AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO: UMA REFLEXÃO DOS CONCEITOS E FUNÇÕES Cláudia Suéli Weiss1 - UNIVALI Aline Leandra Coelho² - UNIVALI Grupo de Trabalho – Metodologias para o Ensino e Aprendizagem no Ensino Superior Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente artigo tem por objetivo propor uma reflexão acerca do tema avaliação na educação. Um breve contexto histórico da avaliação, bem como a análise das distintas definições que localizamos para o termo avaliação, estão contempladas neste estudo. O nosso objeto é a avaliação da aprendizagem na educação; vamos apresentar neste trabalho formas de avaliação existentes e conceitos sobre o tema avaliação, utilizados pelos teóricos escolhidos para compor esta pesquisa. Podemos afirmar que na história da educação, a avaliação continuamente desempenhou o papel de qualificar, rotular e classificar os indivíduos. Com o passar do tempo, ampliando-se os estudos nessa área, essa conotação citada deu espaço a um conceito mais amplo do ato de avaliar. Para embasar a pesquisa, optou-se por aprofundar a relação avaliação e educação, sua determinação histórica e os modelos que a fundamentam à luz de alguns teóricos como Fernandes (2008), Loch (2010), Silva e Santos (2006), Haydt (2004), Esteban (2003), Kraemer (2005), Luckesi (2009) e Perrenoud (1999). Os resultados mostraram que o ensino pode ser focado não em classificar os mais aptos, mas sim em oferecer a todos os alunos a oportunidade de desenvolver suas habilidades, no maior grau que se pode alcançar. A avaliação do processo ensino e aprendizagem é indispensável em ambientes de educação, inclusive os de modalidade a distância, pois considera-se fator importante para a credibilidade e seriedade dos mesmos. É por meio da avaliação que verificamos o desempenho do aluno e podemos contribuir para o aperfeiçoamento do ambiente de estudo com base nas informações obtidas com tal procedimento. Se pensarmos 1 Graduada em Letras Português e Espanhol pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci. Especialista em Educação a Distância: Gestão e Tutoria pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci. Especialista em Metadisciplinaridade em Língua Portuguesa e Inglesa pela FACISA- Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas. Mestranda em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Docente do Ensino Superior no curso de Letras, no Centro Universitário Leonardo da Vinci. Docente de Língua Portuguesa na Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. ² Graduada em Normal Superior pela Faculdade Educacional da Lapa (FAEL). Especialista em Educação Infantil, Séries Iniciais e Gestão Educacional pelo Centro Nacional de Ensino Superior, Pesquisa, Extensão, Graduação e Pós-Graduação (CENSUPEG). Especialista em Gestão Pública pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Especialista em Educação para a Diversidade com ênfase em EJA pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Mestranda em Educação na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Coordenadora de Educação no Serviço Social da Indústria (SESI). E-mail: [email protected]. ISSN 2176-1396 19593 nos aspectos da avaliação e evidenciarmos o aprendizado, reduziremos significativamente os riscos de avaliar erroneamente e, muitas vezes, até de forma preconceituosa, pois a avaliação deve ser um processo contínuo de aprendizagem. Palavras-chave: Educação. Avaliação formativa. Avaliação somativa. EaD. Introdução A avaliação é um conceito polissêmico que no campo da educação necessita ser explicitado, para que nosso interlocutor entenda, entre outros pontos, qual o objeto a ser avaliado e quem é o sujeito avaliador. Trataremos aqui da avaliação da aprendizagem, aquela que é interna às escolas e que ocorre na sala de aula e é parte integrante do processo de ensino e aprendizagem, com o objetivo de propor uma reflexão acerca do tema avaliação na educação. Portanto, quando tratamos de avaliação da aprendizagem, o objeto a ser avaliado é a aprendizagem dos alunos e o sujeito avaliador é o professor. No entanto, quando o termo avaliação da aprendizagem é utilizado na escola, nem sempre se tem a