Scientia Plena Jovem VOL. 1, NUM. 03, Pag. 01-06 2012 www.scientiaplenajovem.com.br DITADURA: O CÁLICE DA REPRESSÃO L. O. Costa1; T. A. Leite1; D. R. de Oliveira1; A. C. S. Ramos1; L. R. Santos1; S. B. S. Silva2 1 Alunas do 3º ano do Ensino Médio, Colégio Bom Pastor, Aracaju - SE, Brasil 2 Professora facilitadora <[email protected]>, Aracaju - SE, Brasil Pai, afasta de mim esse cálice! Pai, afasta de mim esse cálice! Pai, afasta de mim esse cálice! de vinho tinto de sangue. Não, essa não é apenas uma referência a uma passagem bíblica. Esse foi o grito de socorro contra um sistema ditador. Principalmente durante o governo do General Médici, a censura foi geral: a imprensa e os artistas eram controlados. Se algum grupo tentasse reclamar, era reprimido. O Ato Institucional 05 foi imposto pelo presidente Costa e Silva no ano de 1968, mas foi durante a gestão de Médici que tudo piorou. Contrariando o decreto AI-05, os artistas mostraram sua indignação com tamanha repressão criando músicas que viraram verdadeiros hinos para aqueles que também não se conformavam com a situação do país. Um desses artistas foi Chico Buarque, que foi capaz de influenciar várias pessoas com sua música, desde o militante ao alienado. O povo via sua realidade nas músicas, por isso entrava na onda revolucionária. Scientia Plena Jovem 1. SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA... Há algum tempo atrás, entre 1964 e 1985, o Brasil viveu um dos momentos mais marcantes de sua história, a ditadura militar. Esse movimento surgiu porque as forças armadas do exército queriam mudar a cara do Brasil, para que o nosso país ficasse mais forte e se livrasse da influência comunista. Para conseguir isso, eles tiraram do seu cargo o presidente da época, João Goulart, e então elegeram o General Castelo Branco, a fim de que ele criasse um governo forte, militar e também repressor. No governo de Costa e Silva, foi instituído o AI-5, mas a coisa ficou preta mesmo, quando o General Médici assumiu: ele criou várias leis para reprimir os meios de comunicação – a censura atingiu diferentes setores. O AI-05 dava ao presidente o poder para fechar o Congresso Nacional, impor censura prévia à imprensa, tirar direitos políticos, prender quem não concordasse com as leis impostas, entre outros. A partir de 1968, essa repressão toda acabou gerando várias manifestações no Brasil inteiro. No começo, os universitários lutavam por melhorias na educação, mas depois eles passaram a protestar também contra o próprio regime militar. A gota d’água foi a morte de um estudante pela Polícia Militar em uma invasão no Rio de Janeiro. Esses estudantes viram o movimento estudantil de Paris, então saíram às ruas em junho, mas foram reprimidos violentamente. A ORIGEM DE TUDO Era uma vez cinco jovens que tiveram a oportunidade de aprender sobre Literatura e transmitir o que aprenderam de uma forma diferente. Surgiu, então, uma grande ideia (tcharaaan!): mostrar um olhar literário sobre a Ditadura, focando Chico Buarque e, em especial, a sua música “Cálice”, publicada em 1978 no LP intitulado “Chico Buarque”, mostrando como o autor consegue, com genialidade, retratar seus sentimentos em relação ao que estava acontecendo no país. Quer saber mais sobre essa história? Embarque com As Chiquinhas nesta aventura! 1. S ENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA... Essa grosseria dos policiais causou revolta popular. Com medo de que houvesse uma maior manifestação da sociedade, o governo resolveu recuar. Livres para fazer novo protesto, os manifestantes foram novamente às ruas, mas, dessa vez, foram apoiados por vários grupos, como religiosos, intelectuais e artistas, como Geraldo Vandré, Caetano Veloso e Francisco Buarque de Holanda. Enquanto Médici estava no poder, aconteceram alguns avanços, conhecidos como “milagre econômico”. Mesmo que todo mundo estivesse silenciado pela repressão, ainda existia a alegria de saber que o mercado de trabalho estava se ampliando, mas a economia não estava às mil maravilhas. Daí, pessoas ligadas à cultura, TV, teatro e música começaram a questionar as leis impostas pelo governo. Muitos artistas usavam sua influência para criticar a posição dos políticos, levando alguns deles a serem exilados e presos. O cantor Chico Buarque, por exemplo, retratou a realidade da época e sua insatisfação através de várias composições, como, por exemplo, a música “Cálice”, na qual favorece reconhecer traços acentuados da realidade repressiva ditatorial. Assim como Chico, muitos desses artistas, cantores, roteiristas e compositores foram exilados e presos devido à má conduta ética adotada pelo governo através da censura. Francisco Buarque de Holanda, o famoso Chico Buarque, é um dos maiores e mais importantes artistas que nasceram nesse país. Ele é músico, dramaturgo e escritor (também jogador de futebol nas horas vagas). Lenda viva da Música Popular Brasileira, Chico foi escolhido e homenageado –inclusive pelo nome dado às autoras (As Chiquinhas). 