“Sofrimento psíquico na Atenção Primária: reflexos na qualidade de vida” por Flávia Batista Portugal Tese apresentada com vistas à obtenção do título de Doutor em Ciências na área de Saúde Pública. Orientadora principal: Prof.ª Dr.ª Mônica Rodrigues Campos Segunda orientadora: Prof.ª Dr.ª Sandra Lúcia Correia Lima Fortes Rio de Janeiro, fevereiro de 2015. Esta tese, intitulada “Sofrimento psíquico na Atenção Primária: reflexos na qualidade de vida” apresentada por Flávia Batista Portugal foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros: Prof.ª Dr.ª Angélica Gurjão Borba Prof.ª Dr.ª Antilia Januária Martins Prof.ª Dr.ª Joyce Mendes de Andrade Schramm Prof. Dr. Josué Laguardia Prof.ª Dr.ª Mônica Rodrigues Campos – Orientadora principal Tese defendida e aprovada em 12 de fevereiro de 2015. ii Catalogação na fonte Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica Biblioteca de Saúde Pública P853 Portugal, Flávia Batista Sofrimento psíquico na Atenção Primária: reflexos na qualidade de vida. / Flávia Batista Portugal. -- 2015. 151 f. : tab. ; graf. Orientador: Campos, Mônica Rodrigues Fortes, Sandra Tese (Doutorado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2015. 1. Qualidade de Vida. 2. Transtornos Mentais. 3. Ansiedade. 4. Depressão. 5. Atenção Primária à Saúde. 6. Estresse Psicológico. I. Título. CDD – 22.ed. – 362.2 iii Aos meus pais Alzira e Flávio, fontes de todo meu amor. iv AGRADECIMENTOS A Deus, por me permitir chegar ao doutorado e me proteger durante a grande aventura que foi viver no Rio de Janeiro. Aos meus pais, Alzira e Flávio, que muitas dificuldades passaram para que eu pudesse cursar o doutorado, mas que nunca deixaram de acreditar nos meus sonhos. A minha orientadora, Mônica Campos, primeiro, por ser muito mais que uma professora, uma grande amiga. Segundo, por me fazer amar ainda mais a estatística, com seus ensinamentos profundos e ao mesmo tempo simples. Terceiro, por perder tantos momentos de lazer para que eu pudesse concluir esta etapa. A minha co-orientadora, Sandra Fortes, por ser um grande exemplo de pesquisadora em saúde mental e pela imensa paciência em me passar um pouco do seu vasto conhecimento. E, também, por perder tantos momentos de lazer para que eu pudesse concluir esta etapa. A minha eterna professora, Marluce Siqueira, que foi a primeira pessoa a me estimular a trabalhar com pesquisa. A Joyce Schramm, por me permitir participar do grupo de pesquisa Carga Global de Doenças, o qual muito contribuiu para minha formação. Aos colegas do doutorado em Saúde Pública, Carolina Esposti e Luísa Flor, por me proporcionarem uma caminhada leve nestes quatro anos. Aos professores da Escola Nacional de Saúde Pública, que tanto se empenham para a nossa formação. Às capixabas da Glória, Monique e Paula, por criarem no Rio de Janeiro um espaço capixaba de tanta alegria e amor. Aos amigos, Marilene, Marcos, Márcia, Rosiane, Daniel, Juliano e Lorena, que mesmo com a distância me apoiaram e proporcionaram momentos de alegria nesta caminhada. Ao meu namorado, Yuri, por compreender minhas ausências e tornar os últimos meses antes da defesa um dos momentos mais felizes destes quatro anos. A todos os participantes da pesquisa “Avaliação de um modelo de capacitação em saúde mental na atenção básica: cuidados integrais na prática do matriciamento”. À equipe do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde, que tanto trabalharam no projeto que originou esta tese. v A Jair Mari e Daniel Gonçalves, por sempre contribuírem na construção dos artigos. Aos professores, Claudia Lopes e Evandro Coutinho, que tanto contribuíram na qualificação do projeto desta tese. A minha chefia no Núcleo Especial de Vigilância Sanitária do Espírito Santo (NEVS), Marizete Silva, pelas folgas concedidas a fim de concluir este trabalho. Às colegas do NEVS, Sarah, Najla e Ângela, por assumirem algumas responsabilidades no trabalho para que eu pudesse ter tempo para construir minha tese. Ao CNPq pela bolsa de doutorado. A todos que contribuíram para este trabalho, muito obrigada. vi Enquanto Deus consentir vou vivendo E cada dia que passa aprendendo Amar ao próximo como eu amo os meus Pois se todos que existem na terra São filhos de Deus Cartola vii RESUMO Introdução: A QV avalia a percepção do indivíduo sobre suas condições de vida, sofrendo interferência dos seus objetivos, expectativas e preocupações. Assim, ela pode associar-se a diversos fatores, tais como os transtornos mentais. Estudos apontam que pessoas em sofrimento psíquico podem apresentar piores escores de QV, quando comparadas às que não estão. Neste âmbito, avaliar QV pode ser um meio de planejar e avaliar a assistência prestada àqueles em sofrimento psíquico. Objetivo: Identificar as associações entre transtorno mental comum, Eventos de Vida Produtores de Estresse (EVPEs), rede social de apoio e QV na AP. Metodologia: Estudo transversal realizado com pacientes atendidos na AP, nos munícipios de São Paulo e Rio de Janeiro, em 2009 e 2010. Participaram 1.466 pacientes, entre 18 e 65 anos, atendidos por equipes da Estratégia de Saúde da Família. Aplicou-se os seguintes instrumentos: questionário socioeconômico/demográfico, General Health Questionnaire (GHQ-12), Hospital Anxiety and Depression Scale, o WHOQOL-bref e questionário com perguntas sobre eventos de vida produtores de estresse e rede social de apoio. Realizou-se uma análise bivariada por meio do Teste-t e regressões lineares múltiplas para cada domínio de QV (físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente). Resultados: Os escores para os domínios físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente foram de, respectivamente, 64,7, 64,2, 68,5 e 49,1. A presença de transtorno mental comum (GHQ>5), casos sugestivos de ansiedade e depressão associaram-se a menores escores de QV em todos os domínios. Pela análise multivariada, ao se avaliarem os EVPEs, foram encontradas associações, para o domínio físico, aos problemas de saúde e à discriminação; para o psicológico, à discriminação; para as relações sociais, aos problemas financeiros/estruturais, às causas externas e aos problemas de saúde; e, para o meio ambiente, aos problemas financeiros/estruturais, às causas externas e à discriminação. Ao se avaliar a rede social de apoio, por meio da análise multivariada, o domínio psicológico associou-se negativamente ao isolamento, enquanto os domínios relações sociais e meio ambiente associaram-se positivamente à integração. Conclusão: As variáveis de saúde mental, os EVPEs e a condição de integração/isolamento associaram-se negativa ou positivamente à QV. Conhecer o comportamento destas variáveis pode apoiar a estruturação de formas de cuidado que melhorem a QV dos pacientes atendidos na AP. Descritores: Qualidade de vida. Eventos de vida produtores de estresse. Transtorno mental comum. Ansiedade. Depressão. Atenção primária. viii ABSTRACT Background: QOL evaluates the individual's perception of their living conditions, suffering interference of its objectives, expectations and concerns. Thus, it can be associated with several factors, such as mental disorders. Studies show that people under psychological distress may have lower QOL scores compared those that are not. In this context, evaluates QOL can be used to plan and evaluate the care provided to those in psychological distress. Objective: Identify associations between common mental disorders, Stressful Life Events (SLE’s), social support network and QOL in PC. Methodology: Cross-sectional study involving patients in PC, in the municipalities of São Paulo and Rio de Janeiro in 2009 and 2010. 1,466 patients between 18 and 65, attended by the Family Health Care Strategy were interviewed. The following instruments were applied: socioeconomic questionnaire, General Health Questionnaire 12, Hospital Anxiety and Depression Scale, the WHOQOL-bref and questions concerning life events that produce stress and social support network. We performed a bivariate analysis using the t-test and multiple linear regressions for each QOL domain (physical, psychological, social network and environment). Results: The scores for the physical, psychological, social network and environment were, respectively, 64.7, 64.2, 68.5 and 49.1. The presence of common mental disorders (GHQ> 5), suggestive cases of anxiety and depression were associated with lower QOL scores in all domains. In the multivariate analysis, when evaluating the SLE’s, associations were found for the physical domain, to health problems and discrimination; for the psychological, discrimination; for social network, financial/ structural problems, external causes and health problems; and, for the environment, financial problems/structural, external causes and discrimination. When evaluating the social support network, by multivariate analysis, the psychological domain was negatively associated with isolation, while the social network and environment was positively associated with integration. Conclusion: The mental health variables, SLE’s and integration/isolation were associated negatively or positively to QOL. Thus, knowing the behavior of these variables can help structure care in ways that improve the QOL of patients seen at the PC. Keywords: Quality of life. Stressful Life Events. Common mental disorders. Anxiety. Depression. Primary care. ix LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABEP Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa AP Atenção Primária CBO Código Brasileiro de Ocupações CCEB Critério de Classificação Econômica do Brasil CCIC Coeficiente de Correlação Intraclasse CID-10 Classificação Internacional de Doenças – 10ª edição DALY Disability Adjusted Life Years ENSP Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca EVPE Eventos de Vida Produtores de Estresse GHQ-12 General Health Questionnaire HAD Hospital Anxiety and Depression Scale IC Intervalo de Confiança LIPAPS Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde MCCP Método Clínico Centrado na Pessoa OMS Organização Mundial de Saúde QV Qualidade de Vida QVRS Qualidade de Vida relacionada à Saúde SF-36 36-Item Short-Form Health Survey SNI The Berkman-Syme Social Network Index SPSS Statistical Package for the Social Science TMC Transtorno Mental Comum TMC-G Transtorno Mental Comum de intensidade Grave UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro WHOQOL World Health Organization Quality of Life Instrument WHOQOL-bref World Health Organization Quality of Life Instrument, brief version x LISTA DE QUADROS Quadro 1: Domínios de QV, facetas e questões no questionário WHOQOL-bref ....... 37 Quadro 2: Confiabilidade teste/reteste do GHQ12. ...................................................... 42 Quadro 3: Coeficiente de correlação dos escores dos diferentes domínios do WHOQOL- Bref entre o teste e re-teste. .................................................................... 42 Quadro 4: Correlação (r de Spearman) entre cada item do “Hospital Anxiety and Depression Scale” e a pontuação total nas subescalas de ansiedade (HAD-A) e de depressão (HAD-D). ................................................................................................... 43 Quadro 5: Variáveis contínuas categorizadas. .............................................................. 44 Quadro 6: Variáveis categóricas posteriormente dicotomizadas. ................................. 45 Quadro 7: Categorização dos EVPEs. .......................................................................... 46 xi LISTA DE TABELAS ARTIGO 1 Table 1. Proportion of psychiatric morbidity according to socioeconomic characteristics in primary care attenders in Rio de Janeiro and São Paulo (2009/2010) .................. 57 Table 2. Mean scores of quality of life based on socioeconomic characteristics in primary care attenders in Rio de Janeiro and São Paulo (2009/2010) ...................... 58 Table 3. Mean scores of quality of life based on psychiatric morbidity in primary care attenders in Rio de Janeiro and São Paulo (2009/2010) ............................................ 58 Table 4. Mean scores of quality of life based on psychiatric morbidity and socioeconomic characteristics in primary care attenders in Rio de Janeiro and São Paulo (2009/2010) ............................................................................................................... 59 ARTIGO 2 Tabela 1: Escores de Qualidade de Vida segundo características da população. RJ e SP, 2009/2010. ................................................................................................................. 84 Tabela 2: Escores de Qualidade de Vida segundo Eventos Produtores de Estresse. RJ e SP, 2009/2010............................................................................................................ 85 Tabela 3: Modelos de regressão linear backward para os desfechos de QV em seus diferentes domínios (WHOQOL-bref). RJ e SP, 2009/2010. .................................... 86 ARTIGO 3 Table 1: Mean scores of Quality of Life based on socioeconomic characteristics, emotional distress and social support network. RJ and SP, 2009/2010. ................... 105 Table 2: Backward linear regression models for the QOL outputs on the different domains. RJ and SP, 2009/2010 ................................................................................ 106 xii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 14 2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 16 3 OBJETIVOS .......................................................................................................... 17 3.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 17 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 17 4 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA ................................................................. 18 4.1 QUALIDADE DE VIDA: A CONSTRUÇÃO DE UM CONCEITO ............. 18 4.1.1 Modelos teóricos para mensuração da qualidade de vida ........................ 19 4.2 FATORES ASSOCIADOS À QUALIDADE DE VIDA ................................. 21 4.2.1 Qualidade de vida e fatores socioeconômicos e demográficos.................. 21 4.2.2 Qualidade de vida e sofrimento psíquico ................................................... 23 4.2.3 Qualidade de vida e eventos de vida produtores de estresse ..................... 27 4.2.4 Qualidade de vida e rede social de apoio .................................................. 29 5 MÉTODOS ............................................................................................................. 32 5.1 ESTUDO FONTE ............................................................................................. 32 5.1.1 Processo amostral do estudo fonte............................................................. 33 5.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO ................................................................... 34 5.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO ........................................................................... 34 5.4 INSTRUMENTOS............................................................................................ 35 5.4.1 Questionário socioeconômico e demográfico ............................................ 35 5.4.2 World Health Organization Quality of Life Instrument, brief version (WHOQOLbref) ..................................................................................................................... 35 5.4.3 Aferição de transtornos mentais comuns (TMC) ....................................... 39 5.4.4 Eventos de Vida Produtores de Estresse (EVPEs) ..................................... 40 5.4.5 Aferição da Rede Social de Apoio .............................................................. 41 xiii 5.4.6 Confiabilidade dos instrumentos................................................................ 41 5.5 VARIÁVEIS ESTUDADAS ............................................................................ 44 5.5.1 Variáveis socioeconômicas e demográficas ............................................... 44 5.5.2 Variáveis de sofrimento psíquico ............................................................... 45 5.5.3 Variáveis dos EVPEs .................................................................................. 45 5.5.4 Variáveis de rede social ............................................................................. 47 5.5.5 Domínios de qualidade de vida, segundo o WHOQOL-bref ...................... 48 5.6 ANÁLISE DE DADOS .................................................................................... 48 5.7 QUESTÕES ÉTICAS ....................................................................................... 49 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 50 6.1 ARTIGO 1 ........................................................................................................ 50 6.2 ARTIGO 2 ........................................................................................................ 61 6.3 ARTIGO 3 ........................................................................................................ 85 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 105 8 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 108 ANEXOS .................................................................................................................. 123 APÊNDICES ............................................................................................................ 148 14 1 INTRODUÇÃO No Brasil, observa-se uma mudança do perfil de morbi-mortalidade nas últimas décadas. Antes, predominavam as doenças infecto-parasitárias na população e, hoje, nota-se a preponderância de doenças crônicas não transmissíveis e de causas externas. Dessa forma, torna-se indispensável repensar a assistência em saúde prestada à população, a qual precisa captar as nuances deste processo de adoecimento, traduzido na transição demográfica e epidemiológica1. Nesta conjuntura, os transtornos mentais são uma das grandes preocupações para o cuidado em saúde, já que acometem pessoas de todas as idades, mulheres e homens, ricos e pobres; gerando impacto na vida do indivíduo e das famílias, como a mudança na rotina das atividades diárias e restrições na vida profissional e social2. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)2, aproximadamente 450 milhões de pessoas sofrem por algum tipo de transtorno mental, sendo que um em cada quatro pessoas apresentará algum transtorno ao longo de sua vida. De tal modo, a assistência deve assumir que a saúde não depende unicamente de aspectos físicos ou genéticos, mas de um conjunto de ações que englobam condições sociais e econômicas. Estas condições refletem-se nas formas de acesso à alimentação, à educação, ao trabalho, renda e lazer; fatores fundamentais para a saúde da população e sua qualidade de vida3. Neste contexto, a qualidade de vida (QV) surge como um meio de busca de novas intervenções e de novas interpretações no serviço de saúde; suscitando a discussão de que, além do aumento da expectativa de vida, é importante conhecer quais são os fatores que a influenciam e como estes se comportam. Qualidade de Vida é um termo amplo e com variadas definições, entretanto, há o consenso de que é uma avaliação subjetiva e multidimensional4. A Organização Mundial da Saúde, por meio do Grupo WHOQOL, define QV como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” 5. Logo, ela é influenciada pelo contexto social e cultural, além de outros fatores como experiência pessoal, idade, meio ambiente e situação de saúde 6. 15 Por fim, a qualidade de vida torna-se um importante instrumento de avaliação da saúde, ao captar as percepções dos indivíduos sobre seu estado de saúde. Com esta visão, o presente estudo pretende identificar as associações entre transtorno mental comum (TMC), qualidade de vida, características socioeconômicas e demográficas, eventos de vida produtores de estresse e rede social de apoio na clientela atendida em unidades de Atenção Primária, nos municípios do Rio de Janeiro e São Paulo, nos anos de 2009 e 2010. 16 2 JUSTIFICATIVA Para Starfield 7, a atenção em saúde não deve estar unicamente voltada para o tratamento em si, mas deve considerar o contexto no qual a doença ocorre e no qual o paciente vive. Nesse âmbito, a atenção primária (AP) assume papel importante no sistema de saúde, uma vez que é considerada sua porta de entrada, e aborda os problemas mais comuns, ao ofertar serviços de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação 7. Deste modo, a qualidade de vida pode ser considerada um importante instrumento de avaliação do cuidado prestado pela AP. Segundo Albrecht e Fitzpatrick (1994 apud Katschnig, 2006 8), é possível identificar quatro usos para os instrumentos de qualidade de vida na área da saúde: 1) meio para mensurar resultados de ensaios clínicos e demais pesquisas nos serviços de saúde; 2) avaliação das necessidades de saúde da população; 3) critério para alocação de recursos e 4) ferramenta para o planejamento de cuidados específicos para o indivíduo nos serviços de saúde. Assim, mensurar a qualidade de vida de pacientes atendidos na AP constitui um importante meio para o planejamento de intervenções e de avaliação da assistência oferecida pelo serviço de saúde. Entretanto, existe uma lacuna no campo da pesquisa na atenção primária sobre qualidade de vida, lacuna que é ainda maior ao se considerar especificamente a saúde mental no Brasil. Em uma breve pesquisa nas bases PubMed, Lilacs e Medline com os descritores “qualidade de vida”, “atenção primária”, “depressão/ansiedade/saúde mental” e seus correspondentes em inglês, nove estudos realizados com brasileiros foram localizados 9–18 , sete deles com Marcelo Pio Fleck dentre seus autores 9–16 , entre os quais três são provenientes de uma tese e dois de outra. Desse modo, a presente pesquisa sobre a qualidade de vida de pacientes atendidos na AP do Rio de Janeiro e de São Paulo pretende contribuir para o aumento do conhecimento nesta área. Seus resultados permitirão conhecer como alguns fatores associam-se positiva ou negativamente à saúde desta população, de modo a subsidiar os profissionais com informações necessárias para a proposição de novas formas de cuidado centrado nas especificidades do paciente. 17 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Identificar as associações entre Transtorno Mental Comum (TMC), qualidade de vida, características socioeconômicas e demográficas, eventos de vida produtores de estresse e rede social de apoio na clientela atendida em unidades de Atenção Primária, nos municípios do Rio de Janeiro e São Paulo, nos anos de 2009 e 2010. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Verificar a associação entre variáveis socioeconômicas e demográficas e a qualidade de vida de pacientes da atenção primária; Identificar a associação entre TMCs e a qualidade de vida de pacientes da atenção primária; Verificar a associação entre os TMCs, o acontecimento de Eventos de Vida Produtores de Estresse e a qualidade de vida de pacientes da atenção primária; Verificar a associação entre os TMCs, a rede social de apoio e a qualidade de vida de pacientes da atenção primária. 18 4 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA 4.1 QUALIDADE DE VIDA: A CONSTRUÇÃO DE UM CONCEITO O desenvolvimento da medicina proporcionou o aumento da expectativa de vida e algumas doenças antes consideradas letais hoje são curáveis. Entretanto, para uma gama de doenças ainda não se observa cura e sim controle de seus sintomas ou um retardo de sua história natural 4. Neste contexto, para além do desenvolvimento da medicina, as condições de vida e saúde nos últimos anos melhoraram devido aos progressos políticos, econômicos, sociais e ambientais 19. A partir da transição epidemiológica, as doenças crônicas passaram a predominar entre os agravos de saúde, o que levou a comunidade científica a repensar quais os parâmetros necessários para determinar o que é considerado saúde. A discussão em saúde assume que esta não depende unicamente de aspectos físicos ou genéticos, mas de um conjunto de ações que englobam condições sociais e econômicas, as quais, por sua vez, produzem “formas de acesso à alimentação, à educação, ao trabalho, renda, lazer e ambiente adequado, entre os aspectos fundamentais para a saúde e qualidade de vida” 3. Neste contexto, surge o conceito de qualidade de vida (QV), o qual suscita a discussão de que, além do aumento da expectativa de vida, é importante conhecer quais são os fatores que a influenciam e como se comportam. Entende-se qualidade de vida (QV) como uma condição eminentemente humana, a qual abrange a vida familiar, amorosa, social e ambiental. O termo abrange numerosos significados e, consequentemente, ampla gama de conceitos. Tal fato denota o caráter multidimensional do conceito, o qual agrega um conjunto de conhecimentos, experiências e valores de indivíduos de uma sociedade em uma determinada época 20. Este conceito foi utilizado pela primeira vez por Lyndon Johnson, presidente dos Estados Unidos, em 1964, ao dizer que “os objetivos não podem ser medidos através do balanço dos bancos. Eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas”21. Logo, o conceito de QV tornou-se alvo de interesse da 19 comunidade científica, em especial, da área da saúde, já que este conceito valoriza aspectos mais amplos que a morbidade, a mortalidade e a expectativa de vida. O interesse por esse conceito decorre das novas visões de saúde. Os condicionantes e os determinantes do processo de saúde e doença indicam que o adoecimento é um continuum, no qual aspectos sociais, econômicos, culturais e o estilo de vida impactam diretamente nas condições de saúde 22. Entretanto, com o aumento do interesse, o termo QV tornou-se “lugar-comum” nas discussões em saúde, uma vez que é costumeiramente usado de forma vazia de significado, refletindo a dificuldade dos profissionais de saúde em encontrar sentido teórico e epistemológico 20. Assim, a Organização Mundial de Saúde, por meio do Grupo de Qualidade de Vida (WHOQOL Group), reuniu especialistas de vários países e desenvolveu um conceito transcultural. O WHOQOL Group definiu QV como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” 5. Esse conceito amplo visa abranger a complexidade do constructo, inter-relacionando aspectos do meio ambiente com aqueles físicos, psicológicos, de nível de independência, de relações pessoais e de crenças pessoais. Logo, este conceito reflete a natureza subjetiva do constructo que está enraizada no contexto cultural e social, assim, privilegia-se a percepção do respondente/paciente diante do que este considera qualidade de vida 21,23. 4.1.1 Modelos teóricos para mensuração da qualidade de vida Diante da complexidade do conceito, alguns modelos teóricos são utilizados para fundamentar a qualidade de vida. Hunt 24 cita cinco abordagens para a mensuração da qualidade de vida, sendo elas: 1. Resposta emocional às circunstâncias; 2. Impacto da doença nos domínios emocional, ocupacional e familiar; 3. Bem-estar pessoal; 4. Habilidade de uma pessoa em realizar suas necessidades; 5. Modelo cognitivo individual. 20 Segundo a autora, somente os dois últimos modelos (habilidade de uma pessoa em realizar suas necessidades e o modelo cognitivo individual) são tentativas consistentes de desenvolvimento de medidas baseadas em análises psicológicas e filosóficas 24 .O primeiro, Habilidade de uma pessoa em realizar suas necessidades, assume a abordagem da qualidade de vida a partir do ponto de vista do paciente, na qual é realizada uma análise do nível de seu funcionamento e a importância ou peso deste funcionamento no desenvolvimento de suas necessidades 25 . O segundo, Modelo Cognitivo Individual, descreve que a vida adquire qualidade a partir da habilidade e capacidade do indivíduo para satisfazer suas necessidades 26. McKenna e Whalley 27, por sua vez, identificam duas abordagens para a mensuração da Qualidade de Vida: modelo funcionalista e o baseado nas necessidades (needs-based). Segundo os autores, o modelo funcionalista da QV teve como base os trabalhos de Durkheim no final do século XIX, sendo, posteriormente, desenvolvido por Parsons 1, o qual definia a saúde como “o estado de capacidade ideal para o desenvolvimento eficaz das tarefas”. Dessa forma, a doença somente é considerada um problema quando afeta o desenvolvimento do papel social. O termo “qualidade de vida relacionada à saúde” (health-related quality of life) (QVRS) é utilizado para agrupar instrumentos de base teórica funcionalista 4. Este termo foi definido por Patrick e Erikson (1973 apud McKenna; Whalley, 1998 27 ) como “o valor atribuído à duração de vida modificado pelas deficiências, estados funcionais, percepções e oportunidade sociais, os quais são fatores influenciados por doenças, danos, tratamentos ou políticas”. Cleary et al. (1954 apud Seidl; Zannon, 2004 22) ainda apresentam um conceito amplo, no qual a QVRS “refere-se aos vários aspectos da vida de uma pessoa que são afetados por mudanças no seu estado de saúde, e que são significativos para a sua qualidade de vida.”. Assim, de acordo com Kaplan et al. 29 ,a QVRS foca a dimensão qualitativa do funcionamento e pode ser definida como o impacto do tratamento e da doença na incapacidade e no funcionamento diário. 1 Talcott Parson, sociólogo americano, o qual descreveu o papel de doente como desviante na sociedade, e a função dos médicos seria a de atuar como agentes de controle social 28. 21 A discussão sobre o modelo baseado nas necessidades (needs-based) teve grandes avanços nos anos de 1940 e 1950 como resultado das investigações sobre a motivação. Pesquisadores propuseram que os indivíduos são dirigidos ou motivados pelas suas necessidades 30. Portanto, a qualidade de vida é maior quando a totalidade ou a maioria das necessidades é atendida e a QV piora progressivamente quando as necessidades não são atendidas 24. O teórico Calman 31 postulou o modelo de satisfação, segundo o qual a qualidade de vida é definida como a diferença entre expectativas e realizações. De acordo com esse modelo, a QV somente pode ser descrita e mensurada no âmbito individual e depende do estilo de vida atual, experiências passadas, expectativas sobre o futuro, sonhos e ambições. Dessa forma, a QV deve incluir todas as áreas da vida e levar em conta seu impacto na doença e no tratamento. Logo, uma boa qualidade de vida pode ser descrita como presente quando as expectativas do indivíduo estão de acordo e cumpridas segundo suas realizações. Em contrapartida, a pior QV ocorre quando as expectativas não se encontram com as realizações. O autor ressalta que a QV muda com o decorrer do tempo, as prioridades e metas do indivíduo podem (e devem) mudar pelo avançar da idade e pelo cumprimento de suas realizações. Por fim, o objetivo da mensuração de QV, segundo este modelo, é criar meios para ajudar as pessoas a alcançarem as metas que estabeleceram para si próprias 31. 4.2 FATORES ASSOCIADOS À QUALIDADE DE VIDA 4.2.1 Qualidade de vida e fatores socioeconômicos e demográficos Atualmente, o adoecimento é discutido como um processo amplo, o qual possui caráter social, ou seja, resulta de condições concretas de vida (como renda, alimentação, moradia, condições de trabalho e outras) 32,33 . Nesse prisma, os Determinantes Sociais de Saúde (DSS) assumem destaque. Segundo Buss e Pelegrini-Filho 34, “os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população”. 22 Numerosos modelos buscam orientar a relação entre os diversos fatores que compõem os DSS, sendo o de Dahlgren e Whitehead um dos mais conhecidos. Nele, observa-se que o indivíduo encontra-se na base, a qual engloba idade, sexo e fatores hereditários. Na sequência, surgem os estilos de vida dos indivíduos, categoria limiar entre os DSS, uma vez que essas opções são fortemente condicionadas, por exemplo, pelo acesso a alimentos saudáveis. A camada seguinte refere-se às redes comunitárias e de apoio, ao passo que o nível subsequente indica a influência das condições de vida e de trabalho, como desemprego, água e esgoto, habitação, educação e os serviços sociais de saúde. Por fim, há os macrodeterminantes, os quais são as condições econômicas, culturais e ambientais gerais 34. A análise dos fatores socioeconômicos e demográficos torna-se importante a partir da compreensão da QV como um constructo subjetivo, influenciado pela percepção do indivíduo sobre suas condições de vida e, consequentemente, pelos DSS. De acordo com Gordia, Quadros e Campos 35 , há indícios de que os aspectos socioeconômicos e demográficos associam-se à QV, entretanto, faltam estudos na área. O sexo feminino, baixa escolaridade, baixa renda, idade avançada e morbidades são frequentemente associados a menores escores de QV 35–45. Em estudo norte-americano, as mulheres apresentavam menores escores para o domínio físico e mental ao serem comparadas com os homens. Os autores relatam que esta diferença é consistente com os estudos sobre a saúde da mulher, os quais indicam maior presença de algumas morbidades físicas, como infecções urinárias, e mentais, por exemplo, depressão e ansiedade 38. Patel e colaboradores destacam 46, em especial para casos de ansiedade e depressão, a existência de fatores sociais que interferem no processo de adoecimento feminino. Os múltiplos papéis desempenhados pela mulher em sua vida, como a criação dos filhos, o cuidado com o lar, a preocupação com os familiares doentes e o provimento econômico em algumas famílias, são prováveis fontes de estresse e adoecimento da mulher. Em estudo sobre o domínio meio ambiente do WHOQOL-bref com adolescentes do Paraná foi encontrada, por meio da regressão logística bruta e ajustada, a associação com sexo e condição socioeconômica. Especificamente, as adolescentes tiveram 1,9 vez 23 mais chances de apresentarem uma percepção negativa do domínio em comparação com o sexo masculino. Já para as condições socioeconômicas, indivíduos das classes B e C/D/E2 demonstraram ter 5,7 e 7,4 vezes mais chances de apresentarem percepção negativa de QV quando comparados com os indivíduos da classe A. Os autores relatam que o domínio meio ambiente geralmente apresenta menores escores na população brasileira e tal fato pode ser minimizado com a criação de projetos sociais que considerem os problemas urbanos contemporâneos 35. Estudo realizado em Porto Alegre com a população geral demonstrou que aqueles com mais anos de estudo apresentavam maiores escores de QV. Um exemplo deste fato são os escores do domínio meio ambiente, aqueles com 12 anos ou mais de estudos apresentaram média de 67,4 enquanto aqueles com 4 anos ou mais apresentaram de 53,7 (p-valor<0,000). Destaca-se, também, que nesse estudo os homens e aqueles da classe econômica A apresentaram maiores escores de QV45. Outros pontos compreendem a idade avançada e a morbidade. Estudo realizado com imigrantes turcos em Londres mostrou que quanto maior a idade, mais baixos os escores de QV. Encontrou, também, a associação entre a presença de alguma morbidade e a redução de QV 47 . Observa-se que a presença de morbidades pode interferir na percepção do indivíduo sobre sua QV, como também o processo de envelhecimento associa-se a comprometimentos físicos que podem comprometer a QV da população. 4.2.2 Qualidade de vida e sofrimento psíquico Os transtornos mentais são umas das principais causas de adoecimento e fonte de preocupação para os serviços de saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde 48, os transtornos mentais são uma série de perturbações, sendo possível observar comportamentos que se caracterizam por uma combinação de ideias, emoções, comportamentos e relacionamentos atípicos com outras pessoas. O Ministério da Saúde, em seu Caderno de Atenção Básica – Saúde Mental49, utiliza o termo sofrimento, o qual é entendido como a vivência da ameaça de ruptura da unidade/identidade da pessoa; 2 A avaliação da condição socioeconômica foi baseada no Critério de Classificação Econômica do Brasil (CCEB), desenvolvido pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep). 24 podendo estes serem considerados como sofrimento mental comum ou casos de transtornos graves e persistentes, como as psicoses. De acordo com a OMS, mundialmente, 400 milhões de pessoas sofrem com depressão, 60 milhões com transtorno afetivo bipolar e 21 milhões com esquizofrenia 50. Além de o número de pessoas que vivem com transtornos mentais ser alto, estas também apresentam taxas mais elevadas de mortalidade e incapacidade ao serem comparadas com a população em geral. Por exemplo, pessoas com depressão ou esquizofrenia possuem de 40% a 60% mais chances de morrerem prematuramente do que a população em geral 51. Um importante indicador é o Disability Adjusted Life Years (DALY), o qual mensura simultaneamente o impacto da mortalidade e da incapacidade. Em 2010, estimou-se que os transtornos mentais foram responsáveis por 7,4% do DALY mundial, e figuram entre as 10 principais causas mundiais de DALY 52 . No Brasil, estes dados são ainda mais alarmantes, em 1998, as doenças neuropsiquiátricas correspondiam a 18,6% do DALY nacional 53 . Em 2008, a metodologia do estudo foi modificada, entretanto, estas ainda constituem uma importante fração da carga de doença no Brasil, representando 27,8% do DALY brasileiro 54. Apesar do impacto dos transtornos mentais, a atenção do serviço de saúde a eles ainda é deficiente. Entre 76% e 85% das pessoas com transtornos mentais severos não recebem tratamento nos países considerados de baixo e médio desenvolvimento econômico. Mundialmente, por exemplo, o gasto anual com saúde mental é menor que US$ 2,00 por pessoa e menor que US$ 0,25 por pessoa em países de baixa renda, sendo que 67% dos recursos são alocados a hospitais psiquiátricos 51. Nesse contexto, a qualidade de vida emerge como um indicador de avaliação do tratamento de diversas doenças, ao focar sua análise no paciente 55. Segundo Higginson e Carr 55, há vários usos das medidas de QV no meio clínico. Um deles seria “identificar e priorizar os problemas”, uma vez que é possível obter uma série de informações sobre os problemas que acometem o paciente, podendo o profissional de saúde elencar suas prioridades. Outro ponto seria facilitar a comunicação entre paciente e profissional, já que os instrumentos de QV estimulam o paciente a expressar suas necessidades. Os instrumentos de QV podem auxiliar a triagem de problemas ocultos, uma vez que alguns problemas podem ser ignorados a menos que se pergunte especificamente sobre 25 eles, em especial os problemas psicológicos e sociais. Destaca-se, também, o monitoramento do tratamento, geralmente realizado por meio de testes laboratoriais ou clínicos, em vez da percepção da mudança do paciente. Dessa forma, a QV permite captar mudanças que são vistas como relevantes para o paciente. Diante dos usos citados anteriormente, nota-se o aumento do emprego de instrumentos de QV em pacientes com transtornos mentais. O livro A Avaliação de Qualidade de Vida: Guia para Profissionais da Saúde56, importante guia para as pesquisas brasileiras na área, possui alguns capítulos dedicados à saúde mental 56 . Um deles relata a importância da QV em pacientes deprimidos, uma vez que esta morbidade gera “um importante prejuízo na QV e no funcionamento global de seus portadores”. Os autores relatam que há evidências de que depressão e QV sejam constructos com áreas comuns, mas não redundantes 57. Outro capítulo é sobre a ansiedade, com relatos sobre pior QV nestes pacientes. Além disso, os autores destacam que com o tratamento e a redução dos sintomas, há ganhos significativos nos escores de QV 58. Ao se analisarem estudos brasileiros, nota-se a associação entre menores escores de QV, algum transtorno mental e alguma outra característica, clínica ou social. Mercante e colaboradores 59 utilizaram o SF-36 para avaliar a QV de pacientes com enxaqueca crônica e comorbidades psiquiátricas. Segundo os autores, a QV se mostrou significativamente inferior nos oito domínios do SF-36 (capacidade funcional – CF, aspectos físicos, aspectos emocionais, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais e saúde mental – SM) na comparação com pacientes com enxaqueca crônica sem comorbidades psiquiátricas. Um subgrupo importante é formado pelas condições psiquiátricas denominadas na literatura como transtornos mentais comuns (TMC), que englobam não só os transtornos depressivos ansiosos e as somatizações, mas também o sofrimento emocional inespecífico encontrado nos estudos comunitários e na atenção primária 60,61 . Galvão e colaboradores40 pesquisaram a QV e os transtornos mentais comuns em mulheres no climatério e mostraram menores escores em todos os domínios do SF-36 para aquelas que foram positivo para TMC; além disso, o estudo mostrou que mulheres usuárias de medicações para osteopenia/osteoporose em comparação com as não usuárias apresentam escores mais baixos, com diferença estatística significativa, nos 26 domínios capacidade funcional (CF=68,4 em comparação a 79,6 3) e saúde mental (SM=58,6 em relação a 66,0). Estudo de Pelotas (RS) encontrou que os jovens com TMC obtiveram menores escores para todos os domínios do SF-36 na comparação com os jovens com resultado negativo para TMC; ainda foi observada na análise multivariada a manutenção da associação entre TMC e QV, mesmo quando controlados os fatores de confusão, tais como sexo e classe socioeconômica 62 . Por fim, estudo realizado em Santa Catarina sobre QV e autoestima/autoimagem em dependentes químicos não encontrou, por meio da regressão logística, qualquer contribuição dos domínios do WHOQOL-bref na autoestima; o psicológico correspondeu ao único fator que contribuiu para o modelo logístico da autoimagem 17. Quanto aos estudos internacionais, há numerosas pesquisas realizadas nos mais diversos países. Pacientes com ansiedade, em estudo australiano, relataram menor QV comparados àqueles sem diagnóstico; além disso, pessoas com ansiedade associada a sintomas depressivos apresentaram escores ainda menores de QV na comparação com aquelas que exibiam apenas ansiedade 63 . Estudo realizado no Reino Unido verificou menores escores de QV para pacientes com transtornos mentais severos em relação à população sem transtorno ou com TMC 64 . Estudo realizado nos Estados Unidos comparou pacientes com transtorno bipolar atendidos pela atenção primária e pelas clínicas comunitárias de saúde mental (community mental health clinics) e encontrou associação entre sintomas depressivos e menores escores para o componente mental do SF-12 para os dois cenários. Nesse estudo, o uso abusivo de álcool associou-se a menor escore somente nos pacientes atendidos pela atenção primária 65. Ainda são escassos estudos que abordem os transtornos mentais e QV em população atendida na atenção primária no Brasil. Pesquisa realizada em uma Unidade Básica de Saúde de Porto Alegre indicou impacto negativo da depressão em todos os domínios da qualidade de vida (p < 0,001) do WHOQOL-bref 12 . Lima e Fleck 11 apresentaram dados de um estudo de coorte de pacientes com depressão maior atendidos pela atenção primária e verificaram redução dos escores de QV (WHOQOL-bref) ao compararem a baseline e o último follow-up. Os autores destacam que, no decorrer da pesquisa, 27% 3 As siglas representam domínios do SF-36. CF significa capacidade funcional e SM, saúde mental. 27 dos participantes receberam algum tratamento para depressão e somente 9% receberam o tratamento adequado. 