156 J. Bras. Nefrol. 1997; 19(2): 156-161 V. P. Marques et al - Doença renal cística adquirida Doença renal cística adquirida em pacientes com insuficiência renal crônica em tratamento conservador e em hemodiálise Vilmar de Paiva Marques, Ana Cristina Abdul, Maria Eugênia Fernandes Canziani, Aluízio Barbosa Carvalho, Sérgio Ajzen, Álvaro Pacheco Silva, Sérgio Antônio Draibe A doença renal cística adquirida (DRCA) acomete os pacientes em hemodiálise (HD) de manutenção numa incidência aproximada de 50%, com uma relação direta com o maior tempo em diálise e uma maior propensão para neoplasias renais. No presente estudo, avaliamos a incidência da DRCA em nossa população de pacientes em tratamento conservador e em HD, visando a detecção de cistos renais atípicos, sugestivos de neoplasia, através de ultra-som (US), tomografia computadoriza (TC) e ressonância magnética (RM) renais. Os resultados mostraram uma predominância da DRCA no grupo de pacientes em HD (54,9% x 28,2%, P<0,05), com maior tempo de tratamento dialítico (³36 meses), sem relação direta com sexo, raça e etiologia da doença renal, sendo que a presença de cisto renal atípico não foi evidenciada em nenhum paciente dos dois grupos. Desta forma, a DRCA é uma entidade clínica importante, destacando-se a importância de um seguimento radiológico regular, que permitiria o diagnóstico de cistos renais de caráter neoplásico, favorecendo uma terapêutica precoce e uma melhor sobrevida destes pacientes. Disciplina de Nefrologia e Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina Endereço para correspondência: Dr. Vilmar de Paiva Marques Rua Botucatu, 740 - Disciplina de Nefrologia da UNIFESP/EPM CEP: 04023-062 - São Paulo, SP. Tel.: (011) 574-6300 Fax: (011) 573-9652. Doença Renal Cística Adquirida, Hemodiálise, Neoplasia Renal Acquired Renal Cystic Disease, Hemodialysis, Renal Neoplasm Introdução O rim, apesar de sua incapacidade funcional na doença renal em estágio terminal, ainda é metabolicamente ativo, produzindo substâncias como eritropoetina, vitamina D e hormônios vasoativos, além de se constituir em um sítio para o crescimento e o desenvolvimento de múltiplos cistos. Dunnill et al, em 1977, ressaltaram a significância clínica dos cistos na doença renal cística adquirida (DRCA), demonstrando que 14 de 30 (46%) de seus pacientes em hemodiálise (HD), que foram para autópsia, tinham múltiplos cistos renais bilaterais, sendo que 5 deles desenvolveram tumores renais, sugerindo a possível associação da DRCA com o desenvolvimento de câncer renal.1 A DRCA é definida por alguns autores como a presença de mais de 4 cistos por rim ou o comprometimento de mais de 40% do parênquima renal por cistos,2 e por outros como um rim com ao menos 1 a 5 cistos visíveis por ultrassonografia renal (US) e/ou tomografia computadorizada (CT) e, patologicamente, por uma área de cistos ocupando mais de 25% do parênquima renal.3 É uma entidade distinta dos cistos renais simples ou da doença renal policística do adulto,4 desenvolvendo-se, sobretudo, durante o período de tratamento dialítico.5 J. Bras. Nefrol. 1997; 19(2): 156-161 157 V. P. Marques et al - Doença renal cística adquirida A patogênese da DRCA é desconhecida, sendo sugeridas uma série de hipóteses, destacando-se o papel da proliferação das células epiteliais tubulares, decorrente de fatores proliferativos gerados pelo estado urêmico, com a conseqüente obstrução e dilatação da luz tubular e a formação dos cistos.6 Outros processos implicados incluem alterações da matrix extracelular da membrana basal tubular, a isquemia renal (com a participação de fatores de crescimento liberados pelos néfrons isquêmicos) e a participação de uma nefrotoxina cistogênica.7 Ênfase também é dada à susceptibilidade genética dos pacientes, ligada aos oncogenes c-myc e c-erb B-2.8 A DRCA incide nos portadores de insuficiência renal crônica (IRC), em tratamento dialítico numa