do PDF - Sociedade Brasileira de Reumatologia

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JUL / AGO / SET 2014 • No 3 • ANO XXXVIII
Editorial
Reverência aos mestres
D
ois anos se passaram de minha gestão da SBR,
quando tive a alegria de conquistar novos amigos e consolidar antigas amizades. Busquei,
principalmente, a criação de regionais, com a intenção
de ampliar o ensinamento e a prática de nossa querida
Reumatologia.
Como um desejo de justiça, uso deste momento para
reverenciar os nossos Mestres pioneiros, verdadeiros desbravadores que, de forma estóica, começaram a apresentar
aos brasileiros o conteúdo de uma especialidade nova.
No dia 10 de março de 1954, o professor Geraldo
Wilson da Silveira Gonçalves proferiu a primeira aula de
Reumatologia na Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Ceará. Com apostilas “rodadas em mimeógrafos”, com conteúdos compilados de livros franceses,
uruguaios e argentinos, iniciou-se assim o ensino pioneiro
da Reumatologia em toda a nossa região.
Ele fundou a Sociedade Cearense de Reumatologia,
presidiu um congresso brasileiro e vários outros eventos
regionais, foi autor de livros e trabalhos científicos e, acima
de tudo, compartilhou com seus discípulos seus conhecimentos arduamente adquiridos. Pela sua humildade e
dedicação, nós todos, carinhosamente, o tratamos por
“vovô Geraldo”.
Após alguns anos fui, para minha honra, o seu primeiro formando, tendo sido aquinhoado com uma carta de
recomendação para o Serviço do professor De Séve, seu
amigo em Paris. Quis o destino que, ao passar pelo Rio
de Janeiro, tenha eu me encantado pelo convite de meu
outro querido Mestre, Israel Bonomo, com quem fiz minha
pós-graduação.
Aos nossos jovens especialistas externo a minha mensagem de respeito e admiração a todos os Mestres, pois não
haveria plateia em nossos eventos se não estivessem eles
nos palcos derramando sobre nós seus conhecimentos.
Dr. Walber Pinto Vieira
SOCIEDADE
BRASILEIRA DE
REUMATOLOGIA
Presidente
Walber Pinto Vieira – CE
Tesoureiro
José Eyorand Castelo B Andrade – CE
Secretário Geral
Francisco José Fernandes Vieira – CE
Vice-Tesoureiro
José Roberto Provenza – SP
1º Secretário
Lauredo Ventura Bandeira – SP
Diretor Científico
Mittermayer Barreto Santiago – BA
2a Secretária
Rosa Maria Rodrigues Pereira – SP
Presidente eleito
Cesar Emile Baaklini
Boletim da Sociedade Brasileira de Reumatologia
Av. Brig. Luís Antônio, 2.466, conjuntos 93 e 94
01402-000 – São Paulo - SP – Tel.: (11) 3289-7165 / 3266-3986
www.reumatologia.com.br
@ [email protected]
Coordenação editorial
Edgard Torres dos Reis Neto
Jornalista responsável
Maria Teresa Marques
Editores
Tania Caroline Monteiro de Castro
Frederico Augusto Gurgel Pinheiro
Layout
Sergio Brito
Colaborador
Plinio José do Amaral
Impressão
Sistema Gráfico SJS
Tiragem: 2.000 exemplares
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
Representante junto à Panlar
Adil Muhib Samara – SP
Antonio Carlos Ximenes – GO
Fernando Neubarth – RS
Maria Amazile Ferreira Toscano – SC
Representante junto ao Ministério da Saúde
Ana Patrícia de Paula – DF
Mário Soares Ferreira – DF
Representante junto à AMB
Eduardo de Souza Meirelles – SP
Gustavo de Paiva Costa – DF
Morton A Scheinberg – SP
4
O melhor do Brasil
6 Notas / Hits da Reumatologia
7
Reumato.com
8
Censo: demografia médica
10Pesquisa
12Matéria de capa
14Profissão Reumato
16Primeira Fila
17Foco em
18 Rheuma & Ethos
20 Coluna Seda
22Além da Reumatologia
ÍNDICE
Diretoria Executiva da SBR – Biênio 2012-2014
Índice
3
O melhor do Brasil
Notícias das regionais
Goiás e DF
Sociedades irmãs promovem V Encontro
A
cidade de Pirenópolis, em Goiás, recebeu o V Encontro Goiás-DF de Reumatologia, concorrido evento
científico e social das sociedades irmãs de Goiás e do Distrito
Federal. O evento foi realizado nos dias 15 e 16 de agosto e, na
ocasião, a dra. Lúcia Macedo Gonçalves foi homenageada pela
Sociedade de Reumatologia do Distrito Federal com o Prêmio
Francisco Aires de Reumatologia, por sua ativa e pioneira atuação, como uma das fundadoras da Reumatologia de Brasília.
Participantes do V Encontro de Reumatologia, em Pirenópolis, Goiás.
Santa Catarina
Realizado evento sobre Infecto-Reumatologia
N
o dia 23 de agosto, a Sociedade
Catarinense de Reumatologia, em
parceria com a Sociedade Catarinense
de Infectologia, promoveu a I Jornada de
Infecto-Reumatologia. O objetivo foi a
aproximação das duas especialidades com
a abordagem de temas comuns. As aulas
foram proferidas tanto por reumatologistas
quanto por infectologistas. O evento ocorreu na Associação Catarinense de Medicina
durante todo o sábado.
4
Curso a farmacêuticos
Ainda em agosto, 28, foi promovido pela SCR no auditório do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina,, em
parceria com a Diretoria de Assistência Farmacêutica da Secretaria
de Estado da Saúde (SC), curso com duração de aproximadamente
três horas ministrado para a farmácia-escola. O objetivo foi aumentar
o canal de comunicação entre o prescritor e o profissional que dispensa, bem como envolver o farmacêutico no tratamento das doenças
reumatológicas e capacitá-lo em relação aos novos medicamentos
para tratamento da AR agora disponíveis pelo SUS.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
V Jornada no Paraná recebeu especialistas para falar sobre AR, dor e osteoporose.
Paraná
V Jornada Paranaense enfocou artrite reumatoide
A
Sociedade Paranaense de Reumatologia, conforme
tradição, realizou no mês de junho a V Jornada Paranaense de Reumatologia, quando estiveram presentes renomados
especialistas que comentaram sobre artrite reumatoide, dor e
osteoporose.
Espondiloartrites
Também com promoção da SPR, foi realizado evento multidisciplinar nos dias 29 e 30 de agosto. Foram discutidos
temas como psoríase e artrite psoriásica, uveíte, doença
inflamatória intestinal e osteoimunologia.
Ceará
Reunião científica abordou artrite
reumatoide e imunobiológicos
A Sociedade Cearense de Reumatologia promoveu reunião científica com os temas:
• Os Imunobiológicos no mercado privado e O novo rol da ANS, tendo como palestrantes os drs. Eyorand Andrade e Max Victor Carioca;
• Artrite Reumatoide e a Segurança dos Imunobiológicos - O que sabemos hoje?, com
palestras do infectologista dr. Ivo Castelo Branco e o dr. Walter Correia, cuja área de
atuação é a Imunogenética da Tuberculose.
Agenda
www.reumatologia.com.br
XXXI SBR 2014 Congresso
Brasileiro de
Reumatologia
Data: 1/10/2014 a
4/10/2014
Local: Minascentro
- Avenida Augusto
de Lima, 785 - Belo
Horizonte (MG)
Informações: (31) 3247-1613
Website: www.reumato2014.com.br/
index.php
International Symposium Intra
Articular Treatment - Isiat
Data: 15/10/2014 a 18/10/2014
Local: Rio de Janeiro (RJ)
Website: www.regencyeventos.com.br/
evento/index.php?cod_eventos=44&cod_
idiomas=1
Curso de InfiLtrações em
Reumatologia - Ano VI - Edição 2014
Data: 31/10/2014 a 01/11/2014
Contato: [email protected]
Website: www.cursoinfiltracao.com.br
Participantes da reunião científica no Ceará: (da esq. para dir.) dr. André Xenofonte, diretorfinanceiro da SCR; dr. Ivo Castelo Branco, infectologista; dr. Eyorand Andrade, presidente da
SCR; dr. Walter Correia; e dr. Max Victor, diretor-cientifico da SCR.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
6º Bradoo - Congresso Brasileiro
de Densitometria, Osteoporose e
Osteometabolismo
Data: 18/04/2015 a 20/04/2015
Local: Expo Curitiba – Curitiba (PR)
Website: www.6bradoo.com.br
5
Notas
Hits da Reumatologia
.............
Conto de Fernando Neubarth é
distribuído a passageiros de ônibus
Um projeto lançado no Rio Grande do Sul, em sua segunda
edição, tem a interessante ideia de entregar peças literárias
aos passageiros de linhas municipais que saem de Porto Alegre. E tivemos a satisfação de saber que o reumatologista dr.
Fernando Neubarth foi desta vez um dos selecionados para
ter uma de suas obras distribuída. É o divertido conto “Prosa
na Estrada”, do qual foram impressas 100 mil cópias com o
objetivo de atingir um público de 200 mil pessoas.
A seleção foi feita por três jurados numa iniciativa desenvolvida pela Secretaria Estadual de Cultura (Sedac), por meio do
Instituto Estadual do Livro (IEL), em parceria com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) e com a
Associação Gaúcha de Escritores. Parabéns ao dr. Neubarth!
Reumatologista está em nova obra resenhista
Foi lançado no início de setembro o livro Por que Ler os
Contemporâneos, um guia de 101 autores, com um mesmo
número de resenhistas. E o reumatologista Fernando Neubarth está entre eles com um texto sobre Bernhard Schlink, autor
de O Leitor, entre outras obras. Mais detalhes, acesse www.
dublinense.com.br/livros/por-que-ler-os-contemporaneos.
