448 ARTIGO Cuidados de enfermagem a pacientes vítimas de ferimentos por queimaduras: revisão de literatura Nursing care for patients in burns injury victims: literature review Cuidados de enfermería para pacientes en víctimas de lesiones de quemaduras: revisión de la literatura Débora Lenise da Silva Félix Discente do 9º período do curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário da Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] Amanda Karla de Paiva Machado Discente do 9º período do curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário da Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] Érika de Souza Cirino Silva Discente do 7º período do curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário da Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] Ana Elza de Oliveira Mendonça Doutora, enfermeira do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e docente do curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário da Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] Daniele Vieira Dantas Doutora, enfermeira, Docente Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] Rodrigo Assis Neves Dantas Doutor, enfermeiro, Docente Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] Gilson de Vasconcelos Torres Doutor, enfermeiro, Docente Titular do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] Revista Feridas 2015; 02 (12) 448 à 452 Resumo Este estudo tem por objetivo identificar, na literatura científica, os cuidados de enfermagem a pacientes com ferimentos provenientes de queimaduras. Trata-se de uma revisão de literatura, realizada em abril/2015, nas bases de dados da LILACS, SCIELO, MEDLINE e BDENF. Foram selecionados 10 artigos científicos, disponíveis em português, em texto completo e publicados entre 2010 e março/2014. O tratamento da queimadura é realizado vislumbrando a cicatrização das lesões e recuperação do paciente. Nesse sentido, a atuação do enfermeiro/da enfermeira é fundamental na decisão da cobertura utilizada e na adequada evolução do tratamento. Descritores: queimaduras, cuidados de enfermagem, cicatrização. Abstract This study aims to identify, in scientific literature, nursing care to patients with injuries from burns. It is a literature review, held in April/2015, in the databases LILACS, SciELO, MEDLINE and BDENF. A total of 10 scientific papers, available in Portuguese, in full text and published between 2010 and March/2014, was selected. The treatment of burn is conducted glimpsing the wound healing and patient recovery. In this sense, the nurse’s role is crucial in deciding the coverage used and in the proper course of treatment. Descriptors: burns, nursing care, wound healing. Resumen Este estudio tiene como objetivo identificar, en la literatura científica, los cuidados de enfermería a pacientes con lesiones por quemaduras. Se trata de una revisión de la literatura, que se celebró en abril/2015 en las bases de datos LILACS, SciELO, MEDLINE y BDENF. Fueron seleccionados 10 artículos científicos, disponibles en portugués, en texto completo y publicados entre 2010 y marzo/2014. El tratamiento de la quemadura se realiza vislumbrando la cicatrización de heridas y la recuperación del paciente. En este sentido, el papel de la enfermera/del enfermero es crucial para decidir la cobertura utilizada y en el curso adecuado de tratamiento Descriptores: quemaduras, atención de enfermería, cicatrizacion de heridas. ARTIGO e requerem tratamento eficaz e imediato. Os acidentes apresentam alta taxa de morbidade e mortalidade em todo o mundo, principalmente nos grupos de maior risco, que são as crianças, pela curiosidade de impulsividade, e os idosos, pela falta de habilidade natural2. Dados de 2012 da World Health Organization (WHO) retratam que 195 mil mortes/ano são causadas por queimaduras no mundo e a maioria ocorre em países de baixa e média renda. Nos países em desenvolvimento, a morte de crianças por queimadura é sete vezes maior do que nos países desenvolvidos3. Nos Estados Unidos, segundo a WHO, ocorrem aproximadamente1,4 milhão de queimaduras por ano, requerendo 54 mil internações. Desse grupo, 8 mil pessoas morrem em decorrência de queimaduras e lesões inalatórias correlatas, constituindo a 4ª causa de morte naquele país3. No Brasil, as queimaduras constituem um problema grave de saúde pública. Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) para o ano de 2014 mostraram que 24.405 pessoas foram internadas no sistema público de saú- de brasileiro por lesões decorrentes de queimaduras, representando cerca de 2,2% do total de internações do grupo das causas externas4. No estado do Rio Grande do Norte, segundo dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no período de 2010 a 2014, ocorreram 1.111 internações hospitalares decorrentes de queimaduras, sendo 45 óbitos nesse mesmo período4. O processo de cicatrização das feridas provenientes de queimaduras sofre influência de alguns fatores como idade, estado nutricional, presença de infecção, doenças como diabetes mellitus e insuficiência vascular, ou traumas associados. Além disso, os resultados dependem, dentre outros procedimentos, da limpeza, da realização de curativos e do uso de produtos apropriados. Esses fatores são de fundamental importância para o bom prognóstico da lesão, a cicatrização em tempo oportuno com o mínimo de complicações5. No que diz respeito à lesão, os primeiros cuidados ao paciente queimado devem ser a manutenção da perfusão tissular e a preservação dos tecidos foto: ilustrativa/ Can Stock Photo Introdução As queimaduras podem ser compreendidas como lesões decorrentes de agentes externos como energia térmica, química ou elétrica, capazes de produzir o aumento excessivo do calor e assim danificar os tecidos corporais acarretando a morte celular. Tais agravos podem ser classificados como queimaduras de primeiro grau, de segundo grau ou de terceiro grau1. Esta classificação é feita de acordo com a profundidade do local atingido e o cálculo da extensão do agravo, de acordo com a idade da vítima. Geralmente, utiliza-se a regra dos nove, criada por Wallace e Pulaski, que leva em consideração a extensão atingida, a chamada superfície corporal queimada (SCQ). Para superfícies corporais de pouca extensão ou que atinjam apenas partes dos segmentos corporais, utiliza-se para o cálculo da área queimada o tamanho da palma da mão (incluindo os dedos) do paciente, o que é tido como o equivalente a 1% da SCQ1. As queimaduras, geralmente, são traumas de grande complexidade 449 2015; 02 (12) 448 à 452 Revista Feridas 450 ARTIGO Vislumbrando o exposto, este estudo tem como objetivo identificar, na literatura científica, os cuidados de enfermagem a pacientes com ferimentos provenientes de queimaduras. Metodologia Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, realizada em abril de 2014, nas bases de dados indexadas à Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE) e Base de Dados em Enfermagem (BDENF). Para a pesquisa, foram utilizados os seguintes descritores: “queimaduras”, “cuidados de enfermagem” e “cicatrização”, segundo a classificação dos descritores em ciências da saúde (DECS). foto: ilustrativa/ Can Stock Photo viáveis. No tocante à manutenção da ferida, deve-se mantê-la limpa e úmida para prevenção de infecções, proteção contra traumas e promoção da cicatrização, mantendo a mobilidade e o funcionamento da parte afetada. A imunização antitetânica também deverá ser avaliada e atualizada5. Além do comprometimento físico decorrente do acidente envolvendo a queimadura, o paciente geralmente chega à unidade de saúde apresentando instabilidade emocional e, nesse momento, a atuação do enfermeiro é importante para proporcionar assistência integral, afetividade, segurança e conforto, a fim de minimizar o sofrimento deste indivíduo6,7. A qualidade da assistência de enfermagem ao paciente queimado é fundamental, visando ao alívio da dor e à prevenção de infecções e de sequelas físicas e emocionais6,7. Revista Feridas 2015; 02 (12) 448 à 452 Os critérios de inclusão foram: textos completos, em português, publicados entre 2010 e março/2015. Foram excluídas as publicações que não contemplassem o objetivo da pesquisa ou que estivessem repetidas em mais de uma base de