Rev Pato Tocantins V.3, n. 02, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS REVIEW ARTICLE ESCALA DE ALVARADO PARA O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DE APENDICITE AGUDA Gabryella Rodrigues Adorno1, Thamires Ferreira Rios, Fabio Augustode Araújo Colombo, Pedro Manuel Gonzalez Cuellar2 RESUMO A apendicite aguda é uma das principais causas de abdome agudo inflamatório. Trata-se de uma patologia de diagnóstico clínico devido às características da dor que podemos encontrar no paciente. Porém, é muitas vezes negligenciada e confundida com outras patologias abdominais. A apendicite pode se classificar em quatro fases: hiperemia, abscesso, necrose e perfuração. Quanto mais avançada à fase, mais exuberante é o quadro clínico, porém pior prognóstico apresenta. Devido às variações anatômicas do apêndice e sua relação com abdome inferior e pelve, algumas vezes apresenta um quadro clínico diferente do habitual. Porém, esses quadros podem ser solucionados graças ao avanço tecnológico na área de imaginologia, o qual permitiu elucidar o diagnóstico de apendicite por meio de exames como ultrassonografia e tomografia computadorizada. A escala de Alvarado consiste em um método de pontuação para determinados sinais, sintomas e exames laboratoriais. Posteriormente, somam-se os pontos e classifica-se o paciente. Os critérios presentes na Escala de Alvarado são: dor em fossa ilíaca direita e leucocitose maior que 10.000 cel/mm³, dor migratória, dor à descompressão brusca, febre, náusea e/ou vômitos, anorexia e desvio a esquerda. A importância dessa escala se dá por ser um método simples de graduação de probabilidade de apendicite e apresenta alta sensibilidade e especificidade. Palavras-chave: Alvarado; Apendicite; Revisão. 1 Acadêmico(a) de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Brasil; Mestre em cirurgia e professor do curso de medicina da Universidade Federal do Tocantins. Endereço para contato: Thamires Ferreira Rios; [email protected] 2 46 Rev Pato Tocantins V.3, n. 02, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS ALVARADO´S SCALE FOR CLINICAL DIAGNOSTIC OF ACUTE APPENDICITIS ABSTRACT: Acute appendicitis is one of the main causes of acute inflammatory abdomen. It is a pathology of clinical diagnosis due to pain characteristics we can find the patient. However, it is often neglected and confused with other abdominal conditions. Appendicitis can be classified into four phases: hyperemia, abscess, necrosis and perforation. The more advanced the stage, more exuberant is the clinical picture, but poor prognosis features. Due to the anatomical variations of the appendix and its relationship to the lower abdomen and pelvis, sometimes it presents a different clinical picture than usual. However, these frames can be solved thanks to technological advances in the imaging area, which allows us to make the diagnosis of appendicitis through tests as ultrasound and CT. The Alvarado scale consists of a scoring method for certain signs, symptoms and laboratory tests. Subsequently, add up the points and classifies the patient. The criteria present in the Alvarado Scale are pain in the right iliac fossa and leukocytosis greater than 10,000 cells / mm³, migratory pain, the sudden decompression, fever, nausea and / or vomiting, anorexia and a left shift. The importance of this scale happens to be a simple degree of probability of appendicitis and has high sensitivity and specificity. Keywords: Alvarado; Appendicitis; Review. 47 Rev Pato Tocantins V.3, n. 02, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS é o sinal menos útil porque é muito INTRODUÇÃO variável e depende do o uso de A apendicite aguda é a primeira fármacos antipiréticos, a resposta causa de atenção cirúrgica nos serviços inflamatória e o uso de antibióticos pré- de urgência de todos os hospitais. O hospitalares, entre outros fatores4,6. diagnóstico precoce e correto é um dos Esta revisão tem por objetivo pontos mais importantes na abordagem apresentar uma proposta de melhora na dos de qualidade do atendimento ao paciente, apendicite aguda, principalmente por se na pontualidade e eficiência diagnóstica tratar de uma doença de progressão e rápida5,8. ambulatorial e de emergência, onde não pacientes com suspeita Esta é uma das doenças mais especialmente, no atendimento existem meios auxiliares de alto nível, comuns, descrita desde a antiguidade. como