V. 3, n. 2 - Abril de 2016 CONFLITO NO IÊMEN, O CASO HUTI Henrique Roder Carolina Soprani Hajar Jomaa João Victor Scomparim Luisa Oliveira Poliana Garcia1 Os Hutis foram historicamente mobilizados pela rejeição de influência Salafi no Iêmen, através de muitos documentos e ensinamentos, via brochuras escritas por Badreddin Al-Huti ou seu filho Hussein, aos quais defenderam avidamente, denunciando os adeptos de Wahhabismo2 e a fé sunita. Em 17 de Janeiro de 2002, uma massa de seguidores de Houssein Badr AlDin Al-Huti (antigo líder do movimento Huti), incitam o grito “Deus é grande, morte à América, morte à Israel, amaldiçoados sejam os judeus, vitória para o Islã”, próximos a mesquita em Sanaa. O “choro”, como veio a ser conhecido, pode ser interpretado como um “clamor em face da arrogância” de acordo com Al-Huti Houssein. Após ter exposto os seus pensamentos referentes à tirania norte-americana e a desgraça que o povo árabe e islâmico sofria há anos, Al-Huti invocou seus seguidores a disseminar a sua mensagem.3 Houssein encabeçou o denominado “Conflito de Sadaa”, iniciado em 2004 no norte do Iêmen, tendo falecido em combate com as forças armadas do país em 18 de junho daquele ano.4 Após sua morte, seus seguidores mantiveram o movimento, cujo objetivo era contestar o governo de Abd Rabbuh Hadi e denunciar as discriminações sociais sofridas pelos Hutis na sociedade ienemita. O conflito teve cinco ciclos de combates entre o governo e os Hutis5 (20042010), que resultaram no deslocamento interno de cerca de 160 mil pessoas no país. Logo o conflito se espalhou. Os eventos de 2004 tiveram influência nos ocorridos de 2009, quando o conflito ganhou maior grau de intensidade, na medida em que as insatisfações dos Hutis se disseminaram e acaba- 1 Takara Osaka RESUMO HISTÓRICO Bandeira Huti ram por influir em um descontentamento generalizado contra o governo do país. O conflito entre os “rebeldes xiitas” (como foram inicialmente denominados os Hutis na mídia internacional, inclusive a brasileira)6 e o governo iemenita, incitou naquele momento insurgências de cunho separatista envolvendo alguns grupos rebeldes provenientes do sul que, com apoio e colaboração dos Hutis, Série Conflitos Internacionais entraram em conflito direto com o governo do Iêmen.7 Hart-Davis, Duff. The War That Never Was. Arrow Books, 2012 O estudo sobre a situação política estrutural passada do Iêmen ajuda a compreensão da luta atual dos Huti. O país localizado entre o centro do Oriente Médio e a Índia foi, durante o período medieval, uma das principais passagens comerciais. A “Arábia Feliz”, como era denominada a região antes da chegada do islamismo por volta de 630 d.C., era governada por várias dinastias locais divididas em diversos reinos.8 Vale a ressalva de que o Iêmen nunca teve um governo que controlasse todo o país, permanecendo em grande parte como uma sociedade tribal. Durante séculos, líderes tribais preencheram o vazio governamental em algumas regiões, às vezes até desenvolvendo programas de auxilio social. Durante o século XIX o Iêmen foi dominado pelo Império Turco Otomano, que juntamente com os britânicos desmantelou a região, dividindo o país em Iêmen do Norte, pertencente aos otomanos, e Iêmen do Sul, pertencente aos britânicos. Após a dissolução do Império Turco Otomano, no ano de 1922, a região norte passou a ser governada pelo grupo xiita Zaidi, representantes monárquicos da região. Em 1962, a monarquia do Iam Zaidi foi derrubada pelos egípcios e em seu lugar tentou-se instalar uma república. Contudo, em decorrência das divergências existentes, iniciouse uma guerra civil entre as forças