clareza o que de fato está sendo avaliado, o que nos aponta que avaliar a aprendizagem dos alunos pode se constituir um processo difícil, muitas vezes tenso, que tanto pode promover e elevar a autoestima, seja do educando ou do educador, quanto pode baixá-la, consideravelmente. Ela, a avaliação, pode ainda causar um considerável sentimento de incompetência no docente, bem como induzir o discente à repetência, à evasão escolar e ao fracasso. A discussão sobre o contexto histórico da avaliação da aprendizagem não apresenta um consenso na literatura científica a respeito. Para Perrenoud (1999, p. 9), “a avaliação não é uma tortura medieval. É uma invenção mais tardia, nascida com os colégios por volta do século XVII, e tornada indissociável do ensino de massa que conhecemos desde o século XIX, com a escolaridade obrigatória”. Para corroborar com esta afirmação, Loch (2010), afirma que desde os primórdios da história da avaliação da aprendizagem e durante um período de tempo bastante relevante, a prática da avaliação esteve ligada à ideia de medir ou testar os conhecimentos dos educandos. Haydt (2004) traz à baila que isso aconteceu, principalmente, na década de 40 do século passado por conta do aperfeiçoamento dos instrumentos de medida em educação. A dificuldade em avaliar a partir desta ideia de medir ou testar o conhecimento dos educandos traz à baila várias questões: o que medir ou testar? Como? Com quais instrumentos? E, principalmente, para quê? Outra questão importante é: será que todos os 19594 aspectos do processo de aprendizagem podem ser medidos? Sendo assim, essa abordagem trazida por Loch logo evidenciou sua limitação. Com o passar do tempo, somente a partir da década de 1960, novas dimensões para o termo avaliação surgiram e foram sendo agregadas a ele ou sendo questionadas. Como isso, o termo avaliação sofreu uma profunda transformação desde que foi criado e começou a ser divulgado. De acordo com esse contexto, atualmente, o ato de avaliar não possui o mesmo significado que há 40 ou 50 anos. Os conceitos que o termo avaliação adquiriu ao longo da história A palavra avaliação nem sempre é bem recebida entre as diversas pessoas, pois muitas delas não têm uma experiência positiva correlacionada, basta conversar com um grupo e perceberemos muitas histórias já vivenciadas sobre essa temática. Por muitas vezes, ao longo dos tempos, ouvimos dos professores a palavra avaliação com conotação de cobrança, classificação ou reprovação. Isso ocorre porque nem sempre está claro, seja para o avaliado ou para o avaliador o objetivo real da avaliação. Trazemos para essa discussão, duas definições de avaliação abordadas em dicionário. Uma delas vem do dicionário Houaiss (2001, p. 353), que a define como “verificação que objetiva determinar a competência, o progresso etc. de um profissional, alunos etc.”. Para este dicionário, avaliar é determinar de forma objetiva a competência de alguém. Já o dicionário Michaelis (2008, p. 100), aborda o termo avaliação como significando “ato de avaliar; determinação do preço justo de qualquer coisa que pode ser vendida, valor de bens, determinados por avaliadores” e, também, “calcular ou determinar o valor; o preço ou o merecimento de; reconhecer a grandeza; a intensidade; a força; apreciar; calcular[...]”. Neste contexto, avaliar é dar um juízo de valor a algo ou a alguma coisa. Nos meios acadêmicos percebemos que não há um conceito claro e determinado sobre o termo. Lukas e Santiago (2009) apontam em suas pesquisas mais de cem definições de avaliação em que cada autor a descreve de uma maneira distinta dependendo de suas concepções e ano de publicação de sua obra, a sua definição de avaliação, apontando que com o tempo e o aprimoramento das pesquisas, o tema vai adquirindo novas concepções. Apresentaremos então, conceitos de avaliação segundo autores que listamos na pesquisa. Para Kraemer, (2005), o termo avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir valor e mérito ao objeto em estudo. Para esta autora, avaliar é atribuir um juízo de valor à propriedade de um processo para a aferição da qualidade do seu resultado; porém, a compreensão do processo de avaliação, do processo