a psicologia e a arteterapia no contexto hospitalar infantil

Propaganda
A PSICOLOGIA E A ARTETERAPIA NO CONTEXTO HOSPITALAR
INFANTIL
Diego da Silva1 - UFPR
Grupo de Trabalho – Educação, Saúde e Pedagogia Hospitalar
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente artigo tem por objetivo apontar as aproximações teóricas entre Psicologia e
Arteterapia no contexto hospitalar infantil. Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica em
literatura científica especializada. A pesquisa será guiada pelo método dedutivo, que parte de
conclusões gerais, para chegar a particulares. Quanto à abordagem do problema, pode ser
definida como qualitativa, porque elege como necessária a descrição e interpretação do
fenômeno a ser estudado. Estudar sobre Psicologia Hospitalar Infantil e Arteterapia é de
extrema relevância social e científica, no sentido de que podem colaborar com os
profissionais da saúde no atendimento humanizado e adequado dos pacientes infantis
hospitalizados. Relativamente aos objetivos pretendidos, define-se como exploratória. A
Psicologia Hospitalar é o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em
torno do adoecimento, pois o adoecer pode provocar alterações psicológicas, como angústia,
ansiedade, medo, insegurança e depressão. Espera-se que o psicólogo hospitalar seja capaz de
desenvolver ações de assistência, ensino e pesquisa. A assistência consiste em prestar
atendimento a pacientes internados ou ambulatoriais e seus familiares, e assessorar as equipes
hospitalares na definição de condutas e tratamentos. A Arteterapia é um modo de trabalhar
utilizando a linguagem artística como base da comunicação cliente-profissional. Sua essência
seria a criação e a elaboração artística em prol da saúde física, mental e social. Em uma
possível atuação do psicólogo e do arteterapeuta que trabalham com as crianças
hospitalizadas, muitas pesquisas sugerem os recursos lúdicos nesta intervenção. O trabalho no
hospital deve ser multidisciplinar, e é importante que os profissionais saibam interagir entre si
1
Possui graduação em Gestão de Recursos Humanos pela Faculdade de Tecnologia Camões (2008). Graduado
em Psicologia pela Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras (2013). Especialista em
Arteterapia pelo Instituto Tecnológico e Educacional de Curitiba - ITECNE (2015). Atualmente é aluno de PósGraduação em Psicologia da Saúde e Hospitalar pelas Faculdades Pequeno Príncipe (FPP). Mestrando em
Medicina Interna e Ciências da Saúde (Conceito CAPES 5) pela Universidade Federal do Paraná. Membro da
comissão de Psicologia Hospitalar do Conselho Regional de Psicologia do Paraná. Colaborador da pesquisa de
doutorado da psicóloga Cláudia Lúcia Menegatti, no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do
Adolescente no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Pesquisador do Ambulatório de
Dermatologia do Hospital de Clínicas da UFPR, com a pesquisa "Indicadores de Ansiedade, Depressão e
Qualidade de Vida em Mulheres com Melasma". Psicólogo clínico autônomo em consultório particular no
Centro de Curitiba, Paraná. Possui experiência em Psicologia Social, Políticas Públicas, Saúde Mental,
Psicologia Organizacional, Psicologia Clínica e Necessidades Especiais. Número de CRP/08: 20229. Email:
[email protected].
ISSN 2176-1396
33004
para que o paciente seja melhor atendido e acompanhado. Acredita-se que a ludicidade, os
brinquedos, os recursos artísticos facilitam a expressividade infantil, principalmente das
crianças hospitalizadas. Por fim, foi sugerida a mandala como uma possível forma de
intervenção com crianças hospitalizadas unindo Psicologia/Arteterapia.
Palavras-chave: Psicologia. Arteterapia. Infância. Hospitalização.
Introdução
Tanto a Psicologia como a Arteterapia são consideradas excelentes recursos para a
minimização do sofrimento humano. Se por um lado elas contribuem para a melhoria na
qualidade de vida das pessoas, por outro também auxiliam nos relacionamentos interpessoais.
