GESTÃO DA ESCOLA José Augusto Dias Introdução Até recentemente, falava-se apenas em administração (escolar), que, na taxiomia largamente difundida, compreende as atividades de planejamento, organização, direção, coordenaç4áo e controle. A gestão envolve necessariamente estas atividades, mas, em suas formas mais radicais, parece ir além, incorporando também certa dose de filosofia e política, que, no entender de um autor clássico como Querino Ribeiro, vem antes e acima da administração. Ultimamente, a teoria da administração entrou em crise, quer por fatores endógenos, quer exógenos. Os estudos de administração jamais foram capazes de conduzir a uma teoria satisfatória, que explique consistentemente o que é administrar. Pior que isto, os teóricos tomaram consciência de um fato bastante simples, mas perturbador: em geral, ninguém gosta de obedecer ordens. Ou, para usar a expressão de Grifflths:2 ninguém pode estar a um só tempo submisso e satisfeito. Para complicar as coisas, a teoria da administração passou a sofrer ataques de fora. Por questões ideológicas, foi posto em xeque o conceito de autoridade, basilar em administração e, como conseqüência, começaram a surgir soluções alternativas para a condução dos empreendimentos humanos. Com isto, surgiu também a necessidade de um conceito mais abrangente que descrevesse a administração e suas alternativas. Daí o conceito de gestão. Os estudos de administração tem sua atenção voltada para a atuação do administrador ou líder, considerando o principal responsável pelo êxito das ações do grupo sob seu comando. Em certas formas de gestão, a figura do administrador tende a ser enfraquecida ou até mesmo eliminada, surgindo com maior destaque os colegiadas, as decisões grupais, o consenso. A gestão é, pois, tomada aqui como expressão mais ampla que administração, que é uma de suas formas. Consiste na condução dos destinos de um empreendimento, levando-o a alcançar seus objetivos. As formas mais conhecidas de gestão são a administração, a co-gestão, a autogestão. Administração: O ponto de partida dos estudos de administração foi a preocupação com a eficiência: como obter o máximo de resultados com o menor dispêndio de energia. Com o tempo, foi-se impondo o conceito de eficácia: como alcançar os objetivos propostos. Simon tem uma imagem feliz para esclarecer o significado dos dois conceitos. Diz ele: “ metralhadora é uma arma bastante eficiente - é capaz de disparar muitos tiros por segundo. No entanto, ela somente será eficaz se atingir o alvo". Ultimamente, a atenção dos administradores tem sido deslocada para o conceito de qualidade. Expressões como qualidade total, ISO9000 e outras incorporaram-se ao vocabulário dos administradores de empresas e, embora ainda incipientemente, estão chegando às escolas. As teorias de administração, quaisquer que sejam, repousam sempre sobre o princípio da autoridade e têm como pressuposto básico a existência do binômio superior-subordinado. Os pioneiros dos estudos de administração são bastante explícitos em firmar a posição de mando do administrador. Fayol, por exemplo, propõe como fundamentais, dentre outros, os princípios da autoridade, hierarquia, ordem, unidade de comando. Taylor4 expõe com bastante clareza a idéia de que ao subordinado compete obedecer sem discussões as determinações de seus superiores - o operário não deve ter iniciativa, mas realizar o trabalho da maneira indicada pelos chefes. Evidentemente, a teoria da administração evoluiu e assumiu uma fisionomia mais humana, a partir da contribuição de autores como Barnard, Mary Parker Follett, Elton Mayo e outros. Contudo, jamais abdicou do princípio da autoridade. Co-gestão: Baseia-se no princípio da participação. E ainda uma forma de administração, em que permanece a figura do administrador, mas com autoridade mais limitada. O administrador já não é o único responsável pelas decisões, pois estas somente são consideradas legítimas quando tomadas com a colaboração dos demais elementos sob seu comando. Autogestão: A idéia de autogestão é fascinante. Consiste na anarquia, em seu sentido legítimo de ausência de autoridade, sem que isto signifique ausência de ordem. Embora persista a necessidade de coordenação dos esforços, desaparece a hierarquização. Em um regime de autogestão, as pessoas ou os grupos atuam com autonomia e procuram contribuir para o bom andamento dos trabalhos. Agem, não por obediência a alguma autoridade, que não reconhecem, mas por convicção. O problema