de ensino e aprendizagem tem sido 19595 pautada na lógica da mensuração, isto é, associamos o ato de avaliar ao de “medir” os conhecimentos adquiridos pelos alunos. No entanto, para outros autores, avaliar é mais que medir os conhecimentos adquiridos. Oliveira (2008, p.230) ao abordar a temática, assim define avaliação “A avaliação consiste em um processo mais amplo que pode tornar a medida como uma de suas dimensões, mas se associa à elaboração de juízo de valor sobre a medida e a proposição de ações a partir dela. Este autor aponta que a medida é uma dimensão da avaliação e acrescenta mais um ponto no processo: a importância de se pensar o que fazer com os resultados destas medidas. Este é um ponto importante, pois, muitas vezes, a avaliação é vista e praticada na escola como uma ação final do processo, o professor planeja, coloca em ação o que planejou e depois faz uma prova para “avaliar” se o aluno aprendeu ou não o conteúdo proposto. Essas ações são realizadas como se cada parte do professor fosse uma ação em si, sem relação com a outra. Com os resultados das provas, ele atribui um juízo de valor sobre isso, as notas, e fim, não reflete sobre aqueles resultados obtidos e as possíveis possibilidades de ações posteriores a essa realização, como nortear seu planejamento de ensino. Já Esteban (2003, p.22-23) vai nos ajudar a pensar sobre o que fazer com os resultados da avaliação ao afirmar que: avaliar é interrogar-se. Precisamos indagar: por que não? A pergunta por que não nega a absolutização do saber e do não saber e ressalta a relevância de se considerar a construção do conhecimento como uma possibilidade permanente. Esta pergunta convida a ultrapassar os limites do já conhecido, do que foi observado no contexto de produção e socialização do saber, sugerindo a existência de possibilidades até então desconhecidas. Nesse ponto é que reside a importância de se entender a avaliação da aprendizagem não como um fim em si mesma, mas como um processo que envolve o aluno, o professor, aquilo que foi ensinado e aquilo que foi apreendido. Para Hoffmann (2001, p.78), as avaliações mostram ações provocativas do professor, que desafia o aluno a refletir sobre as experiências vividas, a formular e reformular hipóteses, direcionando para um saber enriquecido e com maior sentido. Ele menciona que “relação professor e aluno, via avaliação, constitui um momento de comunicação para os dois sujeitos, em que cada um deles estará interpretando [...] e refletindo sobre o conteúdo, [...] a efetivação da aprendizagem”. Para Vasconcelos, em uma entrevista concedida à revista Nova Escola, avaliar é: 19596 localizar necessidades e se comprometer com sua superação. Em qualquer situação da vida, a questão básica da avaliação é: o que eu estou avaliando? No sentido escolar, ela só deve acontecer para haver uma intervenção no processo de ensinoaprendizagem. Este autor traz para a discussão um ponto que merece destaque: a clareza do avaliador sobre o objeto avaliado. Muitas vezes, por falta de clareza no objeto a ser avaliado os professores acabam por avaliar comportamentos que não passaram por um processo de ensino, ao invés de conteúdos trabalhados em sala de aula; a avaliação da aprendizagem passa a ser um juízo de valor do professor sobre o comportamento dos alunos. São atitudes como estas que muitas vezes levam algumas pessoas a não terem lembranças positivas com relação à avaliação em sua caminhada discente. Dessa maneira, destacamos nesse momento da pesquisa, uma forma de agir perante à avaliação, a partir, também, de Luckesi (2009) que concebe a avaliação como um ato amoroso. Ele concebe o ato amoroso como sendo aquele que acolhe a situação, na sua verdade, manifestando assim, o ato amoroso consigo mesmo e com os outros. O ato amoroso para o referido autor, é um ato que acolhe atos, ações, alegrias e dores como eles são: acolhe para permitir que cada coisa seja o que é, neste momento. Luckesi (2005, p. 34-35) afirma que: o momento da avaliação deveria ser um momento de fôlego na escalada para, em seguida, ocorrer a retomada da marcha de forma mais adequada e nunca um ponto definitivo de chegada, especialmente quando o objeto