ISSN 1984-0012 [email protected] PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO COMO MODALIDADE DE ATUAÇÃO TERAPÊUTICA: REFLEXÕES A PARTIR DE UM CASO CLÍNICO Andréa Martins de Andrade 1 Cássio Eduardo Soares Miranda 2 RESUMO: Partindo do pressuposto que a intervenção no processo psicodiagnóstico pode propiciar resultados terapêuticos, o presente estudo objetiva averiguar, por meio da análise de um caso clínico infantil, como o psicodiagnóstico interventivo pode funcionar como modalidade de atuação terapêutica. Para tanto, foi realizado um psicodiagnóstico infantil, envolvendo sete sessões, com realização de entrevista inicial, entrevista de anamnese, sessões ludodiagnósticas, aplicação do Teste “O Desenho da Figura Humana – DFH III” e entrevista devolutiva, visando investigação e intervenção nas dificuldades apresentadas pela criança e por sua família. Os resultados revelaram que o psicodiagnóstico interventivo pode funcionar como modelo de atuação terapêutica na medida em que não é utilizado apenas como recurso de avaliação de sinais e sintomas, mas de intervenções como acolhimento e conscientização de comportamentos problemas dos analisantes, permitindo que estes saiam da posição passiva de objeto de estudo e se tornem responsáveis pela busca de mudanças. Palavras-chave: Psicodiagnóstico interventivo. Ludodiagnóstico. Intervenção familiar. ABSTRACT: Psicóloga, Graduada pela Universidade Nove de Julho - UNINOVE/SP, Especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UNILESTE. Especialista em “Clínica Psicanalítica na Contemporaneidade” – UNILESTE/MG. 2 Psicanalista, Doutor em Estudos Lingüísticos pela UFMG. 1 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] Assuming that their intervention can provide psycho therapeutic results, this study aims to determine, through analysis of a clinical case of children, as the psycho can work as interventive modality of therapeutic action. To that end, we conducted a psycho child, involving seven sessions, with completion of initial interview, anamnesis interview, ludodiagnósticas sessions, application of the Test "The Human Figure Drawing - HFD III" and interview feedback session, seeking investigation and intervention in the difficulties presented by the child and his family. The results revealed that the psycho interventionist can work as a model of therapeutic action in that it is not only used as a resource assessment of signs and symptoms, but as host of interventions and awareness of behavior problems of analysands, allowing them to leave the position passive object of study and become responsible for seeking change. Keywords: Interventive psychodiagnostic - ludodiagnóstico - family intervention. Introdução O psicodiagnóstico se estabeleceu no Brasil como prática clínica pautado no modelo médico de atuação. Seus procedimentos visavam a ações observáveis e quantitativas, devido a sua ênfase na Psicometria, que buscava resultados mais fiéis para aquele momento histórico. Com o desenvolvimento científico e histórico, o psicodiagnóstico passou a ser percebido dentro de um referencial terapêutico, associando a investigação à possibilidade de entendimento dos mecanismos que possivelmente produzem as doenças, dando origem a uma proposta investigativa e interventiva que propicie mudanças terapêuticas. Pensando nas mudanças sofridas no processo psicodiagnóstico, os autores desta pesquisa têm como objetivo analisar um caso clínico de psicodiagnóstico infantil para verificar como o psicodiagnóstico interventivo pode funcionar como modalidade de atuação terapêutica. O presente estudo se justifica pela relevância de perceber o psicodiagnóstico como um processo que vai além da investigação de sinais e sintomas e exige intervenções específicas que podem produzir efeitos terapêuticos, que enriquecem e ampliam a prática profissional do Psicólogo. 