de autogestão é que não pode ser um ponto de partida, mas exige uma lenta e cuidadosa preparação. Até o presente não se conhece uma experiência bem-sucedida e duradoura de autogestão. Apesar das alternativas propostas, a administração prevalece na generalidade dos empreendimentos humanos. A co-gestão é ainda administração, conquanto nela o administrador tenha que repartir seu poder com os demais participantes. A autogestão, que seria uma alternativa completa, jamais conseguiu sair do discurso ideológico para firmar-se na prática como uma forma consciente de gerir o trabalho cooperativo. Com tudo isto, as escolas continuam a contar com um diretor (administrador escolar). E dele que estará tratando o restante deste capítulo. O Diretor de Escola A Escola Antes, porém, de voltarmos nossa atenção para a figura do diretor, dediquemos alguns parágrafos à análise de seu ambiente de trabalho. A escola é organizada com a finalidade de atingir certos objetivos, os quais dão sentido à organização escolar e orientam, consequentemente, a tomada de decisões no que se refere à natureza dos currículos e programas, ao tipo de edifício escolar, à quantidade e qualidade do equipamento, ao número e qualificação do pessoal escolar. Portanto, quem quer que se proponha a trabalhar em uma escola precisa procurar informar-se sobre seus objetivos e, na medida do possível, dar sua própria contribuição para o aperfeiçoamento dos mesmos. Esta necessidade é particularmente relevante para o diretor e os professores, que desempenham na escola função da mais alta responsabilidade. A falta de atenção aos objetivos pode levar a atividades inúteis e até mesmo contraproducentes. Um professor de "educação musical" que se limite, na maior parte do tempo, a insistir com seus alunos para que aprendam a solfejar, pode não só estar perdendo tempo, porque os alunos esquecerão esse aprendizado tão logo se vejam livres do professor, como também pode estar ensinando-os a detestar a música, o que é um resultado completamente contrário aos objetivos da disciplina. Estrutura da escola Dependendo do ponto de vista em que nos coloquemos - o administrativo ou o sociológico , podemos distinguir na escola a estrutura administrativa (ou organização formal) ou a estrutura total (isto é, a organização formal mais a organização informal). Estrutura administrativa A estrutura administrativa, ou organização-formal, é constituída de elementos sujeitos à influência da administração e intencionalmente dispostos de forma a conduzir à consecução dos objetivos da escola. Na estrutura formal, podemos apontar quatro grandes áreas, a saber: corpo discente, programação, pessoal escolar e recursos materiais. a) corpo discente O corpo discente define a natureza do estabelecimento: escola de educação infantil, escola para excepcionais, escola de ensino fundamental e assim por diante. De acordo com o progresso alcançado nos estudos, o corpo discente costuma ser classificado em séries didáticas. São mais comuns as séries anuais e, em alguns casos, as séries semestrais. O problema da repetência tem inspirado outras soluções, como é o caso dos ciclos didáticos, abrangendo mais de um ano letivo, a matrícula por disciplina e o ensino por módulos. E em função do corpo discente que são definidos os objetivos da escola. b) programação A programação de uma escola consiste na previsão das atividades a serem realizadas e das inter-relações a serem mantidas para que os objetivos possam ser alcançados. Portanto, a programação é função dos objetivos. As suas diretrizes estão contidas na legislação, geral e escolar, e no regimento da escola. Constam da programação: o mecanismo administrativo, o plano didático e os planos de trabalho. O mecanismo administrativo nada mais é que o conjunto de órgãos e posições existentes na escola, os quais estão dispostos de acordo com certa hierarquia, são interdependentes, comunicam-se entre si de acordo com normas preestabelecidas e desempenham funções definidas. Á representação gráfica do mecanismo administrativo dá-se o nome de organograma. O plano didático é composto de currículos e programas e estabelece as atividades- fim da escola. Os currículos e programas são, em geral, organizados de acordo com uma seriação, que acompanha o desenvolvimento dos alunos em seus vários aspectos (físico, intelectual, emocional, etc.). Os planos de trabalho são, de certa forma, o mecanismo administrativo e o plano didático postos em ação ou seja, o resultado do planejamento do