TATIANA BADKE A ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA DE PACIENTES PORTADORES DE DISTROFIA MUSCULAR PROGRESSIVA DO TIPO DUCHENNE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA CASCAVEL 2003 TATIANA BADKE A ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA DE PACIENTES PORTADORES DE DISTROFIA MUSCULAR PROGRESSIVA DO TIPO DUCHENNE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Cascavel – como pré-requisito para a obtenção do título de Graduado em Fisioterapia. Orientadora: Profª. Aneline Maria Ruedell CASCAVEL 2003 TERMO DE APROVAÇÃO TATIANA BADKE A ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA DE PACIENTES PORTADORES DE DISTROFIA MUSCULAR PROGRESSIVA DO TIPO DUCHENNE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Cascavel – como pré-requisito para a obtenção do título de Graduado em Fisioterapia. _______________________________________ Profª Aneline Maria Ruedell – UNIOESTE (orientadora) _______________________________________ Profª Joseane Rodrigues da Silva - UNIOESTE _______________________________________ Profª Ceres Giacometti - UNIOESTE Cascavel, 16 de abril de 2003. DEDICATÓRIA Aos meus pais Sérgio Roberto Badke (in memoriam) e Maria Inez Badke, incentivadores do desenvolvimento da minha vida acadêmica, que despertaram em mim o desejo e a necessidade de se buscar cada vez mais conhecimento, aos quais nunca conseguirei retribuir o apoio concreto e afetivo para a realização da minha faculdade. AGRADECIMENTOS A elaboração de um trabalho acadêmico é longa e entre muitos requisitos exige reflexão, introspecção, formulação, construção e correção, o que acaba parecendo um processo individual e solitário. Porém, muito pelo contrário, se torna uma construção coletiva aonde a concretização do trabalho só se dá quando a parceria e o companheirismo se somam e se expressam através de uma palavra amiga, de um sorriso na hora certa, na presença em um momento oportuno, na crítica, na discussão dos conceitos, nas contribuições e ao estímulo dos que estão próximos. Quero expressar minha grande gratidão a todas as pessoas que me apoiaram e me estimularam durante toda esta longa caminhada. À Prof. Aneline Maria Ruedell, por ter aceito a orientação deste trabalho, acreditando em mim e me apoiando para a construção deste estudo, obrigada pela amizade, a competência e a forma extraordinária com que me conduziu nesta trajetória. À Prof. Juliana Genske, obrigada pela ajuda que me deu, emprestando-me materiais para consulta e auxiliando na correção do trabalho. Aos professores, agradeço a todo aprendizado que tive e pela atenção que sempre recebi de todos vocês. À minha família, obrigada por todos os momentos que dividiram comigo, por suportarem as ausências, se alegrarem com as conquistas e oferecerem conforto e segurança. Este é o ano de concluir a universidade, de cair de vez e sem dó no mercado de uma maneira mais profissional. É hora de dar o chute pra valer e iniciar uma carreira, construir e adquirir coisas. Estou disposta a ir lutar com os leões. Porque é assim que se cresce, envolvendo-se com as coisas, com as pessoas. Ao meu irmão Alexandre, por ser meu irmão. Ao Prof. Gladson e a colega Grasieli por terem me auxiliado com a colocação das figuras auxiliando, dessa maneira, para o término do meu trabalho. Aos colegas de turma que, durante esta caminhada foram se tornando amigos, foi ótima a oportunidade de conviver com vocês, desfrutar da parceria, do carinho e principalmente, das festas que fizemos que permitiram um aprofundamento desta amizade. Às amigas mais do que especiais Rosana, Patty e Deborah, obrigada pela amizade verdadeira e pelo companheirismo e carinho de vocês. Vocês são muito importantes para mim, e podem contar comigo da mesma forma que conto com vocês. RESUMO BADKE, T.; RUEDELL, A. M. A Atuação da Fisioterapia na Insuficiência Respiratória de Pacientes Portadores de Distrofia Muscular Progressiva do Tipo Duchenne. Cascavel, 2002. Trabalho Acadêmico - Curso de Fisioterapia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Palavras-chave: Distrofia Muscular Progressiva. Distrofia Muscular de Duchenne. Fisioterapia Respiratória. Insuficiência Respiratória. O trabalho buscou identificar e interpretar as definições para distrofias musculares, principalmente a Distrofia Muscular do Tipo Duchenne (DMD) e a importância da atuação fisioterapêutica frente à insuficiência respiratória que pacientes portadores de tal patologia possam vir a adquirir. As distrofias musculares englobam uma séries de doenças de origem genética que afetam a musculatura esquelética, diferindo entre si quanto ao tipo de músculo que acomete, a idade de início dos sintomas e o quadro evolutivo. O epônimo Distrofia Muscular de Duchenne é aplicada a forma mais comum e mais grave de doença neuromuscular que causa fraqueza progressiva na musculatura esquelética dos pacientes que a possuem. Dentro do quadro clínico característico da DMD, deve-se ficar atento as complicações respiratórias nestes pacientes, que são a causa principal da mortalidade e morbidade nas doenças neuromusculares. A insuficiência respiratória no paciente portador de DMD se dá pela falência da musculatura respiratória que, conseqüentemente, não ocorrerá uma ventilação adequada e uma boa limpeza das secreções. Desta maneira, o fisioterapeuta pode atuar junto a outros profissionais da equipe multidisciplinar, através de técnicas de fisioterapia respiratória específicas, para reverter o quadro do paciente portador de DMD e, da mesma maneira, melhorar sua qualidade de vida. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS LISTA DE ABREVIATURAS 1. INTRODUÇÃO 12 2. DESENVOLVIMENTO 14 2.1. DISTROFIA MUSCULAR 14 2.1.1. Classificação 15 2.2. DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE 18 2.2.1. Conceito 18 2.2.2. Histórico 18 2.2.3. Incidência 19 2.2.4. Etiologia 19 2.2.5 Anatomia Patológica 21 2.2.6. Quadro Clínico 23 2.2.7. Diagnóstico Fisioterapêutico 31 2.2.8. Exames Complementares 33 2.3. ANATOMIA FUNCIONAL DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 35 2.3.1. Pulmões 35 2.3.2. Vias Aéreas 37 2.3.3. Pleura 39 2.4. BIOMECÂNICA RESPIRATÓRIA 40 2.4.1. Músculos Respiratórios 42 2.4.2. Musculatura Acessória 43 2.4.3. Pressão Intrapleural 44 2.4.4. Pressão Alveolar 44 2.4.5. Complacência Pulmonar 44 2.5. VENTILAÇÃO PULMONAR 46 2.5.1. Volumes Pulmonares 46 2.5.2. Capacidades Pulmonares 47 2.6. FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA 49 2.6.1. Circulação Respiratória 50 2.6.2. Diferenças Regionais de Ventilação 50 2.6.3. Distribuição do fluxo sangüíneo 51 2.6.4. Relação Ventilação-perfusão 52 2.6.5. Controle Nervoso da Respiração 53 2.6.6. Trocas Gasosas 54 2.7. INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA 55 2.8. INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA NA DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE 57 2.8.1. Diagnóstico 60 2.9. O PAPEL DA FISIOTERAPIA NA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA DE PACIENTES PORTADORES DE DMD 64 2.9.1. Higiene Brônquica 65 2.9.1.1. Percussão 66 2.9.1.2. Vibração Manual 67 2.9.1.3. Tosse Assistida 67 2.9.1.4. Estímulo da Tosse 67 2.9.1.5. Drenagem Postural Seletiva 68 2.9.1.6. Terapia Expiratória Manual Passiva 69 2.9.1.7. Técnica de Expiração Forçada 69 2.9.1.8. Oscilação Oral de Alta Freqüência (Flutter) 70 2.9.1.9. Insuflação Passiva 71 2.9.1.10. Aerossolterapia 72 2.9.1.11. Aspiração da Vias Aéreas 72 2.9.2. Expansão Pulmonar 73 2.9.2.1. Padrão Ventilatório 73 2.9.2.2. Incentivadores Inspiratórios 75 2.9.2.3. Descompressão Súbita 76 2.9.2.4. Estímulo Diafragmático 77 2.9.2.5. Respiração glossofaríngea 78 2.9.2.6. Alongamento da musculatura acessória 79 2.9.2.7. Alongamento da musculatura lateral do tronco 79 2.9.2.8. Máscara de EPAP – Pressão Positiva Expiratória em vias Aéreas 80 2.9.2.9. Ventilação Não-invasiva 80 2.9.3. REDUZIR GASTOS ENERGÉTICOS 85 3. METODOLOGIA 86 4. CONCLUSÃO 87 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 88 LISTA DE FIGURAS Página Figura 1 - Distribuição da fraqueza de acordo com a musculatura predominante em diferentes tipos de distrofia 17 Figura 2 – Hipertrofia de Panturrilha em menino portador de DMD. 23 Figura 3 –Biópsia Muscular. 34 Figura 4 – Pulmões e brônquios. 36 Figura 5 – Foto esquemática de vias aéreas. 39 Figura 6 – Volumes e Capacidades Pulmonares. 48 Figura 7 – Controle Central da Respiração. 53 Figura 8 – Manobra de percussão torácica. 66 Figura 9 – Flutter. 70 Figura 10 – Manejo correto do Flutter. 71 Figura 11 – PV diafragmático com expiração frenolabial. 74 Figura 12 – Incentivadores Respiratórios a fluxo. 75 Figura 13 – Incentivadores Respiratórios a volume. 76 Figura 14 – Estímulo diafragmático. 77 Figura 15 – Respiração glossofaríngea. 78 Figura 16 – Máscara de EPAP com resistor tipo spring loaded. 