monarquistas apoiadas pela Arábia Saudita e pela Jordânia e os que apoiavam a república.9 No Sul, em 1963, a maioria dos estados tribais, juntamente com o protetorado britânico de Áden10 e a colônia de Áden (colônia da Coroa Britânica que reunia a cidade portuária de Áden e suas imediações)11, juntaram-se para formar a Federação da Arábia do Sul, financiada pelo governo britânico. Contudo, o grupo denominado Frente Nacional de Libertação Marxista (FNLM) conquistou o poder, mudando o nome do país para República Popular Democrática do Iêmen (RPDI) em 1970. Dois anos após a mudança, ambas as regiões norte e sul do país estavam em conflito, com o Norte recebendo auxílio da Arábia Saudita e o Sul sendo financiado pela União Soviética. Ou seja, o conflito entre o norte e o sul do país foi fortemente influenciado pela Guerra Fria, com as partes sendo financiadas pela URSS e pelos Estados Unidos. É importante ressaltar que durante esse período uma reunificação começou a ser esboçada e, em 1979, houve a assinatura de um acordo entre os dois países. Porém a unificação de fato ocorreu somente após a extinção da União Soviética, em 1990, formando-se a República do Iêmen. Com a unificação, o país enfrentou uma dura crise econômica e política que enfraqueceu o quadro político, abrindo oportunidade para a atuação de grupos minoritários e marginalizados, como por exemplo, tribos que haviam sido oprimidas pelo governo. No Norte a população xiita sofreu Mercenários britânicos na guerra civil no Iêmen do Norte (1962-1967) 2 V. 3, n. 2 - Abril de 2016 O contexto histórico político do país é importante para se entender os anseios de grupos como os Hutis. Esse grupo acabou criando, após anos de opressão e luta, um movimento em prol dos direitos civis. O nome “Huti” deriva de Houssein Badr Al-Din Al-Huti, que liderou revoltas desde 2002, em uma tentativa de conseguir mais autonomia para a província de Sadaa, considerada pelos rebeldes a sua terra natal, e também a busca de maior proteção da religião e das tradições culturais praticadas.13 Outra característica é que os participantes da luta não formam um grupo homogêneo, mas sim diversas comunidades tribais. Mesquita Tahla, visão de Sanaa, Iêmen Abdullah Saleh, acusado de não melhorar as condições de vida do país, governar de forma autoritária e ser marcado pelo extremismo islâmico. No dia 03 de fevereiro de 2011 os protestos transformaram-se em um movimento de massa18, resultado do anuncio governamental acerca de projetos de emendas constitucionais que permitiriam Saleh concorrer de maneira ilimitada nas eleições presidenciais. Um grande grupo de estudantes e ativistas autodenomi- nado “a Juventude”19 (referem-se a si mesmos como Juventude da Revolução) atraiu dezenas de milhares de pessoas para protestos na capital Sanaa. Os manifestantes exigiam a destituição do corpo governamental considerado corrupto, demissão do filho do presidente Saleh da chefia da Guarda Republicana e das Forças Especiais, dissolução do Parlamento, nomeação de um governo de unidade nacional, devolução dos fundos desviados, renúncia de Saleh à presidência e seu comprometimento Indian Navy/CC Os Hutis são Zaidis14 e afirmam ser descendentes diretos do profeta Maomé, através de sua filha Fátima. É também um grupo revivalista, acreditando que a identidade Zaidi é ameaçada pela identidade Sunita15 ou Salafi.16 Os Zaidistas governaram o Iêmen do Norte seguindo um sistema conhecido como “imanato” durante quase mil anos, até a revolução em 1962. A revolução marcou o fim do Imanato e o início da falência econômica e política dos Zaidis, abrindo precedentes para o