UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI VERA LUCIA PACHECO DE MELLO A REPRESENTAÇÃO DO CONSUMO NO CINEMA ATRAVÉS DOS SENTIDOS São Paulo 2013 VERA LUCIA PACHECO DE MELLO A REPRESENTAÇÃO DO CONSUMO NO CINEMA ATRAVÉS DOS SENTIDOS Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Comunicação, área de concentração em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Ignês Carlos Magno. São Paulo 2013 M482r Mello, Vera Lúcia Pacheco de A representação do consumo no cinema através dos sentidos / Vera Lúcia Pacheco de Mello. – 2013. 89f.: il.; 30 cm. Orientador: Maria Ignês Carlos Magno Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2013. Bibliografia: f. 87-89. 1. Comunicação. 2. Cinema. 3. Sentidos. 4.Comportamento do consumidor. I. Título. CDD 302.2 VERA LUCIA PACHECO DE MELLO A REPRESENTAÇÃO DO CONSUMO NO CINEMA ATRAVÉS DOS SENTIDOS Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Comunicação, área de concentração em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Ignês Carlos Magno. Aprovado em 02/04/2013 Profa. Dra. Maria Ignês Carlos Magno Prof. Dr. Vicente Gosciola Profa. Dra. Selma Peleias Felerico Garrini DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao Rafael, meu filho, pela ajuda financeira, que possibilitou a continuidade do curso e a família pela compreensão da ausência. AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, aos professores do Programa de Mestrado em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, que além de me proporcionarem uma experiência de aprendizado, acreditaram no meu potencial e motivaram a minha linha de pesquisa. Um agradecimento especial à minha orientadora Profa. Dra. Maria Ignês Carlos Magno, que desde o primeiro momento em que nos falamos em entrevista, me assumiu como pesquisadora, filha, irmã, amiga, consolando-me em momentos difíceis da minha vida, me orientando, motivando com seu carinho e, principalmente, com sua capacidade e humildade intelectual incomparável na área acadêmica. Agradeço aos meus professores queridos, Prof. Dr Vicente Gosciola e Profa. Dra. Laura Loguercio pelo apoio durante o curso e no auxilio na minha pesquisa quanto a adaptação do tema e a linha de pesquisa da Universidade . Agradeço ao Prof. Ms Camilo D’Angelo Braz colega de trabalho, meu mentor intelectual, cuja genialidade e cultura, me proporcionaram a pesquisa bibliográfica além de colaborar com críticas construtivas a linha de raciocínio referente ao do tema . RESUMO O presente trabalho tem por objetivo estudar como o cinema representa práticas de consumo através da persuasão e comportamento do consumidor nas narrativas apresentadas em vários exemplos de filmes. A pesquisa pretende traçar um caminho da linguagem do cinema instaurada na experiência humana que emergem temas que dialogam com o consumo com o repertório de maior ênfase no comportamento do consumidor através do processo da compra por impulso e da sequencia dos estímulos aos sentidos como decisão de compras. Para cumprir esse objetivo, estudamos com mais detalhes o filme intitulado no Brasil de Delírios de consumo, de Rebeca Bloom (Confessions of a shopaholic, EUA, 2009), comédia romântica dirigida por P. J. Hogan. A escolha do filme e da cena específica – à qual chamamos de “compra da echarpe verde” – baseou-se no propósito do estudo das relações de consumo e da sequência dos estímulos aos sentidos como impulsionador da compra por impulso. Na sequência de textos e imagens na cena da compra da echarpe verde, destacam-se os estímulos aos sentidos, visão, audição e tato. O recorte proposto inclui a concentração dos esforços de estudos no aspecto sensorial, em que a combinação da imagem e do som, por meio de recursos notadamente relacionados com a decupagem do filme, influi na resposta do espectador, seja pelo viés crítico ou pelo mercadológico, no sentido de promover atitudes de consumo. Palavras-chave: Cinema. Sentidos. Comportamento do Consumidor . ABSTRACT The objective of the work is to study pratices of comsumption in the process of impulse purchases. To this purpose, we will exemplify with the film entittedin Brazil "Delírio de Consumo" Rebecca Bloom, romantic comedy directed by P. J. Hogan. The choice of this film and its especific scene was based in thi consumes relantionship and. In the texts imagens, we can see (destacador) The propose includes, - specific scene - which we called " purchase of woolen scarf " - was based on purpose of studying the consumption relationships and the sequences of stimulus to the senses for impeling the impulse buying. At the sequences of texts and images in the purchase of green woolen scarf, it emphasizes the stimulus to the senses like vision, hearing and touch, wich follow the most desired criteria by the companies as regards to consumer behavior at the point of sale. The cutting proposed includes the study efforts concentration of image and sound, by recourses specially related with decoupage of the movie, influences the viewer`s answer, by the critical or commercial way, to promote consumption attitudes. Key-words: Movies. Consumption. Senses. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - HIERARQUIA DAS NECESSIDADES DE MASLOW ...................................................... 47 FIGURA 2 - MODELO INTEGRADO DO PROCESSO DE DECISÃO DO CONSUMIDOR ................ 49 FIGURA 3 - MODELO INTEGRADO DO PROCESSO DE DECISÃO DO CONSUMIDOR ................ 50 FIGURA 4 - O PROCESSO DE DECISÃO DE COMPRA DO CONSUMIDOR ................................... 50 FIGURA 5 - TIPOS DE COMPORTAMENTO DE COMPRA EM RELAÇÃO À BUSCA DE INFORMAÇÃO E ENVOLVIMENTO .................................................................................................... 52 FIGURA 6 - CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DAS ALTERNATIVAS DE PRODUTO ........................... 53 FIGURA 7 - O ATO DE COMPRA E SUAS SUBETAPAS. ................................................................. 54 FIGURA 8 - O PROCESSO PERCEPTIVO .......................................................................................... 62 FIGURA 9 – REBECA BLOOMWOOD INDO ÀS COMPRAS ............................................................. 70 FIGURA 10 – DESEJO DAS COMPRAS REALIZADO ....................................................................... 70 FIGURA 11 - RECUPERAÇÃO DO CONSUMO DESENFREADO DE REBECCA ............................ 72 FIGURA 12 - UNIÃO DE REBECCA E LUKE BRANDON ................................................................. 72 FIGURA 13 - VITRINA DA LOJA HENRI BENDEL COM ANÚNCIO DA GRIFE DENNY&GEORGE 76 FIGURA 14 – IMPACTO VISUAL DE REBECCA COM O ANÚNCIO ................................................. 77 FIGURA 15 – OLHAR FIXO DE REBECCA NO MANEQUIM ............................................................. 77 FIGURA 16 – ENTRADA DE REBECCA NA LOJA EM DIREÇÃO AO MANEQUIM. ....................... 78 FIGURA 17 – ALERTA PARA O CONSUMO DESENFREADO ......................................................... 78 FIGURA 18 - REBECCA CONVENCIDA A IR EMBORA DA LOJA ................................................... 79 FIGURA 20 – REBECCA É SEDUZIDA PELO MANEQUIM A PROVAR A ECHARPE. ................... 80 FIGURA 21 – REBECCA CONVERSA COM O MANEQUIM, QUE A MANIPULA. ........................... 80 FIGURA 22 – PROCESSO DE COMPRA PRATICAMENTE FINALIZADO. ...................................... 81 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 11 1. O CINEMA E AS MARCAS DA CULTURA DE CONSUMO .......................................................... 13 1.1. CULTURA DE CONSUMO .............................................................................................................. 13 1.2. REPRESENTAÇÃO DA METRÓPOLE DO CINEMA .............................................................................. 24 1.2.1. Haussmann e a nova Paris ............................................................................................ 26 1.2.2. Consumidor no cinema................................................................................................... 37 1.2.3. Fatores culturais ............................................................................................................. 38 1.2.4. Fatores sociais ............................................................................................................... 41 1.2.5. Fatores pessoais ............................................................................................................ 43 1.2.6. Fatores Psicológicos ...................................................................................................... 46 1.2.7. O filme Mensagem para você e o processo de decisão do consumidor. ...................... 49 1.2.7.1. O reconhecimento do problema ........................................................................ 50 1.2.7.2. A busca de informações .................................................................................... 51 1.2.7.3. Avaliação de alternativas .................................................................................. 52 1.2.7.4. Decisão de compra ........................................................................................... 53 1.3. DELÍRIOS DE CONSUMO, DE REBECA BLOOM E A COMPRA POR IMPULSO. ....................................... 55 1.4. O CINEMA E OS SIGNIFICADOS IMAGINÁRIOS ATRAVÉS DOS SENTIDOS ............................................ 60 1.4.1. Conexões sensoriais representada no cinema .............................................................. 60 1.4.2. O sentido visão ............................................................................................................... 64 1.4.3. O sentido audição ........................................................................................................... 65 1.4.4. O sentido tato ................................................................................................................. 66 2. O CINEMA VAI ÀS LOJAS - DELÍRIOS DE CONSUMO, DE BECKY BLOOM (2009) .... ......67 2.1. O FILME ..................................................................................................................................... 69 2.2. CENA “A COMPRA DA ECHARPE VERDE” ....................................................................................... 75 2.3. MODUS DO CONSUMO NA CENA “A COMPRA DA ECHARPE VERDE” .................................................. 83 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................. 85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................................... 87 11 INTRODUÇÃO A utilização do cinema como fonte de pesquisa não é algo recente, a pesquisa pretende traçar um caminho da linguagem do cinema instaurada na experiência humana que emerge temas que dialogam com o consumo, com repertório de maior ênfase no comportamento do consumir, através do processo da compra por impulso e da sequencia dos estímulos aos sentidos como processo de decisão de compras. Aproximar o cinema e o atravessamento mercadológico do consumo de forma transdisciplinar que converge o consumidor no cinema. Dessa forma incorporamos na pesquisa, a compreensão da cultura de consumo na contemporaneidade que tem sido um grande desafio nas mais diversas áreas. Compreender o consumidor, identificar suas preferências, atitudes, principalmente sob o aspecto do comportamento do consumidor, a cultura de consumo assume extrema relevância nos estudos mercadológicos com objetivo de cada vez mais obter o entendimento dos processos de decisão de compras. Na contemporaneidade, consideram-se as marcas e as nervuras espessas de uma forte cultura de consumo, ou de práticas sociais orientadas para o consumo (Featherstone). O conjunto de práticas que influenciam os processos de decisão de compras não deve ser entendido como simplesmente práticas de processos de compra e venda de mercadorias. Nesse aspecto, a cultura de consumo pode ser mais bem estudada como um conjunto de práticas que influenciam o discurso da modernidade, sua constituição simbólica e ideológica, manifestada em atitudes, visões do mundo, sensações e emoções do individuo contemporâneo. As práticas de consumo no contexto social foram dialogadas com conceitos de cultura sob a visão de Raymond Williams, modo de vida global, passando por conceitos, pensamentos sobre consumo e cultura de consumo. Para o desenvolvimento deste tema nos apoiamos em autores como Canclini (2005), Baccega (2008), Nicolau Sevcenko (2001), Bauman (2008), Featherstone (1995), entre outros. Partindo da noção que o filme representa formas de aprendizado na época e contexto que ele tenta representar, selecionamos o filme Delírios de consumo, de Rebeca Bloom (Confessions of a shopaholic, EUA, 2009), comédia romântica 12 dirigida por P. J. Hogan, como exemplo para se estudar as relações entre o cinema e as práticas de consumo da contemporaneidade. O recorte proposto é uma cena que antecede uma entrevista de emprego da personagem principal que, durante o percurso até o local, encanta-se com uma echarpe verde. O desejo de compra faz que Rebeca tenha uma conversa imaginária com um manequim. Esse manequim, que se apresenta como uma figura humanizada estimula sua compra e, no contexto da narrativa, segue padrões de persuasão no processo decisório de consumo nas lojas, abordados por autores renomados nesta área, como Paco Underhill, Martin Lindstrom, João De Simoni Ferracciu e Gilberto Strunck. Também, se fez necessário, para o entendimento desse processo decisório de compras o estudo sobre comportamento do consumidor baseado nas teorias de Philip Kotler considerado “o papa do marketing”, complementado pelos autores como Beatriz Santos Samara, Marco Louis E. Boone, David Kurtz, Eliane Karsaklian e Wayne D. Hoyer e Demorah J. Macinnis, pesquisadores e autores específicos sobre o comportamento do consumidor na atualidade. Um dos processos de decisão de compras, a tomada de decisão é feita na loja, as influencias situacionais acabam por abreviar o processo decisório e o indivíduo realiza a compra de forma a deixar-se influenciar por aspectos sensoriais, experiências, psicológicos entre outros que iremos estudar. Esse processo chamase compra por impulso, que entre várias definições optou-se pelo conceito do autor João De Somoni Ferraciu, considerado um dos maiores especialistas na área, devido à aplicação prática de maior aceitação, objetividade e adequação aos estudos aqui propostos. Para Ferraciu (2009): A compra por impulso ocorre quando o consumidor é atingido por algum estimulo suficientemente forte que o leve à compra, no momento em que passa em frente a exposição do produto.(FERRACIU, 2009, p.51). O uso de estímulos sensoriais para despertar o interesse do consumidor por um produto fornece conexões e criam expectativas das quais se espera que sejam cumpridas e nesse sentido estudamos a influencia da utilização dos sentidos como persuasão no processo da compra por impulso, ilustrado na cena citada “a compra da echarpe verde”. 13 1. O CINEMA E AS MARCAS DA CULTURA DE CONSUMO 1.1. Cultura de Consumo A cultura evoca interesses multidisciplinares, sendo estudada em áreas como sociologia, antropologia, história, comunicação, administração, economia, entre outras. Em cada uma dessas áreas, é trabalhada a partir de distintos enfoques e usos. O termo suscita tantas interpretações que o dicionário Aurélio assim o define: 1. Ato, efeito ou modo de cultivar. 2. Cultivo. 3. O complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e doutros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade: civilização. 4. O desenvolvimento de um grupo social, uma nação, etc., que é fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento desses valores; civilização, progresso. 5. Apuro, esmero, elegância. 6. Criação de certos animais, em particular os microscópicos. (FERREIRA,1980, p.512). De origem etimológica, do latim: colere de significados diversos como habitar, cultivar, proteger, honrar com veneração, o termo cultura até hoje é utilizado nas mais diversas situações. O conceito de cultura foi definido pela primeira vez por Edward Tylor (18321917), que uniu o termo germânico Kultur utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma sociedade e o termo Civilization de origem francesa que referia-se as realizações pessoais.Tylor sintetizou os termos no vocábulo inglês como Culture que no sentido etnográfico inclui conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes e capacidade de aprendizado do homem. É um termo complexo uma vez que historiadores, filósofos e estudiosos durante séculos refletiram sobre o assunto, nas mais diversas ciências. Essa dificuldade de conceituação é reconhecida também por Raymond Williams, que aponta raízes históricas nessa questão: Cultura é uma das duas ou três palavras mais complicadas da língua inglesa. Isso ocorre em parte por causa de seu intrincado desenvolvimento histórico em diversas línguas europeias, mas principalmente porque passou a ser usada para referir-se a conceitos importantes em diversas disciplinas intelectuais distintas e em 14 diversos sistemas de pensamento (WILLIAMS, 1969, p. 117) distintos e incompatíveis Nas ciências sociais, por exemplo, pode ser considerada como conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração através da vida em sociedade. A cultura como herança que o homem recebe ao nascer, desde criança adquire influências da sociedade que nasceu vestuário, alimentação, língua, modo de vida. Conforme vai crescendo, recebe novas influências desse mesmo grupo, de modo a integrá-la na sociedade, da qual participa como uma personalidade em função do papel que nela exerce e de acordo com os seus padrões culturais, ele é resultado do meio em que foi socializado. A cultura nesse aspecto é um processo acumulativo, o homem recebe conhecimentos e experiências acumulados ao longo das gerações que o antecederam e, se estas informações forem adequada e criativamente manipuladas, permitirão inovações e invenções, não sendo um esforço isolado, mas um esforço de toda uma comunidade. De forma sociológica, a cultura se preocupa com aspectos da sociedade humana, aprendizados que são compartilhados entre os membros de uma sociedade. As diferentes formas de viver, as primeiras migrações humanas que saíram do continente africano e espalharam-se pelo mundo, os esquimós vivendo em locais mais frios do planeta, indígenas das Américas, povos do deserto, o homem urbano, as diversidades culturais com suas heranças físicas e biológicas, organiza-se em sociedades interagindo com o ambiente, formando assim sua identidade cultural. A identidade cultural, compartilhada com seus aspectos materiais, como utensílios, instrumentos, máquinas, tipo de habitação e não materiais, como religião, costumes, normas, valores, sociologicamente formam um padrão cultural, seguido pelos indivíduos que agem conforme esses padrões pré-estabelecidos. Muito se discute sobre as diferenças culturais e como elas podem interagir ou não, a pluralidade cultural, que nos faz pensar por que nós humanos, embora sejamos uma única espécie biológica, desenvolvemos modos de vida tão diferentes 15 e conflitantes. Diferenças muitas vezes vistas como absolutas e imutáveis, porém dinâmicas. São muitos os exemplos de filmes que abordam a pluralidade cultural, entre eles o filme Crash – No limite (2005), que destaca pelos conflitos de indivíduos diferentes compartilhando o mesmo espaço, culturas de lados tão opostos que a comunicação e o convívio entre as pessoas tornam-se inviáveis. Outro filme que pode ser referenciado é Outsourced (2006), comédia romântica, que aborda as diferenças culturais americanas e indianas, quando o protagonista (Josh Hamilton), é obrigado a trabalhar na Índia e experimenta o choque cultual, porém