trabalho escolar, tendo em vista as possibilidades do mecanismo administrativo e as metas estabelecidas no plano didático. Os planos de trabalho podem ser a longo, médio ou curto prazo; podem referir-se ao trabalho global da escola, ou de certos setores, ou até mesmo ao trabalho de um só professor. c) pessoal escolar O pessoal escolar pode ser assim classificado: Administração: diretor, auxiliares de direção. Corpo docente: professores. Pessoal técnico: orientador educacional, orientador pedagógico, bibliotecário e outros. Pessoal de serviços auxiliares: secretário, escriturários, inspetores de alunos, serventes, merendeira e outros. d) recursos materiais Os recursos materiais, que devem ser a expressão física da programação, compreendem: prédio escolar, instalações, mobiliário, equipamento didático, material permanente, material de consumo, verbas. Eles são função da programação; assim, por exemplo, antes de construir-se um prédio escolar, precisa-se examinar quais as atividades a que ele se destina. A compra de equipamentos, como computadores, não deve ser feita antes de uma idéia clara das atividades a serem realizadas. Estrutura total Procurando estabelecer qual a contribuição que pode ser dada pela Sociologia para o esclarecimento da Administração Escolar, Antônio Cândido diz: "A estrutura administrativa de uma escola exprime a sua organização no plano consciente, e corresponde a uma ordenação racional deliberada pelo poder público. A estrutura total de uma escola é todavia algo mais amplo, compreendendo não apenas as relações ordenadas conscientemente, mas ainda todas as que derivam da sua existência enquanto grupo social. Isto vale dizer que, ao lado das relações oficialmente previstas (que o legislador toma em consideração para estabelecer as normas administrativas), há outras que escapam à sua previsão, pois nascem da própria dinâmica do grupo social escolar. Deste modo, se há uma organização administrativa igual para todas as escolas de determinados tipos, pode-se dizer que cada uma delas é diferente da outra, por apresentar características devidas à sua sociabilidade própria." Esta maneira de perceber a realidade não é estranha aos estudiosos da administração. Barnard,6 por exemplo, discute com bastante propriedade o que denomina "organização informal", atribuindo-lhe influência decisiva no desempenho da administração. Outros estudos demonstram de que maneira fatores não previstos no organograma atuam no sentido de alterar, às vezes de maneira profunda, as linhas de comando formalmente estabelecidas. Assim, somente o conhecimento da estrutura total (estrutura formal + estrutura informal) pode dar ao diretor a possibilidade de compreender melhor sua escola. Por esta razão, é necessário que procure estudar a literatura a respeito, de modo especial o excelente ensaio de Antônio Cândido. A Direção Conceito de Diretor de Escola O diretor de escola exerce uma função bastante complexa, em que se podem distinguir pelo menos três aspectos: a)o de autoridade escolar; b)o de educador; c)o de administrador. O diretor como autoridade escolar: O diretor enfeixa em suas mãos uma grande soma de responsabilidades - na verdade, é responsável por tudo o que se passa na escola. Em ocasiões especiais representa a própria escola; por exemplo, quando comparece a uma solenidade a que é convidado por sua qualidade de diretor, quando preside a uma reunião na própria escola, quando confere certificados e diplomas, quando se dirige a outras entidades para tratar de assuntos de interesse da escola. Nessas ocasiões, ele não está agindo como simples administrador, mas como uma autoridade escolar, como alguém que personifica a instituição a que pertence. O diretor como educador: Todo administrador precisa ter certa dose de conhecimento da atividade técnica realizada pelo grupo sob seu comando, sem que isto signifique que ele tenha de desempenhá-las pessoalmente. Na escola, em que a atividade técnica (ensino) implica necessariamente em algo mais abrangente, que é a educação, a situação é outra. Um diretor de escola é, antes de tudo, um educador, isto é, ele também participa, nem que não queira, das atividades-fim de seu estabelecimento de ensino. Sua forma de conduzir a vida escolar tem repercussões profundas, se bem que nem sempre aparentes, na formação dos alunos. Tudo seria mais simples se a influência da escola na personalidade dos educandos se fizesse sentir apenas através da atuação dos professores. Mas, na realidade, não