Conteúdo de evento de lúpus está
na internet para acesso gratuito
Em virtude de um acordo de cooperação entre o Grupo
Gladel e o Panlar, todas as apresentações em Power Point
e videoconferências celebradas durante o 10.º Congresso
Internacional de LES em Buenos Aires em 2013 estão disponíveis no website do Gladel. São mais de 90 apresentações
em Power Point e 50 videoconferências.
Para fazer o download do conteúdo de forma gratuita,
acesse: www.gladel.org .
Jornada no Vale do Paraíba
Foi realizada do dia 15 a 17 de agosto de 2014 na cidade
de Campos do Jordão /SP a VII Jornada Reumatologia do
Vale do Paraíba. O evento, presidido pelo dr. José Roberto
Miranda, contou com a presença de vários reumatologistas
da região para discutir temas como risco cardíaco e manejo
de pacientes com artrite reumatoide, atualizações no lúpus
eritematoso sistêmico e esclerose sistêmica, uso off-label dos
imunobiológicos e reumatologia e exercício físico. Parabéns
a todos pela jornada!
6
Effect of tumour necrosis factor blockers
on radiographic progression of psoriatic
arthritis: a systematic review and metaanalysis of randomised controlled trials
Goulabchand R, Mouterde G, Barnetche T, Lukas C,
Morel J, Combe B. Ann Rheum Dis 2014; 73: 414–9.
A eficácia dos agentes biológicos bloqueadores do
fator de necrose tumoral (anti-TNFs) na artrite psoriásica (APs) tem sido demonstrada em vários estudos.
No entanto, a avaliação radiológica não tem sido
objetivo primário desses trabalhos. Outra dúvida bastante pertinente é a de que não existem evidências de
que o metotrexato (MTX) pode retardar a progressão
do dano estrutural na doença. Os autores realizaram
revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos
randomizados em APs para avaliar o efeito dos anti-TNFs na progressão radiográfica e para determinar se
a terapia combinando anti-TNF ao MTX era superior
ao tratamento somente com o imunobiológico. Foi
evidenciado que os anti-TNFs levaram a um melhor
controle do dano estrutural após 24 e 48 semanas de
tratamento e que o papel da terapia combinada não
pôde ser claramente determinado pela limitação dos
dados disponíveis.
.............
Effect of Biologic Treatments on Growth
in Children with Juvenile Idiopathic
Arthritis
Uettwiller F, Perlbarg J, Pinto G, Bader-Meunier B,
Mouy R, Compeyrot-Lacassagne S, Melki I, Wouters C,
Prieur AM, Landais P, Polak M, Quartier P. J Rheumatol
2014; 41: 128-35.
O atraso no crescimento é uma complicação frequente nos pacientes com artrite idiopática juvenil
(AIJ) grave e o tratamento com agentes biológicos
pode melhorar a velocidade de crescimento tanto pelo
controle do processo inflamatório sistêmico quanto
pela redução da dose de corticoide. Nesse estudo, foi
comparada a velocidade de crescimento antes e após
o uso de terapia biológica e avaliado se fatores como
o subtipo da AIJ, o uso de corticoides, a necessidade
de um ou mais agentes biológicos e a atividade da
doença podem influenciar esse parâmetro. Os autores
concluíram que a terapia biológica tem um efeito positivo na estatura desses pacientes, mas são ineficazes
em restabelecer o crescimento normal principalmente
naqueles que não responderam adequadamente ao
primeiro agente biológico.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
Reumato.com
Convidamos os reumatologistas a acessarem o portal da
SBR - http://www.reumatologia.com.br - , em que vários
temas de interesse da área estão à disposição para consulta.
NOTÍCIAS
Princípio ativo da Penicilina Benzatina
enfrenta problemas de fornecimento
A Supera Rx é uma joint venture criada por MSD, Eurofarma e Cristalia, responsável pela distribuição e comercialização de vários produtos de referência e marcas
amplamente utilizadas. Dentre as marcas distribuídas, oriundas das empresas
sócias, têm havido problemas de fornecimento de princípio ativo de um produto
amplamente prescrito pela classe médica em geral e também pela Reumatologia
e atualmente com poucas opções de substituição: Penicilina Benzatina (em nosso
caso o próprio Benzetacil).
Saiba mais: www.reumatologia.com.br/index.asp?Perfil=&Menu=DoencasOrie
ntacoes&Pagina=noticias/in_noticias_resultados.asp&IDNoticia=291
SBR convoca para
Assembleias Gerais
A Sociedade Brasileira de Reumatologia está convocando associados
fundadores e efetivos que se encontrem quites com suas obrigações
para comparecimento às Assembleias
Gerais Ordinária e Extraordinária que
serão realizadas no dia 3 de outubro
de 2014, às 15 horas.
Saiba mais:
www.reumatologia.com.br/index.asp
?Perfil=&Menu=DoencasOrientacoes
&Pagina=noticias/in_noticias_resultados.asp&IDNoticia=290
Foco nos reumatologistas
RheumaHelper
(plataforma iOS e Android; gratuito)
Aplicativo que funciona como um assistente ao reumatologista, fornecendo
calculadoras de atividade de doença para
artrite reumatoide (DAS28, CDAI e SDAI),
espondilite anquilosante (Basdai e Asdas),
artrite psoriásica e lúpus eritematoso
sistêmico (Selena-Sledai). Oferece ainda
critérios classificatórios para as doenças já
relatadas, além da polimialgia reumática,
lombalgia inflamatória e esclerose sistêmica. É uma excelente ferramenta para uso
na prática médica diária.
Foco nos pacientes
MyRA (plataforma iOS; gratuito)
Permite ao paciente com artrite reumatoide realizar um registro sobre os seus
sintomas e compartilhar com o seu médico. O paciente poderá fazer um acompanhamento diário da sua evolução, especificar quais articulações estão acometidas,
obter fotos, registro da duração da rigidez matinal e da fadiga, das dificuldades
em relação às suas atividades usuais, detalhamento de quais medicamentos utiliza
e os valores dos reagentes de fase aguda, todos permanecendo registrados com
suas respectivas datas de ocorrência.
Ao final, haverá um relato detalhado de todo o tratamento, proporcionando
agilidade na consulta e fidedignidade dos dados, além de maior compreensão
da doença pelo paciente. Excelente ferramenta gratuita, mas que necessita do
conhecimento da língua inglesa.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
7
Censo
Demografia médica no Brasil
Estudo, iniciado em 2011 e atualizado em 2013, reforçou a má distribuição desses profissionais no
território brasileiro, tornando questionável a argumentação do governo de que há falta de médicos
o ano de 2011, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Regional de Medicina do Estado
de São Paulo (Cremesp) iniciaram um
trabalho denominado Demografia Médica no Brasil, com intenção de mostrar
dados precisos sobre o perfil da profissão
médica no país, além de permitir uma
discussão realista sobre o dilema da falta
de médicos. Este tema vem sendo discutido por diversos setores do governo há
vários anos, mas atualmente apresenta
caráter de extrema relevância em virtude
da incorporação de políticas públicas
com incentivo à liberação de novas
escolas médicas e importação de profissionais médicos. O governo federal tem
como meta principal aumentar o número
de profissionais e alcançar a proporção
de 2,5 médicos por mil habitantes, não
importando a sua qualidade ou forma
de aquisição.
A primeira versão do trabalho foi
publicada no ano de 2011, abordando
principalmente os dados gerais e sua
descrição. No ano de 2013, houve nova
publicação que atualizou as informações
e detalhou a distribuição em território
nacional.
Foram utilizadas diversas bases de
dados provenientes do CFM, dos Conselhos Regionais de Medicina, da Comissão Nacional de Residência Médica, da
Associação Médica Brasileira, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
além de bancos voltados à análise dos
vínculos laborais, provenientes do Ministério do Trabalho e Emprego (Relação
Anual de Informações Sociais - Rais) e
do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).
No Brasil, em outubro de 2012, existiam 388.015 médicos em atividade,
o que representa 2,0 médicos por mil
habitantes. Segundo estimativas divulgadas, mesmo que não fosse empreendida
nenhuma intervenção para aumento do
número de profissionais, em oito anos
seria alcançada a meta governamental de
2,5 médicos por mil habitantes, fato que
torna bastante questionável o argumento
da falta de médicos no Brasil.
O estudo reforçou a má distribuição
dos médicos no território brasileiro
(Gráficos 1, 2 e 3), com predomínio de
profissionais nos grandes centros urbanos. Esse fato não está vinculado ao local
de graduação, e sim à possibilidade de
crescimento profissional (oportunidade
de especialização), trabalhos com condições satisfatórias e melhor qualidade
de vida. Desta forma, o aumento do
número de escolas médicas no interior
realmente possibilitaria maior fixação do
profissional à região ou apenas elevaria a
migração de profissionais após o término
da graduação?
Gráfico 1. Distribuição dos médicos
segundo regiões geográficas –
Brasil, 2013
Gráfico 2. Distribuição de médicos
especialistas titulados, segundo
regiões geográficas – Brasil, 2013
Gráfico 3. Distribuição de vagas
de Residência Médica, segundo
regiões geográficas – Brasil, 2010
Dr. Frederico Pinheiro
Médico Reumatologista e
Editor do Boletim SBR
N
Sul
14,9%
Norte 4,2%
Nordeste
17,1%
Sul
18%
Norte 3,5%
Nordeste
15,3%
Fonte: Conselho Federal de Medicina;
Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2013.
8
Sul
15,9%
Norte 1,9%
Nordeste 11,6%
Centro-Oeste
7,1%
Centro-Oeste
8,5%
Centro-Oeste
7,6%
Sudeste
56%
A Reumatologia no Brasil
Em relação às especialidades, 207.789
(53,5) apresentavam uma ou mais especializações. Levando em consideração
que um médico pode apresentar mais que
um título de especialista, foi evidenciado
que 268.218 profissionais poderiam
atuar em áreas distintas.
A reumatologia apresentou total de
1.631 médicos especialistas, representando 0,6% do total de profissionais e
colocando-se como a 35.ª especialidade
mais frequente. As especialidades descritas com maior frequência estiveram
vinculadas às quatro áreas básicas, em
ordem decrescente: Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, Cirurgia Geral e
Clínica Médica.