80 Figura 17 – Equipamento de CPAP. 85 LISTA DE ABREVIATURAS DMD – Distrofia Muscular de Duchenne DMP – Distrofia Muscular Progressiva CV – Capacidade Vital VR – Volume Residual CPT – Capacidade Pulmonar Total CRF – Capacidade Residual Funcional EMG – Eletroneuromiografia CPK – creatinofosfoquinase SpO2 – Saturação Sangüínea de Oxigênio TEMP – Terapia Expiratória Manual Passiva TEF – Técnica Expiratória Forçada PV – Padrão Ventilatório VNI – Ventilação Não-invasiva CPAP – Pressão Expiratória Positiva Contínua PSV – Ventilação por Pressão de Suporte Peep – Pressão Expiratória Positiva BiPAP – Pressão Positiva em dois níveis 1. INTRODUÇÃO O trabalho apresenta uma revisão literária sobre a distrofia muscular progressiva do tipo Duchenne (DMD) e suas principais características, como etiologia, quadro clínico e evolução. Apresenta, também, sobre a insuficiência respiratória que pacientes portadores de DMD possam apresentar e o respectivo tratamento fisioterapêutico. As distrofias musculares progressivas (DMP) constituem um grupo de doenças, caracterizadas por uma degeneração progressiva e irreversível da musculatura esquelética, e que, ultimamente, tem sido alvo de muitas pesquisas (ZATZ, 2002). As DMP podem ser subdivididas em vários tipos de acordo com a base de distribuição clínica e da gravidade da fraqueza muscular, além do padrão de hereditariedade (REED, 2002). Dentre as diversas miopatias, a DMD, de herança recessiva ligada ao cromossomo X é a mais comum, com uma incidência de cerca de 1 em cada 3.000 nascimentos de meninos vivos (EMERY, 1998). Sabe-se que a DMD é uma enfermidade progressiva e que não apresenta cura. Algumas dúvidas ainda restam sobre as alterações anatomopatológicas que ocorrem na DMD. Os estudos mais recentes em portadores de DMD, verificaram a ausência de uma proteína, denominada distrofina, que é produzida pelo gene que está ausente na DMD, sendo que a falta desta proteína tornaria as fibras musculares mais suscetíveis a rompimentos (SLUTZKY, 1997). As primeiras manifestações clínicas encontradas no portador de DMD é a demora que a criança apresenta para começar a sentar, ficar em pé e caminhar e, ainda, história freqüente de quedas quando começa a caminhar. Um dos sinais clássicos da DMD é o levantar miopático ou “sinal de Gowers”, ou seja, devido a fraqueza da musculatura dos membros inferiores, a criança apresenta dificuldade para se levantar normalmente, fazendo esta manobra de uma maneira patológica. Para se levantar, a criança precisa auxiliar a extensão do quadril e dos joelhos empurrando com as mãos (SHEPHERD, 1998). Outro sinal clássico da DMD é a hipertrofia da musculatura da panturrilha, que ocorre como forma de compensação da fraqueza muscular generalizada de membros inferiores e que, posteriormente, evolui para uma pseudo-hipertrofia pois o tecido muscular é substituído por tecido gorduroso e conjuntivo (THOMPSON, 2000). A escoliose pode ocorrer em alguns meninos distróficos e resulta como um tentativa de compensar o mal alinhamento, para tentar manter o centro de gravidade sobre a pelve, geralmente aparece por volta dos 10 anos quando a criança torna-se dependente da cadeira de rodas (ROBINSON, 1997). Várias são as complicações respiratórias que podem acometer os portadores de DMD, sendo que basicamente todas as alterações respiratórias se devem, essencialmente, ao fato de ocorrer uma fraqueza muscular respiratória de caráter também progressivo, como os demais músculos esqueléticos que são afetados nesta patologia (BIRNKANT, 2002). Vale ressaltar que, conforme a doença progride, os problemas respiratórios e cardíacos vão se tornando mais graves, e tornam-se responsáveis por cerca de 90% dos óbitos, geralmente antes dos 20 anos de idade (THOMPSON, 2000). As complicações respiratórias são a causa principal da morbidez e mortalidade nas doenças neuromusculares. As doenças neuromusculares, entre elas a DMD, pode levar à insuficiência respiratória por provocarem uma grande diminuição da ventilação minuto. De acordo com a literatura, a insuficiência respiratória é uma grave conseqüência que leva à óbito os pacientes portadores de DMD. A insuficiência respiratória é causada, principalmente, pelo comprometimento muscular, levando à fadiga e atrofia da musculatura respiratória, estando relacionada com a diminuição da expansão torácica e da ventilação. Portanto, observou-se a importância de investigar, através de revisão de literatura, quais as principais alternativas do fisioterapeuta frente a essa situação. Visto isso, o objetivo geral da pesquisa é de verificar a intervenção fisioterapêutica na insuficiência respiratória na DMD. Como objetivos específicos pode ser colocado o de verificar os principais aspectos da DMD, demonstrar a importância da fisioterapia na insuficiência respiratória na DMD e divulgar esta importância. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. DISTROFIA MUSCULAR O termo distrofia significa um crescimento anormal e deriva da palavra grega “trophe” que significa nutrição (BERHMAN et al., 2000). As miopatias hereditárias constituem um grupo de doenças caracterizadas por degeneração progressiva e irreversível da musculatura esquelética e com diferentes padrões de herança. Dentre estas miopatias, as distrofias musculares têm sido objeto de muita pesquisa (ZATZ, 2002). Entre as doenças musculares da infância, a mais encontrada é a Distrofia Muscular Progressiva salienta Reed (2002). Tal conceito é confirmado por outros autores, como no caso de Emery (2000) quando diz que as distrofias musculares são um grupo heterogêneo de distúrbios determinados geneticamente e associados à degeneração, fraqueza e atrofia progressiva dos músculos esqueléticos, sem comprometimento dos sistemas nervosos central ou periférico, podendo também ser caracterizados clinicamente por fraqueza e desgastes musculares cada vez mais acentuados, a maior parte das vezes com início na segunda infância (ROBBINS, 1996). O conceito de Fenichel (1995) para distrofia é de um grupo de miopatias genéticas distinguidas pelo modo de transmissão, idade de início e padrão de fraqueza. Entretanto, o termo distrofia muscular para Vasquez et al. (2000) representa um grupo de diversas enfermidades hereditárias em que clinicamente ocorre debilidade e atrofia muscular progressiva; ao exame histopatológico pode ser observada regeneração de fibras com núcleos centrais, variabilidade do tamanho das fibras, necrose muscular e substituição de tecido muscular por tecido conjuntivo e adiposo. Reed (2002) salienta que as distrofias musculares são miopatias primárias, geneticamente determinadas, que se caracterizam clinicamente por intensa variabilidade do fenótipo e do grau de gravidade, e anatomopatologicamente pelo encontro de padrão distrófico inespecífico na fibra muscular. É importante diferenciar as atrofias das distrofias musculares. Slutzky (1997) chama atenção para o fato de que as atrofias resultam de uma lesão neural, que compreende quer o corpo celular quer o axônio do neurônio motor periférico; por sua vez, as distrofias musculares resultam de doença primária do próprio músculo. 2.1.1. Classificação As distrofias musculares formam um grupo de doenças que não relacionam-se entre si; pois cada uma é apresentada com alguma alteração genética diferente e quadro clínico também distintos (BERHMAN et al., 2000). Em 1987, Emery citou 25 formas de distrofias musculares, cada uma com um padrão de herança característico e cujo início pode dar-se na infância, adolescência ou idade adulta. Porém, hoje já se sabe que existem mais de 30 formas diferentes de distrofias, e os avanços da biologia molecular sugerem que este número cresça ainda mais (ZATZ, 2002). As distrofias musculares podem ser subdivididas em vários tipos obedecendo critérios como tipo de herança, grupo muscular inicialmente envolvido, curso e gravidade da fraqueza muscular, e ainda, idade do paciente (THOMPSON, 2000). Outros autores classificam as distrofias de acordo com o grupo de músculos envolvidos, destaca-se entre eles Vasquez et al. (2000) que, tradicionalmente, usa este tipo de classificação associado a gravidade da doença, o modelo de herança e a progressão da enfermidade (Fig. 1). Existem vários tipos de Distrofia Muscular, porém em todos se observa uma debilidade e perda progressiva da força muscular, incapacidade funcional e, algumas vezes, até deformidades. Vasquez et al. sugere uma classificação baseada na forma de herança de cada tipo de distrofia. As doenças são classificadas em: distrofias musculares ligadas ao cromossomo X, distrofias musculares autossômicas dominantes e distrofia muscular autossômica recessiva. No grupo das distrofias musculares ligadas ao cromossomo X estariam englobadas as distrofias de Duchenne, de Becker e de Emery-Dreifuss. Já nas distrofias musculares autossômicas dominantes estariam relacionadas à distrofia muscular de cinturas, fascioescapulohumeral, distal e do tipo Bethlem. E no último grupo estaria a distrofia muscular de cintura autossômica recessiva. Outra classificação que é bastante utilizada e também funcional é a proposta por Walton