V Congresso Internacional de Serviço Social, II Seminário Internacional da Pós Graduação em Serviço Social, 20ª Semana de Serviço Social A Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) UNESP/FRANCA 31 DE Maio a 02 de junho de 2016 OS INSTRUMENTOS E AS TÉCNICAS NO PROCESSO DE TRABALHO DOS/DAS ASSISTENTES SOCIAIS Thiago Agenor dos Santos de Lima (FISMA/FEA) Sandra Lourenço de Andrade Fortuna (UEL) Shizuko Miguita (FAM) OS INSTRUMENTOS E AS TÉCNICAS NO PROCESSO DE TRABALHO DOS/DAS ASSISTENTES SOCIAIS1 Thiago Agenor dos Santos de Lima (FISMA/FEA)2 Sandra Lourenço de Andrade Fortuna (UEL)3 Shizuko Miguita (FAM/UNIESP)4 RESUMO: O presente artigo tem como objetivo apresentar um conjunto de reflexões sobre as categorias Instrumentos e técnicas contidas no conjunto da dimensão técnico-operativa de formação profissional dos/as Assistentes Sociais. Desta forma, buscou-se apresentar alguns pressupostos na tentativa de conceituar o que vem a ser os instrumentos e as técnicas nos distintos processos de trabalho que estão inseridos os/as Assistentes Sociais. A metodologia da pesquisa consiste em um resgate bibliográfico e documental, inclusive demarcando a experiência profissional empírica dos autores , diante das complexidades que encontram nos espaços sócios ocupacionais, seja pela via direta ou pelas supervisões realizadas a discentes nos cursos de formação em Serviço Social, buscando refletir e fazer alguns apontamentos sobre a necessidade de fomentar a discussão da temática aqui abordada, não como um “modelo”, mas como direção contida nos princípios do Projeto Ético-Político Profissional. Palavras – Chave: Instrumentos; Técnicas; Trabalho Profissional e Serviço Social. 1. INTRODUÇÃO: O presente estudo tem como objetivo principal apresentar alguns pontos sobre o uso de instrumentos e técnicas utilizados pelos/as Assistentes Sociais em seus processos de trabalho. A premissa da qual parte o presente estudo compreende que o exercício profissional é constituído de uma totalidade, formada pelas quatro dimensões: teórico-metodológica, ético1 Respeitando a RESOLUÇÃO CFESS Nº 594 De 21 de janeiro de 2011, nesse trabalho inserimos a linguagem de gênero, adotando forma feminina e masculina: “o/a; os/as; trabalhadores/as, etc.”. 2 Graduado em Serviço Social e Especialista e MBA em Política Social no contexto da Nova Política Nacional de Assistência Social pela AEMS. Mestrando em Serviço Social e Política Social pela UEL. E-mail: [email protected] 3 Possui doutorado em Serviço Social - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP/Campus Franca), mestrado em Serviço Social - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e graduação em Serviço Social - Instituição Toledo de Ensino (ITE). Atualmente é professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL/PR) e coordenadora do Grupo de Pesquisa sobre Violência de Gênero (UEL/PR). Tem experiência na área de Serviço Social, com ênfase em Fundamentos e Formação Profissional, atuando principalmente nos seguintes temas: Políticas Públicas, Movimentos Sociais e Violência Doméstica. E-mail: [email protected] 4 Possui Licenciatura em Letras Vernáculas e Alemão pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília (1975), graduação em pedagogia pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras Urubupungá (1979) e mestrado em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2006). Atualmente é docente do Instituto Educacional do Estado de São Paulo. [email protected] política, técnico-operativa e investigativa5, sendo essa última pouca reconhecida pela categoria profissional dos/das Assistentes Sociais. Entretanto, não é possível falar da prática profissional, dando ênfase apenas uma dimensão. O conjunto é importante perante a totalidade das dimensões. E, isso somente foi possível, no âmbito do Serviço Social, devido ao processo de reconceituação que trouxe novas alternativas para a prática, na tentativa de superar o tradicionalismo. Como esclarece Trindade (2002, p. 37): Pode-se perceber que a consecução dos objetivos profissionais de ruptura exige a superação dos modelos interventivos formais-abstratos. Coloca-se cada vez mais a necessidade dos profissionais se apropriarem de um arsenal heurístico que possibilite uma análise crítica e realista