desenvolvimento do atual conflito em Sanaa.17 yeowatzup/CC uma série de ataques militares, encabeçadas por Ali Abdullah Saleh, que governava o Iêmen desde 1978, com objetivo de desmantelar os Zaidi.12 Nesse cenário, em 1994, uma guerra civil ocorreu no país e todas as medidas políticas no sentido de cessar o conflito fracassaram. A Primavera Árabe iniciada em dezembro de 2010, na Tunísia, foi outro evento intimamente ligado ao conflito no Iêmen. A população iemenita foi às ruas em janeiro de 2011 pedindo a renúncia do presidente Ali Evacuação de cidadãos indianos no Iêmen 3 Série Conflitos Internacionais a não reeleição. Em 3 de junho de 2011, Saleh foi alvo de um ataque na mesquita do palácio presidencial em Sanaa, seguindo para tratamento na Arábia Saudita.20 Ao retornar ao Iêmen, negociou a sua renúncia. O vice-presidente, Abd Rabbuh Mansur Al Radi, assumiu o poder, sendo eleito três meses depois como candidato único à Presidência. Porém, mesmo com a posse de Radi, Saleh continuava influenciando a política local.21 Em 21 de setembro de 2011, o grupo radical Huti, localizado originalmente no norte do Iêmen, avançou para a capital do país. Segundo Chacra, o grupo representa cerca de um terço da população do Iêmen que é de 26.737.317.22 Então, pode-se estimar em aproximadamente 8.8 milhões a quantidade de apoiadores do grupo rebelde, sendo principalmente de origem árabe. Distribuição de grupos etnicos e principais áreas tribais EVOLUÇÃO DO CONFLITO ATUAL grupos de casta hereditária (a condição social/política que o indivíduo passa de pai para filho), em áreas urbanas como o grupo Al-Akhdam.23 Considerados camada inferior na escala social, esses grupos são socialmente segregados e, na maioria das vezes, confinados a trabalhos braçais nas principais cidades do Ibrahem Qasim/CC No Iêmen, o governo é uma instituição secundária em uma sociedade tradicionalmente tribal que proíbe seus membros de abandonar as tradições em virtude de uma nova crença, incluindo ameaças de pena de morte ou banimento. No norte, nas áreas montanhosas do país, existem cerca de 400 tribos Zaidistas. Há também país. A maioria Al-Akhdam vive em favelas na periferia de grandes centros urbanos do Iêmen, a maioria na capital Sanaa.24 Dentre os diversos grupos étnicos o árabe é predominante, mas também estão presentes afro-árabes, sul-asiáticos e europeus. A religião no Iêmen é constituída principalmente pelos dois principais grupos religiosos islâmicos: 53% da população muçulmana é sunita e mais de 45% é xiita. Há, ainda, cerca de 3.000 cristãos e 400 judeus.25 Após algumas rodadas de negociações entre o governo e o grupo rebelde, em setembro de 2011, a resistência dos Hutis só aumentou. A tomada da capital Sanaa e outros territórios, principalmente no sul do país, ocor- Bombardeio em Sanaa em 11 de maio de 2015 4 V. 3, n. 2 - Abril de 2016 reu principalmente após o anúncio de cortes nos subsídios voltados para o setor petrolífero.26 O slogan Huti diz: “Deus é grande, morte à América, morte à Israel, amaldiçoados sejam os judeus, vitória ao Islã”. Apesar das palavras fortes o grupo clama por uma menor influência desses governos externos no território iemenita, e não realmente sua aniquilação. Essencialmente, os objetivos do grupo são aqueles que todo o povo iemenita reivindica: responsabilidade fiscal do governo, fim da corrupção, serviços públicos regulamentados, preço justo para o combustível, oportunidade de emprego para os mais pobres e o fim da influência do Ocidente. Dessa forma, o grupo Huti não é contra a república, mas sim, contra o atual governo. Segundo Hussein Al-Bukhaiti, que se descreve