a abertura gradual lhe possibilita durante a narrativa, a ampliação da percepção sobre aqueles que o cercam que a diferença está na base cultural. Na sociologia, a cultura é foco de estudo, uma vez que da mesma emana toda a natureza e aspectos da sociedade em questão. A Ciência Social afirma que nenhuma cultura é superior ou inferior à outra, uma vez que isso não existe na sociologia e sim, culturas diferentes. Seja em qualquer aspecto ela não toma uma conclusão contemplativa e conclusiva, mas expositiva onde apenas entendemos o porquê da realidade social de cada cultura, uma vez que ela é o reflexo do momento histórico e geográfico do homem no plano temporal. Da mesma forma que a sociologia expõe conceitos, estudos, sobre a cultura, também fala sobre a contracultura. A ideia parte do pressuposto de que se existe uma cultura vigente que precisa ser cobatida. Esse movimento que nasceu nos Estados Unidos no começo da década de 60 e se espalhou pelo mundo, era entendido como movimento de contestação de caráter social e cultural, ganhou força entre os jovens dessa década e valorizou a natureza, luta pela paz, comunidade, alimentação natural, liberdade sexual, anticomunismo e a forma despojada e livre de expressão artística, foi ao mesmo tempo informal e antinômica, sobretudo em questões de conduta pessoal. A música teve um papel decisivo e através do rock, o movimento ganhou força como, por exemplo, o Festival de Woodstock realizado em uma fazenda no Estado de Nova York, em 1969, os festivais exibidos no Brasil pela Rede Record na mesma década em que artistas como Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, entre outros lutavam pela liberdade de expressão, seguido do movimento Tropicalismo que incorporaram elementos de outras culturas, experimentos que 16 acabaram com as fronteiras, tradição versos vanguarda uma maneira de acabar com o conservadorismo e o formalismo existentes na época. No cinema o filme Hair (1979), musical, que reproduz o espírito da revolva juvenil, um grupo de jovens identificados como hippies, desafiam o modelo de sociedade capitalista, tecnocrata e individualista norte americano. O ideário da contracultura é apresentado, principalmente, nas letras das músicas que retratam o enfrentamento das principais instituições do ocidente moderno. As ações destes jovens expressaram a insatisfação que precediam as grandes inovações culturais. Em termos gerais na filosofia a cultura é explicada como o conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou o comportamento natural. Já em biologia a cultura é uma criação especial de organismos para fins determinados. Cultura na antropologia é compreendida como a totalidade dos padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano. Da formação intelectual, educação formal, do senso comum ao bom-senso, formação moral e estética, a percepção, a moda, a razão, sensibilidade, emoção, diante da multiplicidade de interpretações e usos do termo cultura, adotamos como referência neste trabalho abordagem de Raymond Williams, que coloca o termo como resposta ao modo de vida, uma vez que estudou a cultura partindo das experiências do trabalho da sociedade em sala de aulas. Em seu livro Cultura e Sociedade, a palavra cultura está entre as cinco palavras que considera pontos básicos de referencias para reexaminar modificações de vida e de pensamento entre o séc. XVIII e a primeira metade do séc. XIX, indústria, democracia, classe, arte e cultura, estas são as palavras que o autor coloca como sendo de grande importância nas transformações e maneira de pensar no período acima. A palavra cultura em sua evolução é a mais impressionante na alteração do seu significado. Séc 19 – “um estado geral ou disposição de espírito, em relação estreita com a ideia de perfeição humana”. Depois, passou a corresponder a “estado geral de desenvolvimento intelectual no conjunto da sociedade.” Mais tarde “corpo geral das artes” Mais tarde ainda, ao final do século, veio a indicar “todo um sistema de vida, no seu aspecto material, intelectual e espiritual” (WILLIAMS, 1969.p.18) A esfera cultural, como um ponto de vista antropológico, é decisiva tanto para a compreensão literária quanto para estudos da sociedade. Partiu de convivências 17 concretas para a construção desta teoria, pois as raízes dos estudos culturais tem origem nas aulas que ministrava para trabalhadores no período noturno. Em sua obra Williams (1969), apontou a complexidade em conceituar o termo, sem antes colocar o contexto histórico . Tanto o problema quanto o interesse da sociologia da cultura podem ser percebidas de imediato na dificuldade do termo que obviamente a define:”cultura”. A historia e o uso desse termo excepcionalmente complexo podem ser estudados em Kroeber e Kluckhohn (1952) e Williams (1958 e 1976). Começando como nome de um processo – cultura (cultivo) de vegetais ou (criação e reprodução) de animais e, por extensão, cultura (cultivo ativo) da mente humana – ele se tornou, em fins do século XVIII, particularmente no alemão e no inglês, um nome para configuração ou generalização do “espírito” que informava o “modo de vida global” de determinado povo. (WILLIAMS, 1969, p.10). A formação do termo cultura adquiriu uma materialidade tal que instituiu práticas antes não realizadas e possíveis, estipulou mudanças nas relações entre homens e entre grupos de homens, gerando identidades, conflitos, relações de subordinação, alternativas de trabalho intelectual, em suma, uma infinidade de interações e, com elas, instituições, valores, modos de viver. A partir do séc.XIX, o termo cultura passou a ter um sentido diferente, associado à religião, às artes, família, vida pessoal, significados e valores. As transformações do termo são articuladas conforme as manifestações da força do Ilusionismo, grandes dimensões do Romantismo e novos contornos com o Marxismo. O resultado deste processo, de acordo com Raymond Williams (1969), foi estabelecido três conceitos de cultura na contemporaneidade: 1 - cultura como um processo da perfeição humana com base em valores universais; 2 - relacionado a produção de obras, o pensamento e a experiência humana são como tesouros da cultura e; 3 - social que relaciona a cultura a um modo de vida com elementos significativos que envolvem todas as formas de atividade social. Na obra de Raymond Willian nos estudos das manifestações artísticas como expressão de cultura, o autor indica que já era possível observar certa convergência prática entre o sentido social e o sentido mais especializado de cultura como “atividades artísticas e intelectuais”, sendo que está não está aplicada apenas nas artes e produções intelectuais mais sim em práticas significativas” como linguagem, artes, filosofia, jornalismo, moda e publicidade. Essas variações de sentido no uso do termo cultura, para Williams, não devem ser negativas, devem ser percebidas 18 como elementos da própria experiência uma vez que a cultura é dinâmica e compreendida como processo social geral. “Culture is ordinary” expressão usada por ele que refere-se à cultura como o processo social de dar e receber sentidos formados por aqueles já conhecidos e também pelos novos que serão testados.Os sentidos comuns para significar um modo de vida global e para significar as artes e o aprendizado, processos de descoberta e esforço criativo.No mundo há sempre pessoas com potencial,capacidade, luta e experiência “ cultura é ordinária porque está em toda sociedade e em toda mente.” As interconexões do social ao econômico, a ideia de cultura como modelo de valores e processos sociais, resulta uma visão contemporânea de cultura que Raymond Williams, nos permite o inicio das reflexões a respeito da cultura de consumo tão presente e comum na sociedade e como um modo de vida global. As práticas de consumo assumem particular relevância nas sociedades contemporâneas que são sociedades de consumo, por excelência. É através do consumo que se evidenciam dimensões afetivas, simbólicas e sociais. No entanto, nem sempre o consumo teve centralidade na vida social e nem sempre foi percebido como hoje, ato importante de significações na formação da sociedade. As preocupações com a dimensão do consumo passam a ser mais contextualizadas com o capitalismo, as transformações sociais ocorridas nos modos operantes de produção, os conceitos de alienação, opressão, a transformação do produto do trabalho em mercadoria, à exploração das forças de trabalho. O pensamento predominante de Marx cujo valor da mercadoria passa a ser definido pela quantidade de dinheiro que lhe é atribuída dissimulada do caráter social, o processo de produção domina o homem, enquanto deveria ser ao contrário o homem dominando o processo de produção. Costa & Vasconcelos (2008) coloca está questão de maneira esclarecedora. (...) a produção é imediatamente o consumo que, por sua vez, é imediatamente a produção. Cada um é imediatamente o seu oposto. Então ,vejam bem, o consumo realiza o objetivo da produção e propõe novas finalidades para produção; portanto,de certa forma, o consumo produz a produção. Assim,segundo observa Marx, a produção não se torna produto efetivo se não houver consumo,ou seja, um vestido só é vestido quando consumido,senão é um pedaço de pano.Ele só passa a existir quando é consumido,quando realiza a 19 produção.Além disso, o consumo cria a necessidade de uma nova produção, ou seja, o fundamento ideal que move internamente a produção. (COSTA & VASCONCELOS, 2008, p.83) O termo consumo até então significava estudos voltados para o entendimento do mundo econômico, sob a ótica da produção e não da compreensão como demanda, dimensões afetivas e sociais. Após a fase da economia de mercado, a produção em massa de produtos, o consumo em larga escala, a relação com os conceitos de consumo se efetivam como uma construção social e ganham um novo impulso na metade do século XX . O consumo acabou se tornando um fator importante de construção de representações sociais: ao fazer uma compra, não apenas se adquire um produto ou serviço, mas define-se a identidade de um indivíduo e sua diferenciação entre classes e grupos sociais. Embora pesquisas tenham se multiplicado durante anos, estudos nas mais diversas áreas se aprofundado, vamos iniciar nossos estudos com uma pergunta simples, porém complexa em suas respostas; o que significa consumir? Para Canclini (2005, p.77), consumir é algo mais simples do que os julgamentos feitos por moralistas. “O consumo é um conjunto de processos socioculturais em que se realizam a apropriação e o uso dos produtos”. Nessa perspectiva o consumo está voltado à racionalidade econômica, a geração de produtos para expansão de capital e reprodução da força de trabalho, ao invés de enxergá-lo como simples cenário de gastos organiza a racionalidade econômica e sociopolítica nas sociedades. Canclini (2005, p.78) diz que: “Consumir é participar de um cenário de disputa por aquilo que a sociedade produz e pelos modos de usá-lo”. Suas reflexões tomam como base os aspectos políticos da cidadania e tentam entender como as mudanças na forma de consumir alteram as formas de sermos cidadãos. O autor vê o consumo não como um simples cenário de gastos supérfluos, mas algo para se pensar na organização econômica, psicológica nas sociedades contemporâneas. Canclini (2005, p. 59), também afirma que outros estudos apontam o consumo como lugar de diferenciação e distinção entre as classes e os grupos, é participar de um cenário de disputas pelo que a sociedade produz e pelos modos de usá-lo. 20 Segundo ele, o reconhecimento e a aceitação social dependem cada vez mais do consumo ou daquilo que se possua, ou seja, capaz de possuir, “o consumo é um processo em que os desejos se transformam em demandas e em atos socialmente regulados”. Não é algo “privado, atomizado e passivo” mas algo “social, correlativo e ativo”. Inclusive nessa obra o autor exemplifica esse aspecto com a introdução de novos objetos em uma comunidade indígena que só são aceitos se houver similaridades. Para ele, a tendência do consumo resulta na participação do que é produzido pela sociedade e seu modo de uso, como por exemplo, se determinado grupo consome certa marca, o indivíduo somente conseguirá se integrar ao grupo se consumir a marca em questão. O ato de consumir define o papel que se ocupa, o quê e quem se pretendem ser e como se quer ser visto pela sociedade. A capacidade de consumo permite a integração a um determinado grupo, que compartilha do ato da compra, essa manifestação do estilo de vida através do consumo de certos bens, produtos e serviços, exibidos socialmente é contextualizado por Nicolau Sevcenko (2001); As pessoas são aquilo que consomem. O fundamental da comunicação — o potencial de atrair e cativar – já não está mais nas qualidades das pessoas, mas na qualidade das mercadorias que ela ostenta [...]. Em outras palavras, sua visibilidade social e seu poder de sedução são diretamente proporcionais ao seu poder de compra (SEVCENKO, 2001, p. 64). Com as mudanças tecnológicas do século XX, Sevcenko (2001) coloca que há alteração no padrão do comportamento das pessoas e no quadro de valores da sociedade. Nas grandes metrópoles, por exemplo, as pessoas não têm mais tempo e nem espaço para serem avaliadas pela sua personalidade, a forma de identificar e conhecer umas as outras está na maneira de se vestir, objetos simbólicos que exibem, pelo modo e pelo tom com que falam, pelo seu jeito de se comportar. A transformação da sociedade moderna e a relação com o consumo também foram destacadas por Zygmunt Bauman (2008) de forma que o consumo deixou de ser uma simples prática, para se alcançar ao longo dos séculos padrões de relacionamento interpessoal. Para Bauman (2008, p. 41), na sociedade de consumidores, as pessoas são ao mesmo tempo consumidoras e mercadorias, o consumo tornou-se consumismo; 21 enquanto o consumo é uma ocupação das pessoas, “consumismo é um atributo da sociedade” e os desejos passaram a ser a força propulsora da sociedade. Ainda, segundo Bauman (2008): [...] comprar compulsivamente como manifestação da revolução pós moderna dos valores, a tendência a representar o vício das compras como manifestação aberta de instintos materialistas e hedonistas adormecidos [...] capturam na melhor das hipóteses apenas parte da verdade. Outra parte, [...] é que a compulsãotransformada-em-vício de comprar é uma luta [...] contra um sentimento de insegurança incômodo e estupeficante (BAUMAN, 2008, p. 95). Consumir, portanto, para Bauman (2008), significa investir na avaliação social de si próprio, os membros da sociedade de consumidores são eles próprios mercadorias de consumo e a qualidade de ser uma mercadoria de consumo que os torna membros autênticos dessa sociedade. É o fetichismo que as mercadorias passam a exercer nas pessoas, fazendo-as não só se sentirem, mas portarem-se como tal. As relações sociais passam a ser medidas pelo consumo que não necessariamente são de produtos, mas de hábitos valores e aparências que impostas pelo mercado, o individuo inconscientemente passa a portar-se como objeto de consumo. Na visão de Bauman (2008, p. 154) as relações são empreendidas a partir do consumo: “A ‘subjetividade’ do sujeito, e a maior parte daquilo que essa subjetividade possibilita ao sujeito atingir, concentra-se num esforço sem fim para ela própria se tornar, e permanecer, uma mercadoria vendável”. O consumo excessivo na sociedade acaba mobilizando uma necessidade de visibilidade cada vez maior, encadeando uma constante reformulação das identidades, para Bauman (2008) não existe um não consumidor, mas um consumidor falho. Como foi sugerido por Gilles Lipovestsky (2004), o consumo passou de uma sociedade de produtores para uma sociedade de consumidores na década de 80, essa passagem para Bauman caracterizou e fundamentou a cultura de consumo item que vamos contextualizar a seguir. Associada a complexidade humana, a Cultura de consumo envolve valores, desejos, hábitos, necessidades de forma bastante intensa. 22 Mike Featherstone (1995) coloca a cultura de consumo sob as perspectivas; de expansão da produção capitalista de mercadorias de bens e locais de compra. Aspecto bem visto por alguns como liberdade individual e considerados por outros como manipulação ideológica e a cultura de consumo, vista como “status” definindo a distinção social e por último como prazeres emocionais de consumo, estimulando, sonhos, desejos em locais específicos de consumo, perspectiva que será abordada nesse trabalho. Feathestone (1995, p.41), cita Raymond Willians (1969) como precursor do termo “consumir”, que significa “destruir, gastar, desperdiçar, esgotar”, nesse sentido a escassez deveria ser superada pela produção para atender as necessidades e prazeres do consumo, constituindo uma imagem poderosa e uma força de motivação importante e nas sociedades capitalistas e socialistas” dessa forma o consumo é um auxiliador do trabalho intenso. Em sua opinião, a fase atual da oferta excessiva de bens nas sociedades contemporâneas, a cultura de consumo deve ser vista nas ciências sociais com interesse cada vez maior nos conceitos das questões relativas ao desejo, prazer, satisfações pessoais emocionais derivadas das experiências de consumo e não simplesmente como processo de manipulação psicológica. Se é possível afirmar o funcionamento de uma “lógica do capital” derivada da produção,talvez seja possível afirmar uma “lógica do consumo”,que aponta para os modos socialmente estruturados de usar bens para demarcar relações sociais.(FEATHERSTONE,1995, p.35) O consumo passa a ser estimulado uma vez que a busca pelo crescimento da produção deve ser administrado pelo excedente, fazendo com que a superprodução de imagens e locais para consumo endosse os prazeres do consumo. Em contraposição, no final do séc, XIX, o autor comenta que a modernização da cultura se manifesta nos prazeres físicos grotescos ou seja tudo é permitido. Exemplifica as feiras que desempenham um duplo papel: a troca pela mercadoria e espaço para diversão, gestos, imagens como fontes de fascínio. Na segunda metade do séc. XIX e sec. XX, instituições dominaram o espaço de mercado urbano e que mesmo de forma desordenada tornaram-se lugares exóticos. 23 Para Walter Benjamin (1982), as novas lojas de departamentos que surgem em Paris no séc. XIX eram um “mundo dos sonhos”, mercadorias em exposição estimulam esses sonhos de consumo, renovadas constantemente pelo impulso capitalista. Em seus pensamentos, Benjamim também colocou como positivo a produção para consumo em massa que permitiu a migração da arte para a vida cotidiana, refletida na publicidade, marketing, designer . Por fim, Featherstone (1995, p.48) conclui que a cultura de consumo relacionada a consumir sonhos, imagens e prazeres, classifica o status de seu portador, através do uso de imagens, signos que despertam sonhos, desejos, realização emocional e prazer pessoal. A cultura de consumo contemporânea vem contextualizando uma maior variação de comportamentos aceitáveis, tanto na questão da obtenção do “status” quanto na realização pessoal. A cultura de consumo da atualidade não representa nem um lapso do controle,nem a instituição de controles mais rígidos, mas antes, a corroboração dos controles por uma estrutura gerativa subjacente flexível, capaz de lidar ao mesmo tempo com o controle e o descontrole,bem com facilitar uma troca de marchas confortável entre ambos (FEATHERSTONE, 1995, p.48). O consumo pode ser entendido como principal aspecto do poder econômico, geração da expansão de capital, gastos superfulos, como diferenciação na sociedade e aceitação social. Consumidores vistos como a própria mercadoria, onde as relações sociais são medidas pelos bens que se tem. A cultura de consumo e seus modos operantes que demarcaram as relações sociais e que também estão relacionadas ao consumo de sonhos, prazeres e experiência. O fato é que tudo está relacionado ao consumo, o modo de produção, a geração de capital, a circulação dos bens, os padrões de desigualdade, a maneira como se estruturam as instituições como família, lazer, ambientes urbanos, etc. Nossa sociedade constantemente cria novos espaços para o consumidor, tornando a cultura de consumo um sistema cada vez mais global reconfigurada por novas tecnologias que determinam os padrões de consumo, ainda que a cultura regional seja mantida, fenômenos da cultura de consumo estão presentes no nosso cotidiano e fazem parte nas nossas vidas. Como um conjunto de processos socioculturais onde as pessoas se apropriam e usam produtos e serviços de forma a dizer algo sobre si mesma, a 24 sociedade, aos grupos locais em que vivem o consumo em sua totalidade das intervenções sociais de suas disputas e significados do processo de distinção, experiência sensorial é que nossos estudos vão estar focados, uma vez que a proposta da pesquisa envolve o processo do consumo como sedução através dos sentidos, como distinção social mostrado pelo cinema. 