Expressar os conteúdos emocionais que desorganizam o sujeito como um todo, ainda que nos
dias atuais, necessitam ser mais bem compreendidas. Este paradigma fica mais complexo no
sentido de que o ambiente hospitalar infantil causa uma série de questionamentos e de
pensamentos na equipe toda de como poder trabalhar com as crianças de forma a minimizar o
sofrimento delas em relação à hospitalização e sua estadia no hospital de um modo geral.
Dentro deste contexto, surge o problema: Quais as aproximações teóricas entre a Psicologia e
a Arteterapia no contexto hospitalar infantil?
Sob o aspecto metodológico, a pesquisa será guiada pelo método dedutivo, que parte
de conclusões gerais, para chegar a particulares. Quanto à abordagem do problema, pode ser
definida como qualitativa, porque elege como necessária a descrição e interpretação do
fenômeno a ser estudado. Relativamente aos objetivos pretendidos, define-se como
exploratória, uma vez que assumirá a forma de levantamento bibliográfico, incluindo, desta
forma, como procedimento técnico, a utilização de material já publicado. Leituras analíticas e
interpretativas gerarão deduções ou inferências, para a obtenção de resultados.
Estudar sobre Psicologia Hospitalar Infantil e Arteterapia é de extrema relevância
social e científica, no sentido de que podem colaborar com os profissionais da saúde no
atendimento humanizado e adequado dos pacientes infantis hospitalizados. A hospitalização
pode causar algum tipo de sofrimento, angústia, medo e qualquer tipo de alteração psicológica
em decorrência da quebra de rotina e da homeostase em relação à saúde, desta forma a
Psicologia e a Arteterapia podem colaborar para a minimização destas alterações e permitir
que o paciente passe pela experiência da hospitalização com um pouco mais de conforto.
O desenvolvimento da exposição que leva aos achados da pesquisa, a respeito do tema
em destaque, tem início com a necessária análise de alguns conceitos, tais como a descrição
33005
da Psicologia Hospitalar Infantil, da Arteterapia no contexto hospitalar infantil e de alguma
estratégia de intervenção que possa unir as duas.
A Psicologia Hospitalar Infantil
Segundo Simonetti (2006) e Speroni (2006) a Psicologia Hospitalar é o campo de
tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento visando à minimização do
sofrimento provocado pela hospitalização. Alguns autores, como Moreira, Martins e Castro
(2012), Silva, Assis, Silva, Rodrigues, Souza, Masieiro e Silva (2012) apontam que a
Psicologia Hospitalar é o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em
torno do adoecimento, pois o adoecer pode provocar, na maioria das vezes, alterações
psicológicas, como, por exemplo, angústia, ansiedade, medo, insegurança e depressão. Essas
alterações acometem tanto o paciente, quanto seus familiares e a equipe multiprofissional.
Deve, ainda, ajudar na humanização do hospital ao perceber o paciente como um todo, na
junção da sua dimensão biopsicossocial.
Rodríguez-Marín (2003) citado por Castro e Bornholdt (2004) esclarece que a
Psicologia Hospitalar é o conjunto de contribuições científicas, educativas e profissionais que
as diferentes disciplinas psicológicas fornecem para dar melhor assistência aos pacientes no
hospital. O psicólogo hospitalar reúne esses conhecimentos e técnicas para aplicá-los de
maneira coordenada e sistemática, visando à melhora da assistência integral do paciente
hospitalizado. Seu trabalho é especializado no que se refere ao restabelecimento do estado de
saúde do doente ou, ao menos, ao controle dos sintomas que prejudicam seu bem-estar.