como um ativista Huti, o grupo julga que a maneira corre- ta de alcançar o poder é através de eleições e da possibilidade e o dever das mulheres em participar da política, até mesmo como presidente.27 Isso demonstra uma visão diferente da veiculada na grande massa midiática que apresenta os Hutis como um grupo extremamente inflexível culturalmente e religiosamente. Além disso, o grupo denuncia estreitos vínculos do governo com os EUA, assim como interferências sauditas através do financiamento do governo e de tribos locais. Em contrapartida, os apoiadores do ex-presidente Saleh e pesquisadores mais pessimistas sobre a situação atual do Iêmen alegam que o grupo Huti objetiva derrubar o regime e reinstaurar o sistema rigoroso de monarquia religiosa que já havia governado o país durante séculos. Não obstante, afirmam que o grupo rebel- Controle do território no Iêmen (Junho de 2015) 5 de é aliado ao Irã, assim como o Hezbollah libanês, e seu objetivo é tomar o poder do Iêmen.28 INTERESSES EXTERNOS Para deter a insurreição rebelde, o governo saudita formou uma coalizão com países árabes como o Egito, Jordânia, Sudão e Bahrein. A coalizão conta com o apoio de países como os Estados Unidos, Bélgica, Líbia, dentre outros, sob a forma de fornecimento de armas, inteligência, aplicação do bloqueio naval e até mesmo bombardeio aéreo.29 Tornando a situação mais complexa, numerosos grupos lutam entre si dentro do Iêmen, incluindo facções do Estado Islâmico e da Al Qaeda, os quais não são aliados dos Hutis. Esses, por sua vez, contam com aliados que possuem alguma divergência com a Ibrahem Qasim/CC Série Conflitos Internacionais Casa destruída no sul de Sanaa Arábia Saudita. Países como o Irã, Iraque, Rússia, Argélia e o grupo libanês Hezbollah, atuam diretamente no treinamento, fornecimento de provisões, participação em bombardeios e até em apoio financeiro. Esses países não carregam necessariamente a bandeira do movimento Huti, mas cooptam com a posição do grupo iemenita contra o possível ‘imperialismo’ saudita e estadunidense na região. Dessa forma, esses países visariam um maior equilíbrio de poder na região. Fica evidente que o Iêmen se transformou em um palco de disputa de poder principalmente entre o Irã e a Arábia Saudita, fato que envolve também as divergências religiosas entre xiitas (Irã) e sunitas (Arábia Saudita).30 Tal atrito possui desdobramentos dentro do Iêmen por conta de ações militares e o uso da luta iemenita para consecução de interesses particulares por outros países. Pode-se dizer que, o apoio ao movimento em si é pequeno, visto que, trata-se de uma luta local, que busca melhorias exclusivamente dentro do Iêmen. No entanto, vão contra aos interesses da potência na região, a Arábia Saudita. A tensão criada pelo conflito se acirrou no início de 2016 após a execução do clérigo saudita Nimr Al-Nimr, o subsequente incêndio da embaixada saudita em Teerã e a subsequente expulsão de diplomatas iranianos de Riad. A Arábia Saudita alegava possuir mais de 150.000 militares mobilizados, sendo 5.000 atuando no conflito em agosto de 2015.31 Relatórios afirmavam que autoridades egípcias se comprometeram em fornecer apoio aéreo, territorial e naval à coalizão.32 Entre outras medidas ofensivas mencionados na mídia, deve-se ressaltar o bloqueio naval imposto pelos sauditas aos navios que se aproximam do Iêmen, os quais podem sofrer rigorosas inspeções por tempo indeterminado que, por vezes, se prolongam indefinidamente.33 Pode-se inferir, também, que o governo saudita procura intervir no Iêmen em busca de um maior equilíbrio político local, já que a proximidade entre ambos