das contradições e possibilidades contidas na dinâmica das políticas sociais - tomadas como espaço privilegiado de intervenção. Os procedimentos interventivos são colocados em articulação direta com as práticas organizativas das classes populares, exigindo que o assistente social se aproprie de instrumentos e técnicas capazes de potencializar uma prática de cunho coletivo. Assim sendo, para compreender a dimensão técnico-operativa, é necessário o resgate sobre os processos de trabalho que estão inseridos os/as Assistentes Sociais e depois no conjunto de instrumentos e técnicas que permitem ao profissional elaborar respostas perante as instituições empregadores e as necessidades dos usuários dos serviços sociais, de todo modo, pode-se visualizar que ela: [...] se constitua na “forma de aparecer” da profissão, na dimensão “pela qual a profissão é conhecida e reconhecida”. Ela é o “modo de ser” da profissão, o modo como aparece no movimento das três dimensões. Tal característica permitiria conhecê-la até mesmo como uma “síntese” do exercício profissional, pois é composta também pelo conhecimento da categoria, pelas qualidades subjetivas dos agentes, pelas condições objetivas do trabalho, pelo projeto profissional, pela ética, pelos valores. Portanto, discutir, tanto o instrumental técnico-operativo em particular como a dimensão técnico-operativa como um todos, implica discutir o trabalho profissional como resultado daquela totalidade. (SANTOS, FILHO e BACKX, 2013, p. 23). Dessa forma, não cabe aqui descrever quais são os instrumentos e as técnicas, e sim, descrever o significado dos instrumentos e das técnicas nos distintos espaços que estão inseridos os/as Assistentes Sociais. A partir dessas considerações, o presente artigo foi estruturado da seguinte forma: uma primeira seção a discussão do ponto de partida para a análise, que trata da concepção de 5 Essa dimensão é discutida com maiores detalhes no texto: A dimensão investigativa no exercício profissional de autoria da Profa. Dra. Yolanda Guerra. Acrescenta-se a autora aqui por considerar e compreender como uma dimensão necessária para o fortalecimento das três anteriores, tendo em vista, que ambas fazem parte de uma constituição de totalidade, compreendendo que suas funções devem estar presentes na prática profissional, em qualquer campo sócio ocupacional. Ainda, por parecer que há uma dificuldade de os profissionais, na sua ação cotidiana, fazer o resgate dos aspectos teórico-metodológicos da dimensão investigativa, não como um ato de perscrutar minuciosa e rigorosamente a vida do sujeito, todavia, “entendermos que a pesquisa para o Serviço Social fornece subsídios à análise do processo de produção e reprodução da vida social sob o capitalismo, no âmbito do qual o Serviço Social se situa, visando a instrumentalização do assistente para a elaboração de projetos de intervenção e para a intervenção propriamente dita.”. (GUERRA, 2009, p. 13). (GRIFOS NOSSOS). instrumento e técnica. Uma segunda seção que discute o resgate, sintetizado, sobre os processos de trabalho em Serviço Social. E por fim, na terceira seção, descreve-se um pouco de elementos presentes na materialização dos instrumentos e técnicas no fazer do/da Assistente Social. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 O PONTO DE PARTIDA DA ANÁLISE O fazer profissional, desde a sua gênese, isso pela necessidade de trazer à tona um arsenal de técnicas e instrumentos, tendo em vista a sua intencionalidade diferenciada em cada período histórico. Posto isso, para alguns autores, os instrumentos e técnicas fazem parte de um arcabouço teórico-metodológico conservador, por isso, apenas como hipótese, tem-se visto que existe certa recusa pelos intelectuais da área em descrever sobre esses mecanismos que possibilitam a intervenção profissional. A questão do conservadorismo presente na prática profissional tem sido inserido na produção de conhecimento do Serviço Social a partir do movimento de Reconceituação 6, pela qual, no processo de uma “intenção de ruptura”7, os/as Assistentes Sociais brasileiros se aproximam da teoria social marxista e elaboram um novo projeto profissional. Sob o ponto de vista da prática profissional, há que se começar a compreender a diferenciação das palavras Instrumento, Técnica