é isto o que acontece. Numa escola em que vigore um clima ditatorial, os alunos podem ser induzidos a uma postura de submissão, incompatível com os objetivos de uma educação democrática. A administração não é um processo desligado da atividade educacional, mas, ao contrário, acha-se inexplicavelmente envolvido nela, de tal forma que o diretor precisa estar sempre atento às conseqüências educativas de suas decisões e atos. Quando desempenha sua função, ou decide alguma coisa, o diretor é antes de tudo um educador, preocupado com o bemestar dos alunos, e não apenas um administrador em busca de eficiência. O diretor como administrador: A escola tem objetivos a atingir e compete ao diretor assumir a liderança para assegurar a consecução desses objetivos. O planejamento, a organização do trabalho, a coordenação dos esforços, a avaliação de resultados fazem parte do seu dia-a-dia de trabalho; enquanto ele se envolve com estas atividades, está desempenhando sua função de administrador Importância da Direção para a Vida da Escola Observemos o funcionamento de uma escola bem integrada em seu programa de trabalho: os funcionários são assíduos e cumprem de boa vontade suas obrigações, os professores são entusiastas e se dedicam com alma às suas tarefas docentes, os alunos são interessados e revelam bom aproveitamento escolar. Há um clima de confiança no trabalho realizado, há a certeza de estar desenvolvendo algo de bom e genuinamente útil à comunidade, há a segurança de reconhecimento dos resultados obtidos. Uma situação assim resulta, naturalmente, da conjugação de uma série de fatores favoráveis: apoio da comunidade, existência de bom corpo docente, condições materiais favoráveis, alunos motivados, direção competente. E possível imaginar-se a existência de falhas em alguns desses fatores, sem que isto signifique, necessariamente, o desequilíbrio da situação: uma comunidade indiferente pode ser conquistada com um bom programa de melhoria do relacionamento escola-comunidade; um professor mal-adaptado pode ser ajudado a aperfeiçoar seu padrão de desempenho; as deficiências materiais podem ser diminuídas ou eliminadas mediante campanhas e atividades comunitárias. O que, porém, dificilmente pode ser corrigido é o mau efeito de uma direção inadequada. Quando o diretor é dedicado e capaz, ele encontra sempre os meios para remediar as eventuais deficiências de sua escola. Quando, porém, ele não se mostra à altura de suas delicadas atribuições, de pouco valerá a existência de outros fatores favoráveis. A boa direção integra-se tão completamente na atividade da escola que quase não é percebida isoladamente. Muitas vezes, as pessoas que convivem com um diretor competente admiram-no como pessoa, louvam suas contínuas demonstrações de discernimento, reconhecem com agrado seus traços positivos de personalidade; mas quanto ao seu trabalho em si, podem não ter uma percepção clara do que seja. Pode parecer-lhes que a principal função do diretor é comandar, isto é, fazer com que os outros trabalhem, enquanto ele mesmo se limita a observar. Pode parecer-lhes até que a direção é supérflua, pois aparentemente o diretor nada tem a fazer numa escola em que todos cumprem suas obrigações. Porém, coloque-se em seu lugar uma pessoa incompetente. Em pouco tempo as dificuldades serão tais que se desmantelará fatalmente a estrutura cuidadosamente montada dia-a-dia pelo diretor diligente. É então que aparece, por contraste, o real mérito do diretor. O que antes parecia um adorno dispensável mostra-se então como uma peça fundamental para o bom funcionamento da escola. O Professor e a Direção da Escola A educação é claramente um trabalho de equipe, de que participam não só os professores, mas também o diretor e demais funcionários da escola. ~ um trabalho conjunto, que se torna tanto mais produtivo quanto mais a equipe for capaz de trabalhar entrosadamente. O entrosamento do trabalho (coordenação) é basicamente uma questão administrativa, mas não é necessariamente um problema apenas do administrador; todos podem e devem participar do esforço de coordenação. Nenhum professor pode pretender realizar bem sua tarefa ignorando o que fazem os outros professores. O ensino de uma disciplina não tem sentido isoladamente, mas sim na medida em que contribui, em harmonia com as demais disciplinas, para a formação que o aluno recebe. Portanto, participar da coordenação do trabalho (que é, em princípio, uma questão administrativa) é uma responsabilidade