pode levar instabilidade política à Arábia Saudita, fo- 6 mentando insurgências naquele país. Para complicar ainda mais a situação, a filial da al-Qaeda no Iêmen – Exército Islâmico de Aden-Abyan, se aproveitou do conflito para tomar o controle de boa parte da província de Abyan e declarar a criação de um emirado islâmico. No início de 2012 conseguiram assumir o controle de outras cidades do sudeste em meio a batalhas com as forças armadas do país. Em 2015, beneficiado pelas vitórias na Síria e no Iraque, o Estado Islâmico estabeleceu presença em pelo menos três províncias nas regiões sul e central do Iêmen, iniciando uma competição com a al-Qaeda.34 CONCLUSÃO Desde a unificação do Iêmen do Norte e do Sul em 1990, o novo país experimentou constantes convulsões violentas em seu território. As causas do atual conflito iemenita estão intimamente ligadas à condição social e ao sentimento percebido pelos Zaidis de marginalização e de opressão vindas do governo de Abdullah Saleh. V. 3, n. 2 - Abril de 2016 Mas, o problema do Iêmen vai além da luta de um grupo localizado. Na realidade o país sofre com a pobreza extrema e a não representação política de vários grupos no Estado. No desenrolar do movimento, os Hutis carregaram a bandeira por mudanças no país. No entanto, o grupo não goza do pleno apoio da comunidade Zaidi e os países vizinhos colocaram o movimento em desvantagem por conta da coalizão liderada pela potência regional, a Arábia Saudita. Por outro lado, os Hutis são apenas parte dos problemas que o governo iemenita enfrenta hoje. Há uma a extensa lista de tensões subjacen- tes dentro da sociedade do Iêmen que leva a movimentos de oposição. Além disso, a situação humanitária é preocupante, visto que cerca de 13 milhões de iemenitas necessitam de ajuda humanitária, 7,6 milhões civis sofrem de ‘insegurança alimentar grave’ e 2,5 milhões foram deslocados internamente pelo conflito desde janeiro de 2014, conforme relatos de representantes da Organização Mundial de Saúde e do Programa Mundial de Alimentos.35 Não se percebe que as divergências entre os Hutis e o governo do Iêmen sejam resolvidas de forma pacifica. A coalizão liderada pela Arábia Saudi- ta continua agindo militarmente no país, enquanto que os combatentes rebeldes continuam mantendo a tenacidade na luta. Diversas tentativas da ONU de cessar-fogo e de negociações de paz ocorreram no Kuwait em maio de 2016, mas fracassaram em razão das intransigências de ambos os lados.36 A obtenção de um acordo de paz fica ainda mais difícil quando os maiores interesses são externos. Qualquer solução para o conflito deve levar em consideração as demandas dos diversos grupos no interior do Estado, mas também, acomodar os diversos interesses externos que acabam por insuflar ainda mais a violência do que resolvê-la. xiismo. O movimento é considerado ‘extremista’ no campo político (a terminologia árabe usa a palavra ghuluww para caracterizar o movimento). No campo religioso é considerado moderado. O zaidismo não exige ligações de sangue com os Hasânidas ou com os Husaynidas (descendentes de Hasan ou de Husayn, os dois filhos de Ali ibn Abi Talib e de Fátima Zarah ibn Mohamad) para pleitear a liderança do Islamismo. Determina, porém, que legalmente o poder será atribuído a quem souber guiar os muçulmanos contra os usurpadores e opressores, o que dá uma conotação ‘militante’ ao movimento, o que contribuiu para que fosse considerado subversivo nos primeiros séculos do Islã, assim como os kharijitas e os carmatas ismaelitas. Vale-se lembrar que nem todo Zaid é Huti. AL-MUFID, Shaykh. Imam Ali Ibn al Husayn (as). 