Reflexão pessoal: A memória Marta Palma, 12ºA Como inúmeros outros termos (inteligência, emoção, atenção) a memória é uma palavra amplamente utilizada na nossa linguagem do dia-a-dia. A partir do uso desse termo em vários contextos da nossa vida, nós tendemos a imaginar que a memória é uma atividade mental responsável pelo armazenamento das informações no nosso cérebro que podem ser resgatadas quando necessárias, no entanto, a memória é bem mais que isso. A memória humana é um sistema bastante complexo que, apesar da sua enorme capacidade e importância, se pode revelar de um momento para outro falível. Todos nós nos queixamos, por vezes, de que a nossa memória é horrível. Mas muito pelo contrário, trata-se de um sistema magnífico sem o qual não existiria aprendizagem, as relações interpessoais seriam impossíveis e passaríamos a viver um eterno presente. A memória é o fundamento de todos os comportamentos e conhecimentos dos seres humanos, além de se encontrar associada às emoções e à capacidade de decisão: é a memória que assegura a adaptação ao meio ambiente e gera a atribuição subjetiva de significações às nossas vivências. Nós somos seres feitos de memória, coletiva e individual. A própria consciência pessoal depende do bom funcionamento da memória. A memória é a capacidade de adquirir (aquisição), armazenar (consolidação) e recuperar (evocar) informações disponíveis, seja internamente, no cérebro (memória biológica), seja externamente, em dispositivos artificiais (memória artificial). A memória focaliza coisas específicas, requer grande quantidade de energia mental e deteriora-se com a idade. É um processo que conecta pedaços de memória e conhecimentos a fim de gerar novas ideias, ajudando a tomarem decisões diárias. A memória declarativa, como o nome sugere, é aquela que pode ser declarada (factos, nomes, acontecimentos, etc.) e é mais facilmente adquirida, mas também mais rapidamente esquecida. Para abranger os outros animais (que não falam e logo não declaram, mas obviamente lembram), essa memória também é chamada explícita. Memórias explícitas chegam ao nível consciente. Esse sistema de memória está associado com estruturas no lobo temporal medial (ex: hipocampo, amígdala). Os psicólogos distinguem dois tipos de memória declarativa, a memória episódica e a memória semântica. São instâncias da memória episódica as lembranças de acontecimentos específicos. São instâncias da memória semântica as lembranças de aspetos gerais. Já a memória não-declarativa, também chamada de implícita ou procedural, inclui 1 procedimentos motores (como andar de bicicleta, desenhar com precisão ou quando nos distraímos e vamos no "piloto automático" quando dirigimos). Essa memória depende dos gânglios basais (incluindo o corpo estriado) e não atinge o nível de consciência. Ela em geral requer mais tempo para ser adquirida, mas é bastante duradoura. A memória é a base do conhecimento, como tal, esta deve ser trabalhada e estimulada. É através dela que damos significado ao quotidiano e acumulamos experiências para utilizar durante a vida. Neste tema da memória decidi aprofundar esta mesma um pouco mais pesquisando mais alguns tipos de memória existentes. Existem, pelo menos, três diferentes processos que podem ser identificados na memória humana responsáveis pela realização das suas operações, como a codificação, a retenção e a recuperação. O primeiro processo é de primordial importância, é o processo de reconhecimento de Padrões. Este processo acontece na Memória SensorialMotora e envolve a associação de um significado a um padrão sensorial. A Memória Sensorial é um sistema de memória que através da percepção da realidade pelos sentidos retém por alguns segundos a imagem detalhada da informação sensorial recebida por alguns dos órgãos dos sentidos, esta é responsável pelo processamento inicial da informação sensorial e da sua codificação. O segundo processo acontece na chamada Memória de Curto Prazo que recebe as informações já codificadas pelos mecanismos de reconhecimento de padrões de memória Sensorial-Motora e retém estas informações por alguns segundos, talvez alguns minutos, para que estas sejam utilizadas, descartadas ou até mesmo organizadas para depois serem armazenadas. O terceiro processo acontece na Memória de Longo Prazo que recebe as informações da Memória de Curto Prazo e armazena-as, esta possui uma capacidade ilimitada de armazenamento e as informações ficam nelas armazenadas por tempo ilimitado. Por curiosidade, memória Sensorial-Motora funciona como um depósito de capacidade ilimitada que armazena uma imagem do mundo de que o sistema sensorial recebe. Consiste numa memória de curto prazo, dura entre 0,1 a 0,5 segundos. Para estimar a duração da Memória Sensorial-Motora podemos fazer alguns exemplos experimentais: 2 Ao fechar os olhos e abri-los rapidamente em pequenos intervalos de tempo e fecha-los novamente, podemos notar que ainda podemos ver por um curto tempo uma imagem clara do que vimos com os