60 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] O psicodiagnóstico teve sua origem na conscientização de que as doenças mentais não eram advindas de castigos divinos ou possessões, mas análogas às doenças físicas (ANCONA-LOPEZ, 1984). Nasceu da psicologia clínica, que foi iniciada por Linghter Witmer em 1896, e se fundamentou na tradição médica, produzindo efeitos marcantes na identidade profissional do psicólogo (CUNHA, 2003). Influenciado pelo modelo médico, o psicodiagnóstico era realizado por meio de avaliações psicométricas, que valorizavam os aspectos técnicos da testagem. Foi um período em que, apenas, utilizavam testes para obter dados que revelassem uma série de traços ou descrições da capacidade de uma pessoa, desconsiderando suas características peculiares relacionadas ao contexto total (CUNHA, 2003). O psicólogo atuava de modo “objetivo”, visando, apenas, ao contato com aspectos parciais da personalidade humana, não estabelecendo compromissos com suas características pessoais e afetivas (TRINCA, 1984). Por muito tempo, o psicodiagnóstico foi percebido como um processo que envolvia a aplicação de testes como forma de satisfazer a solicitação de outros profissionais, tais como psiquiatras, neurologistas, pediatras, etc (OCAMPO & COLABORADORES, 1981). Nesse contexto, o processo psicodiagnóstico era visto, somente, como meio de investigação e levantamento de demandas a serem tratadas posteriormente por outros profissionais. Ainda hoje, o psicodiagnóstico é considerado por muitos profissionais como um meio somente de investigação de sintomas físicos, psíquicos e suas causas. Entretanto é relevante considerar que esse processo não envolve somente a investigação, mas também oferece espaço de acolhimento, escuta compreensiva dos problemas e dificuldades do paciente, além de outras intervenções também consideradas terapêuticas. Contudo, Paulo (2004) pontua que o psicodiagnóstico permite uma intervenção eficaz quando possibilita a apreensão da dinâmica intrapsíquica do paciente, compreensão de sua problemática e intervenção nos aspectos determinantes dos desajustamentos responsáveis por seu sofrimento psíquico. 61 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] Paulo (2006), em trabalho posterior, destaca que, nas últimas décadas, foi possível perceber o processo evolutivo do psicodiagnóstico, anteriormente visto somente como avaliação e investigação com finalidade de encaminhamento. Sobre esse aspecto, os autores Barbieri (2002), Trinca (2002) e Tardivo (2004) pontuam que, na atualidade, podem-se encontrar estudos que revelam uma nova concepção de psicodiagnóstico: além da possibilidade diagnóstica, acrescenta a intervenção terapêutica. Tal como foi abordado por diversos autores, o psicodiagnóstico vem sofrendo modificações relevantes nas últimas décadas, o que demanda uma gama maior de estudos e práticas, que abordem seu desenvolvimento no campo da investigação e intervenção. Este estudo objetiva averiguar, por meio da análise de um caso clínico infantil, como o psicodiagnóstico interventivo pode funcionar como modalidade de atuação terapêutica. Além disso, busca compreender melhor o psicodiagnóstico, considerando relevante percebê-lo como um processo que vai além da investigação de sinais e sintomas, mas que exige enquadre e intervenções específicas que podem produzir efeitos terapêuticos. Segundo Andrade (1998), o psicodiagnóstico não demanda somente a aplicação e uso de provas e testes, cabe ao profissional, o trabalho de investigar o paciente em seus aspectos biológicos, ambientais e sócio-culturais, para ter dados consistentes no planejamento de ações. Assim, o diagnóstico constitui um momento fundamental no processo terapêutico, pois proporciona aquisição de informações relevantes à atuação profissional. Andrade (1998) aponta, ainda, que o diagnóstico eficaz e bem sucedido prevê, entre vários aspectos, o conhecimento das causas das dificuldades do paciente e a consideração de suas capacidades e aptidões. Também, se faz necessário considerar a capacidade de observação do terapeuta, o conhecimento sobre a variabilidade de recursos disponíveis e de medidas a serem tomadas diante de determinados diagnósticos. Sobretudo, o terapeuta deve ficar atento, não somente ao problema apresentado diretamente pelo paciente e seus familiares, mas também à busca de 62 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] percepção do problema real, que muitas vezes, é revelado de maneira indireta, no decorrer do processo diagnóstico. Analisando os pressupostos de Andrade (1998), é possível perceber a importância da preparação do profissional que realiza o psicodiagnóstico: ele deve aperfeiçoar-se técnica e teoricamente para, além de perceber o problema real do paciente, auxiliá-lo na busca de uma saída possível para a resolução de suas dificuldades. Alguns profissionais, durante a realização do psicodiagnóstico, podem se defrontar com a dificuldade de analisar a origem dos problemas do paciente e, posteriormente, intervir de maneira efetiva, visando à resolução de seus conflitos e dificuldades. Embora essa dificuldade seja real, autores como Alves, Barbieri & Jacquemin (2007) concluem que, mesmo percebendo considerável diferença entre as atividades de avaliação diagnóstica e intervenção, os relatos de experiências de pacientes que se submeteram a entrevistas e aplicações de testes indicam a possibilidade de se observarem os efeitos terapêuticos durante o processo de investigação diagnóstica. Becker (2002) relata que a atitude de prontidão do psicólogo em intervir (sinalizando, esclarecendo ou resignificando) possibilita que sejam revelados, no paciente, recursos para compreensão e mudança na condição problema. Paulo (2005) complementa a hipótese de Becker, afirmando que, em psicodiagnóstico com modalidade interventiva, o paciente se torna ativo no processo e o profissional compartilha a todo instante da compreensão do problema apresentado. Considerando, tal como apontam Anastasi e Urbina (2000), que as condições ideais para a avaliação diagnóstica devem entrelaçar a diversificação de informações oriundas de observações, análise das funções mentais e dados da história do analisado, o psicodiagnóstico, realizado nesse estudo, envolveu entrevistas, anamnese e aplicação de testes, que buscaram criar condições para que fosse possível detectar e intervir nas causas prejudiciais ao desenvolvimento global do indivíduo analisado. Como esse trabalho aborda a análise de um psicodiagnóstico infantil, é relevante frisar que o seu processo compôs um formato diferente, uma vez que a criança utiliza-se de 63 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] recursos especiais de comunicação. Tal como enfatiza Werlang (2003) e Aberastury (1962), as atividades lúdicas podem funcionar para a criança como espaço de comunicação e estruturação de conflitos com possibilidade de elaboração. Em função disso, atividades lúdicas compuseram o processo. Em seus estudos, Werlang (2003) descreve que, geralmente, as crianças se expressam por meio de ações que são realizadas de acordo com suas possibilidades emocionais, maturacionais, cognitivas e sociais. Portanto, ao realizar um psicodiagnóstico infantil, cabe ao profissional construir um espaço lúdico que possibilite a comunicação e compreensão da criança sobre suas fantasias e dificuldades. Considerando, ainda, que cada criança apresenta características peculiares a depender da idade, os instrumentos utilizados devem apresentar versões diversas de acordo com a faixa etária e maturacional que a criança se encontra. Brenelli (2001) afirma que o jogo e o brincar constituem mediadores importantes de expressão da criança e têm sido muito utilizados por psicólogos e psicopedagogos na prática de diagnóstico infantil por permitirem conhecer a realidade da criança. Além de recurso de expressão para a criança, Lemos (2007) pontua que o brincar atua como possibilitador de experimentação e se transforma em um mecanismo de produção de si mesmo que amplia a criação de novos mundos, novas formas de pensar, sentir e agir, permitindo a elaboração de supostos conflitos inconscientes. Santa-Rosa (2008) destaca que em psicodiagnóstico infantil a compreensão da família (cuidador) ocupa um lugar de destaque, considerando que essa é determinante na constituição da criança e, portanto, deve-se averiguar qual é a sua interferência na origem do sintoma apresentado pela criança. Santa-Rosa (op. cit.) destaca, ainda, que, diante das evidências de que as primeiras relações familiares servem de base para a constituição do psiquismo, é possível haver influências familiares no surgimento das dificuldades psicológicas infantis. Entretanto, nas etapas de entrevistas diagnósticas é indispensável a análise da dinâmica familiar e intervenção nos comportamentos apresentados como problemas, que podem interferir negativamente no processo de desenvolvimento saudável da criança. 