e Nattrass, que analisaram durante 10 anos estudos clínicos detalhados de meninos portadores de distrofia muscular, onde eles consideraram dois fatores: a distribuição da fraqueza na musculatura predominante e o modo de herança. Em seu estudo, eles identificaram três grupos principais de distrofias musculares (Duchenne/Becker, fascioescapulohumeral e do tipo cinturas) e três formas comparativamente incomuns (distal, oculofaríngea e do tipo congênita) (EMERY, 1998). A distrofia de Becker foi descrita em 1955, como uma distrofia similar quanto à apresentação clínica à distrofia de Duchenne, porém mais discreta na gravidade. Possui o mesmo padrão de herança recessivo ligada ao X, com altos níveis de creatinoquinase no soro e achados eletromiográficos semelhantes, com padrão miopático, porém de início mais tardio e os pacientes podem sobreviver até a idade adulta deambulando e com moderada incapacidade física (REED, 2002). A distrofia fascioescapulohumeral inicia-se na primeira ou segunda décadas de vida e manifesta-se por discreta fraqueza facial que evolui progressivamente em um considerável espaço de tempo a uma fraqueza escápulo-umeral. A fraqueza facial pode ser observada pela dificuldade em franzir os lábios, um sorriso transversal e ao incompleto fechamento das pálpebras (EMERY, 1998). Apresenta uma herança autossômica dominante e é bastante rara, mostra um defeito molecular no locus 4q, existindo uma relação entre o tamanho da deleção e a gravidade do quadro clínico, bem como a idade de início (REED, 2002). Quanto à distrofia de cinturas, seu diagnóstico é feito por eliminação, pois há várias patologias que causam uma fraqueza progressiva e atrofia da musculatura pélvica e escapular. Em termos clínicos há dois tipos de distrofia de cinturas; aquele que afeta predominantemente a cintura pélvica e aquele que afeta predominantemente a cintura escapular (EMERY, 1998). A distrofia muscular congênita trata-se de um grupo heterogêneo de doenças degenerativas, primárias e progressivas, do músculo esquelético, com início intra-útero ou durante o primeiro ano de vida; caracterizada clinicamente por acentuada hipotonia muscular, fraqueza muscular generalizada, retardo do desenvolvimento motor, retrações fibrotendíneas intensas e precoces e, freqüentemente, distúrbios respiratórios e dificuldade para se alimentar (REED, 2002). Já a distrofia oculofaríngea é transmitida por herança autossômica dominante, com manifestações caracterizadas por fraqueza proeminente dos músculos extra-oculares e do músculo faríngeo, e também discreta fraqueza da musculatura das cinturas. As manifestações clínicas geralmente iniciam entre a quarta e sexta décadas de vida, progredindo lentamente por muitos anos. É importante a história familiar, pois sempre há casos semelhantes na família (EMERY, 1998). A distrofia com comprometimento distal é uma forma rara de distrofia que causa fraqueza de grupos musculares distais sem o notável comprometimento de outros grupos musculares. O quadro clínico é bastante variado, podendo ter um acometimento leve que não compromete nenhuma função do indivíduo até comprometimentos mais graves que impossibilitará o paciente de deambular (EMERY, 1998). Figura 1 - Distribuição da fraqueza de acordo com a musculatura predominante em diferentes tipos de distrofia: Fileira de cima da esquerda para direita (Duchenne/Becker, tipo congênita, tipo cinturas), fileira de baixo da esquerda para direita (facioscapulohumeral, distal, oculofaríngea). Fonte: EMERY, A. E. H. The Muscular Dystrophies. British Medical Journal, Devon, v. 317, Outubro, 1998. p. 993. 2.2. DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE 2.2.1. Conceito A distrofia muscular mais freqüente é a Distrofia Muscular Pseudo-hipertrófica, também conhecida como Distrofia Muscular de Duchenne (DMD). Foi descrita pela primeira vez pelo neurologista francês Guillaume Benjamin Duchenne em 1868, desde então a doença passou a ser conhecida como Distrofia Muscular de Duchenne (SHEPHERD, 1998). Slutzky (1997) considera que esta doença começou a ser conhecida e compreendida a partir dos estudos do médico Duchenne no século passado. Esta doença é de rápida progressão e é a mais grave das distrofias musculares; é hereditária de modo recessivo ligado ao X (THOMPSON, 2000), pode ser classificada como uma expressão fenotípica variável de um defeito genético no local Xp21 do cromossomo X, sendo que o produto deste gene anormal é um conteúdo muscular reduzido da proteína estrutural distrofina (FENICHEL, 1995). 2.2.2 Histórico A distrofia muscular não era nenhuma aflição para a antigüidade, antes de Duchenne outros médicos e estudiosos já haviam descrito a doença, entre eles o escocês Charles Bell, famoso por descrever a paralisia do nervo facial, no ano de 1830 em seu trabalho “The Nervous System of the Human Body” descreveu um caso de distrofia muscular. O médico inglês Edward Meryon observava famílias que tinham comprometimento muscular e fraqueza severa dos membros durante a vida e fez estudos pós-mortem em dois casos de meninos destas famílias descrevendo em 1864 os achados microscópicos dos tecidos musculares destes meninos. Em 1865, Griesinger foi o primeiro a fazer uma biópsia e confirmar a presença de abundante tecido adiposo no lugar dos músculos. O trabalho de William Erb publicado em 1891 foi o primeiro a tentar a diferenciar os vários tipo de distrofias e classificá-las de acordo com a idade de início, porém Erb teorizava que a distrofia muscular era causada por nutrição inadequada. Em 1879, o neurologista inglês William Gowers escreveu a maneira como os meninos que eram afetados pela distrofia muscular de Duchenne tentavam se levantar, esta manobra passou a ser conhecida como sinal ou manobra de Gowers (JAY e VAJSAR, 2001). Downie (1987) coloca que o termo distrofia muscular foi introduzido pela primeira vez durante o século passado, principalmente no contexto da perturbação estrutural muscular vista através de exame microscópico sendo aplicado somente posteriormente, pela convenção de um número de diferentes perturbações. Atualmente, as pesquisas na área da biologia molecular têm permitido um grande avanço na compreensão dos mecanismos patológicos responsáveis, o que passa a ser de fundamental importância para a prevenção e os futuros tratamentos da DMD (ZATZ, 2002). 2.2.3. Incidência Quanto à incidência da DMD, é bastante grande a variação de autor para autor, mas todos concordam em ser uma patologia de grande incidência. De acordo com Reed (2002), a DMD tem alta prevalência (3:100.000) e alta incidência(3:1.000 meninos). Para Ratliffe (2000) A DMD tem incidência de 1 em 3.500 nascimentos com vida no sexo masculino. Concordando com os outros autores, Rowland (1997) cita que a incidência da DMD é estimada em 1 a cada 3.500 nascimentos do sexo masculino, não existindo variação geográfica nem étnica nesta população, sendo que esta prevalência é menor no adulto, onde a incidência é de 1 em 18.000 homens. Segundo Thompson (1993), a freqüência em portadoras do sexo feminino é de 1 a cada 2.500 meninas. 2.2.4. Etiologia O homem que apresenta um gene defeituoso irá desenvolver a doença visto que ele tem um cromossomo X e o outro Y; já a mulher, por ter dois cromossomos X, estará protegida da doença mesmo que um de seus cromossomos tenha uma mutação ou um defeito, sendo ela portadora podendo passar para seus filhos do sexo masculino, que desenvolverão a doença ou então para suas filhas que poderão se tornar portadoras (RATLIFFE, 2000). Embora pertencer ao sexo masculino seja um dos critérios de diagnóstico da DMD, anormalidades do cromossomo X podem também causar distrofia muscular progressiva, de início precoce, em meninas heterozigotas (LEITÃO et al., 2001). As mulheres portadoras podem ser assintomáticas ou sintomáticas em diferentes graus: hipertrofia de panturrilha, cardiomiopatia ou miopatia leve (REED, 2002). A hipótese de ter meninas com sintomas é explicada pela ‘hipótese de Lyon’, no qual um cromossomo X normal é inativado e o cromossomo com deleção genética é ativo. Pode ocorrer em meninas com Síndrome de Turner, no qual o único cromossomo X tinha a deleção genética Xp21 (BERHMAN et al., 2000). Segundo Reed (2002), quase não há variação étnica na DMD, e a doença apresenta uma taxa de mutação calculada de 10-4, uma ordem de grandeza maior que a da maioria das outras doenças genéticas. Ou seja, de uma produção de cerca de 8x107 espermatozóides por dia, um homem normal produzirá um espermatozóide com uma nova mutação do gene da DMD a cada 10 segundos. A DMD é apresentada como uma doença recessiva ligada ao X típica letal em homens, de modo que se prevê que um terço dos casos é de novos mutantes e dois terços de pacientes cujas mães são portadoras (THOMPSON e THOMPSON, 1993). Atualmente os pesquisadores começaram a identificar algumas anomalias genéticas que se manifestam por meio das doenças musculares progressivas. Houve vários progressos no que