1.2. Representação da metrópole do cinema Um dos signos que o cinema demonstra cenas de consumo e na maioria das vezes de forma oculta e continua é a metrópole. A metrópole é onde tudo acontece, mas do que se vive nela. O atrativo da metrópole é justamente ser o espaço em que há movimento, novidade e condições vivenciais submetidas a sua contínua e persuasiva ebulição. Há muito tempo a metrópole abandonou o seu valor bucólico vivencial e se transformou num campo de negociações de amplas e variadas transações, que são financiadas por um desempenho no imaterial do trabalho, que dá substância a esse movimento continuo e estonteante que é normalmente chamado “viver na cidade”. Todavia, essa situação dinâmica, angustiosa e ansiosa da metrópole não foi nessa forma. Tentando localizar e situar o conceito de metrópole e suas práticas, uma boa referência é o detrimento nas transformações de Paris no século 19, estudada por Benjamim na ótica da procura por Baudelaire e das transformações do conceito vivencial da cidade e da arquitetura. Em Baudelaire, o poeta guardava o incógnito atrás das máscaras que usava. Tão provocador podia parecer no trato, tão prudente era na sua obra. O incógnito é a lei da sua poesia. A sua construção de versos é comparável ao plano de uma grande cidade, em que as pessoas podem movimentar-se despercebidas, escondidas por blocos de edifícios, portões ou pátios. Neste plano, as palavras têm os seus lugares indicados com precisão, como os conspiradores antes de uma revolução. (BENJAMIM, 2000) No início do capitalismo na Europa entre os séculos 15 e 16, e posteriormente expandido para África, Ásia e Oceania séc. XIX, as cidades foram erguidas com grande intensidade. O espaço urbano durante esse período se tornava cada vez mais importante, já que nele se concentrava o comércio, a troca de mercadorias e o 25 acúmulo de capitais. As cidades eram as maiores manifestações da emergência do capitalismo. Com o capitalismo, as cidades assumiam as transformações necessárias para sua consolidação; a concentração da força de trabalho e o mercado consumidor. Os estudos que compreendem a cidade e o consumo, normalmente, caem na ambivalência de situar o “quando” no recorte temporal, a cidade se alia à prática do consumo, ou “como”, no aspecto analítico, a cidade entrou nesse modus operandi; ou seja, em que época ou como a Europa passa a manifestar os primeiros indícios de uma cultura material associada ao consumo nos moldes contemporâneos e quais as características e como se distribuíam no interior da sociedade. A temática que situa temporalmente essa transformação, quase que por norma, baliza-se pela Revolução Industrial, sobretudo assinalada pelos historiadores como um tipo de marco referencial. Entre esses historiadores, encontram-se as posições de Hobsbawn (2009). Tomando-se por base este historiador, a cidade, no período inicial da Revolução Industrial, passa a ser vista como o lugar de oportunidades de trabalho, muito mais do que divertimento ou estilo de vida, como ela é no imaginário contemporâneo. A cidade atrai um número vultoso de migrantes do campo em busca de empregos nas fábricas, normalmente de manufatura de tecidos para o mercado interno e para a exportação. O romance e a série da BBC, North and South (1855), de Elizabeth Graskell, é um dos referenciais para se entender a migração da população do campo para a cidade de Manchester; assim como a relevância que as feiras e exposições assumem no próspero setor industrial de Londres. Também como referência dessa migração para os centros urbanos, Nicolau Sevcenko (2001) descreve que as mudanças tecnológicas na segunda metade do século 19 e 20, além de serem marcos históricos das grandes transformações humanas a capacidade de produção e consumo, alteram a própria estrutura da sociedade. Assim como as inovações tecnológicas alteram as estruturas econômicas, sociais e políticas, mudando ao mesmo tempo a condição de vida das pessoas a as rotinas do seu cotidiano, a migração para as cidades foi inevitável. 26 Para Sevcenko (2001, p.60) as novas demandas de mão de obra dos grandes complexos industriais, associadas à mecanização em massa das atividades agrícolas, provocam um êxodo coletivo de grandes contingentes da população rural em direção às cidades, dando origem às metrópoles e megalópoles modernas. O contraponto é quando se compara a situação inglesa, é a noção de cidade e metrópole que Paris vai assumindo com a inauguração dos edifícios monumentais, os bulevares e o progresso das últimas décadas do século XIX. A industrialização como que contamina a paisagem da metrópole para no momento seguinte processar o ocultamento do cinzento das fábricas, da vida miserável dos operários, dos guetos de moradia dos pobres, que enfeava a cidade. Surge, então, uma grande preocupação com a vida na cidade, que foi o motor ou o combustível das transformações do pensamento social europeu, que deu origem à urbanística moderna, passando pela reforma de Paris realizada pelo prefeito Haussmann, e pelas cidades norte-americanas surgidas no decorrer do processo de desenvolvimento industrial, que, mesmo sob o racionalismo técnico e a primazia da nova lógica capitalista que exigia mudanças nos territórios urbanos em nome do lucro, a cidade passa a ser considerada como um espaço também humano. 1.2.1. Haussmann e a nova Paris Em meio às críticas sobre a cidade industrial, no ambiente parisiense, movidos pelos acalorados debates sobre o cientificismo dos socialistas e os ideais utópicos e o positivismo de Augusto Comte e um Estado interventor como o de Napoleão III, em Paris, punha-se em prática a efetiva reforma da cidade. O número de habitantes havia chegado a um milhão, em meados do século 19. A cidade de Paris estava entre as três cidades mais importantes da Europa, ao lado de Roma e Londres. O movimento de transformação associou-se aos interesses entre os grupos dominantes – empresários e proprietários – que logo estabeleceu um “novo modelo de cidade” a ser posto em prática sobre seu próprio território. Quem foi incumbido da tarefa de abrir longas avenidas para a circulação dos cavalos da milícia e, 27 posteriormente, os carros, foi o prefeito do Sena, Georges Eugènne Haussmann (1809-1891). Considerado um dos maiores prefeitos de todos os tempos, Haussmann foi responsável pela abertura das grandes avenidas e bulevares, tornando Paris centro do capital financeiro. Arquiteto demolidor, Hausmann, pela abertura das grandes avenidas e bulevares, embeleza a cidade, encarecendo os aluguéis, expulsando de Paris o proletariado, a tiros de canhão contra barricadas – 1830,1848,1850,1871. Hausmann concebe a metrópole, a diferença da cidade, como terreno da luta social, vê a cidade do ponto de vista do interesse capitalista. Abre Paris à especulação do grande capital financeiro, alienando seus amigos moradores, proscrevendo-os para seus arredores e periferia, utilizando a cidade diretamente como mercadoria (MATOS, 2008, p. 17) Ninguém como Haussmann mudou inteiramente a face de uma cidade como durante sua longa administração (1853 a 1870), servindo como modelo e inspiração para os que mais tarde reformaram tanto Buenos Aires (Torquato de Alvear), o Rio de Janeiro (Pereira Passos), como Nova York (Robert Moses). Paris torna-se uma cidade com luz, espaço e revalorizada e que será o alvo essencial da obra de Benjamin. É na reconstrução da cidade que a cultura é ferida pelo fetiche da mercadoria e pelo capitalismo, como observado pela autora Olgária Matos. Benjamin diz ser Paris o lugar de peregrinação ao “fetiche da mercadoria”. Paris é a cidade-vitrine, o arquétipo do consumo, oferecendo o espetáculo da abundância das mercadorias do mundo inteiro (MATOS, 2008, p.18) A combinação do objeto afetivo e o desejo à mercadoria transformam Paris a “capital do século XIX” e conquista os homens de forma familiarizada. A transformação de Paris e sua relação com o consumo foi o embrião e inspiração da sociedade de consumo para os próximos séculos. No novo aproveitamento do espaço urbano, além da supervalorização da figura geométrica em praças e avenidas, a planificação da reforma tenta elevar a cidade a uma espécie de “Babel da modernidade”. A nova cidade, com críticas e protestos, entre 1851 e 1870, entre eles as do poeta Baudelaire, foram abertos 95 quilômetros de novas ruas, cortando em todos os sentidos o espaço medieval e fazendo desaparecer outros 50 quilômetros de antigas ruas na área central. 28 De fato, a reforma de Paris representou mais que uma audaciosa tentativa de correção dos problemas da cidade industrial, mas ficou associada à manifestação da modernidade. Todos os países reverenciavam a “cidade luz”, que abrigava o centro intelectual do mundo, os melhores restaurantes, como Maxim’s, que foi locação do filme “Gigi”, de Vincent Minelli, o Bois de Boulogne, a Place Vendome, local dos maiores joalheiros, A Rue Foch, até hoje o local das lojas Cartier, Cardin, entre outras. Os movimentos de modernização de Paris inspiraram também outras cidades, como é o caso da Rigstrasse, de Viena e os seus conjuntos monumentais, entre eles o exótico teatro de ópera, construídos pelo Kaiser, e até posteriormente a construção da Av. Paulista, em São Paulo, e na Av. Central, atualmente Av. Rio Branco, no Rio de Janeiro. O geógrafo Milton Santos (1979) ganhou destaque na década de 1970, por meio de suas análises sobre o espaço e as cidades. Ele conceitua sobre o processo evolutivo do espaço das cidades situando que a cada intervalo de tempo é pontuado pela presença de elementos de ordem econômica, social, política e moral que constituem o aproveitamento do espaço, e que, por sua vez, este espaço iria se alterar com a entrada de novos elementos que reorganizam as suas constituições, para abarcar uma nova realidade que vai se formando. A esse quadro de transformações, Santos atribui o nome de “modernização”, designando, para a cidade, a função de receptáculo das transformações. Daí pode-se deduzir que a cidade em pleno capitalismo irá se reorganizar para a mais desenfreada prática do consumo, como se abordará nos próximos capítulos deste estudo. Contudo, sabe-se que, além da Revolução Industrial, ou na sua esteira, o momento ainda contempla os resultados de quase quatro séculos de conquistas nas mais diversas áreas de conhecimento científico e artístico que se entrelaçam com as profundas transformações econômicas, políticas e sociais materializadas pela cidade industrial em sua realidade de forma e funcionalidade, além do poder econômico, o crescimento das populações urbanas, Um dos aspectos mais destacáveis dessa nova etapa do desenvolvimento urbano se manifesta nos deslocamentos dos grupos sociais, seja pelo transporte urbano, os carros, trens e o transporte marítimo. Multiplicando as funções da cidade, sobretudo no afã da acumulação capitalista, o desenvolvimento industrial trouxe consigo grande incremento ao setor 29 terciário tornando-o um dos principais responsáveis pela intensificação dos “estímulos nervosos” que constituem a “base psicológica” do homem metropolitano, como distingue George Simmel (1903). A vida nas cidades gerou necessidades específicas, que a ciência e a tecnologia procuraram satisfazer, recriando todo o tempo o novo modo de vida, contemplando até uma engenharia de fluxos controlada pelos mais diversos itens de infraestrutura que as cidades necessitam, desde a eletricidade até a segurança pública, um controle que altera o comportamento das pessoas. Sevcenko (2001, p. 62) Na sociedade altamente mecanizada, são os homens e mulheres que devem se adaptar ao ritmo e à aceleração das máquinas, e não o contrário. Um filme que podemos citar e que tão bem representou os novos modos de vida pela vertente crítica foi Tempos Modernos (1936), onde Charles Chaplin com toda a sua genialidade expõe um novo comportamento, fragilidades e sensibilidade da sociedade. Uma das características mais significativa da metrópole, podemos citar o intercâmbio comercial, implicando na extensão funcional da cidade para além de suas fronteiras físicas, estendendo para uma vasta área nacional ou internacional. Como consequências imediatas do desenvolvimento espantoso do setor terciário nos séculos que se seguiram à Revolução Industrial, surgiram diversos tipos de trabalhadores urbanos, como: lojistas, balconistas, caixeiros, corretores, bancários, funcionários administrativos, executivos, artistas de ruas, e todos vão se transformando em consumidores. Com estes, se multiplicaram os papéis da cidade, viabilizando a categorização funcional como o acesso aos bens de consumo. De fato, a classificação por função que outrora teria sido avançada enquanto categoria de trabalho se revela agora demasiado simplificada, por haver grande variação de papéis que coexistem na cidade na categoria de consumidores. Esta diversificação funcional do comércio e dos serviços implicou, sobretudo, no aumento significativo da sutileza dos processos caracterizadores do espaço urbano, uma vez que se observa uma nítida distinção entre o consumo geral, do dia a dia e o consumo de luxo. Sua identificação e mapeamento na cidade torna-se quase uma virtualidade. Os bens de consumo se submetem a uma categorização 30 imaginária que apregoa o acesso a todos sob a forma de satisfação e de autoindulgência. Os serviços se sofisticam e as lojas se transformam em locais suprarreais, de prazer e de desejo, o que justifica a dificuldade de compreensão racional de seus reflexos sobre o espaço urbano construído. Essa tarefa é de tal ordem que as atividades relacionadas com o consumo, na cidade, teriam sido até mesmo classificadas dogmaticamente como “excesso” de massificação, sobretudo na ótica frankfurtiana, o que de algum modo tentou inserir parâmetros à sua realidade prática, uma vez que critica o regime da produção em série, da estética da mercadoria; isto é, de resolução das contradições econômicas e sociais exacerbadas pela acumulação capitalista. Assim, o modo controverso de definir a oferta de consumo seria o de relacioná-lo aos mecanismos abrangentes que valorizam o acúmulo de capital por um processo de trabalho imaterial de persuasão ao consumo. Em termos formais, todo esse intenso movimento de transformação do conteúdo social, impulsionado pela imaterialidade de grande parte de seus elementos estimuladores, se refletiu no espaço urbano, revelando a grande força que os processos “invisíveis” da vida coletiva são capazes de exercer na matéria sobre a qual ela se realiza. As experiências urbanas surgidas em meio a este processo, divididas entre a grande proliferação dos espaços comerciais, logo colocariam a cidade como o centro de compras, diversão e a busca do prazer; ou seja, a cidade materialmente voltada para o consumo. Charney & Schwartz (2004, p.17) é um bom exemplo que norteia essa experiência, contém uma coletânea de artigos que prenunciam a discussão do cinema como fruto da modernidade, como “a expressão e a combinação mais completa dos atributos da modernidade”. Dentre os artigos, o livro agrega alguns ligados ao consumo, caso do texto de Erika D. Rappaport intitulado “Uma nova era de compras: a promoção do prazer feminino no West End londrino 1909-1914”, que trata do surgimento das lojas de departamento na capital inglesa do início do século 20. Rappaport (2004) considera a loja de departamento como uma nova experiência nas compras, principalmente por parte da compradora feminina que, 31 durante a era vitoriana, encarava as compras com um prazer “desperdiçador e imoral”. Por sua vez, os empresários londrinos valeram-se da publicidade, da arquitetura das lojas, das vitrinas chamativas e de promoções, reescrevendo o significado das compras. Rappaport (2004) diz que: Fazer compras passou a ser agradável e respeitável precisamente por seu aspecto público, que foi apresentado pelo comércio eduardiano como um contexto para auto-realização e independência feminina (RAPPAPORT, 2004, p. 188). A loja tornou-se interessante não só pelo que vendia, mas também pela instituição social e cultural que representava para as mulheres: uma compradora flâneuse, que observava e passeava pelos diversos produtos expostos. Segundo Pesavento (2007, p.13), as cidades compareciam como o locus da acumulação de capital, como epicentro da transformação capitalista do mundo, eram abordadas com base em sua dimensão espacial, mas como um território de produção de capital e onde se produziam as relações capitalistas. Porém a partir do século XIX, uma nova abordagem foi concebida na vida urbana, as práticas sociais. As cidades passam a representar um novo modo de vida, uma esperança, novas perspectivas econômicas, sociais e mudanças culturais, uma nova civilização. A concentração da população e as relações sociais mostram o sentindo da noção do “habitar”, cidade, o lugar do homem. Obra coletiva, sempre com renovações sociais, é o que Pesavento (2007) contextualiza como sociabilidade nas cidades. Também expressa que desde uma realidade muito antiga, a cidade foi reduto de uma nova sensibilidade. Ser citadino, portar um ethos urbano, pertencer a uma cidade implicou formas, sempre renovadas ao longo do tempo, de representar uma cidade, fosse pela palavra, escrita ou falada, fosse pela música, em melodias e canções que celebravam, fosse pelas imagens, desenhadas, pintadas ou projetadas, que a representam, no todo ou em parte, fosse ainda pelas práticas cotidianas, pelos rituais e pelos códigos de civilidade presentes naqueles que habitam (PESAVENTO, 2007, p.11). Sensibilidade mostrada como obra de arte, que da mesma forma que as pessoas veem as obras de arte de maneiras diferentes, as cidades são interpretadas sem precisão, de vários sentidos. 