64 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] Ao abordar a importância da intervenção associada à investigação nas etapas iniciais de uma avaliação diagnóstica, é relevante considerar o que pressupõe Winnicott (1948): na primeira entrevista podem surgir elementos que demandam tempo para ressurgir novamente, ressaltando que é possível e não causa danos a realização de intervenção terapêutica nesse momento. Tal afirmação reforça a importância, nos casos de psicodiagnóstico infantil, da intervenção terapêutica durante as entrevistas iniciais com os familiares, quando se busca atuar na modificação da dinâmica familiar que interfere nos sintomas apresentados pela criança. 2. Metodologia O Caso Clínico apresentado neste estudo constitui uma experiência clínica vivenciada pela Psicóloga Andréa Andrade, um dos autores deste artigo. Tal experiência foi eleita para ser transcrita devido à qualidade e riqueza de suas informações. A construção do artigo ocorreu com a orientação do autor Psicanalista Cássio Miranda e a utilização dos dados clínicos para fins científicos se deu mediante a assinatura do termo de consentimento pelos sujeitos envolvidos na pesquisa. O método psicodiagnóstico interventivo foi aplicado em uma menina de nove anos e onze meses, aqui nomeada de Sophie. O processo psicodiagnóstico foi realizado durante sete sessões, os quais envolveram entrevista inicial, entrevista de anamnese, sessões ludodiagnósticas, sessão de aplicação do Teste “O Desenho da Figura Humana – DFH III” e entrevista devolutiva. O processo psicodiagnóstico infantil aconteceu neste trabalho por meio da investigação e da intervenção nas dificuldades manifestadas pela criança avaliada e por sua família, a qual foi representada pela mãe. A atuação interventiva associada à investigação envolveu uma proposta mais ampla de atuação, enriquecendo a prática profissional do Psicólogo e gerando efeitos marcantes para os sujeitos desta pesquisa. 2.1. Procedimento 65 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] As primeiras duas sessões do psicodiagnóstico interventivo foram realizadas com a presença de Sophie e sua mãe. Nelas foram realizadas a entrevista inicial e a entrevista de anamnese que ocorreram de maneira semidirigida, de forma a possibilitar o conhecimento sobre a queixa e sobre o histórico da paciente. De acordo com os dados obtidos nesse período inicial, Sophie apresentava dificuldades nas avaliações escolares, mesmo não mostrando qualquer entrave no processo de aprendizagem educacional na escola e em casa. Para melhor esclarecimento da origem das dificuldades de Sophie, posteriormente ela foi submetida a três sessões ludodiagnósticas, que buscavam criar um espaço favorável à estruturação, por meio dos brinquedos e jogos, dos seus conflitos básicos, defesas e fantasias, para que pudessem ser expressos e trabalhados. Essa possibilidade de atuação está fundamentada em Aberastury (1962), Brenelli (2001) e Werlang (2003). O processo de análise dos dados emergentes nas entrevistas iniciais e nas sessões lúdicas com Sophie indicou a hipótese de não haver atraso no seu desenvolvimento cognitivo, mas bloqueio emocional, o que comprometia seu desempenho durante as avaliações escolares. Com o propósito de melhor averiguar a origem das dificuldades de Sophie foi administrado o teste DFH III na sexta sessão diagnóstica. O DFH III foi eleito para compor esse processo psicodiagnóstico por ser um teste projetivo, padronizado para crianças brasileiras na faixa etária de 05 a 12 anos, considerado como medida de desenvolvimento cognitivo/ conceitual. Finalizando o processo psicodiagnóstico, a sessão de Entrevista Devolutiva permitiu que Sophie e sua mãe pudessem avaliar os resultados e refletir sobre as possibilidades para resolução dos problemas e dificuldades enfrentados por ambas. 