Na Tabela 1 são apresentados alguns
dados demográficos dos médicos reuma-
Sudeste
54,5%
Fonte: Conselho Federal de Medicina;
Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2013.
Sudeste
63,5%
Fonte: Comissão Nacional de Residência Médica, 2010.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
Tabela 1. Características demográficas
dos reumatologistas em %
Reumatologistas (N.º - %)
Tabela 2. Distribuição dos reumatologistas no Brasil.
Número
Brasil
Norte
Gênero
%
População*Razão**
1.631 100,00%193.867.971 0,84
46 2,82%16.318.163 0,28
Masculino 783 (48,0)
Acre
01 0,06%758.786 0,13
Feminino 848 (51,9)
Amapá
04 0,25%698.602 0,57
Idade média em anos*
47,3 (12,5)
Amazonas
13 0,80%3.590.985 0,36
Distribuição faixa etária
Pará
18 1,10%7.792.561 0,23
< 30 anos 49 (3)
Rondônia
03 0,18%1.590.011 0,19
1.308 (80,2)
Roraima
02 0,12%469.524 0,43
274 (16,8)
Tocantins
Entre 30 e 60 anos > 60 anos Tempo de formado em anos*
23,5 (13,7)
*Média (Desvio padrão)
Fonte: Conselho Federal de Medicina; Pesquisa
Demografia Médica no Brasil, 2013.
tologistas. A maioria pertencia ao gênero feminino
(51,99%), fato observado em apenas em apenas 13
das 40 especialidades. Em relação à idade, apresentou média de 47,3±12,5 anos. A média geral
de idade dos médicos no país foi de 46,2 anos.
Em relação à distribuição geográfica (Tabela 2
e Gráfico 4), houve predomínio nas regiões Sul e
Sudeste e no Distrito Federal, ressaltando-se que
o último fora responsável pela elevação da razão
na região Centro-Oeste. As Unidades Federativas
com maiores quantidades de reumatologistas foram São Paulo e Rio de Janeiro. Entretanto, ao se
analisar sob a perspectiva populacional, o Distrito
Federal apresenta a maior densidade, com 2,61
especialistas para 100 mil habitantes. As regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste (excetuando o
Distrito Federal) possuem as menores quantidades
de reumatologistas.
O estudo contínuo da demografia médica permitirá uma discussão profunda nas diversas áreas
da medicina, certamente favorecendo a implementação de medidas públicas efetivas, baseadas
em argumentações fundamentadas e não apenas
em dados indiretos e por vezes subjetivos que
poderiam estar vinculados a interesses às vezes
não muito claros.
O problema da saúde pública brasileira não
deve ser limitado a números. Foi demonstrado
que necessita ser discutido em diferentes esferas
por meio da criação de planos de carreira, reorganização dos serviços e ampliação de vagas de
residência médica. Essa mudança não ocorrerá
de forma súbita. Será necessário um trabalho
gradual com engajamento de toda a classe médica
e a sensibilização da população e dos regentes
governamentais.
05 0,31%1.417.694 0,35
Nordeste
244 14,96%53.894.609 0,45
Alagoas
22 1,35%3.165.472 0,69
Bahia
51 3,13%14.175.341 0,36
Ceará
43 2,64%8.606.005 0,50
Maranhão
12 0,74%6.714.314 0,18
Paraíba
30 1,84%3.815.171 0,79
Pernambuco
41 2,51%8.931.028 0,46
Piauí
13 0,80%3.140.213 0,41
Rio Grande do Norte
21
Sergipe
11 0,67%2.118.867 0,52
Centro-Oeste
1,29%
3.228.198
0,65
152 9,32%14.423.952 1,05
Distrito Federal
69
Goiás
41 2,51%6.154.996 0,67
Mato Grosso
15
0,92%
3.115.336
0,48
Mato Grosso do Sul
27
1,66%
2.505.088
1,08
Sudeste
4,23%
2.648.532
2,61
888 54,45%81.565.983 1,09
Espírito Santo
32
1,96%
3.578.067
0,89
Minas Gerais
160
9,81%
19.855.332
0,81
Rio de Janeiro
172
10,55%
16.231.365
1,06
São Paulo
524
32,13%
41.901.219
1,25
Sul
301 18,45%27.665.264 1,09
Paraná
129 7,91%10.577.755 1,22
Rio Grande do Sul
118
7,23%
10.770.603
1,10
Santa Catarina
54
3,31%
6.316.906
0,85
*População geral – IBGE 2010
**Razão reumatologista/habitante (100 mil)
Fonte: Conselho Federal de Medicina; Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2013.
Gráfico 4. Razão de reumatologistas
por habitantes (100 mil) no Brasil
Sul
Sudeste
Centro-Oeste
Nordeste
Norte
Brasil
0
0,20
0,40
0,60
0,80
1,0
1,2
Fonte: Conselho Federal de Medicina; Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2013.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
9
Pesquisa
Reumatologia do Brasil no
No período de 11 a 14 de junho de 2014, foi realizado em Paris, França,
o European League Against Rheumatism Congress (Congresso Europeu
de Reumatologia), que contou com 14.220 participantes e mais de 4.041
trabalhos submetidos. O Brasil foi a nona nação com maior número de
inscritos (457 em 2014 ante 373 em 2013), mostrando a importância
crescente dos reumatologistas brasileiros no cenário mundial.
Além de poderem desfrutar de Paris, capital e cidade mais populosa
da França, localizada nos meandros do rio Sena, recheada de cultura
e arte, houve a possibilidade de reciclagem e debate nos avanços da
reumatologia e apresentação da produção científica do país. Parabéns
a todos os pesquisadores brasileiros!
Universidade Estadual Paulista – Unesp, Botucatu – SP
USP Ribeirão Preto/SP
CORRELATION BETWEEN THE EUROPEAN CONSENSUS LUPUS ACTIVITY MEASUREMENT (ECLAM) AND THE MODIFIED SYSTEMIC LUPUS
ERYTHEMATOSUS DISEASE ACTIVITY INDEX 2000 (M-SLEDAI 2K) IN
JUVENILE SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS (JSLE). J. O. Sato, J. E.
Corrente, C. S. Magalhães.
AUTOLOGOUS HAEMATOPOIETIC STEM CELL TRANSPLANTATION FOR
TAKAYASU’S ARTERITIS: REPORT OF 3 CASES. D. Moraes, J. Dias, A. B.
Stracieri, F. Pieroni, R. Cunha, R. Malta et al.
JUVENILE SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS (JSLE) DAMAGE, DEATH
AND GROWTH FAILURE ACCORDING TO DISEASE ACTIVITY PATTERN.
J. O. Sato, J. E. Corrente, C. S. Magalhães.
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, São Carlos – SP
CORRELATION BETWEEN SELF-REPORTED PHYSICAL FUNCTION AND
ISOKINETIC TOTAL MUSCLE WORK IN EARLY DEGREES OF KNEE OSTEOARTHRITIS. M. Petrella, P. R. M. D. S. Serrão, K. Gramani-Say, L. F.
A. Selistre, G. H. Gonçalves, S. M. Mattiello.
Universidade de São Paulo – SP
INCIDENCE AND RISK FACTORS FOR OSTEOPOROTIC VERTEBRAL FRACTURE IN BRAZILIAN COMMUNITY-DWELLING ELDERLY: A POPULATION-BASED PROSPECTIVE COHORT ANALYSIS FROM THE SÃO PAULO
AGEING & HEALTH (SPAH) STUDY. D. S. Domiciano, L. G. Machado,
J. Lopes, C. Figueiredo, P. Menezes, V. Caparb et al, On behalf of Sao
Paulo Ageing & Health (SPAH) Study Group.
HIGH INCIDENCE OF HIP FRACTURE AND NON-VERTEBRAL OSTEOPOROTIC FRACTURE IN LOW INCOME COMMUNITY-DWELLING ELDERLY:
A POPULATION-BASED PROSPECTIVE COHORT STUDY IN BRAZIL. THE
SÃO PAULO AGEING & HEALTH (SPAH) STUDY. D. S. Domiciano, L. G.
Machado, J. Lopes, C. Figueiredo, P. Menezes, V. Caparbo et al.
PULMONARY INVOLVEMENT IN RHEUMATOID ARTHRITIS: IS THERE A
ROLE FOR LOW-COMPLEXITY MEDICAL TESTS? A. M. Kawassaki, D. A.
S. Pereira, F. U. Kay, I. M. M. Laurindo, C. R. R. Carvalho, R. A. Kairalla.
10
HEMATOPOIETIC STEM CELL TRANSPLANTATION INCREASES NAIVE
AND REGULATORY B CELLS WHILE DECREASING MEMORY B CELLS IN
SYSTEMIC SCLEROSIS PATIENTS. L. C. M. Arruda, M. C. Oliveira, D. A.
Moraes, D. T. Cova3, J. C. Voltarelli, K. C. R. Malmegrim.
QUALITY OF LIFE IN SYSTEMIC SCLEROSIS PATIENTS BEFORE AND AFTER
AUTOLOGOUS HEMATOPOIETIC STEM CELL TRANSPLANTATION. E. A.
Oliveira-Cardoso, J. T. Garcia, J. E. B. Dias, D. A. Moraes, A. B. Stracieri,
B. P. Simões et al.
Pontifícia Universidade Católica de Campinas –
PUC Campinas – SP
CAN SPECTRAL DOPPLER IDENTIFY NAIL ENTHESITIS IN PSORIATIC ARTHRITIS? J. A. Mendonça, J. P. Nogueira, I. M. M. Laurido, C. Vierhout, F.
Peron, A. M. Lyrio, N. B. Schincariol, J. R. Provenza, L. Pedri, R. Bonfiglioli
Universidade Federal de São Paulo – Unifesp – SP
INTRA-ARTICULAR INJECTIONS WITH TRIAMCINOLONE HEXACETONIDE
IN A COHORT OF JUVENILE IDIOPATHIC ARTHRITIS PATIENTS: FACTORS
ASSOCIATED WITH A GOOD RESPONSE. V. B. Miotto e Silva, A. L. G.