Santos e Vieira (2012) colocam que a inserção do psicólogo nos hospitais tem
importância para o paciente diante da enfermidade, minimizando o sofrimento provocado pela
perda da saúde, pelo isolamento familiar e sua relação biopsicossocial. As possibilidades de
intervenções envolvidas formam um entrelaçamento com outras profissões da área de saúde
trazendo como compreensão o indivíduo como um todo: universal, integral e único.
Waisberg, Veronez, Tavano e Pimentel (2008) relatam que cabe ao setor de Psicologia
Hospitalar fornecer assistência psicológica preventiva e terapêutica aos pacientes e familiares,
regularmente matriculados na instituição, garantindo seu desenvolvimento psicossocial. Suas
principais tarefas englobam a recepção do paciente e sua família, análise do caso, orientações
e encaminhamentos.
De acordo com Tonetto e Gomes (2007) espera-se que o psicólogo hospitalar seja
capaz de desenvolver ações de assistência, ensino e pesquisa. A assistência consiste em
33006
prestar atendimento a pacientes internados ou ambulatoriais e seus familiares, e assessorar as
equipes hospitalares na definição de condutas e tratamentos. Há instituições que incluem nas
tarefas desse profissional, tanto atividades administrativas (recursos humanos) quanto
atendimento a funcionários, ensino e pesquisas.
Cantarelli (2009) menciona que o hospital caracteriza-se, principalmente por ser um
ambiente frio, impessoal e ameaçador, uma opção feita por necessidade e muitas vezes em
caráter de emergência, sob um clima de expectativas e medo. Implica em uma interrupção do
ritmo comum de vida, seja por curto ou longo prazo, sendo normal e esperado que, seja qual
for o motivo da internação, poderá gerar no paciente, seus familiares e até na equipe
multiprofissional uma série de pensamentos e sentimentos acerca das expectativas
relacionadas à doença ou ao procedimento a ser realizado, sua recuperação e desfecho final.
Para Gomes e Pergher (2010) independente da razão médica pela qual uma pessoa é
hospitalizada, isso poderá ser para ela uma experiência de incertezas e apreensão, deixando
vulneráveis o paciente e sua família. A quebra da rotina, o afastamento das pessoas próximas
e queridas, o contato com o ambiente desconhecido e marcado por regras próprias, assim
como a dependência de cuidados alheios e a suspensão dos projetos de vida caracteriza a
hospitalização como uma situação ameaçadora e geradora de ansiedade. Esta condição por si
só é fonte suficiente de mudanças comportamentais que geram desconforto. Desta forma,
Costa, Barbosa, Francisco, Estanislau, Wanderley, Bastos e Morais (2009) apontam que o
papel do psicólogo hospitalar está voltado à promoção e manutenção da saúde física e
emocional, tendo como um dos principais objetivos buscar a minimização do sofrimento do
paciente e sua família, decorrente do binômio doença-hospitalização.
Segundo Tonetto e Gomes (2007) a intervenção psicológica no hospital pode ser de
apoio, orientação, psicoterapia, atenção, compreensão, suporte ao tratamento, clarificação dos
sentimentos, esclarecimentos sobre a doença e fortalecimento dos vínculos familiares. Os
objetivos são os mais diversos: avaliar o estado emocional do paciente; esclarecer sobre
dúvidas quanto ao diagnóstico e hospitalização; amenizar angústias e ansiedades em situações
desconhecidas; trabalhar vínculo mãe-bebê, trabalhar aspectos da sexualidade envolvidos na
doença e no tratamento; preparar para cirurgia; promover adesão ao tratamento; auxiliar na
adaptação à nova condição de vida imposta pela doença; orientar os pais sobre maneiras mais
adequadas de informar as crianças sobre a hospitalização ou morte de um familiar; e facilitar
o enfrentamento de situações de morte e de luto.