3. Relato da experiência: Psicodiagnóstico Interventivo 3.1. Histórico da paciente e queixa 66 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] Sophie foi para o atendimento acompanhada da mãe, a qual se apresentou interessada e participativa durante todo o processo psicodiagnóstico. O pai não pôde participar por motivo de trabalho, tal como relatou a mãe. Sophie morava com os pais e uma irmã um ano mais velha. Seu pai era comerciante e sua mãe dona de casa. Era uma criança que não apresentava atraso no desenvolvimento motor e nem problemas de saúde. Segundo a mãe, Sophie é uma criança vaidosa, meiga e gentil, que normalmente vivenciava bons relacionamentos sociais no contexto escolar e no meio onde vivia. No que se referia ao relacionamento com a irmã, foi descrito como bom, embora houvesse alguns desentendimentos que duravam pouco tempo. Sophie foi encaminhada para o atendimento por indicação da escola, a qual alegou que era uma menina inteligente, participava das atividades cotidianas do contexto escolar, porém, apresentava dificuldades durante as avaliações corriqueiras da escola, obtendo notas abaixo da média exigida para a aprovação. A mãe relatou que antes e durante as avaliações, Sophie vivenciava momentos de estresse e angústia, inclusive, tinha desmaiado em casa na manhã de um dia em que faria uma avaliação escolar, mas despertou rapidamente e, levada ao hospital, o médico examinou e concluiu não apresentar motivo aparente para a causa do desmaio. No decorrer da entrevista inicial, a mãe relatou que não entendia a razão da filha apresentar dificuldades no processo de avaliação escolar, já que ela era uma mãe presente que acompanhava os estudos da filha, ficando, diariamente, horas estudando com ela para garantir sua aprendizagem e preparo para a realização das avaliações. Destacou que se esforçava ao máximo para que sua filha pudesse concluir seus estudos, coisa que ela sempre desejou para si e foi impedida por seus pais e marido. A mãe relatou que foi uma excelente aluna e tinha prazer em ir à escola, mas sua mãe, quando queria castigá-la, a impedia de sair de casa para estudar, até que chegou um dia em que, definitivamente, não a deixou continuar os estudos. Depois, casou-se bastante jovem e se dedicou, exclusivamente, ao lar. Nesse momento do discurso, ocorreu a primeira intervenção. Considerando que o desejo da mãe em relação à continuidade de sua formação escolar apresentava-se 67 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] latente, pressupôs-se que isso poderia estar sendo direcionado para Sophie em forma de uma excessiva cobrança no que se referia aos estudos, o que poderia estar interferindo no seu desempenho durante o processo de avaliação escolar. A mãe, emocionada, assentiu e tomou consciência de suas cobranças relativas à busca do sucesso escolar da filha. 3.2. Sessões ludodiagnósticas No início da primeira sessão ludodiagnóstica, Sophie foi informada de que aquele espaço poderia ser utilizado para ela realizar a atividade que desejasse e que seria acompanhada no desenvolvimento da tarefa escolhida. Sophie explorou os materiais disponibilizados na sala, escolheu desenhar e durante um período de aproximadamente trinta minutos desenhou em silêncio. Após o termino do desenho, Sophie relatou que havia feito uma menininha e a sua mãe. Foi pedido para Sophie falar mais sobre o que havia desenhado e ela respondeu: “a mãe pediu à menininha para aguar as plantas e ela estava com o regador jogando água nas florezinhas”. Foi perguntado o que mais e Sophie continuou: “Às vezes, a mãe da menininha pede a ela pra fazer alguma coisa e ela não faz direito. A menininha quer impressionar a mãe, mas não consegue, porque tudo acaba dando errado. A mãe da menininha percebe o esforço dela, sente pena e diz: eu sei que você queria fazer isso para me agradar e deu errado”. Diante do relato de Sophie, foi perguntado o que leva a menininha a querer tanto impressionar a mãe e ela respondeu que gostaria que a mãe ficasse orgulhosa dela. Continuou dizendo que tudo acabava dando errado, piorando ainda mais as coisas e a menininha fica envergonhada. Para que Sophie pudesse se perceber no seu discurso foi perguntado se algum dia aconteceu com ela alguma situação parecida com a história da menininha. Sophie respondeu que sim, acrescentando: “muitas vezes”. Lembrou-se de um dia que planejou uma apresentação na escola e ensaiou muito porque queria