PERCEPÇÃO DE PACIENTES QUEIMADOS Ana

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A DOR DA QUEIMADURA: PERCEPÇÃO DE PACIENTES QUEIMADOS 1
Ana Hilda Silva Soares – NOVAFAPI*
Ana Lívia Ibiapina Leite – NOVAFAPI**
Carla Cristina Santiago de Matos Vieira – NOVAFAPI***
Ana Maria Ribeiro dos Santos – NOVAFAPI ****
INTRODUÇÃO
As lesões por queimaduras constituem a terceira causa de morte acidental em
todas as faixas etárias; 75% dessas lesões resultam da ação da vítima e ocorrem no
ambiente domiciliar (ROSSI et al, 2003). No entanto, queimaduras também decorrem de
acidentes de trabalho e acometem em maior número os homens, ou seja, os mesmos são
mais expostos e susceptíveis, especialmente a agentes químicos e elétricos. No Piauí foi
realizado um inquérito no mês de setembro de 2006, que constatou o atendimento de doze
vítimas de queimaduras em um serviço de pronto socorro da capital, sendo quatro delas em
crianças de 0 a 2 anos, o que corresponde a 33,3% dos casos. O fogo foi o agente causador
de oito delas (66,7%), três foram causadas por substâncias quentes (25 %) e 8,3% por
outros agentes (BRASIL, 2006).
A preocupação em prestar assistência ao paciente queimado remonta á idade
antiga, 280 a.C. (RIO DE JANEIRO, 2005). Todavia a criação do primeiro centro de
tratamento de queimados ocorreu durante a segunda guerra mundial, devido ao grande
número de vítimas dessa injúria (PAIVA, 1998).
As queimaduras causam danos tanto no aspecto físico quanto no aspecto
psicossocial, porém, quando se analisa a literatura sobre o tema observa-se uma abordagem
apenas nos conhecimentos físico-patológicos. É necessário entender o paciente queimado
enquanto pessoa, com suas características peculiares conseqüentes ao trauma sofrido. Uma
das principais características desse paciente é a dor que é compreendida como física,
emocional e sociocultural (ROSSI et al, 2003).
A percepção de dor é caracterizada como uma experiência multidimensional,
diversificando-se na qualidade e na intensidade sensorial, sendo afetada por variáveis
afetivo-emocionais. Para tanto é essencial que o paciente possa expressar seus anseios e
tensões de forma verbal e/ou não verbal, possibilitando desta forma ao profissional que o
assiste implementar uma terapêutica eficaz. A percepção do paciente sobre a sua dor é algo
complexo, subjetivo e que de algum modo pode contribuir positivamente para a melhoria
do prognóstico, uma vez que no momento em que este manifesta sua dor há uma
significativa diminuição da carga emocional gerada pela patologia, pelo sentimento de
culpa, ou mesmo pelas alterações de vida que a queimadura lhe impõe.
O interesse pelo estudo surgiu através de um estágio extracurricular desenvolvido
1
Pesquisa em andamento
junto a uma Unidade de Queimados e por entender que estudos nessa área podem oferecer
melhorias e de alguma forma contribuir para modificar as práticas executadas, uma vez que
novos conhecimentos e principalmente questões humanizadoras podem ser socializadas aos
membros da equipe, oportunizando ao paciente um ambiente acolhedor com maximização
dos resultados positivos da assistência aplicada. Vale ressaltar, que o paciente é o principal
elemento deste processo, para tanto é inexorável à compreensão do mesmo nos seus
múltiplos aspectos, ressaltando-se que a dor constitui um fator primordial de observação.
Nesse sentido, o objeto de estudo é a percepção dos pacientes queimados sobre a
dor provocada pela queimadura. Os objetivos do estudo são: Conhecer a percepção de dor
para o paciente queimado e descrever a dor provocada pela queimadura na percepção do
paciente queimado. As questões que nortearam esse estudo foram: Qual a percepção de dor
para o paciente queimado? Qual o comportamento do paciente frente dor provocada pela
queimadura? Existe alguma situação que influencie (potencialize ou amenize) a dor do
paciente queimado?
REVISÃO DA LITERATURA
A queimadura desencadeia agressões aflitivas nos aspectos psicológico e social,
desse modo, o paciente requer uma atenção diferenciada de outras patologias, onde há o
predomínio do aspecto biológico, convém enunciar, que uma constante no tratamento
desses pacientes é a dor, não só física, mas principalmente psicológica, pois as alterações
após o acidente, muitas vezes inesperado, ocasionam sentimentos de inferioridade, bem
como de desesperança frente aos obstáculos a serem sobrepostos na busca de tratamento
adequado a uma melhor qualidade de vida e consequentemente melhoria do prognóstico.