33007
De acordo com Moreira, Martins e Castro (2012) a atuação do psicólogo hospitalar
viabiliza oportunidades para que o paciente expresse suas emoções, descubra a melhor
maneira de lidar com as limitações impostas pela doença/hospitalização, dê significado à sua
doença dentro do seu contexto de vida e trabalhe suas questões emergenciais, onde o objetivo
principal é o reconhecimento do paciente como um todo. Partindo deste pressuposto, Almeida
e Malagris (2011) afirmam que o espaço físico (setting) não é privativo ao atendimento
psicológico, como o valorizado na teoria e modelo de consultório. O atendimento pode ser
interrompido a qualquer momento por médicos, enfermeiros e técnicos, que estão cumprindo
seus deveres e suas funções. Além disso, pode ser necessário atender o paciente no meio de
outros vários pacientes, se for em uma grande enfermaria, por exemplo.
Entre os autores Soares, Moura e Prebianchi (2003), Soares e Bomtempo (2004),
Soares, Sabião e Orlandini (2009), Berto e Abrão (2009), Mota e Enumo (2010) é unânime
que para o psicólogo atuar com crianças hospitalizadas, ele precisa utilizar o brinquedo e
demais recursos lúdicos. A hospitalização pode constituir uma oportunidade para que a
criança adquira padrões comportamentais mais adaptativos. Pode ser considerada uma ocasião
para que ela tenha oportunidade de aprender mais sobre a doença e o funcionamento de seu
organismo, adquira habilidades de enfrentamento e torne-se um participante mais ativo quanto
às decisões clínicas relacionadas à sua enfermidade e ao tratamento. O brinquedo tem sua
função de diversão estendida à possibilidade de elaboração de sentimentos e aprendizagem de
novos comportamentos. Entre os benefícios de brincar, estão a distração do medo,
preocupação ou estresse, a promoção de uma relação terapêutica e de ajuda entre a criança e o
adulto e a possibilidade de manutenção de um aspecto da vida normal.
A Arteterapia Hospitalar Infantil
Para Coqueiro, Vieira e Freitas (2010) a Arteterapia é um dispositivo terapêutico que
absorve saberes transdisciplinares, visando processos de autoconhecimento e mudanças de
comportamento. A Arteterapia é um processo predominantemente não verbal, por meio das
artes, que acolhe o ser humano com toda sua complexidade e dinamicidade. A Arteterapia
pode possibilitar aos pacientes a vivência de suas dificuldades, conflitos, medos e angústias
de um modo menos sofrido. Pode ser um meio eficaz para canalizar, de maneira positiva, as
variáveis do adoecimento mental em si, assim como os conflitos pessoais e com familiares.
Nota-se que há uma minimização dos fatores negativos de ordem afetiva e emocional que
naturalmente surgem com a doença, tais como: angústia, estresse, medo, agressividade,
33008
isolamento social, apatia, entre outros. O cliente torna-se sujeito ativo do processo
terapêutico. A Associação Brasileira de Arteterapia a define como um modo de trabalhar
utilizando a linguagem artística como base da comunicação cliente-profissional. Sua essência
seria a criação estética e a elaboração artística em prol da saúde (arteeterapia.com.br, 2009).
Segundo Elmescany (2010) a Arteterapia favorece que os indivíduos conheçam
melhor a si mesmos através do seu próprio fazer artístico e, reconheçam a doença como uma
oportunidade de novas aprendizagens. Essas experiências podem melhorar a qualidade de
vida dos pacientes hospitalizados. O recurso artístico possibilita experiências de
transformação dos materiais e, por conseguinte, de si mesmo, do cotidiano, proporcionando
vivências do criativo. O trabalho com arte pode auxiliar na descoberta de novas formas de se
atuar diante dos problemas e do enfrentamento das doenças. A Arteterapia pode favorecer o
desenvolvimento da introspecção, do relacionamento, da iniciativa, do humor, da criatividade,
da organização do cotidiano, resiliência, entre outros.