diz respeito a identificação de compostos que se apresentam alterados ou que estão ausentes em conseqüência das mutações e dos defeitos genéticos. Uma das principais descobertas se refere à distrofina, ou seja, uma proteína que está ausente ou alterada na DMD (BURNS e DONALD, 1999). Após a localização do gene da DMD no braço curto do cromossomo X, em 1981, que levou à sua clonagem em 1987, descobriu-se que o produto do gene DMD é uma proteína do citoesqueleto da membrana, denominada distrofina (ZATZ, 2002). A produção defeituosa de distrofina, uma proteína codificada pelo da gene da DMD, é o principal defeito bioquímico encontrado nos portadores de DMD (THOMPSON, 2000). A distrofina é codificada por um gene Xp21. Esta proteína subsarcolêmica fixa-se à membrana sarcolêmica sobre as bandas A e M das miofibrilas (BERHMAN et al., 2000). A caracterização da proteína distrofina por Western Blotting e imonofluorescência demonstra que os pacientes com DMD têm pouca ou nenhuma distrofina. O gene responsável por produzir a distrofina foi clonado em 1987 e sabe-se que a perda da sua função ocorre pela maior parte por deleção do gene (60%), ou seja a perda de um segmento cromossômico resultando em desequilíbrio do cromossomo, duplicação do gene (5%), que pode se originar por um crossing-over desigual ou por segregação anormal da meiose em portadores de translocação ou inversão, e mutação de ponto que é caracterizada por qualquer alteração permanente no DNA (30%) (THOMPSON e THOMPSON, 1993). 2.2.5. Anatomia Patológica Algumas dúvidas ainda reinam a respeito das principais alterações anatomopatológicas. Observam-se diminuição do número de fibras musculares, atrofia das fibras, necrose, sinais de fagocitose, infiltração gordurosa e aumento do tecido conjuntivo (SHEPHERD, 1998). Como era de se esperar, as anormalidades histopatológicas e anatomopatológicas na DMD incluem variação do tamanho (diâmetro) das fibras (em virtude da presença tanto de pequenas quanto fibras gigantes), maior número de núcleos internalizados, degeneração, necrose e fagocitose das fibras musculares, regeneração das fibras musculares, proliferação de tecido conjuntivo endomisial, perda das estrias transversais das fibras hialinas que estão arredondadas e aumentadas (consideradas fibras hipercontraídas). Em estágios subseqüentes, os músculos acabam sendo substituídos quase totalmente por gordura e tecido conjuntivo, produzindo um aspecto indiferenciável do estágio terminal das outras doenças musculares. O acometimento cardíaco, quando presente, consiste em fibrose intersticial inespecífica, mais proeminente nas camadas subendocárdicas. Apesar de algumas evidências clínicas de disfunção no sistema nervoso central na DMD, não foram descritas anormalidades neuropatológicas constantes (ROBBINS, 1996). A atrofia muscular na DMD surge primariamente devido à perda gradual das fibras musculares funcionais, que são substituídas por tecido adiposo e conjuntivo; isso fica evidente na biópsia muscular. A manifestação clínica dessa proliferação de tecido adiposo e conjuntivo é a pseudo-hipertrofia (aumento do tecido conjuntivo entre as fibras) de certos grupos musculares, particularmente a panturrilha (THOMPSON, 2000). Os pacientes que apresentam distrofia muscular progressiva apresentam degeneração progressiva dos músculos esqueléticos, com preservação da inervação. Na DMD há ausência de uma proteína citoesquelética denominada distrofina que compromete a contração e o relaxamento muscular, sendo que o influxo de cálcio leva à necrose e posteriormente à fibrose da fibra muscular, afetando sua força (AZEREDO, 2002b). A distrofina é uma proteína alargada em forma de filamentos localizada na superfície interna do sarcolema. A função da distrofina é de possibilitar uma conexão da membrana celular, internamente, ao mecanismo contrátil da actina e aos filamentos de miosina e, externamente, com a membrana basal. A distrofina liga-se a um amplo complexo glicoprotéico, que envolve o sarcolema e liga-se à lâmina basal, na matriz extracelular. A organização e as propriedades características de articulação das moléculas de distrofina conduzem ao nível de elasticidade da membrana celular. Com isto, protege sua integridade durante os processos de contração e relaxamento. (SLUTZKY, 1997). Considera-se que a distrofina forma uma rede esquelética na membrana celular dos músculos, e proporciona integridade e estabilidade a essa membrana, em especial durante o estresse associado aos ciclos repetitivos de contração e relaxamento. A falta de produção de distrofina pode explicar a redução na permeabilidade da membrana da célula muscular, permitindo assim, que quantidades excessivas de cálcio se acumulem no interior da fibra muscular, levando a supercontratura miofibrilar, degradação das miofibrilas e vários distúrbios que culminam na morte da fibra muscular. Ainda que a função precisa dessa proteína citoesquelética não seja compreendida, sua ausência está associada ao mau prognóstico (THOMPSON, 2000). A deficiência de distrofina, de acordo com Slutzky (1997), também causa perda na membrana, como no complexo glicoprotéico, e enfraquece os ramos entre a lâmina basal e o sarcolema, possibilitando a ocorrência de rompimentos. A perda do suporte da lâmina basal torna-a frágil. As alterações no sarcolema impossibilitam o influxo normal de cálcio, o que acarreta o surgimento de áreas de necroses segmentárias. Para Burns e Donald (1999) a distrofina tem o papel de reforçar mecanicamente o plasmalena, tornando-o resistente aos efeitos normais da contração; a falta de distrofina provocaria, na opinião dos autores, soluções focais de continuidade da membrana plasmática, durante a contração das fibras musculares; por sua vez, estas soluções de continuidade dariam início à necrose segmentar, sendo que as fibras de maior calibre (tronco e membros inferiores) apresentam maior tendência à necrose; a regeneração das fibras que sofreram necrose é intensa, porém ocorrem erros durante a regeneração, observa-se uma destruição progressiva de fibras musculares, as quais são substituídas por tecido adiposo e fibroso. Em um estudo realizado por Mansur (2000) no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo nos achados anatomopatológicos, foram encontradas manchas necróticas excessivas e também a presença de degeneração das fibras de hialina, com uma variação no diâmetro das fibras musculares e substituição destas fibras por tecido conjuntivo e gorduroso, que se prolifera no perimísio e endomísio. 2.2.6. Quadro Clínico O quadro clínico clássico da DMD é uniforme (REED, 2002). Observa-se em muitos pacientes portadores de DMD um atraso do desenvolvimento motor, sendo que a criança é levada ao médico geralmente por volta dos 3 anos de idade, com uma história de quedas freqüentes e dificuldade para correr e subir rampas e escadas (SHEPHERD, 1998). As primeiras manifestações clínicas na criança com DMD, descritas por Thompson (2000), é a demora que a criança apresenta para começar a sentar, ficar em pé e caminhar, e ainda, quando começa a caminhar, cai com grande freqüência. Aos cinco anos de idade a criança já apresenta uma importante atrofia muscular e se torna incapaz de correr ou saltar. O exame físico revela hipertrofia da musculatura da panturrilha, devido à compensação, que posteriormente vai evoluir para uma pseudo-hipertrofia, uma vez que o tecido muscular é substituído por tecido adiposo e conjuntivo (Fig. 2). Figura 2 – Hipertrofia de Panturrilha em menino portador de DMD. Fonte: SHEPHERD, R. B. Fisioterapia em Pediatria. 3ª ed. São Paulo: Santos Livraria Editora, 1998. p. 281. A dificuldade para se levantar do chão é devido a atrofia dos músculos extensores do quadril e joelho. No início a criança precisa ajudar a extensão do quadril e joelho empurrando com a mão, se quiserem se levantar do chão (THOMPSON, 2000). Esta manobra denominada “Sinal de Gowers”, é adotada devido a fraqueza dos músculos extensores, corresponde a um sinal clássico da DMD, porém não é restrito à ela.