BALANÇOS E PROJEÇÕES ANO DE 2008 COMPLETA CICLO DE PROSPERIDADE, AVALIA FECOMERCIO Entidade reconhece avanços da economia brasileira, mas ressalta também fatores negativos, como a paralisia das reformas, o aumento dos gastos do governo e o atraso na execução do PAC Com o final de 2008 completa-se, na avaliação da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio), um período de prosperidade sem precedentes na história recente do País. Iniciado em fins de 2004, esse ciclo caracterizou-se por crescimento sólido, recuperação das contas externas, aumento de renda, geração de empregos e acumulação de reservas internacionais superiores a US$ 200 bilhões. “Dependerá da capacidade de darmos respostas aos desafios impostos pela crise internacional a manutenção, ou não, dessas conquistas”, diz Abram Szajman, presidente da entidade. A seguir, as principais conclusões de um balanço feito pela Fecomercio sobre a economia brasileira no ano que termina: Desempenho 2008 Como a crise internacional foi sentida de forma mais incisiva apenas no último trimestre, não chegou a comprometer o bom desempenho de 2008, que termina com uma taxa de desemprego baixa para padrões brasileiros, reservas internacionais ainda bastante elevadas, saldos comerciais substanciais e recordes de exportação. Impulsionado pelo crédito e pelo aumento da renda real, este foi o segundo ano de forte acréscimo no consumo das famílias, principalmente no tocante a automóveis e imóveis. O país mostrou-se preparado para crescer mais de 5%, apesar das pressões inflacionárias. Por conta da elevação dos preços de commodities o Banco Central aumentou os juros, mas não ocorreram gargalos produtivos ou excesso de demanda não contemplada pela oferta. Diante da inflação importada e, portanto, fora do alcance do BC, a Fecomercio manifestou-se contrária à elevação dos juros. Hoje, a crise que se abate sobre o mundo já reduziu o preço de commodities, como aço, café e petróleo. Mas essa não é uma boa notícia, nem mesmo em relação à inflação, já que ao mesmo tempo o câmbio passou a se desvalorizar, após setembro. Comércio internacional Mesmo com todos os problemas externos e diante da valorização cambial ocorrida desde o final de 2005 até setembro deste ano, a balança comercial continuou superavitária: as exportações atingem em 2008 o recorde histórico de US$ 200 bilhões. O Brasil voltou a aumentar sua pauta de exportações e seu leque de clientes, o que garante ao País uma exposição menor ao risco. O bom desempenho – garantido pelos preços elevados de commodities e pelo aquecimento econômico verificado até o mês de setembro, quando a crise internacional tornou-se mais aguda – infelizmente não deve se repetir em 2009. Equilíbrio fiscal O governo conseguiu em 2008 manter o superávit primário em patamares elevados. Mas fez isso da pior maneira, com aumento da arrecadação e não com ajustes de eficiência e cortes de gastos. Com o consumo crescendo a taxas de 10%, a arrecadação atingiu novos patamares recordes. Ainda assim, a obtenção de um superávit primário superior aos 4,25% estimados no início do ano, agregada à redução de juros médios, permitiu (principalmente até a primeira metade do ano) reduzir a relação dívida/PIB. Este é outro resultado que dificilmente se repetirá em 2009, seja por conta do ambiente econômico adverso ou por causa da armadilha preparada pelo governo, que continuou a contratar aumento de gastos futuros. Controle inflacionário No início do ano ocorreram pressões inflacionárias por causa do aumento dos preços de commodities internacionais. O BC inverteu a trajetória de queda dos juros para atuar com apertos monetários. No segundo semestre os preços de commodities passaram a cair rapidamente e o real começou uma trajetória de desvalorização, desconhecida do país desde 2005. O IPCA deve terminar 2008 ao redor de 6,3%, próximo ao teto da meta de inflação. Fatores negativos Para a Fecomercio, apesar dos avanços obtidos no ano, a paralisia de reformas nos âmbitos fiscal, previdenciário e burocrático afastou o Brasil da condição de candidato efetivo ao bloco dos países desenvolvidos. Para isso, o país precisa tanto de reformas microeconômicas que melhorem o ambiente de negócios, reduzam a burocracia e elevem fortemente o grau de segurança jurídica, como daquelas que podem garantir a sustentabilidade das políticas fiscal e monetária no longo prazo. Outro aspecto negativo destacado foi a continuidade do aumento de gastos do governo, que não terá em 2009 graus de liberdade para efetuar cortes de despesas por conta das contratações extemporâneas que vem fazendo há pelo menos dois anos. Na visão da entidade, esse continua a ser um ponto crítico da economia nacional, pois compromete o controle da dívida pública e seu equilíbrio de longo prazo. Com a entrada forte de reservas internacionais pelo menos até meados de 2008, o País experimentou a taxa de câmbio mais valorizada da história recente em relação a todas as moedas fortes do mundo. As razões para isso foram a queda do Risco Brasil, o excedente de liquidez internacional e a elevada taxa de juros interna, fatores que atraíram capitais ocasionando a forte valorização do Real. Como efeito colateral dessa valorização, ocorreu um estímulo desproporcional à importação, que cresceu 45% neste ano e causou sérios problemas para a indústria nacional. Finalmente, em 2008, para a Fecomercio, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) continuou a ser uma quimera, sem efeitos práticos, que ficaram mais uma vez transferidos para o ano seguinte, quando se espera que o governo consiga, finalmente, direcionar seus gastos no sentido dos investimentos, tão importantes para consolidar a capacidade de crescimento do País.