32 Nelson B. Peixoto (1998, p.10), coloca que a arte está presente nas paisagens das cidades, campo de intersecção de pintura e fotografia, cinema e vídeo, cruzamentos de diferentes espaços, tempos, imagens dão suporte à paisagem urbana. Peixoto afirma que “a função da arte é construir imagens da cidade, que passem a fazer parte da própria paisagem urbana”. As representações das cidades vão além das construções e obras arquitetônicas, do artefato industrial, são um produto humano, o lugar do homem moderno. Os territórios metropolitanos polarizam questões políticas, econômicas e culturais, as cidades fascinam, são desejadas, temidas, odiadas, mas a representação do consumo está sempre presente nas mais diversas construções, seja ela planejada para o turismo, religião ou centros comerciais. É na metrópole que se concentram as relações sociais, comportamentos, hábitos e renovação social. Nas cidades, as produções de imagens se materializam e representam sentimentos, desejos, esperanças, medos, individuais e coletivos. Freitas (2007), vai mais além, quando relaciona as cidades com as representações sociais. As metrópoles, com suas explosões permanentes de comunicações,agregam e desagregam os indivíduos. A animação dessas agregaçõesestá relacionada aos acontecimentos e aos desejos no cotidiano urbano.Com isso, uma multiplicidade de valores recai sobre uma espéciede narcisismo coletivo que alimenta a dialética entre o individualismoe o agrupamento, enfatizando, muitas vezes, a estética mais do que aética, ou mesmo fundindo ética e estética em valores comuns. Trata-seda natureza das paixões compartilhadas dos dias de hoje que promovem,ao mesmo tempo, estilos particulares, modos de vida, ideologias,indumentárias, valores sexuais. Em todos esses aspectos, o consumo está presente (FREITAS, 2007, p. 125). No estudo da história urbana, é importante o resgate de imagens e práticas sociais que representam as cidades e o cinema em toda sua emocionante evolução, as metrópoles foram percebidas como elementos constantes nos filmes. Em 1895, por exemplo, o cinema de atrações mostrava figuras fantasmagóricas se agitarem nas telas, já no cinema mudo, as cidades eram mostradas em sua naturalidade, o que lhe preservava a natureza. De 1896 a 1900, os irmãos Lumiére enviaram operadores para América do Norte, América do Sul e várias cidades da Europa para registros de espaços urbanos. Nascia o cinema como fruto da consolidação da 33 metrópole, vislumbrando futuros mercados, além de documentar aspectos etnográficos. São inúmeros os filmes que têm as lojas como ambiente em que se desenvolve a ação. Entre esses filmes, A Loja da esquina (1940) de Ernest Lubsch, é referência oportuna, quando o tema central deste filme circunscreve o modus do mundo das compras na década de 1940, em clima de escassez da Segunda Guerra, por meio da trama amorosa que se estabelece entre dois vendedores da loja, James Stewart e Margaret Sullavan, que trocam correspondências de amor. Há um remake desse filme, com o nome de Mensagem para você (1998) de Nora Ephron, com Meg Ryan e Tom Hanks. Na comparação entre as duas montagens, o que sobressalta é a transferência da ação de uma loja de médio porte, na produção de 1940, para uma grande rede de lojas, na produção de 1988, manifestando o consumo naturalizado. Também, entre um e outro filme observa-se a passagem da compra com a racionalidade da necessidade para a estética do consumo, significando estilo de vida, posição ideológica e status social. Outro filme que pode ser referenciado é Bonequinha de Luxo (1966), de Blake Edward, em que o diálogo do consumo e do sexo é sutilmente tratado nessa comédia, assim como o musical e o filme Os Homens preferem as loiras (1953), cujo mote é o “Diamonds are the girl’s best friend”. O filme Uma linda mulher (1990), é outra referência que associa o desejo, as lojas e as transformações que uma loja causa em uma mulher. As cidades passaram a ter o papel de protagonistas, até porque o cinema passou a ser um entretenimento nos centros urbanos. Nelson Brissac Peixoto (1998) coloca que nas imagens contemporâneas o que mais parece ter desaparecido são o rosto e a paisagem: O cinema então era capaz de uma apreensão imediata de realidade. Antes que esta lhe tivesse escapado, antes de o cinema ter se contentado com o e “efeito de realidade”. Era capaz de mostrar rostos e paisagens. Com os filmes mudos, as imagens eram dotadas de materialidade, revestiam-se do aspecto natural das coisas e dos seres. A imagem remetia a uma natureza física inocente, a uma vida imediata que não tinha necessidade de linguagem (PEIXOTO,1998, p. 16). Mas esse “efeito de realidade” já não era mais satisfatório para retratar as narrativas e as cidades se incorporavam de forma mais profunda com o surgimento 34 dos estúdios e seus cenários artificiais e com os efeitos sonoros enfatizavam ainda mais a vida urbana. Cidades antigas, modernas, do futuro são cenários do cinema e foi com o desenvolvimento das metrópoles que se expandiu e testemunhou a transformação dos espaços da cidade. A maneira como os lugares são retratados nos filmes produzem efeitos concretos na forma de vida de seus habitantes. Assim como os ícones urbanos são reconhecidos pelo espectador, por exemplo, a Estátua da Liberdade, o maior ícone da cidade de Nova York, seus arranha-céus, pontes, a pressa pelas ruas, as cidades podem contribuir para difusão de um conjunto de crenças e valores sociais, por exemplo, a 5ª Avenida de Nova York uma representação aspiracional do consumo, presença impressionante cinematográfica. Na sociedade contemporânea, o consumo, a moda, possui grande poder econômico, social e cultural. A ousadia do arquiteto da demolição, a inauguração da loja de departamento na Oxford Street, não são privilégios de mudanças sociais da Europa. Nova York com sua arquitetura fantasmagórica, foi considerada a Pedra de Roseta do século XX pelo autor Rem Koolhaas (1998), retratando uma nova cultura e um novo estilo de vida metropolitano. Principalmente entre 1890 e 1940, uma nova cultura (a era da máquina) escolheu Manhattan como laboratório: uma ilha mítica onde a invenção e o teste de um estilo de vida metropolitano com sua respectiva arquitetura podiam se dar como uma experiência coletiva, onde a cidade inteira se convertia numa fábrica de experiências criadas pelo homem, em que o real e o natural deixam de existir (KOOLHAAS, 1978, p. 26). O plano de aproveitamento do espaço de Nova York é de 1811. Pode-se dizer que, diferente de Washington que foi concebida nos parâmetros arquitetônicos iluministas franceses, com panteões, grandes estátuas e edifícios monumentais, na época de Thomas Jefferson. Nova York é a primeira manifestação de uma tradição essencialmente norteamericana, cujas origens remontavam ao período colonial. A construção de escolas, associações, bancos e o fortalecimento do negócio editorial, por meio de livros e revistas, levaram a cidade a uma busca pela ideologia autônoma e nacional para as propostas desenvolvidas nesta cidade. 35 Como resultado de um plano reticulado e vazio de propósitos, na segunda metade do século XIX Nova York era uma cidade febrilmente ativa, regurgitando de barulhentos carros puxados por cavalos e em cujas ruas não raro palácios de mármore alternavam com barracões de tábuas, ao contrário de Washington, onde os propósitos cívicos do plano não haviam garantido vida à cidade. A coleção de filmes do primeiro cinema, de Edson, documentam esses contrastes. Contudo, o espaço planejado e desenvolvido sob a nova lógica capitalistaindustrial, revelou a cidade de Nova York extremamente voltada para o comércio, o que abriu portas para a instalação de hábitos e consumos aos moldes europeus, como Martin Scorsese exibe no filme A Idade da inocência. Pouco a pouco, a Quinta Avenida vai instalando as grifes europeias de joias, perfumes, relógios, roupas, constituindo para Nova York a noção de cidade-mundo, centro de compras e negócios, com pouca propensão para valorizar o espaço humano. Facilmente, a cidade se transforma em uma metrópole, a qual isola a população pobre no Harlen, os estrangeiros em bairros como o de Chinatown, e um polo cultural que se notabilizou: a Broadway. Entretanto, em uma cidade em que o principal negócio é a venda do espaço urbano, criou-se o Central Park, com forte revelia da especulação imobiliária dos bancos e formou-se um oásis de negócios e de residências de alto padrão na península de Manhatan, como é o caso do edifício Dakota, residência de celebridades como a do maestro Leonard Bernstein e de John Lennon. O contraste entre a cidade grande e a cidade refinada e culta é mostrado curiosamente nos filmes musicais, como no A Roda da Fortuna (1953) de Vincente Minnelli e no Desfile de Páscoa (1948), de Robert Alton, ambos estrelados por Fred Astaire. Logo se percebe que o posicionamento de Nova York como a cidade mais importante e reconhecida mundialmente é uma construção simbólica referendada principalmente pelo cinema, uma vez que foi a localização de inúmeros filmes, desde o inquietante set em O Sindicato dos ladrões (1954), de Elia Kazan, King Kong (2005), até a trilogia O Poderoso Chefão (1972, 1974 e 1990). Essa nova experiência do novo estilo de vida metropolitana fizeram de Nova York uma das maiores cidades globalizadas, uma metrópole mundial, com grandes 36 sedes de companhias multinacionais, bolsa de valores com influência na economia mundial, alta sofisticação de serviços urbanos, tecnologia avançada e com portos e aeroportos abertos para o mundo. Localizada em Manhattan, a Quinta Avenida é um símbolo de riqueza de Nova York. No início do século 20, muitos ricos industriais instalaram-se ao longo da avenida, construindo mansões com vista para o Central Park. Manhattan se ergue como uma cidade renomada pelo comércio, pela inteligência e pela riqueza e a Quinta Avenida com seus imponentes e majestosos arranha-céus é considerada uma das melhores ruas do mundo para fazer compras. Quando dizemos que uma loja fica na 5ª Avenida de Nova York, parece estar submetido, ou seja, faz parte do imaginário coletivo, de que se trata de uma loja cara, de luxo e bem localizada. É no berço das grifes famosas como Bergdorf-Goodman, Louis Vuitton, Prada, Emanuel Ungaro, Gucci, Ferragamo, Versace entre tantas outras. Afinal, Nova York é um personagem por si, um ícone de todas as cidades, bem como a capital da moda. Paris e Londres ao longo das suas histórias e com fatos marcantes influenciam no imaginário da representatividade das cidades e o cinema se apropria desse imaginário e faz seus espectadores penetrarem no mundo da experiência vivida pelas personagens, seja no mundo real ou da ficção. Fazer compras na quinta Avenida de Nova York ,Oxford Street em Londres ou na famosa e luxuosa Avenida Champs Elysées em Paris, não significa consumir pela necessidade, significa possuir produtos como ostentação do luxo como diferenciação nos grupos sociais em que muitas vezes é pré requisito para continuar transitando em determinados círculos. Os produtos podem funcionar como instrumento de aproximação, como vimos na visão de Canclini (2005) determinado grupo consome certa marca o indivíduo somente conseguirá se integrar ao grupo se consumir a marca em questão e também por Nicolau Sevcenko (2001) a capacidade de consumo permite integração a um determinado grupo, que compartilha do ato da compra, essa manifestação do estilo de vida através do consumo de certos bens, produtos e serviços, exibidos socialmente. 37 1.2.2. Consumidor no cinema Aliado a esse processo social de consumo, não podemos deixar de abordar quais as influencias, no comportamento do consumidor em seu processo de decisão de compras, uma vez que nossa pesquisa destaca uma variável desse comportamento que é a “compra por impulso” da qual que iremos nos aprofundar posteriormente. Kotler (2010), considerado um dos maiores especialistas na área de marketing, destaca a importância do conhecimento do comportamento do consumidor para as atividades relacionadas ao marketing. O propósito do marketing é satisfazer as necessidades e os desejos dos clientes-alvo. O campo do comportamento do consumidor estuda como pessoas, grupos e organizações selecionam, compram, usam e descartam artigos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer suas necessidades e desejos. Kotler (2010, p. 172) diz que, “Estudar o cliente ajuda a melhorar ou lançar produtos e serviços, determina preços, projetar canais, elaborar mensagens e desenvolver outras atividades de marketing”. O comportamento do consumidor está focado na forma como pensa e age o indivíduo na aquisição de bens e serviços, nunca foi simples entender esse processo, o consumidor pode declarar suas necessidades e desejos e agir de outra forma. Beatriz Santos Samara e Marco Aurélio Morsch (2005) fazem uma metáfora que define o consumidor como um “iceberg”, apenas uma parte do seu ser está visível, como nos blocos de gelo polares, a sua maior parte, mais poderosa e relevante, reside oculta e invisível aos nossos olhos. Em constante evolução essa metáfora ajuda a entender as diversas variáveis que influenciam o comportamento de compras. Os grandes blocos de gelo que flutuam nas águas geladas dos polos possuem uma característica singular. A maior parte de sua estrutura fica submersa,deixando visível aos olhos do observador apenas uma pequena parte. Enquanto ele se movimenta, é impossível ter uma compreensão clara e total da sua dimensão e poder. Analogamente, pode-se dizer que o consumidor é como um iceberg. Ele se movimenta no mercado e todos podem visualiza-lo, como a ponta de um iceberg, mas suas reais intenções, motivações e atitudes 38 permanecem ocultas. É preciso submarinos auxiliares para apoiar na iluminação necessária à investigação da parte submersa do iceberg e na melhor compreensão de sua extensão e estrutura (SAMARA &,MORCH, 2005. p. 4-5) E são esses submarinos auxiliares que ajudam na observação, análise, estudos do comportamento das pessoas no ato da compra, uma vez que são muitos os fatores que influenciam na tomada de decisão. Para maior compreensão desses fatores influenciadores na decisão de compras, vamos adotar os conceitos de Kotler e complementar com outros autores, uma vez que Kotler é considerado “o papa do marketing”. Para ele, quatro fatores influenciam no comportamento do consumidor: culturais, sociais, pessoais e psicológicos. 1.2.3. Fatores culturais Os fatores culturais encontram-se subdivididos em: cultura, subcultura e classe social. Entre os fatores que definem o comportamento de compra do consumidor, o cultural exerce a influencia mais profunda, a cultura na visão das ciências sociais, como um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração através da vida em sociedade, cultura como herança que o homem recebe ao nascer, desde criança e adquire influências da sociedade que nasceu vestuário, alimentação, língua, modo de vida Para Kotler (2010), a cultura é de grande importância no comportamento de uma pessoa, e que em maior parte esse comportamento é aprendido, como é o caso das crianças, que aprendem seus valores ao crescer dentro de uma da sociedade, onde lhe são transmitidos comportamentos básicos pela sua família e por instituições, como escolas e igrejas. Desta forma, o meio em que a pessoa vive influi no seu comportamento cultural, o que, por sua vez, influi em seu comportamento enquanto consumidor. A cultura é o principal determinante do comportamento e dos desejos de uma pessoa. À medida que cresce, a criança absorve certos valores, percepções, preferências e comportamentos de sua família e de outras instituições. (KOTLER, 2010, p.173) Os valores culturais nos estudos do comportamento do consumidor são intensos e através de sua compreensão é possível obter melhor eficácia nas 39 relações mercadológicas, essas influencias são reconhecidas por vários autores que assim como o Kotler reconhecem sua extrema importância, autores como Louis E. Boone e David L. Kurtz (2008),destacam: Cultura pode ser definida como valores, crenças, preferência e experiência passadas de uma geração a outra. Cultura é o determinante ambiental mais amplo do comportamento do consumidor. (BOONE & KURTZ, 2008, p.163) A cultura permeia nossas vidas diariamente e a maneira de vestir, culinária, crenças, hábitos, valores, normas e suas influencias tem efeitos inevitáveis quando buscam atender a seus desejos e necessidades de consumo. A influência da cultura sobre o ato de compra e de consumo é hoje extremamente reconhecida, e a maior parte das abordagens avançadas sobre o comportamento do consumidor, integra de uma forma ou de outra, o fator cultura. O que as pessoas compram os motivos e como decidem comprar são fatores intimamente relacionados com a cultura. Um exemplo disso é citado na obra de Karsaklian (2000), que no Brasil presenteamos as pessoas na noite de Natal em uma festa familiar, em países como o Uruguai e a Argentina não existem ceia de Natal, e sim uma comemoração aos Reis Magos, que é comemorada no dia 06 de janeiro. O filme Comer, rezar, amar (2010) com a protagonista Julia Roberts é um bom exemplo de como o cinema mostra as diferentes culturas relacionadas ao consumo, seja na gastronomia, onde a personagem foi conhecer os prazeres da comida italiana ou então a busca pelo equilíbrio mental quando viaja pela Indonésia e Índia. Quanto a subcultura Kotler (2010) define como : Cada cultura compõe-se de subculturas que fornecem identificação e socialização mais específicas para seus membros.Entre as subculturas estão as nacionalidades,as religiões,os grupos raciais e as regiões geográficas.(KOTLER, 2010, p.173). Os grupos subculturais possuem experiências de vida comuns, compartilham os mesmos valores, que são transmitidos entre seus membros. Importante observar que quando essas subculturas apresentam um crescimento e se tornam influentes o suficiente, as empresas desenvolvem programas de marketing específicos para atendê-las, como por exemplo, no Brasil, a Revista Raça, da editora Símbolo que se dedica a temas específicos de interesse da raça negra. O mercado hispânico nos Estados Unidos que cresce rapidamente, produtos e serviços, são estrategicamente 40 colocados no mercado para atende-los, como, por exemplo, cartões telefônicos, viagens aéreas e transferências de dinheiro, são serviços muito utilizados porque esse grupo atribuiu grande importância nas relações familiares. A religião é outro exemplo que interfere no consumo, as pessoas seguem um conjunto de valores e crenças estruturados como um código de conduta, os mormos são proibidos de consumir álcool, tabaco e cafeína e os judeus ortodoxos não comem carne de porco e moluscos. Outro fator colocado por Kotler (2010, p. 176) é que a classe social é a estratificação social das sociedades humanas, são divisões relativamente homogêneas e duradouras de uma sociedade, que ordenadas hierarquicamente, seus membros compartilham valores, interesses e comportamentos similares. As pessoas pertencentes a cada uma das classes sociais tendem a um comportamento mais semelhante, comparando-se com indivíduos de outra classe. A classe social de uma pessoa é indicada por um conjunto de fatores como ocupação, renda, riqueza, educação e orientação de valor. No entanto podemos observar que a renda, o principal medidor dessa classificação que o mercado de consumo usa como parâmetro para suas estratégias de marketing, não necessariamente é um fator usado para classificação social, como exemplifica Boone e Kurtz (2008): As pessoas de uma classe social podem aspirar a uma classe mais alta e, por isso, exibem comportamento de comportamento de consumo comum aquela classe em vez do da sua.Por exemplo, consumidores de classe média frequentemente compram itens que associam as classes mais altas. (BOONE & KURTZ, 2008, p. 169). Samara & Morsch (2005, p. 66) também compartilham desse conceito e não colocam o item renda como variáveis de classificação de classes sociais, elas argumentam que a renda não provou delinear claramente as classes sociais, embora possa auxiliar nessa determinação é arriscado associar uma coisa a outra. A visão mais comum é a de que ambos os fatores são importantes para o entendimento do comportamento do consumidor em situações diversas, a classe social tende a ser um prognóstico melhor de consumo quando reflete ao estilo de vida, como grandes agregações, hierarquizadas, evolutivas e relativamente homogêneas pessoas se comportam como com uma noção de superioridade ou de inferioridade, mas por estas posições não serem permanentes, como os autores 41 colocam, membros da classe inferior tentam subir na escala social adquirindo produtos que simbolizem isso. 1.2.4. Fatores sociais Além dos fatores culturais o consumidor é influenciado em suas decisões de compra pelos fatores sociais, como grupos de referência, família, amigos, papeis sociais e status. Uma das principais variáveis dos fatores sociais são os grupos de referência e os mesmos se dividem em primários (família, amigos, vizinhos e colegas de trabalho, secundários (grupos religiosos e profissionais de classe),aspiração (grupos onde a pessoa espera pertencer ) e dissociação (grupos com valores ou comportamentos que a pessoa rejeita.) Dentre os grupos de referência destaca-se o grupo familiar que talvez seja o mais importante e determinante do comportamento de compras, uma vez que há uma estreita ligação entre seus membros. Kotler (2010) não só afirma a importância desse grupo nas relações de consumo como também distingue dois momentos referenciais de famílias na vida do comprador, conforme segue: A família é a mais importante organização de compra de produtos de consumo na sociedade, e seus membros constituem o grupo de referência primário mais influente. Podemos distinguir duas famílias na vida do consumidor. Primeiro, a família de orientação, que consiste nos pais e irmãos. Dos pais a pessoa adquire determinada orientação em relação a religião,política,economia,além de certa noção de ambição pessoal,auto-estima e amor. Uma influencia mais direta no comportamento diário é chamada família de procriação – o cônjuge e os filhos. (KOTLER, 2010, p.177, grifo nosso) Para Samara & Morch (2005, p. 76) mesmo depois que crescem as crianças continuam a ter papéis no comportamento de consumo da família, por meio de recomendações de produtos para seus pais ou hábitos adquiridos da família que permanecem na sua vida adulta, boa parte dos nossos comportamentos foi modelado pelo convívio familiar. Do ponto de vista mercadológico, a família difere dos grupos de referência maiores porque seus membros precisam satisfazer suas necessidades individuais e partilhadas, recorrendo a um suprimento de recursos comuns e relativamente fixos. 