(SHEPHERD, 1998). Com a evolução da doença e a atrofia dos músculos, os reflexos tendíneos tornam-se deprimidos e, finalmente, perdem-se, sem que ocorra perda sensorial (THOMPSON, 2000). As alterações degenerativas e a fibrose muscular não causam mialgias ou espasmos musculares (BERHMAN et al., 2000). A marcha se modifica à medida que a força muscular diminui. Uma das alterações mais precoces é o aumento da lordose lombar; os ombros e a metade superior do tronco é mantido para trás. A marcha torna-se tipo estepante, onde se pode observar mais tarde uma marcha anserina típica e a dificuldade para se manter o equilíbrio aumenta gradualmente. A mecânica patológica progressiva encontrada na marcha de crianças com DMD foram descritas por Sutherland et al.1 (apud SHEPHERD, 1998, p. 283) através de imagens eletromiográficas, filmagens e padrões de força. Eles notaram uma posição eqüina do pé, que se intensifica à medida que a doença evolui. Os dados obtidos pelos pesquisadores demonstraram que a principal deficiência encontrada na marcha das crianças acometidas por DMD é a insuficiência do músculo quadríceps, resultando então, num aumento da força de contração dos músculos da panturrilha para compensar a tendência para a flexão dos joelhos durante a fase de apoio, tendência esta que seria devida à fraqueza do músculo quadríceps. Esta fraqueza do quadríceps é responsável também por uma maior inclinação da pelve para diante e pela falta de extensão da coxa; e o eqüinismo progressivo dos pés também pode ser considerado com uma conseqüência desta postura (SHEPHERD, 1998). Outras alterações podem ser encontradas durante a marcha da criança com DMD, um sinal que é bastante conhecido é o alargamento da base de sustentação para aumentar a estabilidade, que contribui para a evolução das contraturas de abdução do quadril (THOMPSON, 2000). Outras características anormais que podem ser observadas durante a marcha e que se manifestam à medida que a força muscular diminui consistem em oscilações laterais do tronco e em abdução do braço ipsilateral, como uma forma de compensar a fraqueza do músculo glúteo médio (SHEPHERD, 1998). Os pesquisadores ainda chamam a atenção para uma diferença entre a lordose lombar, que pode ser observada precocemente, e a inclinação pélvica para frente, a qual se manifesta mais tardiamente. A lordose que é observada durante a marcha e na posição em pé resulta de um alinhamento posterior da metade superior do tronco, que não é causada pela fraqueza da musculatura abdominal. Alguns autores ainda comentam que a lordose é a primeira manifestação de um mal alinhamento encontrada nos portadores de DMD, os estudos eletromiográficos e a análise biomecânica mostram que este alinhamento é assumido para manter a linha de força por trás da articulação coxofemoral (SHEPHERD, 1998). A postura vertical normalmente é mantida pela interação dinâmica de muitos músculos diferentes, que puxam um contra o outro e contra as vértebras, e com isso, impedem a coluna de formar curvas que seriam patológicas. A função das vértebras é de transferir o peso do corpo umas para as outras e posteriormente para a pelve. Quando os músculos responsáveis para deixar as vértebras nas suas posições estão debilitados, a vértebra pode sair do seu alinhamento, causando uma condição conhecida como escoliose (ROBINSON, 1997). A escoliose pode ocorrer em alguns meninos e não é causada pelo uso precoce da cadeira de rodas (FENICHEL, 1995). Segundo Bach (1999), na fase onde a criança deixa de andar, ocorre a instalação rápida de uma curva escoliótica grave que pode alcançar 70 a 150 graus. Algumas pesquisas realizadas na década de 80, comprovaram o aumento progressivo da curvatura da coluna nos meninos portadores de DMD, chegando à conclusão de que a escoliose evolui certamente. Outras pesquisas verificaram que o ângulo médio de escoliose é de 10º em meninos com menos de 10 anos, sendo de 75º em rapazes com mais de 16 anos. O surto do crescimento da puberdade contribui para o aumento rápido da escoliose. É esperado que a fusão das vértebras reduza os efeitos da escoliose sobre a função respiratória, porém a fraqueza muscular continua a comprometê-la (BURNS e DONALD, 1999). A escoliose compromete ainda mais a capacidade pulmonar e pode, ainda, comprimir o coração. De acordo com Robinson (1997), a escoliose freqüentemente resulta de um sistema de equilíbrio que tenta compensar o mal alinhamento, como uma tentativa de manter o centro da gravidade sobre a pelve. Na DMD a escoliose é bastante comum e a idade de início é em média os 10 anos, geralmente acompanhando a transição para a cadeira de rodas. Portanto, o aumento do tempo que o portador passará sentado pode apressar a progressão da curva. Os estirões de crescimento também influenciam na progressão da escoliose, pois o aumento do peso e da altura aumentarão a tensão extra colocada sobre os músculos que estão debilitados. 1 SUTHERLAND, D. H. et al. Pediatric Neurology. Principles and Practice. St Louis, 1989. Langer (2000) confirma esta hipótese quando coloca a escoliose como sendo uma complicação comum da DMD comprometendo de forma intensa a capacidade vital. A autora ainda comenta que a cirurgia para a correção da escoliose não deverá ser postergada, pois a correção não será eficiente e também se a capacidade vital estiver menor que 23% poderá apresentar alto risco operatório. Ou seja, a indicação do momento cirúrgico também depende da capacidade vital. Em indivíduos normais há um platô de capacidade vital em torno dos 19 anos, com decréscimo de 1 a 2% ao ano. Em pacientes com DMD o pico é em torno de 10 a 15 anos. Caso neste platô a capacidade vital tenha um volume de ar menor que 1500 ml, ocorre escoliose em 100% dos casos, com quadro severo. A cirurgia nestes casos tem indicação precoce. Por outro lado, quando no platô há capacidade vital com 3000ml de ar, acima de 25% dos pacientes com DMD não desenvolvem escoliose severa e, portanto, não requerem intervenção. Neste caso pode-se aguardar a curvatura chegar a 40 graus. Na escolha do momento cirúrgico deve-se ter em mente que pacientes com DMD tem perda da capacidade em torno de 20% ao ano sem correção da escoliose. Após a cirurgia esta perda declina para 5% ao ano. Por outro lado, um estudo realizado por Lord et al.2 (apud CARTER, 1997) não encontrou uma relação direta entre a escoliose e o uso de cadeira de rodas. Neste estudo, LORD e colaboradores verificaram uma porcentagem significante de crianças portadoras de DMD que desenvolviam escoliose antes de se tornarem dependentes da cadeira de roda. Os autores explicam que o aparecimento precoce da escoliose pode estar relacionada a fatores como a fraqueza muscular do tronco, envelhecimento das fibras musculares, estirões de crescimento e outros fatores que não foram identificados. As anormalidades de tórax, entre elas a escoliose e o pectus excavatum, é muito comum em portadores de DMD diz Birnkant (2002). O autor ainda comenta que tais alterações podem contribuir com a diminuição da expansibilidade pulmonar, e a restrição da parede torácica. Um estudo realizado por Carter (1997), em portadores de doenças neuromusculares, diz que as contraturas em membros inferiores e tronco estão diretamente relacionadas a um prolongado posicionamento estático e, freqüentemente, estas contraturas levam o paciente a cadeira de rodas. Após o confinamento na cadeira de rodas associado a falta de musculatura para suportar o peso do corpo, as contraturas evoluem rapidamente. Os locais mais acometidos pelas contraturas são os tornozelos, joelhos, quadris e cotovelos. 2 LORD, J. et al. Scoliosis associated with Duchenne muscular dystrophy. Archives Physical Medicine Rehabilitation. V. 71, p. 13-17, 1990. A densidade mineral óssea é influenciada por diversos fatores, entre eles a deambulação e o uso de drogas. Em um estudo realizado por Talim et al. (2002) verificou-se que portadores de DMD possuem um risco aumentado de desenvolver osteoporose e consequentemente de haver fraturas. Isto fica mais evidente depois da perda da deambulação e o uso de esteróides. No mesmo estudo realizado com um portador de DMD de 14 anos que já não deambulava, os autores verificaram uma compressão vertebral a nível lombar (L2, L3 e L4) e densidade óssea reduzida. Os problemas respiratórios, salientados por Leitão et al. (2001), resultam essencialmente de uma escoliose de característica progressiva, do achatamento ânteroposterior da caixa torácica, hipoventilação noturna e conseqüente hipercarbinemia. O conjunto destes fatores, de acordo com os autores, reduz a função pulmonar e sua capacidade de limpeza, propiciando o risco de infecções que resultam de aspiração criada pelo comprometimento do mecanismo de deglutição. A deterioração da capacidade vital para menos que 20% do normal leva a sintomas de hipoventilação noturna. A criança constantemente acorda durante a noite e tem medo de dormir (FENICHEL, 1995). A dispnéia por esforços é rara nas crianças com DMD, tal dispnéia raramente se desenvolve em virtude da progressiva e constante diminuição da atividade física e da deambulação (SLUTZKY, 1997). Outra complicação respiratória que pode ocorrer na DMD é que, com a fraqueza dos músculos da parede torácica, quando o diafragma contrai durante a inspiração gerando uma pressão intratorácica negativa causa uma instabilidade da parede do tórax. Esta instabilidade fará com que o paciente apresente uma padrão anormal de respiração, denominado de respiração paradoxal. Este tipo de respiração é ineficiente e faz com que o paciente tenha um trabalho aumentando para respirar, aumentado o gasto energético e correndo o risco de causar fadiga da musculatura respiratória (BIRNKANT, 2002). Berhman et al. (2000) coloca que pode ocorrer fraqueza dos músculos da faringe, provocando períodos de aspiração, regurgitamento nasal de líquidos e um tom anasalado da voz. Outra alteração