Em relação às crianças hospitalizadas, Valladares e Silva (2011, p. 444), apontam o
seguinte:
A Arteterapia é uma ferramenta de auxílio ao ser humano que almeja a produção de
imagens, a autonomia criativa, o desenvolvimento da comunicação, a valorização da
subjetividade, a liberdade de expressão, o reconciliar de problemas emocionais,
entre outros. A Arteterapia pode, então, oferecer à criança hospitalizada
oportunidade para lidar melhor com essa situação desfavorável e com isso facilitar
sua adaptação às rotinas hospitalares, seja estimulando seu desenvolvimento
saudável, seja restabelecendo o equilíbrio emocional. No caso das crianças, o
adoecimento promove alterações na sua vida como um todo, que podem, muitas
vezes, desequilibrar seu organismo interna e externamente, e, em consequência
disso, bloquear seu processo de desenvolvimento saudável, especialmente se a
doença for duradoura (VALLADARES E SILVA, 2011, P. 444).
Ainda, Valladares e Silva (2011) colocam que nas artes e nos recursos lúdicos, as
crianças se expressam mais e deixam aflorar seu contexto social, suas percepções sobre o
mundo, sua identidade, seus sentimentos e sua imaginação. A Arteterapia, pode colaborar
com o desenvolvimento da autonomia, criatividade e dinamicidade, capacidade motora e
gestos, capacidade cognitiva da criança, propiciando-lhe uma nova forma de aprendizagem,
maior liberdade de expressão, alivio de tensão, de ansiedade e de dor. É um processo natural
por meio do qual a criança comunica o que sente, o que pensa e a maneira como vivencia e
percebe o mundo, processo que ocorrerá de acordo com seu desenvolvimento emocional,
mental, psíquico e perceptual.
33009
De acordo com Valladares e Carvalho (2006) nas intervenções de Arteterapia, a
predominância é do não-verbal, isto é, a abordagem e as formas de intervenção destinam-se
ao confronto com conteúdos emocionais dos pacientes. O arteterapeuta, na intervenção, utiliza
a palavra durante o desenrolar dos processos expressivos, não de forma abusiva. Após o
término das atividades plásticas, a palavra poderá ser mais produtiva, com o objetivo de
melhor expor as experiências e sentimentos, de maneira mais profunda. A Arteterapia não é
mero entretenimento, mas, sim, uma forma de linguagem que permite à pessoa comunicar-se
com os outros. Desse modo, possibilita à criança não só a liberdade de expressão, mas
também sustenta sua autonomia criativa, ampliando o seu conhecimento sobre o mundo e
proporcionando seu desenvolvimento tanto emocional, como social.
Ainda para Valladares e Carvalho (2009) no caso das crianças, o adoecimento
favorece alterações na sua vida, como um todo, podendo, muitas vezes, desequilibrar seu
organismo interna e externamente, o qual, em consequência disso, gerará um bloqueio no seu
processo de desenvolvimento e comportamento saudável, especialmente se a doença for
longa. A Arteterapia pode ser um meio para canalizar, de maneira positiva, as variáveis do
desenvolvimento da criança hospitalizada e neutralizar os fatores negativos de ordem afetiva
que, naturalmente, surgem com o adoecer e a hospitalização, como o estresse, angústia,
agressividade e apatia; agindo preventivamente no sentido de evitarem a instalação de
algumas disfunções que venham atrapalhar seu crescimento normal.
Vasconcellos e Giglio (2007) colocam que o processo de Arteterapia se baseia no
reconhecimento de que os pensamentos e os sentimentos mais fundamentais do homem,
derivados de seus comportamentos encobertos, encontram sua expressão em imagens e não
em palavras. As técnicas da Arteterapia se baseiam no conhecimento de que cada indivíduo,
treinado ou não em arte, tem uma capacidade latente de projetar seus conflitos emocionais em
forma visual. De maneira geral, o alcance da Arteterapia é bastante amplo, pois como
intervenção visa desenvolver recursos físicos, cognitivos e emocionais, propiciar o
desenvolvimento de habilidades e de potencialidades, favorecendo a utilização de recursos
internos na resolução de conflitos, e estimular a livre expressão, portanto, poderia ser mais
utilizada no ambiente hospitalar para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, sejam
adultos ou crianças.