42 A influência dos grupos afeta significativamente a decisão de compra, mais do que é percebido, Boone & Kurtz (2008) citam o fenômeno Asch psicólogo polaco, que com sua pesquisa foi o primeiro a documentar características do comportamento individual. Asch descobriu que os indivíduos, mesmo indo contra suas crenças, agem de forma coletiva, esse fenômeno levanta o assunto da influencia dos grupos no consumo, isto é, consumidores tentam coordenar seu comportamento de compra com suas percepções de valores e seus grupos de referência. Os autores Wayne D. Hoyer & Deborah J. Maclnnis (2008) colocam que essa influencia dependerá do grau de identificação que o individuo tem com seu grupo: Algumas características de um individuo em um grupo contribuem para o modo como os grupos variam. Uma dessas características é o grau de identificação que um consumidor tem com certo grupo. Só porque as pessoas são membros de um grupo não quer dizer que elas o usam como um grupo de referência. Embora as pessoas possam ser hispânicas ou idosas, elas não precisam necessariamente considerar indivíduos semelhantes como parte de seu grupo de referência.A influencia que um grupo tem sobre o comportamento de um individuo é afetada pelo grau em que ele se identifica com o grupo.(HOYER & MACLNNIS, 2008, p.344) Samara & Morsch (2005, p.71), ilustram a intensidade dessa influencia com o filme, Uma Tragédia Americana (1931), de Tony Kaye, a trama conta a história de um adolescente de classe média que tem seu comportamento influenciado de forma negativa depois que se filia a um grupo de jovens neonazistas. Não há dúvidas que os grupos de referência com maior ou menor intensidade têm influência no comportamento do consumidor, há pouco mistério nessa relação quando as pessoas valorizam sua participação no grupo e tem atitudes semelhantes. Nos diferentes grupos sociais nos quais as pessoas participam ao longo de suas vidas, elas acabam assumindo diferentes papéis sociais, de acordo com Kotler (2010), escolhem produtos que identifiquem seu papel e status na sociedade. A posição da pessoa em cada grupo pode ser definida em termos de papeis e status. Um papel consiste nas atividades esperadas que uma pessoa deve desempenhar.Cada papel carrega um status.(KOTLER, 2010, p.179) De acordo com o ambiente em que se encontram escolhem produtos que identifique seu papel e status real ou desejado na sociedade. 43 No filme O Diabo Veste Prada (2006), é um bom exemplo de alteração de comportamento frente aos grupos de referencia no trabalho, no momento em que a protagonista (Anne Hathaway) recém formada em jornalismo, começa a trabalhar como assistente numa revista de moda, além de deixar de ter vida própria, sua sinceridade, modéstia levaram-na ao mundo da moda de luxo, contrariando todos os seus princípios. A busca pelo status está associado ao poder, no comportamento materialista o processo de consumir pode ser sinônimo de felicidade e status, o ter significa mais do que o ser. 1.2.5. Fatores pessoais Nem todas as variáveis que influenciam o comportamento do consumidor são externas ao individuo, existem fatores extremamente pessoais e particulares de cada pessoa. Kotler (2010) apresenta cinco elementos que constituem os fatores pessoais: idade e estágio no ciclo de vida, circunstancias econômicas, personalidade, auto imagem, estilo de vida. A idade e estágio no ciclo de vida, segundo o autor , referem-se às necessidades e os desejos das pessoas que são alterados ao longo de suas vidas. As pessoas compram diferentes artigos e serviços durante a vida. O gosto no que diz respeito a roupas, moveis e lazer em geral se relaciona a idade. Os padrões de consumo são moldados de acordo com o clico de vida da família e com o número , a idade e o sexo de seus membros em qualquer ponto no tempo.(KOTLER, 2010, p.179). O comportamento do consumidor altera conforme o ciclo de vida familiar que atua como uma variável capaz de sumarizar os efeitos relativos a situação econômica, idade e acontecimentos na estrutura familiar como casamento, nascimento de filhos, independência dos mesmos e aposentadoria.Famílias constituídas apenas por um casal tendem a ter estrutura de consumo diferente daquelas que possuem filhos pequenos, que, por sua vez, diferem-se das que possuem filhos adolescentes. 44 O filme Procura-se um amor que goste de cachorros (2005), mostra cenas da personagem principal, em suas compras no supermercado antes e depois de encontrar seu grande amor, jovem, professora recém divorciada, Sarah Nolan (Diene Lane) sempre comprava uma quantidade mínima de frango , após a união com Jake Anderson (John Cusack ), volta no mesmo local com seu companheiro e compra o dobra da quantidade habitual. Kotler (2010) também chama atenção para as transições e mudanças na vida das pessoas que acabam por interferir diretamente no comportamento do consumidor. As diversas mudanças sociais que vem ocorrendo da atualidade acabam por ter consequências na estrutura familiar e tornam os estágios de vida das famílias mais flexíveis. São várias reestruturações sociais na sociedade contemporânea que produzem efeitos inevitáveis sobre o comportamento de consumo. O casamento adiado, onde nas sociedades ocidentais há um número crescente de pessoas adiando ou evitando o casamento, famílias de carreira dupla cujas as mulheres buscam avanço profissional, famílias menores, os papéis dos filhos que desempenham grande influencia nas decisões familiares, novos papéis dos homem e das mulheres, a medida em que as mulheres foram assumindo responsabilidades financeiras, independência, valores foram sendo alterados.Em fim, são inúmeros aspectos que exemplificam o que Kotler, Samara, Morrch, Hoyer, Maclinnis referem – se em suas obras cujo esclarecimento busca maior profundidade nos estudos do comportamento do consumidor e analises para estratégias do marketing. Os efeitos da ocupação e circunstâncias econômicas também exercem influência direta nos padrões de consumo. Kotler (2010, p. 180) com muita propriedade nos afirma que “Um operário comprará roupas de trabalho, sapatos de trabalho e marmitas. Um presidente de empresa comprará ternos caros, passagens de avião, títulos de clubes exclusivos”. Hoyer & Maclinnis (2008, p. 291), especificam ainda mais a questão da ocupação e colocam que a profissão é o maior determinante do status social, particularmente nas culturas ocidentais. Algumas profissões, em especial aquelas que exigem níveis mais altos de educação, habilidade ou treinamento, são consideradas de um status mais elevado do que outras. Os autores chamam a atenção para o aspecto cultural na posição do status conforme a cultura de um 45 povo, nos Estados Unidos, na Alemanha, Japão,China, Tailândia e na Nigéria, por exemplo, professores têm status mais altos porque são países que concedem maior ênfase na educação. As circunstancias econômicas, a renda disponível, economias e bens, débitos, capacidade de endividamento e atitude em relação gastar e economizar também são fatores decisivos na escolha de produtos. Podemos relacionar esses fatores às mobilidades sociais que não são estáticas, o comportamento do consumidor pode ser alterado também conforme sua mobilidade social que poderá ser ascendente ou descendente, a primeira mobilidade não necessariamente o consumo será garantido conforme sua nova posição, uma vez que hábitos, recursos culturais permanecem enraizados e a mobilidade descontente causará desilusões e insatisfações pessoais. Kotler (2010) refere-se também ao fator social, o da personalidade e autoimagem. (...) Quando usamos o termo personalidade, queremos dizer características psicológicas distintas que levam a reações relativamente coerentes e contínua no ambiente. A personalidade é normalmente descrita em termos de características como autoconfiança, domínio, autonomia, submissão, sociabilidade, resistência e adaptabilidade. A personalidade pode ser uma variável útil para analisar o comportamento do consumidor,uma vez que tipos de personalidades podem ser classificados com precisão e que existem fortes correlações entre certos tipos de personalidades e as escolhas de produtos e marcas.(KOTLER, 2010, p.181). No entanto, Hoyer & Maclnnis (2010, p.324) colocam que a personalidade e a relação com o comportamento do consumidor nem sempre é eficiente em prever a decisão de compra, argumentam que a dificuldade das pesquisas está na medição dos traços para identificação de distúrbios de personalidade em cenários clínicos, então esses instrumentos podem não ser aplicáveis na identificação do comportamento do consumidor. A auto-imagem está relacionada com a personalidade e Kotler (2010, p. 181) destaca três tipos de auto-imagem. A real (como ela se vê), a ideal (como ela gostaria de se ver) e de acordo com os outros (como ela pensa que os outros a veem). Quanto ao estilo de vida, o autor coloca como o padrão de vida da pessoa expresso por atividades, interesses e opiniões. O estilo de vida representa a pessoa por inteiro, interagindo com seu ambiente. 46 Valores, personalidade estão intimamente relacionados aos estilos de vida, conforme Hoyer & Maclnnis (2010) afirmam que: Os estilos de vida estão intimamente relacionados aos valores e à personalidade dos consumidores. Enquanto os valores e a personalidade representam estados ou características internos, os estilos de vida são manifestações ou padrões de comportamento reais. (HOYER & MACLNNIS, 2010, p.330) Os autores Kotler (2010), Hoyer & Maclnnis (2010) concordam que os estilos de vida não são universais e que cada país pode ter o seu próprio modo de verificar o estilo de vida de seus habitantes. Podemos citar como exemplo o filme Jerry Maguire A Grande Virada (1997) que norteia a experiência da alteração de personalidade, auto-imagem e estilo de vida. O agente esportivo bem sucedido Jerry Maguire (Tom Cruise), após fazer uma declaração que sugere que os agentes esportivos deveriam ter menos clientes e passassem a usar um tratamento mais humano para eles, em curto espaço de tempo provoca alteração em sua vida interferindo diretamente na sua auto-imagem real mencionada por Kotler , alterando seu estilo de vida e passando pelo processo de mobilidade social ascendente e descendente. 1.2.6. Fatores Psicológicos Os fatores psicológicos são grandes influenciadores no comportamento do consumidor, dentre eles a motivação, percepção e aprendizagem. A motivação é um estado psicológico que antecede e prepara as pessoas para ação, através de um impulso interno ou estimulação externa a pessoa toma a decisão a fim de reduzir a tensão vinculada à necessidade inicial. Kotler (2010) menciona em sua obra três das teorias da motivação humana mais conhecidas que são de Sigmund Freud, Abraham Maslow e Frederick Herzberg. Sigmund Freud conclui que as forças psicológicas que formam o comportamento dos indivíduos são basicamente inconscientes e que ninguém chega a entender por completo as próprias motivações. A teoria de Maslow é baseada nas necessidades humanas em função de uma hierarquia, da mais urgente para a menos urgente. (...) em ordem de importância, elas são necessidades fisiológicas, necessidades de segurança,necessidades sociais,necessidades de estima e necessidades de auto realização.(KOTLER,2010.p.183). 47 Samara & Morsch (2005) ilustram essa teoria conforme a figura abaixo. FIGURA 1 - HIERARQUIA DAS NECESSIDADES DE MASLOW Fonte Samara, Morsch (2005) Embora Kotler (2010) argumente que essa teoria ajuda os profissionais de marketing a entender como os produtos se encaixam na vida dos consumidores, Samara & Morsch (2005, p. 105) afirmam que o estudo de Maslow foi focado nas necessidades e motivações humanas básicas e não as necessidades e as motivações do consumidor consideram que no contexto de uma sociedade de intenso consumo de massa essas necessidades manifestam-se em alguns tipos de produtos e serviços. A teoria de Herzberg citada por Kotler (2010, p. 184), é baseada em dois fatores “que apresenta os ‘insatisfatores’ (fatores que causam insatisfação) e os ‘satisfatores’ (fatores que causam satisfação). A ausência de insatisfatores não basta,os satisfatores devem estar claramente presentes para motivar uma compra. Por exemplo, a compra de um computador sem garantia, mesmo com excelente atendimento causará insatisfação. 48 Outro fator psicológico, segundo Kotler (2010) é a percepção. Uma pessoa motivada está pronta para agir e neste sentido ela organiza. interpreta as informações para criar um quadro significativo para o mundo. Para Kotler (2010, p. 184) a “Percepção é o processo por meio do qual águem seleciona, organiza e interpreta as informações recebidas para criar uma imagem significativa do mundo”. Kotler (2010) também argumenta que as pessoas podem ter percepções diferentes expostas a mesma realidade, por exemplo, um vendedor que fale depressa demais para alguns pode significar alguém prestativo e para outros alguém agressivo. Além disso, o autor salienta três fatores de influencia desse item: Atenção seletiva: é o processo de filtragem que cada pessoa tem por não conseguir prestar atenção em todos os estímulos aos quais é exposta. - Distorção seletiva: é a tendência de transformar a informação em significados pessoais e interpretá-la de maneira que se adapte a seus prejulgamentos. - Retenção seletiva: é a propensão de lembrar pontos positivos mencionados a respeito de um produto de que gostamos e esquecer pontos positivos expostos a respeito de produtos concorrentes. (KOTLER, 2010) Samara & Morsch (2005, p. 123) colocam que a percepção é a maneira como as pessoas coletam e interpretam os estímulos providos do seu meio ambiente e cada um usa a percepção para criar sua própria realidade. Importante salientar que a percepção do consumidor com relação a um produto ou marca é um dos itens mais importantes que de fato influenciam o comportamento do consumidor, em geral descrita como o modo que vemos o mundo a nossa volta, a forma com que as pessoas constroem as representações e o conhecimento de forma individual, pode levar ou não ao ato da compra. De acordo com Samara & Morsch (2005), a percepção está relacionada diretamente com os estímulos recebidos pelos órgãos sensoriais, assunto que retornaremos com mais detalhes no capitulo 1.5. Aprendizagem é outro fator psicológico que, segundo Kotler : (...) consiste em mudanças no comportamento de uma pessoa decorrentes da experiência. A maior parte do comportamento humano é aprendida. Os teóricos da aprendizagem acreditam que ela nasce da interação entre impulsos, estímulos, sinais,respostas e reforços.Um impulso é um forte estímulo interno que impele à ação.Os sinais são estímulos menores que determinam quando, onde e como uma pessoa reage. (KOTLER, 2010, p.185). 49 Samara & Morsch (2005), também relacionam aprendizagem com ligações entre estímulos e respostas: Relacionado às mudanças causadas pela informação e pela experiência no comportamento do individuo, o aprendizado torna-se um pilar importantíssimo para promover e sustentar as decisões sobre compras futuras do consumidor. (...) A aprendizagem envolve portanto, ligações entre estímulos e respostas. (SAMARA & MORSCH, 2005, p.107). Podemos dizer que se a experiência for recompensadora a determinado produto a resposta será positiva em futuras compras ou produtos da mesma marca, nesse sentido aprendizagem pode ser considerada como fator de alteração de comportamento e aplicação de novas ações em decorrência da experiência adquirida anteriormente. Todos os fatores aqui citados referente ao comportamento do consumidor são itens que aliados ao processo de decisão do consumidor fecha o ciclo do consumo na área de marketing, conforme mostra figura abaixo: FIGURA 2 - MODELO INTEGRADO DO PROCESSO DE DECISÃO DO CONSUMIDOR Fonte: Boone & Kurtz (2008) 1.2.7. O filme Mensagem para você e o processo de decisão do consumidor. As etapas em que o consumidor passa antes, durante e depois de fazer uma compra, representam o processo de decisão. O primeiro passo é o reconhecimento 50 da necessidade o seguinte é a busca pela informação, a terceira é a avaliação de alternativas disponíveis, em seguida vem o ato da compra e por último o póscompra. Para estudos vamos seguir o modelo de Kotler (2010) até o etapa do ato da compra, acrescentando itens relevantes de outros autores. FIGURA 3 - MODELO INTEGRADO DO PROCESSO DE DECISÃO DO CONSUMIDOR Fonte: Boone & Kurtz (2008) Samara & Morsch (2005) também demonstram esse processo através de figura e seguem o conceito de Kotler, porém acrescentam os estágios de avaliação das alternativas do produto e alternativas de compra conforme segue: FIGURA 4 - O PROCESSO DE DECISÃO DE COMPRA DO CONSUMIDOR Fonte Samara & Morsch (2005) 1.2.7.1. O reconhecimento do problema Segundo Kotler (2010, p. 189), o reconhecimento do problema começa quando um comprador reconhece um problema ou necessidade. 51 A necessidade ocorre quando uma pessoa percebe a diferença entre seu estado atual e um estado desejado. Essa necessidade pode ser provocada por estímulos internos e externos, o primeiro são estímulos às necessidades normais, fome, sexo, sede,que quanto mais perdurar sobe o nível de consciência e torna-se um impulso.O segundo caso,a pessoa admira um produto através de vários meios e desencadeia a ideia de adquiri-lo. O consumidor torna-se consciente de uma discrepância significativa entre a situação existente e a desejada, Boone & Kurtz (2008). Na mesma linha de pensamento de Kotler (2010), Samara & Morsch (2005) acrescentam neste item três variáveis do reconhecimento da necessidade,baseado em estudos dos autores Semenik & Bomossy (1996). Necessidade de reposição: uma situação comum, um produto de baixo custo e compras que são regularmente reabastecidas. Necessidade funcional: quando o consumidor está em busca de uma solução para uma exigência específica, como por exemplo, um automóvel para maior conforto no transporte. Necessidade emocional: a busca por status, prestigio, conquista. 