mencionada por Birnkant (2002) é que, com a fraqueza dos músculos da faringe o paciente pode apresentar disfagia, disfonia e aspirações freqüentes. O desenvolvimento e o crescimento do tórax ocorre de forma quase normal, sem ou com pouca perda de força dos músculos respiratórios, devido isso os volumes e capacidades pulmonares ficam preservados. entretanto, na fase onde a criança começa a perder a deambulação, progressivamente a capacidade vital (CV) tende a cair. Isto é devido, parcialmente, ao desenvolvimento de uma escoliose e, gradativamente, pela perda dos músculos respiratórios. O volume residual (VR) aumenta e é seguido por uma queda da capacidade pulmonar total (CPT), estas alterações ocorrem devido a perda da força dos músculos respiratórios; a capacidade residual funcional (CRF) permanece normal. Vale ainda lembrar que a queda na CV relaciona-se linearmente com a idade, ou seja, os músculos respiratórios, assim como os demais músculos esqueléticos envolvidos, também desenvolvem fraqueza muscular progressiva. A obstrução do fluxo de ar não constitui uma característica da DMD e a complacência pulmonar também é virtualmente normal (SLUTZKY, 1997). Um estudo realizado por Bruin et al. (1997) demonstra que o fracasso ventilatório é a causa mais comum de mortalidade na DMD. A fraqueza da musculatura respiratória progressiva começa cedo porém, devido a hipercapnia ser normalmente em fase pré-terminal, foi sugerido que o diafragma pudesse ser seletivamente poupado até uma fase tardia da doença. No mesmo estudo, os autores constataram que a densidade do músculo diafragma está aumentada em pacientes jovens com DMD, com força da musculatura respiratória prejudicada. Esta alteração é explicada pelos autores como uma analogia a pseudo-hipertrofia que é encontrada em alguns grupos musculares. Porém, um estudo realizado por Papastamelos et al. (1996) demonstra que a complacência da parede do tórax em crianças portadores de doenças neuromusculares está evidentemente reduzida devida a presença da fraqueza da musculatura respiratória, o que vai refletir num endurecimento do tecido conjuntivo gerando então um quadro parecido ao de uma doença pulmonar restritiva de característica crônica. A cardiomiopatia é uma complicação constante na DMD, e suas alterações patológicas essenciais consistem em atrofia da musculatura cardíaca acompanhada de substituição de suas fibras por tecido colágeno. Tardiamente, o paciente pode apresentar fadiga, dispnéia e taquicardia ao realizar um esforço físico. Além disso, podem ocorrer episódios súbitos de palpitação, transpiração, vômitos e até mesmo dor abdominal (LEITÃO et al., 2001). Já Thompson (2000) coloca que as complicações cardíacas, apesar de assintomáticas, são menos evidentes do que se poderia esperar nos pacientes com DMD, provavelmente devido à vida sedentária, apesar das evidências de comprometimento do músculo cardíaco. O miocárdio apresenta intensa perda de fibras musculares que são substituídas por tecido conectivo adiposo. Apesar disto, em alguns indivíduos o débito cardíaco aumenta e a pressão capilar pulmonar poderá estar normal. São comuns as presenças de taquicardia sinusal e de terceira ou quarta bulhas cardíacas à ausculta. A insuficiência cardíaca pode ser precipitada por infecções, ou surge em um estado pré-terminal da doença. O coração, geralmente, apresenta dimensões radiográficas normais até os estágios mais tardios da doença. O eletrocardiograma pode ser normal, ou então, apresentar pequenas alterações em seu traçado (SLUTZKY, 1997). Segundo Slutzky (1997), ainda pode ocorrer uma degeneração multifocal do tecido condutor do coração, causando arritmias cardíacas. Wahl (1999) explica que portadores de doenças neuromusculares podem apresentar anormalidades no sistema elétrico do coração, causando alterações na freqüência cardíaca, podendo se tornar lentas, rápidas ou irregulares. Em um estudo realizado por Grain et al. (2001) em portadores de DMD e distrofia muscular de Becker, os resultados foram bastante encorajadores aos pacientes. Embora a cardiopatia seja uma complicação bastante significante, não é comum. Apenas 12% dos portadores de DMD que participaram do estudo tinham alterações de eletrocardiograma que poderiam evoluir para uma cardiomiopatia importante. Outra complicação que pode ser encontrada em meninos portadores de DMD, porém em fase avançada, é o fenômeno descrito como “row-a-boat” ou “fenômeno do remar o barco”. Este sintoma foi descrito por Yasuma et al. (2001) e caracteriza um movimento da parte superior do tronco, espontâneo e rítmico. É comum ser encontrado em pacientes que são transferidos da posição supina (na cama) para uma posição vertical (sentada) com ventilação mecânica parada temporariamente. O paciente começa a balançar o tronco para frente e para trás em um ritmo fixo, sincronizado com a respiração. Em um ciclo desta respiração anormal, o paciente eleva a mandíbula e estende o pescoço quando inspira e então, abaixa a mandíbula levando-a para perto do esterno e flexionando o pescoço durante a expiração. Apesar da falta do movimento dos braços, o movimento se parece como se paciente estivesse remando um barco. Os autores não sabem explicar o porque deste fenômeno, uma das hipóteses é de que este padrão anormal de respiração ocorre voluntariamente para compensar a musculatura respiratória que se encontra atrofiada. Os meninos com DMD são normais por ocasião do nascimento, e os padrões motores iniciais se instalam na época oportuna, porém a marcha é retardada com freqüência e as primeiras indicações de fraqueza muscular consistem na falta de jeito e na incapacidade de acompanhar os meninos da mesma idade que a sua (ROBBINS, 1996). As manifestações clínicas tornam-se evidentes no decorrer dos primeiros cinco anos de vida, evoluindo a doença até o paciente perder a capacidade para andar, o que ocorre entre os sete e treze anos de idade. O paciente falece na segunda ou terceira década de vida, geralmente em conseqüência da insuficiência respiratória. A perda progressiva da força muscular é relativamente simétrica; inicia-se nas raízes dos membros das cinturas escapular e pélvica, assim como no tronco. As mãos costumam preservar certa capacidade funcional até a fase final da doença, mas a fraqueza extrema dos braços e dos músculos da cintura escapular faz com que a criança dificilmente consiga usar as mãos sem nenhuma ajuda mecânica. A fraqueza progressiva da musculatura, o desequilíbrio entre os músculos agonistas e antagonistas e a ação da gravidade levam à contraturas das partes moles. Finalmente, o confinamento do paciente à cadeira de rodas tende a acelerar ainda mais o desenvolvimento de encurtamentos, contraturas e deformidades. Após o paciente ficar confinado à cadeira de rodas, a fraqueza da musculatura respiratória torna a tosse ineficaz, dando lugar a infecções freqüentes das vias aérea (SHEPHERD, 1998). O desequilíbrio muscular causado pelo desenvolvimento da atrofia e pelo mal alinhamento postural resultante de ajustes compensatórios para a manutenção do equilíbrio são eventos que precipitam o aparecimento de encurtamentos, contraturas e deformidades. São relativamente leves quando a criança ainda tem a capacidade de andar, mas podem se tornar extremamente incapacitantes quando a criança passa a depender de cadeira de rodas (THOMPSON, 2000). É fundamental saber que a DMD é uma doença de múltiplos sistemas, e não apenas uma patologia que afeta os músculos esqueléticos. Alguns problemas gastrintestinais podem se tornar evidentes por meio de alguma disfunção orofaríngea, esofágica e gástrica (THOMPSON, 2000). Acredita-se que até um terço dos meninos com DMD tem algum tipo de prejuízo intelectual ou deficiência cognitiva, e em casos severos, a educação especial pode ter que ser considerada (EMERY, 1998). O quociente intelectual médio dos pacientes com DMD situa-se em torno de 80; porém, alguns autores acham que nas crianças com deficiência mental, os sinais de comprometimento da inteligência precedem às vezes o início da miopatia, indicando que talvez não exista relação entre o atraso mental e a deficiência física (SHEPHERD, 1998). Cerca de 59% dos pacientes têm inteligência inferior a normal (QI 79-85); outros têm inteligência normal ou superior. O retardo mental não aumenta com a idade (THOMPSON, 2000). A epilepsia é ligeiramente mais comum do que na população pediátrica em geral (BERHMAN et al., 2000). Conforme a doença progride, os problemas respiratórios e cardíacos vão se agravando, sendo responsáveis por cerca de 90% dos óbitos; geralmente antes dos 20 anos (THOMPSON, 2000). Esta miopatia progressiva é universalmente fatal, com morte que normalmente acontece de complicações respiratórias ou cardíacas (CARTER, 1997). 