ECONOMIA E ECONOMIA José Pio Martins Certas confusões em assuntos econômicos são feitas por uma questão semântica. Cada ciência tem seu nome e o nome de um objeto que ela estuda. A Sociologia (a ciência) estuda a sociedade (o objeto). A Antropologia estuda o homem. A Astronomia estuda os astros. Já a Economia (a ciência) estuda a economia (o objeto). Ou seja, neste caso, ciência e objeto levam o mesmo nome. A economia, como objeto, é o sistema pelo qual a sociedade produz, distribui e consome. Para diferenciar uma coisa da outra, o curso que forma os profissionais dessa área leva o nome de “Ciências Econômicas”. Em Inglês, essa questão é mais clara, pois há dois nomes distintos: Economics para a ciência e economy para o objeto (o sistema social). Simplificadamente, podemos dizer que uma ciência é um conjunto de leis e princípios que abrigam os conhecimentos acerca de um objeto que ela estuda e explica. Se é fácil distinguir as afirmações sobre a Sociologia (a ciência) das afirmações sobre o objeto que ela estuda (a sociedade), não é tão óbvio saber quando estamos falando da Economia (a ciência) e quando estamos falando da economia (o objeto). Um dos erros da revolução comunista soviética foi não entender que é possível adotar políticas que modificam e moldam a economia (o sistema social), mas que não é possível torcer e modificar determinadas leis e princípios da economia (a ciência). Vejamos três exemplos. Uma das leis mais implacáveis da economia (a ciência) é a lei da oferta e da procura. Ela nos diz que, quando ocorre escassez de um bem ou serviço, o preço aumenta; quando há abundância, o preço cai. Gostemos ou não, é assim. As pirotecnias políticas, como tabelamentos e racionamentos, só servem para escamotear os problemas temporariamente, porém, mais cedo ou mais tarde, os efeitos aparecem. Aconteceu com vários produtos na antiga União Soviética, aconteceu no Brasil do Plano Cruzado e o mesmo filme está se repetindo na Venezuela, onde o governo tabelou preços e impôs racionamento de alguns produtos. O resultado é sempre o mesmo: surge um mercado negro, o produto desaparece, o tabelamento explode... e os preços disparam. O segundo exemplo é a teoria quantitativa da moeda. Em qualquer lugar do mundo, sob qualquer regime, se o governo emitir moeda continuamente sem que a produção seja aumentada, os preços subirão. É inflação na certa. O governo pode até tentar segurar; mas só consegue por pouco tempo. Aí está o senhor Hugo Chávez, com suas maluquices no campo economia, vendo-se impotente diante da explosão inflacionária. Ele pode fazer o que quiser. Pode pôr a bandeira nacional em cada esquina, colocar a foto de Simon Bolívar nas cédulas de dinheiro. Nada resolverá. Os preços vão continuar subindo. Ele tem é que parar de fabricar dinheiro sem lastro na produção. O terceiro exemplo refere-se à produtividade. O próprio Karl Marx dizia que não existe como melhorar a vida de um povo se não houver aumento da produtividade. Mas, o que é esse conceito? É uma relação entre as quantidades produzidas e a quantidade de insumos utilizados. Em números redondos, o Brasil produz 1,5 bilhões de dólares com 195 milhões de habitantes. O Canadá produz 1,5 bilhões de dólares (portanto, o mesmo que o Brasil) com 32 milhões de habitantes. É só fazer a conta e ver a produtividade por habitante lá e cá. Não precisa ser economista para entender porque um professor primário no Canadá ganha 2.500 dólares por mês e 500 dólares no Brasil. Pois bem, tanto os políticos da extinta União Soviética quanto alguns dirigentes latinoamericanos não se contentaram em tentar melhorar a economia (o sistema social) e resolveram mudar a Economia (a ciência). Ou seja, resolveram transgredir leis e princípios da ciência econômica, porque acharam que podiam mudar leis científicas. Deram-se mal. As leis científicas são rígidas e óbvias que nem os loucos se atrevem a desrespeitá-las. Não é comum um louco subir no telhado de um prédio e tentar voar. Eles não conhecem Einstein nem Newton, mas sabem quase por instinto que existe uma lei da gravidade, a qual avisa que qualquer corpo lançado no espaço vai se dirigir em alta velocidade rumo à terra e vai se espatifar. Em grande medida, a Economia não é diferente: transgredi-la pode custar muito caro. José Pio Martins, Economista e Vice-Reitor da Universidade Positivo. Os artigos de economistas divulgados pelo CORECON-PR são da inteira responsabilidade dos seus autores, não significando que o Conselho esteja de acordo com as opiniões expostas. É reservado ao CORECON-PR o direito de recusar textos que considere inadequados.