de ação avaliativa é dinâmico como, no caso, a aprendizagem. Com a função classificatória, a avaliação não auxilia em nada o avanço e o crescimento. Somente com uma função diagnóstica ela pode servir para esta finalidade. Avaliar como um ato amoroso é compreender a avaliação para além de classificar aqueles que atingiram ou não os objetos propostos. É pensar naquele que não os atingiu e, principalmente, porque isso ocorreu; momento para repensar as metodologias e as formas de mediação utilizadas até o momento; o comprometimento do docente para com a avaliação é fator primordial, pois este deve zelar pela superação dos alunos. Quando utilizamos a avaliação apenas para classificar os alunos, deixamos de considerar os motivos da não aprendizagem, não pensamos no processo e responsabilizamos, às vezes, de forma injusta, unicamente o aluno por seu fracasso escolar. Antes de qualquer julgamento, cabe ao professor e à escola, certitificarem-se da eficácia, no que tange suas práticas pedagógicas durante o processo de ensino e 19597 aprendizagem, pois com a avaliação, objetiva-se crescimento e avanço tanto da instituição como do docente e do discente. Outro empecilho da classificação é a supervalorização do mérito com distinção entre os melhores e os piores alunos. Dubet (2008, p.10) que discute se a igualdade meritocrática das oportunidades torna a escola mais justa, afirma: [...] defendo que a igualdade das oportunidades pode ser de uma crueldade para os perdedores de uma competição escolar encarregada de distinguir os indivíduos segundo seu mérito. Uma escola justa não pode se limitar a selecionar os que têm mais mérito, ela deve também se preocupar com a sorte dos vencidos. Sendo assim, observar e praticar a avaliação como um ato amoroso, como afirma Luchesi e destinar um olhar para os “vencidos”. Hoffmann ainda contribui com nossa pesquisa afirmando que a avaliação “deixa de ser um momento terminal do processo educativo para se transformar na busca incessante de compreensão das dificuldades e na dinamização de novas oportunidades de conhecimento” (2004, p.19). Após conhecer os conceitos apresentados, percebemos que os mesmos apresentam distinções, no entanto, sua maioria afirma que a avaliação enseja um momento de aprendizagens significativas e de nortear o caminho a ser percorrido por docentes e alunos. Em outras palavras, a avaliação é uma etapa importante e necessária do processo de ensino, na qual o objetivo é garantir a aprendizagem, evidenciar posturas e escolhas metodológicas bem como o resultado dos objetivos educacionais estabelecidos e que auxilia o professor a emitir juízos de valores mais objetivos sobre o que foi de fato ensinado e pode ser avaliado. Avaliação da aprendizagem em educação na modalidade de ensino online Como vimos, a avaliação é um elemento que integra e regula a prática educativa. É essencial, mas não pode ser o foco do processo ensino e aprendizagem. Mas ao tratarmos de avaliação, é necessário destacar que as ações avaliativas, segundo Loch (2010) assumem duas dimensões: Formativa e Técnica. A dimensão formativa é processual e descritiva, possui duas funções: o diagnóstico e o monitoramento, indicando os níveis já consolidados pelos alunos. A dimensão técnica é de ordem burocrática, tendo como função regular os tempos escolares em ciclos, séries e ano e apresenta um caráter classificatório. 19598 Ao pensarmos na avaliação em EaD (Educação a Distância), é importante destacar o conceito de avaliação formativa defendida por Perrenoud (1999, p.182). Segundo este autor, avaliação formativa é: [...] toda prática de avaliação contínua que pretenda melhorar as aprendizagens em curso, contribuindo para o acompanhamento e orientação dos alunos durante todo seu processo de formação. É formativa toda a avaliação que ajuda o aluno a aprender e a se desenvolver, que participa da regulação das aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de um projeto educativo. Compreender a avaliação na EaD como formativa, é trazer para o processo o aluno envolvendo-o e comprometendo-o com seu processo formativo. Primo (2006 p.37), salienta que o modelo de ensino tradicional e autoritário que conhecemos, ainda