Cunha, F. Osaku, C. Len, R. Furtado, J. Natour, M. T. Terreri.
ARTICULAR SONOGRAPHY IN HEALTHY INDIVIDUALS: COMPARISON
AMONG SMALL, MEDIUM AND LARGE JOINTS. F. S. Machado, J. Natour,
R. D. Takahashi, R. N. V. Furtado.
BLINDED VS ULTRASOUND-GUIDED CORTICOSTEROID INJECTIONS FOR
THE TREATMENT OF THE GREATER TROCHANTERIC PAIN SYNDROME
(SDPT): A RANDOMIZED CONTROLLED TRIAL. G. Q. Estrela, R. Furtado,
J. Natour, S. Narimatsu, A. Rosenfeld.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
Eular 2014
Porto Alegre, Rio Grande do Sul
ONSET AGE INFLUENCES CLINICAL AND LABORATORY PROFILE OF
PATIENTS WITH SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS. O. A. Monticielo,
A. A. Gasparin, J. Hendler, R. Chakr, A. L. Moro, V. Hax, D. Zanchet, I.
Siqueira, P. E. Palominos, C. Brenol, C. Kohem, R. Xavier, R. Sassi, G.
Piccoli, J. C. Brenol.
LONG-TERM EFFECTIVENESS AND SAFETY OF CYCLOPHOSPHAMIDE
IN SYSTEMIC SCLEROSIS LUNG DISEASE. R. Chakr, A. Gasparin, M.
Neves, G. Rangel, J. Hendler, A. L. Moro, D. Zanchet, I. Siqueira, V. Hax,
P. Palominos, M. Bredemeier, C. Kohem, C. Brenol, O. Monticielo, J. C.
T. Brenol, R. Xavier.
SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS: SURVIVAL ANALYSIS IN PATIENTS
FOLLOWED AT A TERTIARY CARE CENTER IN SOUTHERN BRAZIL. A. A.
Gasparin, J. Hendler, L. Souza, R. Chakr, A. L. Moro, V. Hax, D. Zanchet,
I. Siqueira, P. E. Palominos, C. Brenol, C. Kohem, R. Xavier, J. C. Brenol,
O. A. Monticielo.
Trabalhos multicêntricos com autores do Brasil
EFFECTS OF SULPHUROUS WATER IMMERSION BATHS IN KNEE OSTEOARTHRITIS PATIENTS: A RANDOMIZED AND CONTROLLED CLINICAL
TRIAL. M. Branco1,2, V. F. M. Trevisani2,3. 1PUC MINAS, Poços de
Caldas; 2Unifesp; 3Unisa.
DIRECT AND INDIRECT COSTS OF ANKYLOSING SPONDYLITIS: A BRAZILIAN PUBLIC HEALTH CARE PERSPECTIVE. P. G. Lorencetti, C. N. Rossetto,
B. Fornazari1, M. Y. Tramontin1, V. F. Azevedo1, D. V. Araujo2. 1Universidade Federal do Paraná; 2Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
SEVEN-JOINT POWER DOPPLER ULTRASOUND SCORE IS DISCORDANT
TO DAS28, SDAI AND CDAI IN TREATMENT TARGET IDENTIFICATION IN
RHEUMATOID ARTHRITIS PATIENTS WITH FIBROMYALGIA. R. Chakr1,
M. Behar1, J. A. Mendonça2, A. L. Moro1, D. Zanchet1, I. Siqueira1,
V. Hax1, A. Gasparin1, P. Palominos1, C. Kohem1, C. Brenol1, O.
Monticielo1, R. Xavier1, J. C. T. Brenol1. 1Hospital de Clinicas de Porto
Alegre; 2PUC-Campinas.
UPDATE ON THE JUVENILE SYSTEMIC SCLEROSIS INCEPTION COHORT
WWW.JUVENILE-SCLERODERMA.COM. I. Foeldvari, A. Wierk, T. Avcin,
J. Brunner, R. Cimaz, T. Kallinich, M. M. Katsikas, Y. Uziel, M. T. Terreri1,
M. Kostic, D. Nemcova, F. Sztajnbok2, K. Minden, J. Müller, I. Kone-Paut. 1Universidade Federal de São Paulo; 2Universidade do Estado
Rio de Janeiro.
ASSESSMENT OF GLOBAL DISEASE ACTIVITY IN RA BY PATIENTS AND
PHYSICIANS: CULTURAL DIFFERENCES ACROSS COUNTRIES IN THE
METEOR DATABASE. E. Gvozdenovic, C. Allaart, R. Wolterbeek, C.
Brenol1, A. Chopra, M. Dougados, P. Emery, G. Ferraccioli, D. Van Der
Heijde, T. Huizinga, J. Kay, E. Mola, R. Moots, J. Da Silva, J. Smolen, D.
Veale, R. Landewé. 1Hospital Clínicas Porto Alegre.
EFFICACY OF THE USE OF LOW DOSAGE AND SHORT TERM PROGRAMMED RELEASED PREDNISONE IN SPONDYLOARTHRITIS PATIENTS. F. Bandinelli, F. Scazzariello, E. Pimenta da Fonseca1, R. De Luca, G. Piemonte,
L. Benelli, F. Guidi, S. Guiducci, M. B. Santiago1, M. Matucci-Cerinic.
1Escola Bahiana de Medicina e Saúde publica.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
PREVALENCE OF CARDIOVASCULAR RISK FACTORS AND CARDIOVASCULAR DISEASE IN RHEUMATOID ARTHRITIS PATIENTS ACROSS
INTERNATIONAL REGIONS: A COMPARISON OF THE CORRONA INTERNATIONAL AND CORRONA US REGISTRIES. D. A. Pappas, K. Lampl, J. M.
Kremer, S. C. Radominski1, J. Gal, F. Nyberg, A. Malaviya, A. Whitworth,
O. L. Rillo, A. Gibofsky, T. V. Popkova, M. Ho, I. Laurindo2, G. W. Reed,
E. M. Kerzberg, L. Horne, R. Zahora, K. C. Saunders, B. A. Pons-Estel,
A. U. Onofrei, J. D. Greenberg. 1Universidade Federal do Paraná e CETI,
Curitiba, 2Universidade de São Paulo.
VARIATIONS IN DISEASE ACTIVITY AND THERAPEUTIC MANAGEMENT
OF RHEUMATOID ARTHRITIS IN DIFFERENT INTERNATIONAL REGIONS:
A COMPARISON OF DATA FROM THE CORRONA INTERNATIONAL AND
CORRONA US REGISTRIES. D. A. Pappas, K. Lampl, J. M. Kremer, S. C.
Radominski1, J. Gal, F. Nyberg, A. Malaviya, A. Whitworth, O. Rillo, A.
Gibofsky, T. Popkova, M. Ho, I. Laurindo2, G. W. Reed, E. M. Kerzberg,
L. Horne, R. Zahora, K. C. Saunders, B. A. Pons-Estel, A. U. Onofrei,
J. D. Greenberg. 1Universidade Federal do Paraná e CETI, Curitiba,
2Universidade de São Paulo.
PREDICTORS OF LOW DISEASE ACTIVITY AND REMISSION AFTER ONE
DOSE OF GOLIMUMAB IN PATIENTS WITH RHEUMATOID ARTHRITIS.
B. Dasgupta, B. Combe, P. Durez, H. Schulze-Koops, I. Louw, J. Wollenhaupt, C. Zerbini1, A. Beaulieu, R. Yao, S. Huyck, M. Govoni, H. H.
Weng, N. Vastesaeger. 1Hospital Heliopolis, Serviço de Reumatologia,
São Paulo.
CLINICAL AND RADIOGRAPHIC OUTCOMES AT 2 YEARS AND THE
EFFECT OF TOCILIZUMAB DISCONTINUATION FOLLOWING SUSTAINED
REMISSION IN THE SECOND AND THIRD YEAR OF THE ACT-RAY STUDY.
T. W. Huizinga, P. G. Conaghan, E. Martin-Mola, G. Schett, H. Amital, R.
M. Xavier1, O. Troum, M. Aassi, C. Bernasconi, M. Dougados. 1Hospital
de Clinicas de Porto Alegre.
THE EFFICACY AND SAFETY OF SUBCUTANEOUS TOCILIZUMAB VERSUS
INTRAVENOUS TOCILIZUMAB IN COMBINATION WITH TRADITIONAL
DMARDS IN PATIENTS WITH RA AT WEEK 97 (SUMMACTA).
G. Burmester, A. Rubbert-Roth, A. Cantagrel, S. Hall, P. Leszczynski, D.
Feldman1, M. J. Rangaraj, G. Roane, C. Ludivico, E. Mysler, M. J. Bennett,
L. Rowell, M. Bao. 1Universidade Federal de São Paulo.
TOCILIZUMAB (TCZ) AS COMBINATION THERAPY AND AS MONOTHERAPY VS METHOTREXATE (MTX) IN MTX-NAIVE PATIENTS WITH EARLY
RHEUMATOID ARTHRITIS: PATIENT-REPORTED OUTCOMES (PROS) FROM
A RANDOMIZED, PLACEBO-CONTROLLED TRIAL. G. Burmester, R. Blanco, M. Keiserman1, W. Rigby, R. F. van Vollenhoven, S. M. Dimonaco,
S. M. Grzeschik, N. Mitchell. 1PUC Porto Alegre.
EFFECTS OF CHRONIC TREATMENT WITH SUBCUTANEOUS BLISIBIMOD ON RENAL AND INFLAMMATION BIOMARKERS IN SUBJECTS
WITH SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS IN PHASE 2 PEARL-SC AND
OPEN-LABEL EXTENSION STUDIES. F. A. Richard, M. A. Scheinberg1, M.
Thomas, A. D. Chu, C. Hislop, R. S. Martin, M. Petri. 1Hospital Israelita
Albert Einstein, São Paulo.