que a sua mãe ficasse orgulhosa, mas na hora de apresentar, olhou para a mãe em meio às pessoas e 68 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] não conseguiu dizer nada. Sua voz não saía e estava sendo vista por todos da escola, vivenciando uma situação vergonhosa. Neste momento foi realizada outra intervenção, pontuando a Sophie a percepção de sua angústia e frustração frente às tentativas mal sucedidas de impressionar a mãe. Na segunda sessão ludodiagnóstica, Sophie elegeu a caixa de blocos de madeira (com ilustração de um castelo na caixa) que estava na estante junto aos brinquedos e jogos. Durante o processo de montagem do castelo, Sophie apresentava-se tensa e com excessiva organização das peças, seguindo com precisão a seqüência de montagem ilustrada na caixa do brinquedo. Ao terminar a montagem, foi realizada outra intervenção, mostrando para Sophie o seu comportamento rígido durante a atividade. Sophie respondeu que normalmente procura seguir com cautela qualquer indicação para não errar. Foi perguntado a Sophie: “Não se pode errar?” Ela respondeu que até pode errar, mas quando isso acontece, sua mãe sempre diz que se ela tivesse seguido corretamente as indicações não tinha acontecido o erro. Foi dito para Sophie a percepção da excessiva exigência de sua mãe e a frustração que ela vivencia por medo de errar. Sophie teve um insight, dizendo que tal exigência ocorre até mesmo em relação aos seus estudos, fazendo com que ela fique com tanto medo de tirar notas baixas e deixar a mãe triste que, na hora da prova, ela nem consegue lembrar o que estudou. Na terceira sessão ludodiagnóstica, Sophie chegou tranqüila, mostrou-se comunicativa e atenta. Ao final desta sessão, a mãe de Sophie ao buscá-la na recepção do consultório relatou que estava naturalmente diminuindo suas cobranças excessivas em relação aos estudos da filha e já notava que Sophie apresentava-se mais tranqüila tanto no que se referia aos estudos, quanto no desenvolvimento de outras atividades ou brincadeiras. Relatou ainda, que naquela semana Sophie estava em fase de avaliações e obteve nota máxima em quatro das avaliações realizadas. 3.3. O Teste: O Desenho da Figura Humana – DFH III 69 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] A análise do teste DFH III revelou que Sophie apresenta o desenvolvimento cognitivo/ conceitual avaliado entre a “Média/ Abaixo Média”, comparado à amostra experimentada para validação do teste com faixa etária equivalente a dela. O resultado obtido foi avaliado dentro da faixa de confiança de 95%. Comparando os resultados obtidos nos desenhos das figuras feminina e masculina, pode-se observar que Sophie apresentou 84.5% dos itens esperados, 65.5% dos itens comuns, 31% dos itens incomuns e 35% dos itens excepcionais, normalmente esperados para a sua idade. 3.4. Entrevista devolutiva A sessão de Entrevista Devolutiva permitiu que Sophie e sua mãe pudessem analisar o processo psicodiagnóstico como um todo, apresentando o percurso seguido desde a Entrevista Inicial até o fechamento do caso. Foi relatado para ambas que a análise do teste DFH III avaliou que Sophie não apresenta atraso no desenvolvimento cognitivo e os dados apresentados durante todo o processo diagnóstico mostraram que as dificuldades vividas por Sophie durante as avaliações escolares pareciam estar relacionadas a bloqueios emocionais. Esses bloqueios se deviam à maneira que Sophie vivenciava as cobranças excessivas da mãe, as quais se tornavam fonte de sofrimento e angústia. Novamente, a mãe de Sophie destacou a redução de suas cobranças em relação aos estudos da filha e enfatizou as mudanças evidenciadas no processo escolar. 