Nova Gramática Brasileira INTRODUÇÃO: A história da escrita remonta do ano 4000 a.C., na Mesopotâmia, através de desenhos simplificados chamados de “Pictogramas”, os quais representavam a realidade cotidiana daquele povo. Já o Português se tem notícia que no Século III a.C., através dos soldados romanos, dava seus primeiros sinais de existência derivado do Latim e que posteriormente, aproximadamente no Século XV d.C., ele já era usada em documentos. Entretanto, foi só no Século XVI que Fernão de Oliveira e João de Barros publicam a Gramática da Língua Portuguesa, em 1536 e 1540 respectivamente, dando, assim, início aos reais estudos da ortografia da língua portuguesa. No século XVII tem-se Duarte Nunes de Leão que defendia um posicionamento ortográfico Etimológico, onde se entendia que a palavra deveria ser escrita conforme sua grafia de origem e reproduzindo-se todas as letras do étimo, esculptura, por exemplo, enquanto que, João de Barros argumentava dentro do pensamento ortográfico Fonético e ressaltava a importância da escrita conforme sua pronúncia, ezame (exame), por exemplo. No século XVIII as figuras de João Morais de Madureira Feijó, 1739, e sua Orthographia, ou Arte de Escrever e Pronunciar com Acerto à Língua Portugueza e Luís Antônio Verney, 1746, com o Verdadeiro Método de Estudar, destacam-se pela importância no trato da ortografia e pela crítica a etimologia vigente em Portugal. Segue-se ao século XIX onde aparecem nomes como Antoine Arnauld, Claude Lancelot e Jeronymo Soares Barbosa – 1822 – que conseguiram através das obras: Gramática de Port Royal, Gramática Geral e Razoada e Gramática Philosophica da Língua Portuguesa influenciar estudiosos daquela época, bem como José Feliciano de Castilho – 1860 – com sua Orthographia Portugueza ressaltar a importância do sistema etimológico na ortografia. É apenas no século XX que a idéia de regulamentar e fixar uma ortografia tem início. Nesse sentido, em 1904, Gonçalves Alves lança a Ortografia Nacional, obra essa que tinha como alicerces os princípios da simplificação, regularidade e continuidade. Logo em 1932 tem-se a oficialização do Acordo Ortográfico, pelo Governo Brasileiro, através da Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, que, rapidamente, foi revogado pela Constituição Brasileira de 1934. Em 1943 estudiosos representantes dos dois Países promoveram o Acordo Ortográfico de 43, que continha discretas mudanças à anterior, mas que por divergências quanto a regras foi substituído pelo Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro de 1945. Ainda assim, continuavam a existir ruídos linguísticos por interpretações que advinham tanto do acordo de 43 quanto do de 45, o que fez, em 1967, haver mais uma propositura de acordo através da Proposta para Unificação da Língua Portuguesa. Em 1975 sinalizaram para um novo acordo ortográfico que tornava facultativa a grafia de todos os pontos de discórdia anteriormente percebidos. Em 16 de dezembro de 1990 é assinado, em Portugal, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, contando com a presença de representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, bem como o TimorLeste que, em 2004 e após a conquista de sua independência, assinou o mesmo Acordo e aderiu ao seleto grupo. Importante ressaltar que independentemente de qualquer coisa, a Língua deve ser interpretada como instrumento de mudança de paradigmas, tendo como corpo principal o fato de ser usada e desenvolvida para dar “imortalidade” à fala. Assim, toda argumentação histórica e repleta de conflitos apresentada nos capítulos anteriores nos remete a uma pergunta: “se as mudanças são tão complexas e provocam discórdia, vale mesmo apena promovê-las?” Pode-se não haver uma resposta exata, mas algumas proposições positivas a mudança estão baseadas no fato de a Língua Portuguesa ser a terceira mais falada na Europa, depois do Inglês e Espanhol, e que sua unificação contribuiria, sobremaneira, para uma maior disseminação nos demais países. Fala-se, também, que a unificação da Língua não alteraria significativamente a ortografia dos países envolvidos, pois apenas 1,6% em Portugal e 0,5% no Brasil estariam sujeitas as mudanças em seus vocábulos. Finalmente, vê-se que a unificação é positiva quando se consegue expandir as fronteiras culturais entre os países Lusófonos, como a introdução de livros, por exemplo. Entretanto, há uma linha mais resistente as mudanças que acredita que a difusão de uma língua está mais alicerçada nos poderes políticos, econômicos e culturas que da sua mera grafia. Afirma-se que os custos das mudanças, em valores, representaria uma grande perda de material existente e que seria descartado por falta de serventia, e intelectual, por haver a real necessidade de se ensinar aos que algo sabiam e o novo aos que estão por aprender, acarretando, com isso, uma perda de tempo quase que irreparável para os envolvidos. Expostas algumas considerações favoráveis e contrárias às mudanças, passa-se, agora, a uma apresentação objetiva das alterações realizadas pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Portugal em 16 de dezembro de 1990 e no Brasil aprovado pelo Decreto Legislativo nº 54, de 18 