EFFECTS OF BLISIBIMOD ON SERUM IMMUNOGLOBULINS AND INFECTION RISK IN PATIENTS WITH SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS FROM
THE PLACEBO-CONTROLLED PEARL-SC AND OPEN-LABEL EXTENSION
STUDIES. F. A. Richard, M. A. Scheinberg1, M. Thomas, A. D. Chu, R. S.
Martin, C. Hislop, M. Petri. 1Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo.
11
Capa
Mudança de gestão na SBR:
Dr. Walber Pinto Vieira chega em outubro ao final de sua gestão, dando lugar ao dr. César Emile Baaklini.
Em outubro deste ano,
durante o XXXI Congresso
Brasileiro de Reumatologia,
em Belo Horizonte (MG),
haverá a passagem da
presidência e diretoria da
Sociedade Brasileira de
Reumatologia para novo
quadro de comando. Chega
ao fim, portanto, a gestão do
dr. Walber Pinto Vieira, que
esteve à frente da sociedade
no biênio 2012/2014 e
assume a presidência o dr.
César Emile Baaklini.
Diretoria Executiva
gestão 2014 – 2016
Presidente
Dr. César Emile Baaklini
Secretário-geral
Dr. José Eduardo Martinez
1º Secretário
Dr. Silvio Figueira Antonio
2º Secretário
Dr. Washington Alves Bianchi
Tesoureiro
Dr. José Roberto Provenza
1º tesoureiro
Dr. Luiz Carlos Latorre
Diretor científico
Dr. Paulo Louzada Jr.
12
Dr. Walber Pinto Vieira
“Quando nos candidatamos à presidência da SBR, nossa plataforma de
campanha contava com as seguintes
metas:
•Gestão compartilhada
•Maior visibilidade para o
reumatologista e a reumatologia
•Apoio e ampliação da educação médica
continuada e descentralizada
•Consolidação da indexação da Revista
Brasileira de Reumatologia nas
diversas interfaces de dados em saúde
•Incentivo à obtenção do título de
especialista em reumatologia
•Aprofundamento da visão impessoal
de planejamento estratégico na
gestão da SBR.
Acreditamos que cumprimos todas
as metas propostas. Procuramos dar
um cunho de profissionalização a nossa
gestão, compartilhando com o presidente
eleito os problemas e as conquistas da
nossa entidade, sempre ouvindo e acatando sua opinião.
Ampliamos o número de comissões,
criando as de Síndrome de Sjogren,
Gota, de Doenças endêmicas e infecciosas e de Centros de terapia imuno-biológica assistida. Separamos a comissão de Defesa profissional da de Ética,
dando total e integral apoio às suas metas
e proposições.
Por último, fundamos as regionais
dos Estados de Tocantins, Rondônia
e Amapá, contando com a inestimável
colaboração do dr. Fernando Lira.
Estamos no momento agendando a
fundação da regional do Estado do Acre
que acontecerá em 18 de setembro. As
regionais que foram fundadas constituem um polo de divulgação da nossa
especialidade. Além de cumprirem uma
missão societária, divulgam a nossa es-
Dr. Walber Pinto Vieira: gestão incluiu
criação de sociedades locais e comissões
internas da SBR.
pecialidade e apoiam os reumatologistas
locais, promovendo, patrocinando e
realizando reuniões científicas, jornadas e simpósios. Em suma, divulgam a
Reumatologia no meio médico e social
em que atuam.
Agora podemos dizer que temos sociedades de Reumatologia em praticamente
todos os Estados brasileiros, exceto em
Roraima, lembrando entretanto que o
nosso presidente eleito, dr. César Baaklini, já me falou do seu empenho, desejo e
sua vontade em fundar esta última.
Durante a nossa gestão, procuramos
criar um clima de harmonia e fraternidade em toda a sociedade e acreditamos
que tal aconteceu. Aproveitamos a
oportunidade para agradecer pela colaboração, principalmente aos membros da
nossa diretoria, presidentes das comissões e seus membros, e porque não dizer
a todos os reumatologistas, cujo apoio
foi fundamental para alcançar êxito em
nossa administração.
Muito obrigado a todos.”
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
realizações e planos
Ambos deixam mensagens aos sócios, abordando ações de destaque e pretensões para o próximo biênio
Dr. César Emile Baaklini
Presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia
Gestão 2014 – 2016
“Em outubro de 2014, durante o Congresso Brasileiro
de Reumatologia, iremos assumir a direção da Sociedade
Brasileira de Reumatologia, o que muito nos honra e
enche de orgulho.
A SBR é hoje uma entidade organizada, estruturada,
madura, reconhecida nacional e internacionalmente graças ao trabalho feito com competência e desprendimento
pelas gestões anteriores. Sabemos da responsabilidade de
dirigi-la mantendo os avanços, as conquistas e o prestígio
adquirido até agora, procurando inovar, aperfeiçoar e
fazer nossa sociedade crescer ainda mais.
Esse é o desejo dos participantes de nossa diretoria que
tem uma trajetória de vida associativa muito profícua.
Nossas propostas de trabalho surgiram de uma discussão
ampla com vários colegas de diferentes regiões de nosso país, que têm necessidades, demandas e aspirações
diferentes.
Uma das questões importantes é continuarmos promovendo a divulgação da reumatologia no Brasil e para tanto
há algumas frentes a considerar. Um aspecto que deve ser
valorizado é a presença da SBR nos poderes constituídos.
Já temos representação na AMB e no Ministério da Saúde,
por exemplo, mas é preciso intensificar essa ação indo aos
melhores interlocutores com uma estratégia de contatos
próximos aos gestores das três esferas, municipal, estadual e federal. A mídia impressa, radiofônica e televisiva
é outro excelente meio para tanto. Além da elaboração
de material instrutivo que deve ser levado à população e
aos médicos em geral.
Benefícios ao sócio
Um outro aspecto a ser considerado é o atendimento
ao associado, em que procuraremos criar um canal de
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
comunicação regular, divulgar o trabalho da diretoria, das
comissões e os benefícios que a SBR pode proporcionar,
tais como: educação continuada, educação permanente e
uma pesquisa do mercado de trabalho em especial para
os novos reumatologistas. E aqui vale destacar que qualquer ação neste sentido deve respeitar as especificidades
de cada região do país, considerando suas demandas e
necessidades próprias. Caberá à SBR criar formas de
parceria com as universidades que são fundamentais para
levar às regiões mais afastadas os conhecimentos atuais
da prática da reumatologia.
É preciso valorizar cada vez mais as sociedades de
reumatologia estaduais, criando eventos regionais que privilegiem as lideranças locais e o trabalho aí desenvolvido.
Meios eletrônicos
Não podemos hoje em dia deixar de utilizar as tecnologias de informação à nossa disposição que podem nos
auxiliar de várias formas. É primordial aperfeiçoarmos
nosso site, oferecendo aos sócios canais de discussão de
casos, consultas on line, vídeoconferências e acesso a
fontes de informação fidedignas.
Achamos importante a profissionalização da gestão,
utilizando consultorias e realizando planejamento estratégico, dando apoio integral ao trabalho das comissões e
às instituições de ensino públicas e privadas, instituições
de assistência médica, respeitando as suas vocações e
contribuindo para a melhoria e o aperfeiçoamento de
suas atividades.
Por fim, posso assegurar que procuraremos honrar a
confiança em nós depositada pela comunidade reumatológica, contribuindo para o engrandecimento da SBR.
Obrigado.”
13
Profissão Reumato
Por que me tornei
Algumas professoras titulares de universidades contam um pouco de sua trajetória
profissional. Falam dos motivos da escolha pela Reumatologia e o caminho de
esforços e sucesso que as levaram à conquista da alta nomeação na área acadêmica.
Dra. Emilia Inoue Sato
Professora titular de Reumatologia
da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo e
vice-diretora do Campus São Paulo da
Universidade Federal de São Paulo.
“Porque a Reumatologia é uma das
especialidades clínicas mais abrangentes,
em que podemos utilizar os conhecimentos de toda a Clínica Médica, pois não
queria ser médica com atuação restrita a
um único órgão ou sistema. Entretanto,
ter acompanhado a minha irmã com LES
foi o principal motivo para a definição
de minha opção profissional, da especialidade, assim como foi decisivo para
a escolha do tema para o meu doutorado
e para uma das minhas principais linhas
de pesquisa.
Somente ao final da residência médica,
com o convite do professor Edgard Atra
para permanecer na Disciplina como
preceptora dos residentes, é que decidi
seguir a carreira acadêmica. Atuar no
ensino, pesquisa e extensão em uma
universidade pública foi uma forma de
retribuir um pouco o que havia recebido
ao longo da minha vida, estudando em
escolas públicas.
Conquanto minha prioridade tenha
sido a família e o cuidar dos meus três
filhos, o falecimento prematuro do professor Edgard trouxe a oportunidade
de disputar o cargo de professor titular
com mais dois outros colegas de excelente formação. Ao ser indicada para o
cargo, me senti muito honrada e com o
peso da responsabilidade de continuar
estimulando o crescimento da discipli-
14
Dra. Emilia: primeira mulher a ser
professora titular do Departamento
de Medicina da Unifesp.
Dra. Eloisa: trabalho no estímulo
de membros da Disciplina a desenvolver
aptidões em prol do grupo.
na de Reumatologia da Universidade
Federal de São Paulo, assegurando seu
papel no cenário nacional. Além disso,
fui a primeira mulher a ser professora
titular do Departamento de Medicina e
na época isso também foi uma grande
responsabilidade. Eu me sinto realizada
com as opções que fiz e estou feliz em
poder continuar atuando na área.”
trante, mas com um aprendizado intenso.
Resolvi mudar para pesquisa aplicada e
o trabalho com o anticorpo anti-P ribossomal resultou em linha muito produtiva
e uma sólida experiência em laboratório.