irrecusável de todo professor. A responsabilidade do professor com relação à administração da escola aparece também claramente quando ele participa de atividades tais como: a) planejamento dos trabalhos escolares; b) reuniões para tomada de decisões que afetam a vida da escola; c) verificação da aprendizagem e participação em decisões que afetam o progresso escolar dos alunos; d) contato com pais de alunos e demais elementos da comunidade. O Diretor como Líder da Escola Há pelo menos duas razões fundamentais para que a posição do diretor de escola não seja meramente a de administrador, mas a de líder: a natureza peculiar da atividade escolar, que exige um tratamento mais refinado que o que pode ser observado em outros ambientes de trabalho, e as atribuições do diretor, que incluem outros aspectos além do de simples administrador. O que é um líder? Não há uma resposta simples para esta questão. A evolução dos estudos de liderança mostra um deslocamento da atenção, que vai da pessoa do líder, para o grupo e para a situação vivida pelo grupo. Os estudos que têm por foco de atenção a pessoa do líder costumam destacar os traços que o distinguem: perspicácia, inteligência, autoconfiança, coerência, firmeza, sinceridade, consideração e outros. Entretanto, estes estudos não têm mostrado consistência, pois, muitas vezes, há lideres que alcançam êxito, mesmo sem terem todas as qualidades esperadas, enquanto outros, mesmo tendo todas as qualidades exigíveis, não conseguem resultados correspondentes às expectativas. Procurando superar estas limitações e por influência dos estudos de dinâmica de grupo, o foco de atenção voltou-se para o grupo, mostrando sua força na determinação do comportamento das pessoas. Sob esta perspectiva, o líder alcança bons resultados, não em razão de suas qualidades pessoais, mas na medida em que seja reconhecido e aceito pelo grupo. Os estudos de dinâmica de grupo são pródigos em demonstrar a força da coerção grupal. A teoria da contingência, por sua vez, sugere que mais importante que a pessoa do líder ou do grupo é a situação em que as pessoas estejam envolvidas. Segundo esta teoria, somente poderemos compreender a liderança se levarmos em consideração os fatores ambientais que operam sobre as pessoas. Há um pouco de verdade em todas estas posições, mas nenhuma delas é completa. Para bem compreendermos o que é liderança, precisamos levar em consideração a pessoa do líder, o grupo com que ele trabalha e a situação em que estão colocados líder e liderados. Dado certo grupo, em determinada situação, assume a liderança a pessoa que for percebida pelo grupo como capaz de levá4o a alcançar seus objetivos. Origem da autoridade do líder Estudando a liderança do ponto de vista da origem da autoridade, Max Weber apontou três situações: autoridade tradicional, autoridade formal-legal e autoridade carismática. A autoridade tradicional é aquela em que predomina o paternalismo e o poder é transmitido em função do arbítrio de seu detentor, ou de acordo com a tradição. Assim, o dono de uma escola particular que coloca um parente na posição de diretor está lhe transmitindo uma autoridade do tipo tradicional. A autoridade carismática advém das qualidades do líder, que é visto como possuidor de poderes especiais, de virtudes fora do comum, enfim, de carisma. Weber considera mais adequada a autoridade formal-legal, em que as pessoas são investidas em função do mérito, devidamente comprovado. Neste caso, a escolha do líder é feita por critérios racionais, preestabelecidos, para realização de uma carreira com regras definidas. Esta costuma ser a situação da maioria dos diretores de escola. Estilo de liderança Pesquisas realizadas por Kurt Lewin e associados levaram à definição de três estilos de liderança: liderança autocrática, liderança democrática e liderança Laissezfaire. O líder autocrático centraliza as decisões e impõe seus pontos de vista, preferindo errar sozinho a acertar com ajuda dos outros. O líder democrático, ao contrário, sem renunciar a sua posição de principal responsável, valoriza a participação dos liderados na tomada de decisões, procurando apreender as aspirações do grupo e dando4he oportunidade de expressar-se livremente. A liderança Laissez-faire abre mão de qualquer tipo de controle sobre o grupo, deixando-o à vontade para decidir por conta própria sobre os assuntos de seu interesse. Como se pode perceber, o estilo de liderança é uma linha contínua que tem em um extremo a liderança autocrática