freqüência que varia de um terço à metade dos pacientes, tendo como principal fator determinante o tempo em diálise.9 Pode acometer de maneira similar os pacientes em hemodiálise (HD), diálise peritoneal (DP) e tratamento conservador (TC), não apresentando relação definida com idade, sexo, raça e etiologia da doença renal, podendo evoluir com complicações como hemorragia, eritrocitose e câncer renal, com tendência a regressão após a realização do transplante renal.10,11 O acompanhamento radiológico regular, por meio de US ou TC renal, é importante tanto no seu diagnóstico, quanto na intervenção terapêutica precoce, favorecendo a detecção das potenciais complicações decorrentes da DRCA.12 Desta forma, objetivamos neste estudo a avaliação da prevalência da DRCA em nossa população de pacientes renais crônicos, em tratamento conservador e em programa regular de HD, procurando identificar fator(es) de risco associado(s) e possíveis complicações decorrentes da doença, utilizando um “screening” radiológico definido por um protocolo pré-determinado. Material e Métodos O estudo foi realizado no período compreendido entre Setembro de 1993 a Outubro de 1994, contando com a participação dos pacientes em acompanhamento na Unidade de Diálise e no Ambulatório de Uremia da Disciplina de Nefrologia da UNIFESP-EPM, a partir do interesse em se determinar a prevalência da DRCA em nossa população de renais crônicos e a detecção de alguma complicação relacionada a esta patologia. Os pacientes eram informados a respeito de sua par- ticipação no estudo, obtendo-se previamente o consentimento de cada um deles. Para isto, criou-se um protocolo, que definia a DRCA pela presença de cistos renais simples ou atípicos, independente do número e tamanho dos cistos, com um “screening” inicial utilizando o ultrasom (US) renal, visando detectar a presença ou ausência dos mesmos, caracterizando-os do ponto de vista ultrassonográfico. Na vigência de cisto renal atípico pelo US, seria realizada tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM), para melhor identificação do cisto. Na dependência destes exames, seria feita a punção do cisto atípico por agulha guiada por US, a fim de se descartar um processo neoplásico. Os pacientes estudados foram divididos em 2 grupos: um grupo de pacientes em programa regular de hemodiálise (HD) e um grupo em tratamento conservador da IRC, constituídos, respectivamente, de 51 e 78 pacientes. Foram excluídos do estudo os pacientes portadores de doença renal policística, os binefrectomizados e aqueles sem condições clínicas satisfatórias para se locomoverem até o local de realização dos exames. Os pacientes do grupo em HD foram encaminhados seqüencialmente para a realização do US renal. Para aqueles em tratamento conservador, uma vez que este exame faz parte da rotina de investigação ambulatorial destes pacientes, fez-se um levantamento de todos os prontuários selecionando-se aqueles que realizaram US renal no período de execução do estudo. Todos os exames foram realizados no Setor de Ultrassonografia do Departamento de Diagnóstico por Imagem da UNIFESP-EPM. Os resultados foram expressos, em geral, como média ± desvio-padrão, com o estudo comparativo entre os dois grupos das variáveis analisadas sendo feito através do teste do qui-quadrado, correlação de Pearson e teste t de Student. A exceção foi com relação aos valores do cálculo do número de cistos por pacientes com cistos renais, que foram expressos em mediana, utilizando o teste U de Mann-Whitney. A significância estatística era considerada na vigência de um valor de P £ 0,05. Resultados Dos 70 pacientes inicialmente selecionados para fazerem parte do grupo de pacientes em hemodiálise, 51 foram estudados. Do número inicial, 5 foram excluídos por não apresentarem condições clínicas 158 J. Bras. Nefrol. 