33010
Estratégia de Intervenção Para o Ambiente Hospitalar Infantil Unindo Psicologia e
Arteterapia
O presente tópico tem por objetivo indicar uma estratégia de intervenção que possa
unir a Arteterapia e a Psicologia no ambiente hospitalar infantil. Conforme visto
anteriormente, ao se trabalhar com crianças, o recurso lúdico se faz importante na atuação do
profissional, desta forma, no presente trabalho, a mandala é o recurso apontado como
colaborador do processo psicológico e arteterapêutico com o público alvo mencionado. De
acordo com Rafaelli (2009) a mandala tem origem sânscrita e significa “círculo”. Trata-se de
figuras geométricas formadas a partir do centro de um círculo ou de um quadrado,
configurando um espaço. Essas formas podem ser usadas como instrumentos de concentração,
para acalmar a ansiedade, etc, podendo ser moldadas em areia, desenhadas, pintadas ou
configuradas através de alto-relevo em madeira ou metal. Podem, ainda, ser igualmente
expressas por meio dos movimentos e da dança, individual ou coletiva, em coreografias
circulares. Segundo Chiesa (2012) a mandala pode permitir um encontro com si mesmo, uma
centralidade, um direcionamento e a expressão para questões conflitantes do indivíduo. As
mandalas expressam conteúdos significativos que poderiam estar obscuros no entendimento
das pessoas, organizando tais conteúdos que nem sempre são colocados através da palavra. A
arte permite esta expressão através do desenho, da dança, da música, entre outros.
A intervenção apontada no presente trabalho pode acontecer da seguinte forma: Ao ser
chamado para atender uma criança hospitalizada, o profissional deve apresentar-se e iniciar o
rapport com a mesma. O recurso lúdico deve ser oferecido, que neste caso trata-se da
mandala. Provavelmente, a criança não saberá o que é uma mandala, sendo assim, o
profissional deverá explicar para ela, e se possível levar uma foto com um exemplo. Deve-se
tomar cuidado para não interferir na imaginação da criança e para que ela não copie a imagem
apresentada. O objetivo é que ela crie sua própria mandala e se expresse da forma como
desejar. São, então, apresentados papéis, tintas guache, lápis de cor, giz de cera, canetinhas,
entre outros e deixa-se o paciente livre para criar. Quando a criança finalizar, é interessante
conversar com ela sobre sua criação, perguntando de forma clara e objetiva o que ela fez, o
que pensou sobre, como se sentiu, entre outros.
Abaixo fotos de mandalas retiradas da internet como exemplo.
Figura1: exemplo de mandalas.
33011
Fonte: site WWW.mandalas.colorir.com.
Considerações Finais
Considera-se que a hospitalização pode causar certo sofrimento ao paciente devido à
mudança de rotina, ao desconforto e a falta de autonomia que o ambiente hospitalar fornece.
Tratando-se de crianças, este desconforto é potencializado, uma vez que o entendimento de
mundo delas é diferente do entendimento de mundo dos adultos, sendo as crianças mais
espontâneas e imaturas. O ambiente hospitalar pode causar uma série de comportamentos
como angústia, ansiedade, medo, insegurança, estresse, agressividade, isolamento social,
apatia, entre outros, sendo a Psicologia e a Arteterapia elementos fundamentais para trabalhar
com tais comportamentos.