e Instrumentalidade no exercício profissional, não apenas como uma classificação natural, mas no âmbito do processo de busca de uma intenção de ruptura. O Serviço Social busca entender os processos existentes da realidade social propondo alternativas para a materialização do seu projeto ético-político, diante da complexidade da vida social. Em consulta no dicionário online http://michaelis.uol.com.br/, verifica-se que as palavras Instrumentos e Técnicas possuem os seguintes conceitos: INSTRUMENTO:sm (latinstrumentu) 1 Aparelho, objeto ou utensílio que serve para executar uma obra ou levar a efeito uma operação mecânica em qualquer arte, ciência ou ofício. 2 Todo 6 Não se pode citar a presença do conservadorismo na prática profissional, sem lembrar os textos que estão contidos na obra de José Paulo Netto ( ano) , intitulada Capitalismo Monopolista e Serviço Social. Esse livro possui em seu segundo capítulo o seguinte título: A estrutura sincrética do Serviço Social, no qual o autor busca apresentar uma discussão sobre os processos originários de diferentes visões do mundo ou de doutrinas filosóficas distintas que existem nas análises dos fundamentos históricos e teóricos metodológicos para descrever e analisar a prática da profissão. Na decorrência desses aspectos, o autor explica o sincretismo e a prática indiferenciada, o Serviço Social como sincretismo ideológico e o Serviço Social como sincretismo “científico”, fundamentalmente, expõe como o conservadorismo estivera presente tanto na forma de analisar a profissão pelos protagonistas sociais, como por sua vez, as correntes de base religiosa e cientifica – social se expressavam na prática dos agentes profissionais. 7 Esse termo é utilizado por Netto para descrever a busca pelo rompimento com as amarras conservadoras que estiveram (esteve) presentes na prática do/da Assistente Social. meio de conseguir um fim, de chegar a um resultado. 3 Dir Título escrito para fazer valer ou comprovar algum direito. TÉCNICA: sf (fem. de técnico) 1 Conhecimento prático; prática. 2 Conjunto dos métodos e pormenores práticos essenciais à execução perfeita de uma arte ou profissão. T. legislativa: conjunto de princípios lógicos a que deve obedecer a feitura das leis. T. política: capacidade de liderança ou arte de bem conduzir os homens. T. social, Sociol: princípios, métodos e meios, para estudo e melhoramento prático da sociedade. Do ponto de vista conceitual, compreende-se o instrumento como um recurso descritivo, que no âmbito profissional é utilizado para redigir as opiniões profissionais. Por outro lado, pode ser também a forma pela qual se expressa o seu conhecimento em prol da solicitação de seu empregador. A técnica é o modo a qual o profissional realiza a sua ação, ou seja, para compreender a realidade ou ainda para descrevê-la, precisa de um ou mais aspectos metodológicos para materializar a sua intervenção. Para Trindade (2002, p. 23-24): O conceito de técnica está marcado por uma complexidade e uma amplitude que podem ser verificadas na diversidade de conceituações e classificações a ele atribuído. Aqui, tomamos a técnica associada aos instrumentos: enquanto estes são compreendidos como elementos mediadores e potencializadores do trabalho, a técnica pode ser definida no sentido de ser a “habilidade humana de fabricar, construir e utilizar instrumentos” [...] Dessa forma, [...] a articulação entre instrumentos e técnicas, pois expressam a conexão entre um elemento constitutivo dos meios de trabalho (os instrumentos de trabalho) e o seu desdobramento qualitativamente diferenciado - ocorrido ao longo do desenvolvimento das forças produtivas (as técnicas). Portanto, as técnicas se aprimoram a partir da utilização dos instrumentos, diante da necessidade de sua adequação às exigências de transformação dos objetos, visando o atendimento das mais variadas necessidades humanas. A técnica pode ser tomada, então, como uma qualidade atribuída ao instrumento para que ele se torne o mais utilizável possível, em sintonia com a realidade do objeto de trabalho. [...]Os instrumentos de trabalho se desenvolvem como meios materiais que possibilitam transformar o objeto. Funcionam como extensão do braço humano, mesmo quando os meios de produção se sofisticam a ponto de substituir o