2010. Disponível em: <https://www.al-islam.org/articles/ imam-ali-ibn-al-husayn-shaykh-al-mufid>. Acesso em: 23 abr. 2016. O Zaidis dão menos importância às qualidades do Imam do que os grupos xiitas dominantes. O imã não tem poderes sobrenaturais, é apenas uma questão de preferência teológica e política, mas deve ser descendente de Ali ibn. Além disso, pode haver mais de um Imã e a ausência de um Imã não é interpretada em termos negativos. A teologia Zaidi é em grande parte influenciada pela orientação racionalista do Mu’tazilis, uma escola de teologia islâmica baseada na razão e pensamento ponderado, que floresceu nas cidades de Basra e Bagdá durante os Séculos VIII e X. ZAYDI Islam. 2011. Disponível em: <http://www.globalsecurity.org/military/intro/ islam-zaydi.htm>. Acesso em: 23 abr. 2016. Henrique Roder, Carolina Soprani, Hajar Jomaa, João Victor Scomparim, Luisa Oliveira e Poliana Garcia Discentes do Curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus de Marília e membros do Observatório de Conflitos Internacionais (OCI). 1 O Wahhabismo tem o nome inspirado em um pregador e estudioso do século XVIII chamado Muhammad ibn Abd al-Wahhab (1703-1792), que começou um movimento revivalista na região remota e pouco povoada de Nejd, no centro da Arábia Saudita, defendendo purificar o islamismo para devolvê-lo às suas raízes do século VII. Tomado como ortodoxo e extremista, seu principal objetivo é restaurar o “culto monoteísta puro”. WAHHABI. 2011. Disponível em: <http://www.globalsecurity.org/military/world/gulf/wahhabi.htm>. Acesso em: 23 abr. 2016. 2 ANOUTI, Hani. The Houthi Insurrection in Yemen: Shedding light on the Problem of Minorities in the Middle East. Master of Arts in International Affairs. Lebanese American University, Líbano, 2011. Disponível em: <http://laur.lau.edu.lb:7080/xmlui/bitstream/ handle/10725/385/Hani_Anouti_Thesis.pdf? sequence=1>. Acesso em: 20 ago. 2015. 3 YEMEN kills cleric’s followers, offers reward. 2004. Disponível em: <http://www.smh.com. au/articles/ 2004/07/10/1089000402822.html>. Acesso em: 23 jul. 2015. 4 O termo sunita tem origem na palavra sunna, que significa ‘trajetória’, ‘caminho percorrido’, em referência ao documento sagrado que narra a trajetória do profeta Maomé, figura central da Islã, o revelador da vontade de Deus (Alá). São comprometidos intimamente com as práticas de Maomé, além do desejo de manter a comunidade islâmica unida, através de um governo formado pela lei e pela persuasão. Os sunitas acreditam que Abu Bakr, pai de Aisha, esposa de Maomé, é o sucessor, e que o método de escolha ou eleição de líderes (shura), aprovado pelo Alcorão legitimou o consenso da ummah. SUNNI Islam. 2011. Disponível em: <http://www.globalsecurity.org/military/intro/islam-sunni.htm>. Acesso em: 23 abr. 2016. 15 WHAT it Means to be a Houthi: The Divided House of Zaydism. The Majalla: The Leading Arab Magazine. London, v. 1, n. 1, p.1-3, 10 out. 2009. Disponível em: <http://eng.majalla. com/2009/10/article557320>. Acesso em: 17 set. 2015. 5 ESCRITÓRIO de enviado da ONU no Iêmen nega atentado; parlamentar é morto. Folha de São Paulo. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/11/1375186enviado-da-onu-para-o-iemen-sai-ileso-de-tentativa-de-assassinato.shtml>. Acesso em: 24 set. 2015. 6 Salafistas são fundamentalistas que acreditam em um retorno às formas originais do Islã. A palavra ‘Salafi’ vem da frase em árabe ‘as-salaf as-Saliheen’, que se refere às três primeiras gerações de muçulmanos (começando com os Companheiros do Profeta), também conhecidos como os antecessores piedosos. Os salafistas são socialmente e religiosamente conservadores e apoiam a aplicação das leis islâmicas. SALAFI Islam. 