2.2.7. Diagnóstico Fisioterapêutico A clínica mostra que, em geral, o nascimento de uma criança portadora de DMD é normal. Sabe-se também que seu neurodesenvolvimento inicial ocorre sem problemas, mas é preciso recolher todas as informações a seu respeito a fim de se alcançar o diagnóstico correto (LEITÃO et al., 2001). A idade e o modo de instalação das manifestações clínicas também são fatores importantes na avaliação do diagnóstico nas doenças neuromusculares das crianças (REED, 2002). Durante a tomada da anamnese, deve-se estar atendo a história familiar da criança, uma vez que a existência de outro miopata na família constitui dado de importante valor (LEITÃO et al., 2001). A criança deve ser avaliada em intervalos regulares para orientar um tratamento adequado e decidir sobre uma eventual aplicação de órteses (SHEPHERD, 1998). O fisioterapeuta deve iniciar o exame físico observando o modo que a criança se senta, fica de pé e o jeito dela andar. As atrofias ou hipertrofias devem ser procuradas durante o teste de inspeção e posteriormente enquanto se realiza a palpação. Com o exame individual dos músculos, eles devem ser palpados para verificar a textura e os pontos sensíveis. A textura de um músculo normal é bastante diferente da textura “borrachosa” de um músculo distrófico infiltrado com colágeno e gordura (FENICHEL, 1995). Em crianças que deambulam, o fisioterapeuta deve ficar atento as queixas de quedas muito freqüentes, dificuldade para correr e subir escadas e alteração da marcha acompanhada de báscula de bacia (REED, 2002). Thompson (2000) coloca que a análise total e regular do portadores de DMD é essencial devido às rápidas mudanças que sofrem. A força muscular pode ser testada através do teste manual ou então com o uso de um dinamômetro. As análises de força fornecem informações para o planejamento e monitorização da intervenção, assim como auxilia no diagnóstico. Uma escala de avaliação funcional para DMD foi publicada por Vignos, Spencer e Archibald e modificada por Brooke et al.3 (apud SHEPHERD, 1998, p. 284) para incluir a ação dos membros superiores. Esta escala se torna útil para denotar níveis funcionais e determinar quando é necessário o uso de órteses, devendo ser aplicada de 3 em 3 meses. Ao lado desses teste, o fisioterapeuta pode observar periodicamente a capacidade funcional da criança. 3 BROOKE et al. Clinical investigation in Duchenne dystrophy. Muscle Nerve. V.6, p. 91-103, 1983. Escala de Vignos, Spencer e Archibald e modificada por Brooke et al.: Membros Superiores 1 – Partindo da posição do braço ao lado do corpo, consegue elevá-lo verticalmente e tocar a cabeça; 2 – Consegue colocar a mão sobre a cabeça apenas flexionando o cotovelo; 3 – Não consegue colocar a mão sobre a cabeça, porém consegue levar um copo de água com as duas mão até a boca; 4 – Consegue levar as mãos até a boca, porém não tem força para levar um copo até a boca; 5 – Não consegue levar as mãos até a boca; porém consegue pegar um lápis ou uma moeda sobre a mesa; 6 – Não apresenta nenhum uso funcional das mãos. Membros Inferiores 1 – Anda e sobe degraus sem auxílio; 2 – Anda e sobe degraus com auxílio de um corrimão; 3 – Anda e sobe degraus vagarosamente com auxílio de um corrimão; 4 – Anda, mas não sobe escadas; 5 – Anda sem auxílio, mas não sobe degraus nem consegue levantar-se da posição sentada; 6 – Anda somente com ajuda ou usando órteses; 7 – Restrito a cadeira de rodas: senta-se ereto e propulsiona a cadeira de rodas, executa as transferências para o leito, é independente para suas AVD’s; 8 – Estando numa cadeira: senta-se ereto, consegue realizar as transferências com auxílio, é semidependente para as AVD’s; 9 – Numa cadeira, mantém-se ereto apenas com apoios ou usando órteses no tronco, dependente para as AVD’s; 10 – No leito, não executa AVD’s sem auxílio. O uso de órteses vai depender da boa funcionalidade de membros superiores do paciente e, também, se o mesmo não está restrito a uma cadeira de rodas. 2.2.8. Exames Complementares O exame de DNA em sangue periférico (ou em raspado de mucosa bucal) tem sido muito importante para o diagnóstico, evitando, em muitos casos, a realização de exames invasivos como a biopsia muscular ou a eletroneuromiografia(que além de ser um exame doloroso não auxilia no diagnóstico diferencial entre as várias formas de distrofias). Do ponto de vista prático, em casos suspeitos os passos a serem seguidos para o diagnóstico são os seguintes: dosagem das enzimas séricas ativas no soro, biópsia muscular e análise de DNA (ZATZ, 2002). A eletroneuromiografia (EMG) apesar de apresentar alterações características na DMD, não tem indicação para diagnóstico e nem para acompanhamento (LEITÃO, 2001). As alterações na EMG são diagnósticas de miopatia, mas não especificamente de DMD, e essas investigações são importantes para distinguir entre distúrbios miogênicos e neurogênicos. No estágio inicial, os potenciais de ação tem duração e amplitudes reduzidas, com potenciais polifásicos mais freqüentes que o normal; mais tarde, com a perda das unidades motoras, há muito pouca atividade (EMERY apud THOMPSON, 2000). A dosagem das enzimas séricas ativas é bastante importante no diagnóstico de miopatias, mas atualmente pesquisa-se basicamente a creatinofosfoquinase (CPK) (LEITÃO, 2001). Na investigação das doenças neuromusculares, os valores dos níveis de CPK podem ajudar a diferenciar o comprometimento muscular primário, ou miopático, do secundário, ou neurogênico por acometimento do neurônio motor periférico (REED, 2002). No que diz respeito à CPK, sua dosagem encontra-se muito elevada nas distrofias musculares ligadas ao sexo, podendo estar normal nos demais tipos (ZATZ, 2002). Nos pacientes portadores de DMD em fase avançada, com grande perda de massa muscular devido a extensa amiotrofia, a CPK pode estar diminuída em relação a exames anteriores (LEITÃO, 2001). As concentrações séricas de CPK em geral são ligeiramente superiores a 200-300 IU nos recémnascidos saudáveis; a seguir caem e permanecem constantes até uma segunda elevação ocasional ligeira durante o estirão de crescimento da adolescência; no início da DMD a enzima eleva-se até 50 vezes o normal, mas as concentrações caem mais ou menos na ocasião onde os meninos ficam confinados à cadeira de rodas, provavelmente devido à diminuição do tecido muscular funcional e à redução da atividade física (EMERY apud THOMPSON, 2000). As dosagens enzimáticas de CPK revelam aumento no sangue também em pacientes assintomáticos mas também transmissores (SHEPHERD, 1998). A biópsia muscular é indicada quando não for encontrada deleção do gene da distrofina, se não houver história familiar de herança recessiva ligada ao cromossomo X ou em crianças que são casos isolados, nas fases iniciais, para um diagnóstico diferencial. A primeira proteína a ser pesquisada é a distrofina, pela técnica de imunofluorescência e western blot. No caso de diagnóstico de DMD a distrofina está ausente (ZATZ, 2002). De um modo geral, nas distrofias musculares há redução do diâmetro das fibras, com padrão miogênico, proliferação fibrosa endomisial, infiltração adiposa e atividade inflamatória (LEITÃO, 2001). Esta técnica foi defendida pela primeira vez por Duchenne, no século XIX, mas foi empregada como uma investigação clínica confiável só recentemente; a biópsia cruenta sob anestesia geral já não é necessária, embora alguns clínicos ainda prefiram realizá-la, apesar de alguns riscos. A histologia revela variação do tamanho da fibra, fibras arredondadas proeminentes que se coram densamente com eosina, necrose com fagocitose, e eventual substituição por gordura. A medida de distrofina está ausente na DMD, a gravidade da doença e sua velocidade de progressão podem variar inversamente com a concentração de distrofina no músculo (EMERY apud THOMPSON, 2000). Na análise do DNA vão ser realizadas pesquisas de deleção no gene da distrofina; se for encontrada a deleção confirma-se o diagnóstico de DMD (ZATZ, 2002). Este teste tem sido usado par identificar a localização anormal do gene em Xp21 e é particularmente útil em conjunto com o teste de CK sérica, no sentido de proporcionar 95% de precisão na detecção de portadores do sexo feminino (EMERY apud THOMPSON, 2000). 2.3. ANATOMIA FUNCIONAL DO SISTEMA RESPIRATÓRIO Silva e Porto (2001) colocam que para o desempenho normal da função respiratória no setor pulmonar, ou seja, o transporte de oxigênio e gás carbônico entre a atmosfera e o sangue, depende da integridade das diversas estruturas anatômicas envolvidas e da perfeita integração funcional destas estruturas. Conhecer o sistema respiratório é fundamental para o fisioterapeuta distinguir com segurança os sinais e sintomas de diversas disfunções. 