trabalho manual pelo controle das máquinas. Sua aplicação requer o conhecimento dos nexos causais dos objetos a serem transformados (sejam eles objetos naturais ou produtos do trabalho humano), que possuem uma legalidade passível de ser apreendida com uma certa exatidão, através do estudo das reações químicas, físicas, biológicas neles envolvidos. Além disso, o resultado do trabalho pode ser antecipado de uma maneira mais aproximada do que será o produto real, pois se tratam de elementos concretos, controláveis na sua manipulação. [...] Todavia, os instrumentos e técnicas não são exclusivos de uma profissão, mas são componentes das teorias e leis consideradas gerais e universais, ou seja, “o saber não é posse individual de cada profissão, é heterodoxo, é pleno, é encontro de signos. (MARTINELLI, 1999, p. 21). Esse saber, que é construído no manuseio das técnicas e dos instrumentos nas intervenções profissionais, não coloca em risco a escolha do “melhor”, pois ambos são um processo de relação, pressupõe que possuem características diferentes, mas a escolha na utilização, deve ser bastante consciente de modo que se consiga colocar os posicionamentos políticos, construídos pela categoria no horizonte da sua maturação, diante das relações dos diferentes processos de trabalho que estão inseridos os/as Assistentes Sociais. 2.2 ELEMENTOS PRESENTES PARA COMPREENDER “O PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL” A compreensão dos processos de trabalho, no qual estão inseridos os/as Assistentes Sociais, requer uma incursão na teoria marxista, extraindo a concepção de trabalho que aponta uma densidade teórico-metodológica para a análise de entendimento que essa profissão é parte integrante da divisão social e técnica do trabalho na sociedade capitalista. No seu estágio monopolista cria necessidades para novas funções sociais a serem exercidas frente às demandas reais, ou ainda: O Serviço Social como profissão emerge na sociedade capitalista em seu estágio monopolista, contexto em que a questão social, pelo seu caráter de classe, demanda do Estado mecanismos de intervenção não apenas econômicos, mas também políticos e sociais. Sua institucionalização relaciona-se assim à progressiva intervenção do Estado no processo de regulação social, momento em que as sequelas e manifestações da questão social se põem como objeto de políticas sociais, em dupla perspectiva: seja no sentido de garantir condições adequadas ao pleno desenvolvimento capitalista e seus processos de acumulação privada em benefício do grande capital monopolista; e, simultânea e contraditoriamente, no sentido responder, por vezes antecipar-se, às pressões de mobilização e organização da classe operária, que exige o atendimento de necessidades sociais coletivas e individuais derivadas dos processos de produção e reprodução social [...] (RAICHELLIS, 2011, p. 423). Em outros termos, o Serviço Social, é uma profissão assalariada, que faz parte integrante da divisão social e técnica do trabalho na sociedade capitalista. Na sua fase monopolista, cria a necessidade de um conjunto de profissões, que vão ter nas políticas sociais o seu espaço de mediação. Essa profissão ainda participa dos processos de produção e reprodução social, ao mesmo tempo, da construção de contra tendências à ordem capitalista vigente, nos distintos espaços de trabalhos. No espaço sócio ocupacional no qual está inserido o/a assistente social, em uma relação de trabalho abstrato8 e concreto9, existe uma particularidade, visto que o profissional, por ter uma autonomia relativa, determina quais são os instrumentos e as técnicas a serem utilizados em uma dada intervenção profissional. Nas relações de trabalho, as instituições empregadoras determinam as necessidades da inserção do/da assistente social, e as determinações concretas são adaptadas para as funções 8 O trabalho humano abstrato, substância do valor, é pensado na sua quantidade e medido pelo tempo: tempo de trabalho socialmente necessário investido na sua produção (elemento histórico-social) condicionado pelo desenvolvimento das forças produtivas sociais do trabalho. (IAMAMOTO, 2009, p. 7). 