4. Análise do Caso Sophie Santa-Rosa (2008), afirma que a família compõe o ambiente determinante no processo de constituição da criança e pode interferir, sobretudo, no surgimento de problemas. Faz-se necessário, portanto, a verificação na família do que pode estar interferindo na origem e manutenção do comportamento problema da criança. Desta forma, é percebido no caso Sophie que suas dificuldades em obter êxito nas avaliações escolares estavam intimamente relacionadas à maneira como ela vivenciava as 70 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] cobranças excessivas da mãe, a qual buscava se realizar no sucesso escolar da filha, o que se tornava em fonte de sofrimento e angústia para Sophie. Analisando a origem da queixa apresentada, inicialmente, pela mãe de Sophie, foi imprescindível o trabalho de investigação do problema real, assim como aborda Andrade (1998). Inicialmente, as dificuldades escolares de Sophie se apresentavam focadas apenas nela, mas, no decorrer da entrevista inicial, foram aparecendo indícios de dificuldades existentes na relação mãe/filha. No entanto, a intervenção realizada na entrevista inicial com a mãe de Sophie pode ter sido importante para o desenrolar do processo interventivo diagnóstico, auxiliando-a na percepção dos seus desejos frustrados em relação aos próprios estudos, que a levava a exigir de maneira acentuada o bom desempenho escolar da filha. Na entrevista inicial, a mãe, representando o ambiente familiar de Sophie, passou a ter consciência de como sua postura poderia interferir no comportamento problema da filha e buscou desenvolver recursos para lidar com o seu próprio desejo frustrado em relação à continuidade de sua formação escolar, modificando sua postura em relação à Sophie. Isso comprova a teoria de Winnicott (1948): existe possibilidade de intervenção profissional efetiva na primeira entrevista diagnóstica. O conteúdo apresentado durante as sessões ludodiagnósticas confirmou a hipótese levantada no período de entrevista inicial, de que Sophie vivenciava as cobranças excessivas da mãe como fonte de sofrimento e isso constituía um bloqueio nos seus potenciais criativos. É relevante destacar que o espaço oferecido a Sophie nas sessões ludodiagnósticas permitiu a tomada de consciência de suas dificuldades e o desenvolvimento de recursos psíquicos para mudança de sentimentos. Werlang (2000), Brenelli (2001) e Aberastury (1962) sustentam que as crianças apresentam características próprias de comunicação e requerem a construção de um espaço lúdico que permita a expressão por meio de ações. Pôde-se comprovar a teoria 71 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] com a criação do espaço ludodiagnóstico que viabilizou a expressão dos sentimentos de Sophie. Na primeira sessão ludodiagnóstica, por meio da construção do desenho e da história, Sophie expressou sua necessidade de impressionar sua mãe e sua frustração por não conseguir realizar seus intentos. A segunda sessão ludodiagnóstica mostrou, por meio de tensão e excessiva organização na montagem do castelo, a aflição de Sophie e a busca de controle da situação. Devido à maneira sofrida que vivenciava as exigências da mãe, Sophie tinha desenvolvido um medo de errar e, por isso, realizava a atividade seguindo de maneira rígida a indicação. A intervenção realizada nessa sessão levou Sophie a ter consciência de seus comportamentos rígidos e possibilitou um insight. Sophie associou as suas dificuldades nas avaliações escolares com as cobranças da mãe, percebendo que isso gerava nela sentimentos de medo e ansiedade, o que provocava o bloqueio na lembrança do conteúdo teórico estudado durante as avaliações escolares. Por meio da maneira com que lidou com o brincar durante as primeiras sessões ludodiagnósticas, Sophie não só expressou o seu mundo interno, como também pôde compreender melhor suas fantasias e dificuldades. Após as primeiras sessões ludodiagnósticas, Sophie apresentou-se mais tranqüila, evidenciando a diminuição de suas angústias. Por intermédio do brincar, teve possibilidade de experimentação das suas vivências e sentimentos, reproduzindo a si mesma e criando novas maneiras de experimentar o mundo, permitindo, dessa forma, a elaboração de seus conflitos inconscientes emergentes, tal como destacou Lemos (2007). Na entrevista devolutiva, ficaram evidentes as mudanças tanto na relação mãe/filha, quanto no desenvolvimento de ambas. Sobre esse aspecto, é possível pontuar que as intervenções realizadas durante o processo psicodiagnóstico, tais como o acolhimento das angústias da paciente e de sua mãe, a escuta compreensiva de suas dificuldades e conscientização da dinâmica existente na relação mãe/filha funcionaram como um 72 