015. Disponível em: <https://isape.
wordpress.com/ 2015/03/31/arabia-saudita-impoe-bloqueio-naval-ao-iemen/>. Acesso em:
12 set. 2015.
33
TODD, Brian. ISIS gaining ground in Yemen, competing with al Qaeda. CNN. 22 Jan.
2015. Disponível em: < http://edition.cnn.com/2015/01/21/politics/isis-gaining-ground-inyemen/>. Acesso em: 20 abr. 2015.
34
é editada pelo
Observatório de Conflitos Internacionais da
Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) da
Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita
Filho (UNESP) - Campus de Marília – SP
Série Conflitos Internacionais mais recentes:
Série Conflitos Internacionais
Editor: Prof. Dr. Sérgio L. C. Aguilar
Layout: Paula Schwambach Moizes
ISSN: 2359-5809
Comentários para: [email protected]
Disponível em: www.marilia.unesp.br/#oci
Rússia e Política de Influência V. 1, n. 1
Congo - A atual dinâmica do conflito e a rendição do M23 V. 1, n. 2
Oriente Médio: islamismo e democracia V. 1, n. 3
As invasões russas na Geórgia (2008)
e na Criméia (2014) V. 1, n. 4
A Nigéria e o Boko Haram V. 1, n. 5
A guerra civil síria, o Oriente Médio e o sistema internacional V. 1, n. 6
Colômbia: as FARC e os diálogos de paz V. 2, n. 1
O Estado Islâmico V. 2, n. 2
Haiti: a atual conjuntura da Minustah e o Brasil V. 2, n. 3
Congo: desordem, interesses e conflito V. 2, n. 4
Libia: 4 años después de la intervención humanitaria y el R2P V. 2, n. 5
Mali: conflito complexo e multifacetado V. 2, n. 6
O conflito na República Centro Africana V. 3, n. 1
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