9 Trabalho concreto, útil, é aqui utilizado no sentido de Marx, como trabalho de uma qualidade determinada que produz valores de uso voltados à satisfação de necessidades sociais de uma dada espécie. (IAMAMOTO, 2009, p. 7) necessárias perante as demandas, que terão uma dada atenção, pelo empregador. Nas palavras de Iamamoto (2009, p. 16): Verifica-se, pois, uma tensão entre o trabalho controlado e submetido ao poder do empregador, as demandas dos sujeitos de direitos e a relativa autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho. Assim, o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos, que fogem ao seu controle do indivíduo e impõem limites, socialmente objetivos, à consecução de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho. Alargar as possibilidades de condução do trabalho no horizonte daquele projeto exige estratégias político-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaço ocupacional e somem forças com segmentos organizados da sociedade civil, que se movem pelos mesmos princípios éticos e políticos. Posto de outra forma, o que se afirmar é que a própria sociedade capitalista é responsável pela necessidade da profissão, cujo valor de uso está empregado na projeções ideo-políticas da classe dominante e as respostas que essa profissão consegue (re) criar nas necessidades da classe trabalhadora, cabendo ao profissional uma leitura atenta dessa realidade. Conforme nos ensina Iamamoto ( 2003, p. 81) que: [...] As condições que peculiarizam o exercício profissional são uma concretização da dinâmica das relações sociais vigentes na sociedade, em determinadas conjunturas históricas. Como as classes sociais fundamentais e suas personagens só existem em relação, pela mutua mediação entre elas, a atuação do Assistente Social é necessariamente polarizada pelos interesses de tais classes, tendendo a ser cooptada por aqueles que tem uma posição dominante. Reproduz também, pela mesma atividade, interesses contrapostos que convivem em tensão. Responde tanto as demandas do capital como do trabalho e só pode fortalecer um ou outro polo pela mediação do seu oposto. Participa tanto dos mecanismos de dominação e exploração como, ao mesmo tempo e pela mesma atividade, da resposta às necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora e da reprodução do antagonismo nesses interesses sociais, reforçando as contradições que constituem o móvel básico da história. [...] A leitura dessa realidade permite o conhecimento também dos projetos em disputas nessa sociedade, cabendo ao/a assistente social, em seu processo de trabalho, o levantamento dos objetivos institucionais, os objetivos profissionais (valores e princípios do P.E.P.P)10 e os objetivos dos usuários. Os objetivos institucionais são aqueles expressos no estatuto da entidade, muitas vezes reconhecidos como a sua missão. Entretanto, o mercado de trabalho, onde o/a assistente social desempenha suas funções, conforme a Lei de Regulamentação, possuem determinantes concretos e subjetivos, e são necessários levar em consideração, principalmente pelas análises propostas pela teoria social crítica, que levarão as análises sobre as formas de organização do modo de produção capitalista e aos desdobramentos funcionais do Estado. 10 A categoria profissional, mesmo diante de uma realidade adversa, constrói uma direção política, que são materializados no caso do Serviço Social pelo Código de Ética, as diretrizes curriculares da ABEPSS, a Lei de Regulamentação da Profissão, como também Plano de Lutas do Conjunto CFESS/CRESS, entre muitos outros. Os objetivos profissionais, estão expressos diretamente em seu Projeto Ético-Político Profissional que devem estar ligados diretamente aos objetivos da classe trabalhadora. Projetam uma sociedade para além do capital, mas esse é um processo político e precisam ter os seus caminhos construídos. Os princípios do código de ética de 1993 expressam os valores necessários a serem defendidos em qualquer espaço sócio ocupacional, pois são esses que direcionaram o pensar e agir perante as barbaridades da sociedade capitalistas. Os objetivos dos usuários dos serviços que estão alocados os profissionais, devem ser vistos pelas demandas imediatas, quando este ocorre perante aos serviços sociais das instituições, mas também, é preciso realizar diversificadas mediações para a compreensão das necessidades subjetivas internas, que muitas vezes, não são levantadas inicialmente. 