As vias metabólicas existem porque existem enzimas que têm especificidade para substratos que são simultaneamente produtos de outras reações enzímicas. Introdução às reações enzímicas. membrana do hepatócito… Fosforílase do glicogénio Equilíbrio químico, catálise e classificação funcional. fosfoglicomútase GLUT2 Aulas a cargo de Ana Branco e Rui Fontes ADP + Pi [email protected] Departamento de Bioquímica da Faculdade de Medicina do Porto Glicose-6fosfátase ATP 1 As enzimas catalisam reações mas não têm qualquer papel no sentido em que estas ocorrem. A razão entre a constante de equilíbrio (Keq) e o quociente de reação (QR) permite prever o sentido global em que uma reação tende a evoluir. aA + bB ↔ pP + qQ CO2 + H2O 2 Numa via metabólica existem enzimas com baixa atividade catalítica e que, consequentemente, catalisam reações em que Keq»QR. Outras enzimas têm uma atividade catalítica elevada e, nestes casos, Keq≈QR. 1- Uma reação está em equilíbrio... Keq = QR ⇔ Keq/QR =1 (= mesmo, in vitro, as concentrações de reagentes e produtos não se modificam ao longo do tempo) 2- A reação evolui em sentido direto ... A + B → P + Q se Keq > QR ⇔ Keq/QR >1 3- e evolui em sentido inverso... P + Q → A + B se Keq < QR ⇔ Keq/QR <1 Ao contrário do que acontece no tubo de ensaio, nas células as reações podem evoluir sem que as concentrações dos reagentes e produtos se modifiquem: o QR de uma determinada reação celular pode manter-se 3 “estacionário”. 4 Na reação catalisada pela fosforílase do glicogénio estima-se que a Keq ≈0,3. As concentrações estacionárias da glicose-1-P ( 0,00004 mM) e do fosfato inorgânico (Pi ≈ 0,4 mM) nas células permitem estimar o QR ≈ 0,0001 ⇒Keq»QR (qualquer QR fisiológico) e a reação é fisiologicamente irreversível. Glicogénio (n) + Pi ⇒Keq ≈ QR e a reação é fisiologicamente reversível. Glicogénio (n-1) + Glicose-1-P [Glicogénio]equi × [Glicose-1-P]equi Keq = Na reação catalisada pela fosfoglicomútase estima-se que a Keq ≈17; as concentrações estacionárias da glicose-1-P (≈ 20-40 nM) e da glicose-6-P (≈ 400-800 nM) permitem estimar o QR ≈ 10 a 40 [Glicogénio]equi × [Pi]equi ≈ 0,3 [Glicose-6-P]equi Keq = ≈ 17 [Glicose-1-P]equi Em determinadas condições metabólicas [Glicose-1-P]real QR = ≈ [Pi]real 0,00004 mM 0,4 mM ≈ 0,0001 5 Numa via metabólica na ausência de “ramificações e entroncamentos” a velocidade efetiva de conversão (velocidade macroscópica = vel_diretavel_inversa), ou seja, a velocidade de fluxo da via metabólica (J) é igual quer nas reações de “equilíbrio” quer nas de “desequilíbrio”. J=10 10,01 Pi 0,01 = 10 1010 Glicose-1-P Glicose-6-P 1000 (17< [G6P](real)/[G1P] (real)) ....e a reação evolui no sentido Glicose-6-P → Glicose-1-P O valor da razão Keq/QR é uma medida do “grau de desequilíbrio” da reação; que pode exprimir-se de outra maneira; quanto maior é o valor da razão Keq/QR mais negativo é o valor da “energia de Gibbs”. A energia de Gibbs = 0 se Keq = QR; ln 1 = 0. A energia de Gibbs é positiva se QR > Keq; ln número < 1 é um número negativo mas na equação de Gibbs vel. efetiva = vel_direta – vel_inversa = 10,01 – Noutras condições metabólicas Keq < QR ∆G kJ/ mol Keq/ QR ≈ 106 -36 103 -18 1 0 6 Se a razão Keq/ QR ...então a energia >1 Negat. ea reação A→P de Gibbs tende a prosseguir no sentido direto A equação de Gibbs relaciona a “energia de ∆G) com a razão Keq/QR Gibbs” (∆ Glicose-1-P 0,01 Keq > QR (17 > [G6P](real)/[G1P] (real)) ....e a reação evolui no sentido Glicose-1-P → Glicose-6-P =1 Nula Aparentemente parada 10-3 18 10-6 36 <1 Posit. tende a prosseguir no sentido inverso vel. efetiva = vel_direta – vel_inversa = 1010 - 1000 = 10 7 8 ∆G (kJ/mol) ≈ - log decimal (Keq/QR) ×6 Outra forma de exprimir Keq de uma reação é referir o ∆Gº. ∆Gº = - RT ln