Física 1 – Capítulo 6 – Rotação de corpos rígidos – Prof. Dr. Cláudio. Sérgio Sartori. Introdução: Em algumas situações em física, não há a possibilidade de estudar o movimento como se a partícula fosse um ponto material. Citamos o movimento de um CD/DVD, o movimento de uma serra elétrica ou de uma roda gigante. Cada um deles envolve um corpo que gira em torno de um eixo que permanece estacionário em relação a algum sistema de referência inercial. A rotação ocorre em todas as escalas, desde o movimento de elétrons em torno de átomos até o movimento de galáxias inteiras. Desenvolveremos métodos especiais que analisam o movimento de corpos que giram. No mundo real, as forças que atuam nos corpos podem ainda deformá-los, esticando-os, torcendo ou comprimindo-os. Desprezaremos essas deformações, supondo que o corpo mantenha sua forma definida e imutável, cujo modelo denominamos de corpo rígido. Aceleração angular: s r Unidades: Radiano: Grau: Grado:100 gr – 90° rad 180 Velocidade angular: Velocidade angular média: t 2 1 t2 t1 t 2 1 t2 t1 Unidade: Radiano por segundo ao quadrado: rad/s². Aceleração angular instantânea: t 0 t d dt lim s r Aceleração angular média: Ângulo θ: t 0 t d dt lim Velocidade angular e aceleração angular Designamos por eixo fixo aquele que permanece em repouso em relação a algum referencial inercial e que não muda de direção. Unidade: Radiano por segundo: rad/s. Velocidade angular instantânea: Observações: No MCU: 2 2 f T f: Freqüência. Unidade: Hertz (Hz) 1 Hz = 1/s ou rpm=(1/60)Hz T: período. r Exemplo 1 – A figura mostra o volante de um carro que está sendo testado. A posição angular dessa roda é: 2 t 3 rad s 3 O diâmetro do volante é igual a 0.36m. Ache: (a) o ângulo θ, em radianos e em graus, nos instantes t1 = 2.0 s e t2 = 5.0 s. (b) Ache a distância percorrida por uma partícula na periferia do volante nesse intervalo de tempo. 1 Física 1 – Capítulo 6 – Rotação de corpos rígidos – Prof. Dr. Cláudio. Sérgio Sartori. (c) Calcule a velocidade angular média, em rad/s e em rev/min (rpm) entre t1 = 2.0 s e t2 = 5.0 s. (d) Ache a velocidade angular instantânea para t = 3.0 s. Exemplo 2 – Calcule a aceleração angular do instantânea e a aceleração angular média entre os instantes t1 = 2.0 s e t2 = 5.0 s do exemplo anterior: 2 t 3 rad s 3 Solução: d d d d 2 2 dt dt dt dt rad 12 t 2 s 2 1 t2 t1 150 24 rad 42 2 52 s Rotação com aceleração angular constante: 0 t 0 0 t t 2 Solução: 1 2 t13 1 2 23 1 16rad rad 180 180 16 180 1 920 2 2 02 2 0 (a) 2 2 t 2 2 53 2 250rad 3 2 180 (b) 250 180 2 14000 s r s 0.18 250 16 s 42m 1 250 16 (c) 2 t2 t1 5 2 rad rad rev 78 78 60 740 s s min d (d) 6t2 dt 6 32 54rad s Exemplo 3 – Rotação com velocidade angular constante. Uma roda de bicicleta está sendo testada em uma oficina de reparos. A velocidade angular da roda é 4.00 rad/s no instante t = 0s e sua aceleração angular é constante e igual a 1.20 rad/s2. Um raio OP da roda coincide com o eixo Ox no instante t = 0s. (a) Qual a velocidade angular da roda no instante t = 3.00 s? (b) Qual é o ângulo formado pelo raio OP e o eixo +Ox nesse instante? 2 Física 1 – Capítulo 6 – Rotação de corpos rígidos – Prof. Dr. Cláudio. Sérgio Sartori. circunferência de raio 0.8m. Vamos supor que o braço do lançador possa ser tratado como um corpo rígido, logo, r é constante. Determine o componente vertical e o componente horizontal da aceleração no instante em que a velocidade angular é 10 rad/s. (a) Solução: 0 t 3 4 1.2 3 0.40 (b) 0 0 t t 2 rad s 2 0 43 1.20 32 6.6rad 2 Aceleração tangencial, centrípeta e resultante Solução: m s2 m acp 2 r acp 102 0.8 acp 80 2 s 2 2 a acp aT aT r aT 50 0.8 aT 40 a 802 402 m a 89 2 s Exemplo 5 – Projeto de uma hélice. Você foi solicitado para projetar a hélice de um avião que deve girar a 2400 rpm. A velocidade do avião deve ser de 