Elas podem permitir que os pacientes, dentre eles as crianças, sejam mais autônomos,
mais criativos, maior capacidade motora e cognitiva, alívio da dor, expressão livre dos
sentimentos, a descobrir uma melhor maneira de lidar com as limitações impostas pela
doença/hospitalização, possibilitar aos pacientes a vivência de suas dificuldades, conflitos,
medos e angústias de um modo menos sofrido, entre outras. É unânime na literatura que para
o profissional atuar com crianças hospitalizadas, ele precisa utilizar o brinquedo, recursos
lúdicos e artísticos. O trabalho no hospital será multidisciplinar, e é importante que os
profissionais saibam interagir entre si para que o paciente seja mais bem atendido e
acompanhado. Por fim, a mandala é um recurso para se trabalhar as questões emocionais da
criança no hospital melhorando seu sofrimento psíquico, acalmando e permitindo que ela se
expresse aliviando seus sintomas.
REFERÊNCIAS
33012
ALMEIDA, Raquel Ayres de; MALAGRIS, Lucia Emmanoel Novaes. A prática da
psicologia da saúde. Revista da sociedade brasileira de Psicologia Hospitalar, Rio de
Janeiro, v. 14, n. 2, dez. 2011.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ARTERAPIA. O que é arteterapia?. São Paulo:
Associação Brasileira de Arteterapia. 2009. Disponível
em: <http://www.arteeterapia.com.br/OqueeArteterapia.asp>. Acesso em: 11/02/2015.
BERTO, Carlos Eduardo de Oliveira; ABRÃO, Jorge Luís Ferreira. A importância do brincar
no contexto hospitalar: percepção e compreensão da equipe de enfermagem. Revista de
Psicologia da UNESP, v.8, nº 2, 2009.
CANTARELLI, Ana Paula Silva. Novas abordagens da atuação do psicólogo no contexto
hospitalar. Revista da sociedade brasileira de Psicologia Hospitalar, Rio de Janeiro, v.
12, n. 2, dez. 2009.
CASTRO, Elisa Kern de; BORNHOLDT, Ellen. Psicologia da saúde x psicologia hospitalar:
definições e possibilidades de inserção profissional. Psicologia, ciência e profissão,
Brasília, v. 24, n. 3, set. 2004.
CHIESA, Regina Fiorese. Mandalas, construindo caminhos: Um processo arteterapêutico.
Rio de Janeiro: Wak editora, 2012.
COSTA, Veridiana Alves de Sousa Ferreira; BARBOSA, Leopoldo Nelson Fernandes;
FRANCISCO, Ana Lúcia; ESTANISLAU, Alana Cristina de Almeida Lima; WANDERLEY,
Érica Maria Tenório; BASTOS, Mayra augusta; MORAIS, Raíssa Maria Bittencourt de.
Cartografia de uma ação em saúde: o papel do psicólogo hospitalar. Revista da sociedade
brasileira de Psicologia Hospitalar, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, jun. 2009.
COQUEIRO, Neusa Freire; VIEIRA, Francisco Ronaldo Ramos; FREITAS, Marta Maria
Costa. Arteterapia como dispositivo terapêutico em saúde mental. Acta paulista de
enfermagem, São Paulo, v. 23, n. 6, 2010.
ELMESCANY, Érica de Nazaré Marçal. A arte na promoção da resilência: um caminho de
intervenção terapêutica ocupacional na atenção oncológica. Revista NUFEN, São Paulo, v.
2, n. 2, 2010.
GOMES, Jaqueline Andréia da Luz; PERGHER, Giovanni Kuckartz. A TCC no pré e pós
operatório de cirurgia cardiovascular. Revista brasileira de terapia cognitiva, Rio de
Janeiro, v. 6, n. 1, jun. 2010.
MOREIRA, Emanuelle Karuline Correia Barcelos; MARTINS, Tatiana Milhomem;
CASTRO, Marleide Marques de. Representação social da Psicologia Hospitalar para
familiares de pacientes hospitalizados em Unidade de Terapia Intensiva. Revista da
sociedade brasileira de Psicologia Hospitalar, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, jun. 2012.
33013
MOTTA, Alessandra Brunoro; ENUMO, Sônia Regina Fiorim. Intervenção Psicológica
Lúdica para o Enfrentamento da Hospitalização em Crianças com Câncer. Psicologia, Teoria
e Pesquisa, V.26, nº03, Jul-Set 2010.