Keq = energia de Gibbs padrão ( ∆G quando QR =1) O valor de ∆Gº é apenas um equivalente da Keq e, em geral, não nos diz nada acerca do sentido em que a reação tende a evoluir nem da reversibilidade ou irreversibilidade do processo. As reações tendem a evoluir no sentido em que o valor do QR se aproxima do valor de Keq. Pensando na reação A→ →B com Keq = 1 Se QR=1… B B B A A A Se QR=1/5… B A A A A A … ∆G=0 ⇔ reação em equilíbrio Na reação A → B (que pode ocorrer) Keq>QR ⇔ ∆G é negativo: a reação A → B é exergónica (ou espontânea). ∆Gº = -RT ln 0,3 = + 3 kJ mol-1 A reação de fosforólise do glicogénio diz-se exergónica porque o ∆G é negativo 9 As reações nunca evoluem no sentido em que são endergónicas mas os processos anabólicos são endergónicos... H2O ∆G = + 35 kJ glutamato glutamina NH4+ ATP ∆G = -50 kJ ADP + Pi H2O glutamina NH4+ glutamato Na reação B → A (não pode ocorrer) porque QR>Keq ⇔ ∆G é positivo: a reação B → A seria chamada de endergónica (ou não espontânea). Keq > QR ⇔ reação exergónica = reação que pode ceder energia para que 10 um processo endergónico (reativo ou de transporte) possa ocorrer. As reações endergónicas não existem mas podem ocorrer se acopladas a reações exergónicas. Muitas reações podem ser entendidas como o somatório de duas reações em que uma semirreação é endergónica e a outra semirreação é exergónica; se o somatório dos ∆G das duas semirreações for negativo a reação soma é exergónica e tem tendência termodinâmica para ocorrer. glicose-6-P + ADP ∆G = -32 kJ; Keq/QR= 4x105 glicose + ATP glicose + Pi glicose-6-P + H2O ∆G = + 18 kJ; Keq/QR= 7x10-4 ATP + H2O ADP + Pi (∆ ∆G=-50kJ) ∆G=-50 kJ; Keq/QR= 0,7x109 ATP glicose-6-P ∆G soma = -15 kJ exergónico B A A A A A cínase da glicose sintétase da glutamina ATP endergónico (∆ ∆G= +35 kJ) A A A A A A As reações evoluem sempre no sentido em que são exergónicas (podendo ser exotérmicas ou endotérmicas); as reações endergónicas são uma abstração e não existem. ∆G = -RT ln (0,3/0,0001) = - 20 kJ mol-1 ∆G = -RT ln (Keq/QR) Se pensar na reação inversa (B → A), QR=5… ADP + Pi As enzimas são as máquinas que acoplando processos endergónicos com exergónicos possibilitam a ocorrência dos processos endergónicos. 11 A sintétase da glutamina é um exemplo. glicose endergónico (∆ ∆G= +18 kJ) ADP exergónico (∆ ∆G=-50kJ) A cínase da glicose é uma “máquina química” que acopla um processo endergónico 12 (a formação de glicose-6-P) com outro exergónico (a hidrólise do ATP). Quando a reação ocorre em meio aquoso e um dos reagentes (ou produtos) é a água, a sua concentração não entra no cálculo da Keq (nem do QR). AB + H2O → A + B [A]equil × [B] equil Keq* = [AB]equil × [H2O] H2O → H+ + OH- Keq* × [H2O]= Keq = [A]equil × [B] equil Quando em Bioquímica se escreve a equação da glicólise anaeróbia omite-se o sinal do lactato para expressar a ideia que nos estamos a referir à mistura do ácido láctico com o lactato. glicose → 2 lactato … quer dizer: glicose → 2 (ácido láctico + lactato-) Keq’ = [AB]equil Kw= [H+] × [OH-]= 10-14 M2 Em Bioquímica mesmo quando não é explicitamente referido a Keq pode ter um significado diferente do que é usado em Química. Em Bioquímica a constante de equilíbrio é uma Keq’ em que pressupõe que o pH do meio é 7. Se um reagente (ou um produto) é um ácido fraco vai estar em duas formas: a forma ácida (não dissociada) e a forma básica (dissociada do protão). [glicose] A razão [lactato-] / [ácido láctico] vai depender do pKa do ác. láctico e do pH do meio. Em Bioquímica o valor de Keq’ presume que o pH = 7. A pH 7 a razão [lactato-] / [ácido láctico] é ≈ 1000/1 e… Keq’ ≈ Keq definida como [lactato-]2/[glicose], mas nem sempre é assim. glicose-6-P + H2O → Pi + glicose [Prod1] × [Prod2] Keq = [Reag1] × [Reag2] Keq’ = ([Prod1a] + [Prod1b]) × [Prod2] ([Reag1a] + [Reag1b]) × [Reag2] À Keq corresponde ∆Gº e à razão Keq/QR corresponde ∆G. À Keq’ corresponde ∆G’º e à razão Keq’/QR’ corresponde ∆G’ e são estes últimos valores que são, habitualmente, apresentados nos livros de Bioquímica. Quando, em Bioquímica, se diz que na reação de hidrólise do ATP em ADP + Pi o ∆G’º é -31 kJ/mol quer-se dizer que a reação está em equilíbrio (∆G’º = -31 kJ/mol ⇔ Keq’ = 1,8 x 105 M) quando 2[MgADP-] + [ADP3-] + [HADP2-] [H2PO4 ] + [HPO4 ] + [MgHPO4] × [ADP] [Pi] = 1,8 x 105 M [ATP] Keq’ = ([fosfato2-] + [fosfato-]) ( [glicose-6-P2-] + × [glicose] ) = 2,7 x 105 M [glicose-6-P-] A pH 7, os fosfato com carga -2 e -1 têm concentrações parecidas… Nos sistemas biológicos existem membranas que separam compartimentos, mas muitas substâncias podem atravessar essas membranas. Algumas moléculas pequenas e sem carga (como o O2 e o CO2) podem atravessar membranas por processos em que não intervêm proteínas da membrana; o processo de transporte diz-se não mediado. Mas no transporte transmembranar da maioria das substâncias intervêm proteínas da membrana: o processo de transporte diz-se mediado. O transporte não mediado é sempre estritamente exergónico (= passivo); o transporte mediado pode ser passivo ou ativo. Existe transporte passivo ( = difusão) de uma determinada substância quando ela se move a favor do seu gradiente químico (ou electroquímico): o processo é estritamente exergónico. [MgATP2-] + [ATP4-] + [HATP3-] …em que as concentrações de ADP, Pi e ATP são somatórios das concentrações das formas ionizadas e não ionizadas e ligadas ou desligadas do Mg2+. ([ácido láctico] + [lactato-])2 15 Existe transporte ativo de uma determinada substância quando ela se move contra o seu16 gradiente químico (ou electroquímico): o processo contém um componente endergónico. 14 Na maioria das células a glicose (e outras substâncias não iónicas) atravessa as membranas a favor do seu gradiente de concentrações (difusão ou transporte passivo). No plasma sanguíneo e no líquido extracelular a [glicose] ≈ 5 mM mas no citosol da maioria das células, em resultado da ação da hexocínase, é cerca de 0,1 mM. Em equilíbrio haveria igual concentração nos 2 lados da membrana ⇒ e a glicose tende a mover-se de fora para dentro. ∆G = - RT ln Keq = -RT ln 1 [glicose]dentro QR = -RT ln O transporte transmembranar de substâncias iónicas é passivo (difusão) quando ocorre a favor do gradiente eletroquímico (gradiente elétrico e de concentrações) e ocorre através de canais iónicos ou de transportadores. O gradiente elétrico é uma consequência do facto de as membranas terem cargas diferentes entre as duas faces exterior e interior; o gradiente químico deve-se à diferença de concentrações. No caso do transporte de substâncias com carga elétrica (iões) para além do gradiente químico temos de ter em conta a eventual existência de uma diferença de potencial entre os dois lados da membrana. [glicose]fora [glicose]dentro [glicose]fora Na membrana da maioria das células a glicose move-se a favor de gradiente [glicose]fora ≈ 5 mM O lado interno da membrana citoplasmática tem carga negativa relativamente ao lado externo que tem carga positiva. ⇔ processo estritamente exergónico Se a [glicose]fora = 5 mM e a [glicose]dentro= 0,1 mM ∆G (para o processo de transporte fora → dentro) ≈ [glicose]dentro ≈ 0,1 mM - 10 kJ / (mole de 17glicose transportada) O valor do ∆G correspondente ao gradiente elétrico de um ião com carga Z que é transportado do lado da exterior da membrana para o interior é dado pela expressão: Carga do ião Diferença de potencial (Volt); por convenção o sinal é o do interior da membrana; Ψ = psi ∆G = Z F Ψ Faraday= 96500 Coulomb mol-1 [Na+]fora Quais os valores