1997; 19(2): 156-161 V. P. Marques et al - Doença renal cística adquirida para a realização dos exames, 5 foram a óbito no período, 6 foram transplantados antes de fazerem o US renal, 1 foi transferido para programa de CAPD, 1 recusou participar do estudo e 1 retornou para o tratamento conservador. Após a realização do US renal inicial, 5 pacientes foram transplantados e houve 1 óbito. No grupo dos pacientes em HD houve predomínio de indivíduos do sexo feminino (55% x 45%), da raça branca (53% x 47%), e a glomerulonefrite crônica (GNC) foi a principal etiologia da doença renal terminal (35,2%). No grupo em tratamento conservador, a predominância foi do sexo masculino (61,5% x 38,5%), da raça branca (65,3% x 34,6%), com destaque para a nefroesclerose (23%) e a causa indeterminada (20,5%) como etiologia da IRC. As características clínicas dos pacientes nos dois grupos são apresentadas com mais detalhes na tabela 1. Tabela 1 Características clínicas dos pacientes em hemodiálise e tratamento conservador. Características clínicas Hemodiálise (N=51) Conservador (N=78) 23 (45%) 28 (55%) 48 (61,5%) 30 (38,5%) 27 (53%) 24 (47%) 51 (65,3%) 27 (34,6%) 18 (35,2%) 5 (9,8%) 5 (9,8%) 13 (25,4%) 10 (20%) 4 (5,1%) 4 (5,1%) 18 (23%) 16 (20,5%) 36 (46,1%) Sexo Masculino Feminino Raça Brancos Não-brancos Etiologia GNC DM Nefroesclerose Indeterminada Outras GNC: glomerulonefrite crônica; DM: diabetes mellitus. Com relação aos aspectos comparativos entre os dois grupos, verificou-se que os pacientes em HD eram mais jovens (38,2 ± 14,5 x 55,5 ± 16,9 anos, P<0,05) e tinham um maior tempo de doença renal (78,2 ± 46,6 x 26,3 ± 26,3 meses, P<0,05) que aqueles em tratamento conservador. Dentre os 51 pacientes em HD, 28 (54,9%) apresentavam cistos renais, em comparação com apenas 22 (28,2%) dentre os 78 pacientes em tratamento conservador (P<0,05). Além disto, o número de cistos por paciente com cistos renais foi maior no grupo de pacientes em HD, comparado àqueles em conservador (em mediana, 2,0 x 1,0, respectivamente, com P<0,05). Estes dados são mostrados na tabela 2. Tabela 2 Dados comparativos de idade, tempo de doença renal, presença e número de cistos renais entre os grupos de pacientes em hemodiálise e conservador. Hemodiálise 38,2 ± 14,5 Conservador 55,5 ± 16,9 Valor de P < 0,05 Tempo de doença renal (meses) 78,2 ± 46,6 26,3 ± 26,3 < 0,05 Tempo de diálise (meses) 66,3 ± 44,8 _ _ Pacientes com cistos 28 (54,9%) 22 (28,2%) < 0,05 2,0* 1,0* < 0,05 Idade (anos) Nº cistos/paciente com cistos * valores em mediana Não houve correlação estatística entre o tempo de diálise e o número de cistos no grupo de pacientes em HD, assim como entre o tempo de doença renal e o número de cistos nos dois grupos estudados. Com relação à idade dos pacientes e o número de cistos, a correlação foi significante somente no grupo de pacientes em tratamento conservador, onde a presença de cistos foi mais evidente nos pacientes mais idosos. A presença de cistos renais nos pacientes em HD correlacionou-se, de forma estatisticamente significante, ao maior tempo de permanência em tratamento dialítico (>36 meses), não havendo correlação entre o tempo de doença renal e a presença de cistos no grupo de pacientes em tratamento conservador. Também não houve correlação entre o sexo e a presença de cistos nos dois grupos de pacientes. Quanto à raça, verificou-se correlação estatística somente no grupo de pacientes em tratamento conservador, onde se denota uma predominância dos brancos sobre os não-brancos. Estas informações estão contidas na tabela 3. A detecção de cisto renal atípico ao US renal inicial não foi evidenciada em nenhum paciente dos dois grupos estudados. Discussão A DRCA é uma entidade clínica de etiopatogênese desconhecida, sendo uma condição relativamente comum nos pacientes com IRC, com uma incidência de aproximadamente 50%, podendo variar de 30 a 95%, dependendo da modalidade diagnóstica (radiológica versus patológica) e da duração do tratamento dialítico.5,13 A patologia pode ocorrer de forma similar nos pacientes em tratamento conservador,14 e em diálise peritoneal,15,16,17,18 embora J. Bras. Nefrol. 