Na volta ao Brasil fiz o doutorado e
após concurso me tornei professora da
USP com apoio do professor Cossermelli e do dr. Ricardo Manoel. A minha
livre-docência inovou, sendo uma das
primeiras a pautar-se em uma linha de
pesquisa e não em um único trabalho.
Participei do concurso de titular a convite
de vários membros do departamento.
Acredito que o meu maior desafio na
liderança do serviço foi estimular cada
membro da Disciplina a descobrir e
desenvolver as aptidões que pudessem
contribuir para o grupo.
Fico feliz em perceber que esse espaço foi conquistado e temos hoje várias
lideranças em diferentes áreas. Repasso
agora essa tarefa para a professora Rosa
R. Pereira que terá todo o nosso apoio
na sua gestão!”
Dra. Eloisa Bonfá
Professora titular de Reumatologia
da FMUSP
“Escolhi a reumatologia durante a
residência, pois era para mim a especialidade médica mais abrangente em
termos de manifestações sistêmicas e
mais encantadora em termos de desafios
no diagnóstico e etiopatogênese. A oportunidade de morar nos Estados Unidos
mudou a minha trajetória de dedicação
essencialmente clínica para pesquisa.
Minha iniciação na área básica foi frus-
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
reumatologista?
Dra. Angela Luzia
Branco Pinto Duarte
Professora titular de Reumatologia
da UFPE e chefe do Serviço de
Reumatologia do Hospital das Clínicas
“Em 1974, a especialidade da Reumatologia chegava ao Estado de Pernambuco. Era a primeira turma a ter a disciplina
na grade curricular. Fiquei fascinada,
procurei o professor Geraldo Gomes e
perguntei-lhe como faria para ter treinamento e ele me respondeu: “Estude
o Rotés-Querol e volte para conversarmos”. No segundo semestre, continuava
nas cadeiras da clínica médica, porém
estudando Reumatologia, aprendendo
anatomia e semiologia.
Retornei no início das férias ao professor e após ser avaliada ele me perguntou
se queria ser monitora. Claro que sim,
disse eu. “Fique conosco nas férias e em
março abro concurso”, foi a resposta.
Fui candidata única, exerci a função
de monitora nos anos de 1975 e 1976,
quando também fiz treinamento na Psiquiatria e Cirurgia Oncológica, a convite
de professores.
No ano seguinte estava no chamado
internato. Podia escolher uma clínica e
ficar o ano inteiro. Para onde fui? Reumatologia. Tinha feito minha escolha.
Começava a ensinar aos residentes da
clínica médica. Dezembro de 1977,
minha formatura, e em março de 1978
o contrato como professora colaboradora. Em 1980, por concurso público
na UFPE, assumi o cargo de professora
Auxiliar de Ensino e comecei minha
trajetória acadêmica.”
Dra. Angela: trajetória acadêmica
começou em 1980 ao assumir cargo de
professora auxiliar de Ensino da UFPE.
Dra. Lilian Tereza Lavras Costallat
Professora titular de Reumatologia
da FCM Unicamp
“Antes de mais nada, preciso contar
porque me tornei médica. Inicialmente,
na adolescência, pensava em ser advogada. Falava e principalmente argumentava
muito bem, lia muito, escrevia com muita
facilidade. Na verdade,meu ponto forte
eram as ciências humanas. As outras
matéria eu dominava, mas não apreciava
tanto.
Afinal, por que não fiz Direito? Porque meu pai não quis. Simples assim.
Naquele tempo, a advocacia não ia tão
bem. Não havia tantas opções de carreira
ou havia e nós não sabíamos. E meu pai
me disse: “Faça Medicina, minha filha.
Médico tem emprego até na guerra!” E
minha mãe também: “Na Medicina você
não procura emprego; o emprego é que
te procura!”.
Depois de 37 anos de formada, agradeço por ter ouvido tão sábias palavras
e ter sido tão feliz por esta escolha, que
não fiz, a princípio, sozinha, mas que me
possibilitou uma vida profissional repleta
de realizações. Como gosto do que faço!
Durante todo o curso de graduação,
ficou nítido que a minha vocação era
a Clínica Médica. Eu não era do tipo
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
Dra. Lilian: interesse desde o
início por atender doenças
autoimunes, Lúpus em especial.
“centro cirúrgico, centro obstétrico,
neonatologia, ambulatório de pediatria,
etc”. Gostava dos adultos e de suas
doenças, suas queixas, suas histórias de
vida. Deste modo eu podia usar aquela
parte da minha vocação de humanidades,
saber falar, saber ouvir.
Aí entra em cena o professor Samara
e o fato de como um grande professor,
assim como um pai, pode influenciar
positivamente a nossa escolha. A Reumatologia da Unicamp em 1977, quando
me formei, já era bem conhecida e organizada. A Reumatologia, área muito
difícil, desafiadora em seus diagnósticos
diferenciais, com ótima interação entre
clínica, radiologia, patologia clínica,
pressupondo excelente conhecimento de
clínica médica.
Desde sempre eu gostei da parte da
Reumatologia mais ligada às doenças
autoimunes, do Lúpus em especial. E
fiquei responsável pelo LES em nosso
serviço sem, no entanto, deixar de fazer
todo o resto. Nossa área é complexa, por
isso tão fascinante. Sou feliz e realizada
com minha escolha. E minha satisfação e
realização pessoal vêm também do ótimo
grupo em que trabalho. A Reumatologia
da Unicamp é amiga e co-responsável
por tudo. Trabalhamos em grande parceria e eu os agradeço por isso.”
15
Primeira fila
Sinvastatina inibe citocinas
em pacientes com artrite reumatoide
Michelly C. Pereira; Pablo R. G. Cardoso; Laurindo F. Da Rocha Jr.; Moacyr J. B. M. Rêgo; Sayonara Maria C. Gonçalves;
Flaviana A. Santos; Marina R. G. Pitta; Andrea T. Dantas; Angela L B. P. Duarte; Maira G. da R. Pitta.
Inflammatory Res (2014).
DOI 10.1007/s00011-013-0702-4
Objetivos e desenho do estudo
Avaliar os efeitos da sinvastatina no perfil das citocinas em células mononucleares de
sangue periférico e correlacionar com a atividade da doença em pacientes com artrite
reumatoide (AR).
Métodos
O perfil das citocinas em células mononucleares de sangue periférico de 22 pacientes com
AR foram purificadas e estimuladas, ou não, com acetato de forbol miristato/ionomicina
e tratadas com sinvastatina em diferentes doses. Os níveis de citocinas foram quantificados por ELISA e os pacientes foram avaliados clinica e laboratorialmente. A avaliação
incluiu medidas de atividade de doença [Clinical Disease Activity Index (CDAI) e Disease
Activity Score em 28 articulações (DAS28)] e de estado funcional [Health Assessment
Questionnaire (HAQ)].
Resultados
As interleucinas IL-17A, IL-6, IL-22 e o IFN-c estavam significativamente reduzidos
após o tratamento com sinvastatina (50 lM, p = 0.0005; p\0.0001; p\0.02; p = 0.0005,
respectivamente). A IL-17A e a IL-6 estavam também significativamente reduzidas em
baixas doses de sinvastatina (10 lM) comparadas com os controles (p = 0.018; p = 0.04)
e quando comparadas com a dose padrão da sinvastatina (p = 0.007; p = 0.0001). Os
resultados também mostraram que somente os pacientes com doença grave (DAS28>5,1
e CDAI>22) tinham uma resposta pobre à sinvastatina na redução dos níveis de citocinas,
principalmente para a IL-17A e IL-22 (p = 0.03; p = 0.039, respectivamente).
Conclusão
Pacientes com AR que estavam em remissão clínica leve ou moderada apresentaram baixos
níveis de todas as citocinas analisadas após o tratamento com sinvastatina, demonstrando
que esses pacientes tiveram uma melhor resposta ao tratamento. Nossos achados sugerem
que a sinvastatina modula diferentes citocinas de forma dose-dependente e esse efeito está
associado com a estratificação dos pacientes de acordo com a atividade da doença.
Trabalho realizado na Universidade Federal de Pernambuco / UFPE.
16
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
Foco em
Aos poucos, novo Serviço conquistou espaço
O esforço conjunto de um pequeno grupo de reumatologistas
levou à criação de mais um centro de atendimento em Fortaleza.
Dr. José Gerardo Araujo Paiva
Médico do Serviço de Reumatologia
do Hospital Geral Cesar Cals Oliveira
(HGGCCO)
E
m 2012, a inauguração da enfermaria de reumatologia do Hospital
Geral Cesar Cals Oliveira (HGCCO),
uma unidade de atenção terciária que
pertence à Secretaria de Saúde do Estado
do Ceará (Sesa), foi o coroamento de
um trabalho que tinha sido iniciado dez
anos antes.
Em 2002, aceitando o convite da chefia
da Clínica Médica do HGCCO, dr. Max
Victor Carioca Freitas, voluntariamente,
passou a realizar visitas nas enfermarias
da clínica médica, discutindo e orientando os residentes na condução dos pacientes internados. A dra. Sheila Fontenelle
também trabalhava no hospital e atendia
no ambulatório.
No ano seguinte, vindo da Escola de
Saúde Pública do Ceará, passei a fazer
parte do corpo clínico do hospital. Foi a
oportunidade inicial de formalizarmos
as atividades da enfermaria e abrimos
mais ambulatórios de reumatologia. Os
pacientes que davam entrada no hospital
pelas unidades de internação, vindos
principalmente das emergências, passavam, após a alta hospitalar, a ser acompanhados no nosso hospital, aumentando
o volume de pacientes do ambulatório.
Habitualmente eram pacientes com
condições graves.
Conquistando espaço
Despertamos o interesse dos internos
e residentes para a reumatologia com as
nossas atividades científicas, seminários,
apresentação de artigos e isso foi um
ponto fundamental para consolidar o
nosso papel na formação de acadêmicos e residentes dentro do hospital. A
abertura de mais ambulatórios mostrou
Equipe do Serviço de Reumatologia de Fortaleza: esforços, respeito e amizade
o valor do nosso papel assistencial numa
especialidade que até hoje envolve uma
grande fila de pacientes aguardando o
atendimento com um especialista. Fomos aos poucos conquistando o nosso
espaço.