1.2.7.2. A busca de informações Após a necessidade ter sido reconhecida, os consumidores buscam informações adequadas a fim de satisfazê-las. Kotler (2010, p. 189) distingue dois tipos de busca; mais moderado é determinado atenção elevada a pessoa é mais receptiva as informações e a busca ativa de informações em que a pessoa busca literatura a respeito, telefona para amigos, vasculha a internet e visita lojas. Boone & Kurtz (2008) colocam que o número de alternativas que o consumidor considera para tomada de decisão é chamado de conjunto evocado. O numero de alternativas que o consumidor realmente considera ao tomar uma decisão de compra é reconhecido como conjunto evocado. Em algumas buscas os consumidores já conhecem as marcas que merecem mais consideração, em outras as buscas 52 externas desenvolvem mais informações. (BOONE & KURTZ 2008, p.183, grifo nosso). Samara & Morsch (2005) apresentam uma matriz que é possível identificar os tipos de comportamento de compra com os perfis resultantes das combinações entre busca de informação e envolvimento. FIGURA 5 - TIPOS DE COMPORTAMENTO DE COMPRA EM RELAÇÃO À BUSCA DE INFORMAÇÃO E ENVOLVIMENTO Fonte Samara & Morsch (2005) Conforme mostra a matriz acima, a busca de informações limitada ou excessiva não significa a falta de interesse sobre as compras por parte dos consumidores, na realidade essa busca dependerá do grau de envolvimento com o produto e marca. 1.2.7.3. Avaliação de alternativas Kotler (2010, p. 191) argumenta que não existe um único processo de avaliação de alternativas e que os modelos mais atuais consideram que o consumidor forma julgamentos em base racional e consciente, os consumidores prestarão mais atenção aos atributos que fornecem os benefícios buscados. 53 Boone & Kurtz (2008) complementam que é difícil separar completamente a busca e a avaliação de alternativas uma vez que conforme a pesquisa progride os consumidores já podem avaliar e renovam a busca para identificar insatisfações. Ao mesmo tempo em que a busca de informações se processa a avaliação das alternativas vai sendo realizada. A questão está no engajamento do consumidor na avaliação e comparação das alternativas. Samara & Morsch (2005), também discutem essa dificuldade, porém destacam que essa separação complementa o entendimento desse item, acrescentando que de acordo com os tipos de satisfação procurados pelos consumidores, estes podem avaliar as alternativas conforme a figura abaixo. FIGURA 6 - CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DAS ALTERNATIVAS DE PRODUTO Fonte Samara & Morsch (2005) 1.2.7.4. Decisão de compra Nesse estágio o consumidor cria preferências entre marcas do conjunto de escolha, ao formar essa intenção de compra segundo Kotler (2010, p. 194), ele passa por cinco decisões; decisão por marca, por revendedor, quantidade, ocasião e forma de pagamento. No entanto as compras para o dia-a dia envolvem decisões e deliberações. 54 Samara & Morsch (2005) resumem essas etapas em três subetapas conforme mostra figura abaixo: FIGURA 7 - O ATO DE COMPRA E SUAS SUBETAPAS. Fonte Samara & Morsch (2005) A decisão de compra poderá ainda passar por outras etapas situacionais, uma vez decidido o produto a ser comprado outras variáveis podem acontecer como, por exemplo, é preciso saber se o consumidor irá investir em tempo e até mesmo no local de compra, a sua loja preferida ou até mesmo outros modelos de compra, internet, catálogos , TV,etc. Um filme que pode ser referenciado novamente é o remake de Mensagem para você (1998) de Nora Ephron, com Meg Ryan e Tom Hanks, que além da manifestação do consumo naturalizado, mostra em determinadas cenas as variáveis do processo de decisão de compras no eixo crítico, como o exemplo citado por Samara & Morsch (2005) em sua obra: Em uma breve cena, Joe(Tom Hanks) pega um café na Starbucks, a maior rede de cafeterias dos EUA, e explica:” A única utilidade de café como Starbucks é fazer com que as pessoas que não tem capacidade de tomar decisões tenham que tomar seis decisões somente para comprar uma xícara de café. Curto, longo, puro, com leite, normal, descafeinado, light, desnatado, etc.Assim pessoas que não sabem o que estão fazendo na terra ou quem elas mesmas são por apenas US$ 2,95 não apenas conseguem comprar um café ,mas também um senso de si mesma que as define”. (Samara & Morsch, 2005, p. 49) Kotler (2010, p. 189) destaca que nem sempre os consumidores passam por todas as etapas de decisão ao comprar um produto, ele pode pular ou inverter algumas delas. A decisão de compra pode ocorrer a partir de um impulso, um desejo irresistível de comprar para obter uma recompensa imediata. A impulsividade com 55 enfoque no consumo dá origem à um tipo de compra chamada na atualidade como – Compra por impulso, item a ser apresentado a seguir. 1.3. Delírios de consumo, de Rebeca Bloom e a compra por impulso. A falta de um número maior de pesquisa nessa área gerou muitas diferenças conceituais que ainda hoje são imprecisas. Vários autores colocam a compra por impulso como uma compra não planejada e as causas dessa compra impulsiva são o ambiente, fatores situacionais estimulados no ponto de venda, ou então quando o ato de comprar ocorre no mesmo lugar e a decisão de compra é tomada no ponto de venda, o fato é que não existe um consenso único sobre o que é a compra por impulso. Felipe Campelo Xavier da Costa (2002, p. 4)1 em sua tese de doutorado também coloca que esse processo de compras por impulso, apesar de seus estudos terem iniciados há mais de sessenta anos a ausência de pesquisas geram imprecisões conceituais discutidas e questionadas até hoje. Na busca de uma definição com aplicação prática de maior aceitação, objetividade e adequação aos estudos aqui propostos, optou-se pela abordagem apresentada por João De Simoni Soderine Ferracciu (2007), considerado um dos maiores especialistas na área de promoção de vendas. A compra por impulso ocorre quando o consumidor é atingido por algum estimulo suficientemente forte que o leve à compra, no momento em que passa em frente a exposição do produto. (FERRACIU, 2007, p.51). Realizada sem o conhecimento da necessidade antes da entrada em uma loja, resultante de um estímulo provocado pelos sentidos, a compra impulsiva baseia-se no comportamento fundamentado em elementos emocionais como Ferraciu (2007, p.51) descreve que “O ato impulsivo decorre da manifestação de um desejo inconsciente que aflora naquele instante e que é satisfeito pelo produto. A reação é emocional. A razão, o consumidor descobre depois”. 1 COSTA, Felipe C. X. Influências ambientais e o comportamento de compra por impulso: um estudo em lojas físicas e virtuais. Tese de doutorado – Universidade São Paulo. São Paulo, 2002. 56 A compra por impulso como reação emocional também é colocada pelos autores Hoyer & Maclnnis (2010, p. 238); uma compra inesperada fundamentada por um forte sentimento caracterizada por uma intensa ou poderosa sensação de que é preciso comprar o produto imediatamente, sentimento de euforia e excitação, um conflito entre o controle e o exagero. Costa (2002) em sua pesquisa identifica cinco elementos que descrevem o comportamento da compra impulsiva resumidos abaixo: Necessidade repentina e espontânea de agir: consiste no despertar de um desejo acionado principalmente a partir de um estímulo visual direto com o produto ou alguma ação promocional. Sentimento de estado psicológico em desequilíbrio: a necessidade imediata de consumo pode tornar o indivíduo incapaz de realizar avaliações cognitivas sobre sua decisão, ficando “fora do controle” (Rook&Hoch,1985) Ocorrência de conflito psicológico: o indivíduo experimenta um estado conflituoso no qual avalia os benefícios da gratificação imediata com a compra e o consumo contra as consequências negativas que sua escolha pode gerar. Redução da capacidade de realização de avaliação cognitiva: quando o indivíduo se engaja em um comportamento impulsivo de compra, há uma exacerbação dos estados emocionais,havendo baixo controle intelectual sobre sua decisão (WEINBERG&GOTTWALD,1982). Consumo sem considerar suas consequências: a urgência para realização de uma compra,deixando de realizar uma avaliação criteriosa das alternativas é feita sem considerar as consequências potenciais de sua opção, principalmente suas repercussões negativas.As consequências podem variar desde uma compra avaliada como inadequada (arrependimento) até a geração de comportamentos extremos, principalmente a compulsão à compra e ao consumo, consideradas situações patológicas. (COSTA, 2002, p.48) Com esses elementos podemos observar que a compra por impulso possui estágios que podem variar entre o comportamento de um desejo influenciado por situações de exposição de produtos até comportamentos que geram situações patológicas incontroláveis. Gilberto Strucnck (2011), logo na introdução da sua obra coloca algumas questões que nos fazem pensar até que ponto o nosso comportamento pode ser considerado um transtorno compulsivo ou um comportamento aflorado pela reação emocional e situacional no processo da compra por impulso. Você já passou pela situação de entrar em uma loja para comprar um determinado item e sair com outros mais? 57 Não se preocupe você é normal! Em sendo mulher, já passou uma tarde inteira com uma amiga em um shopping, experimentando mil roupas em várias lojas,sem comprar em nenhuma? Em sendo homem, já comprou uma roupa sem experimentá-la na loja, para descobrir, em casa, que ela não lhe cai bem? Não se espante, você é normal. (STRUNCK, 2011). De forma geral podemos dizer que a compra por impulso é motivada por elementos emocionais, ocasionada pelo momento sentimental de cada indivíduo, correspondendo a um perfil de impulso de compra, uma resposta a um sentimento de urgência e estimulada pela atmosfera da loja como exposições de produtos, promoções entre outros fatores sensoriais que iremos abordar no item 1.4. Porém o comportamento exagerado corresponde à compra impulsiva, como uma doença, um tipo de distúrbio que deve ser tratado como patológico. O comprador compulsivo é praticamente um dependente do comportamento de compras e acaba por consumir por vicio, essa compulsão é uma atitude que exclui logo o prazer pela aquisição do novo produto. Esse comportamento exagerado pode adquirir proporções comprometedoras quanto as questões financeiras ou o enfrentamento de distúrbios psicológicos. São vários os exemplos de filmes que mostram o consumidor no cinema, no entanto particularmente nessa questão do consumo exagerado correspondente a compra impulsiva como distúrbio psicológico selecionou–se como exemplo o filme Delírios de consumo, de Rebeca Bloom (Confessions of a shopaholic, EUA, 2009), comédia romântica dirigida por P. J. Hogan. Vivendo em Nova York, a personagem central, a jornalista Rebeca Bloomwood, apelidada pelos amigos de Becky, é uma compradora compulsiva com desejos incessantes de estar sempre na moda e obter assim sua aceitação social. O filme alerta em forma de comédia para os cuidados dentro de uma sociedade de consumo, bem como para o lado negativo do consumo desenfreado, a partir dos mesmos recursos que permitem convencer espectadores de produções audiovisuais a serem a favor ou contra sistemas políticos e ideológicos e até operar no eixo crítico contra a prática de consumo e tantos outros. Esse filme também mostra o poder persuasivo das compras nas cenas exuberantes na 5ª Avenida de Nova York, por meio de vitrinas com manequins animados que praticamente convidam consumidores a adquirirem produtos expostos de forma a persuadi-los a passar por experiências sensoriais. As sequências sensoriais 58 mostradas através da visão, som e tato promovem atitudes de consumo que são técnicas mercadológicas utilizadas para finalizar, de forma positiva, a compra por impulso. Essas técnicas mercadológicas ficam mais evidentes na cena intitulada “A compra da echarpe verde”, a ser descrita em detalhes posteriormente. A estética da sedução encontra-se como o modus do consumo contemporâneo e experiência sensorial é finalizado de forma a completar o processo de consumo, item almejado pelas marcas e produtos em suas expectativas mercadológicas. Para maior entendimento desse atravessamento mercadológico, no processo de compras do consumidor e a compra por impulso podemos observar que atualmente a cultura de consumo atua com essas tendências colocadas pelos autores citados, uma vez que as construções de imagens nos ambientes voltados ao consumo tornam-se lugares mágicos onde a experiência de compra é envolvida de forma fantasiosa e com alta tecnologia, abrindo espaço para a disciplina marketing de experiência, O marketing de experiência compõe um tipo de marketing, no qual o consumidor é convidado a viver uma experiência positiva em contato com o produto, com os serviços, o ambiente e, em especial, com as pessoas, pois o conceito de experiência está relacionado com sensações humanas, defende a necessidade de o produto proporcionar experiências inesquecíveis para conquistar a fidelidade do consumidor. Bernd H. Schmitt (2000) considerado o criador do conceito do marketing de experiência, coloca que na atualidade os produtos possuem características, qualidade e benefícios semelhantes e as marcas tornam-se commodities e o consumidor está em busca de experiências que estimulem os sentidos e mexam com as emoções. Atualmente, os consumidores acham que as características e benefícios funcionais, a qualidade do produto e a marca positiva são coisas absolutamente normais. O que eles querem são produtos,comunicação e campanhas de marketing que estimulem os sentidos e que mexam com as emoções e com a cabeça.Querem obter uma experiência.(SCHMITT, 2000, p.38) Um das diferenças entre o marketing tradicional e experimental citado pelo autor é caracterizado no foco das experiências do consumidor. Experiências como resultadas dos relacionamentos das empresas, marcas com o estilo de vida do 59 consumidor que geram valores sensoriais, emocionais, cognitivos, substituindo os valores funcionais. Kotler (2010, p. 511) indica que as atividades e experiências na loja fazem a diferença, além dos compradores poderem de fato ver, tocar e experimentar é preciso criar ações que desencadeiem a experiência de compra como diferencial. O marketing de experiência surge com a evolução do varejo, com os novos formatos conhecidos como lojas de departamentos que além terem ambientes requintados de luxo,oferecem experiência de compras. A exemplo do artigo de Erika D. Rappaport intitulado “Uma nova era de compras: a promoção do prazer feminino no West End londrino 1909-191, em que a leitura revela o marketing de experiência como uma prática já presente no ramo do comércio desde 1909. Assim como as galerias Lafayette Haussmann e a Printemps, em Paris, a Horrods em Londres, os cenários começam a ser conhecidos como a experiência de compras atividade que as empresas trabalham e almejam cada vez mais na conquista de consumidores no séc.XXI,criando experiências holísticas com os consumidores, experiências que liguem uma marca aos consumidores de forma diferenciada expressiva e competitiva. É nesse sentido de competitividade entre os produtos e serviços que conforme vão se transformando em commodities, as experiências voltadas ao consumidor serão a base da diferenciação, que estudos de Harvard conforme artigo, Harvard Business Review, de B. Joseph PineII e James H. Gilmore (1998, p. 60), intitulado: Bem-Vindos à Economia da Experiência, coloca a importância e estratégias do marketing de experiência como tendências na década de 90 e que continuam até hoje em sua concepção porém atualizado obviamente pelo contexto social e pela tecnologia. “(...) os consumidores inquestionavelmente querem experiências e, cada vez mais , as empresas estão respondendo,planejando e promovendo-as explicitamente”. Os autores contextualizam que essa experiência não é uma construção de ofertas tradicionais para vender melhor seus produtos e serviços, as empresas devem planejar de forma realmente diferenciada para serem competitivas. Para compreender melhor a diferença entre serviços e experiências, exemplificam com o um episódio de um programa de TV americano chamado Taxi, conforme segue: 60 O personagem Iggy, um motorista de taxi normalmente rude (mas engraçado), decidiu se tornar o melhor motorista do mundo. Ele servia sanduíches e bebidas, realizava tours pela cidade e até mesmo catava músicas de Frank Sinatra. Cativando os passageiros de tal maneira que transformava uma simples corrida de taxi num acontecimento memorável. (PINELL & GILMORE , 1988, p. 2) O marketing de experiência na atualidade procura desenvolver estratégias para satisfazer as necessidades e ansiedades do consumidor. O consumo deve envolver uma experiência de compra a experiência proporciona uma reação capaz de desencadear o processo de consumo através da compra por impulso, proporcionando resultados desejáveis ao marketing de experiência. Segundo Schmitt (2000) para desenvolver o marketing experiencial de forma eficaz é necessário considerar estratégicas sensoriais como: sentir, emocionar, pensar, agir e identificar. O sentir deve apelar aos sentidos audição, tato, paladar, olfato e visão, componentes sensoriais que interferem na decisão de compras e principalmente nas compras por impulso. Através dos sentidos, é possível despertar o interesse do consumidor por um produto. Cores, sons, aromas provocam uma troca de sensações muitas vezes imperceptível, mas de grande influência sobre as decisões de compra, tema que vamos abordar a seguir. 