2.3 INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NA INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL A questão da dimensão técnica operativa do Serviço Social, sustentada pela discussão sobre o crivo teórico crítico, ganha relevância no livro de autoria da Profa. Dra. Yolanda Demétrio Guerra “A Instrumentalidade do Serviço Social”, em síntese das teses defendidas pela autora, busca descrever a importância da compreensão sobre a racionalidade formal-abstrata, ou explicando de outro modo, como a reflexão dos modelos ou padrão de intervenção buscado pelos/pelas Assistentes Sociais, revelam as determinações intencionais do projeto burguês. Revelador de uma série de ideias pragmáticos, imediatistas e individualista, sem a relação direta com a racionalidade ontológica do ser, os instrumentos e técnicas utilizados na intervenção profissional passam a ser o modo como o projeto burguês consegue se materializar, utilizando do fazer profissional do/da Assistente Social a seu favor. Pois, a “racionalidade inerente às formas de pensar e agir das sociedade burguesa é resposta ao nível de uma política cultural capaz de exercer a dominação necessária à sobrevivência dessa ordem”. (GUERRA, 2011, p.72). O instrumento e a técnica consistem em um importante mecanismo que interliga diretamente o/a Assistente Social com o usuário, pois é através desses procedimentos que o profissional busca compreender e analisar as “expressões e manifestações da questão social” contido na realidade social que atinge o usuário atendidos (in) diretamente pelas instituições públicas/privadas. As “expressões e manifestações da questão social”11, nas suas mais variadas formas, são alvos das políticas sociais no capitalismo dos monopólios. Entretanto, o Estado em nenhuma 11 No sentido mais abrangente, Iamamoto diz que: [...] A questão social não é se não as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu forma a reconhece na sua estrutura formalizadora, sendo as ações diagnosticadas apenas como fatores subalternos, tais como: fome, miséria, pobreza, desigualdade e etc. Ainda, a “Questão Social” passa a ser tratada pela via moralizadora, pela via da repressão policialesca, o Estado intervém, inclusive com forte defesa de diversas profissões, na tentativa de respostas imediatas e individualizadas. Os instrumentos e técnicas não são exclusivos do/da Assistente Social, mas utilizados por outros profissionais, dependendo do espaço sócio ocupacional, as atividades podem ser realizadas em conjunto. Ainda, de acordo com a sua formação, o profissional propõe uma forma de utilização que difere e acaba inserindo uma determinada marca no exercício, assim sendo, cabe ao/a Assistente Social escolher através de um arsenal apreendidos em seu processo de ensino aprendizagem. As intervenções, mesmo que realizadas em conjunto com outros profissionais, devem ser realizados através de um planejamento prévio, cabendo a cada profissional, de acordo com a sua base teórico-politica, expressar a sua especificidade12, e ao Serviço Social respeitar as normas de outros profissionais. Todavia, ao profissional cabe desenvolver as suas ações de acordo com as atribuições contidas na Lei de Regulamentação da Profissão. Cabe a ele a defesa política dessas ações em seu espaço ocupacional, inclusive informar ao seu empregador sobre as atribuições e competências contidas na legislação, como também, as orientações de ordem jurídica, contidas nas resoluções do conjunto CFESS/CRESS, e por sua vez, as funções que não são de sua competência, mas mesmo assim, o empregador ao exigir, pode-se caracterizar como assédio moral. (BARROCO E TERRA, 2012, p. 141). Ainda, nas discussões anteriores sobre intervenções em multi/inter disciplinares devem ter os seus registros realizados em separados, pois o entendimento ou opinião do/da Assistente Social deve ser destacado de acordo com a sua área de conhecimento.13 reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão. (IAMAMOTO & CARVALHO, 2012, p. 83-84). 