de abril de 1995. Vale ressaltar, mais uma vez, que o acordo é apenas ortográfico, de modo que limita-se à língua escrita e sem que aja mudanças na língua falada. Observe-se, também, que essas alterações não eliminam todas as diferenças ortográficas entre os países de língua portuguesa, mais sim, introduz um passo na direção da tão sonhada unificação das línguas. Mudança no Alfabeto Nosso alfabeto passa a ser composto por 26 letras, tendo o acréscimo do K, W e Y. Na verdade essas letras não haviam sumido por completo da maioria dos nossos dicionários, sendo usadas na grafia de palavras como: - Km (quilômetro); - W (watt); - palavras estrangeiras: show, windsurf, kaiser. Trema ( ¨ ) O trema é um diacrítico, ou seja, um sinal gráfico colocado sobre, sob ou através uma letra para promover uma distinção fonética. No Brasil o trema foi acordado pelo Formulário Ortográfico de 1943 para assinalar que a letra U deveria ser pronunciada e átona nas combinações que, qui, gue e gui. Assim, algumas das mudanças são: Antes Depois - agüentar - aguentar - bilíngüe - bilíngue - cinqüenta - cinquenta - delinqüente - delinqüente - lingüiça - linguiça Atente-se para o fato de o trema não ter sido abolido das palavras estrangeiras e suas derivadas, como exemplo: - Müller - Mülleriano. Mudanças nas Regras de Acentuação 1- Perdeu o acento as palavras paroxítonas que contenham os ditongos abertos “ei” e “oi”, exemplo: Antes Depois - alcatéia - alcateia - asteróide - asteroide - colméia - colmeia - jibóia - jiboia - platéia - plateia É importante observar que as palavras oxítonas e os monossílabos átonos terminados em “éis” e “ói(s)”, continuam a ser grafadas com o acento agudo normal, exemplo: - papéis; - herói – heróis; - dói; - sóis. 2- Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no “i” e no “u” tônicos quando vierem depois de um ditongo decrescente, exemplo: Antes Depois - baiúca - baiuca - bocaiúva - bocaiuva - cauíla - Cauila - feiúra - feiura Observe-se que se a palavra for oxítona e o i e o u estiverem na posição final ou seguido de s, o acento permanece, exemplo: tuiuiú e Piauí, bem como, se o i ou o u forem precedidos de ditongo crescente, o cento permanece, exemplo: Guaíba, Guaíra. 3- As palavras terminadas em êem e ôo(s), perderam o acento, exemplo: Antes Depois - abençôo - abençoo - crêem (verbo crer) - creem - enjôo - enjoo - lêem (verbo ler) - leem - zôo - zoo 4- Não se usa mais o acento para diferenciar os seguintes pares: Antes Depois - pára (verbo parar) - para - pólo (região geográfica) - polo - pólo (esporte) - polo - pêlos (pelagem) - pelos - pêra (fruta) - pera Permanecem os acentos diferenciais em: - pôde na 3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo de pode na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo; - pôr em sua forma verbal de por em sua forma prepositiva; - nos verbos ter e vir mantém-se os acentos que diferenciam suas formas no singular e plural, assim como seus derivados. 5- Está facultado o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma de fôrma, exemplo: - qual é a forma da fôrma do bolo? Uso do Hífen ( - ) O Hífen é um sinal de pontuação que comumente usa-se para unir os elementos de palavras compostas, como também alguns pronomes átonos a verbos. A Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa trouxe algumas mudanças relacionadas ao sinal de hífen, entretanto, apresentaremos de início o que permaneceu inalterado. 1 – palavras compostas por justaposição que formam uma unidade semântica, Ex: luso-brasileiro, segunda-feira 2 – palavras de espécie botânica e zoológica. Ex: erva-doce, feijão-verde 3 – palavras compostas dos elementos além, aquém, recém e sem, Ex: além-mar, recém-nascido 4 – nas locuções já consagradas pelo uso cotidiano, Ex: mais-que-perfeito, deus-dará 5 – nos encadeamentos de alguns vocábulos e nas combinações históricas ou ocasionais, Ex: ponte Rio-Niteroi, Angola-Brasil 6 – na junção dos prefixos hiper, inter e super, quando o outro termo inicia-se por r, Ex: hiper-resistente, super-racional 7 – formando vocábulos com os prefixos ex e vice, Ex: ex-diretor, vice-prefeito 8 – na formação com os prefixos pós, pré e pró, Ex: pré-natal, pós-graduação 9 – quando há formação de ênclise e mesóclise, Ex: amá-lo, amá-lo-ei Assim, passamos ao que foi alterado pela Reforma Ortográfica, dando ênfase ao Não Uso. 1 – prefixo terminado em vogal, com o segundo termo iniciado com r ou s, duplica-se estas consoantes, Ex: antirreligioso, minissaia 2 – prefixo terminado em vogal, que o segundo tem vogal distinta da do primeiro, Ex: autoestrada, infraestrutura 3 – em todas as formações que contenham o prefixo des- e in-, com a perda do h inicial do vocábulo seguinte, Ex: desumano, desabilitar 4 – na formação com o prefixo co-, Ex: cooperar, coautor 5 – algumas palavras que o uso deu a idéia de composição e alguns compostos que contenham o advérbio “bem”, Ex: pontapé, benfeito Finalmente, emprega-se o hífen nos seguintes casos. 1 – nas formações em que o prefixo tem como segundo termo uma palavra iniciada por h, Ex: extra-humano, super-homem 2 – nas formações em que o prefixo termina na mesma vogal do segundo elemento, Ex: micro-ondas, auto-observação