1.4. O cinema e os significados imaginários através dos sentidos 1.4.1. Conexões sensoriais representada no cinema A visão, olfato, audição, tato e o paladar são os cinco sentidos fundamentais do ser humano. Toda e qualquer informação recebida pelo corpo acessa o cérebro através destes sentidos, proporcionando o seu relacionamento com o ambiente e permitindo que o corpo consiga perceber o que está ao seu redor. O uso de estímulos sensoriais fornecem subsídios para formar opiniões pessoais, conexões e criar expectativas, as quais espera-se que sejam cumpridas. O filme Cinco Sentidos (1999), dirigindo pelo cineasta canadense Jeremy Podeswa é um bom referencial de conexões, expectativas na utilização dos sentidos. Durante a trama os sentidos vão sendo revelados no envolvimento dos personagens com o desaparecimento de uma criança que mobiliza toda uma cidade em que vivem cinco amigos no mesmo apartamento. Os personagens começam a 61 sofrer mudanças seguindo suas vidas e descobrem desejos que sobressaem de alguma forma os sentidos, como por exemplo, uma Designer de confeitaria que não se preocupa em experimentar seus bolos o importante para ela era sua arte escultural. Outra referencia é o filme Sol de Toscana (2003), a historia de uma mulher que de repente vê o caos instalado na sua vida, pela traição de seu marido e sai a procura da busca de se reencontrar como pessoa e até encontrar um novo amor. Após se instalar em Toscana por mero acaso,começa a olhar conteúdos que até então estavam ocultos e uma série de sentimentos desencadeiam. O sentido audição é revelado a partir do momento em que ela escuta uma amiga e passa a ficar mais atenta a situações da sua vida, incluindo um olhar mais atencioso e nesse momento é que a trama da uma grande virada. Quanto aos aspectos sensórias voltados ao consumo, o filme Delírios de consumo, de Rebeca Bloom (2009), no recorte da cena que chamamos “A compra da echarpe verde” destacam-se os estímulos aos sentidos visão,audição e tato, os quais seguem os critérios mais almejados pelas empresas no que se refere ao comportamento do consumidor no ponto de venda. Por meio da articulação da imagem aliada a visão, o dialogo com o tom de voz suave, texto argumentativo e pessoal para convencer Rebeca Bloom a levar uma echarpe verde e finalmente o ato de tocar, provar,contextualizam todas as teorias comportamentais nas compras por impulso e os esforços sensoriais são nitidamente sequenciais para a finalização da compra.Podemos observar com mais detalhes esse recorte com a descrição da cena posteriormente. Através dos sentidos, é possível despertar o interesse do consumidor por um produto. Cores, sons, aromas provocam uma troca de sensações muitas vezes imperceptível, mas de grande influência sobre as decisões de compra. PineII e Gilmore (1988, p.10), cita em seu artigo que quanto mais sentidos a experiência utilizar, mais eficaz e memorável será. Os autores exemplificam essa questão com um fato comum, porém muito propício a essa sensação imperceptível. Os engraxates astutos intensificam o cheiro do polimento com batidas firmes do pano, odores e sons que não deixam os sapatos mais brilhantes, mas tornam a experiência mais agradável. Os estímulos sensoriais fazem parte do processo perceptivo e que são estímulos externos e podem ser detectados por meio de uma 62 série de canais, os autores Samara & Morsch (2005), demonstram esse processo através da figura abaixo: FIGURA 8 - O PROCESSO PERCEPTIVO Fonte Samara & Morsch (2005) Martin Lindstrom (2009) conceitua a utilização dos sentidos no processo de compras como Branding Sensorial. As empresas estão descobrindo que, para nos cativar emocionalmente de forma plena, seria melhor não apenas nos inundar de logomarcas, mas também borrifar fragrâncias em nossas narinas e encher nossos ouvidos de música. De acordo com Lindstrom (2009, p. 125), isso se chama Branding Sensorial. Segundo Lindstrom (2009), é importante explorar amplamente os sentidos, pois os mesmos relacionam-se com os consumidores e com qualquer forma de comunicação e experiência de vida dos usuários. Há uma estreita afinidade entre os sentidos e a experiência, sendo que os consumidores inseridos nesse cenário são capazes de estabelecer uma reação sensorial que, relacionada com a memória, desperta o desejo da compra. Paco Underhill (2004), explora a questão da utilização dos sentidos para cativar, encantar e atrair consumidores no processo de decisão de compras especificamente no varejo em lojas físicas. A partir de câmeras de vídeo instaladas em locais comerciais, os compradores são gravados em ação para posterior análise minuciosa das fitas, em busca de padrões de consumo e de hábitos de compra. Para interpretar o comportamento do consumidor, Underhill (2009) e sua equipe observaram entre 30 a 50 mil compradores por ano, o equivalente a cerca de 63 20 mil horas de fitas gravadas, ao longo de 20 anos e, como resultado dessa pesquisa, nasce uma nova ciência: a “ciência das compras”. Para Underhill (2009), fazer compras é muito mais que pegar algo e ir embora, a experiência sensorial usando os sentidos — visão, tato, olfato, audição, paladar — resulta numa experiência de prazer e realização total: Somos animais como quaisquer outros e, não obstante todos os nossos poderes de imaginação, conceituação, intelectualizarão, racionalização e visualização, nós, criaturas físicas, experimentamos o mundo apenas mediante nossos cinco sentidos. E talvez, se essa for sua inclinação, nosso sexto sentido — o sentido do mundo e o metassentido, o sentido que sente o que não pode ser sentido. O mundo e todo o seu conteúdo nos atingem e estimulam através dos sentidos e nós reagimos. (UNDERHILL, 2009, p. 191). Strunck (2001) especifica os aspectos sensoriais como técnicas nos pontos de venda para estabelecer um relacionamento mais efetivo entre a marca e consumidor. Uma loja bem projetada deve proporcionar a quem a visita a experiência mais holística possível, sobre as mercadorias e serviços que vender. Ver, tocar.provar,ouvir e cheirar,estimular nossos sentidos para que possamos realmente sentir o que ela oferece, de forma a despertar em nós pequenas emoções. Estas irão ajudar a estabelecer a proposta de valor da marca da loja,componente básico de nosso relacionamento com ela. (STRUNCK, 2001, p. 118). Cada vez mais técnicas de observação do comportamento de compra e experiências sensoriais estão sendo exploradas e utilizadas pelas empresas. Os sentidos para comunicação é uma das melhores formas de transmitir uma mensagem ou ainda criar uma “atmosfera de compras”, conforme explica Regina Blessa (2003) especialista na área de merchandising. A atmosfera refere-se ao design de um ambiente por meio de comunicação visuais, iluminação, cores, musicas, aromas para estimular as respostas emocionais e de percepção dos clientes que, ao final,poderão afetar seu comportamento de compras. (BLESSA, 2003, p. 43) A experiência sensorial proporciona uma reação capaz de desencadear o processo de consumo. O produto passa a ser um fator secundário, mas o consumo com satisfação e a sensação de bem estar, dão mais significados o que podemos chamar de uma nova cultura de consumo. Como nossa pesquisa tem o propósito do estudo das relações de consumo e a sequencia dos sentidos como impulsionador da compra por impulso, baseado no 64 filme Delírios de consumo, de Rebeca Bloom (2009), no recorte da cena “A compra da echarpe verde”, iremos abordar os sentidos visão, audição e tato que são fatores sequenciais e finalizadores do processo de decisão de compras da cena em questão. 1.4.2. O sentido visão A visão é um dos sentidos que permite não só detectar a luz e as imagens, mas também interpretá-las. Trata-se do primeiro estímulo em um processo de compra, responsável por 83% da tomada de decisão, seguidos de 11% da audição; 3,5% do olfato; 1,5% do tato e 1,0% do paladar (Veronis Suhler Stevenson). Para Blessa (2003, p. 29) o responsável pelo primeiro impacto na percepção do consumidor, a visão assume papel primordial nas técnicas de exposição de produtos. Durante a compra a visão é o primeiro sentido humano responsável pelo processo de escolha, pois é o primeiro que faz o cérebro reagir na direção do produto. Blessa (2003) completa a importância desse sentido no processo de compras com os seguintes dados: Sabemos que atenção se fixa normalmente num objeto entre 2 e 10 segundo.Durante o processo de compra , o tempo de decisão em frente à gôndola não passa de cinco segundos em média,levando em consideração que são segundos em movimento, devido ao percurso do carrinho. (....) A prática de comprar e escolher são aceleradores do processo,mas é a visão, ou melhor, a percepção visual da consumidora que vai determinar o artigo a ser levado. (BLESSA, 2003. p. 30). Strunck (2001) informa outros dados que complementam a importância do sentido visão na exposição de produtos e a relação do sentido visão e percepção: Uma loja de convivência tem. em média, 1.000 itens a venda. Um supermercado, de 5.000 a 15.000. Um hipermercado pode chegar a 17.000. Pesquisas revelam que, ao entramos nestes locais, percebemos cerca de 10% dos produtos expostos, mas só ”vemos” uma quantidade muito menor, aqueles que no momento, nos interessam, ou se destacam de forma especial em meio aos concorrentes.(STRUNCK, 2001, p.117) 65 Na exposição de produtos em supermercados as gôndolas são os principais pontos para a venda de produtos, a área nobre está localizada na parte central. Ferracciu (2007) esclarece: Ao passar de um corredor para outro o consumidor recebe uma quantidade de impactos visuais muito grande, o que dispersa sua atenção. Somente ao percorrer a parte central do corredor é que o consumidor pode melhor visualizar os produtos, sem muitas interferências, e se decidir pela compra. A área central resalta aos olhos, daí ser considerada nobre. (FERRACCIU, 2007, p. 51). No caso de lojas, as vitrines externas têm como principal função atrair o cliente para o interior da loja; a vitrine constitui um dos mais importantes fatores de venda, pois funciona como uma espécie de iniciação do ato de compra: O consumidor percebe a loja de acordo com sua vitrina, ela é o início da venda estimulando ou não o cliente dirigir-se ao interior do estabelecimento. A vitrina deve ser sempre renovada para estimular continuamente o desejo de entrar. Recursos de ambientação, cenário e técnicas de lojismo devem ser utilizados para interagir com o cliente (FERRACCIU, 1997). Underhill (2009) em seus estudos da ciência das compras sugere para uma livraria de um Shopping Center mudar a vitrine com exposições de livros de forma segmentada, durante a manhã exposição de livros sobre educação física, família com objetivo de chamar atenção das mães que passeiam com seus filhos nos shoppings nesse período. Á tarde, para adolescentes que ficam “zanzando” pelo Shopping os livros deveriam ser sobre esportes, música pop, televisão e outros assunto de interesse. Após as 17h00, com a passagem das pessoas que trabalham em escritórios os livros deveriam ser referente a computadores e negócios no geral. O fato é que a relação do sentido visão, além de ser determinante para entrada na loja, também está relacionado com a segmentação de mercado. Uma loja na 5ª Avenida de Nova York bem localizada e com uma dinâmica de exposição de produtos aciona o imaginário das pessoas de que se trata de lojas de luxo. 1.4.3. O sentido audição Segundo Lindstrom (2009), os estímulos visuais hoje estão mais sobrecarregados do que nunca, quanto mais estimulados, maior a dificuldade para captar a atenção. As imagens visuais são muito mais eficientes quando 66 associadas a outros sentidos como audição, por exemplo. De acordo com o autor o branding sonoro existe desde a década 1950, com empresas definindo um ícone para seus produtos através do som, como chocolates com som da embalagem se abrindo, ativação e desativação do Microsofi Windows e até mesmo o toque do celular da Nokia pré-definido e que chegou a desempenhar um papel importante no filme Simplesmente Amor. Para Strunck (2001) por meio de uma identidade auditiva pode-se identificar uma marca ou situação, são um poderoso recurso para trazer às nossas mentes toda carga de vivências sobre elas. No ambiente das lojas a música pode influenciar no bem estar do consumidor e controlar o ritmo do tráfego Segundo Blessa (2003, p. 48), os varejistas usam tipos de música variados conforme os horários das compras; pela manhã clientes da terceira idade, as músicas devem ser suaves, na hora do almoço ritmo acelerado, a tarde músicas atuais para as donas de casa e a noite volta o ritmo acelerado para que as compras sejam feitas mais rapidamente, evitando filas no caixa. Underhill (2009) nos resultados de suas pesquisas coloca que as pessoas adoram conversar nas lojas sobre o que estão comprando e as lojas que atraem grupos de amigos casais e criar uma atmosfera que estimule a discussão de um traje a mercadoria começará a vender sozinha. 1.4.4. O sentido tato O tato é o sentido que permite ao ser humano sentir o mundo exterior através do contato com a pele. É por meio do toque que verificamos e confirmamos a realidade. Por ter caráter de proximidade, desperta sensações físicas e emocionais, objetivo principal para finalização do ato da compra por impulso. Segundo Underhill (2009), a sociedade está destituída do tato e as compras permitem experimentar o mundo material, considera fundamental a compra baseada na experimentação e no toque. Ainda Underhill (2009, p. 180) afirma que: “Quase 67 todas as compras não planejadas resultam de tocar, ouvir, cheirar ou provar algo no ambiente de uma loja”. O olhar dá uma boa ideia da realidade, mas nada substitui o tato, sentido sem o qual o ser humano não sobrevive. Tocar e provar no mundo das compras são itens extremamente importantes que finalizam o sentimento de posse. A posse começa quando os sentimentos do shopper se acoplam ao objeto. Começa nos olhos e, depois no tato. Uma vez que o produto esteja em sua mão, em suas costas ou em sua boca, pode-se dizer que você começou o processo de apropriação. Pagar por ele é um mero detalhe técnico (UNDERHILL, 2009, p. 191). Strunck (2001, p. 119) complementa dizendo que: “Nas lojas, somos impactados através de todos os sentidos, mas compramos, no sentido de possuir, com as mãos.” O tato está relacionado com a qualidade percebida, hedonismo é preciso tocar na mercadoria manejá-la de alguma forma para ter a sensação de experimentação. Para Hoyer & Maclnnis (2010), outro aspecto relacionado ao tato é a forma como somos tocados e que dependendo da forma podemos nos sentir estimulados ou relaxados. No caso de lojas com vendedores, pesquisas mostram que consumidores tocados pelos vendedores tem mais probabilidade de ter sentimentos positivos e façam o que ele sugere. A utilização dos sentidos seja como interferência no processo de compras, na experiência do consumidor ou para evidenciar os produtos nas lojas é tão importante que Lindstrom (2009) tendência o varejo do futuro: O mundo varejo amanhã? Terá o cheiro característico de melão, capim-limão, tangerina. Não será em preto e branco, mas em cores fortes. Vai gorjear, rodopiar, gritar, envolver e fazer com que você fique cantarolando. E esse ataque aos seus sentidos será mais eficaz do que você jamais imaginou para conquistar sua mente, sua lealdade e seus dólares. (LINDSTROM, 2009, p.143) 68 2. O CINEMA VAI ÀS LOJAS - DELÍRIOS DE CONSUMO, DE BECKY BLOOM (2009) No cinema, a representação ideológica procura atrair diversos temas, conceitos de poder, condições e padrões sociais que acabam por influenciar a opinião dos espectadores. Independentemente do tema e da época, a ideologia representada no cinema, sempre possibilitará ao espectador uma reflexão, seja ela crítica ou passiva, sobre os ideais apresentados. Como exemplo clássico da cinematografia e que apresenta grande influência ideológica, está Triunfo da vontade (1953), dirigido por Leni Riefenstahl. Nesse documentário são reveladas de maneira clara e precisa as intenções do nazismo, constituindo um dos melhores exemplos de como um filme representa a realidade e a influencia com sua ideologia. Outro filme que serve de exemplo como um marco na história do cinema é Tempos modernos (1936), dirigido e interpretado por Charles Chaplin. A ideologia está presente no comportamento das pessoas com a nova civilização tecnológica, onde as relações sociais, emocionais já não são mais sensíveis (Nicolau Sevcenko, 2001). Podemos observar que independentemente da época, da evolução tecnológica ou da perda da individualidade, o condicionamento ideológico mostrado nos filmes, podem refletir nas relações sociais e até extrapolar a sensibilidade humana. O filme, na ótica de Michel Marie, é um discurso que revela a época e o contexto em que foi realizado. Assim, o filme, por meio de um discurso implícito ou explícito, permite entender um tempo, um dado contexto social e o sentido de numerosas forças e interferências que permearam as sociedades atuais e as antigas. Na contemporaneidade, consideram-se as marcas e as nervuras espessas e robustas de uma forte cultura de consumo, ou de práticas sociais orientadas para o consumo. Essas práticas de consumo não devem ser entendidas, no modo simplificado, apenas como processos de compra e venda de bens e serviços; enfim, de transações gerais de mercadorias. 69 Assim, selecionou–se o filme Delírios de consumo, de Rebeca Bloom (2009), comédia romântica, dirigida por P. J. Hogan, como matéria-prima para exemplificar as relações entre o cinema e as práticas de consumo da contemporaneidade. O recorte proposto é uma cena que antecede uma entrevista de emprego da personagem principal que, durante o percurso até o local, encanta-se com uma echarpe verde. O desejo de compra faz que Rebeca tenha uma conversa imaginária com um manequim. Esse manequim, que se apresenta como uma figura humanizada estimula sua compra e, no contexto da narrativa, segue padrões de persuasão no processo decisório de consumo nas lojas, abordados por autores aqui citados e renomados nesta área, Paco Underhill, Martin Lindstrom e João De Simoni Ferracciu. Para melhor entendimento a seguir um breve resumo da narrativa do filme e a cena em detalhes “da compra da echarpe verde” e a relação da aplicação dos sentidos no processo da compra por impulso. 2.1. O Filme O filme Delírios de consumo, de Becky Bloom (2009) é uma adaptação de dois romances da escritora britânica Sophie Kinsella, The secret dreamworld of a shopaholic (2000) e Shopaholic abroad (2001), ambos pertencentes à série “Shophaholic”. No Brasil, os livros foram publicados com os títulos Delírios de consumo, de Becky Boom (2009) e Becky Bloom: delírios de consumo na 5ª Avenida (2001). Nos Estados Unidos, as mesmas obras ganharam novos títulos: Confessions of a Shopaholic e Shopaholic Takes Manhattan, transformando-se na matéria-prima nas mãos dos roteiristas do filme (Tracey Jackson, Tim Firth e Kayla Alpert). Dirigido por P. J. Hogan, comédia romântica lançada em 2009. Cineasta e roteirista australiano também dirigiu outros filmes entre eles, O casamento de Muriel (1994) filme australiano, seu primeiro sucesso que alavancou sua carreira e o levou a Hollywood onde dirigiu O casamento do meu melhor amigo (1997) com Julia Roberts, Cameron Diaz e Dermot Mulroney, última versão de Peter Pan (2003) e Amor a toda Prova (2002). Vivendo em Nova York, a personagem central, a jornalista Rebeca Bloomwood (Isla Fisher), apelidada pelos amigos de Becky, é uma compradora 70 compulsiva com desejos incessantes de estar sempre na moda e obter assim sua aceitação social. FIGURA 9 – REBECA BLOOMWOOD INDO ÀS COMPRAS Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” FIGURA 10 – DESEJO DAS COMPRAS REALIZADO Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” Recém-formada na universidade, desempregada, sonha em trabalhar na revista de moda Alette, a sua preferida. Porém, suas pretensões são frustradas e, no máximo, consegue chegar até à porta da revista. No entanto, ironicamente, Becky consegue um emprego como colunista em uma revista de finanças, publicado pela 71 mesma editora, devido à troca de correspondências entre as empresas contratantes, cujo currículo de Becky é enviado equivocadamente. Após algumas matérias, sua coluna intitulada “A garota da echarpe verde” tornou-se um sucesso, pois ao explicar de forma simples e irreverente como administrar as próprias dívidas, ela se torna um ícone feminino na área econômica. Nesse ínterim, Becky se apaixona por um rico empresário, Luke Brandon (Hugh Dancy), editor da revista que trabalha e vive um grande romance. Contudo, Rebecca tem um segredo que é desvendado durante a narrativa: além da compulsão por compras, está com uma grande dívida em cartões, não consegue resolver seus problemas. Derick, funcionário do cartão de crédito e responsável pela cobrança, começa a segui-la até que a dívida seja quitada. Com o sucesso de sua coluna, Rebecca é convidada para ser entrevistada em um programa de TV para falar de economia, porém durante a entrevista Derick comenta ao vivo os problemas particulares de suas dívidas até então não pagas e todas as mentiras utilizadas por ela nas ligações de cobranças. A exposição de Rebeca é inevitável, fazendo que a mídia interferisse no processo de mudança de imagem aos olhos do público, amigos, família e do namorado. Após esta exposição, Becky toma consciência de seu consumismo desenfreado e, aconselhada por sua amiga Suze (Krysten Ritter), acaba frequentando uma associação para tratamento de pessoas compulsivas por compras. Mesmo resistente às normas impostas para acabar com o consumo desenfreado, Becky Bloom supera sua