2. LEVANTA QUE LÁ VEM PROTESTO: ABAIXO A DITADURA A música Cálice, de Chico Buarque, mostra o que foi vivido pelas pessoas durante a ditadura e, a partir da análise do texto, isso se confirma. O povo cantava-o a plenos pulmões por que se via na música, via seu silêncio sendo rompido por causa da coragem de alguns artistas. A música em si é muito forte, cheia de significados, mas dentre todos os versos, alguns foram escolhidos para análise: No verso mais repetido da música “Pai, afasta de mim esse cálice”, Chico Buarque faz referência a uma passagem bíblica, retratando uma súplica do eu lírico pelo afastamento da repressão, representada pela palavra “cálice”, que faz alusão ao verbo no imperativo “cale-se”; Outro verso “de vinho tinto de sangue”, representa o sangue que foi derramado pelo regime, que está ligado aos métodos utilizados para extrair informações dos “subversivos”. Tudo isso leva à angústia e desespero pela impotência diante da situação. Enquanto na Bíblia o “cálice” continha o sangue derramado de Jesus, na música ele representa o sangue - e todo sofrimento- das pessoas que queriam se libertar do regime ditatorial. Quando ele escreve “Mesmo calada a boca, resta o peito”, explora a tortura para silenciar os indivíduos e mostra que, mesmo que a voz seja silenciada e o corpo desfaleça, os ideais prevalecerão, pois são inatingíveis, estão dentro do ser humano. A música Cálice, de Chico Buarque, mostra o que foi vivido pelas pessoas durante a ditadura e, a partir da análise do texto, isso se confirma. O povo cantava-o a plenos pulmões por que se via na música, via seu silêncio sendo rompido por causa da coragem de alguns artistas. A música em si é muito forte, cheia de significados, mas dentre todos os versos, alguns foram escolhidos para análise: No verso mais repetido da música “Pai, afasta de mim esse cálice”, Chico Buarque faz referência a uma passagem bíblica, retratando uma súplica do eu lírico pelo afastamento da repressão, representada pela palavra “cálice”, que faz alusão ao verbo no imperativo “cale-se”; outro verso “de vinho tinto de sangue”, representa o sangue que foi derramado pelo regime, que está ligado aos métodos utilizados para extrair informações dos “subversivos”. Tudo isso leva à angústia e desespero pela impotência diante da situação. Enquanto na Bíblia o “cálice” continha o sangue derramado de Jesus, na música ele representa o sangue –e todo sofrimento- das pessoas que queriam se libertar do regime ditatorial. Quando ele escreve “Mesmo calada a boca, resta o peito”, explora a tortura para silenciar os indivíduos e mostra que, mesmo que a voz seja silenciada e o corpó desfaleça, os ideais prevalecerão, pois são inatingíveis, estão dentro do ser humano. Mas, apesar de tudo isso, ainda havia aqueles que não silenciavam diante da opressão, quebrando o silêncio que o sistema esperava (como o autor diz em “Silêncio na cidade não se escuta”). Chico expressa, através do trecho “Tanta mentira, tanta força bruta”, que havia uma camuflagem por parte do Estado quanto à realidade do país, já que, apesar de o país estar crescendo economicamente, o lado social estava esquecido; expressa também que o Governo usava a força para controlar as pessoas, tentando reprimir suas ideias. 2. LEVANTA QUE LÁ VEM PROTESTO: Mas, apesar de tudo isso, ainda havia aqueles que não silenciavam diante da opressão, quebrando o silêncio que o sistema esperava (como o autor diz em “Silêncio na cidade não se escuta”). Chico expressa, através do trecho “Tanta mentira, tanta força bruta”, que havia uma camuflagem por parte do Estado quanto à realidade do país, já que, apesar de o país estar crescendo economicamente, o lado social estava esquecido; expressa também que o Governo usava a força para controlar as pessoas, tentando reprimir suas ideias. As pessoas que sofreram com a realidade da Ditadura, viram na música de Chico Buarque um retrato da sua situação. Até hoje essa música é sempre citada quando se fala do Regime Militar, pois ela transmitiu ideais revolucionários que inspiram as pessoas até hoje. O concretismo foi uma importante corrente da Literatura Brasileira, que tinha como objetivo trazer uma nova ideia da arte na composição literária, fazendo com que os aspectos visuais, sonoros e linguísticos se integrassem para uma composição inovadora. As Chiquinhas utilizaram o concretismo para mostrar o assunto sob uma perspectiva mais dinâmica. 3. REFERÊNCIAS 1. ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil: (1964-1984). Bauru,SP: EDUSC, 2005, p. 188-219. 2. BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: Paulinas Editora, 2009, p.1154. 3. COSTA, Catarina Gotardelo Ferro da. A música na ditadura militar brasileira: análise da sociedade pela obra de Chico Buarque de Holanda. Revista eletrônica. Ago, 2007. Ano I. p. 35-40. 4. COUTO, Ronaldo Costa. História indiscreta da ditadura e da abertura: Brasil (1964-1985). Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 63-130. 5. CRUZ, José Vieira da. Formação sócio-histórica do Brasil. Aracaju: UNIT, 2010, p. 142-153. 6. DREIFUSS, Reene Armando. 1964: a conquista do estado. Ação política, poder e golpe de classe. 2. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1981, p. 229-259. 7. MARTINS, Roberto R. A. Segurança nacional. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 27-55(Coleção Tudo é História; v. 112). 8. PILAGALLO, Oscar. A história do Brasil no século 20: (1960-1980). São Paulo: Publifolha, 2004, p. 56-79. 9. www.letrasterra.com.br