2011. Disponível em: <http://www.globalsecurity.org/military/intro/islam-salafi.htm>. Acesso em: 23 abr. 2016. 16 ‘WHAT it Means’, op. cit. HISTORY of Yemen. Disponível em:<http://www.nationsonline.org/oneworld/History/ Yemen-history.htm>. Acesso em: 24 ago. 2015. 7 8 THAROOR, Ishaan. A Brief History of Yemen: Rich Past, Impoverished Present. 2010. Disponível em: <http://content.time.com/time/world/article/0,8599,2028740,00.html>. Acesso em: 23 set. 2015. 9 DRESCH, Paul. A History of Modern Yemen.Cambridge. UK: Cambridge University Press, 2000. 17 WHAT it Means, op. cit. 18 ANOUTI, op. cit. 10 11 Criado em 1997 por Houssein Al-Huti. O grupo que procura reviver o ativismo Zaidi através da educação e proselitismo. MENA. Iémen: um ano depois do início dos protestos. 2012. Disponível em: <http://www.amnistia-internacional.pt/index.php?option=com_cont ent&view=article&id=863:iemen-um-ano-depois-do-comeco-dos-protestos&catid=53:men a&Itemid=120>. Acesso em: 23 ago. 2015. 19 Idem GIOVANNI, Janine di. The Complex Politics Behind the Chaos in Yemen. 2015. Disponível em: <http://www.newsweek.com/why-yemen-fell-apart-322149>. Acesso em: 24 ago. 2015. 12 13 ANOUTI, op. cit. DITADOR do Iêmen vai à TV e diz que passou por oito cirurgias. Folha de São Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2011/07/940339-ditador-do-iemen-vaia-tv-e-diz-que-passou-por-oito-cirurgias.shtml > Acesso em 09 set.2015. 20 O Zaidismo deve seu nome a Zayd ibn Ali ibn al-Husayn, um dos filhos do quarto Imã (autoridade religiosa muçulmana) xiita, Zayn al-Abidin, que se rebelou em Cufa, no ano de 740 d.C., contra o poder dos Omayyad, constituindo uma dissidência bastante antiga do 14 7 Série Conflitos Internacionais Novo governo do Iêmen assume o poder após a queda de Saleh. Opera Mundi. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/18435/ novo+governo+do+iemen+assume+o+poder+apos+queda+de+saleh.shtml> Acesso em 12 set.2015. ONU alerta sobre situação humanitária no Iêmen. AFP Brasil. 2016. Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2016/05/onu-alerta-sobre-situacaohumanitaria-no-iemen-5803588.html>. Acesso em: 18 mai. 2016. 21 35 ONU: negociações de paz no Iêmen continuam apesar de violações ao cessar-fogo. ONUBR. 2016. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/onu-negociacoes-de-paz-noiemen-continuam-apesar-de-violacoes-ao-cessar-fogo/>. Acesso em: 10 mai. 2016. 36 CHACRA, Gugu. Afinal, quem são houthis? O Estadão. São Paulo, 30 mar. 2015, p. 1-1. Disponível em: <http://internacional.estadao.com.br/blogs/gustavo-chacra/afinal-quemsao-houthis-veja-a-explicacao-em-7-pontos/>. Acesso em: 30 mar. 2015. 22 Provém da palavra no singular Khadem, que significa ‘servo’ em árabe, também chamado Al-Muhamasheen – ‘os marginalizados’. É um grupo social minoritário no Iêmen. As origens exatas da Al-Akhdam são incertas. Uma crença popular afirma que são descendentes de nilóticos sudaneses, pessoas que acompanharam o exército da Abissínia durante a ocupação do Iêmen. Outros afirmam que seriam de origem ‘Veddoid’. AKHDAM people suffer history of discrimination. IRIN. 2005. Disponível em: <http://www.irinnews.org/report/25634/ yemen-akhdam-people-suffer-history-discrimination>. Acesso em: 23 jun. 2016. 23 YEMEN: Akhdam people suffer history of discrimination. IRIN. 2005. Disponível em: <http://www.irinnews.org/report/25634/yemen-akhdam-people-suffer-history-ofdiscrimination>. Acesso em: 10 set. 2015. 24 THE GENERAL Census of Population 2004. Yemen News Agency. 2004. Disponível em: <http://www.sabanews.net/en/news85385.htm>. Acesso em: 13 set. 2015. 