4.2.3 Qualidade de vida e eventos de vida produtores de estresse O conceito de estresse tem sido constantemente usado na literatura, especialmente pela sua associação com diversas doenças. O primeiro teórico a introduzir o termo na área da saúde foi o fisiologista canadense Hans Selye. Segundo ele, o estresse é uma resposta inerente do organismo a um estressor/doença (ou situação estressante), na qual há modificações estruturais e químicas no corpo que podem ser mensuradas 66,67. Com a evolução do conceito de estresse, o termo estressor foi introduzido. Este pode ser descrito como qualquer situação que cause uma emoção boa, má, forte e que exija mudança, gerando uma alteração fisiológica. Uma importante teórica na área do estresse que utiliza o conceito de estressor é Marilda Lipp. Ela define estresse como “uma reação psicológica, com componentes físicos, mentais e químicos, a determinados estímulos que irritam, amedrontam, excitam e/ou confundem a pessoa”. Assim, o estresse, para a autora, compreende o conjunto de respostas visando à adaptação a eventos estressores ao qual o organismo é exposto 66. Entende-se que situações ambientais podem provocar estresse, sendo estas situações agrupadas em: acontecimentos vitais (life-events), acontecimentos diários menores e situações de tensão crônica. Os life-events são nomeados como acontecimentos vitais, eventos estressores, eventos de vida ou eventos de vida negativa 67 . Na literatura nacional, observa-se o uso da terminologia Eventos de Vida Produtores de Estresse (EVPEs), os quais são considerados eventos estressores presentes no decorrer da vida (como separações, mudanças de moradia, internações, roubo e outros) que podem potencializar o processo de adoecimento dos indivíduos 68–70 , tanto aumentando a chance de ocorrência de doenças, quanto agravando os quadros preexistentes. Os EVPEs podem ser classificados em dependentes e independentes. Os primeiros são os eventos nos quais há participação direta do indivíduo nas relações interpessoais e com o meio, as quais podem gerar efeitos negativos para si mesmo. Os independentes 28 são aqueles incontroláveis pelo sujeito, que independem de sua participação, tais como a morte de um familiar 67. Estes eventos são frequentemente associados a condições de saúde. No Brasil, especialmente, observa-se interesse da comunidade científica em estudá-los em conjunto com os transtornos mentais. Um exemplo desta situação é o estudo de coorte desenvolvido na Universidade do Estado do Rio de Janeiro com servidores, que encontrou que ter passado por dificuldades financeiras graves, ter sido vítima de agressão física, rompimento de relação amorosa, mudança de moradia e problema sério de saúde associaram-se fortemente à presença de transtorno mental comum 70 . Estudo realizado em Pelotas, por sua vez, investigou o efeito dos EVPEs no mal-estar psicológico e mostrou o forte efeito da separação conjugal, do desemprego e da doença em familiar na presença do mal-estar psicológico 71. A literatura aponta a associação entre os EVPEs e a pior avaliação da Qualidade de Vida 72–78 . Ao se entender QV como um conceito subjetivo que denota a percepção do indivíduo sobre sua condição de vida, é importante destacar que esta percepção não se mantém ao longo da vida. As pessoas podem mudar seu conceito de qualidade de vida devido ao amadurecimento pessoal ou ao desenvolvimento de uma nova perspectiva perante a vida. Explica-se que por meio das experiências vivenciadas, o indivíduo muda sua percepção do que seria mais ou menos importante para sua QV, por exemplo, o que é considerado importante para uma família muda substancialmente com o nascimento de uma criança 79. Nesse âmbito, situações de violência podem gerar impacto significativo na vida dos indivíduos. Estudo norueguês observou menores escores de QV (avaliados pelo SF-36) em todos os domínios entre mulheres agredidas quando comparadas às da população em geral, com destaque para o componente mental e a função social. Além disso, este estudo ressalta que as mulheres pesquisadas foram vítimas de violência mais de uma vez 80. Outro estudo sobre a temática foi realizado na Dinamarca e encontrou que de 5% a 6% dos pesquisados sofreram algum tipo de violência física no ano anterior à pesquisa e que estes apresentaram menores escores de QV. O autor alerta que, apesar da associação encontrada entre exposição à violência e pior QV, a relação de causalidade 29 não é clara, uma vez que numerosos fatores, tais como nível educacional e estado marital, podem influenciar negativamente a QV 78. A discriminação também é um evento apontado na literatura com efeitos negativos na QV 74,75 . Um exemplo compreende um estudo israelense com imigrantes que verificou associação negativa entre discriminação percebida e o domínio “saúde física” de QV aferidos pelo Short Form Health Survey-12 (OR = 0,51, IC = 0,27--0,94) 74. A presença de alguma doença física como evento de vida produtor de estresse também deve ser considerada. Há relatos na literatura de que a morbidade física – como HIV/Aids – associa-se a baixos escores de QV 81. Além disso, aponta-se que conforme aumenta o número de doenças físicas, diminuem os escores de QV, especialmente nos componentes físico e mental 82. Quanto a desastres naturais ainda são escassos os estudos sobre a temática. Ainda assim, um estudo norueguês com sobreviventes do tsunami do sudoeste da Ásia em 2004 foi localizado. Os dados foram coletados de 574 participantes, em dois momentos: seis meses e dois anos após o tsunami. Como esperado, os pesquisados relataram retrospectivamente melhor qualidade de vida antes do desastre. Quanto à aferição da QV nos dois momentos após o tsunami, não se encontrou diferença estatística na percepção da QV entre os períodos. A única distinção correspondeu a uma pequena redução dos sintomas de estresse pós-traumático dois anos após o tsunami, em comparação à avaliação realizada seis meses depois do evento 83. 4.2.4 Qualidade de vida e rede social de apoio Segundo Berkman 84 , o adoecimento, a incapacidade e a violência acometem preferencialmente os mais pobres, os isolados e, de modo geral, todos os segmentos marginais da nossa população. Dessa forma, a área da saúde deve trabalhar com novos paradigmas, os quais devem considerar que as pessoas não vivem isoladas, mas são parte de uma sociedade e possuem diversas relações sociais. 30 Para tal, Berkman e Syme 85 , nos anos 1970, já apontavam a importância dos laços sociais no processo de adoecimento. Ressaltavam que quando o adoecimento não estava relacionado à patogenicidade de um microrganismo, os fatores sociais, como isolamento social, poderiam desempenhar papel significativo nas variações do estado de saúde. A literatura ressalta que os laços sociais possuem múltiplas camadas e que estas, nos seus diferentes níveis, podem gerar benefícios à saúde. As relações sociais podem ser consideradas mais íntimas (como o casamento); exteriores à rede social (em inglês – outward to social networks), como a proximidade com parentes e amigos; e os laços “fracos”, os quais são compostos pelo envolvimento em comunidade, voluntariado e organizações religiosas. Este último, apesar de não gerar interações pessoa a pessoa de forma intensa, provê a sensação de pertencimento e identidade social, que são relevantes para a promoção do bem-estar psicológico 86. Hoje, estudos apontam a associação das relações sociais com os estados de saúde 94 68,87– . Usualmente, nestas pesquisas, utilizam-se os termos apoio social (social support) ou rede social (social network). Nardi 95 aponta que há grande diversidade conceitual, sem um consenso nas definições de rede e apoio social, entretanto, nota-se que ambos estão intimamente relacionados. Contudo, considerando que são termos interligados e empregados de forma recorrente na literatura, há a necessidade de conhecer suas definições para melhor empregá-los. A noção de apoio social e a hipótese de que é bom ou necessário ter apoio social não são recentes. O termo somente foi descrito na segunda metade do século 20, porém, há séculos temas relacionados são descritos em pesquisas, por exemplo, na referência de Darwin aos benefícios de ser um animal social 96 . Valla 97 define apoio social como qualquer auxílio entre pessoas que se conhecem, o qual resulta em efeitos emocionais positivos, agindo como um importante fator psicossocial e gerando maior satisfação com a vida. Segundo Cobb 98 , apoio social é uma informação que leva o indivíduo a acreditar que é cuidado/amado ou é estimado/valorizado. Apoio social também pode ser compreendido como os recursos sociais disponíveis percebidos pelo indivíduo e que são expressos por relações de reciprocidade/afeto entre os envolvidos 99. 31 Rede social pode ser definida como as “teias” de relações sociais que envolvem o indivíduo, como também os grupos de pessoas com os quais há algum contato ou forma de participação (por exemplo, associação de moradores ou grupos religiosos) 68,85 . Gottlieb e Bergen 99 conceituam rede como a unidade social composta por laços sociais do indivíduo. Bowling (1997 apud NARDI, 201287) destaca que a rede social é o meio pelo qual o apoio social é propagado, ou seja, o grupo de pessoas com que o indivíduo mantém contato e relacionamento. Segundo Pedro 100 , rede social também se refere à dimensão estrutural ou institucional ligada ao indivíduo, e que é composta por: tamanho (número de pessoas com as quais se tem contato social), dispersão geográfica (quanto maior a proximidade, maior a probabilidade de contato), força das ligações (grau de intimidade, reciprocidade, intensidade emocional), densidade e integração dos contatos (quantidade de pessoas próximas), composição e homogeneidade dos membros (grau de semelhança entre indivíduos, tais como: idade, condição socioeconômica e outros), simetria (grau de reciprocidade dos relacionamentos) e enraizamento social (identificação do indivíduo com seu meio) (p. 23). Nota-se uma gama de conceitos sobre o tema, todavia, as pesquisas indicam de modo consensual o benefício das relações sociais nos estados de saúde. Nesse contexto, pesquisar a associação entre rede/apoio social e qualidade de vida pode ser um importante instrumento para intervenções nos serviços de saúde, porém, ainda são poucos os estudos nesta área 93,94,101–103 . Destaca-se, nesse contexto, pesquisa realizada com idosos no Reino Unido, em que o isolamento social associou-se fortemente ao componente mental do SF-12 (β -0,16, P<0,01) 102 . Pesquisa realizada na Malásia com pessoas com mais de 60 anos encontrou associação positiva entre o domínio físico do SF-12 e apoio social (r=0,201, p<0,01), o qual demonstra que quanto maior o apoio social recebido, maior o escore do SF-12 93. Becker 101 realizou um estudo populacional no sul de Londres e, por meio da regressão logística, mostrou que qualidade de vida foi positivamente associada com rede social. Considerando uma análise mais detalhada da rede social, número de amigos, confidentes e contatos “ativos” (contato verbal frequente) e “intermediários” (contato por prestação de serviços) associaram-se positivamente com QV. 32 5 MÉTODOS 5.1 ESTUDO FONTE A Atenção Primária (AP) é considerada a porta de entrada do Sistema Único de Saúde, sendo caracterizada por um conjunto de ações, coletivas e individuais, que contemplam a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. Para tal, desenvolve-se por meio de ações descentralizadas e capilares, nas quais os profissionais de saúde utilizam tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade. Neste âmbito, a Estratégia de Saúde da Família (ESF) visa reorganizar a AP, por meio do trabalho territorial dos profissionais de saúde, realiza o cadastramento domiciliar, diagnóstico situacional e ações dirigidas aos problemas de saúde de maneira pactuada com a comunidade onde atua104. Devido à facilidade de acesso das equipes às famílias, torna-se comum que os profissionais de saúde encontrem pacientes em sofrimento psíquico49. Desta forma, a AP constitui-se cenário essencial para o cuidado em saúde mental ao permitir o primeiro contato destes pacientes ao serviço de saúde e ao proporcionar o cuidado contínuo aos mesmos. Diante deste fato, foi desenvolvido o projeto de intervenção “Avaliação de um modelo de capacitação em saúde mental na atenção básica: cuidados integrais na prática do matriciamento”, estudo fonte desta tese, cujo objetivo foi avaliar o impacto das capacitações em saúde mental nas atividades assistenciais na atenção primária. Este projeto de intervenção, estudo fonte desta tese, compreendeu um estudo avaliativo multicêntrico realizado nas cidades de Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e Fortaleza (CE) em 2009 e 2010. A pesquisa utilizou métodos quantitativos (estudo de avaliação de um quase-experimento) e qualitativos (grupos focais e entrevistas) dos resultados de uma capacitação para integração da assistência em saúde mental à Estratégia de Saúde da Família (ESF) e implantação do processo de matriciamento, intervenção que constituiu um quase-experimento105. Foi um estudo não randomizado, sem controle. 33 As equipes da ESF a serem capacitadas foram indicadas pelas prefeituras dos municípios supracitados. Em São Paulo, o estudo ocorreu em 4 unidades básicas de saúde na zona sudeste de São Paulo, na região de Sapopemba. Em Porto Alegre, participaram 3 unidades básicas de saúde da zona norte da cidade. No Rio de Janeiro, participaram 9 unidades básicas da área programática 5.2 e em Fortaleza 3 unidades da zona norte da cidade. Este projeto de intervenção caracterizou-se por ser um estudo de impacto clínicoassistencial inserido em uma coorte com cortes transversais e testagem pré e pósintervenção/treinamento. Na primeira etapa, foram avaliados pacientes atendidos pelas equipes durante um período de duas semanas no mês anterior à realização da intervenção/treinamento. Os instrumentos foram lidos para os pacientes, ao mesmo tempo, os profissionais médicos e enfermeiros preencheram um questionário sobre a avaliação desses pacientes para caracterizar a detecção de transtornos mentais, utilização do método clínico centrado na pessoa e as indicações terapêuticas realizadas por esses profissionais. A segunda etapa transversal aconteceu seis meses após o término da capacitação/intervenção, definido como a última supervisão realizada. Foram analisadas variáveis de desfecho para aferição da efetividade da intervenção, aferidas no momento pré e pós-treinamento/intervenção: - Estudo epidemiológico: positividade nos questionários General Health Questionnaire (GHQ-12) e do Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD). - Estudo do impacto na prática clínica dos profissionais: registro de sofrimento psíquico ou doença mental; registro de apontamentos indicativos de uma abordagem centrada na pessoa dentre os 6 passos do método; utilização de intervenções psicossociais (grupos, consultas específicas para abordagem integral); consideração de discussão do caso com equipes de matriciamento. 5.1.1 Processo amostral do estudo fonte Para o cálculo da amostra da pesquisa foi utilizado como desfecho principal o efeito da intervenção na detecção de transtornos mentais de 50% (valor de referência encontrado 34 em estudos anteriores)106. Para obtenção da amostra, considerou-se um poder de 80% e um nível de significância estatística de 5%, segundo a formula [n = n0 / (1 + ((n0 1)/N))] e a detecção de 50% como aquela que já ocorre. Como se trata de uma inferência de proporções simples, foi calculado uma amostra de 30 pacientes por equipe para o estudo. Para o cálculo do número de equipes a serem pesquisadas foi considerado como referência o número de equipes capacitadas em cada centro. Foram treinadas 74 equipes em São Paulo, Fortaleza, Rio de Janeiro e em Porto Alegre. 5.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO A presente tese é um recorte do projeto de intervenção “Avaliação de um modelo de capacitação em saúde mental na atenção básica: cuidados integrais na prática do matriciamento”. Nos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro o treinamento e a coleta foram mais similares no que tange à população coberta, como será descrito na próxima sessão. Nessas localidades houve menos problemas na coleta e um número maior de profissionais foi capacitado. Assim, esta tese apresenta os dados do corte transversal do estudo mencionado nos munícipios de São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), em 2009 e 2010. 5.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO A população analisada foi formada por pacientes com idade entre 18 e 65 anos, exceto grávidas e aqueles com déficit cognitivo, atendidos pelas equipes da ESF (médicos e enfermeiros) que participaram das capacitações. Essas equipes foram indicadas pelas prefeituras de São Paulo e do Rio de Janeiro para as capacitações, sendo que este último município contou com maior número de profissionais envolvidos. Os dados foram coletados na sala de espera das unidades, antes da consulta com o profissional, por uma equipe de pesquisadores previamente treinados para tal atividade. O cálculo amostral inicial, realizado para o estudo original citado anteriormente105, considerou como desfecho aquelas variáveis que analisavam melhora na detecção de TMC pelos profissionais. Para tanto, foram testados cerca de 30 pacientes por equipe, resultando em 1.466 pacientes, em dois estudos de corte transversal (antes e após a capacitação dos 35 profissionais), da atenção primária do Rio de Janeiro (909 pacientes) e de São Paulo (557 pacientes), sendo que nenhum paciente que participou do primeiro estudo foi incluído no segundo. Todos participaram voluntariamente da pesquisa, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 5.4 INSTRUMENTOS Os instrumentos utilizados foram: o questionário socioeconômico e demográfico (ANEXO 1 – Bloco A), World Health Organization Quality of Life Instrument, brief version (WHOQOL-bref) (ANEXO 1 – Bloco B), General Health Questionnaire (GHQ-12) (ANEXO 1 – Bloco C), Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD) (ANEXO 1 – Bloco D), Eventos de Vida Produtores de Estresse (EVPE) (ANEXO 1 – Bloco E) e rede social de apoio (ANEXO 1 – Bloco F). 5.4.1 Questionário socioeconômico e demográfico Trata-se de um questionário objetivo com perguntas fechadas para coleta de informações socioeconômicas e demográficas. Este instrumento foi aplicado em duas pesquisas anteriores 60,106,107 e contempla informações como: idade, sexo, cor da pele autodeclarada, estado civil, grau de instrução, religião e frequência religiosa, chefe da família, pessoas que coabitam e dependem, renda pessoal e familiar, fonte e tempo de renda atual, profissão e ocupação atual de acordo com o Código Brasileiro de Ocupações com três dígitos (CBO), e a frequência de uso de serviços de saúde nos últimos seis meses. 5.4.2 World Health Organization Quality of Life Instrument, brief version (WHOQOLbref) O WHOQOL-bref é uma versão abreviada do World Health Organization Quality of Life Instrument (WHOQOL-100), contendo 26 questões referentes às duas últimas semanas antes da pesquisa. Esse instrumento avalia a qualidade de vida, a qual é conceituada como a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações5. Para tal, a QV é analisada a partir dos domínios 36 psicológico, físico, relações sociais e meio ambiente, sendo que em cada domínio o escore varia de 0 a 100 pontos23. Especificamente, o domínio físico é composto por sete questões sobre presença de dor, sono, dependência de medicação ou de tratamento, mobilidade etc. O domínio psicológico (com seis questões) engloba aspectos relacionados, por exemplo, a autoestima, concentração e espiritualidade. O domínio relações sociais, por meio de três questões, aborda as relações pessoais, o suporte (apoio) social e a atividade sexual. Por fim, o domínio meio ambiente (oito questões) investiga situações de segurança, moradia, poluição, acesso ao serviço de saúde e transporte, entre outras. Há, ainda, duas perguntas referentes à avaliação individual da QV e outra sobre a satisfação com a própria saúde23(Quadro 1). 37 Quadro 1: Domínios de QV, facetas e questões no questionário WHOQOL-bref. Domínios Facetas 1. Dor e desconforto Domínio I Físico 2. Energia e fadiga 3. Sono e repouso 4. Mobilidade 5. Atividades da vida cotidiana 6. Dependência de medicação ou de tratamentos 7. Capacidade de trabalho 8. Sentimentos positivos 9. Pensar, aprender, memória e concentração 10. Autoestima Domínio II Psicológico 11. Imagem corporal e aparência 12. Sentimentos negativos 13. Espiritualidade/religião/crenças pessoais (continua). Questões Em que medida você acha que sua dor (física) impede você de fazer o que você precisa? Você tem energia suficiente para seu dia a dia? Quão satisfeito(a) você está com o seu sono? Quão bem você é capaz de se locomover? Quão satisfeito(a) você está com sua capacidade de desempenhar as atividades do seu dia a dia? O quanto você precisa de algum tratamento médico para levar sua vida diária? Quão satisfeito(a) você está com sua capacidade para o trabalho? O quanto você aproveita a vida? O quanto você consegue se concentrar? Em que medida você acha que a sua vida tem sentido? Você é capaz de aceitar sua aparência física? Com que frequência você tem sentimentos negativos tais como mau humor, desespero, ansiedade, depressão? Quão satisfeito(a) você está consigo mesmo? 38 Quadro 1: Domínios de QV, facetas e questões no questionário WHOQOL-bref. (continuação). Domínios Facetas 14. Relações pessoais Domínio III Relações Sociais 15. Suporte (apoio) social 16. Atividade sexual 17. Segurança física e proteção 18. Ambiente no lar 19. Recursos financeiros Domínio IV Meio Ambiente 20. Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade 21. Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades 22. Participação em, e oportunidades de recreação/lazer 23. Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima) 24. Transporte Avaliação da qualidade de vida Satisfação com a saúde Fonte: (FLECK et al., 2000) Questões Quão satisfeito(a) você está com suas relações pessoais (amigos, parentes, conhecidos, colegas)? Quão satisfeito(a) você está com o apoio que você recebe de seus amigos? Quão satisfeito(a) você está com sua vida sexual? Quão seguro(a) você se sente em sua vida diária? Quão satisfeito(a) você está com as condições do local onde mora? Você tem dinheiro suficiente para satisfazer suas necessidades? Quão satisfeito(a) você está com o seu acesso aos serviços de saúde? Quão disponíveis para você estão as informações de que precisa no seu dia a dia? Em que medida você tem oportunidades de atividade de lazer? Quão saudável é o seu ambiente físico (clima, barulho, poluição, atrativos)? Quão satisfeito(a) você está com o seu meio de transporte? Como você avaliaria sua qualidade de vida? Quão satisfeito(a) você está com a sua saúde? 39 5.4.3 Aferição de transtornos mentais comuns (TMC) Os Transtornos Mentais Comuns (TMC) foram definidos por Goldberg e Huxley108 como “transtornos que são comumente encontrados nos espaços comunitários, cuja presença assinala uma alteração em relação ao funcionamento normal”. Desta forma, os TMCs englobam quadros clínicos de queixas difusas, expressas através de sintomas somáticos, depressivos, estados de ansiedade, irritabilidade, insônia, fadiga, dificuldade de memória e concentração107–109. A detecção de TMC foi realizada por meio de dois instrumentos: um voltado para o rastreamento inespecífico de sofrimento emocional (o General Health Questionnaire – GHQ-12) e outro mais específico para sintomas depressivos e ansiosos (Hospital Anxiety and Depression Scale – HAD). Dessa forma, utilizaram-se quatro tipos de variáveis: duas para sintomas inespecíficos (com dois pontos de corte no GHQ), uma para casos sugestivos de ansiedade e outra para casos sugestivos de depressão. A seguir, são descritos os instrumentos utilizados. General Health Questionnaire (GHQ-12) O General Health Questionnaire (GHQ-12) é usualmente utilizado em estudos populacionais, com foco na atenção primária 60,106,110–112 como teste de rastreamento para transtorno mental comum (TMC). Este instrumento foi criado por Goldberg e Blackwell 113 e validado no Brasil 111 , utilizando o Clinical Interview Schedule como padrão ouro 114. O instrumento é formado por 12 perguntas, cada qual com 4 opções de resposta, que se referem sempre ao período das duas últimas semanas. As perguntas referem-se à perda de sono, sentir-se nervoso/tenso, manter a atenção das atividades realizadas, sentir-se útil, capacidade de enfrentar problemas, capacidade de tomar decisões, superação de dificuldades, sentir-se feliz, satisfação com as atividades diárias, sentir-se triste ou deprimido, ausência de autoconfiança e sentir-se sem valor. 40 É considerado um instrumento com alta sensibilidade (85% a 92%) e especificidade (77% a 83%), e segundo Goldberg e Williams 113 , como convém a um instrumento de rastreamento, ainda assim alguns pacientes não são identificados como casos. Dessa forma, pode produzir falsos positivos devido à apreensão de um período de agudização, e pode gerar falsos negativos devido à remissão sintomatológica espontânea ou a tratamentos realizados 107,113. Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD) A escala Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD) foi desenvolvida para detecção de depressão e ansiedade em ambiente hospitalar 115 . Apesar de ser desenvolvida para aplicação em ambientes hospitalares, estudos indicam que esta escala possui as mesmas propriedades psicométricas quando aplicada na população geral, especialmente na atenção primária 116. A escala HAD contém 14 questões, sendo subdividida em duas subescalas, uma para ansiedade e outra para depressão com 7 questões cada, com respostas variando de 0 a 3. Assim, é uma escala curta e de fácil preenchimento, na qual o paciente responde de acordo com o que sentiu durante as duas últimas semanas 117. 5.4.4 Eventos de Vida Produtores de Estresse (EVPEs) Os Eventos de Vida Produtores de Estresse (EVPEs), do inglês stressful life events, têm sido estudados pela sua constante associação com doenças, especialmente as psiquiátricas. Assim, este questionário aborda situações que podem interferir diretamente na saúde do indivíduo, tais como: doença séria que resultou em afastamento das atividades habituais; internação hospitalar decorrente de doença ou acidente; morte de parente próximo; problemas financeiros severos; mudança forçada de moradia; separação/divórcio; agressão física e assalto/roubo. Também são incluídos os aspectos relacionados à discriminação, como aquelas devido a cor ou raça, sexo, religião ou culto, opção ou preferência sexual, doença ou deficiência física, condição social ou econômica e idade 70. 41 Esse questionário é composto de perguntas fechadas, com respostas dicotômicas, tendo como período de referência para ocorrência dos eventos os 12 meses anteriores ao preenchimento do questionário 70. 5.4.5 Aferição da Rede Social de Apoio Para aferição da rede social de apoio, utilizou-se o bloco de perguntas elaborado para o Estudo Pró-Saúde, o qual é resultado de uma adaptação do instrumento elaborado por Berkman e Syme85. Esta adaptação envolveu, além da tradução e retradução das perguntas para sua adaptação à língua portuguesa, discussões em grupo sobre as perguntas relativas aos aspectos mais tradicionais da rede social de apoio68. Essas perguntas avaliam o número de amigos e parentes íntimos (definidos como “aqueles que você se sente a vontade e pode falar sobre quase tudo”), a participação em atividades de grupo religiosas, sociais, política, organizações não governamentais, atividades esportivas e artísticas. Também “morar só ou não” foi considerado um indicador importante referente à rede social de apoio109. 5.4.6 Confiabilidade dos instrumentos Na pesquisa “Transtornos mentais na atenção primária: suas formas de apresentação, perfil nosológico e fatores associados em unidades do Programa de Saúde da Família do Município de Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil” foi realizado estudo de confiabilidade do GHQ-12 109. O GHQ-12 foi aplicado em 42 pacientes, independentemente do motivo da consulta, com intervalo de uma semana entre o teste e o reteste (Quadro 2). 42 Quadro 2: Confiabilidade teste/reteste do GHQ-12. Nas últimas semanas você tem: 1) perdido muito sono 2) se sentido constantemente nervoso e tenso 3) sido capaz de manter a atenção no que esta fazendo 4) sentido que é útil na maioria das coisas do dia a dia 5) sido capaz de enfrentar seus problemas 6) se sentido capaz de tomar decisões 7) sentido que está difícil superar suas dificuldades 8) se sentido feliz de um modo geral 9) tido satisfação nas suas atividades do dia a dia 10) se sentido triste e deprimido 11) perdido a confiança em você mesmo 12) se achado uma pessoa sem valor Fonte: Fortes (2004). * CCIC: Coeficiente de Correlação Intraclasse. ** IC: Intervalo de Confiança. CCIC* 0,7588 0,8638 0,7253 0,7804 0,7592 0,3452 0,7559 0,4700 0,5760 0,8191 0,6480 0,8380 IC (95%)** 0,5513-0,8703 0,7466-0,9268 0,4889-0,8533 0,5915-0,8820 0,5520-0,8700 0,2140-0,6492 0,5458-0,8687 0,1490-0,7154 0,2111-0,7721 0,6634-0,9027 0,3451-0,8108 0,6987-0,9129 Os coeficientes de correlação encontrados foram altos na maioria das questões, exceto nos itens 6, 8, 9 e 11. Estes resultados menos satisfatórios podem ser devidos ao intervalo entre o teste e reteste, no qual os fatores analisados podem ser susceptíveis a variações em pequenos períodos 109 . Adicionalmente, os TMCs são passíveis de resolução espontânea e consequentemente podem ter curta duração 108. Para o WHOQOL-bref, o teste de confiabilidade foi realizado em 300 indivíduos, sendo 250 pacientes de um hospital em Porto Alegre (RS) e 50 voluntários-controle. O instrumento apresentou coeficientes elevados (acima de 0,7) e altamente significativos, demonstrando boa fidedignidade do teste-reteste 23. O Quadro 3 exibe os coeficientes de correlação dos escores dos domínios entre o teste e o reteste: Quadro 3: Coeficiente de correlação entre o teste e o reteste, segundo domínio do WHOQOL-bref. Domínio Coeficiente de correlação teste/re-teste Físico 0,81 Psicológico 0,69 Relações sociais 0,80 Meio ambiente 0,75 Fonte: Fleck et al. (2000). p-valor 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 Quanto ao Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD), a confiabilidade foi testada por Botega et al. 117 em 78 pacientes admitidos em uma enfermaria de clínica médica. 43 De acordo com os autores, os itens do HAD se correlacionaram positivamente com a pontuação total nas respectivas subescalas de ansiedade e de depressão (Quadro 4). Quadro 4: Correlação (r de Spearman) com pontuação total nas subescalas de ansiedade (HAD-A) e de depressão (HAD-D), segundo itens do Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD). Item 1. Sentir-se tenso ou contraído 3. Medo, algo ruim por acontecer 4. Estar cheio de preocupações 7. Não ficar à vontade e relaxado 9. Frio na barriga, aperto no peito 11. Sentir-se inquieto 13. Sensação de entrar em pânico 2. Não sentir gosto pelas coisas 4. Não rir e não se divertir mais 6. Não se sentir alegre 8. Estar lento para pensar e agir 10. Sem interesse pela aparência 12. Não se animar com o futuro 14. Não ter prazer com TV, rádio *p=0,01 **p=0,001 Fonte: Botega et al (1995). Correlação com HAD-A Correlação com HAD-D Ansiedade 0,56** 0,30** 0,63** 0,25** 0,61** 0,43** 0,58** 0,40** 0,55** 0,33* 0,62** 0,22 0,53** 0,33** Depressão 0,44** 0,79** 0,45** 0,75** 0,30* 0,67** 0,29* 0,43** 0,38** 0,62** 0,24 0,61** 0,41** 0,66** A aferição dos EVPEs teve sua confiabilidade testada em amostra de 192 funcionários da UERJ, por meio de duas aferições e coeficiente Kappa. Segundo estes, “utilizar perguntas discretas sobre EVPE em questionário de autopreenchimento é adequado, com a maioria das questões apresentando boa estabilidade em adultos de diferentes níveis de escolaridade” 118. Por fim, as perguntas referentes à rede social de apoio foram submetidas a teste-reteste e foram encontrados valores de Coeficientes de Correlação Intraclasse em torno de 0,70 e 0,77 para número de parentes e de amigos íntimos. Para as variáveis referentes às atividades sociais e religiosas, a concordância variou entre 0,59 e 0,77119. 44 5.5 VARIÁVEIS ESTUDADAS 5.5.1 Variáveis socioeconômicas e demográficas Por meio da literatura revisada, variáveis socioeconômicas e demográficas foram selecionadas para avaliar sua associação com a QV. Primeiramente, as variáveis contínuas (idade e renda) foram categorizadas. Posteriormente, essas variáveis foram organizadas de forma dicotômica para uma melhor adequação aos objetivos e análises previstas para o estudo. Foi necessário trabalhar com variáveis dicotômicas, que correspondessem a um indicador que permitisse averiguar alguns aspectos socioeconômicos e demográficos específicos, descritos como associados ao TMC e a QV pela literatura. Também foi necessário utilizar variáveis dicotômicas devido ao problema da grande homogeneidade da amostra estudada. Especificamente sobre a renda, em estudo realizado em Petrópolis109 que avaliou a presença de TMC em população atendida pela ESF, observaram-se comentários feitos pelos pacientes referente às suas dificuldades financeiras (tais como “vergonha é não ter o que comer”). Diante deste fato e pela literatura120 apontar que a pobreza estaria relacionada ao TMC por meio de fatores como desesperança, desvalia e outros; o referido estudo considerou importante avaliar a presença de miséria, ou seja, não ter o mínimo suficiente para se sentir uma pessoa digna. Pelo mesmo motivo, no presente estudo, optou-se por avaliar economicamente a população pelo conceito de “ser miserável ou não” (ter no máximo meio salário mínimo de renda familiar per capita), conforme descrito no Quadro 5. Quadro 5: Variáveis contínuas categorizadas. Variáveis Idade Renda familiar per capita Categorias <= 40 anos > 40 anos <=0,5 salários mínimo >0,5 salários mínimos Da mesma forma, as variáveis categóricas, após a determinação da prevalência de cada uma de suas categorias, foram dicotomizadas, conforme quadro 6 a seguir. 45 Quadro 6: Variáveis categóricas posteriormente dicotomizadas. Variáveis Grau de instrução Frequência religiosa Estado civil Categorias Classes Não frequentou escola (analfabeto) 1º grau incompleto (até 4ª série) 1º grau incompleto (entre 5ª e 8ª série) 1º grau completo 2º grau incompleto 2º grau completo Universitário incompleto Universitário completo Mais de 1 vez por semana 1 vez por semana 2 a 3 vezes por mês Algumas vezes no ano 1 vez por ano Não compareci nenhuma vez Casada, união Separada, divorciada Viúva, solteira Até 4ª série Acima de 4ª série Menos de 2 a 3 vezes/mês Mais de 2 a 3 vezes mês Casada / união Outros 5.5.2 Variáveis de sofrimento psíquico No quesito sofrimento psíquico foram analisadas a presença ou não de Transtorno Mental Comum (TMC), Transtorno Mental Comum de intensidade grave (TMC-G), casos sugestivos de depressão e ansiedade. Como encontrado na literatura 109 , dois pontos de corte podem ser utilizados para o rastreamento de Transtornos Mentais Comuns (TMC). Neste estudo, considerou-se aqueles com 3 ou 4 pontos como positivos para Transtorno Mental Comum (TMC), o que denotaria a existência de sofrimento psíquico, e aqueles com 5 ou mais como Transtorno Mental Comum de intensidade grave (TMC-G), os quais são casos suspeitos de transtorno mental, conforme estudo do Goldberg 113,114 . Os casos sugestivos de ansiedade e depressão foram aferidos pelo HAD, sendo utilizado o ponto de corte 8/9 para casos sugestivos de ansiedade e depressão 117. 5.5.3 Variáveis dos EVPEs Para avaliação dos Eventos de Vida Produtores de Estresse, após constatar que a população pesquisada estava submetida a um alto número de EVPEs (média de 1,6 EVPE por pessoa, sendo que 24,5% dos pesquisados relataram três ou mais EVPEs), 46 considerou-se mais adequada a análise por grupos de EVPEs aos quais as pessoas estavam sujeitas, visando estudar o efeito de diferentes tipos desses eventos. Dessa forma, diante de consenso entre os autores desta tese, foi utilizada a categorização demonstrada no Quadro 7, que consiste no agrupamento das perguntas do questionário, conforme se segue: -Dificuldades financeiras ou forçado a mudar de casa = problemas financeiros/estruturais (sim/não); -Problemas de saúde ou internação = problemas de saúde (sim/não); -Falecimento de parente próximo ou rompimento de relação amorosa = perda de relação afetiva (sim/não); -Vítima de agressão física, de assalto, de catástrofe natural, de acidente de trânsito ou ferimento de arma de fogo/branca = causas externas (sim/não). Quadro 7: Categorização dos EVPEs. Original Análise 1 Perguntas do instrumento % Categorização % Dificuldades financeiras 46,9% Sofreu algum tipo de discriminação 26,6% Falecimento de parente próximo 24,7% Problemas de saúde 21,8% Internação 11,8% Problemas financeiros/estruturais 49,8% Rompimento de relação amorosa 11,4% Perda de relação afetiva 32,9% Forçado a mudar de casa 9,6% Discriminação 6,6% Presenciou alguém ser ferido 7,5% Problemas de saúde 26,5% Vítima de agressão física 4,7% Causas externas 15,4% Vítima de assalto/vítima de violência 4,5% Vítima de catástrofe natural 3,3% Vítima de acidente de trânsito 3,1% Ferimento de arma de fogo/branca 0,6% 47 5.5.4 Variáveis de rede social Segundo Brugha e colaboradores 121 , aqueles que possuem um grupo de suporte social inferior ou igual a três pessoas apresentam maiores prevalências de transtornos ansiosos. Dessa forma, optou-se por categorizar o número de familiares e amigos íntimos em maior ou igual a 4. Para as categorias que representam a frequência em atividades/locais, categorizou-se em frequentar regularmente (2 a 3 vezes por mês), conforme estudos anteriores 60,68. A partir destas variáveis montou-se uma adaptação de The Berkman-Syme Social Network Index (SNI). Esse índice é proveniente de um questionário de autopreenchimento, composto pela medida de quatro tipos de relações sociais: estado civil, número de parentes ou amigos íntimos, participação em grupos (por exemplo, associações de moradores) e frequência religiosa 85. Loucks et al. 122 adaptaram o índice mencionado, categorizando-o da seguinte forma: -Casado (não=0; sim=1); -Número de parentes ou amigos íntimos: 0-2 amigos e 0-2 parentes=0; outros escores=1; -Participação em grupos: não=0; sim=1; -Frequência religiosa: menor ou igual a algumas vezes no ano=0; maior ou igual a uma ou duas vezes por mês=1. Posteriormente, esses escores são somados, gerando um índice final. Segundo Loucks e colaboradores 122, os escores 0 ou 1 indicam as categorias mais isoladas, enquanto 2 ou 3 denotam aumento das conexões sociais. Considerando a especificidade do universo investigado, como a escassa oportunidade de participação em atividades de grupo dada a vulnerabilidade social, investigou-se o constructo “suporte social” por meio de duas categorias extremas e não complementares do Índice de Rede Social (IRS), que correspondem a aproximadamente 30% dos casos nos limites superior e inferior do índice: integração (soma = 3 ou 4) e isolamento (soma = 0 ou 1) 123. 48 5.5.5 Domínios de qualidade de vida, segundo o WHOQOL-bref Para a análise da QV, as facetas do WHOQOL-bref são abordadas em forma de domínios, como demonstrado no Quadro 2. A referente análise foi feita segundo sintaxe proposta pelo WHOQOL Group (ANEXO 2), de acordo com a qual as 26 questões devem ser preenchidas com valores entre 1 e 5, devendo-se inverter todas as questões cuja escala de resposta é invertida. Os escores dos domínios são calculados através da soma dos escores da média das “n” questões que compõem cada domínio. Então, estes são convertidos para uma escala de 0 a 100 5. 5.6 ANÁLISE DE DADOS Os dados foram analisados utilizando-se o programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences – SPSS 17. Inicialmente, foi realizada uma análise descritiva das variáveis estudadas, na qual foram aferidas as prevalências de TMC, TMC grave, casos sugestivos de ansiedade e depressão e variáveis socioeconômicas e demográficas. Ademais, foram calculados os escores médios dos domínios do WHOQOL. Foi realizada uma análise bivariada, utilizando-se as variáveis independentes listadas anteriormente e cada desfecho (domínios do WHOQOL), estabelecendo-se o nível de confiança de 5% para atribuir-se diferença entre as médias dos escores de QV em cada estrato das variáveis independentes investigadas. Para as associações entre as variáveis independentes e cada desfecho foi utilizado o Teste-t e foram apresentados seus respectivos p-valores. Posteriormente, aquelas variáveis que foram estatisticamente significativas na análise bivariada, com nível de significância de 10%, foram previamente selecionadas para os modelos de regressão linear múltipla, cujos desfechos foram os quatro domínios de QV propostos pelo WHOQOL-bref. As regressões foram realizadas via stepwise backward, considerando-se cada domínio de QV um desfecho. Os resultados dos quatro modelos finais da regressão linear foram apresentados por meio do coeficiente de determinação (R2), os coeficientes do modelo (β) para cada 49 variável de exposição e seu respectivo p-valor. Os resíduos de cada modelo foram analisados quanto as suas propriedades normais. 5.7 QUESTÕES ÉTICAS O estudo de intervenção que deu origem a este artigo (“Avaliação de um modelo de capacitação em saúde mental na atenção básica: cuidados integrais na prática do matriciamento”) foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa das Secretarias Municipais do Rio de Janeiro (nº 34/09 – ANEXO 3) e de São Paulo (nº 66/09 – ANEXO 4), sendo sua realização considerada adequada à população humana. Além disso, o projeto da presente tese foi submetido ao Comitê de Ética da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e foi por ele aprovado (nº 272.157/2013 – ANEXO 5). Todos os participantes da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e foram esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa, com a ressalva de que os dados seriam divulgados coletivamente, garantindo seu anonimato nos resultados. 50 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1 ARTIGO 1 ERRATA Destaca-se que o artigo “Psychiatric morbidity and quality of life of primary care attenders in two cities in Brazil”, publicado no Jornal Brasileiro de Psiquiatria, contém um erro. O item Methods, subitem Study design and sample do artigo não contempla adequadamente a população pesquisada e a constituição da amostra. O correto foi exposto nesta tese no item “Métodos”, subitem “População do estudo” (página 34). Para melhor visualização, segue abaixo o trecho correto. 5.1 POPULAÇÃO DO ESTUDO A amostra analisada foi formada por pacientes com idade entre 18 e 65 anos, exceto grávidas e aqueles com déficit cognitivo, atendidos pelas equipes da ESF (médicos e enfermeiros) que participaram das capacitações. Essas equipes foram indicadas pelas prefeituras de São Paulo e do Rio de Janeiro para as capacitações, sendo que este último município contou com maior número de profissionais envolvidos. Os dados foram coletados na sala de espera das unidades, antes da consulta com o profissional, por uma equipe de pesquisadores previamente treinados para tal atividade. O cálculo amostral inicial, realizado para o estudo original citado anteriormente 105 , considerou como desfecho aquelas variáveis que analisavam melhora na detecção de TMC pelos profissionais. Para tanto, foram testados cerca de 30 pacientes por equipe, resultando em 1.466 pacientes, em dois estudos de corte transversal (antes e após a capacitação dos profissionais), da atenção primária do Rio de Janeiro (909 pacientes) e de São Paulo (557 pacientes), sendo que nenhum paciente que participou do primeiro estudo foi incluído no segundo. Todos participaram voluntariamente da pesquisa, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 6.2 ARTIGO 2 Submetido a Revista “Ciência & Saúde Coletiva” – em avaliação pós-parecer. EVENTOS DE VIDA PRODUTORES DE ESTRESSE, TRANSTORNO MENTAL COMUM E QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES ATENDIDOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DO RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO. Stressful life events, common mental disorders and quality of life of Primary Care Attenders in Rio de Janeiro and São Paulo. RESUMO Introdução: A qualidade de vida(QV) é um constructo subjetivo, que pode ser associado negativamente a fatores como os transtornos mentais e os eventos de vida produtores de estresse (EVPEs). Objetivo: Identificar a associação entre transtorno mental comum, EVPEs e QV na Atenção Primária(AP). Metodologia: Estudo transversal realizado com 1.466 pacientes atendido na AP, nos munícipios de São Paulo e Rio de Janeiro, em 2009 e 2010. Realizaram-se uma análise bivariada por meio do Teste-t e regressões lineares múltipla para cada domínio. Resultados: Os escores para os domínios físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente foram de, respectivamente, 64,7, 64,2, 68,5 e 49,1. Pela análise multivariada, foram encontradas fortes associações, para o domínio físico, aos problemas de saúde e à discriminação, para o psicológico, à discriminação, para as relações sociais, aos problemas financeiros/estruturais, às causas externas e aos problemas de saúde, e, para o meio ambiente, aos problemas financeiros/estruturais, às causas externas e à discriminação. Conclusão: As variáveis de saúde mental, os problemas de saúde e os problemas/financeiros estruturais foram os aspectos que se associaram negativamente à QV. Assim, conhecer e abordar os transtornos mentais e os EVPEs pode apoiar a estruturação de formas de cuidado que melhorem a QV destes. Palavras-chave: Qualidade de vida. Eventos de vida produtores de estresse. Transtorno mental comum. Ansiedade e depressão. Atenção primária. 