orienta muitas práticas de educação online. O autor afirma que: As aulas “expositivas” convertem-se em apostilas digitais. Apesar de uma aparente rede hipertextual, o estudante tem a seu dispor caminhos predefinidos que devem ser seguidos e fases sequenciais a serem vencidas. Ao fim desse trajeto determinístico, testes de múltipla escolha aguardam para avaliar o aluno. A avaliação da aprendizagem na sala de aula online, devido a sua especificidade, por sua vez, enseja rupturas para com o modelo tradicional de avaliação, historicamente enraizado na sala de aula de ensino presencial. Sendo assim, se o docente não quiser repetir os mesmos desencontros ou equívocos que encontramos na avaliação tradicional, deverá buscar novas posturas, novas estratégias de engajamento no contexto mesmo da docência e da aprendizagem, visando redimensionar suas práticas de avaliar a aprendizagem e sua própria atuação (SILVA, 2006). Assimilar os diferentes conceitos de avaliação e, estabelecendo relação entre eles, entendendo que todos têm seus limites e possibilidades, tanto na EaD quanto na modalidade presencial nos ajuda a compreender outros conceitos no campo da avaliação, as chamadas modalidades da avaliação: diagnóstica, somativa e formativa. Podemos afirmar que faz-se necessário que a avaliação contenha um caráter processual e diagnóstico, pois, assim, ela auxiliaria os docentes na identificação dos aspectos nos quais os alunos apresentam dificuldades. Esse fator refletiria na prática docente, pois este profissional buscaria formas de solucionar problemas de aprendizagem ainda no decorrer do processo em que o discente se encontra e não apenas no final de um ciclo, ano ou unidade, Segundo Luckesi, para se viabilizar a avaliação diagnóstica é necessário compreendêla, bem como realizá-la com uma concepção pedagógica: 19599 No caso, considerarmos que ela deva estar comprometida com uma proposta pedagógica histórico-crítica, uma vez que esta concepção está preocupada com a perspectiva de que o educando deverá apropriar-se criticamente de conhecimentos e habilidades necessárias à sua realização como sujeito crítico dentro desta sociedade que se caracteriza pelo modo capitalista de produção. A avaliação diagnostica não se propõe e nem existe uma forma solta isolada. É condição de sua existência e articulação com uma concepção pedagógica progressista" (LUCKESI 2005, p.82). Portanto, diagnosticar é fazer uma descrição detalhada e ou ter compreensão ampla de algo pela observação dos sintomas. Utiliza-se essa modalidade, na educação, quando o professor deseja diagnosticar os pontos fracos e fortes do discente na área do conhecimento onde resulta o processo de ensino e aprendizagem. É por meio do diagnóstico que o professor pode emitir seu juízo de valor sobre o conhecimento prévio que o aluno possui sobre o que irá ser trabalhado, para então pensar como e o que irá trabalhar; portanto ela ocorre antes do processo de ensino e aprendizagem. Luckesi (2009) afirma que qualquer prática avaliativa é diagnóstica, ocorra em que momento for a ação. Segundo Haydt (2004), a avaliação diagnóstica é realizada no início do curso, com a intenção de constatar se os alunos apresentam ou não domínio dos conhecimentos e habilidades para novas aprendizagens. Além disso, a avaliação diagnóstica pode nortear o planejamento do professor, pois este, com base no diagnóstico realizado, possui ferramentas que o permitirão ponderar sobre o que, de fato, deve ser trabalhado com cada turma. A avaliação Somativa é a dimensão técnica e burocrática da avaliação. Visa proporcionar uma medida que poderá ser expressa em uma nota ou conceito, ao final de cada unidade de ensino ou ao final de cada bimestre ou, ainda, no final do ano letivo (LOCH, 2010). Tem como função básica, a classificação dos alunos de acordo com os níveis de aproveitamento previamente estabelecidos. Sua função principal é dar certificado. Fernandes (2008, p.364) descreve que: o que interessa ao professor, em termos de avaliação somativa, em termos de balanço, não é o fato de um aluno não ter sabido algo num dado dia e, por isso, ser penalizado com uma informação negativa para efeitos desse mesmo balanço. O que verdadeiramente lhe interessa é saber: se o aluno aprendeu; como é que ultrapassou as dificuldades; as razões que poderão ter impedido que assim acontecesse; o que foi efetivamente feito pelo aluno e pelo professor para dissipar as dificuldades. Concluímos então, que a função da avaliação somativa é posicionar o aluno em relação ao cumprimento dos objetivos de aprendizagem estabelecidos. A finalidade dessa modalidade é a tomada de decisões sobre apoios e complementos educativos e regime de progressão do aluno, portanto ela é realizada após o processo de ensino e aprendizagem. 