A Consciência Filosofia para não-filósofos Albert Jacquard Tudo o que faz parte do universo, partícula ou galáxia, pedra ou animal, é, por convenção, dotado de existência; todo objeto é. Mas, seja ele qual for, sua definição é arbitrária. Uma pedra ou uma galáxia não são consideradas como seres individualizados, a não ser graças ao observador. Para ser objeto do universo, é necessário ser objeto do discurso de um observador Certamente, o homem não é o único observador; assim como ele, os animais dotados de visão vêem a mancha brilhante que, todas as manhãs, sobe no céu; mas somente o homem é capaz de ir além dessa constatação e transformar essa mancha em um objeto, o Sol. Essa estrela, como todas as outras estrelas, é uma criação do discurso humano. Sem o homem, o universo não passa de um continuum sem estrutura Cada ser humano é capaz de dirigir sobre si mesmo esse olhar criador de objetos. Transforma, então, sua pessoa em objeto de seu discurso. Desse modo, não só ele é, mas sabe que é. É isso a consciência. Trata-se de uma faculdade que nos permite saber que existimos A principal contribuição dos homens, o que os distingue inicialmente dos animais, é, com toda certeza, sua capacidade para imaginar o amanhã. Certamente, os ursos, os esquilos, quando pressentem a chegada do frio, tomam precauções, acumulam gordura ou provisões que lhes permitirão suportar o inverno; mas esse reflexo é desencadeado pela temperatura; fazem provisões porque faz frio, não para passar o inverno. Ter consciência de que o amanhã há de existir e de que posso exercer influência sobre ele, eis o que é próprio do homem.