62 ABSTRACT Quality of life (QoL) is a subjective construct which can be negatively associated by agents, such as mental disorders, and the presence of Stressful Life Events(SLE’s). Objective: It is to identify the association between common mental disorders, the SLE’s and QoL in patients attended in Primary Care (PC). Methodology: It is a transversal study, held with 1.466 patients cared for in PC, in the city of São Paulo and Rio de Janeiro, in 2009 and 2010. A bi-variable analysis was done through T-testing and four multiple linear regressions for each outcome (QoL domains). Results: The scores for the physical, psychological, social relations and environment domains were, respectively, 64.7; 64.2; 68.5 and 49.1. Through a multi-variable analysis, it becomes clear that the physical domain suffered a strong association with Health Problems and Discrimination; the psychological domain from Discrimination; the social relations domain from Financial/Structural Problems, External Causes and Health Problems; the environment domain from Financial/Structural Problems, External Causes and Discrimination. Conclusion: Mental health issues, health problems and financial/structural problems were was associated with QoL. Considering this, we can evaluate how important the knowledge of psychic suffering and the SLE’s is to improve the population´s QoL. Key words: Quality of life, Stressful Life Events, Common Mental Disorder, Anxiety, Depression, Primary Care. 63 INTRODUÇÃO O conceito de estresse tem sido amplamente utilizado na literatura, sendo constantemente relacionado a efeitos deletérios à saúde. Lipp1 define estresse como “uma reação psicológica, com componentes físicos, mentais e químicos, a determinados estímulos que irritam, amedrontam, excitam e/ou confundem a pessoa”. Assim, estresse é entendido como o conjunto de respostas visando a adaptação a eventos estressores aos quais o organismo é exposto2. Nesse contexto, observa-se um interesse nas pesquisas atuais3, 4 sobre os denominados eventos de vida produtores de estresse (EVPEs), os quais são considerados eventos estressantes presentes no decorrer da vida (como separações, mudanças de moradia, internações, roubo e outros), que, quando acontecem, podem potencializar o processo de adoecimento dos indivíduos5, tanto aumentando a chance de ocorrência, quanto agravando os quadros preexistentes. Atualmente, encontra-se na literatura a associação destes eventos com algumas condições de saúde, especialmente aquelas relacionadas à saúde mental, que incluem distintos transtornos psiquiátricos, tais como transtorno obsessivo-compulsivo6 e transtornos do pânico7. Um subgrupo importante é formado pelas condições psiquiátricas denominadas na literatura como transtornos mentais comuns (TMC), que englobam não só os transtornos depressivos ansiosos e as somatizações, mas também o sofrimento emocional inespecífico encontrado nos estudos comunitários e na atenção primária8, 9. Um particular exemplo de estudo sobre os EVPEs e TMC é o realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Pró-Saúde), que demonstrou a associação positiva entre transtornos mentais comuns (TMC) e EVPEs, tais como: “dificuldades financeiras” e “ter sido vítima de agressão física”10. Outro estudo que se destaca é aquele produzido em Pelotas-RS, no qual os autores observaram que o maior número de EVPEs aumenta a probabilidade de ocorrência de TMC11. Relata-se, ainda, a influência destes eventos na qualidade de vida (QV) da população. Entretanto, ainda são escassos os estudos sobre essa temática específica, sendo tais eventos geralmente associados a condições clínicas e psiquiátricas, como, por exemplo, 64 HIV/Aids12, transtorno do estresse pós-traumático13, dependência química14 e asma15. Estudo realizado no Canadá com pessoas diagnosticadas com esquizofrenia apontou, por meio da regressão linear, que aborrecimentos diários foram associados a menores escores de QV16. A QV é um constructo amplamente utilizado na literatura, entendido como uma condição eminentemente humana, abrangendo a vida familiar, amorosa, social e ambiental. O termo engloba inúmeros significados e, consequentemente, uma gama de conceitos17. A Organização Mundial de Saúde desenvolveu um conceito transcultural que define a QV “como a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”18. Criou-se, então, um conceito amplo que abrange a complexidade do constructo, interrelacionando aspectos físicos, psicológicos, nível de independência, relações sociais e crenças. Logo, este conceito reflete a natureza subjetiva do constructo que está enraizada no contexto cultural e social, ao considerar, também, outros fatores, tais como a experiência pessoal, o meio ambiente e a situação de saúde19. Dessa forma, o presente artigo visou identificar a associação entre transtorno mental comum, EVPEs e QV em pacientes atendidos na atenção primária do Rio de Janeiro e de São Paulo, em 2009 e 2010. METODOLOGIA TIPO DE ESTUDO O presente artigo é um desdobramento do projeto de intervenção Avaliação de um modelo de capacitação em saúde mental na atenção básica: cuidados integrais na prática do matriciamento, cujo objetivo era avaliar o impacto das capacitações em saúde mental nas atividades assistenciais na atenção primária. Essas capacitações eram voltadas para a integração das equipes de saúde da família e saúde mental, por meio da 65 implementação das atividades de matriciamento e de intervenções terapêuticas em saúde mental na prática assistencial da Estratégia de Saúde da Família (ESF)20. Neste trabalho, são apresentados os dados do corte transversal do estudo supracitado nos munícipios de São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), em 2009 e 2010. AMOSTRA A amostra analisada é formada por pacientes entre 18 e 65 anos, exceto grávidas e aqueles com déficit cognitivo, atendidos por equipes da ESF (médicos e enfermeiros) indicadas pelas prefeituras municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro, para participarem das capacitações, sendo que o maior número profissionais envolvidos correspondia a esse último município. Os dados foram coletados na sala de espera das unidades, antes da consulta com o profissional, por uma equipe de pesquisadores previamente treinados para tal atividade. O cálculo amostral inicial, realizado para o estudo original citado anteriormente20, considerou como variáveis desfechos aquelas que analisavam melhora na detecção de TMC pelos profissionais. Para tanto, foram testados cerca de 30 pacientes por equipe, resultando em 1.466 pacientes, em dois estudos de cortes transversais (pré e pós-período de capacitação dos profissionais), da atenção primária do Rio de Janeiro (909 pacientes) e de São Paulo (557 pacientes), sendo que nenhum paciente que participou do primeiro estudo foi incluído no segundo. Todos participaram voluntariamente da pesquisa, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Outros artigos, além do estudo original já citado20, utilizaram esta amostra para estudo dos TMCs21, 22 na atenção primária e sua associação com variáveis socioeconômicas e QV23. INSTRUMENTOS Questionário socioeconômico e demográfico As variáveis socioeconômicas e demográficas foram obtidas por meio de um questionário fechado, utilizado previamente em outras duas pesquisas10, 24 . Para a presente análise, optou-se pela dicotomização das variáveis, devido à homogeneidade da amostra, ou seja, em função do pequeno número de indivíduos em algumas categorias das variáveis. Foram selecionadas as seguintes variáveis para análise: sexo, faixa etária 66 (até 40 anos e acima de 40 anos), grau de instrução (até a 4º série e a partir da 4ª série do ensino fundamental) e renda familiar per capita (até 1 salário mínimo e acima de 1 salário mínimo). World Health Organization Quality of Life Instrument, bref version (WHOQOL-bref) O WHOQOL-bref é uma versão abreviada do World Health Organization Quality of Life Instrument (WHOQOL-100), contendo 26 questões referentes às duas últimas semanas antes da pesquisa. Esse instrumento de avaliação da qualidade de vida foi elaborado pelo grupo de trabalho liderado pela Organização Mundial de Saúde (WHOQOL group), responsável pelo seu desenho e pelas orientações para sua análise por meio da sintaxe proposta18. A QV é analisada a partir dos domínios psicológico, físico, relações sociais e meio ambiente, sendo que em cada domínio o escore varia de 0 a 100 pontos. Especificamente, o domínio físico é composto por sete questões sobre presença de dor, sono, dependência de medicação ou de tratamento, mobilidade, etc. O domínio psicológico (com seis questões) engloba aspectos relacionados, por exemplo, a autoestima, concentração e espiritualidade. O domínio relações sociais, por meio de três questões, aborda as relações pessoais, o suporte (apoio) social e a atividade sexual. Por fim, o domínio meio ambiente (oito questões) investiga situações de segurança, moradia, poluição, acesso ao serviço de saúde e transporte, entre outras. Há, ainda, duas perguntas referentes à avaliação individual da QV e outra sobre a satisfação com a própria saúde25. Ressalta-se que WHOQOL-bref possui propriedades psicométricas satisfatórias, sendo amplamente utilizado em pesquisas brasileiras25. Aferição de transtornos mentais comuns (TMC) A detecção de TMC foi realizada por meio de dois instrumentos: um voltado para o rastreamento inespecífico de sofrimento emocional (o General Health Questionnaire – GHQ-12); e outro mais específico para sintomas depressivos e ansiosos (Hospital Anxiety and Depression Scale – HAD). Dessa forma, utilizaram-se quatro tipos de variáveis: duas para sintomas inespecíficos (com dois pontos de corte no GHQ); uma para casos sugestivos de ansiedade; e outra para casos sugestivos de depressão. A seguir, são descritos os instrumentos utilizados. 67 1. General Health Questionnaire (GHQ-12) O General Health Questionnaire (GHQ-12) foi desenvolvido por Goldberg and Blackwell (26 e validado no Brasil a partir do Clinical Interview Schedule27. Trata-se de um instrumento de rastreamento de transtornos mentais comuns (TMC), os quais são considerados “transtornos comumente encontrados nos espaços comunitários, cuja presença assinala uma alteração em relação ao funcionamento normal”28. O questionário é formado por 12 perguntas, cada qual com quatro opções de resposta, que se referem sempre ao período das duas últimas semanas antes da pesquisa29. Como encontrado na literatura24, podem ser utilizados dois pontos de cortes para o rastreamento de TMC. Neste estudo, aqueles com 3 ou 4 pontos foram considerados positivos para transtorno mental comum e aqueles com 5 ou mais classificados como transtorno mental comum de intensidade grave (TMC-G). 2. Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD) A Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD) foi desenvolvida para detecção de graus leves de transtornos afetivos (ansiedade e depressão), sendo validada e adaptada à realidade brasileira30. São 14 questões referentes às últimas duas semanas antes da pesquisa, sendo sete sobre ansiedade e as outras sete sobre depressão, com respostas variando de 0 a 3. Para a análise, utilizaram-se os pontos de corte de 8/9, para casos sugestivos de depressão e de ansiedade30. Eventos de vida produtores de estresse (EVPE) O questionário para avaliar os EVPEs é composto por 12 perguntas fechadas, com respostas dicotômicas, tendo como período de referência para ocorrência dos eventos os últimos 12 meses antes do preenchimento do questionário31. São abordadas situações que podem interferir diretamente na saúde do indivíduo, tais como doença séria que resultou em afastamento das atividades habituais, internação hospitalar decorrente de doença ou acidente, morte de parente próximo, problemas financeiros severos, mudança forçada de moradia, separação/divórcio, agressão física e assalto/roubo. Outro ponto incluído refere-se aos aspectos relacionados à discriminação 68 por cor ou raça, sexo, religião ou culto, opção ou preferência sexual, doença ou deficiência física, condição social ou econômica e idade10, 31. Para fins de análise, trabalhou-se inicialmente com os eventos individualizados, com exceção da discriminação, em que a presença de qualquer tipo de discriminação foi a variável estudada. Em seguida, após constatar que esta população estava submetida a um alto número de EVPEs (média de 1,6 EVPE por pessoa, sendo que 24,5% dos pesquisados relataram três ou mais EVPEs), considerou-se mais adequada a análise por grupos de EVPEs aos quais as pessoas estavam sujeitas, visando estudar o efeito de diferentes tipos desses eventos. Assim, optou-se por organizar grupos de EVPEs agregando aqueles com significados semelhantes. O primeiro grupo – Problemas Financeiros/Estruturais – agrega questões referentes à dificuldade financeira e à mudança forçada de moradia. O segundo (Perda de Relação Afetiva) é composto por situações relativas ao rompimento de relação amorosa e à perda de parente próximo. O terceiro (Discriminação) engloba todas as questões relacionadas à discriminação supracitadas. O quarto – Problemas de Saúde – abarca os eventos de internação e relatos de problemas de saúde. Por fim, o último grupo (Causas Externas) refere-se ao relato de agressão física, ferimento por arma de fogo ou branca, acidente de trânsito, presenciar ferimento a terceiros e catástrofe natural. ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados foram analisados no programa Statistical Package for the Social Science – SPSS 17. Inicialmente, realizou-se uma análise bivariada por meio do Teste-t, associando as variáveis de exposição dicotômicas (socioeconômicas/demográficas, clínicas e EVPEs) aos desfechos de QV, sendo aferidos seus p-valores. Posteriormente, as variáveis que foram estatisticamente significativas na análise bivariada, ao nível de significância de 10%, foram previamente selecionadas para os modelos de regressão linear múltipla, cujos desfechos foram os quatro domínios de QV propostos pelo WHOQOL-bref. As regressões foram realizadas via stepwise backward, considerando cada domínio de QV um desfecho. 69 Os resultados dos quatro modelos finais da regressão linear são apresentados por meio do coeficiente de determinação (R2), dos coeficientes do modelo (β) para cada variável de exposição e seu respectivo p-valor. Os resíduos de cada modelo foram analisados quanto às suas propriedades normais. QUESTÕES ÉTICAS O estudo de intervenção que deu origem a este artigo (Avaliação de um modelo de capacitação em saúde mental na atenção básica: cuidados integrais na prática do matriciamento) foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa das Secretarias Municipais do Rio de Janeiro (nº34/09) e de São Paulo (nº66/09), sendo sua realização considerada adequada à população humana. Além disso, o projeto que deu origem a este artigo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) (nº272.157/2013). Todos os participantes da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e receberam esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa, bem como a garantia de anonimato na divulgação dos resultados. RESULTADOS Foram pesquisados 1.466 indivíduos atendidos na atenção primária dos municípios de São Paulo e do Rio de Janeiro. Deste total, observou-se predominância de mulheres (76,5%), da faixa etária acima de 40 anos (62,6%), do grau de instrução a partir da 4ª série do ensino fundamental (66,7%) e da renda familiar per capita inferior a um salário mínimo (74,4%) – Tabela 1. Quanto às variáveis clínicas de saúde mental, os casos sugestivos de ansiedade foram encontrados em 37% dos pesquisados, os de TMC-G em 32%, depressão em 25,1% e TMC em 20,5% (Tabela 1). Sobre os EVPEs, encontrou-se uma média 1,6 (±1,4) por indivíduo, sendo que apenas 26% dos pesquisados relataram nenhum evento no último ano. As maiores proporções de EVPEs, individualmente, foram observadas para “dificuldades financeiras” (44,2%), “falecimento de parente próximo” (22,6%) e 70 “problemas de saúde” (22,2%). Quando analisados os grupos de EVPEs, 47,1% dos casos foram classificados em “Problemas Financeiros/Estruturais”, 31% em “Perda da Relação Afetiva”, 27,9% em “Discriminação”, 27,1% em “Problemas de Saúde” e 19, 1% em “Causas Externas” – Tabela 2. No tocante à QV, foram encontrados escores médios de 64,7 para o domínio físico, 64,2 para o psicológico, 68,5 para o de relações sociais e 49,1 para o meio ambiente. Por meio da análise bivariada, encontraram-se menores escores de QV para as mulheres, para aqueles com renda familiar per capita inferior a um salário mínimo, para os casos positivos para TMC-G e para os casos sugestivos de ansiedade e depressão em todos os domínios do WHOQOL-bref (p-valor<5%). As pessoas acima de 40 anos apresentaram menores escores para os domínios físico e relações sociais, com diferença estatisticamente significante. Já entre aqueles com grau de instrução inferior à 4ª série do ensino fundamental, observaram-se menores escores nos domínios físico, psicológico e meio ambiente (p-valor<5%) – Tabela 1. Quanto à análise bivariada dos EVPEs e QV, nota-se que a presença dos eventos associa-se a escores inferiores de QV nos pesquisados. Destaca-se que as questões referentes a “dificuldades financeiras”, “problemas de saúde”, “internação”, “forçado a mudar de casa” e “vítima de agressão física” apresentaram diferenças estatísticas em todos os domínios. Observando-se os grupos de EVPEs, todos registraram diferenças estatísticas em todos os domínios, exceto o grupo “Perda de Relação Afetiva”, que só apresentou diferença no domínio meio ambiente – Tabela 2. Por meio da análise multivariada, foi possível observar que as variáveis selecionadas para os modelos finais de cada domínio foram capazes de explicar a variabilidade (R²) do domínio físico em 39%, do psicológico em 43%, das relações sociais em 16% e do meio ambiente em 23%. Além disso, ainda na Tabela 3, são apresentados seus coeficientes e respectivos p-valores para cada domínio. Vale destacar que todas as variáveis de exposição consideradas apresentaram associação negativa sobre a QV, com β negativos, exceto grau de instrução e renda familiar per capita. As seguintes variáveis foram as mais expressivas para cada domínio: no domínio 71 físico – TMC-G (β=-10,1 e p-valor=0,000) e problemas de saúde (β=-9,9 e pvalor=0,000); no domínio psicológico – TMC-G (β=-9,5 e p-valor=0,000) e depressão (β=-10,9 e p-valor=0,000); no domínio relações sociais – TMC-G (β=-6,5 e pvalor=0,000) e ansiedade (β=-4,9 e p-valor=0,000); e no domínio meio ambiente – depressão (β=-5,4 e p-valor=0,001), TMC-G (β=-3,8 e p-valor=0,000) e ansiedade (β=3,8 e p-valor=0,000). Quanto aos EVPEs, destacam-se as seguintes variáveis: grupo “Problemas de Saúde” (β=-9,9 e p-valor=0,000) e discriminação (β=-2,8 e p-valor=0,000) no domínio físico; discriminação (β=-1,9 e p-valor=0,014) no domínio psicológico; “Problemas Financeiros/Estruturais” (β=-4,1 e p-valor=0,000), “Causas Externas” (β=-2,8 e pvalor=0,015) e “Problemas de Saúde” (β=-2,0 e p-valor=0,054) no domínio relações sociais; e todos os grupos de EVPEs, exceto “Problemas de Saúde” no domínio meio ambiente. DISCUSSÃO Os resultados do presente artigo demonstram que a variância da QV é explicada parcialmente pelas variáveis socioeconômicas/demográficas, clínicas e pelos EVPEs. Sobre as variáveis socioeconômicas/demográficas, destaca-se a associação negativa da faixa etária mais elevada no domínio físico. Como já relatado na literatura31, os grupos etários mais velhos tendem a apresentar morbidades crônicas, por vezes cursando com diversas comorbidades, além de o próprio processo de envelhecimento gerar comprometimentos no bem-estar físico do indivíduo. Outro ponto é a associação positiva do grau de instrução (domínios físico, psicológico e meio ambiente) e da renda familiar per capita (psicológico e meio ambiente). Em estudo com imigrantes em Hong Kong, Wong et al32 encontrou associação entre QV e renda familiar mensal. Ressalta-se que a realidade de Hong Kong e a do Brasil são distintas, não sendo possível fazer comparações diretas, entretanto, pode-se observar que a renda é um importante fator para análise da QV nas mais diversas realidades. 72 Quanto às variáveis de saúde mental, os resultados desse estudo corroboram aqueles encontrados na literatura33, 34 , os quais apontam que a presença de qualquer tipo de sofrimento associa-se a menores escores de QV. Um ponto a se destacar nos resultados do presente trabalho é o maior coeficiente de regressão linear (Beta) encontrado para TMC-G e casos sugestivos de depressão nos domínios pesquisados, exceto no domínio relações sociais. Tal fato demonstra o impacto, na vida da população, de casos bem característicos de adoecimento psíquico, como a depressão. Berlim et al33 estudaram pacientes um hospital universitário no sul do Brasil e demonstraram que a depressão foi o mais importante fator preditor para a redução dos escores de QV em todos os domínios pesquisados. Além disso, os autores reforçam que a gravidade do sintoma e o tratamento da depressão são fatores que podem refletir diretamente na QV. Outro estudo que relata essa associação foi realizado em 2009 e 2010, demonstrando que usuários de substâncias psicoativas (SPAs) possuíam escores de QV inferiores quando comparados àqueles que não usavam SPAs. Esse estudo ainda ressalta que os usuários de SPAs eram quase duas vezes mais propensos a ter menores escores de QV, independentemente de qualquer outra característica socioeconômica14. A análise dos EVPEs mostrou uma associação negativa do grupo “Problemas de Saúde” nos domínios físico e relações sociais. Há relatos na literatura de que a presença de alguma morbidade associa-se a baixos escores de QV, como, por exemplo, HIV/Aids12. Além disso, aponta-se que, conforme aumenta o número de morbidades, diminuem os escores de QV, especialmente nos componentes físico e mental35. A associação negativa encontrada com o domínio físico pode estar relacionada aos conceitos que embasam a construção desse domínio, que é composto por situações referentes à dor física e à necessidade de atendimento médico25, questões que sofrem reflexos na presença de algum problema de saúde. Para o domínio relações sociais, cabe destacar a importância do apoio social. Este é entendido como qualquer auxílio entre pessoas que se conhecem, o qual resulta em efeitos emocionais positivos, agindo como um relevante fator psicossocial e gerando maior satisfação com a vida 36. Dessa forma, sentir-se amado e cuidado está relacionado a níveis mais baixos de ansiedade, depressão e somatizações, bem como à melhor adaptação a situações de estresse 37 . Logo, o processo de adoecimento e a internação 73 podem gerar comprometimento no convívio social, o que resultaria em menores escores no domínio relações sociais. A discriminação associou-se negativamente a menores escores nos domínios físico e psicológico. Como exemplo de estudo sobre discriminação, pode-se citar pesquisa realizada em Israel que verificou a associação negativa entre discriminação e saúde física e mental (aferidos pelo Short Form Health Survey-12) entre não imigrantes judeus38. O estudo citado relaciona a QV com determinados grupos étnicos38, entretanto, há uma gama de situações que podem gerar discriminação, tais como gênero, orientação sexual, religião, aparência física (confirmado em análise prévia realizada neste estudo, em que um dos principais motivos relatado de discriminação foi a percepção corporal de obesidade), entre outras. O presente estudo não teve como foco analisar detalhadamente as causas de discriminação. O grupo “Problemas Financeiros/Estruturais” associou-se negativamente aos domínios relações sociais e meio ambiente. A literatura aponta que o domínio meio ambiente é o mais sensível a variações socioeconômicas39. Além disso, deve-se enfatizar que esse domínio abarca situações referentes a recursos financeiros25, que é uma das questões contempladas por esse grupo de EVPEs. Por outro lado, a associação negativa desse grupo ao domínio relações sociais pode estar relacionada à mudança forçada de moradia, a qual afastaria o indivíduo do seu círculo de amizades. Como era de se esperar, do grupo “Causas Externas” também associou-se negativamente à QV, especialmente nos domínios relações sociais e meio ambiente. Apesar de esse grupo englobar desastres naturais, tais eventos foram pouco relatados pelos pesquisados, de tal forma que se torna, então, a violência um importante ponto de discussão, uma vez que esse grupo é mais representado pelas categorias “presenciar e/ou ser vítima de violência”. Há relato na literatura da associação da violência, de forma geral, a uma menor QV40. Um exemplo desta associação é encontrado no estudo de D´Souza et al41, em que a presença de violência doméstica foi um fator preditor que reduziu os escores de QV em todos os domínios aferidos pelo SF-36 (Short Form Health Survey-36). 