75.0 m/s (270 km/h), e a velocidade da extremidade da lâmina da hélice não pode superar 270 m/s. (Isso é cerca de 0.8 vezes a velocidade do som no ar. Se as extremidades das lâminas se deslocassem com a velocidade do som, elas poderiam produzir uma enorme quantidade de ruído. Mantendo a velocidade menor que a velocidade do som obtém-se um nível de ruído aceitável.) (a) Qual é o raio máximo que a hélice pode ter? (b) Com esse raio, qual é a aceleração da extremidade da hélice? Aceleração tangencial: Aceleração centrípeta ou normal: aT r acp v2 acp 2 r r Aceleração resultante: a a a 2 cp 2 T Exemplo 4 – Movimento de um disco. O lançador de um disco gira com aceleração angular = 50 rad/s², fazendo o disco se mover ao longo de uma Solução: f 2400rpm f f 40Hz 2400 Hz 60 Física 1 – Capítulo 6 – Rotação de corpos rígidos – Prof. Dr. Cláudio. Sérgio Sartori. 2 f 2 40 251.3 rad s 2 r1 2 r2 r N 1 1 N1 N2 r2 N2 2 N1 1 N2 (a) Velocidade tangencial de um ponto P na extremidade da hélice:: vP r Velocidade do avião em relação ao ar: vA. Velocidade total: v vA2 vP2 v vA2 2 r 2 r2 v 2 vA2 2 r r 1.03m 2702 752 2512 (b) A velocidade angular da hélice é constante: A velocidade angular de cada roda dentada é inversamente proporcional ao número de dentes. Em uma bicicleta com várias marchas, você obtém a velocidade angular mais elevada 2 da roda traseira pedalando com uma taxa 1 quando a razão N1/N2 é máxima; isso significa que você deve usar a roda dentada dianteira com maior raio (maior valor de N1) e a roda traseira com menor raio (menor valor de N2). acp 2 r acp 2512 1.03 m acp 6.5 104 2 s Força que a hélice exerce: F m acp F N 6.5 104 m kg As hélices são fabricadas de materiais leves e duros, como ligas de alumínio. Exemplo 6 – Engrenagem de uma bicicleta. Como relacionar as velocidades angulares das duas rodas dentadas de uma bicicleta com o número de dentes de cada roda? Energia do movimento de rotação Um corpo girando constitui-se de massas em movimento. Podemos escrever a energia dese movimento em termos da velocidade angular do corpo: A energia cinética total do corpo é a soma das energias cinéticas de todas as partículas do corpo: N N 1 1 2 K mi vi2 K mi ri i 1 2 i 1 2 N 1 K mi ri 2 2 2 i 1 Momento de Inércia Definimos como momento de inércia, o produto pela massa com o quadrado de sua distância ao eixo de rotação. A palavra momento dá a idéia de que I depende da maneira como que a massa do corpo é distribuída no espaço. N I mi ri2 i 1 Unidade: kg.m2. K 1 I 2 2 Exemplos associados a momento de inércia: Solução: v1 v2 1 r1 2 r2 2 r1 1 r2 A condição de que o espaçamento entre os dentes é o mesmo nas duas rodas dentadas é dado por: 4 Física 1 – Capítulo 6 – Rotação de corpos rígidos – Prof. Dr. Cláudio. Sérgio Sartori. Exemplo 7 – Momento de inércia em relação a diferentes eixos de rotação. Um engenheiro está projetando uma parte de uma certa máquina que consiste em três conectores pesados ligados por suportes leves,. Os conectores podem ser considerados como partículas pesadas conectadas por hastes com massas desprezíveis. (a) Qual é o momento de inércia desse corpo em relação a um eixo perpendicular ao plano do desenho passando no ponto A? (b) Qual é o momento de inércia desse em torno de um eixo que coincide com a haste BC? (c) Se o corpo gira em torno de um eixo perpendicular ao plano do desenho e passa por A, com velocidade angular = 4.0 rad/s, qual é a sua energia cinética? Momento de inércia de figuras: 5 Teorema dos eixos paralelos Solução: (a) A partícula no ponto A está sobre o eixo. Sua distância r é 0. Assim: N I mi ri2 i 1 2 I 0.1 0.5 0.2 0.42 I 0.057kg m2 (b) As partículas em B e em C estão sobre o eixo. Para elas, r = 0. Assim: N I mi ri2 i 1 I 0.3 0.42 I 0.048kg m 2 1 2 1 2 (c) K I 2 K 0.057 42 K 0.46J Observação: O momento de inércia de um