e no outro a liderança Laissez-faire, ficando a liderança democrática numa posição de equilíbrio entre os dois extremos. Como regra geral, a liderança democrática é a mais adequada para a condução das atividades de uma escola. O bom diretor tem sempre a preocupação de auscultar os demais participantes, colhendo suas sugestões, idéias, contribuições espontâneas. Não põe em execução uma decisão, sem antes certificar-se de que foi bem compreendida e aceita por todos. A participação do grupo na tomada de decisões é a garantia de maior identificação de todos com o trabalho a ser realizado. Fica mais fácil conseguir a adesão e o entusiasmo de professores, funcionários e alunos para um programa de inovação adotado pela escola, quando todos sentem que se trata de um projeto em que cada um pode dar alguma coisa de si. Há situações excepcionais em que a liderança democrática pode não ser a melhor saída. Em uma situação de emergência, com perigo de vida, por exemplo, o diretor pode não ter tempo de ser democrático. Se uma situação repentina ameaça a segurança dos alunos, não tem sentido pensar em reunir os professores para deliberar sobre o que fazer. Nesta hora, o diretor tem de assumir plena responsabilidade pelas decisões e impô-las com firmeza. Passada a emergência, porém, o estilo democrático volta a ser o mais consentâneo com o trabalho da escola. Haverá situações também em que o estilo Laissez-faire pode mostrar-se vantajoso. Uma comissão nomeada para determinado fim pode, no calor do entusiasmo pelo trabalho, extrapolar suas atribuições e tomar rumos além do previsto. Se esses rumos não são prejudiciais em qualquer sentido, o melhor é deixar fazer. Obrigar a comissão a limitar-se a suas atribuições específicas pode ser uma forma de esfriar o entusiasmo e pôr tudo a perder. A Escola e a Comunidade Houve época em que a escola podia fechar-se para a comunidade e, ainda assim, continuar funcionando com razoável grau de aceitação. Era uma época em que a escola constituía, na expressão de Anísio Teixeira, um clube fechado, em que os professores recusavam o diálogo com os pais de alunos, por entenderem que a presença deles na escola apenas servia para tumultuar os trabalhos, sem nada trazer de positivo. Essa atitude de completo distanciamento entre escola e ambiente vem sendo substituída ultimamente por uma nova maneira de entender o relacionamento que deve ser mantido entre a escola e a comunidade. Diversos fatores têm contribuído para esta mudança de postura tanto por parte da escola, quanto da comunidade a que ela serve. Entre estes fatores destaca-se a compreensão de que os objetivos buscados pela instituição escolar não se esgotam dentro de suas paredes, mas advêm de uma realidade mais ampla, em que se incluem não só a comunidade, mas também a sociedade como um todo. Se é da sociedade e da comunidade que provêm as idéias que dão sentido ao trabalho realizado pela escola, não há como pretender mantê-las alheias às atividades desenvolvidas no ambiente escolar. De diversas maneiras a escola vem procurando manter uma convivência mais harmônica e produtiva com seu ambiente mais próximo, tais como: o desenvolvimento de um programa de relações com a comunidade, a utilização dos recursos do Conselho de Escola e o incremento das atividades da Associação de Pais e Mestres (APM). A escola tem hoje, com justa razão, a preocupação de conquistar o apoio da comunidade, considerando-o relevante para uma atuação eficaz. Para tanto, a primeira preocupação deve ser a de construir uma imagem adequada. Como é a escola vista por todos os que convivem com ela? E considerada um estabelecimento bem organizado, realizando um trabalho competente, ou, ao contrário, é vista como uma instituição de poucos méritos, cumprindo rotineiramente e sem brilho suas obrigações? A imagem da escola tem um duplo efeito, ou seja, age tanto externa, quanto internamente. Se é positiva, a imagem da escola desperta boa vontade e desejo de cooperação na comunidade, tornando-se, assim, mais fácil o desenvolvimento de seu trabalho. Por outro lado, a própria escola também se beneficia de uma imagem favorável: alunos, professores e funcionários sentem maior satisfação por pertencerem a uma instituição tida como modelar e, consequentemente, agem no sentido de preservar a imagem da escola. Assim, o efeito interno da imagem positiva da escola é a criação de um clima favorável ao bom desempenho de alunos e professores. Imagem e clima influenciam-se mutuamente. O