olhos abertos. Ao balançar uma caneta com os dedos da frente nos olhos, nós podemos ver apenas uma imagem de um movimento contínuo do balançar da caneta que se assemelham a uma onda e não à imagem dos movimentos discretos. Quando falamos em memória certamente nos lembramos de doenças associadas e que afetam a mesma. A exploração deste tema é deveras importante para estarmos informados e atentos a eventuais sinais. Uma síndrome que, confesso, não conhecia, é a Síndrome de Korsakov (ou Korsakoff). Esta é uma neuropatologia associada à carência de Vitamina B1 (tiamina), traumas cranianos, encefalite herpética, intoxicação pelo monóxido de carbono e indiretamente mas muito comumente ao alcoolismo crónico, pois o álcool prejudica a capacidade do organismo de absorver a Vitamina B1. Os sintomas da Síndrome de Korsakov são a amnésia anterógrada, a amnésia retrógrada e muito comumente a confabulação e uma desorientação temporoespacial. Acompanham esses sintomas uma severa apatia e desinteresse por parte do doente, que muitas vezes não é capaz de ter consciência de sua condição. Como já referi, um dos sintomas desta síndrome é então a amnésia anterógrada. Para percebermos um pouco melhor do que se trata este tipo de amnésia resolvi primeiramente apresentar um vídeo que nos dá um exemplo real de um jovem que sofre de amnésia anterógrada, tendo assim que gravar tudo o que se passa no seu dia para depois recordar. http://www.youtube.com/watch?v=Ak6ld8CRFkc Há várias causas que podem provocar amnésia, como por exemplo: infecções que atingem o tecido cerebral do cérebro, ferimentos ou pancadas na cabeça, um derrame cerebral, alcoolismo, etc. Se há várias causas que provocam amnésia, consequentemente há também vários tipos de amnésia, e como referi à pouco, irei-me centrar na amnésia anterógrada. Normalmente a amnésia anterógrada é cauda por um traumatismo forte. Esta forma de amnésia é posterior ao trauma cerebral e o indivíduo só se consegue lembrar de eventos decorridos antes do trauma e tem a incapacidade ou dificuldade de se recordar de eventos recentes. 3 Este tipo de amnésia está, de uma forma excelente, retratada no filme “Memento”. Aconselho então a visualização deste filme pois, apesar de ser um filme de difícil entendimento, é ótimo e ajuda-nos a perceber o drama em que as pessoas com amnésia vivem e principalmente a perceber o que é e em que consiste este tipo de amnésia: a amnésia anterógrada. Proponho ainda a visualização de outro filme, igualmente interessante, que também retrata este tipo de amnésia: “Como se fosse a primeira vez”. Nesta comédia, a protagonista sofre de uma amnésia muito grave que a impede de avançar cronologicamente com a sua memória, tendo estagnado no mesmo dia em que a doença lhe apareceu. Apesar da sua memória não lhe permitir avançar com a sua vida, a protagonista acaba por encontrar o seu grande amor, servindo, por isso, este filme para evidenciar que apesar de existirem pessoas que sofrem muito, em termos de memorização, estas são capazes de viver uma vida“normal”. O trailer deste filme encontra-se no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=H1SVxJZTgI4 Por tudo isto persisto na ideia que as nossas memórias recentes condicionam muito o nosso futuro, pois são elas que um dia mais tarde se tornarão em memórias antigas e serão a nossa identidade. Sem memória não temos identidade, pois a memória, é o conjunto das nossas representações sociais, e consequentemente as nossas representações são as perceções do meio onde estamos inseridos. Se modificarmos as nossas representações, a nossa perceção do mundo vai ser completamente diferente da realidade, criando, assim, uma realidade imaginária, inexistente. Fazendo uma retrospetiva de todo o trabalho, tudo o que fazemos e o que fizemos tem alguma ligação com a memória, seja ela implícita ou explícita. A sua velocidade surpreendente ajuda-nos em instantes e instrui-nos para agirmos por vezes de um determinado modo. Não há aprendizagem sem memória, nem sequer uma atividade cerebral minimamente estruturada. Quando dizemos que aprendemos ou sabemos algo, queremos de facto dizer que fixamos os conteúdos ou as operações que acabamos de adquirir na memória. Neste sentido saber ou aprender é um processo que começa numa perceção, uma instrução verbal, um gesto repetido e termina na memória, que armazena a informação para uma possível utilização futura. 4 Em suma, a memória é parte essencial da nossa vida enquanto ser humano. É a memória que assegura a nossa identidade pessoal, pois se perdemos a memória, nem saberemos quem somos como observamos no filme “Memento”. Isto revela-nos a incapacidade de reter informação, e até a sua identidade pessoal. Referências bibliográficas http://pt.wikipedia.org/wiki/Mem%C3%B3ria http://pt.wikipedia.org/wiki/Mem%C3%B3ria_humana http://www.slideshare.net/rolandoalmeida/a-memoria-3131518 http://psicob.blogspot.pt/2008/04/amnsia-antergrada.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Memento_(filme) 5