19600 Enquanto a avaliação somativa tem como objetivo final a certificação e medição de resultados, a avaliação formativa é interna ao processo, mais centrada no estudante. Inventariar, harmonizar, tranquilizar, apoiar, reforçar entre outras, são as principais funções da avaliação Formativa. Por adquirir função semelhante à avaliação diagnóstica, alguns autores não a diferenciam. É um processo de regulação de responsabilidade do professor. Esteban (2003, p.19) a respeito da avaliação formativa para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, descreve que: avaliar o aluno deixa de significar e fazer um julgamento sobre a sua aprendizagem, para servir como momento capaz de revelar o que o aluno já sabe, os caminhos que percorreu para alcançar o conhecimento demonstrado, seu processo de construção do conhecimento, o que o aluno não sabe e o caminho que deve percorrer para vir, a saber, o que é potencialmente revelado em seu processo, suas possibilidades de avanço e suas necessidades para a superação, sempre transitória, do não saber. Sobre essa modalidade, podemos concluir que por ela ocorrer durante o processo de ensino e apresndizagem, deve ser fundamentada no diálogo, possui como objetivo o reajuste constante do processo de ensino exigindo muito envolvimento do professor como: disponibilidade de tempo além das aulas para o registro sobre cada aluno, bem como a atualização do mesmo sempre que novos dados surgirem. Como vimos, quando pesamos em avaliação, há muito o que se pensar e se esclarecer antes de se emitir um juízo de valor sobre seus resultados, pois falar em avaliação também significa discutir questões como inclusão e exclusão, privilégios e direitos, pois todos os alunos possuem direito à educação de qualidade, principalmente nos dias de hoje, nos quais apenas o resultado do desempenho dos alunos em outro tipo de avaliação, a externa, tem sido utilizado para verificar se uma escola oferece um ensino de qualidade ou não. Loch (2010) propõe uma reestruturação interna nas instituições de ensino quanto à sua forma de avaliação. O importante é estabelecer um diagnóstico correto para que cada aluno possa identificar as possíveis causas de seus fracassos, visando uma maior qualificação. Luckesi (2005) ainda ressalta que avaliar é diferente de verificar. O autor enaltece que na verificação “congelamos” o objeto num dado momento, enquanto na avaliação estamos preocupados com a ação. Se isso é importante para o processo de ensino e aprendizagem presencial, ele é fundamental no processo que ocorre de forma online. Silva e Santos (2006) nos auxiliam nesse momento da discussão e ressaltam que na educação online: 19601 precisamos estimular a avaliação, e não simplesmente a verificação, pois muitas das decisões adaptativas de locais, tempo, ritmo e hábitos de estudo, são definidas pelos estudantes, mesmo quando delineadas pelos professores. [...] Desse modo, a avaliação precisa incluir situações de aprendizagem da vida real e problemas significativos, que permitam compreender os fenômenos e conhecer melhor a sua natureza (p. 127). Apoiamo-nos nas palavras de Silva (2006) que menciona que professores e alunos devem construir uma rede e não uma rota. O autor ainda destaca que, uma sala de aula requer investimentos: - Oferecer múltiplas informações em imagens, sons textos, etc., utilizando ou não tecnologias digitais, mas sabendo que estas, utilizadas de modo interativo, potencializam consideravelmente ações que resultam em conhecimento. [...] – Estimular cada aprendiz a contribuir com novas informações e a criar e oferecer