O papel da pressão de perfusão coronariana no remodelamento

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Biomedicina
Ponto de Vista
ISSN2176-9095
2176-9095
ISSN
Science in Health
2010 jan-abr; 1(1): 88-90
O papel da pressão de perfusão coronariana no remodelamento cardíaco.
The role of coronary driving pressure on cardiac remodelling.
Koike MK*
de Carvalho Frimm C**
RESUMO
ABSTRACT
As doenças cardiovasculares, principalmente a insuficiência cardíaca, estão entre as maiores causas de mortalidade
mundial. Ela é causada por alterações intrínsecas do miocárdio que levam ao remodelamento cardíaco. Apresentamos
neste artigo o papel da pressão de perfusão coronariana
no remodelamento cardíaco.
Cardiovascular diseases, such as heart failure, are
major causes of disability and premature death throughout the world. Heart failure is a consequence of
intrinsic abnormalities of the myocardium, known as
cardiac remodeling. In the present study the role of
coronary driving pressure in cardiac remodeling is
debated.
DESCRITORES: Fluxo sanguíneo regional. Infarto do miocárdio.
DESCRIPTORS: Regional blood flow. Myocardial infaction. Ven-
Remodelação ventricular
tricular remodeling.
*Bióloga, docente do curso de Biomedicina e Medicina da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID)
**Médico assistente e orientador de pós-graduação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
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do para compreensão dos mecanismos fisiopatológicos que levam ao remodelamento cardíaco (Selye et
al.8, 1960). Entretanto, apenas nos últimos anos, a relação da pressão de perfusão coronariana com dano
miocárdico começou a ser investigada (Frimm et al.4,
2003; Guido et al.5, 2007).
Em 2003, demonstramos haver relação entre a
redução da pressão de perfusão coronariana e a fibrose no subendocárdio da região remota ao infarto
(Frimm et al.4, 2003). Em outro modelo experimental,
de fístula aortocava em ratos, observamos que a redução da pressão de perfusão coronariana também
está associada ao aparecimento de fibrose na região
do subendocárdio (Guido et al.6, 2004).
É possível que a pressão de perfusão coronariana
seja um importante determinante da função ventricular (Tucci et al.9, 1980). Nossas investigações demonstraram que há queda da pressão de perfusão
coronariana já na fase aguda do infarto. Essa queda
implica em lesões na região do subendocárdio remoto ao infarto, tais como necrose, inflamação, fibroplasia e fibrose durante a fase subaguda e crônica. Foram
observadas importantes relações dessas lesões com a
ocorrência da disfunção ventricular em cada momento estudado (Koike et al.7, 2007).
No modelo de fístula aortocava, já há queda da
pressão de perfusão coronariana nas fases iniciais.
Observamos que a redução da perfusão miocárdica ocorre preferencialmente no subendocárdio e
é acompanhada de aumento do estresse oxidativo,
aumento da expressão e atividade de citocinas proinflamatórias e metaloproteinases e desenvolvimento
de fibrose. O dano do subendocárdio e a queda da
pressão de perfusão coronariana apresentaram correlação inversa com a função ventricular (Guido et
al.5, 2007).
A intervenção sobre a pressão de perfusão coronariana particularmente com medidas terapêuticas
que diminuam a pressão de enchimento do ventrículo
esquerdo poderá minimizar o dano subendocárdico
e favorecer a função ventricular durante o remodelamento.
Até o momento, nossas investigações sugerem
que a pressão de perfusão coronariana é a responsável pela integridade do subendocárdio e que a integridade deste promove a manutenção da função ventricular nos modelos experimentais de sobrecarga de
Introdução
As doenças cardiovasculares estão entre as maiores causas de mortalidade mundial. Entre elas, a insuficiência cardíaca é responsável por grande parte da
morbi-mortalidade. Ela pode ser causada por alterações de bomba cardíaca em decorrência de modificações intrínsecas das células miocárdicas. O objetivo
deste trabalho é apresentar as consequências de uma
das alterações hemodinâmicas presentes na insuficiência cardíaca, a queda da pressão de perfusão coronariana, sobre o remodelamento cardíaco.
A pressão de perfusão coronariana pode ser definida como o gradiente de pressão que determina
o fluxo arterial coronariano, e é calculada como a
diferença entre a pressão diastólica na raiz da aorta
e a pressão de enchimento do ventrículo esquerdo
(pressão diastólica final do ventrículo esquerdo).
No ventrículo esquerdo, a perfusão miocárdica
em condições basais, nas regiões do subendocárdio
e subepicárdio, é homogênea (1:1). Quando há redução da pressão de perfusão coronariana, a perfusão miocárdica fica prejudicada preferencialmente no
subendocárdio (3:1). Na sobrecarga de volume, com
a elevação da pressão de enchimento, há queda da
pressão de perfusão coronariana e menor perfusão
do subendocárdio. Portanto, a região subendocárdica
é a mais susceptível ao processo isquêmico em condições da elevação de pressões intracavitárias (Aldeas
et al.1, 2000; Buckberg et al.3, 1972).
Na doença arterial coronária, o comprometimento do fluxo miocárdico se dá preferencialmente no
subendocárdio do ventrículo esquerdo. Outras patologias cardíacas que comprometem a geometria ventricular podem também se acompanhar de alterações
regionais da perfusão miocárdica. De fato, pacientes
com doença cardíaca congênita, valvar ou pacientes
submetidos à circulação extracorpórea apresentam
maior ocorrência de necrose ou fibrose na região do
subendocárdio do ventrículo esquerdo. Isso se deve,
provavelmente, ao desbalanço entre o consumo de
oxigênio e o fluxo miocárdico (Buckberg et al.2, 1977).
Entretanto, nessas doenças o papel da queda da pressão de perfusão coronariana no dano subendocárdico
ainda não foi estudado.
Os estudos com modelos de cardiopatias em ratos como o infarto do miocárdio e a fístula aortocava
têm sido conduzidos desde meados do século passa-
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volume (Koike et al.7, 2007). Assim, o aumento da
pressão de enchimento do ventrículo esquerdo determina a queda da pressão de perfusão coronariana,
dano subendocárdico e disfunção ventricular.
Baseado nestes estudos, o próximo passo de nossas pesquisas em modelos experimentais de sobre-
carga de volume é a intervenção sobre a pressão de
perfusão coronariana com utilização de drogas que
diminuam ou a pressão de enchimento do ventrículo
esquerdo ou a pressão sistêmica, avaliando o impacto da modulação da pressão de perfusão coronariana
sobre o remodelamento cardíaco.
REFERÊNCIAS
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