dados. Após o cruzamento dos descritores, foi encontrado o quantitativo de 25 artigos científicos nos periódicos. Depois de submetidos aos critérios de exclusão, resultaram em 10 produções científicas. A análise dos artigos encontrados foi sistematizada seguindo as etapas da pesquisa bibliográfica, contemplando: o levantamento bibliográfico preliminar nas bases de dados supracitadas; a leitura exploratória, verificando a viabilidade das pesquisas encontradas para a revisão literária; a leitura seletiva, analisando, de maneira específica, a pertinência dos estudos; a leitura analítica, sumarizando as informações encontradas de maneira crítica; a leitura interpretativa, articulando os conhecimentos versados em todos os estudos analisados; e a elaboração do texto final que sintetiza os resultados da pesquisa literária8. Resultados e discussões Durante o atendimento pré-hospitalar9, preconiza-se que a vítima de queimadura seja avaliada primariamente a fim de analisar alterações possivelmente fatais, em ordem de importância, para preservação da vida. Vale ressaltar que o método de atendimento a uma vítima de queimadura é semelhante ao de uma vítima de trauma, seguindo o ABCDE. Sendo: A — Via aérea com controle cervical; B — Respiração e ventilação; C — Circulação e controle de hemorragia; D — Avaliação neurológica e de incapacidade; e E — Exposição/ambiente. Durante o transporte do paciente queimado para a unidade hospi- talar, os ferimentos devem ser cobertos com curativos estéreis para impedir a contaminação e o fluxo de ar sobre as feridas. Nestes casos, podem ser utilizados tecidos ou toalhas estéreis e, por cima destes, cobertores ou plásticos para evitar a hipotermia9. Os produtos tópicos são contraindicados no atendimento pré-hospitalar, uma vez que impedem a visualização direta da queimadura e a determinação de sua gravidade e podem até prejudicar a aplicação de substâncias especializadas para as lesões, no ambiente hospitalar. No tocante à admissão do paciente queimado em uma unidade hospitalar, faz-se necessário utilizar o protocolo de atendimento geralmente estabelecido em cada unidade. Para tanto, é recomendado que, primeiramente, realize-se avaliação do queimado, identificando o tipo, a origem e o grau da queimadura e seu quadro clínico, podendo haver necessidade, inclusive, de tratamento cirúrgico. Pode-se considerar que o tratamento do queimado seja dividido em três fases: reanimação, reparação e reabilitação10. O enfermeiro deverá realizar a anamnese, o exame físico e a monitorização dos sinais vitais, estabelecendo uma boa assistência e o planejamento através do processo de enfermagem, a fim de garantir o tratamento adequado e eficaz, além da estabilização do quadro na fase de emergência e manutenção da dor10. Em sequência ao atendimento inicial, os cuidados necessários com a limpeza das queimaduras deverão ser realizados utilizando água corrente ou solução fisiológica, objetivando não lesionar os tecidos epitelizados, sendo necessário o uso de instrumentos adequados para essa limpeza. Em pacientes com queimaduras extensas, a limpeza dar-se-á por meio de chuveiro, duchas de várias intensidades, tanques tipo banheira ou de turbilhão, cadeiras especiais de banho e no leito5. 451 foto: ilustrativa/ Can Stock Photo ARTIGO Há critérios utilizados para a escolha do tipo de curativo, sendo estes a profundidade da queimadura, a quantidade de exsudato, a localização, a extensão e a causa da queimadura, além do impacto funcional na mobilidade, do custo, conforto e da dor do paciente. Para realizar esses curativos, devem-se manter as técnicas assépticas, evitando, assim, risco de possíveis infecções2,5. Geralmente, os curativos utilizados são do tipo oclusivo, caracterizados pela aplicação de uma cobertura primária seguida por outra secundária. Tais procedimentos têm como objetivo auxiliar no desbridamento e na absorção do exsudato presente, e permitem a mobilização do paciente2,5. O alginato de cálcio e as hidrofibras com prata são muito utilizados com o intuito de prevenir a infecção, reduzir o número de microrganismos e absorver exsudato. Os hidrocoloides, hidrogéis