de ∆G (elétrico e químico e o ∆G soma) correspondentes ao transporte de 1 mol de ião Na+ de fora para dentro? ∆G(gradiente elétrico) = 1 × 96500 × (- 0,086) = - 8,3 kJ mol-1 ∆G(gradiente químico) = - RT ln (145/10) Ψ = - 0,086 V = - 6,6 kJ mol-1 A energia envolvida no transporte de iões Na+ de fora para dentro da célula é o somatório: energia correspondente ao gradiente químico (∆ ∆G negativo) + energia correspondente à diferença de potencial (∆ ∆G negativo) Quando o transporte é passivo ⇔ a favor do gradiente electroquímico ⇔ ∆G<0 o processo de transporte da substância em análise é exergónico. 18 Quando o transporte de uma substância ocorre contra o seu gradiente electroquímico e o processo exergónico acoplado é uma reação química falamos em transporte ativo primário. É o caso 1- da ATPase do sódio/potássio (bomba de sódio/potássio) e dos… 2- dos complexos I, III e IV da cadeia respiratória. Aqui a componente exergónica é uma reação redox...e o endergónico o bombeamento de protões contra gradiente electroquímico. = 145 mM [Na+]fora= 10 mM ∆G(soma) = (- 8,3 - 6,6) = - 14,9 kJ mol-1 -1 19 ∆G(gradiente electroquímico) = - 14,9 kJ mol Transporte de 3 Na+ contra gradiente electroquímico (∆G ≈ + 44,7 kJ/mol de ATP) Transporte de 2 K+ (admitindo equilíbrio eletroquímico) (∆G ≈ 0 kJ/mol de ATP) Hidrólise de 1 ATP (∆G ≈ - 50 kJ/mol de ATP) (∆G ≈ - 5,3 kJ/mol de ATP) 20 Processo global catalisado pela bomba de Na+/K+ ...é exergónico. Quando o transporte de uma substância ocorre contra o seu gradiente electroquímico e o processo exergónico é o transporte de um ião a favor do seu gradiente electroquímico (por sua vez criado por um transporte ativo primário) falamos em transporte ativo secundário. Aquando da síntese de ATP pela síntase de ATP mitocondrial (complexo V) ocorre um processo que é o inverso do que corresponde aos processos de transporte ativo primário: uma reação enzímica endergónica (∆G >0) está acoplada com um transporte exergónico (∆G <0) O transporte de glicose ∆G(gradiente elétrico) = 1× 96500 C mol-1 × (- 0,15 V) = - 14,5 kJ mol-1 + + ∆G(gradiente químico) = - RT ln (10-7,0/10-7,6) + + + = - 3,6 kJ mol-1 + + - - - ∆G(gradiente eletroquímico) relativo ao - transporte de 3 moles protões = + [H+] = 10-7,6 M 3 (-14,5 kJ 3,6 kJ) = - 54,1 kJ ADP + Pi V 3 H+ 3 H+ ATP + H2O Ψ = - 0,15 V ∆G relativo à síntese de 1 mol + - - - de ATP = 50 kJ + + + ∆G relativo ao processo global + + + + + = - 54,1 kJ + 50 kJ = -4,122kJ [H+]=10-7 M no polo apical dos enterócitos é um transporte ativo secundário em que o processo exergónico é a passagem de iões sódio para dentro das células a favor do gradiente electroquímico e o endergónico o transporte de glicose contra gradiente. Diz-se que os transportadores de Na+ e glicose existentes no polo apical dos enterócitos (SGLT1; sodium dependent glucose transporter 1) é um “simporte” porque só pode funcionar 21 transportando 2 iões Na+ e 1 molécula de glicose no mesmo sentido. As palavras “difusão”, “transporte passivo” e “transporte ativo” referemse à termodinâmica do processo de transporte. As palavras “simples”, “facilitado/a”, “mediado”, “transportador”, “cotransporte” “uniporte”, “antiporte” e “simporte” referem-se ao catalisador (ou à sua ausência). 1- Palavras que descrevem a energia envolvida no processo de transporte e estão, portanto, relacionadas com aspetos relacionadas com termodinâmica do processo: a) transporte passivo = difusão = transporte a ”favor do gradiente electroquímico” b) transporte ativo = transporte “contra o gradiente químico ou electroquímico”. 