RAFFAELLI, Rafael. Jung, mandala e arquitetura Islâmica. Psicologia Universidade de São
Paulo, São Paulo, v. 20, n. 1, mar. 2009.
SANTOS, Lyvia de Jesus; VIEIRA, Maria Jésia. Atuação do psicólogo nos hospitais e nas
maternidades do estado de Sergipe. Ciência, saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n.
5, maio 2012.
SILVA, Ana Nóbrega; ASSIS, Cleber Lizardo; SILVA, Leila Gracieli da; RODRIGUES,
Marivone Fátima de Assis; SOUZA, Josélia Lúcia Grinivold de; MASIEIRO, Roseni
Romualdo; SILVA, Marcilene Rodrigues. Psicologia Hospitalar: reflexões a partir de uma
experiencia de estagio supervisionado junto ao setor Obstétrico-Pediátrico de um Hospital
Público do interior de Rondônia. Revista da sociedade brasileira de Psicologia Hospitalar,
Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, jun. 2012.
SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. 2ª ed. São
Paulo: Casa do psicólogo, 2006.
SPERONI, Angela Vasconi. O lugar da psicologia no hospital geral. Revista da sociedade
brasileira de Psicologia Hospitalar, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, dez. 2006.
SOARES, Maria Rita Zoéga; BOMTEMPO, Edda. A criança hospitalizada: análise de um
programa de atividades preparatórias para o procedimento médico de inalação. Estudos em
Psicologia (Campinas), Campinas, v. 21, n. 1, abr. 2004.
SOARES, Maria Rita Zoéga; MOURA, Cyntia Borges de; PREBIANCHI, Helena Bazanelli.
Estratégias lúdicas para intervenção terapêutica com crianças em situação clínica e hospitalar.
In. BRANDÃO, Maria Zilah da Silva; CONTE, Fátima Cristina de Souza; BRANDÃO,
Fernanda Silva; INGBERMAN, Yara Kuperstein; MOURA, Cynthia Borges de; SILVA,
Vera Menezes da; OLIANE, Simone Martin. Sobre Comportamento e Cognição: Clínica,
Pesquisa e Aplicação. V. 12. Santo André, São Paulo: ESETec, 2003. P.312-326.
SOARES, Maria Rita Zoéga; SABIÃO, Leilah Sant’Ana; ORLANDINI, Taynara Fleury. A
criança hospitalizada: a importância da informação. Pediatria Moderna. V.4, sn, 2009.
TONETTO, Aline M.; GOMES, William B.. Competências e habilidades necessárias à prática
psicológica hospitalar. Arquivos brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro, v. 59, n. 1, jun.
2007.
VALLADARES, Ana Cláudia Afonso; CARVALHO, Ana Maria Pimenta. A arterapia e o
desenvolvimento do comportamento no contexto da hospitalização. Revista de enfermagem
da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 40, n. 3, set. 2006.
VALLADARES, Ana Cláudia Afonso; SILVA, Mariana Teixeira da. A arteterapia e a
promoção do desenvolvimento infantil no contexto da hospitalização. Revista gaúcha de
enfermagem, Porto Alegre, v. 32, n. 3, set. 2011.
33014
VASCONCELLOS, Erika Antunes; GIGLIO, Joel Sales. Introdução da arte na psicoterapia:
enfoque clínico e hospitalar. Estudos em Psicologia (Campinas), Campinas, v. 24, n.
3, set. 2007.
WAISBERG, Ariane David; VERONEZ, Fulvia de Souza; TAVANO, Lilian D’Aquino;
PIMENTEL, Maria Cecília. A atuação do psicólogo na Unidade de Internação de um hospital
de reabilitação. Psicologia hospitalar (São Paulo), São Paulo, v. 6, n. 1, 2008.
Mandalas. [site] <WWW.mandalas.colorir.com>. Acesso em 20/01/2015.
Download