Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 10., 2013. Belo Horizonte Implantação e padronização de metodologias analíticas físico-químicas da água para caracterização do afluente e efluente de biodigestor Josiane Patrícia Nogueira da Cunha(1), Luiz Carlos Gonçalves Costa Júnior(2), Claudéty Barbosa Saraiva(2), Gisela de Magalhães Machado(3), Marcelo Henrique Otenio(4) (1) (2) Bolsista BIC FAPEMIG/EPAMIG, [email protected]; Pesquisadores EPAMIG - Juiz de Fora, [email protected], [email protected]; (3) Pesquisadora/Bolsista BIP FAPEMIG/EPAMIG - Juiz de Fora, [email protected]; (4) Pesquisador EMBRAPA Gado de Leite - Juiz de Fora, [email protected] INTRODUÇÃO A crescente demanda por alimentos de origem animal tem gerado um aumento da exploração intensiva de animais que são confinados em grande número numa pequena área, produzindo grande quantidade de dejetos, o que tem-se tornado um problema, por falta de manejo e tratamento adequados, sendo esta uma fonte poluidora dos recursos hídricos (CAMPOS et al., 2003). A bovinocultura leiteira necessita de uma volumosa quantidade de água, que deve ser de boa qualidade para não comprometer o produto final. Isto gera uma quantidade considerável de dejetos sem tratamento (JOHANN, 2010). Esses dejetos são uma fonte em potencial para a geração de energia e de fertilizantes naturais, por meio da utilização de biodigestores anaeróbicos, reduzindo, assim, os custos com a produção (GASPAR, 2003). Os dejetos produzidos na pecuária leiteira, após saírem do biodigestor sob forma líquida, são ricos em matéria orgânica, nutrientes − nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) e oligoelementos. Este líquido pode ser aplicado no solo para melhorar suas características químicas, físicas e biológicas (GASPAR, 2003). A presença elevada de sais muito solúveis pode ser prejudicial ao solo, provocando a morte de bactérias importantes, deixando-o propenso ao ataque de outros microrganismos e insetos (GASPAR, 2003). Assim, uma análise físico-química dos efluentes do biodigestor torna-se necessária como forma de preservar a integridade físico-química e biológica do solo. EPAMIG. Resumos expandidos 2 A implantação de metodologias analíticas em laboratórios de pesquisa requer critérios e comparação de instrumentos ou dispositivos de análises com padrão de referência, certificado e reconhecida exatidão, para detectar, correlacionar, relatar ou eliminar, por ajustes, algumas discrepâncias na exatidão desses instrumentos ou dispositivos de medida (FERREIRA; GOMES, 1995). Este trabalho teve por objetivo padronizar e implantar algumas metodologias analíticas físico-químicas da água e análises de afluentes e efluentes do biodigestor, dentro de Plano de Ação número 4 sob liderança do Instituto de Laticínios (ILCT) da EPAMIG, em Juiz de Fora, MG que é parte integrante do Projeto intitulado “Produção de energia elétrica a partir de biogás gerado por dejetos da pecuária leiteira”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e cuja coordenação está a cargo da Embrapa Gado de Leite. MATERIAL E MÉTODO As análises físico-químicas implantadas e que foram padronizadas, no que se refere às metodologias, aos reagentes e/ou às soluções foram realizadas no Laboratório de Análise de Efluentes da Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), do ILCT em Juiz de Fora, MG. Fez-se a implantação e padronização para as seguintes análises físicoquímicas da água: pH, condutividade, N total, alcalinidade total e dureza. Após o recebimento de equipamentos, acessórios, reagentes e/ou soluções, procedeu-se à implantação das metodologias, seguindo o “Standard Methods of Water and Waste Water” (CLESCERI et al., 2000; PEREIRA et al., 2001). RESULTADOS E DISCUSSÃO O uso de soluções empregadas em metodologias físico-químicas deve ser precedido da aferição destas, evitando erros analíticos e desperdícios no uso dos reagentes e/ou soluções, sejam preparadas ou mesmo adquiridas prontas. 3 Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 10., 2013. Belo Horizonte Procedeu ao preparo, à padronização e à aferição de soluções químicas volumétricas, para atender à implantação das metodologias propostas, segundo Morita e Assumpção (1972). Para análises de pH, adotou-se o método eletroanalítico (potenciométrico) que é uma aplicação da determinação de concentrações iônicas por meio de células eletroquímicas compostas por dois eletrodos: um de referência e outro de medição sensível ao íon a ser determinado. A diferença de potencial desenvolvida, quando se insere o eletrodo indicador na solução em análise será proporcional à concentração em quantidade de matéria (mol/L) de íons H+ (H3O+), podendo ser convertida diretamente em unidades de pH. O sistema deve, previamente, ser padronizado por meio de calibração com soluções tampão de pH (4,00 e 6,78) adequado e com ajuste de temperatura (PEREIRA et al. 2001). Na condutividade, utilizou-se o medidor de