2- Palavras relacionadas com o tipo de catalisador envolvido no processo de transporte: a) simples = não mediado (sem catalisador). b) facilitado = mediado por transportador. b1) uniporte, simporte e antiporte. b2) quando há cotransporte está envolvido um simporte ou um antiporte. A linha de separação entre transportadores e enzimas é tão ténue que, em muitos casos, é impossível dizer se estamos a falar de uma enzima ou de um transportador. 1- Nos complexos da cadeia respiratória da mitocôndria as reações de oxi-redução são exergónicas e o componente endergónico é o transporte de protões contra gradiente electroquímico. 1’- Um caso semelhante ocorre no caso da bomba de sódio e potássio. (hidrólise de ATP exergónica; movimento de iões endergónico) 2- No caso da síntase do ATP na mitocôndria nas condições in vivo o componente exergónico é o movimento de protões a favor do gradiente electroquímico e o endergónico é a reação de síntese do ATP (ADP+Pi → ATP + H2O ). 23 24 Nota: os transportadores/enzimas são apenas catalisadores... Conhecer o ∆G (⇔ razão Keq/QR) de um sistema reativo indica-nos o sentido em que a reação pode evoluir ... mas não nos diz nada acerca da velocidade em que ela ocorre. A maioria das reações que ocorrem nos seres vivos só existem porque existem enzimas que as catalisam. A maioria das enzimas são de natureza proteica e, relativamente aos outros catalisadores, têm uma grande especificidade em relação aos substratos e produtos da reação. 1- Algumas reações são muito lentas: 1- A palavra “enzima” (do Grego: en, na + zima, levedura) foi inventada em 1878 por Fredrich Kühne. A Keq da reação de oxidação da glicose (glicose + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O) é cerca de 10500 M-1 2- A sua natureza proteica só foi definitivamente aceite na década de 1930. ∆G’º = - 2840 kJ/mol a reação tem tendência a evoluir até ao consumo total do reagente limitante (em geral a glicose) 3- Relativamente aos catalisadores não enzímicos as enzimas são, em geral: a) mais potentes, ...mas, à temperatura ambiente e na ausência de enzimas, posso ter b) atuam em condições “ pouco agressivas “ (pH ≈ 7, temp. < 100°C, etc.), glicose em contacto com O2 durante milhares de anos que não acontece nada. c) têm uma enorme especificidade relativamente aos substratos e produtos, e d) a sua atividade pode ser, frequentemente, regulada por substâncias diferentes dos substratos e dos produtos (as enzimas podem ser sensores do meio ambiente em que estão inseridas...). 2- Outras reações são muito rápidas As reações de dissociação de protões ou ligação de protões (ácido-base) aproximam-se rapidamente do equilíbrio e não necessitam de catalisadores. 25 4- Sendo as enzimas moléculas proteicas o seu tamanho é, frequentemente, muito grande relativamente ao tamanho das moléculas dos substratos. O “sítio ativo” (ou “sítio catalítico”) é um local específico modelado de tal forma que permite a interação específica com o substrato (ou substratos) e é onde ocorre a reação 26 química. À rotura hidrolítica das ligações fosfoanidrido do ATP (entre os fosfatos α-β e βγ) estão associados valores de ∆Gº “muito” negativos; por isso se diz na gíria dos bioquímicos que estas ligações são “ricas em energia”. 1- Dizemos que a glicose e o etanol “são substâncias energéticas” porque no seu processo de oxidação libertam enormes quantidades de energia: Classificação e nomenclatura das enzimas Glicose + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O ∆Gº = - 2840 kJ/mol Etanol + 2 O2 → 2 CO2 + 2 H2O ∆Gº = - 168 kJ/mol (nota: estes ∆Gº não se referem aos seres vivos; ∆Gº refere-se sempre a condições padrão) 2- Quando dizemos que o ATP é “uma substância energética” não estamos a falar da reação de oxidação do ATP mas da sua fosfohidrólise. ATP + H2O → ADP + Pi ∆Gº = - 31 kJ/mol ATP + H2O → AMP + PPi ∆Gº = - 46 kJ/mol ∆Gº= -31 kJ ∆Gº= -46 kJ 27 28 As ligações em que o ∆Gº que corresponde