12 A especificidade aqui entendida, não apenas como a busca pela definição de objeto, objetivos, procedimentos e técnicas para a intervenção profissão, como muitos quiserem inserir a profissão sob o estatuto de ciência, o que não exclui a possibilidade e necessidade de o profissional produzir conhecimentos científicos, entretanto, a questão central refere-se na compreensão da “natureza” da profissão, ditos do outro modo, os agentes profissionais, no marco da prática dessa sociedade, construíram propostas de intervenções que devem ser sempre demarcada. 13 A Resolução CFESS/CRESS nº. 557, de 15/09/2009, trata especificamente sobre esse assunto, orientando que a emissão de pareceres, laudos e opiniões técnicas em conjunto com outros profissionais, cabe ao/a Assistente Social (como a outra profissão) destacar a sua área de conhecimento. Nesse sentido em um relatório por exemplo, em intervenção em conjunto com a psicologia, os dados objetivos podem ser os mesmos, mas os subjetivos devem ser O trabalho profissional deve ser pautado também pelo sigilo 14 e cabe ao/a Assistente Social, julgar necessário quais acontecimentos, fatos e revelações que devem ser repassados, inclusive no uso dos instrumentos e técnicas. Os instrumentos e as técnicas, ao serem escolhidos pelo profissional,15 para a realização do seu trabalho devem ser operacionalizados em direção a materialização dos princípios16 do projeto ético-político profissional. Esses são as condições necessárias para a compreensão da realidade social e vista o reconhecimento das contradições e opressões presentes no cotidiano17. submetidos em separados, ou seja, nesse relatório terá um item que poderá ser chamado “Parecer do Serviço Social” e “Parecer da Psicologia”. 14 Em relação ao sigilo profissional na atuação do/da Assistente Social, os vídeos disponíveis na página do yotube, referente ao I Seminário Estadual “Serviço Social e sigilo profissional”, promovido pelo Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro CRESS/RJ, traz elementos importantes para ser pensada essa questão, que diante da complexidade e transformações do mundo do trabalho, geram questionamentos e polemicas nas relações de trabalho. 15 É dever do/da Assistente Social planejar as suas atividades, tendo em vista o Código de Ética e a Lei de Regulamentação profissional, assim sendo, os instrumentos e as técnicas devem ser previstos no Plano de Intervenção Profissional (PIP). Nas escolhas de seus instrumentos, técnicas e métodos jamais deve ocorrer a interferência na sua opinião dada pelo profissional. Esses princípios são inseridos no Código de Ética de 1993, sendo: Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras; Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças; Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual; Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação exploração de classe, etnia e gênero; Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores; Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional; Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física.(CFESS, 1993, s/p). 16 17 Aqui, não se pode entender o cotidiano como a rotina, porém, compreendê-lo [...] O cotidiano é a expressão de um modo de vida, historicamente circunscrito, onde se verifica não só a reprodução das suas bases, mas onde são também, gestados os fundamentos de uma prática inovadora. Assim, o “cotidiano não está apenas mergulhado no falso, mas referido ao possível. A descoberta do cotidiano é a descoberta das possibilidades de transformação da realidade. Por isso, a reflexão sobre o cotidiano acaba sendo crítica e comprometida com o possível”. A crítica da vida cotidiana implica ultrapassar as aparências que a escamoteiam, para redescobri-la em toda a densidade do seu conteúdo histórico, a partir do desvendamento das formas pelas quais se expressa. O cotidiano é o “solo” da produção e reprodução das relações sociais. [...] (IAMAMOTO & CARVALHO, 2012, p. 123). No trato com os instrumentos e técnicas, o profissional para a sua operacionalização requisita a inter-relação entre dois ou mais, que possibilitam o melhor conhecimento da realidade e junto com o usuário propor alternativas frente as diversas situações problemáticas. No uso dos instrumentos e das técnicas o profissional deve, de acordo com o seu código de ética, realizar algumas ações necessárias, entre muitas, pode-se destacar: Informar aos usuários os objetivos institucionais, (Quem é a instituição; O que faz a instituição; Quem trabalha na instituição; Os serviços