exames de imagem. Cursa com dor abdominal localizada em Para isso, realizamos uma fossa ilíaca direita acompanhada de revisão sistemática, construindo um náuseas, vômitos e febre1. Mesmo estudo observacional retrospectivo com estudada há séculos e com o advento da recuperação tecnologia, essa patologia apresenta literatura. Essa metodologia tem grande significativa morbidade e mortalidade. evidência científica, sendo indicadas na Além disso, a apendicite pode ter tomada de decisão na prática clínica ou sintomatologia não clássica e dificultar na gestão pública. o diagnóstico, extremos especialmente de idade. e análise crítica da em Busca-se DISCUSSÃO diagnosticar a doença baseando-se no curso clínico, exame físico e exames hematológicos e radiográficos O diagnóstico de apendicite (de aguda é baseado na história clínica e no preferência não invasivos) para que se exame físico. As técnicas de imagem tenha um diagnóstico precoce4,7. possuem valor limitado. Devido às A dor em fossa ilíaca direita é o variações anatômicas do apêndice, bem sinal mais comumente encontrado nos como da sua relação com estruturas da pacientes com apendicite aguda. A febre pelve e estruturas inferiores do abdome, 48 Rev Pato Tocantins V.3, n. 02, 2016 o diagnóstico geralmente, de um SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS apendicite desafio para é, caso de valores aumentados, o valor o preditivo positivo é pobre, segundo Luiz cirurgião5,7,8. A taxa aceitável de Hernández Miguelena, publicação sobre em sua sensibilidade e especificidade da escala de Alvarado5,6. apendicectomia negativa pode ser de 30%. No sentido de diminuir os índices Outros métodos diagnósticos são de apendicectomias negativas, tem se os de imagem: ultrassonografia (USG), empregado tomografia computadorizada (TC) e a diversos métodos para laparoscopia diagnóstica2,3. melhorar a certeza diagnóstica. Dentre eles, a contagem de leucócitos e A USG tem como vantagens o proteína C reativa (PCR), os quais são fato de não ser um método invasivo, é marcadores sistêmicos um procedimento fácil e não há constituir exposição do paciente à radiação. No inflamatórios inespecíficos podem alternativas auxiliares para a elucidação entanto, do diagnóstico2,7. definidas no caso de pacientes obesos, Os exames laboratoriais, nos casos não as não alças fornece imagens intestinais estão mostram distendidas. Além disso, pode ocorrer leucocitose moderada (10000 a 15000 pneumoperitônio, o paciente pode não 3 células/mm ) complicados, quando ela e/ou colaborar com o exame, o apêndice ou retrocecal pode não ser visualizado, ou moderado, que pode estar ausente em pode estar fase inicial da inflamação alguns casos, principalmente em idosos. passando despercebido. Por fim, embora O PCR é um fator importante dentre os seja um método útil, é operador elementos da resposta de fase aguda, dependente, ou seja, a precisão do devido à rapidez e extensão que sua diagnóstico depende da habilidade e concentração experiência do operador2. desvio à com neutrofilia esquerda aumenta discreto em uma variedade de condições inflamatórias, Na TC, o apêndice pode ser de danos teciduais (incluindo apendicite evidenciado aguda)7,8. pacientes normais. A sua distensão é Estudos demonstram que em em 67 a 100% dos considerado o primeiro sinal que pode valores normais de PCR e contagem de ser leucócitos não houve apendicite. No dependendo do grau de distensão do 49 visualizado na tomografia, Rev Pato Tocantins V.3, n. 02, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS órgão, do tamanho do tecido adiposo à TABELA sua volta e de como é realizado o exame Parâmetros (ex. espessura do corte). Considera-se Dor migratória para 01 espessura igual ou superior a oito fossa ilíaca direita milímetros de diâmetro transverso. Pode possuir líquido em seu interior3. laparoscopia é da escala de Alvarado apêndice espesso quando este apresentar A – PONTUAÇÃO I útil, Náuseas e/ou vômitos 01 Anorexia 01 Defesa de parede em 02 especialmente em mulheres, as quais QID do abdome podem apresentar outras patologias pélvicas que poderiam simular um episódio de apendicite aguda. Porém, Dor à descompressão 01 Febre 01 Leucocitose sua desvantagem está na falta deste (> 02 10000/mm3) recurso nos hospitais, além do aumento Desvio à esquerda do custo em relação aos métodos 01 cirúrgicos tradicionais2,3. Em 1986, foi criada uma escala Cada característica vale um (01) prática para o diagnóstico precoce de ponto, apendicite aguda, proposta por Dr. pontos. dentre os quais destacam-se: migração Assim, indicação (QID), anorexia, náuseas e/ou vômitos, aqueles com uma de tratamento cirúrgico; quando cinco ou seis, a probabilidade febre, abdome em defesa em FID e de apendicite aguda é alta, sendo presente indicado realizar exames de imagens (presença do sinal de Bloomberg); e os simples, como USG ou TC para parâmetros laboratoriais, que incluem a que a pontuação maior ou igual a sete (7), há da dor para quadrante inferior direito maior e pontos cada uma, totalizando dez (10) pacientes com suspeita de apendicite, leucocitose leucocitose direita (FID), os quais valem dois (02) sinais e sintomas mais frequentes em brusca a descompressão brusca em fossa ilíaca Alfredo Alvarado, no qual inclui os descompressão exceto confirmação do diagnóstico; no caso de 10000 pontuação menor que quatro (4), a células/mm3 e o desvio à esquerda no probabilidade de apendicite é baixa. A leucograma5. inflamação 50 do apêndice raramente Rev Pato Tocantins V.3, n. 02, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS apresenta-se com pontuação menor que o processo de infecção, e encaminhar o quatro4,5,6. paciente ao procedimento mais Segundo Juan Manuel Ospina, adequado de forma mais rápida, e com no artigo “Utilidade de uma escala menores custos, uma vez que se trata de diagnóstica em casos de apendicite um diagnóstico clínico. aguda”, os resultados mais A escala de Alvarado é útil significativos são: dor localizada em como quadrante dor apendicite aguda, tem alta sensibilidade, migratória, sinal de Blumberg positivo e boa especificidade e valor preditivo leucocitose. Já os critérios de náuseas e adequado. É simples, confiável e não vômitos, temperatura superior á 37,2 °C invasivo, de baixo custo e que pode ser e usado em serviços de emergência ou inferior anorexia direito, foram menos 6,7 discriminantes . ferramenta diagnóstica de internação. No entanto, é preciso uma O objetivo é melhorar a avaliação cuidadosa antes de estabelecer qualidade do atendimento ao paciente, a o diagnóstico, pois existem particulares pontualidade e eficiência diagnóstica, as quais não podem ser ignoradas. Em especialmente mulheres, por exemplo, deve-se levar ambulatorial e de emergência, onde não em conta a possibilidade de patologias existem meios auxiliares de alto nível, ginecológicas e obstétricas, e por isso, como exames de imagem. no atendimento devem ser realizados outros exames na admissão4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONCLUSÃO A considerado aplicação, escala um 1. BON, T.P.; FRASCARI, P.; de Alvarado método econômico, de baseado é fácil MOURA, M.A.; MARTINS, M.V.D.C. Comparativo entre pacientes com diagnóstico de na apendicite aguda atendidos em história clínica, exame físico e testes unidades de pronto atendimento laboratoriais facilmente acessíveis. Com e hospital de emergência. Rev. a utilização dessa escala, ainda podemos Col. Bras. Cir. 41(5): 341-344, reduzir complicações relacionadas com 2014. 51 Rev Pato Tocantins V.3, n. 02, 2016 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS 2. FEY, A. et al. Sensibilidade do método ultrassonográfico diagnóstico da Arquivos 7. SOUSA-RODRIGUES, no ROCHA, A.C.; RODRIGUES, apendicite. Catarinenses de Medicina. 40(3): , 2011. 3. JÚNIOR, M.E.M. C.F.; A.K.B.; BARBOSA, RAMOS, F.W.S.; F.T.; VALÕES, S.H.C. Correlação entre a Escala et al. de Alvarado e o aspecto Apendicite aguda: achados na macroscópico do apêndice em Tomografia Computadorizada – pacientes com apendicite. Rev. Ensaio Iconográfico.Radiologia Col. Bras. Cir. 41(5): 336-340, Brasileira. 2014. 40(3): 193–199, 2007. 8. SUÁREZ, L.Q.; PELAYO, M.I.; 4. MENDOZA, J.D.V.; MERINÕ, C.L.G. La escala de C.G.; Alvarado como recurso clínico RODRÍGUEZ, GUERRER, M.A.V. Evaluación para prospectiva de la Escala de laapendicitis Alvarado enel diagnóstico de Cubana de Cirugía. 54(2): 121- apendicitis 128, 2015. aguda. Cirujano General. 32(1): , 2010. 5. MIGUELENA, L.H.; SOLANO, D.R.D. Sensibilidad y especificidad de la escala de Alvarado eb apendicitis aguda en el Hospital Regional de Alta Especialidad de Veracruz. Cirujano General. 34(3): , 2012. 6. OSPINA, L.F.; J.M.; BARRERA, MANRIQUE, Utilidad diagnóstica de una en casos F.G. escala de apendicitis aguda. Rev Colomb Cir. 26: 234-241, 2011. 52 el diagnóstico aguda. de Revista