corpo depende da localização e da orientação do eixo. I P I CM M d 2 Física 1 – Capítulo 6 – Rotação de corpos rígidos – Prof. Dr. Cláudio. Sérgio Sartori. Exemplo 9 – Desenrolando um cabo. Um cabo leve, flexível e não deformável, é enrolado várias vezes em torno da periferia de um tambor, um cilindro sólido com um diâmetro de 0.120m e massa igual a 50 kg, que pode girar em torno de um eixo estacionário horizontal mantido por mancais sem atrito. A extremidade livre do cabo é puxada por uma força constante de módulo igual a 9.0 N deslocando-se uma distância de 2.0 m. Ele se desenrola sem deslizar fazendo o cilindro girar. Se o cilindro inicialmente está em repouso, calcule sua velocidade angular e a velocidade escalar final do cabo. Solução: Existe atrito entre o cabo e o cilindro: é isso que faz o cilindro girar assim que puxamos o cabo. Porém, como o cabo não desliza, não existe nenhuma velocidade relativa de deslizamento entre o cabo e o cilindro, e nenhuma energia mecânica é perdida em virtude do atrito. A variação de energia cinética do cilindro é igual ao trabalho W = F s realizado pela força F = 9.0 N que atua em um deslocamento s = 2.0 m; portanto, W = 9.2 = 18J. De acordo com a tabela de momentos de inércia: 1 I M R2 2 1 I 50 0.62 I 0.090 kg m2 2 Como o cilindro está inicialmente em repouso, pelo teorema trabalho-energia: W K2 K1 W 1 1 I 2 I02 2 2 Como o corpo está em repouso: 0 0 2W 2 18 I 0.090 20rad s v r v 20 0.06 m v 1.2 s Exemplo 10 – Desenrolando um cabo II. Em uma experiência de laboratório para testar a conservação da energia mecânica de rotação, enrolamos um cabo leve e flexível em torno de um cilindro maciço de massa M e raio R. O cilindro gira com atrito desprezível em torno do eixo horizontal estacionário. 6 Amarramos a extremidade livre do cabo a um objeto de massa m e libertamos o objeto sem velocidade inicial a uma distância h acima do solo. À medida que o objeto cai, o cabo se desenrola sem deslizar nem se esticar, fazendo o cilindro girar. Calcule a velocidade do objeto que cai e a velocidade angular do cilindro no instante que o objeto atinge o solo. Solução: Inicialmente, o sistema não possui nenhuma energia cinética (K1 = 0). Consideramos a energia potencial igual a zero quando o objeto está no nível do solo. Logo, U1 = m.g.h e U2=0. (Podemos ignorar a energia potencial gravitacional do cilindro, visto que sua altura não varia). Assim, o atrito não realiza trabalho, logo: WF U2 K2 U1 K1 0 O cabo não realiza trabalho total, porque em uma extremidade a força e o deslocamento estão no mesmo sentido, e na outra extremidade a força possui sentido contrário ao do deslocamento. Logo, o trabalho total do cabo é igual a zero. Imediatamente antes de o objeto colidir com o solo, tanto o objeto quanto o cilindro possuem energia cinética. A energia cinética total K2 nesse instante é: 1 1 K2 m v2 I 2 2 2 1 I M R2 cilindro 2 v R A velocidade da massa que cai deve ser igual à velocidade tangencial de um corpo na periferia do cilindro. Usando essas relações e igualando a energia total inicial com a energia total final, teremos: Física 1 – Capítulo 6 – Rotação de corpos rígidos – Prof. Dr. Cláudio. Sérgio Sartori. U2 K2 U1 K1 1 11 v 0 m g h m v2 M R2 2 2 2 R 1 1 m g h m M v2 2 2 v 2 2g h M 1 2m Exemplo 11 – Uso do teorema dos eixos paralelos. Uma das partes de uma articulação mecânica possui massa igual a 3.6 kg. Medimos seu momento de inércia em relação a um eixo situado a uma distância de 0.15 m do seu centro de massa e encontramos o valor IP = 0.132 kg.m2. Qual o momento de inércia em relação a um eixo que passa pelo seu centro de massa Icm? 7 Velocidade angular final: v R Observe que: M M m v 0 m v 2g h Veja que v não depende do raio do cilindro! Solução: I P I cm M d 2 I cm I P M d 2 I cm 0.132 3.6 0.152 I cm 0.051 kg m 2 