sociais prestados pela instituição, e etc.); Fornecer aos usuários os dados da qualificação profissional (Nome, número do registro profissional); Fornecer aos usuários informações concernentes ao trabalho desenvolvidos pelo Serviço Social e/ou equipe multi/inter/trans disciplinar da instituição, inclusive informando os objetivos da ação e os limites de sua atuação profissional; Informar aos usuários sobre os serviços, programas, projetos e benefícios oferecidos na instituição, inclusive os critérios utilizados para o acesso; Esclarecer aos usuários quais serão os instrumentos e técnicas utilizadas na intervenção profissional; Devolver as informações colhidas na intervenção profissional; Informar aos usuários os objetivos das anotações e o sigilo profissional; Todas as informações que se transformar em instrumento (relatório, estudo social e etc.), deva antes de ser encaminhada à outro órgão deva ser lido e aprovada pelo usuário. Essas atividades devem ser inseridas nos processos de trabalho dos/das assistentes sociais, como estratégias para a materialização dos princípios do projeto ético-político profissional18, pois encontram-se muitas ações profissionais que visam apenas atender o imediato profissional, como também a tentativa de atender aos requisitos dos manuais e normativas existentes hoje nas diversas políticas sociais. 3. À GUISA DE CONCLUSÃO Nesse estudo, ao enfatizar o estudo dos instrumentos e das técnicas, não se está limitando o reconhecimento da dimensão técnico-operativa, o que se fez foi um esforço analítico de situar a existência desse no exercício profissional do/da Assistente Social nos diversos espaços sócio-ocupacionais; É no manuseio dos instrumentos e técnicas que os profissionais constroem suas intervenções profissionais, frente as demandas das instituições empregadores e as dos/das trabalhadores, o que permite responder às diversas violações dos direitos que estão no cotidiano, 18 Para compreender ainda sobre outros elementos de materialização do projeto ético-político profissional, sugerimos consultar: Lima, Carvalho e Moura (2015). e é preciso compreender que esses são elementos que compõem a dimensão técnico-operativa da profissão. Cabe aos profissionais explicar quais são os instrumentos, as técnicas utilizadas e os objetivos. Por ora, romper com as barreiras ideo-politicas, demonstra aos usuários as diversas maneiras do compreender a realidade. Assim sendo, os instrumentos e as técnicas devem se colocar na defesa dos direitos dos usuários. Por fim, no ponto de vista da prática profissional, reconhece-se que a dimensão técnicaoperativa, associada às outras dimensões: ético-político, e teórica-metodológica, propõe inovações, inclusive podem ser as estratégias utilizadas pelos/pelas assistentes sociais frente as demandas apreendidas no cotidiano das instituições. 4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 4.1 Livros BARROCO, M. Lucia S. Código de Ética do/a Assistente Social Comentado. Sylvia Helena Terra; Conselho Federal de Serviço Social – CFESS (organizador) – São Paulo: Cortez, 2012 BARROCO, Maria Lúcia Silva. TERRA, Sylvia Helena. Código de Ética do/a Assistente Social comentado; Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, (organizador). – São Paulo: Cortez, 2012. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Código de Ética Profissional do Assistente Social. Resolução nº. 273, de 13 de Março de 1993. Publicada no Diário Oficial da União, Brasília, 30 de Mar. 1993. Brasília, CFESS, 1997. ______. Regulamentação da profissão de Assistente Social. Lei nº. 8.662, Jun. 1993. ______. Resolução CFESS, n. 493/2006, de 21 de agosto de 2006. Dispõe sobre as condições éticas e técnicas do exercício profissional do assistente social. ______. Resolução CFESS, n. 594/2011, de 21 de janeiro de 2011. Dispõe sobre as Alterações do Código de Ética do Assistente Social, introduzindo aperfeiçoamentos formais, gramaticais e conceituais em seu texto e garantindo a linguagem de gênero GUERRA, Yolanda. A instrumentalidade do Serviço Social. – 9 ed. – São Paulo: Cortez, 2011. ______. A dimensão investigativa no exercício profissional. In Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. IAMAMOTO, Marilda Villela. 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