diretor precisa, pois, estar atento a todas as oportunidades para a melhoria da imagem da escola. Contribuem positivamente para isto: * Desenvolver um programa de melhoria do desempenho escolar. A primeira condição para que a escola tenha uma boa imagem é a de que seja realmente uma boa escola, com desempenho acima da média. * Descobrir ocasiões especiais, alegres e festivas, para trazer os pais em visita à escola, evitando que o contato com eles se restrinja aos encontros para discussão de problemas com os alunos. * Esclarecer professores e funcionários sobre a importância de tratar com urbanidade todas as pessoas que procuram a escola. Até mesmo a maneira de atender ao telefone deve refletir uma atitude de respeito e cordialidade. * Cuidar dos aspectos materiais. A aparência física da escola também faz parte de sua imagem. Um prédio bem cuidado, limpo, agradável, acolhedor constitui a primeira impressão que a pessoa tem ao chegar à escola. E claro que isto não basta, mas não deixa de ter um efeito poderoso na imagem da escola. Importância do Trabalho Inovador A rotina tem um efeito paralisante no trabalho escolar. A escola que se contenta com a realização, ano a ano, dos mesmos procedimentos, das mesmas práticas, sem qualquer preocupação com seu aperfeiçoamento, acaba por perder terreno, realizando um trabalho medíocre e cada vez mais inadequado. Apesar de todas as dificuldades com que notoriamente se defrontam os trabalhadores em educação, freqüentemente se tem notícia de escolas que se destacam como realizadoras de um trabalho excepcional. A primeira constatação em relação a estas escolas é a de que conseguiram romper com a rotina e estão introduzindo algum tipo de inovação, quer no trabalho em sala de aula, que na forma de gestão, quer ainda em relação à participação da comunidade na vida da escola. As escolas que conseguem alcançar este nível de desempenho inovador passam por uma sadia transformação, com sensível melhora de sua imagem e de seu clima organizacional. Passa a vigorar um clima de entusiasmo e confiança, cada qual procurando dar o melhor de si para que o programa proposto seja alcançado com êxito. A escola deixa de ser um lugar de compadecimento obrigatório, em que se realiza um trabalho rotineiro, para transformarse em ponto de encontro para troca de idéias e realização de projetos em benefício da aprendizagem. Do ponto de vista do professor, a escola já não é apenas o emprego que lhe garante um mínimo de rendimento, mas o ambiente em que alcança auto-realização. Do ponto de vista do aluno, o que era antes um exercício maçante de rotinas de aprendizagem passa a ser uma oportunidade de realização de atividades vivas e interessantes. Não são raros os casos em que professores e alunos passam na escola muito mais horas do que as previstas no horário de aulas, para a discussão de projetos, para ensaios e para preparação de materiais especiais. O que foi dito acima não é mera fantasia, mas uma realidade que pode ser observada. É claro que a grande maioria das escolas ainda não alcançou este ponto, mas o que umas poucas têm conseguido está ao alcance de todas aquelas que se disponham a dar o grande salto em busca da qualidade. CONCLUSÃO Este capitulo teve por objetivo mostrar as diversas formas de gestão da escola, dando especial atenção à figura do diretor, por entender ser ele, ainda, de vital relevância para o bom êxito do empreendimento escolar. Destacou a importância da gestão democrática, que, além de seu valor intrínseco, tem agora o apoio da legislação vigente. Realmente, a Lei nº 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, estabelece, no inciso VIII do Artigo 3Q, o princípio da "gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino". Mais adiante, no Artigo 14, volta a insistir no assunto, estabelecendo princípios que devem nortear a gestão democrática do ensino público na educação básica. Estes princípios destacam a necessidade de participação de todos - profissionais da educação, comunidade escolar e local - na elaboração e desenvolvimento do projeto pedagógico da escola. Estamos vivendo um novo tempo da educação brasileira, com imensos desafios a serem enfrentados com determinação, espírito crítico e clarividência. Somente a gestão democrática, que garanta a participação de todos, tem condições de levar a escola brasileira a encontrar seu verdadeiro caminho. Referências Bibliográficas Estrutura e Funcionamento 1998.Vários Autores. da Educação Básica. São Paulo: Pioneira,