1997; 19(2): 156-161 159 V. P. Marques et al - Doença renal cística adquirida Tabela 3 Correlação de Pearson entre a presença de cistos renais e o tempo de diálise e doença renal, sexo e raça dos pacientes em hemodiálise e conservador. Hemodiálise Cistos Tempo de diálise (HD) e de doença renal (Cons.) ³ 36 meses < 36 meses Sexo Masculino Feminino Raça Brancos Não-Brancos Conservador Cistos Sim Não Sim Não 22 (66,6%)* 6 (33,4%)* 11 (33,4%) 12 (66,6%) 7 (36,8%) 15 (25,4%) 12 (63,2%) 44 (74,6%) 14 (60,8%) 14 (50%) 9 (39,2%) 14 (50%) 14 (29,1%) 8 (26,6%) 34 (70,9%) 22 (73,4%) 18 (66,6%) 10 (41,6%) 9 (33,4%) 14 (58,4%) 19 (37,2%)** 3 (11,1%)** 32 (62,7%) 24 (88,8%) (*) e (**): correlações que atingiram significância estatística (P£0,05). haja relato prévio sugerindo seu predomínio nos pacientes em HD.19,20 Neste sentido, estudamos a prevalência da DRCA em nossa população de pacientes renais crônicos, em tratamento conservador e em HD, por meio de uma investigação radiológica, que consistia inicialmente da realização de um US renal, seguida, se necessário, por TC e RM renal, a fim de se excluir a possibilidade de uma neoplasia renal associada aos cistos. Nossos resultados mostraram que a prevalência da DRCA foi maior, de forma estatisticamente significante, no grupo de pacientes em HD em relação ao grupo em conservador (54,9% x 28,2%, respectivamente), assim como o número de cistos por pacientes com cistos renais, em mediana, também foi maior no grupo em HD (2,0 x 1,0, com P<0,05). Estudos prévios têm chamado a atenção para um possível papel de fatores epidemiológicos como sexo e raça no desenvolvimento da DRCA, admitindo-se uma predominância do sexo masculino sobre o feminino (3:1), com maior propensão para sua presença nos negros do que nos brancos (76% x 47%).3 No que tange à participação da etiologia da IRC e a idade, parece não haver evidências de uma correlação direta com a DRCA.21 Em nosso estudo, não verificamos associação significante entre o sexo e a presença de cistos em nenhum dos dois grupos analisados, enquanto que com relação à raça não houve associação no grupo em HD, mas sim no grupo em conservador, onde a presença de cistos predominou nos indivíduos de raça branca (37,2% x 11,1%, P<0,05). Também não houve correlação significante entre a etiologia da IRC e a idade dos indivíduos e a presença de cistos nos dois grupos. Através de estudos prévios, verificou-se que o principal fator determinante da DRCA é a duração da doença renal e do tempo de tratamento dialítico, ocorrendo em 35-44%, 75% e 90% dos indivíduos com menos de 3 anos, mais de 3 anos e mais de 10 anos de diálise, respectivamente.21 Nossos dados estão de acordo com esta afirmação, no que tange aos pacientes em HD, onde a presença de cistos renais foi mais prevalente nos pacientes com mais de 36 meses de tratamento dialítico (66,6% x 33,4%, P<0,05), o mesmo não ocorrendo no grupo em tratamento conservador. Eles também mostram que não houve correlação estatisticamente significante entre o número de cistos renais e o tempo de diálise e o tempo de doença renal. Outro aspecto de interesse no estudo da DRCA, é sua possível associação com o desenvolvimento de tumores renais. Autores relatam que os tumores renais incidem nos pacientes em diálise numa faixa que varia de 4,8 a 7,1%, sendo que o carcinoma de células renais seria responsável por 1,5% destes, representando uma chance 40 vezes maior de ocorrer nestes indivíduos do que na população geral.22 Admite-se que a DRCA teria papel importante neste aspecto, de tal forma que a formação cística poderia ser um precursor direto para o desenvolvimento de adenomas e carcinomas renais.23,24,25 Assim, a investigação regular por testes de “screening” radiológico, para se detectar a presença de DRCA e, por extensão, de tumores renais, em pacientes renais crônicos em tratamento conservador e em diálise, passou a ser recomendada por vários autores, visando um diagnóstico mais precoce e uma intervenção terapêutica mais efetiva, o que contribuiria para uma melhor sobrevida destes pacientes.26,27 O US renal é o método geralmente mais utilizado para este fim, em vista de sua maior acessibilidade e boa sensibilidade para a detecção de cistos de até 0,5 cm, particularmente aqueles com características atípicas sugestivas de um processo 160 J. Bras. Nefrol. 