mais e melhores percursos, participando como coautor do processo (2006, p.32). Como podemos notar, avaliar não é um problema no processo de ensino e aprendizagem, os grandes desafios são objetivos (bons instrumentos, quantidade de alunos, etc.) e subjetivos (compreensão dos conceitos do campo, valores pessoais dados ao que é ensinado). Podemos afirmar que se quisermos avaliar o progresso dos estudantes, de maneira geral, precisaremos antes saber, com clareza, onde queremos que cheguem; quais são os objetivos a serem alcançados, o que iremos avaliar e, principalmente, o que faremos com estas informações adquiridas. Dessa maneira, as expectativas e metas fixadas na educação presencial e na educação online, bem como os objetivos propostos, devem inspirar os processos de trabalho dos docentes, visando o êxito dos estudantes e que estes os alcancem com autonomia e criatividade. Considerações finais Pensar em avaliação, como vimos, não é nada fácil. Se pensarmos em como avaliar na modalidade a distância ou educação online, percebemos que nosso desafio, enquanto docentes e gestores, pode tornar-se ainda mais complexo. Uma das finalidades da avaliação da aprendizagem na EaD, de acordo com Loch (2010), seria avaliar o aluno de tal forma que ele perceba seus pontos fracos e fortes e que os primeiros sejam corrigidos durante e após o curso que ele frequenta. Essa ideia nos permite conceber a avaliação como um processo contínuo de aprendizagem e que pode ser levada em consideração quando realizamos um curso de 19602 educação a distância, online ou frequentamos a modalidade presencial. A avaliação da aprendizagem é benéfica para o trabalho do docente, no sentido de promover o processo de ensino e aprendizagem e majorar sua habilidade para auxiliar os alunos a tornarem-se aprendizes mais eficientes. O ensino, por sua vez, pode ter como foco principal o fato de não classificar os mais aptos, mas sim oferecer a todos os alunos a oportunidade de desenvolver suas habilidades, no maior grau que se pode alcançar, visto que todos possuem habilidades e estas, muitas vezes, são distintas e não melhores ou piores. A avaliação do processo de ensino e aprendizagem é indispensável em ambientes de educação, pois considera-se fator importante para a credibilidade e seriedade dos mesmos. É através da avaliação que verificamos o desempenho do aluno e podemos contribuir para o aperfeiçoamento do ambiente de estudo com base nas informações obtidas com tal procedimento. A autonomia do discente ao participar das propostas de atividades de ensino, no ambiente online ou presencial, seja ela de forma individual ou coletiva, bem como o diálogo entre eles e o docente e uma estrutura de curso que possibilite esse tipo de vivência educativa, podem servir de fundamentação para cursos de EaD que concretizem uma prática docente crítica e construtiva. Por meio da avaliação da aprendizagem bem planejada, é possível gerar informações necessárias sobre o tipo de atividade, ou até mesmo se o tipo de tecnologia utilizada em determinada atividade está ou não proporcionando um melhor desempenho por parte do aluno, possibilitando, assim, repensar o processo avaliativo. Se pensarmos em todos os aspectos da avaliação (função, objetivo, etc.), e evidenciarmos o aprendizado, reduziremos significativamente os riscos de avaliar erroneamente e, muitas vezes, até de forma preconceituosa, pois, a avaliação deve ser um processo contínuo de aprendizagem para os diferentes atores que dela participam. REFERÊNCIAS DUBET, François. O que é uma escola justa? A escola das oportunidades. Tradução Ione Ribeiro Valle. São Paulo: Cortez, 2008. ESTEBAN, M. T. (Org.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. 19603 FERNANDES, D. Para uma teoria da avaliação formativa. Revista Portuguesa de Educação, 2008, v.19, n.41. Disponível em: < http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1454/1454.pdf>. Acesso em 08 ago. 2015. HAYDT, R. C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. São Paulo: Ática, 2004. HOFFMANN, J. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2001. HOFFMANN, J.; ESTEBAN, M. T. (orgs.) 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