Nos anos seguintes chegaram outros
colegas. Alguns após concluírem residência e pós-graduação aqui e em outros
centros (dra. Kathia Oliveira – Unifesp;
dra. Débora Gonçalves – FMUSP; dr.
Leonardo Cavalcante - Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo; dra. Vanessa
Marques – HC - UFC) ou já com bom
tempo de estrada como o dr. Francisco
José Fernandes Vieira, o Chico, como é
mais conhecido.
Num ambiente de alegria, camaradagem e firme determinação, trabalhávamos com o mesmo propósito: construir
mais um serviço de referência na área
de reumatologia para o nosso Estado.
Por etapas, ampliamos o atendimento
ambulatorial, conseguimos com a Sesa a
farmácia de dispensação de medicamentos que também passou a dispensar os de
alto custo uma vez fornecidos pelo SUS
e construímos nosso centro de infusão.
Tudo isso possibilitou conforto e acesso
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
a tratamentos atualizados aos nossos
pacientes. O grupo despertou a atenção
e o respeito da direção do hospital e em
2012 inauguramos a nossa enfermaria
com oito leitos.
Programa de residência
Uma vez consolidado um ambiente
com uma grande densidade de casos
clínicos, no ambulatório e na enfermaria,
com uma atividade assistencial organizada e um treinamento de médicos
residentes disciplinado, submetemos em
2012 à Comissão Nacional de Residência
o programa de residência em Reumatologia. Após sua aprovação, em 2013
tivemos nossa primeira residente e este é
o segundo ano da residência. Os desafios
continuam. Nos próximos anos vamos
construir um centro de reabilitação e
estimular a pesquisa.
É um serviço novo, num dos hospitais
mais antigos de Fortaleza, que já tinha
uma longa tradição no ensino. É um
começo de uma história que vale ser
contada pela maneira como começou.
Escrita por um grupo de reumatologistas
que tem entre si um profundo sentimento
de amizade e respeito.
17
Rheuma & Ethos
A dimensão bioética da
Os avanços tecnológicos e científicos que ocorreram a
partir da metade do século XIX, além da socialização da
Medicina, criaram um cenário propício ao aparecimento
das chamadas doenças iatrogênicas
“Aqui jaz um homem rico, nessa rica sepultura.
Escapava da moléstia, se não morresse da cura”
Bocage
Dr. José Marques Filho
Coordenador da Comissão de Ética e Disciplina
da Sociedade Brasileira de Reumatologia
A
história da Medicina está repleta de episódios em
que o médico – cuja função primordial é cuidar de
pessoas – foi o responsável direto por graves lesões ou
mesmo morte de pacientes.
Não deixa de ser irônico que o profissional, cujo alvo é a
saúde do ser humano, cause dano ao seu paciente, sendo
ele próprio o responsável direto pelos sintomas advindos
de sua atuação.
Um registro histórico, que vale a pena citarmos, é o
suicídio cometido por um professor de obstetrícia do
Hospital Allgemeine Krankenhaus na Hungria, em meados
do século XIX, após a morte de sua sobrinha por febre
puerperal. Semmelweis acabara de demonstrar que os próprios médicos e estudantes de Medicina eram os principais
responsáveis pelas mortes das pacientes puérperas, por,
simplesmente, não lavarem suas mãos antes dos partos.
O próprio Semmelweis, que realizava autópsias em suas
pacientes e a seguir adentrava a sala do hospital para a
realização de um novo parto, admitiu dramaticamente: “Só
Deus sabe a conta das que, por minha causa, desceram
prematuramente à sepultura!”.
O termo iatrogenia provém do grego iatrós, que significa
médico e de genia, que significa gerar.
Os avanços tecnológicos e científicos que ocorreram
a partir da metade do século XIX, além da socialização
da Medicina, permitindo acesso a cuidados médicos pela
maior parte da população, criaram um cenário propício ao
aparecimento das chamadas doenças iatrogênicas.
Entretanto, somente em 1956, em artigo publicado no
Jama, Barr alerta a comunidade médica, afirmando que
18
a terapêutica moderna, mesmo com os grandes
benefícios ao homem, trouxe o aparecimento
dessas doenças. Logo após, Mozer define essa
nova modalidade de agravo à saúde: “Qualquer
doença resultante de um procedimento diagnóstico ou terapêutico”.
Entretanto, a definição de iatrogenia atualmente é bem mais ampla: qualquer intervenção da
equipe de saúde, seja ela correta ou equivocada,
justificada ou não, que resulte em algum dano
para a saúde do paciente. Entretanto, na prática,
o termo tem sido utilizado para designar qualquer
agravo à saúde do paciente relacionado a procedimentos médicos, tanto para diagnóstico quanto
para terapia.
É inadequado o conceito de iatrogenia como
sendo restrito à má prática ou a erro profissional.
Evidentemente, a iatrogenia causada por erro
profissional, sujeita a punição ética e a processos
civil e penal, apresenta-se como um quadro muito
mais preocupante e grave do ponto de vista médico
e jurídico.
Podemos afirmar, com toda a segurança, que as
doenças iatrogênicas são um perigoso e mascarado
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
iatrogenia
mal silencioso e uma das principais causas de
morbidade e mortalidade nos dias de hoje.
Um clínico experiente pode lembrar rapidamente, por exemplo, dos casos de farmacodermia
causados por antiinflamatórios ou antibióticos
receitados ao longo de sua vida, levando a sérios
problemas clínicos ou até mesmo à morte de seus
pacientes.
Na residência médica, em nossa formação
reumatológica, acompanhamos a internação,
o sofrimento e a morte de um paciente que
desenvolveu um grave quadro de Síndrome de
Stevens-Johnson ou eritema polimorfo após tomar
um único comprimido de sulfametoxazol e trimetoprina, receitado por um de nossos preceptores.
“
Podemos afirmar,
com toda a
segurança, que
as doenças
iatrogênicas são
um perigoso
e mascarado
mal silencioso
e uma das
principais causas
de morbidade e
mortalidade nos
dias de hoje.”
Pacientes reumatológicos
Embora os eventos iatrogênicos sejam mais
frequentes nas áreas de terapia intensiva, geriatria
e de cardiologia, os pacientes reumatológicos têm
grande potencial para eventos adversos devido à
gravidade de algumas enfermidades, à faixa etária
mais elevada, à evolução crônica e à presença de
diversas comorbidades.
A rigor, toda situação diagnóstica ou terapêutica
tem um potencial iatrogênico, independentemente
da capacidade técnica do profissional que a executa, sendo a própria relação médico-paciente uma
fonte de iatrogenia. Nas últimas décadas, com a
tendência de iniciar mais precocemente terapias
agressivas no controle de algumas doenças reumatológicas, principalmente com a utilização de
terapias combinadas, a incidência e a gravidade
dos efeitos colaterais e complicações infecciosas
têm aumentado.
As publicações sobre iatrogenia na prática
reumatológica são raras e relativamente recentes entre nós e versam, principalmente, sobre
diagnósticos errôneos de febre reumática, com a
consequente profilaxia inadequada em um grande
número de crianças.
A iatrogenia pode ser classificada como somática – os danos atingem objetivamente algum
órgão ou sistema orgânico – e psíquicas – cujas
implicações são de ordem afetiva.
As somáticas com certa frequência podem levar
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
a lides judiciais e éticas, principalmente aquelas
relacionadas a práticas caracterizadas como imperícia, imprudência e negligência. As psíquicas,
evidentemente, são mais sutis e, possivelmente, até
mais frequentes e importantes que as somáticas,
mas são menos notadas, tanto pelo médico quanto
pelo paciente.
A própria relação médico-paciente tem enorme potencial iatrogênico, ligado, em geral, aos
fenômenos de regressão, transferência e contratransferência.
Embora o princípio “primum non nocere” seja
um dos pilares mais importantes da tradicional
ética hipocrática, os médicos devem ter consciência de que são responsáveis, na maioria das
vezes involuntariamente, por causar danos aos
seus pacientes.
O referencial bioético da não-maleficência é um
importante parâmetro para pautar as escolhas e
condutas que tomamos na lide diária com pacientes reumatológicos. Portanto, talvez a prudência
seja o referencial bioético mais importante nas
tomadas de decisão e condutas.
A postura do profissional, frente ao agravo à
saúde do paciente causado por ele mesmo, é fundamental para a manutenção da relação médico-paciente. O comportamento do médico deve
caracterizar-se, nesses momentos, por lealdade,
transparência, integridade e honestidade.
É fundamental que todas as informações e explicações sejam claramente fornecidas ao paciente
e aos familiares, com respostas firmes em relação
às dúvidas levantadas. Assim procedendo, o profissional estará cumprindo sua função principal,
que é cuidar do ser humano, em todas as suas
dimensões e em todos os momentos.
Referências bibliográficas
Barr DP. Hazards of modern diagnosis and therapy – the
price we pay. JAMA 1956; 159:1452-56.
Mozer RH. Disease of medical progress. N Engl J Med
1956; 255:606-14
Freitas GG, Pessoa AL. Iatrogenese em Reumatologia.
Rev Bras Reumatol 1984;24:194-98.
Marques Filho J. A iatrogenia em reumatologia. Rev Paul
Med 1984;102:40.
19
Coluna Seda
Referências a doenças nos
poemas de Cecília Meireles
Hilton Seda
A
Dedicado ao Professor Dr. Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro
lepra também está presente em
“Romanceiro da Inconfidência”,
obra-prima de Cecília Meireles, publicada em 1953. Disse Darcy Damasceno:
“Em suas linhas mestras, o Romanceiro
da Inconfidência exibe uma bem lograda combinação de dados históricos e
elementos inventivos, de relato, monologação e diálogo, de planos temporais
e espaciais” (1).