25 YEMEN’S oil and gas resources, a tale of money and politics. Yemen Post Staff. 2014. Disponível em: <http://yemenpost.net/Detail123456789. aspx?ID=100&SubID=7617&MainCat=6>. Acesso em: 16 set. 2015. 26 AL-KARIMI, Khalid. Al-Bukhaiti to the Yemen Times: “The Houthis’ Takeover cannot be Called an Invasion”. 2014. Disponível em: <http://www.yementimes.com/en/1826/ intreview/4467/Al-Bukhaiti-to-the-Yemen-Times-“The-Houthis’-takeover-can-not-becalled-an-invasion”.htm>. Acesso em: 12 set. 2015. 27 28 WHAT it Means, op. cit. MASI, Alessandria. Iran, Saudi Proxy War In Yemen Makes International Enemies, Local Friends For Houthis. 2015. Disponível em: <http://www.ibtimes.com/iran-saudi-proxy-waryemen-makes-international-enemies-local-friends-houthis-1860896>. Acesso em: 14 set. 2015. 29 As diferenças entre os dois grupos mais concentradas nos campos da doutrina, rituais, leis, teologia e da organização religiosa. Muçulmanos sunitas se consideram do ramo ortodoxo e tradicionalista do Islã, utilizam-se de práticas baseadas em precedentes ou relatos das ações do profeta Maomé (profeta derradeiro) e daqueles próximos a ele. Os xiitas reivindicavam o direito de Ali, genro do profeta Maomé, e de seus descendentes de guiar a comunidade islâmica, possuem uma hierarquia de clérigos que praticam interpretações independentes e constantemente atualizadas dos textos islâmicos. ENTENDA as diferenças e divergências entre sunitas e xiitas. BBC Brasil. 2016. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/ noticias/2016/01/160104_diferencas_sunitas_xiitas_muculmanos_lab>. Acesso em: 23 abr. 2016. 30 YEMEN: Arabia Saudita dice que destruyó en centro de control rebelde en Saná. BBC. 2015. Disponível em: <http://www.bbc.com/mundo/ultimas_noticias/2015/03/150326_ ulnot_yemen_ataque_arabia_saudita_ np>. Acesso em: 17 set. 2015. 31 FRAGATAS de guerra egípcias partem rumo ao Iêmen para bombardear houthis. Terra. 2015. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/asia/fragatas-de-guerraegipcias-partem-rumo-ao-iemen-para-bombardear-houthis,333d43dac565c410VgnCLD20 0000b2bf46d0RCRD.html>. Acesso em: 21 set. 2015. 32 ARÁBIA Saudita Impõe Bloqueio Naval ao Iêmen. 2015. Disponível em: <https://isape. wordpress.com/ 2015/03/31/arabia-saudita-impoe-bloqueio-naval-ao-iemen/>. Acesso em: 12 set. 2015. 33 TODD, Brian. ISIS gaining ground in Yemen, competing with al Qaeda. CNN. 22 Jan. 2015. Disponível em: < http://edition.cnn.com/2015/01/21/politics/isis-gaining-ground-inyemen/>. Acesso em: 20 abr. 2015. 34 é editada pelo Observatório de Conflitos Internacionais da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus de Marília – SP Série Conflitos Internacionais mais recentes: Série Conflitos Internacionais Editor: Prof. Dr. Sérgio L. C. Aguilar Layout: Paula Schwambach Moizes ISSN: 2359-5809 Comentários para: [email protected] Disponível em: www.marilia.unesp.br/#oci Rússia e Política de Influência V. 1, n. 1 Congo - A atual dinâmica do conflito e a rendição do M23 V. 1, n. 2 Oriente Médio: islamismo e democracia V. 1, n. 3 As invasões russas na Geórgia (2008) e na Criméia (2014) V. 1, n. 4 A Nigéria e o Boko Haram V. 1, n. 5 A guerra civil síria, o Oriente Médio e o sistema internacional V. 1, n. 6 Colômbia: as FARC e os diálogos de paz V. 2, n. 1 O Estado Islâmico V. 2, n. 2 Haiti: a atual conjuntura da Minustah e o Brasil V. 2, n. 3 Congo: desordem, interesses e conflito V. 2, n. 4 Libia: 4 años después de la intervención humanitaria y el R2P V. 2, n. 5 Mali: conflito complexo e multifacetado V. 2, n. 6 O conflito na República Centro Africana V. 3, n. 1 8