“A dor é um problema de saúde pública mundial que atinge milhões de pessoas
por dia em todo o mundo, sendo atendida de modo precário em quase todos os países”
(DRUMMOND, 2006 p. 664).
Segundo Calil e Pimenta (2006), estudos têm mostrado que a dor aguda não vem
sendo tratada de forma conveniente e conseqüente a esta prática ocasiona sofrimento
incalculável e desnecessário a muitos pacientes, além de desencadear alterações
neurovegetativas danosas ao organismo, como: taquicardia, hipertensão arterial, sudorese,
palidez, agitação psicomotora, ansiedade e diminuição da oferta de oxigênio aos músculos.
De acordo com Cruz e Pimenta (1999), dor é uma experiência sensorial e
emocional desagradável, associada a uma lesão tissular real ou prejudicada e surge
normalmente como alerta de que algo no organismo não está em equilíbrio.
Sousa (2002, p. 446), afirma que
[...] dor pode ser definida como uma experiência subjetiva e
pessoal que pode estar associada a dano real ou potencial nos
tecidos, podendo ser descrita tanto em termos desses danos quanto
por ambas as características.
Portanto, a avaliação da experiência dolorosa não é procedimento simples, ou seja, é
algo complexo uma vez que o fenômeno dor é dito individual e subjetivo e cuja
interpretação e expressão envolvem elementos sensitivos, emocionais e culturais.
A avaliação da dor é um processo amplo e necessita de informações desde a data do
início, bem como aspectos inerentes aos fatores que aumentam ou diminuem a intensidade
dos episódios dolorosos, além de interferências nas atividades diárias, nos relacionamentos
afetivos e análise social e psíquica. Outro aspecto imprescindível de análise é a
denominação que o paciente dá à experiência dolorosa, descrevendo-a através de analogias
(ANDRADE; PEREIRA; SOUSA, 2006).
Nas palavras de Sousa (2002), os instrumentos para a mensuração da dor podem ser
unidimensionais e multidimensionais, onde o primeiro quantifica a experiência dolorosa em
uma só dimensão, como a intensidade ou severidade, e tem sido usados freqüentemente em
hospitais e/ou clínicas para se obterem informações rápidas, não invasivas e, sobretudo
válidas e os multidimensionais quantificam-na em suas múltiplas dimensões afetivasemocionais, interferindo de forma substancial na percepção da dor.
O paciente queimado a multidimensionalidade é uma constante. A dor física do
paciente é decorrente do trauma térmico sobre a pele, que produz uma série de alterações
locais. O processo doloroso inicia com a excitação direta das terminações nervosas pelo
calor, pois ocorre uma destruição das camadas superficiais e conseqüente exposição das
terminações neuro-sensitivas. Já a dor psicológica pode ser decorrente de modificações na
aparência (ROSSI et al 2000).
Para Artz, Moncrief e Pruit (1980), a dor da queimadura está associada a
procedimentos específicos, como curativos, desbridamento, fisioterapia, fonoaudiologia e
banho. Essa dor é suportada em grau e duração variada que pode ser alterada por diversos
fatores durante a trajetória terapêutica, tais como: extensão e localização da queimadura,
estado nutricional, nível de ansiedade e de tolerância a dor, experiências anteriores, cultura
e faixa etária.
Gomes, Serra e Pellon (1995), classificam a dor em física e emocional. Entretanto, a
equipe multiprofissional deve lidar com ela, seja física ou emocional, como estreitamente
relacionada à queimadura, com a consciência de que os procedimentos a serem executados
poderão potencializá-la.
O paciente reage de diversas formas a dor: ignorando-a, reagindo realisticamente ou
através de reação exagerada. Portanto, o enfermeiro deve avaliar a dor do paciente e intervir
na tentativa de promover alívio, e nunca subestimá-la em função da reação apresentada
(ROSSI; CASAGRANDE, 2001). Para Gomes, Serra e Pellon (1995), o enfermeiro deve
escutar e confortar o paciente, visto que, muitas vezes a queixa de dor se configura uma
forma de chamar atenção do profissional para a solidão sentida por ele.
O paciente queimado também pode se mostrar ansioso em relação a procedimentos
dolorosos ou não, desencadeantes de um padrão de sono insatisfatório (insônia), o que pode
torná-los menos resistentes a dor, já que a tensão muscular relacionada com a apreensão e
medo diminui o limiar de dor.
A imagem corporal percebida pelo paciente após a queimadura, pode provocar dor
dependendo de suas experiências e crenças individuais (ROSSI et al, 2000).