74 “Perda de Relação Afetiva” foi o único grupo de EVPE que esteve ausente nos quatro modelos finais da regressão linear múltipla. Como não foi observada a associação deste evento diretamente na QV dos pesquisados, há a possibilidade de que o efeito deste possa estar incluso nas variáveis de saúde mental, como visto em estudo prévio realizado em Pelotas-RS, no qual o relato de separação conjugal e de morte de parente próximo associou-se à maior presença de distress ou mal-estar psicológico5, enquanto em outro a separação associou-se ao TMC10. De modo geral, este estudo demonstrou que questões socioeconômicas, as variáveis de saúde mental e os eventos de vida produtores de estresse podem associar-se positiva ou negativamente à QV. Questões relacionadas à educação e renda necessitam de intervenções governamentais. Estas variáveis são denominadas determinantes sociais de saúde (DSS), que, segundo Carvalho e Buss42, são fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Assim, os resultados da presente pesquisa corroboram o sugerido pela promoção da saúde, já que os DSS, de nível macro, necessitam de políticas governamentais que visem a redução da inequidade social, a fim de gerar melhores condições de saúde. Por outro lado, a associação negativa do transtorno mental na QV sugere que ações no próprio serviço de saúde podem gerar significativa melhora na vida do indivíduo. A assistência em saúde mental ainda é um desafio no Brasil. A QV permite identificar e priorizar problemas, uma vez que a sua mensuração oferece uma gama de informações sobre a saúde do indivíduo, possibilitando identificar em qual campo (ou domínio, no caso do WHOQOL-bref) deve-se atuar. Ademais, os resultados obtidos pela mensuração da QV permitem o compartilhamento de decisões entre profissional de saúde e paciente, a fim de identificar prioridades para o tratamento e facilitar o estabelecimento de metas realistas 43. Dessa forma, a QV pode tornar-se um importante constructo na avaliação da assistência em saúde mental. Segundo Fortes et al9, é necessário o treinamento dos profissionais da atenção primária para o manejo do transtorno mental. Além do diagnóstico e tratamento medicamentoso, o treinamento deve abordar habilidades adicionais, tais como estratégias de coping e intervenções psicossociais. 75 Outro ponto a se destacar é que o conhecimento da influência de eventos estressores na população atendida pela atenção primária pode direcionar a assistência ao enfrentamento destas situações. A atenção primária é considerada a porta de entrada do sistema de saúde brasileiro, tornando-se responsável por prestar assistência integral e realizar atividades de educação e promoção da saúde44. Logo, ao atender estes indivíduos, a assistência deve-se direcionar aos impactos psicossociais que tais eventos podem gerar. Ressalta-se, também, que o sistema de saúde deve trabalhar conjuntamente com outros sistemas, como, por exemplo, o Sistema Único de Assistência Social (Suas), que organiza ações de assistência social, visando a prevenção de riscos sociais e pessoais e a proteção daqueles já em risco45. Assim, a identificação de EVPEs, como a violência, demanda esforços tanto do serviço de saúde como da assistência social. Por fim, como ponto forte deste estudo, destaca-se o caráter multicêntrico em um estudo analisando o efeito de EVPEs em população de baixa renda na atenção primária, no Brasil. As características transculturais e a validação dos instrumentos utilizados, além de sua ampla utilização na literatura, permitirão a comparação dos dados produzidos nesta pesquisa com estudos na literatura27, 30. Destaca-se, também, como limitação, o uso de instrumentos apenas de rastreamento de transtornos mentais (GHQ e HAD), que detectam a possível existência de sintomas psiquiátricos e não seu efetivo diagnóstico. Assim, há a possibilidade de se detectarem falso-positivos, aumentando, assim, a proporção de casos de transtorno mental. Por outro lado, estes casos são frequentes na atenção primária, tornando-se tais instrumentos importantes ferramentas no rastreamento desses transtornos, os quais deverão ser investigados e tratados prontamente46. Além disso, pelo caráter seccional deste estudo, a exposição e o desfecho são aferidos simultaneamente, havendo a possibilidade de ocorrência de causalidade reversa. Por esse motivo, no presente artigo, não se pode pensar em associações causais tipo risco, limitando-se a discutir a associação existente entre os fatores estudados. A associação encontrada entre os diversos EVPEs, TMC e QV indica a realização de estudos longitudinais, por meio dos quais será possível melhor identificar a influência destes 76 fatores na vida da população no decorrer do tempo, de modo a elucidar a questão da causalidade reversa. Ademais, as variáveis escolhidas explicaram parcialmente o desfecho, sendo necessária a investigação de um modelo teórico mais amplo, incluindo outras variáveis, como, por exemplo, o acesso ao serviço de saúde, suas características e a satisfação do usuário. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar das limitações, o presente estudo apontou que algumas variáveis associaram-se significativamente à QV da população atendida pela atenção primária, sendo o transtorno mental comum, os casos sugestivos de ansiedade e de depressão, os problemas de saúde e os problemas financeiros/estruturais as variáveis que mais impactaram no desfecho. Devido à alta prevalência e à sua associação com a QV, torna-se importante que os profissionais de saúde sejam capacitados para identificar e tratar estes transtornos na AP, minimizando seu impacto na QV. Além disso, alguns pontos requerem atuações governamentais que visem a redução da inequidade social. Observou-se que os problemas financeiros/estruturais associaram-se a menores escores de QV, sugerindo, assim, que políticas voltadas para uma melhor distribuição de renda possam gerar efeitos benéficos à saúde da população, em especial na QV. DECLARAÇÃO DE INTERESSE Flávia Batista Portugal – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Sandra Fortes – Projeto “Avaliação de um modelo de capa citação em saúde mental na atenção básica: cuidados integrais na prática do matriciamento” 575194/2008-1 – Edict MCT/CNPq/CT-Saúde/MS/SCTIE-DCIT – no33/2008; Jair de Jesus Mari – Pesquisador sênior do CNPq. 77 REFERÊNCIAS 1. Lipp M. Stress e suas implicações. 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Físico 63,7* 67,9* 68,1* 62,7* 61,6* 66,3* 63,9* 67,7* 65,0 63,6 70,4* 52,6* 70,3* 55,2* 68,7* 52,8* Qualidade de Vida Relações Psicológico Sociais 62,9* 67,9* 68,8* 70,3* 64,9 70,2* 63,9 67,5* 68,3 61,5* 68,6 65,7* 63,1* 67,7* 68,4* 71,4* 64,2 68,6 64,7 68,1 70,0* 72,5* 52,1* 60,0* 70,2* 72,5* 54,2* 61,7* 69,1* 71,2* 49,8* 60,3* Meio Ambiente 48,2* 52,2* 48,8 49,3 48,1* 49,6* 47,9* 52,8* 49,3 48,4 52,3* 42,4* 52,5* 43,4* 51,8* 41,0* 83 Tabela 2: Escores de Qualidade de Vida segundo Eventos Produtores de Estresse. RJ e SP, 2009/2010. EVPEs % 44,2 55,8 22,6 77,4 22,2 77,8 11,7 88,3 11,6 88,4 8,7 91,3 7,5 92,5 4,4 95,6 5,1 94,9 3,3 96,7 0,6 Físico Qualidade de Vida Relações Meio Psicológico Sociais Ambiente 61,0* 64,0* 45,1* 66,9* 72,0* 52,3* 63,7 68,9 48,2 64,5 68,4 49,4 59,1* 63,4* 45,8* 65,8* 69,9* 50,1* 59,5* 64,0* 46,4* 64,9* 69,1* 49,5* 62,0 64,7* 47,1* 64,6 69,0* 49,4* 57,5* 63,4* 43,2* 65,0* 69,0* 49,7* 63,6 66,2 46,2* 64,4 68,7 49,3* 55,8* 60,2* 41,2* 64,7* 68,9* 49,5* 64,1 47,1 63,5* 64,3 49,2 68,7* 63,8 45,8 57,4* 68,6 49,2 64,5* 62,6 56,6 50,1 64,3 68,5 49.1 60,4* Sim 68,1* Não 63,0* Sim Falecimento de parente próximo 65,2* Não 53,2* Sim Problemas de saúde 68,0* Não 54,0* Sim Internação 66,1* Não 63,0 Sim Rompimento de relação amorosa 64,9 Não 59,9* Sim Forçado a mudar de casa 65,2* Não 62,2 Sim Presenciou alguém ser ferido 64,9 Não 58,6* Sim Vítima de agressão física 65,0* Não 64,2 Sim Vítima de assalto/vítima de violência 64,7 Não 60,2 Sim Vítima de catástrofe natural 64,8 Não 63,1 Sim Ferimento arma de fogo/branca Não 99,4 64,7 GRUPOS DE EVPE Sim 47,1 60,9* Problemas Financeiros/Estruturais Não 52,9 68,1* Sim 31,0 63,5 Perda de Relação Afetiva Não 69,0 65,2 Sim 27,9 58,1* Discriminação Não 71,4 67,2* Sim 27,1 53,5* Problemas de Saúde Não 72,9 68,9* Sim 19,1 61,8* Causas Externas Não 80,9 65,4* Dificuldades financeiras *p-valor<5% para os casos em negrito e asterisco 61,1* 67,1* 63,4 64,7 58,9* 66,4* 59,7* 66,0* 61,5* 64,9* 64,3* 72,2* 67,9 68,8 63,6* 70,4* 63,7* 70,3* 64,4* 69,5* 45,4* 52,5* 47,8* 49,7* 44,5* 50,9* 46,0* 50,3* 45,6* 49,9* 84 Tabela 3: Modelos de regressão linear backward para os desfechos de QV em seus diferentes domínios (WHOQOL-bref). RJ e SP, 2009/2010. Variáveis independentes R² Físico β Relações Sociais Psicológico β p 0,39 β p 0,43 Meio-ambiente β p 0,16 p 0,23 Constante 75,7 ,000 66,1 ,000 81,2 ,000 52,7 ,000 Idade Grau de Instrução Renda Familiar per capita TMC grave Ansiedade Depressão -4,2 2,4 ,000 ,004 3,2 ,000 -2,9 - ,001 - 1,4 ,039 - - 2,0 ,008 2,7 ,000 -10,1 -5,1 -6,3 ,000 ,000 ,000 -9,5 ,000 -6,7 ,000 -10,9 ,000 Problemas de saúde -9,9 ,000 Discriminação -2,8 ,001 Problemas Financeiros/Estruturais - - - Causas externas - - - -6,5 -4,9 -3,8 ,000 ,000 ,002 -3,8 -3,8 -5,4 ,000 ,000 ,000 - -2,0 ,054 - - -1,9 ,014 - - -2,2 ,003 - -4,1 ,000 -3,5 ,000 - -2,8 ,015 -2,1 ,012 - * P = P-valor do coeficiente Beta (α) no teste de Wald β é o coeficiente de cada variável independente por regressão α é a constante em cada modelo segundo o domínio de QV investigado. As caselas em branco ( “-“ ) correspondem a variáveis não contempladas no modelo final. Variáveis adicionadas no modelo: Sexo (0=Feminino/1=Masculino), Idade (0=Até 40 anos/ 1=Acima de 40 anos), grau de instrução (0=Até 4ª série/1=Acima da 4ª série do Ensino Fundamental), Renda Familiar per capita (0=Até 1 Salário-mínimo/ 1=Acima de 1 salário-mínimo), TMC-G (0=Não/1=Sim), Ansiedade (0=Não/1=Sim), Depressão (0=Não/1=Sim), Discriminação (0=Não/1=Sim), Problemas de Saúde (0=Não/1=Sim), Perda de Relação Afetiva (0=Não/1=Sim), Problemas Financeiros/Estruturais (0=Não/1=Sim) e Causas externas (0=Não/1=Sim). 85 6.3 ARTIGO 3 SOCIAL SUPPORT NETWORK AND QUALITY OF LIFE: IMPLICATIONS OF MENTAL HEALTH ON PRIMARY CARE. Submetido a Quality of life research Authors 1- Flávia Batista Portugal Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSPFIOCRUZ). 2- Mônica Rodrigues Campos Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSPFIOCRUZ). 3- Celina Ragoni Correia Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 4- Luis Fernando Tófoli Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). 5- Dinarte Ballester Sistema de Saúde Mãe de Deus, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). 6- Daniel Almeida Gonçalves Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). 7- Jair de Jesus Mari Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). 8- Linda Gask NIHR School for Primary Care Research, Manchester Academic Health Science Centre, University of Manchester, England 9- Peter Bower Centre for Primary Care, NIHR School for Primary Care Research, Manchester Academic Health Science Centre, University of Manchester, England 10 - Christopher Dowrick Primary Medical Care, Department of Psychological Sciences, University of Liverpool, England. 11- Sandra Fortes Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 86 ABSTRACT Purpose: Quality of Life (QoL) is a multidimensional construct for assessing physical, emotional and social well-being. It is an important concept for mental health since it allows the evaluation of illness influences in patients’ lives. This study aimed to identify the association with emotional distress, social support networks with higher or lower levels of QoL of Primary Care (PC) patients. Methods: Cross-sectional study with 1,466 patients from PC in São Paulo and Rio de Janeiro in 2009/2010. The General Health Questionnaire 12 was used to assess common mental disorders; the Hospital Anxiety and Depression Scale used to assess anxiety and depression “cases”; the World Health Organization Quality of Life Instrument, brief version, to evaluate the Physical, Psychological, Social Relations, and Environment domains. The Social Support Network Index (0-4) (marital status, relatives/close friends, participation in sports/art/group activities and regularity in church attendance) classified patients with the highest and lowest index as socially integrated or isolated. A bivariate analysis (Ttest) and four multiple linear regressions were conducted for each QoL outcome. Results: Physical, psychological, social relations, and environment domains mean scores were, respectively, 64.7; 64.2; 68.5 and 49.1. At the multivariate analysis, the psychological domain was negatively associated with being isolated, whereas physical, social relations and environment domains were positively associated with being integrated in the models separate for mental status variables. Conclusion: Being integrated and isolated proved to be important factors for those in emotional distress as it minimizes or maximizes negative effects on QoL. Key words: Primary care, mental health, quality of life, social support, emotional distress, anxiety, depression. 87 INTRODUCTION Nowadays, it is accepted that disease is a multicausal process where several factors are associated with the evolution of illness. Evidences show that good level of personal relationships and integration with the community generate positive effects on the health of individuals, so social support network is an important compound of health promotion 1. The social support network is understood as any support coming from people who know each other and that result in positive emotional effects, acting as an important positive psychosocial factor and generating greater satisfaction with life2. Networks can be understood as the available social resources which are expressed by relationships of reciprocity and affection between those involved in it3. Kawachi and Berkman4 indicate that social ties have multiple levels and all of them may be associated benefits to health. They divide social relations as intimate relations (such as marriage); outward to social networks (such as closeness with relatives and friends); and “weak” ties, (which consist of participation in community activities, volunteer work and participation in religious organizations). The latter, although not intensely promoting person-to-person interactions, gives a sense of belonging and social identity, which is relevant to the promotion of psychological well being4. It is important to mention the positive influence of social support network in cases of mental disorders. The feeling of being loved and cared for is related to lower levels of anxiety, depression and somatizations, as well as to better adaptation to stressful situations5. The study conducted at Family Health Units in Petrópolis – Rio de Janeiro, Brazil, is an example of this. The study showed that going regularly to church, participating in sports/artistic activities and having at least four members in one’s family on whom one can count on is associated to lower presence of common mental disorder (CMD)6. Quality of Life is a broad concept, with many definitions. Due to the need for a transcultural concept, the World Health Organization gathered experts from around the 88 world through the Quality of Life Group (WHOQOL Group) and defined QoL as an individual’s perception of their position in life in the context of the culture and the value systems in which they live and in relation to their goals, expectations, standards and concerns7. In the field of health, Quality of Life (QoL) emerges as an important instrument for assessing health services since it assures that treatment and its assessment is focused on the patient and not only on the disease8. According to the WHO’s concept for QoL, various psychosocial factors influence peoples´ health. Therefore, it is important to know which these factors are and how they impact on people. Among them we may include emotional distress and the social support network, an association which has already been addressed in some studies9–13. However, there are questions as to how mental disorders behave in relation to social support and QoL. While some indicate that the social support network has a positive association with QoL of mental disorder patients9,13, one study reports that the effect of the social support network does not minimize the effect of emotional distress on QoL10. Thus, the present article intends to study the association with emotional distress and the social support network with the QoL of primary care patients from Rio de Janeiro and São Paulo, Brazil, in 2009 and 2010. METHODOLOGY TYPE OF STUDY This is a cross-sectional study conducted in the municipalities of Rio de Janeiro (RJ) and São Paulo (SP) in the years of 2009 and 2010. This study aimed at assessing the impact of mental health training courses on primary mental health activities in four centers in Brazil. The training courses aimed at integrating family health and mental health teams through the implementation of the Brazilian model of collaborative care, the matrix support activities and therapeutic interventions on mental health14,15. 89 POPULATION STUDIED Family Health Teams (FHT) appointed by the municipal authorities participated in the training courses. The city of Rio de Janeiro had the largest number of classes. The number of patients in this study consisted of individuals seen by teams (doctor and nurse) that had taken the course and had voluntarily agreed to participate in this research. The patients came from two cross-sectional studies (pre- and post-training), with an average of 30 patients per team at each period in order to assess changes in detection and management of patients with Common Mental Disorders (CMD) by the FHT professionals. Patients participating in this study were seen by doctors or nurses, were between 18 and 65 years of age, and did not include pregnant women and patients with cognitive deficit. In all, 1,466 Primary Care patients participated in this study, from Rio de Janeiro (N=909) and São Paulo (N=557). Instruments Socioeconomic and demographic questionnaire The socioeconomic and demographic variables were obtained by means of a closed questionnaire used in previous research6. The following variables were analysed: gender (male/female), age group (up to 40/above 40 years of age), school education (up to 4th grade/higher than 4th grade in primary school) and per capita family income for month (up to the minimum wage (<$232, 50) /higher than the minimum wage (>=$232, 50). World Health Organization Quality of Life Instrument, brief version (WHOQOL-Bref) The WHOQOL-bref contains 26 questions regarding the two previous weeks. The instrument measures four QoL domains: physical, psychological, social relationships and environment. Moreover, the instrument contains two questions about the individual’s assessment of QoL and one about satisfaction with their own health. The WHOQOL-bref has satisfactory psychometric properties and is widely used in Brazilian research17. 90 General Health Questionnaire (GHQ-12) The General Health Questionnaire (GHQ-12) was developed by Goldberg and Blackwell18 and validated in Brazil through the Clinical Interview Schedule19. It is a tracking instrument for CMD, which are considered “disorders commonly found in community spaces and their presence indicates an alteration in regard to normal functioning”20. The GHQ-12 consists of 12 questions, all referring to the previous two weeks21. As can be seen in the literature16, two cut-off points can be used for tracking CMD. This study considered those with 3 or 4 points as positive for CMD (CMD3) and those with 5 or more as positive for severe CMD (CMD5). Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD) The Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD) was developed for detecting mild degrees of affective disorders (anxiety and depression), and it has been adapted to the Brazilian context22. It contains 14 questions referring to the previous two weeks, subdivided into two subscales, one for anxiety and one for depression. For the analysis, the cut-off point of 8/9 was used for probably cases of depression (DEP+) and anxiety (ANX+) 22. Social Network Index (SNI) The Social Network Index (SNI) was obtained through a questionnaire developed by Chor et al.23, which was adapted from Berkman and Syme’s24 instrument. This index consists of a measurement of four kinds of social relationships: marital status, number of relatives or close friends, participation in sports/arts/group activities (e.g.: community organizations) and regularity in church attendance24. The SNI was calculated according to the proposal from Loucks et al.25, as done on a previous study 26, and it’s sum is thus calculated: having a partner (no=0, yes=1); number of close relatives and friends (from 0-2 relatives and from 0-2 close friends= 0, any other combination=1), participation in church and religious activities (2 times/month or more=1, other=0), participation in sports/arts/group activities (no=0, yes=1). We chose to investigate the social support construct by means of two extreme and nonsupplementary categories (the middle category was excluded) from the SNI, which 91 correspond to approximately 30% of the cases at the upper and lower limits of the index: Being integrated (total=3 or 4) and being isolated (total=0 or 1). RESEARCH QUESTIONS The research questions for this article were: 1. What are the characteristics (socioeconomic/demographic, mental status and being isolated/integrated) associated with the four domains of QV? 2. How do the socioeconomic/demographic, mental status and the presence of being isolated/integrated (independent variables) interact in relation to QV (dependent variable)? STATISTICAL ANALYSIS The application Statistical Package for the Social Science - SPSS 17 was used. A bivariate analysis was conducted by means of the T-test, associating the dichotomous exposure variables (socioeconomic/demographic, mental status and being isolated/ integrated) with the QoL outcomes. The variables that were statistically significant at the bivariate analysis (at the significance level of 10%) were selected for the multiple linear regression models, which had the four QoL domains as outputs (dependent variables). There were four regressions models, one for all mental status variables together (model 1), and three models for each variable CMD5 (model 2), probable cases of anxiety (model 3) and probable cases of depression (model 4). The regressions were conducted by backward stepwise selection, considering each QoL domain as an output. ETHICAL ISSUES The intervention study (“Avaliação de um modelo de capacitação em saúde mental na atenção básica: cuidados integrais na prática do matriciamento”) was approved by the Ethics and Research Committees of the Municipal Secretariats of Rio de Janeiro (nº34/09) and São Paulo (nº66/09). Moreover, the project that motivated this article was submitted to and approved by the Ethics Committee of the Sergio Arouca National School of Public Health (ENSP/Fiocruz) (nº272.157/2013). All the patients 92 participating in the research provided written informed consent. They were informed about the objectives of the research and their anonymity was assured. RESULTS From the 1,466 individuals participating in SP and RJ, the majority consisted of women (76.5%), aged 40 or more (62.6%), with school education higher than the fourth grade of primary school (66.7%) and per capita family income lower than the minimum wage ($202,17) (74.4%). It was found that 37% were probable cases of anxiety, 32% met criteria for CMD5, 25.1% were probable cases of depression and 20.5% met criteria for CMD315. In terms of social support networks, being integrated was found in 30.5% and being isolated in 33.6%. (Table 1) Regarding QoL, the average scores for domains physical, psychological, social relationships and environment were, respectively, 64.7; 64.2; 68.5 and 49.1. Through the bivariate analysis the lowest QoL scores were found in women, for those with per capita family income lower than the minimum wage, for CMD5 and for anxiety and depression in all domains (p-value<5%). Those above 40 years of age presented lower scores for physical and social relation domains (p-value<5%). Those with school education below the fourth grade of primary school presented lower scores for physical, psychological and environment domains (p-value<5%). Among the mental status variables, only the variable CMD3 did not present a p-value <10%, reason for what it was excluded from the multiple linear regression model. (Table 1) Regarding the variables for social support network and QoL, having close relatives or friends and participating in sports/arts/group activities was associated with higher QoL scores on all domains (p-value<5%). However, being married or having a partner was positively associated only with social relationships domain (p-value<5%). When the SNI was used, higher scores were found for integrated patients and lower scores for isolated ones, with statistical differences in all of the domains. (Table 1) 93 Through the multivariate analysis (Table 2) two steps were done: the first one involving all variables selected (sex, age group, school education, Per capita family income, CMD5, Anxiety, Depression, being integrated and being isolated – model 1), even those related to mental status, where we expected co linearity to occur, and the second one separating the three mental status variables (model 1, 2, 3 and 4). The model 1 was able to account for 32% of the variance in physical QoL, 43% of the variance in psychological QoL, 15% of the variance in social relationships domain and 20% of the variance in environment one. In analyzing the other models, there is a reduction in the R² in all domains. The physical domain, for example, model 3, has 12% of the variance explained by the selected variables. For the social relationships domain, the model 4 was able to explain only 9% of the variance (Table 2) Concerning the simultaneous effect of the social support network, controlling for socioeconomic/demographic and emotional distress characteristics (multiple linear regression – model 2, 3 and 4), it is important to highlight the negative effect of being isolated on the psychological domain and the positive effect of being integrated on the physical, social relationships and environment domains. For models 2, 3 and 4, it is important to highlight that the integration had a higher β in social network, environmental domains and isolation for the psychological domain comparing to model 1. (Table 2) DISCUSSION SYNTHESIS OF RESULTS The average QOL scores for the physical, psychological, social relationships and environment domains were, respectively, 64.7; 64.2; 68.5 and 49.1. Higher quality of life scores were found for integrated patients and lower scores for isolated ones, with statistical differences on all domains of QOL. 94 The model 1 had the highest R² for all domains when compared to other models considering the multiple linear regression. Instruction and per capita family income presented a positive influence on QoL. In the presence of more severe emotional distress, whether CMD5, ANX+ or DEP+, there is a substantial drop in QoL, which is controlled by the socioeconomic ones (multiple linear regression). Regarding the social support network, psychological domain suffered a negative influence from being isolated and physical, social relationships and environment domains were positively associated with being integrated (models 2, 3 and 4). RESULTS IN THE CONTEXT OF LITERATURE This study demonstrated that the presence of any type of emotional distress is associated to lower QoL scores as reported in the literature27–29. One example is a study conducted in England which found lower scores for those suffering from CMD or severe mental disorder if compared to those considered healthy; in their turn, those suffering from severe mental disorder presented scores still lower than those from the other two analysis groups (healthy and suffering from CMD) 30. Study from Porto Alegre – Brazil, considering the entire population, found lower QOL scores among those that report depression and anxiety in all domains measured by WHOQOL-bref (p-value<0.001)31. Another study, from London, found higher QoL scores in the presence of a social support network in the case of psychotic patients9. It was observed by means of the multiple linear regression that no social network variable remained in the model 1 for physical domain. On the other hand, when we stratified the models by mental status variable, being integrated appeared in the physical domain for all types of psychological distress (CMD5, probable cases of anxiety and depression). A study conducted in Malaysia found that depression and social support were the only factors associated to the physical domain of SF-12 after the logistic regression32. 95 The CMD5 is highlighted as the variable that most influenced its variability in model 1. Analyzing the model 2, 3 and 4, the CMD5 was the mental health variable that presents the highest β. CMD5 is characterized by non-specified and self-perceived suffering, which may present at the health service in the form of unexplainable medical complaints 6,33 . According to Tófoli, Andrades e Fortes34, unexplainable medical complaints expressed as diffuse physical symptoms, such as insomnia and fatigue, are generally associated to anxiety and depression syndromes, being quite common in Latin population, being considered as a cultural representation of emotional distress34. Therefore, the higher negative beta for CMD5 found for the physical domain may be represent this type of emotional distress in the Brazilian population. It is important to notice that being isolated was maintained in the four models only for psychological domain. Such result confirms the findings of a study conducted in the UK with elderly patients where being isolated was associated to the mental component of SF-1235. Being isolated can be considered as the absence of contact with other people35,36. However, a broader approach must be considered where being isolated includes both the number of people and the quality of these relationships36. Finally, social relation domain is directly related to the being integrated variable since it addresses issues related to personal relationships and the support perceived. On the other hand, as already mentioned in this article, the environment has an element about leisure activities that may encompass social activities that promote the development of social relationships17,37. STRENGTHS AND WEAKNESSES OF THE STUDY A multivariate analysis in PC from two large Brazilian cities can be considered one this study strengths, providing information on QoL of these patients. Another strength is the use of a transcultural instrument for measuring QoL, the WHOQOL-Bref, and the fact that the other instruments used (GHQ-12 and HAD) have also been validated and adapted to the Brazilian reality, and are widely used in the literature19,22, which allows comparing the data we obtained with results from international studies. 96 However, a few weaknesses deserve to be mentioned. Firstly, this study is limited to Primary Care patients. Therefore, its results may not be extrapolated to the general population. Additionally, by the sectional nature of this study, exposure and outcome are measured simultaneously, which include the possibility of reverse causality. Therefore, in this article we are limited to discuss the association between the factors studies. The causal risk type associations cannot be done. One more weakness could be listed: the use of instruments for tracking mental disorders (GHQ and HAD), identifying only the probably cases of emotional distress and not their effective diagnosis. Therefore, it is possible that false-positives are detected, thus increasing the proportion of emotional distress cases. The SNI is widely used internationally. However, we still have to take into account the issue of the transcultural issues applied to Brazilian reality. Each culture has its own peculiarities. What is considered to be an integrated or isolated person in the Brazilian context might not be the same in the context of other countries. IMPLICATIONS FOR CLINICAL PRACTICE AND FOR RESEARCH This study found that higher income and higher educational levels positively associated with QoL. These variables are denominated Social Determinants of Health (SDH). According to Carvalho and Buss38, they are social, economic, cultural, ethnic/racial, psychological and behavioural factors that influence the occurrence of health problems and their risk factors on the population. Thus, it is necessary governmental policies that aiming at reducing social inequalities in order to generate better conditions for health. Macro level interventions are necessary. Nevertheless, direct actions at the health services may generate significant improvements on the health of the population. In this context, if QoL is measured it may become an indicator for the assessment of the health status at Primary Care in a broader spectrum. The terms Quality of Life and health status are occasionally used as synonyms. However, a few authors39,40 mention the difference in their conceptual bases. Health status refers strictly to physical conditions39, whereas QoL does not mention directly incapacities, dysfunctions or aggravation39, 97 focusing on the physical, emotional and social well-being, as well as on the impact that an illness may have on these aspects40. Therefore, QoL allows for the identification and prioritization of problems since its measurement offers a wide variety of information about conditions of life and health status of an individual. Moreover, the results obtained from measuring QoL allow health professionals and patients to share decisions in order to identify priorities for treatment and to establish realistic goals8. The multiple linear regression in separate models, shows that even in the presence of mental disorders of higher intensity (CMD5, probable cases of anxiety and depression), being integrated has a positive association for the QOL in physical, social network and the environment domains. Thus, it is possible to suggest that in some cases of emotional distress, such as anxiety, psychosocial actions may generate more significant positive effects on the lives of patients26. The Brazilian Ministry of Health encourages the implementation of groups in Primary Care, especially for those in emotional distress, as these are characterized as another important point of social network. Moreover, the Ministry of Health determines that care in mental health should include simple interdisciplinary interventions and actions held together with other sectors, encouraging patient participation in community circles such as church, community organizations and others activities in their territory41. On the other hand, being isolated was only associated with significant effects in physiological domain. In this case it is possible to observed reverse causality, since being isolated can be cause and consequence of mental disorders. Regardless of considering cause or effect, the development of interventions to increase social network support is an important instrument of action of the primary care professionals, since they can minimize the negative effects of mental illness or be a protective effect for development of mental disorders. Specifically for the physical domain, integration appeared as protective factor in the regression models for CMD5, probable cases of anxiety and depression. This may 98 suggest the need for groups to promote physical activity in primary care, since it can help prevent and control physical illnesses, as well as to contribute to the expansion and strengthening of the social network support. However, very often patients in emotional distress are not identified as suffering from a mental disorder42, as well as those who are identified may not receive the adequate treatment for their condition43. This issue denotes the need for training for PC professionals on how to properly deal with emotional distress. Such training should address diagnosis, treatment and psychosocial interventions6. Finally, due to the cross-sectional characteristic of the present study, there is the possibility of reverse causality, denoting the need for longitudinal studies, through which it will be possible to better identify the directionality of the influence of social support (being isolated or integrated) together with emotional distress and quality of life through time. The variables chosen partially explained the outcome, which calls for the development of a broader theoretical model including other variables such as, for instance, access to health services, its characteristics and user satisfaction. Another important issue to be considered is the investigation of the social support network, which has different meanings for different cultures44 and, therefore, demands the development of instruments and indicators that take into account the singularities of the Brazilian reality. RESEARCH BUDGET Flávia Batista Portugal – PhD fellow grant of Brazilian National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) Sandra Fortes – Project “Avaliação de um modelo de capa citação em saúde mental na atenção básica: cuidados integrais na prática do matriciamento” 575194/2008-1 – Edict MCT/CNPq/CT-Saúde/MS/SCTIE-DCIT – no33/2008; Jair de Jesus Mari – senior researcher from the CNPq. 99 REFERENCES 1. Berkman LF. 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RJ and SP, 2009/2010. % Physical Female Male up to 40 years above 40 years up to 4th grade higher than 4th grade** up to the minimum wage higher than the minimum wage No Yes 76.5 23.5 37.4 62.6 33.3 64.7 63.7* 67.9* 68.1* 62.7* 61.6* 64.2 62.9* 68.8* 64.9 63.9 61.5* 68.5 67.9* 70.3* 70.2* 67.5* 68.3 49.1 48,2* 52,2* 48,8 49,3 48,1* 66.7 66.3* 65.7* 68.6 49,6* 74.4 63.9* 63.1* 67.7* 47,9* 25.6 67.7* 68.4* 71.4* 52,8* 79.5 20.5 65.0 63.6 64.2 64.7 68.6 68.1 49,3 48,4 No Yes No Yes No Yes 68.0 32.0 63.0 37.0 74.9 25.1 70.4* 52.6* 70.3* 55.2* 68.7* 52.8* 70.0* 52.1* 70.2* 54.2* 69.1* 49.8* 72.5* 60.0* 72.5* 61.7* 71.2* 60.3* 52,3* 42,4* 52,5* 43,4* 51,8* 41.0* 64.9 64.7 69.5* 49,5 64.4 63.5 66.8* 48,4 Socioeconomic Characteristics Characteristics Sex Age group School education Per capita family income Mental status CMD3 CMD5 Anxiety Depression Social support network Marital status Relatives or close friends Participation in group activities Participation in church and religious activities (at least twice a month) Being isolated Being integrated Quality of life Social Psychological Relations Marriage/ Stable 62.5 union Others 37.5 No 57.7 63.2* 62.1* 65.8* 47,5* Yes 42.3 66.8* 67.3* 72.1* 51,3* No 70.9 63.3* 62.7* 67.8* 48,0* Yes 29.1 68.1* 68.2* 70.1* 51,8* No 38.4 65.4 64.1 67.9 49.5 Yes 61.6 64.2 64.4 68.9 49,0 No Yes No Yes 68.9 30.5 66.4 33.6 63.5* 67.5* 65.4* 63.3* 62.8* 67.8* 65.8* 61.2* 66.8* 72.4* 69.7* 66.3* 48.0* 52.0* 50,1* 47,5* * In bold and asterisk are the results in which p-value <5% in the chi-square test. ** Primary school Environment 104 Table 2: Backward linear regression models for the QOL outputs on the different domains. RJ and SP, 2009/2010. Independent variables R² Constant Age group School education Per capita family income CMD5 Anxiety Depression Being integrated Being isolated R² Constant Gender Age group School education Per capita family income CMD5 Being integrated Being isolated R² Constant Gender Age group School education Per capita family income Anxiety Being integrated Being isolated R² Constant Gender Age group School education Per capita family income Depression Being integrated Being isolated Physical Psychological Social relationships β P β p β p Mental status (CMD5, Anxiety or Depression) – model 1 0.32 0.43 0.15 76.1 0.000 66.7 0.000 80.9 0.000 -4.5 0.000 -3.5 0.000 2.3 0.007 3.2 0.000 2.0 0.007 2.1 0.047 0.000 0.000 0.000 -11.8 -9.6 -7.5 0.000 0.000 0.000 -7.0 -7.0 -5.4 0.000 0.000 -6.7 -11.0 -3.9 0.001 3.8 0.000 -2.3 0.001 Mental status (only by CMD5) – model 2 0.26 0.30 0.12 71.2 0.000 61.8 0.000 75.4 0.000 2.0 0.024 -4.8 0.000 -3.1 0.001 2.5 0.006 3.5 0.000 2.1 0.016 2.1 0.041 -17.4 0.000 -17.1 0.000 -11.6 0.000 2.0 0.023 4.2 0.000 -2.6 0.001 Mental status (only by Anxiety) -– model 3 0.12 0.27 0.11 69.4 0.000 60.5 0.000 75.5 0.000 2.6 0.010 2.9 0.001 -5.1 0.000 -3.2 0.001 2.6 0.007 3.7 0.000 1.9 2.7 0.002 2.8 0.009 -14.3 0.000 -15.2 0.000 -10.2 0.000 2.4 4.5 0.000 -3.3 0.000 Mental status (only by Depression) – model 4 0.19 0.31 0.09 66.8 0.000 60.2 0.000 73.5 0.000 2.4 0,020 2.5 0.005 0,000 -4.4 -2.8 0.003 0,003 2.8 3.6 0.000 0,040 2.1 2.7 0.001 2.9 0.007 0,000 -14.9 -18.5 0.000 -10.0 0.000 0,010 2.4 4.6 0.000 -3.1 0.000 - Environment β p 0.20 52.3 3.3 -5.0 -4.5 -5.7 1.9 - 0.000 0.000 0.000 0.000 0.000 0.006 0.14 50.5 3.5 -9.4 2.5 - 0.000 0.000 0.000 0.001 0.15 46.5 1.7 3.5 -8.7 2.6 - 0.000 0.032 0.000 0.000 0.000 0.15 46.1 3.6 -10.0 2.5 - 0.000 0.000 0.000 0.001 - * P = p-value of Beta(β)´s coefficient in Wald test β is the coefficient of each independent variable per regression and α is the constant on each model according to the QOL domain. Variables added in the regression: Sex (0=Female/1=Male, Age group (0=up to 40 years/ 1=Above 40 years), school education (0=up to 4th grade/1= higher than 4th grade in primary school), Per capita family income (0= up to the minimum wage /1= higher than to the minimum wage), CMD5 (0=No/1=Yes), Anxiety (0=No/1=Yes), Depression (0=No/1=Yes), Being integrated (0=No/1=Yes) e Being isolated (0=No/1=Yes). 105 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Qualidade de vida (QV) é a percepção do indivíduo sobre suas condições de vida, e sofre influência das condições econômicas, culturais e sociais. Mensurar a QV constitui um importante instrumento na área da pesquisa em saúde, ao permitir contemplar o indivíduo diante de sua percepção como parte da sociedade. Assim, instrumentos dessa natureza, atualmente, devem ser amplamente utilizados por pesquisadores, resultando em parâmetros para discussão de ações voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população. Dessa forma, a aplicação desses instrumentos na saúde pública deve ser incentivada, pois além de demonstrarem uma ampla visão da situação de saúde da população, ofertam ferramentas para o aprimoramento da assistência à saúde da nossa população. O presente estudo encontrou fatores associados a menores escores de qualidade de vida. O principal foi a presença de sintomas sugestivos de depressão, ansiedade e transtorno mental comum. Tal fato denota o impacto que o adoecimento psíquico pode ocasionar no indivíduo, ou seja, em sua percepção sobre sua condição de vida. Como o modelo de assistência à saúde no nosso país possui como base estruturadora a atenção primária, ações neste âmbito podem auxiliar a minimizar o impacto dos transtornos mentais no dia a dia da população. Profissionais preparados para reconhecer sinais e sintomas sugestivos de sofrimento psíquico podem elaborar planos assistenciais voltados para as especificidades do paciente e contribuir para a não evolução do quadro. Para tal, profissionais da atenção primária precisam ser capacitados na área e há necessidade de suporte especializado para o desenvolvimento de suas ações, como, por exemplo, o trabalho desenvolvido pelo apoio matricial. Outro ponto a se destacar é a associação com condições socioeconômicas e demográficas, tais como escolaridade e renda familiar per capita. Neste estudo, pessoas com escolaridade inferior à 4ª série do ensino fundamental apresentaram menores escores de QV. O conceito ampliado de saúde sugere uma visão além do substrato biológico, a qual deve englobar as condições econômicas, culturais e sociais no adoecimento populacional. Diante do atestado impacto negativo das condições socioeconômicas e demográficas na QV, há a possibilidade de melhores escores da mesma com investimentos e desenvolvimento educacional da população, por exemplo. 106 Como já amplamente discutido e sugerido, o investimento governamental em políticas sociais pode ocasionar melhoras significativas na saúde e qualidade de vida da população. Destaca-se também a associação com eventos de vida produtores de estresse, como os problemas financeiros/estruturais, associados a menores escores de QV. Como no caso de condições socioeconômicas, políticas que visem a uma melhor distribuição de renda gerarão efeitos benéficos à saúde da população, em especial à QV. De modo complementar, o profissional de saúde, ao tomar conhecimento de eventos como a perda de parente próximo pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento com um plano de cuidado multiprofissional. A inserção social também demonstrou associação com menor (isolamento) ou maior (integração) escores de QV. Conhecer a rede social do indivíduo pode ser um importante fator contribuinte no tratamento de pacientes atendidos na atenção primária, como, por exemplo, o envolvimento de toda a família em hábitos alimentares saudáveis para pacientes hipertensos. Em especial, para pacientes em sofrimento psíquico, sentirse acolhido e ouvido pode gerar efeitos positivos neste processo. Assim, o desenvolvimento de trabalho em grupos nas unidades de saúde pode contribuir para a ampliação da rede social destes pacientes e para a consequente melhora de seu quadro clínico. Deve-se destacar que, apesar dos resultados encontrados, algumas limitações podem interferir na interpretação dos mesmos. O caráter transversal deste estudo possibilita a presença da causalidade reversa, na qual o efeito e a causa podem se confundir por não haver delimitação de tempo. Este quesito denota a necessidade do desenvolvimento de estudos longitudinais, por meio dos quais será possível melhor identificar a direção da influência das variáveis independentes. Ademais, as variáveis estudadas explicaram parcialmente a variabilidade do desfecho QV, quando observa-se a regressão linear múltipla, tornando-se necessária a construção de um modelo teórico mais amplo, incluindo outras variáveis, como o acesso ao serviço de saúde, suas características e a satisfação do usuário. 