e a sulfadiazina de prata 1% promovem o desbridamento, mantêm o leito da queimadura úmida, favorecendo a restauração do tecido e con- tribuindo para a cicatrização e a diminuição da dor. As gazes não aderentes impregnadas com petrolato são outra opção de cobertura para umedecer o leito da lesão e auxiliar no processo cicatrial5,14. Atualmente, a variedade de curativos vem aumentando no mercado brasileiro, contudo, ainda não há curativos ideais. No entanto, cabe aos enfermeiros fazer a melhor escolha, considerando a particularidade de cada um e o quadro sistêmico envolvido no tratamento10. O enfermeiro desempenha um papel importante quanto à prescrição dessas coberturas, levando em conta suas habilidades quanto à compreensão das indicações e contraindicações dos produtos para cada tipo de lesão e os conhecimentos específicos referentes à aplicação e avaliação criteriosa dessas lesões, estando, assim, apto para prescrever as coberturas dentro dos limites de sua competência12-13. Outro fator não menos importante quanto ao cuidado com a lesão, é o estado emocional do paciente. A queimadura pode provocar alterações 2015; 02 (12) 448 à 452 Revista Feridas ARTIGO foto: ilustrativa/ Can Stock Photo 452 no estado psicossocial do paciente, influenciando no humor e no comportamento, por exemplo, quando ocorre mudança na sua imagem corporal14-15. Diante disso, vale salientar que aplicabilidades das técnicas de relaxamento — por meio de músicas, vídeos, dese- nhos e terapia cognitivo-comportamental — são medidas não farmacológicas que contribuem para amenizar essas alterações emocionais e para o alívio da dor causada pela queimadura14,16-17. Outro fator importante é a avaliação da dor proveniente da queimadura por parte dos profissionais de saúde. Torna-se necessário que a queixa álgica seja vista como quinto sinal vital durante as avaliações e intervenções. Os medicamentos mais utilizados para alívio da dor são opioides, anti-inflamatórios, antidepressivos e agonistas alfa-2. Os opioides, por sua vez, são importantes medicamentos utilizados durante os procedimentos,pois reduzem consideravelmente as queixas álgicas7,14. Apesar da necessidade de maior investimento científico sobre a temática, sabe-se que a equipe de enfermagem é fundamental no processo de gerenciamento da assistência ao paciente com lesões provenientes de queimaduras, contribuindo diretamente para maior êxito e eficácia no tratamento e na reabilitação5. Conclusão Segundo a revisão realizada, conclui-se que a conduta do enfermeiro na assistência ao paciente vítima de queimadura tem como principal objetivo minimizar quaisquer complicações advindas do trauma sofrido. Ademais, o enfermeiro precisa ter bom domínio técnico e teórico dos procedimentos a serem realizados em pacientes queimados. E, para isso, as atualizações científicas e técnicas são essenciais, pois, além de auxiliarem no planejamento do tratamento do indivíduo de forma integral, dão suporte à escolha adequada do tipo de curativo que será utilizado em cada lesão, reduzindo a dor e proporcionando maior conforto ao paciente. Levando em consideração os fatores psicológicos que envolvem a vítima de queimadura, o enfermeiro não pode esquecer-se do apoio emocional, uma vez que o vínculo de confiança estabelecido também contribui para melhor fluidez e eficácia no tratamento e bem-estar do paciente. Referências bibliográficas 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. Cartilha para Tratamento de Emergência das Queimaduras. Brasília: Ministério da Saúde; 2012. 2. Nishipk, PK. Costa ECNF. Cuidados de enfermagem à pacientes vítimas de queimaduras: identificação e características clínicas. Revista UNINGÁ. 2013;36:181-92. 3. World Health Organization. Violence and Injury Prevention. Fact sheet. Burns; 2012. 4. Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS. Sistema de informações hospitalares do SUS. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. 5. Rossi LA, Menezez MAJ, Gonçalves N, Ciofi-Silva CL, Farina-Junior JA, Stuchi RAG. Cuidados locais com as feridas das queimaduras. 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