METODOLOGIA
O estudo a ser realizado terá abordagem qualitativa, será uma pesquisa de campo,
utilizará como cenário a Unidade de Tratamento de Queimados de um hospital de ensino no
município de Teresina – PI, que atende a uma clientela proveniente tanto do estado do Piauí
como de estados vizinhos. Os pacientes atendidos na unidade podem ter diversas causas de
queimaduras, tais como: eletricidade, agentes químicos, agentes térmicos e outros; com
grau de acometimento variável e de todas as faixas etárias. Os sujeitos de estudo serão
pacientes queimados escolhidos aleatoriamente, com autonomia para participar do estudo,
identificados por códigos para que seja garantido o anonimato.
A técnica utilizada para produção de dados será a entrevista, que é um recurso que
favorece uma interação do entrevistador com o entrevistado, portanto possibilita maior
flexibilidade na obtenção de informações, onde o entrevistador tem a oportunidade de
observar não só o entrevistado, mas a situação como um todo. Utilizar-se-á como
instrumento um roteiro semi-estruturado e gravador para facilitar a posterior transcrição e
análise dos discursos, sendo esta última realizada através de análise temática com
elaboração de categorias que serão definidas simultaneamente a produção dos dados, pois a
partir dos discursos têm-se melhores condições de seleção das mesmas, facilitando assim o
processo de análise.
Vale ressaltar que o desenvolvimento do estudo está em conformidade com a
Resolução 196/96 que dispõe sobre a ética da pesquisa com seres humanos, e que os
sujeitos deverão autorizar sua participação através da assinatura termo de consentimento
livre e esclarecido. O projeto será encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa da
NOVAFAPI e à Comissão de Ética em Pesquisa do hospital de ensino e somente após
autorização de ambos a pesquisa terá inicio.
Palavras-chave: Queimadura. Dor. Percepção.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, F.A.; PEREIRA, L.V.; SOUSA, F.A.E.F. Mensuração da dor no idoso: uma
revisão da literatura. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, vol.14, n.2, p.271276, mar./abr. 2006, Disponível em: <http://www.scielo.br/. Acesso em: 4 Out 2006.
ARTZ, C.P.; MONCRIEF, J.A.; PRUIT, B.A. Queimaduras. Rio de Janeiro:
Interamericana, 1980.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. SVS/CGDANT. Fundação Municipal de Saúde de
Teresina. Inquérito: Acidentes e Violências em Unidades de Urgência e Emergência de
Teresina. Setembro, 2006.
CALIL, A.M.; PIMENTA, C.A.M. A importância da avaliação da dor no setor de
emergência. Revista emergência, São Paulo, v.1, n.2, p. 51-55 jan. 2006.
CRUZ, D.A.L.M.; PIMENTA, C.A.M. Avaliação da dor crônica em consulta de
enfermagem: proposta de instrumento segundo diagnóstico de enfermagem. Rev. LatinoAm. Enfermagem. Ribeirão Preto, v. 7, n. 3, p.49-62, jul 1999. Disponível em:
<http://www.scielo.br>. Acesso em: 8 out 2006
DRUMMOND, J.P. Dor aguda: fisiologia clínica e terapêutica. P. 664. São Paulo: Atheneu,
2006.
GOMES, D.R.; SERRA, M.C.; PELLON, M. Queimaduras. Rio de Janeiro: Revinter,
1995.
PAIVA, S.S.; MIYADAHIRA, A.M.K. Queimaduras: avaliação e complicações na fase de
urgência. Nursing Revista Técnica de Enfermagem, São Paulo, v.1, n.1, p 12-14, jun. 98.
RIO DE JANEIRO. Queimaduras: Histórico. Secretaria de Saúde, 2005. Disponível em
<www.saude.gov.br/queimaduras/histórico.shtml>, acesso em 09 de outubro de 2006.
ROSSI, L.A.; CASAGRANDE, L.D.R. O processo de enfermagem em uma unidade de
queimados: um estudo etnográfico. Rev. Latino-Am. Enfermagem. Ribeirão Preto, v. 9,
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ROSSI, L. A.; et al. Prevenção de queimaduras: percepção de pacientes e de seus
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SOUSA, F.A. E. F. Dor: o quinto sinal vital. Rev. Latino-Am. Enfermagem. Ribeirão
Preto, v. 10, n. 3, p.446-447 mai/jun 2002. <http://www.scielo.br/>. Acesso em 08 de set
2006
∗
Acadêmica de enfermagem – Faculadade NOVAFAPI: [email protected]
**Acadêmica de enfermagem – Faculadade NOVAFAPI: [email protected]
***Acadêmica
de
enfermagem
–
Faculadade
NOVAFAPI:
[email protected]
**** Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora da NOVAFAPI/UFPI.
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