à sua rotura hidrolítica (em condições padrão) tem um valor semelhante ou é ainda mais negativo que o que corresponde à rotura das ligações fosfoanidrido do ATP (- 31 kJ mol-1 ou 46 kJ mol-1) dizem-se “ricas em energia” e costumam representar-se por ∆Gº= - 43 kJ As ligações “ricas em energia” podem ser de tipo: a) anidrido como no ATP b) fosfamida como na fosfocreatina Embora o ∆Gº seja apenas uma medida da Keq (e não determine por si só o sentido em que a reação vai evoluir) o conceito de “ligação rica em energia” revelou-se útil… (1) porque, normalmente, quando uma enzima catalisa o acoplamento de duas semirreações em que uma é a rotura de uma “ligação rica em energia” e a outra a formação de uma ligação que “não é rica em energia” (como as fosfoéster) a reação é fisiologicamente irreversível… Exemplos: c) enolfosfato como no fosfoenolpiruvato. ∆Gº= -62 kJ + glicose → ADP + glicose-6-P + frutose-6-P → ADP + frutose-1,6-bisfosfato (cínase da frutose-6-P) (2) e porque, normalmente, quando nas duas semirreações acopladas, numa se rompe e na outra se forma uma “ligação rica em energia” a reação é fisiologicamente reversível + ADP ∆Gº= -36 kJ + Pi ↔ succinato + CoA + Sintétase de succinil-CoA Exemplos: d) tioéster como no succinil-CoA. + ADP ↔ creatina + Cínase da creatina + ADP ↔ 3-fosfoglicerato + 30 Cínase do 3-fosfoglicerato Quando dizemos que o ATP, a fosfocreatina, o fosfoenolpiruvato ou o succinil-CoA 29 “são substâncias energéticas” estamos simplesmente a dizer que a sua fosfohidrólise tem um valor de ∆Gº muito negativo. A cínase do 3-fosfoglicerato catalisa uma reação de fosfotransferência que é fisiologicamente reversível (no sentido da síntese de ATP na glicólise e de consumo de ATP na gliconeogénese)... As reações enzímicas que in vivo geram PPi têm um ∆G (real) muito negativo porque o produto PPi é rapidamente hidrolisado pela ação catalítica de pirofosfátases que mantém a sua concentração muito baixa. No 1,3-bisfosfoglicerato há uma ligação anidrido (“rica em energia”) que não existe no 3-fosfoglicerato... Como resultado da ação catalítica das pirofosfátases celulares ⇒ a concentração de PPi na célula é muito baixa; não existe um dos substratos para que a reação inversa possa ocorrer …mas nem sempre o acoplamento de semirreações em que há síntese e rotura de “ligações ricas em energia” corresponde a reações fisiologicamente reversíveis: por exemplo, a reação catalisada pela cínase do piruvato é fisiologicamente irreversível. + ADP → piruvato + (cínase da glicose) 31 As reações em que um dos produtos é o PPi são reações exergónicas em todas as condições metabólicas reações fisiologicamente irreversíveis. 32 nutrientes ADP 4 H+ Glicose I love electrons O2 I O2 2 Piruvato NAD+ enzimas e enzimas/transportadores envolvidas no catabolismo ∆G < 0 2 acetil-CoA NADH 2 CO2 NAD+ CO2 ATP NAD+ cyt c IV O H2O 10 H+ NAD+ NADH NADH NAD+ NADH 2 We hate electrons nutrientes 33 Nutrientes ou intermediários do metabolismo ATP III V Simp. Pi 2 CO2 H2O H2O 1 NADH Q NADH 2 CO2 ∆G > 0 4 H+) 2 ADP 2 Pi (2 H+ + 2 ADP 2,5 ADP + 2,5 Pi 2,5 A oxidação completa de 1 mole de glicose é a componente exergónica num processo global em que a componente endergónica é a síntese de 30 (envolvimento da 34 lançadeira do glicerol-3-P) a 32 moles (envolvimento do malato) de ATP. Bibliografia consultada: H2O Newsholme, E. A. & Leech, T. (2009) Functional Biochemistry in Health and disease, Wiley-Blackwell, Oxford. ∆G > 0 ∆G < 0 Nelson DL & Cox MM. (2005) Lehninger Principles of Biochemistry. 4th ed. Worth Publishers. New York. enzimas e enzimas/ transportadores Chang R. (1994) Química 5ª ed. McGrow-Hill de Portugal, Lda Pi ADP proteínas, glicoproteínas, lipídeos e glicídeos complexos, ácidos nucleicos... 35 36