1997; 19(2): 156-161 V. P. Marques et al - Doença renal cística adquirida neoplásico.28 Testes mais sensíveis que o US renal, incluindo a TC e a RM, poderiam ser utilizados, em um segundo tempo, para uma melhor definição daqueles cistos atípicos inicialmente detectados pelo US.29,30 Em nosso estudo, através do “screening” proposto, não se identificou nenhum paciente com cistos renais atípicos nos dois grupos analisados. Finalmente, no que se refere ao papel do transplante renal (Tx renal) na evolução da DRCA, estudos mostram que parece haver um efeito protetor sobre o desenvolvimento desta condição, com alguns mostrando, inclusive, uma regressão no número de cistos nos rins nativos após a realização do transplante.3,31,32 Este aspecto não foi avaliado por nós, mas seria de grande interesse para um estudo futuro. Em suma, podemos concluir pelos resultados obtidos com o estudo, que a DRCA incide de forma significativa nos pacientes em hemodiálise e em tratamento conservador, com maior prevalência no primeiro grupo, apresentando uma correlação, estatisticamente significante, com o maior tempo de tratamento dialítico, afetando igualmente indivíduos de ambos os sexos, sem relação direta com idade, raça e etiologia da doença renal terminal. Além disto, ressalta a importância de um “screening” radiológico regular dos pacientes renais crônicos, visando a detecção de cistos renais atípicos que podem representar um fator de risco para o desenvolvimento de uma neoplasia renal, permitindo uma intervenção terapêutica mais precoce e efetiva, favorecendo uma melhora na sobrevida dos pacientes. Agradecimentos Agradecimento especial aos médicos ultrassonografistas Luiz Carlos Matida Shiguihara, David Shigueoka, do Departamento de Diagnóstico por Imagem da UNIFESP/EPM, pela participação na execução dos exames radiológicos dos pacientes estudados. Summary Acquired renal cystic disease (ARCD) attacks patients in maintenance hemodialysis in nearly 50% of cases, with a direct association with greater time in dialysis and greater propensity for renal neoplasm. In the present study, we evaluated the incidence of ARCD in our population of patients in conservative therapy and hemodialysis (HD), aiming at detecting atypic renal cysts, suggestive of neoplasia, through renal ultrasound, CT scan and magnetic resonance. The results showed a predominance of ARCD in the group of patients in HD (54,9% x 28,2%, P<0,05), with greater time of dialytic treatment (³ 36 months), with no direct association with sex, race and aetiology of renal disease, with no evidence of atypic renal cyst in any patient of both groups. Therefore, the ARCD is an important clinical entity, with emphasis for a regular radiologic screening, that would permit the diagnosis of renal neoplasm, favouring a precocious therapy and a greater survival of these patients. Referências 1. Dunnill MS, Millard PR, Oliver D. Acquired cystic disease of the kidneys: a hazard of long-term intermittent maintenance haemodialysis. J Clin Path. 1977; 30: 868-77 2. Feiner HD, Katz LA, Gallo GR. Acquired cystic disease of kidney in chronic dialysis patients. Urology. 1981; 17: 260-4 3. Ishikawa I. Uremic acquired renal cystic disease. Natural history and complications. Nephron. 1991; 58: 257-67 4. Kessler M, Testevuide P, Aymard B, Huu TC. 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