Em “Romance XXI ou Das Idéias”
nessa obra, lê-se:
Anjos e santos nascendo/em mãos de
gangrena e lepra.
Em “Romance XXVII ou do Animoso
Alferes” são citadas as habilidades de
Tiradentes:
Não há planta obscura/que por ali
medre/de que desconheça/virtude que
encerre,/- ele, o curandeiro/de chagas
e febres,/ o hábil Tiradentes,/o animoso
Alferes.
Mais adiante, em “Romance LX ou Do
Caminho da Forca”:
(...) os cirurgiões e algebristas,/leprosos e encarangados,/ e aqueles que foram
doentes/e que ele havia curado.
(...) Estes últimos versos ilustram bem
um aspecto típico da medicina da época
no Brasil. Havia aqui poucos médicos e
a arte de curar era exercida, em grande
parte, por curandeiros e “cirurgiões-barbeiros”. Os “cirurgiões-barbeiros”
tratavam de fraturas, luxações, feridas e
extraíam dentes (2). O termo “algebrista”,
nesses versos, refere-se a um grupo que
cuidava de luxações e fraturas.
No “Romance XXI ou das Idéias”,
já citado, há uma variedade enorme de
doenças, como “histeria de donzelas” e:
20
Os rumores familiares/que a lenta
vida atravessam: /elefantíases; partos;/
sarna; torceduras; quedas/sazões; picadas de cobras;/ sarampos e erisipelas.../
Candombeiros. Feiticeiros./ Unguentos.
Emplastos. Ervas/ (...)
Em “Romance XXIII ou das Exéquias
do Príncipe” há referência às “bexigas”,
isto é, à varíola: Já plangem todos os sinos,/ pelo Príncipe, que é morto,/ Como
um filho da Rainha/ pode assim morrer
tão moço?/ Dizem que foi de bexigas;/
de veneno- dizem outros – (...)
No “Romance LXVI ou de Outros
Maldizentes”, que trata do desterro de
Tomás Antônio Gonzaga para Moçambique, nova referência às bexigas: Quem
sabe se alcança a terra?/ Quem sabe se
desembarca?/ Anda a peste das bexigas/
até na gente fidalga... (...)
(Segura a rédea de espuma,/
Tomás Antônio Gonzaga./
Escapaste aqui da forca,/ da
forca e das línguas bravas; vê
se te livra das febres,/ que se
levantam nas vagas./ e vão
seguindo o navio/ com seus
cintilantes miasmas...)
No “Romance LXXIX ou da
Morte de Maria Ifigênia” (filha
de Inácio José de Alvarenga
Peixoto e Bárbara Eliodora)
há os versos “Do enterro de
Bárbara Eliodora”: “Ela era
a Estrela do Norte,/ela era
Bárbara, a bela.../ (Secava-lhe
a tosse o peito,/queimava-lhe a
febre a testa.)/Agora, deitam-na, exausta,/ num simples
colchão de terra.” Estes versos
Parte III
mostram bem de que morreu Bárbara
Eliodora: de tuberculose, conforme
consta de seu atestado de óbito.
Em versos de Cecília “loucura” aparece várias vezes, sem um verdadeiro
sentido de patologia, mas há no Romanceiro uma loucura real, a de D. Maria I:
“(Sentada estava a Rainha,/ sentada
em sua loucura,/ Que sombras iam
passando,/ naquela memória escura?/
Vagas espumas incertas/ sobre afogada
amargura...)
Maria Francisca Isabel Josefa Antónia
Gertrudes Rita Joana de Bragança (Maria I de Portugal) nasceu em Lisboa (17
de dezembro de 1734), filha de José I e
D. Mariana Vitória. Foi rainha de Portugal de 1777 a 1816, sucedendo a seu pai
El-Rei José I. Era dita “A Piedosa” ou “A
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
Pia”, pela sua extrema devoção à Igreja
Católica. Por causa de sua doença foi
substituída por D. João VI em 1792 (3).
No episódio da Inconfidência Mineira...
“A rainha D. Maria I, por um ato de
clemência, comutou as penas de quase
todos em extermínio para a África, só
um, o Tiradentes, subiu ao patíbulo (21
de abril de 1792) com grande serenidade
e nobreza de ânimo” (4).
Os versos de “Romance LXXIV ou
da Rainha Prisioneira”, referindo-se à
loucura de D. Maria I assim terminam:
“Ai, que a filha de Marianinha/ jaz em
cárcere verdadeiro,/ sem grade por onde
se aviste/ esperança, tempo, luzeiro.../
Prisão perpétua, exílio estranho,/ sem
juiz, sentença ou carcereiro...”
Em “Romance LXXXII ou Dos Passeios da Rainha Louca” Cecília escreveu:
“Entre vassalos de joelhos,/ lá vai a Rainha louca,/ por uma cidade triste/ que
já viu morrer na forca/ ai, um homem
sem fortuna/ que falara em Liberdade...”
Em “Romance LXXXIII ou Da Rainha
Morta”: “Ah! Nem mais rogo nem promessa/ nem procissão nem ladainha:/somente a voz do sino grande/ que brada:
“Está morta a Rainha”/ Ai, a neta de D.
João Quinto!/ Ai, a filha da Marianinha!/
Tão gasta pela idade, apenas/a loucura
a sustinha.”
D. Maria I morreu no dia 20 de março
de 1816, no Brasil, no Rio de Janeiro,
para onde viera com a corte portuguesa
em 1808, em virtude da invasão de Portugal por Napoleão.
Referências
Meireles C: Obra Poética, Editora Nova
Aguilar S/A, Rio de Janeiro,1991.
2
Seda H: O Conhecimento das Doenças
Reumáticas no Rio de Janeiro do Século XIX,
Boletim da SRRJ, 39 (139): 5-10, 2011.
3
D. Maria I, Wikipedia, a Enciclopedia Livre.
4
Ribeiro J: História do Brasil, 14ª edição,
Livraria São José, Rio de Janeiro, 1953.
1
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
21
Além da Reumatologia
Caricaturas e pinturas permeiam
cotidiano intenso
Reumatologista campineiro,
autodidata, está cada vez mais
entusiasmado com seu trabalho
artístico, tanto que já pensa
em fazer um curso técnico e
montar um ateliê onde mora
H
á 38 anos, Plinio José do Amaral
é reumatologista. Formou-se na
Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), cidade onde nasceu e vive
até hoje. Seu cotidiano profissional ainda é intenso, pois vai a seu consultório
de segunda a quinta toda manhã e toda
tarde. Vale dizer aqui que ele faz questão
de reservar as sextas-feiras para si mesmo, na hidroginástica, nas caminhadas
ou qualquer outra atividade que lhe dê
prazer.
Mas esse dia a dia puxado não impede
que ele se dedique a outra prática com
muita paixão. Plínio é desenhista e pintor
e dedica especial atenção às caricaturas,
que adora criar. E tal dom pode ser
creditado a uma influência marcante,
segundo ele. “Meu pai era jornalista e
exímio caricaturista e o admirável é que
era autodidata. Tinha o dom natural e
o gosto pela arte”, conta Plínio, algo
que ele mesmo seguiu, pois jamais fez
nenhum curso técnico de arte.
Ele lembra que na escola uma das matérias de que mais gostava era Desenho
e no ginásio começou a ter gosto pela
caricatura. “Os professores e colegas
estudantes eram minhas ‘vítimas’ preferidas”. Plinio, aliás, explica que só faz
caricaturas de “marmanjos”. “A caricatura tem por característica o exagero
dos detalhes faciais e tudo o que uma
mulher não gosta é ver seus detalhes
exacerbados”, diz ele. Plínio diz que
desenha rostos com rapidez. “Baixa o
22
Plinio ao lado de uma de suas pinturas: planos de fazer curso técnico.
santo e eu faço de imediato”, brinca. Mas
as caricaturas não são o único meio de
expressão. Ele também passou a gostar
de trabalhar com aquarelas e com tinta a
óleo, com as quais começou a lidar desde
1967. Nesse caso, cria rostos mais realistas, mas também retrata baianas, figuras
folclóricas, palhaços, entre outras..
Exposição ao público
No desenvolvimento de sua obra, Plinio resolveu que poderia mostrá-las ao
público e a forma que encontrou para
fazer isso foi através do chamado Centro
Cultural, um espaço criado pela arquiteta
e estilista Rucélia Ximenez. Desde 1994,
o Centro Cultural é exposto nos Congressos Brasileiros de Reumatologia. E
Plinio tem o mérito de ter sido o primeiro
médico a expor seus trabalhos nesse
espaço, ao lado das esposas de médicos.
Com o tempo, outros reumatologistas e
seus cônjuges também passaram a expor
no centro.
“Essa mostra, mesmo com poucos
recursos, foi ficando cada vez maior e
virou uma tradição. E Rucélia é nossa
patronesse”, diz Plinio, referindo-se ao
trabalho incansável de Rucélia, organizando o espaço cultural. Rucélia, aliás,
lançou este ano, o livro A Arte de Fazer
Arte na Moda Humanizada, que reúne o
material de 40 anos de seu trabalho como
estilista, que já produziu figurinos para
diversas novelas da Rede Globo.
Plínio está tão envolvido com a pintura
e o desenho que agora pensa seriamente
em fazer algum curso, pois já sente necessidade de absorver técnicas da arte
que irão auxiliá-lo a criar. E tem mais
planos. Deseja montar um ateliê em seu
apartamento porque quando, como diz
ele, “baixar o santo”, possa ir correndo
a esse espaço e colocar a criação na tela.
Mas há ainda outra via que o tem
encantado. A fotografia. Ele conta que
seu pai, “meu guru e meu ídolo”, deu-lhe de presente uma câmera quando ele
tinha 9 anos. Mas agora está fascinado
pelas novas tecnologias. “Estou muito
entusiasmado com as fotos eletrônicas”,
conta, o que o faz, desde o congresso de
Maceió, a carregar consigo uma câmera
para flagrar colegas na plateia ou nos
corredores, criando imagens que divertem e encantam os fotografados.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • jul/ago/set/2014
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