compulsão, realizando um leilão de todos os seus pertences, roupas e acessórios, inclusive a echarpe verde, ícone de sua carreira, quitando assim todas as suas dívidas. Em meio às confusões de sua carreira, foi convidada para trabalhar na tão sonhada revista Alette, porém, recusa o emprego por achar que seria mais um erro em sua vida. Após o casamento de Suze (Krysten Ritter), ao passar em frente às lojas da 5ª Avenida de Nova York, Rebecca e Luke se encontram e ele lhe devolve a echarpe verde que regastou do leilão e o romance tão esperado durante toda a trama finalmente acontece, coroado com um beijo. Por fim, o empresário Luke 72 Brandon abre seu próprio negócio — a revista Brandon Report — e Rebecca Bloomwood passa a trabalhar como sua colunista. FIGURA 11 - RECUPERAÇÃO DO CONSUMO DESENFREADO DE REBECCA Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” FIGURA 12 - UNIÃO DE REBECCA E LUKE BRANDON Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” Resgatando a ideia dos livros, o filme alerta em forma de comédia para os cuidados dentro de uma sociedade de consumo, bem como para o lado negativo do consumo desenfreado, a partir dos mesmos recursos que permitem convencer espectadores de produções audiovisuais a serem a favor ou contra sistemas 73 políticos e ideológicos e até operar no eixo crítico contra a prática de consumo e tantos outros. Sevcenko (2001) acredita que o potencial das pessoas já não estão nas qualidades, mas na qualidade das mercadorias que ela ostenta, a visibilidade social está diretamente voltada para o poder de compra. O fetichismo que as mercadorias passam a exercer nas pessoas, fazendo-as não só se sentirem, mas portarem-se como tal. Os pensamentos acima parecem contextualizadas no filme, uma vez que Rebecca se deixa influenciar pelas compras sob o aspecto de visibilidade social e o fetichismo que a mercadoria exerce em sua vida. Sua pré-disposição para o ato do consumo é bem caracterizado no decorrer da trama, preocupação com os padrões comportamentais e fatores psicológicos que alteram a necessidade de consumo mostra que, independentemente da época ou evolução tecnológica, o condicionamento e a manipulação propiciam a perda da individualidade e refletem nas relações sociais, e conforme teoria de Kotler (2010). É de acordo com o ambiente em que se encontram as pessoas escolhem produtos que identifique seu papel e status real ou desejado na sociedade.. Resgatando a conclusão de Featherstone (1995) de que a cultura de consumo relacionada a consumir sonhos, imagens e prazeres, classifica o status de seu portador, através do uso de imagens, signos desperta sonhos , desejos , realização emocional e prazer pessoal, também fica bem evidente no filme uma vez que a trama toda é envolvida pela cultura de consumo que desperta sonhos, prazeres mesmo com consequências posteriores. Como compradora compulsiva é nítido que a personagem consome sem considerar suas consequências, a urgência para realização de uma compra, deixando de realizar uma avaliação criteriosa das alternativas é feita sem considerar as consequências potenciais de sua opção, principalmente suas repercussões negativas. Para Costa (2002): As consequências podem variar desde uma compra avaliada como inadequada (arrependimento) até a geração de comportamentos extremos, principalmente a compulsão à compra e ao consumo, consideradas situações patológicas (COSTA, 2002, p.48). 74 A última cena do filme em que a personagem mesmo atraída pelos manequins humanizados e mostra seu desapego pelo consumo compulsivo, mostra que o consumo em excesso com proporções patológicas de alguma forma pode ser revertido. O filme também mostra o poder persuasivo das compras nas cenas exuberantes na 5ª Avenida de Nova York que faz parte do imaginário coletivo, de que se trata de uma lojas caras, de luxo e bem localizada, berço das grifes famosas como Bergdorf-Goodman, Louis Vuitton, Prada, Emanuel Ungaro, Gucci, Ferragamo, Versace, entre tantas outras, Nova York é um personagem por si, um ícone de todas as cidades e o cinema se apropria desse imaginário e faz seus espectadores penetrarem no mundo da experiência vivida pelas personagens, seja no mundo real ou da ficção. Por meio de vitrinas com manequins animados que praticamente convidam consumidores a adquirirem produtos expostos é possível observar o trabalho de pós produção e a importância na montagem como interferência fílmica que retrata a realidade para dar a veracidade da cena fazendo-se uso da tecnologia. O cinema sempre acompanhou as grandes invenções humanas, desde a sua criação a partir da fotografia até os efeitos da computação gráfica. A evolução tecnológica está presente não só no conteúdo, mas também na forma de apresentação. A tecnologia é a grande aliada do cinema: o surgimento do som sincronizado, entre 1927 e 1929; os filmes coloridos, como o primeiro longametragem Becky Sharp, de Rouben Mamoulian (1932), filmado em Technicolor; e hoje a tecnologia digital que, desde o final do século XX, vem mudando o cinema e certamente mudará ainda mais nos próximos anos. O tema tecnologia, tão importante no cinema, poderia ser abordado de forma mais profunda, porém o objetivo aqui é apenas demonstrar que a tecnologia permitiu compreender o mundo imaginário da personagem, assim como a sequência do processo decisório de compras e a utilização dos sentidos. A tecnologia permitiu que os manequins pudessem interagir com a personagem de forma humanizada e realista, representando a virada na história na trama. A humanização dos manequins não poderia ser mais bem aplicada, uma vez que o texto utiliza-se de atributos de persuasão, proporcionando momentos de 75 convencimento e interatividade ao espectador que só foram possíveis com a aplicação da tecnologia, conforme artigo publicado em 1998, Harvard Business Review,de B. Joseph PineII e James H. Gilmore, ,a importância e estratégias do marketing de experiência como tendências na década de 90 continuam até hoje em sua concepção porém atualizado obviamente pelo contexto social e pela tecnologia. O discurso fílmico principal se concentra numa comédia romântica, contudo, a trama do filme está apoiada na naturalização do ato de consumo, com evidentes soluções de roteiro que induzem o espectador a “entender” que a prática do consumo leva ao amor e satisfação. De forma a persuadir a personagem principal, as sequências sensoriais mostradas através da visão, som e tato pelos manequins, promovem atitudes de consumo que são técnicas mercadológicas utilizadas para finalizar, de forma positiva, a compra por impulso. Essas técnicas mercadológicas ficam mais evidentes na cena intitulada “A compra da echarpe verde”, cuja estética da sedução encontra-se como o modus do consumo contemporâneo e experiência sensorial é finalizado de forma a completar o processo de consumo, item almejado pelas marcas e produtos em suas expectativas mercadológicas. A seguir iremos estudar com mais detalhes esse processo através do recorte “A compra da echarpe verde.”. A descrição em detalhes da cena escolhida se fez necessária, uma vez que o projeto de pesquisa esta fundamentado na sequencia dos aspectos sensoriais de atuação da personagem principal. 2.2. Cena “A compra da echarpe verde” Escolhemos uma cena reveladora e sintetizadora das bases desta dissertação, que funcionará como plataforma para as asserções que iremos envolver neste estudo. A cena recortada se passa em uma renovada avenida de consumo de luxo de Nova York, que é uma espécie de cidade-mundo, onde tudo acontece, na presença da moda da criação de tendências da politomia os estímulos de consumo estão configurados. 76 Para enfrentar essa tarefa, em um primeiro momento nos limitaremos a descrever os aspectos principais, saber sobre o sentido visual, auditivo e de tato. A cena a ser estudada é o recorte que antecede uma entrevista de emprego de Rebecca que, durante o percurso até o local, encanta-se com uma echarpe verde. O desejo de compra faz que Rebecca tenha uma conversa imaginária com um manequim. Esse manequim, que se apresenta como uma figura humanizada estimula a compra da echarpe verde com atributos psicológicos, persuasivos quanto à segurança e autoconfiança para a realização da entrevista de emprego. Além disso, a cena demonstra uma sequência de estímulos sensoriais padrões que influenciam no processo decisório de compras por impulso, é a estética no cinema relacionada com o modus de consumo. A cena ocorre aproximadamente entre 04:26 e 07:38 minutos, a seguir detalhamento com objetivo de mostrar a sequência de estímulos sensoriais citados até o momento. A cena tem início com Rebecca andando pela 5ª Avenida de Nova York, a caminho da entrevista de emprego. A vitrina da loja Henri Bendel, uma das lojas mais sofisticadas da 5ª Avenida de Nova York, com anúncio de produtos da grife Denny&George, lhe chama atenção. FIGURA 13 - VITRINA DA LOJA HENRI BENDEL COM ANÚNCIO DA GRIFE DENNY&GEORGE Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” 77 FIGURA 14 – IMPACTO VISUAL DE REBECCA COM O ANÚNCIO Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” Em seguida, a câmera focaliza um manequim dentro da loja, tradicionalmente branca, porém vestindo roupas de cetim, pedrarias douradas e uma echarpe verde destacada em sua vestimenta. FIGURA 15 – OLHAR FIXO DE REBECCA NO MANEQUIM E A ECHARPE VERDE Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” Rebecca entra na loja, com olhar fixo no manequim e bem próxima a ela, começa um diálogo imaginário, alertando-a para o consumo desenfreado. 78 FIGURA 16 – ENTRADA DE REBECCA NA LOJA EM DIREÇÃO AO MANEQUIM. Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” FIGURA 17 – ALERTA PARA O CONSUMO DESENFREADO Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” Convencida a ir embora da loja, o manequim inicia um diálogo, cuja primeira fala expõe particularidades de sua vida. Impressionada, Rebecca volta sua atenção por completo ao manequim que continua o diálogo argumentativo para a compra de uma echarpe verde. 79 FIGURA 18 - REBECCA CONVENCIDA A IR EMBORA DA LOJA Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” FIGURA 19 – Início do dialogo com o manequim. Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” Usando a expressão “definição de sua psique”, referindo-se à compra da echarpe, o manequim chega ao ápice do aspecto psicológico, colocando o produto como a personificação da alma. Com a echarpe envolvida em seu corpo frente ao espelho, o manequim continua seu texto de convencimento, através do aspecto valioso para uma mulher, a vaidade. 80 FIGURA 20 – REBECCA É SEDUZIDA PELO MANEQUIM A PROVAR A ECHARPE. Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” FIGURA 21 – REBECCA CONVERSA COM O MANEQUIM, QUE A MANIPULA. Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” Após o término do diálogo e a experimentação da echarpe, Rebecca está convencida a levar o produto, e pagar por ele será apenas um detalhe. 81 FIGURA 22 – PROCESSO DE COMPRA PRATICAMENTE FINALIZADO. Fonte: DVD “Delírios de consumo, de Becky Bloom” Falas – traduzidas e originais (Locutora em off) Rebecca, você acabou de receber uma conta de US$ 900. Rebecca, You just got a credit card Bill of $900. (Manequim) Mas por outro lado, quem precisa de uma echarpe. Then again, Who needs a scarf. Enrole um jeans velho no pescoço, isso a manterá aquecida. Wrap some old jeans around your neck, that’ll keep you warm. É isso que sua mãe faria. That’s what your mother would do. (Rebecca) Tem razão. Ela faria isso. You’re right, she would (Manequim) 82 A questão desta echarpe é que ela se tornaria parte de uma definição do seu psique. Entende o que eu quero dizer. The point about this scarf is that would become part of a definition of your psyche. Do you see what I mean. (Rebecca) Não, não, eu entendo, continue… No, I do, keep talking... (Manequim) Ela faria seus olhos parecerem maiores. It would make your eyes look bigger (Rebecca) Faria meu corte de cabelo parecer mais chique. It would make my haircut look more expensive. (Manequim) Poderia usá-la com tudo. Seria um investimento You’d wear it with everything. It would be an investment. Iria para entrevista na Alette confiante. You would walk that interview confident (Rebeca) Confiante Confident E segura And poised (Manequim) 83 Segura Poised A garota da echarpe verde The girl in the Green scarf . 2.3. Modus do consumo na cena “A compra da echarpe verde” Através da articulação da imagem aliada à visão, o diálogo com tom de voz suave, texto argumentativo e pessoal para convencer Rebecca Bloomwood a levar a echarpe e finalmente o ato de tocar, provar, contextualizam as teorias comportamentais do consumidor nas compras por impulso. Podemos dizer que a tecnologia aplicada na pós-produção, com a humanização do manequim, é o que as empresas de alguma forma buscam incansavelmente na exposição de seus produtos nas lojas. Os displays interativos, exposições audaciosas, cheiros borrifados, músicas que alteram o comportamento na hora das compras e a permissão da experimentação são técnicas que tentam se aproximar dessa cena. A primeira experiência sensorial da personagem foi através da visão, sentido humano responsável pelo processo de escolha, pois é o primeiro que faz o cérebro reagir na direção do produto. As vitrines estimulam ou não o cliente dirigir-se ao interior do estabelecimento e devem interagir com o cliente, esta afirmação de Ferracciu (1997) é representada na cena como a essência do estímulo visual. A cor verde da echarpe também pode ser analisada como representatividade da sua esperança com o produto, uma vez que remete à imagem de segurança e proteção, além da liberdade, harmonia e equilíbrio, aspectos buscados pela personagem Becky. Após esse primeiro impacto inicia-se o processo de interação entre loja (ambiente interno) e rua (ambiente externo). Através da articulação da imagem aliada à visão, foi possível atingir o objetivo manipulátorio de forma positiva para entrada na loja. Depois do encantamento visual e a desistência da compra por 84 motivos financeiros, o manequim animado começa um diálogo com tom de voz suave, texto argumentativo com atributos psicológicos de persuasão e pessoal para convencer Rebecca Bloomwood a levar a echarpe. Aqui podemos observar como os estímulos começam a ser mais eficientes para o processo decisório de compra, quando são associados. Os resultados dos estímulos visão e audição, começam a cumprir o objetivo de convencimento de levar o produto,assim como as pesquisas de Lindstrom (2009) mostrou que os estímulos visuais hoje estão mais sobrecarregados do que nunca, quanto mais estimulados, maior a dificuldade para captar a atenção. As imagens visuais são muito mais eficientes quando associadas a outros sentidos como a audição. Outro aspecto que podemos observar para estimular o sentido audição é o dialogo da manequim humanizada com a personagem que mostra a prática dos resultados da pesquisa de Underhill ( 2009) , as pessoas adoram conversar nas lojas sobre o que estão comprando. A cena em estudo termina exatamente conforme a proposta de Underhill (2009), a personagem é envolvida com a experimentação da echarpe, o manequim animado permite e estimula o toque e a posse é concedida e pagar é um mero detalhe técnico. 85 CONSIDERAÇÕES FINAIS O ato de consumir definindo o papel que se ocupa na sociedade somada a cultura de consumo que está relacionada a consumir sonhos imagens e prazeres como classificadora de status contextualiza a prática da compra por impulso. A cultura no cinema de consumo na qual está inserido a compra por impulso é destaque na sociedade contemporânea, tem forte apelo emocional e pouco controle do consumidor sobre o processo de compra. O ato impulsivo decorre da manifestação de um desejo inconsciente e que pode tornar um ato prazeroso ou um transtorno para o consumidor. Os conceitos relacionados a processos de consumo sofrem mudanças na sociedade contemporânea mais rápido do que imaginamos. A massa de conhecimentos da humanidade, que hoje dobra a cada cinco anos, dobrará a cada 90 dias nos próximos dez ou quinze anos. Todo o conteúdo da mudança ocorrido entre 1980 e 2000 não passa de 10% do que ocorrerá entre 2000 e 2020. (World Future Society). Ainda há muito que aprender e considerar nos estudos sobre a cultura de consumo de forma mais dinâmica. Percebe-se certa estagnação do caminho evolutivo de tais teorias. Para entender os processos de consumo atuais e particularmente a compra por impulso, necessariamente as pesquisas acadêmicas deveriam se expandir com maior profundidade e relevância . Os filmes por meio de um discurso implícito ou explicito permite numerosas forças e interferências que permearam as sociedades. O cinema sempre acompanhou as grandes invenções humanas, evolução tecnológica está presente não só no conteúdo, mas também na forma de apresentação. As tramas, os roteiros influenciam na resposta do espectador, seja pelo viés crítico ou de aprendizagem , influencias, estímulos, sonhos e prazeres. Portanto considero que inserir os estudos sobre a cultura de consumo na atualidade através dos filmes que mostram o consumidor no cinema. 86 A preocupação com os padrões comportamentais e fatores psicológicos que alteram a necessidade de consumo da personagem principal, mostra que, independentemente da época ou evolução tecnológica, o condicionamento e a manipulação propiciam a perda da individualidade e refletem nas relações sociais, e é assim que o filme mostra sua mensagem e que pode ser interpretada de forma passiva ou crítica pelo espectador. Na sequência de textos e imagens criada para o filme, na cena da compra da echarpe verde, os estímulos aos sentidos visão, audição e tato seguem os critérios mais almejados pelas empresas referentes ao comportamento do consumidor no ponto de venda. Através da articulação da imagem aliada à visão, o diálogo com tom de voz suave, texto argumentativo e pessoal para convencer Rebecca Bloomwood a levar a echarpe e finalmente o ato de tocar, provar, contextualizam todas as teorias comportamentais do consumidor nas compras por impulso e no marketing de experiência. Podemos dizer que a tecnologia aplicada na pós-produção, com a humanização do manequim, é o que as empresas de alguma forma buscam incansavelmente na exposição de seus produtos nas lojas. Os displays interativos, exposições audaciosas, cheiros borrifados, músicas que alteram o comportamento na hora das compras e a permissão da experimentação são técnicas que tentam se aproximar da cena da compra da echarpe verde. Por fim, vale lembrar que, em 1890, os anunciantes acreditavam na força do “apelo visual”, no entanto, o cinema, como transformador de imagens, tornou-se uma fonte fértil de inspiração aos desejos do consumidor. . Hoje, passado mais de um século, é o cinema que mostra a persuasão para o consumo, aplicando técnicas que vão além do imaginário do mundo empresarial e que provavelmente será o futuro no mundo das compras. 87 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREW, J. Dudley. As principais teorias do cinema. Uma introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989. BACCEGA, Maria Aparecida(org). Comunicação e culturas do consumo. São Paulo: Atlas, 2008. BENJAMIM, Walter. A Modernidade e os modernos, in Revista Tempo Brasileiro, edição eletrônica, 2000. BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo. A transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. BLESSA, Regina. Merchandising no Ponto de venda. São Paulo: Editora 2ab , 2003. BOONE, Louis E.; KURTZ, David. Marketing Contemporâneo. 12 ed. São Paulo: Cengage, 2008. CANCLINI, N. Consumidores e cidadãos. 5ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2005. COSTA, Felipe C. X. 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