pH, cuja presença de íons possibilita a passagem de corrente elétrica, dependentemente da atividade desses íons. Para a implantação de determinação do N total, optou-se pelo método de Kjeldahl, que consta de três etapas: oxidação (digestão) da amostra pelo ácido sulfúrico, a quente, em presença de catalisadores para a liberação do N sob a forma de sais de amônio. O resíduo obtido desta etapa é adicionado, numa segunda fase, de hidróxido de sódio, obtendo-se amônia, que é destilada e captada pelo ácido bórico (adicionado de indicadores), com o qual reage formando metaborato de amônio. Esse sal será titulado por neutralização com ácido clorídrico, representando a fração nitrogenada que se deseja determinar. Para padronizar e aferir a solução volumétrica de ácido clorídrico 0,05 mol/L, empregou-se solução padrão de carbonato de sódio, também a 0,05 mol/L, e indicador alaranjado de metila, titulando-se o segundo com HCl, até mudança de cor para levemente vermelha. Quanto às soluções reagentes empregadas, foram todas preparadas usando reagentes puros para análise (pa). Na implantação de dureza total, empregou-se a metodologia quelatométrica, que tem por base a ação complexante de metais por compostos orgânicos. Geralmente, são usados ácidos aminopolicarboxílicos, que formam complexos bastante estáveis com quase todos os cátions, incluindo os alcalinos terrosos (Ca+2 e Mg+2). O ligante mais utilizado é o EPAMIG. Resumos expandidos 4 ácido etileno diamino tetracético (EDTA), que é um agente complexante, e o seu sal dissódico. Após forte alcalinização da amostra com hidróxido de amônio, há o favorecimento na formação de um complexo estável entre os metais e o EDTA. Nesse caso, o uso de comprimido tampão é necessário, pelo fato de conter sais com poder tamponante que evita a precipitação do cálcio e do magnésio. Os citratos que também compõem o comprimido tampão evitam precipitação de hidróxidos e do indicador (negro de eriocromo T). A união do indicar com o metal forma um complexo que passa a ter coloração vermelha. Quando adicionado o EDTA à solução, este reage, passando a se complexar com o metal. Com a perda do metal pelo indicador (para o EDTA), este passa a adquirir coloração verde. A alcalinidade é devida, geralmente, a carbonatos, bicarbonatos e hidróxidos de cálcio, magnésio, ferro, sódio, manganês, entre outros, apresentando os mesmos inconvenientes da dureza. A alcalinidade cáustica, causada pela presença de hidróxidos, é uma característica indesejável, por ser indicativa de poluição. Para medição analítica, emprega-se solução indicadora de vermelho de metila a 1%, sendo que o ponto de viragem se dá pela mudança de coloração do amarelo ao róseo. Na aferição da solução volumétrica titulante de ácido sulfúrico 0,005 mol/L, empregam-se os mesmos padrão e procedimento do HCl citados para a análise de N total. CONCLUSÃO Os métodos adotados apresentaram-se efetivos para a finalidade a que se propõem. A padronização de soluções seguiu-se como de fácil execução, podendo ser feita ao longo da execução experimental, conforme necessidades, sem comprometimento dos resultados. Para início das atividades de coletas experimentais e execução das metodologias propostas, a implantação dos métodos, bem como sua padronização, irá garantir segurança analítica, uma vez que as equipes e instalações encontram-se aptas para execução a qualquer momento. 5 Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 10., 2013. Belo Horizonte AGRADECIMENTO Aos colaboradores da EPAMIG (funcionários e bolsistas) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pela concessão de bolsas BIC. Ao CNPq, pelo financiamento do Projeto, e à Embrapa Gado de Leite, pela confiança na EPAMIG-ILCT e parceria. REFERÊNCIAS CAMPOS, A.T. de et al. Tratamento e reciclagem de águas residuárias em sistema intensivo de produção de leite. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2003. (Embrapa Gado de Leite. Circular Técnica, 75). CLESCERI, L.S. et al. Standard methods for the examination of water and wasterwater. 20th ed. Apha: Washington, 2000. FERREIRA, J.R.; GOMES, J.C. Gerenciamento de laboratórios de análises químicas. Viçosa, MG, Folha de Viçosa, 1995. 378p. GASPAR, R.M.B.L. Utilização de biodigestores em pequenas e médias propriedades rurais com ênfase na agregação de valor: um estudo de caso na região de Toledo - PR. 2003. 106f. Dissertação (Mestrado em Planejamento e Estratégia Organizacional) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. JOHANN, A.S.T. Desenvolvimento de tecnologia alternativa para tratamento de efluente dos currais de gado leiteiro. 2010. 95f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo. MORITA, T.; ASSUMPÇÃO, R.M.V. Manual de soluções, reagentes e solventes. 2.ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1972. 629p. PEREIRA, D.B.C. et al. Físico-química do leite e derivados: métodos analíticos. 2.ed. ampl. e rev. Juiz de Fora: Templo, 2001. 234p.