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] suporte emocional e como motor mobilizador de recursos psíquicos de ambas, auxiliando-as na superação de suas dificuldades. A administração do teste DFH III auxiliou na compreensão da origem das dificuldades de Sophie, revelando não haver defasagem de desenvolvimento cognitivo/ conceitual da paciente. As dificuldades dela foram relacionadas a bloqueios emocionais, assim como percebido no decorrer das entrevistas. Com o processo psicodiagnóstico trabalhado com Sophie priorizou-se uma investigação detalhada dos seus problemas. O resultado do teste DFH III compõe o psicodiagnóstico, mas não determina seus resultados. Como aponta Andrade (1998), é importante não focalizar apenas nos resultados advindos do uso de testes, mas levar em conta os resultados obtidos por meio de uma análise global do sujeito. 5. Considerações finais O resultado do psicodiagnóstico do caso Sophie mostrou que o seu desenvolvimento cognitivo/conceitual foi avaliado na média, considerado como o esperado para sua idade. Esse dado evidenciado durante o processo de investigação do problema de Sophie, não se apresentou devido a sua incapacidade de aprendizagem em nível maturacional, mas porque Sophie vivenciava um bloqueio de ordem emocional que interferia no seu desempenho durante a realização das avaliações escolares. Acreditase que tal bloqueio tenha surgido como conseqüência da dificuldade que Sophie apresentava ao lidar com a excessiva exigência da mãe em relação ao seu comportamento, gerando frustração e angústia. As intervenções ocorridas durante o processo psicodiagnóstico permitiram que Sophie e sua mãe pudessem tomar consciência da origem de suas dificuldades e mobilizassem recursos psíquicos de mudanças. A mãe reconheceu seus desejos frustrados em relação à continuidade de sua formação escolar e se apropriou da responsabilidade de satisfação dos próprios desejos, diminuindo suas cobranças em relação ao comportamento de Sophie. 73 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] Sophie teve uma notável diminuição das defesas e ansiedades, obtendo êxito nas avaliações escolares realizadas nesse período. Contudo, Sophie e sua mãe foram encaminhadas para assistência psicológica, com intuito de continuar o trabalho das questões emocionais apresentadas no psicodiagnóstico. Ao associar a atuação interventiva à investigação no decorrer deste trabalho, tornou-se possível o desenvolvimento de uma proposta mais completa de atuação, o que enriqueceu a prática profissional do psicólogo, ao mesmo tempo em que produziu efeitos positivos para a vida dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Esse fato propiciou a reflexão crítica sobre os aspectos diversos dos problemas emergentes e contribuiu para a busca de soluções possíveis para tais problemas. Através da análise do caso Sophie, foi possível perceber que o psicodiagnóstico pode funcionar como modelo de atuação terapêutica na medida em que não é utilizado apenas como recurso de avaliação de sinais e sintomas, mas como um processo que envolve a compreensão das dificuldades, acolhimento, esclarecimento e conscientização de comportamentos problemas. Por meio de tais intervenções, que podem ser consideradas terapêuticas, o paciente tem a possibilidade de sair da posição passiva de apenas objeto de investigação e tornar-se responsável pelas próprias mudanças, com a mobilização de recursos próprios para busca de transformação. Referências ABERASTURY, A. Teoria y Técnica Del Psicoanalises de Niños. Buenos Aires: Paidós, 1962. ALVES, Z. M. M. B; BARBIERI, V. & JACQUEMIN, A. O Psicodiagnóstico Interventivo como método terapêutico no tratamento infantil: fundamentos teóricos e prática clínica. Revista Psico. Porto Alegre, PUCRS. v. 38,n. 2, p. 174-181, maio/ago. 2007. ANASTASI, A., & URBINA, S. Testagem Psicológica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. 74 Revista Kaleidoscópio – Coronel Fabriciano-MG, Unileste – v. 3, p. 59-76, Fev/Jun, 2012. ISSN 1984-0012 [email protected] ANCONA-LOPEZ, M. Diagnóstico Psicológico – A Prática Clínica / Walter Trinca e colaboradores, 9º reimpressão. São Paulo: EPU, 2006. ANDRADE, M. S. de. 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