Cálculos de momento de inércia. Quando um corpo rígido não pode ser representado por massas puntiformes, podemos escrever a relação integral: I r 2dm corpo Dependendo de como a massa está distribuída, podemos definir as densidades: Densidade Símbolo Definição Unidade Linear Superficial Volumétrica M L M A M V kg m kg m2 kg m3 Para o caso unidimensional, podemos definir: dm dm dl dl I r 2 dl corpo Física 1 – Capítulo 6 – Rotação de corpos rígidos – Prof. Dr. Cláudio. Sérgio Sartori. distância x do ponto O. Assim, se a densidade linear é uniforme: Para corpos bi e tridimensionais, veja a tabela a seguir. Tabela - Definições de Momentos, Momentos de inércia e centro de massa. Corpos Bidimensionais (Figuras Planas) Centro de Massa ( xm , ym ) xm x dA R dA ym y dA R dA dm M M dm dx dx L L 2 I r dm corpo Corpos tridimensionais L h xm x dV R I h M M x dx I L L 2 dV I R R ( xm , y m , z m ) ym y dV R dV R R z dV zm R Momentos Momentos de Inércia M y xm M xy z m M x ym M xz ym Figuras Planas y dA 2 Ix R x dA Iy R Io, Iz ( x R y 2 ) dA 8 x h 1 I M L2 3 o Se o eixo passar pela extremidade direita: h = L: 1 I M L2 3 I 2 z 2 ) dV ( x 2 z 2 ) dV ( y 2 x 2 ) dV o Se o eixo passar pela extremidade esquerda: h = 0: Corpos Tridimensionais R 2 M x L 3 o Se o eixo passar pelo centro: h=L/2: R 2 h M yz x m ( y x 2 dx 3 x Lh R Sólido 1 I M L2 3L h 3h2 3 dV Lâmina L h 1 M L2 12 Exemplo 13 – Cilindro maciço ou oco girando em torno de seu eixo. A figura mostra um cilindro oco e uniforme com comprimento L, raio interno R1 e externo R2 e massa M. Calcule o momento de inércia em relação ao eixo de simetria do cilindro. R Exemplo 12 – Barra delgada uniforme, eixo ortogonal ao seu comprimento. A figura mostra uma barra ou vara delgada uniforme de massa M e comprimento L. Determine seu momento de inércia em relação a um eixo passando pelo ponto O, a uma distância arbitrária h de uma de suas extremidades. Solução: Solução: Escolhendo um elemento de massa de uma seção reta da barra com comprimento dx situado a uma dm dV dm 2 r L dr I corpo r 2dm Física 1 – Capítulo 6 – Rotação de corpos rígidos – Prof. Dr. Cláudio. Sérgio Sartori. R2 2 r 2 r L dr I R1 R2 I 2 L r 3dr I L 4 R1 R 4 2 R14 8 5 3M R 15 4 R3 2 I M R2 5 I Exemplo 14 – Esfera homogênea de raio R e eixo passando pelo centro. A esfera abaixo poderia ser uma bola de bilhar. Determine seu momento de inércia. Solução: r R2 x 2 dm dV dm r 2 dx I r 2dm corpo M M 4 V R3 3 3M 4 R3 8 5 I R 15 Exemplo 15 – Movimento de um CD/DVD. Em um compact disc ou digital video disc, as informações são gravadas digitalmente em uma série de pits (“buracos”) e flats (regiões de áreas planas) sobre a superfície do disco, representando uma série de binários 0 ou 1, que serão lidos pelo compact disc player e convertidos em ondas sonoras. Os pits e as flat areas são detetados por um sistema de um laser e lentes. O comprimento de um certo número de zeros e uns gravados é o mesmo ao longo de todo o disco, próxima a borda ou próximo ao seu centro. Para que o comprimento da região gravada de “0s” e “1s” sempre passe pelo sistema de leitura lentes e laser no mesmo período, a velocidade linear da superfície do disco na região de leitura deve ser constante. Em um aparelho de CD típico, a velocidade de leitura é da ordem de 1.3 m/s. Encontre a velocidade angular do disco quando a informação está sendo lida do interior (first track) em r = 23 mm e no exterior (final track) r = 58 mm. dm R 2 x 2 dx Para um disco: dI 1 2 1 dI r 2dm 2 R2 x 2 dI R x dx 2 2 2 2 R2 x2 dx 2 R 2 2 I 2 R x 2 dx 2 0 I 8 5 R 15 Solução: 9 Física 1 – Capítulo 6 – Rotação de corpos rígidos – Prof. Dr. Cláudio. Sérgio Sartori. 1.3 rad i i 56.5 2 v 2.3 10 s i 1.3 rad ri e 22.4 e 5.8 102 s 56.5 fi fi 8.99 Hz i 2 fi 2 f 22.4 f 3.565Hz e e 2 fi (rpm) f (Hz) 60 f i 539.4rpm f e 213.9rpm 10