107 Ressalta-se que os instrumentos aqui utilizados para avaliar sofrimento psíquico resultam em condições sugestivas da existência de algum transtorno mental e não correspondem a um diagnóstico fechado. Dessa forma, não é possível afirmar que os pacientes pesquisados possuíam algum transtorno, mas alguns sintomas que podem estar associados a algum diagnóstico psiquiátrico. Por fim, pode-se considerar que a qualidade de vida é um importante instrumento para avaliar intervenções na atenção primária. O presente estudo permitiu conhecer alguns fatores que se associam a menores/maiores escores de QV em dois grandes municípios brasileiros no período pesquisado, como os transtornos mentais, eventos de vida produtores de estresse e rede de apoio social. Espera-se, desse modo, que os resultados deste estudo possam contribuir para a prática dos profissionais e consequente melhora na assistência prestada aos pacientes. Além disso, que sirvam de subsídio para futuros estudos nesta população, os quais visem conhecer a realidade dos pacientes e propor intervenções. 108 8 REFERÊNCIAS 1. Schramm JM de A, Oliveira AF de, Leite I da C, Valente JG, Gadelha ÂMJ, Portela MC, et al. Transição epidemiológica e o estudo de carga de doença no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2004;9:897–908. 2. WHO (World Health Organization). 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QUESTIONÁRIO SOCIOECONÔMICO E DEMOGRÁFICO “Avaliação de Capacitação em Saúde Mental na Atenção Primária” Data : _____/_____/_____ dia mês ano Código do aplicador: /__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/ A1- Nº de Identificação do prontuário: /__/__/__/__/ /___/___/ /__/__/__/__/ /__/__/__/__/ A2 - Nome: /__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/ A3 - Tipo de consulta: I ( ) Médico ( ) Enfermeiro II (a) pronto- atendimento (acolhimento) (b) primeira vez (queixa nova) agendada (c) retorno individual (d) retorno grupo – qual grupo: _____________________________________________________ (e) outros (preventivo) ___________________________________________________ A4 - Sexo: 1 Masculino 2 Feminino A5 - Data de nascimento? _____/_____/_____ dia mês ano A6 – Qual é a sua profissão? ___________________________________________ A7 – Qual é a sua ocupação no momento? ___________________________________________ Código (CBO-4dig): _________________ A8 - Em sua opinião, qual é a sua cor ou raça? 1 Preta 2 Parda / Mulata 3 Branca 4 Amarela 5 Indígena As próximas perguntas referem-se à sua vida familiar, moradia e outros aspectos. 125 A9 – Atualmente você é: 1 Casado(a) ou vive em união 2 Separado(a), ou divorciado(a) 3 Viúvo(a) 4 Solteiro(a) (Nunca casou ou viveu em união) A10 - Além de você, quantas pessoas moram em sua casa? Inclua cônjuge/companheiro(a), filhos e enteados, pais, outros parentes, amigos, Agregados. _____________________________ A11 – Quantas crianças menores de seis anos moram com você ou dependem diretamente do seu cuidado? ______________ A12 – Quantos idosos maiores de 65 anos moram com você e dependem diretamente do seu cuidado? ______________ A13 – Quantas pessoas com deficiência dependem diretamente do seu cuidado? _______________ A14 - Em sua casa, quem é considerado o chefe da família ou o principal responsável Pela casa? 1 Eu mesmo(a) 2 Meu cônjuge ou companheiro(a) 3 Eu e meu cônjuge, igualmente 4 Meu pai ou minha mãe 5 Meu filho ou minha filha 6 Não tem chefe 7 Outra pessoa: __________________________ A15 - Qual é o seu grau de instrução 1 Não frequentou escola (analfabeto). 2 1º grau incompleto (Até a quarta série) 3 1º grau incompleto (Entre quinta e sétima série) 4 1º grau completo 5 2º grau incompleto 6 2º grau completo 7 Universitário incompleto 8 Universitário completo 126 A16 – Quanto você ganha por mês (em caso de biscate no ultimo mês) ? R$ /__/__/__/__/__/__/__/: A17 – Quanto ganham todos juntos na casa? R$ /__/__/__/__/__/__/__/ A18 – Quais suas fontes de renda atualmente (pode assinalar mais de uma alternativa)? 1 Aposentadoria 2 5 Pensão 6 Auxilio Doença 3 Emprego regular 4 Biscates outros ___________________________ código: ______________ A19 – Nos últimos doze meses, por quanto tempo aproximadamente você teve alguma fonte de renda? 1 Todo tempo 2 3 meses 5 Não tive fonte de renda 3 6 meses 4 9 meses A20 – Atualmente, qual é a sua religião? ( aquela com que você mais se identifica) 1 Adventista 2 Assembleia de Deus 3 Batista 4 Budista 5 Candomblé 6 Casa da Benção 7 Católica 8 Congregação Cristã do Brasil 9 Espírita Kardecista 10 Evangelho Quadrangular 11 Judaica 12 Luterana 13 Messiânica 14 Metodista 15 Presbiteriana 16 Testemunha de Jeová 17 Universal do Reino de Deus 18 Umbanda 19 Outra ( especifique): 20 Não tenho religião 127 A21 – Nos ULTIMOS 12 MESES (sem contar situações como casamento, batizado ou enterro), com que frequência você compareceu a cultos ou atividades da sua religião ou de outra religião? 1 Mais de 1 vez por semana 2 1 vez por semana 3 2 a 3 vezes por mês 4 Algumas vezes no ano 5 Uma vez no ano 6 Não compareci nenhuma vez A22 – No ÚLTIMO MÊS você procurou atendimento para sua saúde (mesmo que na farmácia)? 1 Sim 2 Não Se SIM, quantas vezes você procurou atendimento? /__/__/__/ A23 – Nos últimos seis meses você procurou atendimento para sua saúde (mesmo que na farmácia) –incluindo as da pergunta anterior 1 Sim 2 Não Se SIM, quantas vezes você procurou atendimento? /__/__/__/ A24 – Nos último ano você procurou atendimento para sua saúde (mesmo que na farmácia) – incluindo as da pergunta anterior? 1 Sim 2 Não Se SIM, quantas vezes você procurou atendimento? /__/__/__/ A 25 – De um modo geral, em comparação as pessoas de sua idade, como você considera o seu próprio estado de saúde? 1 Muito Bom 2 Bom 3 Regular 4 Ruim 128 Bloco B: World Health Organization Quality of Life Instrument, brief version (WHOQOLBref). C1 – Como você avaliaria sua qualidade de vida? 1 Muito ruim 2 Ruim Nem ruim nem boa 3 Boa 4 5 Muito Boa C2 – O quanto você está satisfeito(a) com sua saúde? 1 Muito insatisfeito 2 Insatisfeito Nem satisfeito 4 nem insatisfeito 3 Satisfeito 5 Muito satisfeito As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas ÚLTIMAS DUAS SEMANAS. C3 – Em que medida você sente alguma dor física que o impede de fazer o que você precisa? 1 Nada 2 Muito pouco Mais ou menos 3 4 Bastante 5 Extremamente C4 – O quanto você precisa de algum tratamento médico para levar sua vida diária? 1 Nada 2 Muito pouco 3 Mais ou menos 4 Bastante 5 Extremamente 3 Mais ou menos 4 Bastante 5 Extremamente C5 – O quanto você aproveita a vida? 1 Nada 2 Muito pouco C6 – Em que medida você acha que sua vida tem sentido? 1 Nada 2 Muito pouco 3 Mais ou menos 4 Bastante 5 Extremamente Mais ou menos 4 Bastante 5 Extremamente 4 Bastante 5 Extremamente C7 – O quanto você consegue se concentrar? 1 Nada 2 Muito pouco 3 C8 – O quanto você se sente seguro (a) em sua vida diária? 1 Nada 2 Muito pouco 3 Mais ou menos C9 – O quanto o seu ambiente físico é saudável (clima, barulho, poluição, atrativos)? 1 Nada 2 Muito pouco 3 Mais ou menos 4 Bastante 5 Extremamente 129 As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de fazer certas coisas nestas ÚLTIMAS DUAS SEMANAS. C10 – Você tem energia suficiente para seu dia-a-dia? 1 Nada Muito pouco 2 Médio 3 4 Muito 5 Completamente 4 Muito 5 Completamente 5 Completamente C11 – Você é capaz de aceitar sua aparência física? 1 Nada Muito pouco 2 Médio 3 C12 – Você tem dinheiro suficiente para satisfazer suas necessidades? 1 Nada Muito pouco 2 Médio 3 4 Muito C13 – O quanto às informações que precisa no seu dia-a-dia estão disponíveis para você? 1 Nada Muito pouco 2 Médio 3 4 Muito 5 Completamente 5 Completamente C14 – Em que medida você tem oportunidades de atividade de lazer? 1 Nada Muito pouco 2 Médio 3 4 Muito As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de vários aspectos de sua vida nas ÚLTIMAS DUAS SEMANAS. C15 – Quão bem você é capaz de se locomover, isto é, caminhar com as próprias pernas ou deslocar-se com a ajuda de aparelhos ou cadeiras de rodas? 1 Muito mal 2 Mal 3 Nem mal nem bem 4 Bem Muito bem 5 C16 – O quanto você está satisfeito(a) com seu sono? 1 Muito insatisfeito 2 Insatisfeito 3 Nem satisfeito 4 nem insatisfeito Satisfeito 5 Muito satisfeito 5 Muito satisfeito 5 Muito satisfeito C17 – O quanto você está satisfeito(a) com sua capacidade de desempenhar as atividades do seu dia-a-dia? 1 Muito insatisfeito 2 Insatisfeito 3 Nem satisfeito 4 nem insatisfeito Satisfeito C18 – O quanto você está satisfeito(a) com sua capacidade para o trabalho? 1 Muito insatisfeito 2 Insatisfeito 3 Nem satisfeito 4 nem insatisfeito Satisfeito 130 C19 – O quanto você esta satisfeito(a) consigo mesmo? 1 Muito insatisfeito 2 Insatisfeito 3 Nem satisfeito 4 nem insatisfeito Satisfeito 5 Muito satisfeito C20 – O quanto você está satisfeito(a) com suas relações pessoais (amigos, parentes, conhecidos, colegas)? 1 Muito insatisfeito 2 Insatisfeito 3 Nem satisfeito 4 nem insatisfeito Satisfeito 5 Muito satisfeito Satisfeito 5 Muito satisfeito C21 – O quanto você está satisfeito(a) com sua vida sexual? 1 Muito insatisfeito 2 Insatisfeito 3 Nem satisfeito 4 nem insatisfeito C22 – O quanto você está satisfeito(a) com o apoio que você recebe de seus amigos? 1 Muito insatisfeito 2 Insatisfeito 3 Nem satisfeito 4 nem insatisfeito Satisfeito 5 Muito satisfeito 5 Muito satisfeito Satisfeito 5 Muito satisfeito Satisfeito 5 Muito satisfeito C23 – O quanto você está satisfeito(a) com as condições do local onde mora? 1 Muito insatisfeito 2 Insatisfeito 3 Nem satisfeito 4 nem insatisfeito Satisfeito C24 – O quanto você está satisfeito(a) com o seu acesso aos serviços de saúde? 1 Muito insatisfeito 2 Insatisfeito 3 Nem satisfeito 4 nem insatisfeito C25 – O quanto você está satisfeito(a) com o seu meio de transporte? 1 Muito insatisfeito 2 Insatisfeito 3 Nem satisfeito 4 nem insatisfeito A questão seguinte refere-se a com que freqüência você sentiu ou experimentou certas coisas nas ÚLTIMAS DUAS SEMANAS. C26 – Com que freqüência você tem sentimentos negativos tais como mau humor, desespero, ansiedade, depressão? 1 Nunca 2 Algumas vezes 3 Freqüentemente 4 Muito 5 Freqüentemente Sempre 131 Bloco C: General Health Questionnaire (GHQ-12) Agora, nós gostaríamos de saber como você tem passado, nas ÚLTIMAS DUAS SEMANAS, em relação aos aspectos abaixo relacionados. Aqui, queremos saber somente sobre problemas mais recentes e não sobre aqueles que você possa ter tido no passado. Nas ÚLTIMAS DUAS SEMANAS, você tem... _______________________________________________________________________________________________ B1) perdido muito sono por preocupação? Não mais que 3 Um pouco mais 4 Muito mais que de costume que de costume de costume _______________________________________________________________________________________________ B2) se sentindo constantemente nervoso(a) e tenso(a)? 1 De jeito nenhum 2 De jeito nenhum 2 Não mais que 3 Um pouco mais 4 Muito mais que de costume que de costume de costume _______________________________________________________________________________________________ B3) sido capaz de manter a atenção nas coisas que está fazendo? 1 Mais que de 2 O mesmo de 3 Menos que de 4 Muito menos costume sempre costume que de costume ________________________________________________________________________________________________________ B4) sentido que é útil na maioria das coisas do seu dia-a-dia? 1 Mais que de 2 O mesmo de 3 Menos útil que 4 Muito menos útil costume sempre de costume que de costume _______________________________________________________________________________________________ B5) sido capaz de enfrentar seus problemas? 1 Mais que de 2 O mesmo de 3 Menos capaz 4 Muito menos capaz costume sempre que de costume que de costume _______________________________________________________________________________________________ B6) se sentindo capaz de tomar decisões? 1 Mais que de 2 O mesmo de 3 Menos capaz 4 Muito menos capaz costume sempre que de costume que de costume _______________________________________________________________________________________________ B7) sentindo que está difícil de superar suas dificuldades? 1 Não mais que 3 Um pouco mais 4 Muito mais que de costume que de costume de costume _______________________________________________________________________________________________ B8) se sentindo feliz de um modo geral? 1 De jeito nenhum 2 Mais que de 2 O mesmo de 3 Menos que de 4 Muito menos costume sempre costume que de costume _______________________________________________________________________________________________ B9) tido satisfação nas suas atividades do dia-a-dia? 1 Mais que de 2 O mesmo de 3 Menos que de 4 Muito menos costume sempre costume que de costume _______________________________________________________________________________________________ B10) se sentindo triste e deprimido(a)? 1 Não mais que 3 Um pouco mais 4 Muito mais que de costume que de costume de costume _______________________________________________________________________________________________ B11) perdido a confiança em você mesmo? 1 De jeito nenhum 2 De jeito nenhum 2 De jeito nenhum 2 Não mais que 3 Um pouco mais 4 Muito mais que de costume que de costume de costume _______________________________________________________________________________________________ B12) se achado uma pessoa sem valor? 1 Não mais que 3 Um pouco mais 4 Muito mais que de costume que de costume de costume _______________________________________________________________________________________________ 1 132 Bloco D: Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD) 133 Bloco E: Eventos de Vida Produtores de Estresse (EVPE) As próximas perguntas são sobre aspectos da sua vida com a família, amigos e algumas atividades em grupo. F1 – Com quantos PARENTES você se sente à vontade e pode falar sobre quase tudo? (se for o caso, inclua esposo(a) companheiro(a) ou filhos nesta resposta.) ______ parentes 0 nenhum F2 – Com quantos AMIGOS você sente à vontade e pode falar quase tudo? (não inclua nesta resposta esposo(a), companheiro(a) e outros parentes.) _____ amigos 0 nenhum F3 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você participou de atividades esportivas em grupo (futebol, vôlei, basquete, outros) ou atividades artísticas em grupo (grupo musical, coral, artes plásticas, outras)? 1 Sim 2 Não Se SIM, com que freqüência? 1 Mais de uma vez por semana 2 1 vez por semana 3 2 a 3 vezes por mês 4 Algumas vezes no ano 5 Uma vez no ano F4 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você participou de reuniões de associações de moradores ou funcionários, sindicatos ou partidos? 1 Sim 2 Não Se SIM, com que freqüência? 1 Mais de uma vez por semana 2 1 vez por semana 3 2 a 3 vezes por mês 4 Algumas vezes no ano 5 Uma vez no ano 134 F5 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você participou de trabalho voluntário não remunerado, em organizações não-governamentais (ONGs), de caridade, na Igreja, ou outras? 1 Sim 2 Não Se SIM, com que freqüência? 1 Mais de uma vez por semana 2 1 vez por semana 3 2 a 3 vezes por mês 4 Algumas vezes no ano 5 Uma vez no ano As próximas perguntas referem-se a alguns acontecimentos ou situações desagradáveis que podem ter ocorrido com você nos últimos 12 meses. F6 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você teve algum problema de saúde que o(a) impediu de realizar alguma de suas atividades habituais (trabalho, estudo ou Lazer) por mais de um mês? 1 Sim 2 Não Se SIM, qual foi esse problema de saúde? ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás 135 F7 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você esteve internado em hospital por uma noite, ou mais, em razão de doença ou acidente? 1 Sim 2 Sim, mais de uma vez 3 Não Se SIM, qual(is) o(s) motivo(s) dessa(s) Internação(ões)? ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás F8 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, faleceu algum parente próximo seu (pai, mãe, cônjuge, companheiro(a), filho ou irmão)? 1 Sim 2 Não Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás F9 - Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você enfrentou dificuldades financeiras mais severas do que as habituais? 1 Sim 2 Não Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás 136 F10 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você foi forçado a mudar de casa contra sua vontade (por exemplo, por aumento de aluguel)? 1 Sim 2 Não Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás F11 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você passou por algum rompimento de relação amorosa, incluindo divórcio ou separação? 1 Sim 2 Não Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás F12 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você foi assaltado ou roubado, isto é, teve dinheiro ou algum bem tomado, mediante uso ou ameaça de violência? 1 Sim, uma vez 2 Sim, mais de uma vez 3 Não Quando foi a ÚLTIMA VEZ que isso aconteceu? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e12 meses atrás F13 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você foi vítima de alguma agressão física? 1 Sim, uma vez 2 Sim, mais de uma vez 3 Não Quando foi a ÚLTIMA VEZ que isso aconteceu? 1 Há menos de 1 mês 137 F14 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você foi ferido(a) com arma de fogo (revólver, escopeta, pistola, etc.) ou arma branca (faca, navalha, etc.)? 1 Sim, uma vez 2 Sim, mais de uma vez 3 Não Quando foi a ÚLTIMA VEZ que isso aconteceu? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e12 meses atrás F15 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você presenciou alguém ser ferido com arma de fogo (revólver, escopeta, pistola, etc.) ou arma branca (faca, navalha, etc.)? 1 Sim, uma vez 2 Sim, mais de uma vez 3 Não Quando foi a ÚLTIMA VEZ que isso aconteceu? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e12 meses atrás F16 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você sofreu algum acidente de trânsito, seja como motorista, passageiro ou pedestre? 1 Sim, uma vez 2 Sim, mais de uma vez 3 Não Quando foi a ÚLTIMA VEZ que isso aconteceu? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e12 meses atrás 138 F17 – Algum desses acidentes ocorreu quando você estava indo para o trabalho ou voltando do trabalho para casa ou para outro lugar? 1 Sim 2 Não F18 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você foi atingida por alguma catástrofe natural (enchente, deslizamentos)? 1 Sim, uma vez 2 Sim, mais de uma vez 3 Não Quando foi a ÚLTIMA VEZ que isso aconteceu? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e12 meses atrás F19 – Nos ÚLTIMOS 12 MESES, você se sentiu discriminado por alguma instituição ou pessoa, por alguma das razões abaixo? (Marque SIM ou Não para cada item) A) Sua cor ou raça 1 Sim 2 Não Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? B) 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás Ser homem ou mulher 1 Sim 2 Não Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? C) 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás Sua religião ou culto 1 Sim 2 Não Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás 139 D) Sua opção ou preferência sexual 1 Sim 2 Não Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? E) 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás Doença ou deficiência física 1 Sim 2 Não Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? F) 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás Sua idade 1 Sim 2 Não Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? G) 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás Sua condição social ou econômica 1 Sim 2 Não Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás H) OUTRAS (especifique): __________________________________________ Quando foi a última vez que você sofreu esta situação desagradável? 1 Há menos de 1 mês 2 Entre 1 e 6 meses atrás 3 Entre 7 e 12 meses atrás 140 F20 – Que sintomas ou problemas o trazem hoje ao médico? (A)_____________________________________________________ (B)_____________________________________________________ (C)_____________________________________________________ (D)_____________________________________________________ (E)_____________________________________________________ F21 – O que você acha que está causando estes problemas? (A)_____________________________________________________ (B)_____________________________________________________ (C)_____________________________________________________ (D)_____________________________________________________ (E)_____________________________________________________ No So Ps Sc Ns F22 – Você acha que o nervoso ou preocupações podem estar causando seu problema? 1 Sim 2 Não F23 – Nas últimas duas semanas você se acha uma pessoa nervosa/que sofre dos nervos? ? 1 Sim 2 Não F24 – Você sofreu de nervos nos últimos dois anos? 1 Sim 2 Não F25 – Nas ÚLTIMAS DUAS SEMANAS , você usou algum medicamento? 1 Sim 2 Não Se SIM, que medicamento(s) você usou nas ÚLTIMAS DUAS SEMANAS? ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ 141 Bloco F: Instrumento para aferir rede social 142 ANEXO 2: Sintaxe para análise do WHOQOL-Bref. 143 ANEXO 3: Carta de Aprovação no Comitê de Ética da Prefeitura Municipal do município do Rio de Janeiro da pesquisa “Avaliação de um modelo de capacitação em saúde mental na atenção básica: cuidados integrais na prática do matriciamento 144 ANEXO 4: Carta de Aprovação no Comitê de Ética da Prefeitura Municipal do município de São Paulo da pesquisa “Avaliação de um modelo de capacitação em saúde mental na atenção básica: cuidados integrais na prática do matriciamento”. 145 146 ANEXO 5: Carta de Aprovação no Comitê de Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da pesquisa “Sofrimento Psíquico na Atenção Primária: Reflexos na Qualidade de Vida”. 147 148 APÊNDICES 149 Figura 1: Resultados complementares - Escores de Qualidade de Vida preditos por regressão linear múltipla, segundo Transtorno Mental Comum e rede de apoio social. RJ e SP, 2009/2010. 150 Figura 2: Figura 1: Resultados complementares - Escores de Qualidade de Vida preditos por regressão linear múltipla, segundo casos sugestivos de depressão e rede de apoio social. RJ e SP, 2009/2010. 151 Figura 3: Resultados complementares - Escores de Qualidade de Vida preditos por regressão linear múltipla, segundo casos sugestivos de ansiedade e ser isolado. RJ e SP, 2009/2010.