2.3.1. Pulmões Pode-se dizer que, numa visão superficial, cada pulmão tem forma cônica e é coberto por uma pleura visceral, sendo que o pulmão direito é ligeiramente maior que o pulmão esquerdo e é dividido pelas fissuras oblíqua e horizontal nos lobos superior, médio e inferior; o pulmão esquerdo tem apenas dois lobos, superior e inferior, separados pela fissura oblíqua. Os lobos são divididos em segmentos broncopulmonares, sendo que cada um recebe um brônquio e artéria segmentares, e dão origem a uma veia (SHAFFER et al., 1994) (Fig. 4). Os pulmões ocupam as porções laterais da cavidade torácica, com os ápices ultrapassando a abertura superior do tórax e as bases localizadas sobre a face convexa do diafragma (AIDÉ, 2001). De acordo com Costa (1999) os pulmões ocupam a maior parte do tórax, e apresentam entre si o coração. Eles apresentam um formato piramidal, sendo o ápice a porção superior e a base inferior. A base é mais elevada anteriormente e mais inferior posteriormente. Os pulmões são formados essencialmente por tecido elástico que apresenta características de uma esponja e pode ser denominado de parênquima pulmonar. Os pulmões são envolvidos por uma membrana, denominada pleura visceral, que reveste também a porção interna da caixa torácica, recebendo denominação de pleura parietal. Os pulmões são subdivididos em lobos, sendo que o direito é dividido em três lobos e o esquerdo, apenas dois. O conhecimento dessas áreas, salienta o autor, é de extrema importância para a aplicação de algumas técnicas usadas na fisioterapia, como por exemplo a drenagem. A substância do pulmão é de uma leve textura porosa, o pulmão flutua na água e crepita quando palpado, devido à presença de ar nos alvéolos. Pode ser considerado, também, altamente elástico, daí o estado retraído dos pulmões removidos da cavidade fechada do tórax (ZIN, 2000). Rozov (1999) descreve os pulmões como um sistema de tubos (vias aéreas), dispostos tanto em série como em paralelo, acoplados ao se final a um sistema de foles elásticos (território alveolar). O pulmão direito tem três lobos, o superior o médio e o inferior, separados pela fissura oblíqua e pela fissura horizontal. Já o pulmão esquerdo é composto de dois lobos, superior e inferior, separados pela fissura oblíqua (AIDÉ, 2001). Figura 4 – Pulmões e brônquios. Fonte: PUTZ, R. e PABST, R. Sobotta: Atlas de Anatomia Humana. V. 2. 20ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995. p. 94. 2.3.2. Vias Aéreas O ar é distribuído aos pulmões devido à traquéia, aos brônquios e aos bronquíolos. Guyton (1997) diz que a traquéia é uma via aérea de primeira geração e os dois bronquiofontes são vias aéreas de segunda geração e daí por diante, sendo que cada divisão constitui uma nova geração. Neste trajeto, o ar percorre cerca de vinte e cinco gerações até alcançar os alvéolos. Fazem parte das vias respiratórias, segundo a Nomina Anatômica do comitê internacional de nomenclatura anatômica , os seguintes órgãos : nariz, cavidade nasal, faringe, laringe, traquéia e brônquios com suas divisões. Rozov (1999) classifica as vias respiratórias superiores como sendo as fossas nasais, nasofaringe, orofaringe, laringe e parte superior da traquéia. E as vias respiratórias inferiores são a parte inferior da traquéia, brônquios, bronquíolos e alvéolos. West (1990) classifica as vias aéreas como uma série de tubos que se ramificam e se tornam cada vez mais estreitos, mais curtos e mais numerosos, ao penetrarem na profundidade do pulmão. A traquéia se divide em brônquios principais direito e esquerdo, que, por sua vez, se dividem em brônquios lobares e posteriormente em segmentares. Este processo tem continuidade até os bronquíolos terminais que são as menores vias aéreas de condução, ou seja, regiões onde o ar inspirado é conduzido até as regiões onde ocorrem as trocas. Por sua vez, os bronquíolos terminais se dividem em bronquíolos respiratórios, que possuem alvéolos brotando de suas paredes, e, finalmente, chegam aos ductos alveolares. Outra forma de classificar as vias aéreas é colocada por Shaffer et al. (1994), que divide o sistema respiratório em uma porção condutora e outra porção respiratória. A porção condutora inclui o nariz, faringe, laringe, traquéia, brônquios e bronquíolos. Já a porção respiratória consiste na porção terminal da árvore brônquica e alvéolos, ou seja, o local onde ocorre as trocas gasosas. Eles ainda colocam uma terceira zona, a de transição, que seria composta pelos bronquíolos respiratórios que separa as porções condutora e respiratória. A estrutura das vias aéreas modifica-se progressivamente nos diferentes níveis do trato respiratório diz Rozov (1999). A autora ainda comenta que as vias aéreas vão se tornando cada vez mais delicadas à medida que caminha para o interior dos pulmões. Esta adaptação visa permitir o processo de troca gasosa, diminuindo a interface que se interpõe entre o meio interno e o ar inspirado. O brônquio principal direito dá origem aos brônquios do lobo superior, médio e inferior. O brônquio lobar superior dá origem a três brônquios segmentares: apical, pósterolateral e ântero-lateral. O brônquio do lobo médio divide-se em dois brônquio segmentares; anterior e lateral. O brônquio do lobo inferior direito divide-se em cinco brônquios segmentares: dorsal, cardíaco, basal anterior, basal lateral e basal posterior. Já o brônquio principal esquerdo divide-se em brônquio do lobo superior e do lobo inferior. O brônquio do lobo superior tem dois ramos; o ascendente e o descendente (língula). O ramo ascendente dá origem aos brônquios segmentares ápico-posterior e ântero-lateral; o ramo descendente (língula) divide-se em brônquios segmentares superior e inferior. O brônquio do lobo inferior se ramifica em brônquios segmentares dorsal, basal anterior, basal lateral e basal posterior. Portanto, existem dez brônquios segmentares do lado direito e oito do lado esquerdo (ROZOV, 1999) (Fig. 5). Um dos mais importante problemas em todas as vias aéreas é comentado por Guyton (1997) como a dificuldade de mantê-las abertas de modo a permitir que o ar entre nos alvéolos e saia deles com facilidade. Para evitar que a traquéia entre em colapso, múltiplos anéis cartilaginosos estendem-se ao redor de aproximadamente cinco sextos da sua circunferência. Nos brônquios também podem ser encontrados anéis cartilaginosos que, apesar de serem responsáveis por um certo grau de rigidez, permitem uma mobilidade suficiente aos pulmões para que se expandam e se retraiam. Estas placas cartilaginosas vão se tornando cada vez menos presentes a medida que vai se aproximando das últimas gerações de brônquios. Os bronquíolos não apresentam paredes rígidas que os impeçam de colapsar, ao contrário, eles são expandidos pelas mesmas pressões transpulmonares que expandem os alvéolos. Ou seja, quando os alvéolos expandem, os bronquíolos também são expandidos. Figura 5 – Vias aéreas. Fonte: SILVA, L. C. C. Condutas em Pneumologia. V. 2. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. Figura 6 – Foto esquemática de vias aéreas. Fonte: SILVA, L. C. C. Condutas em Pneumologia. V. 2. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. 2.3.3 Pleura As pleuras são membranas serosas que recobrem os pulmões, suas fissuras e a superfície interna da parede costal, ocorrendo uma reflexão ao nível do hilo pulmonar, que, por isso, é extrapleural. São formadas por dois folhetos, o visceral e o parietal, que delimitam a cavidade pleural, pequeno espaço com certa quantidade de líquido onde os pulmões deslizam suavemente (AIDÉ et. al., 2001). O pulmão é envolvido por uma camada que denomina-se pleura visceral , que entra nas fissuras e faces interlobulares .A camada externa da pleura envolve a cavidade torácica e é denominada pleura parietal. As 2 camadas se colocam uma oposta a outra e são lubrificadas pelo líquido pleural (ROZOV, 1999). De acordo com Aidé et al. (2001) a pleura parietal reveste a parede costal (pleura costal), o diafragma (pleura diafragmática), o mediastino (pleura mediastinal) e o ápice da cavidade torácica (cúpula da pleura). A reflexão da pleura mediastinal, no hilo forma o ligamento pulmonar. A pleura costal se separa da parede torácica pelas fáscia endotorácica (tecido conjuntivo). 2.4. BIOMECÂNICA RESPIRATÓRIA Aidé et al. (2001) coloca que o estudo da biomecânica respiratória relaciona-se com o processo físico de transporte de gás no sistema respiratório. Este processo engloba a ação da parede torácica e as propriedade físicas do fluxo de ar dentro das vias aéreas. A função mecânica do pulmão está intimamente relacionada a outros aspectos da fisiologia pulmonar. É de grande importância a descrição da biomecânica respiratória, assim como da fisiologia respiratória, para que se possa entender e avaliar as alterações encontradas na insuficiência respiratória nos pacientes portadores de Distrofia Muscular Progressiva do tipo Duchenne. As principais funções dos pulmões são o fornecimento de oxigênio e a remoção de gás carbônico do organismo e, para que isso seja alcançado, os pulmões devem estar adequadamente ventilados. A ventilação é o processo de movimentação de ar para o interior e para fora dos pulmões, o que difere da respiração, que envolve eventos químicos e fisiológicos complexos ao nível celular (CHRISTIE e GOLDSTEIN, 2000 apud EGAN, 2000, p. 847). Para ocorrer a ventilação, o sistema respiratório deve expandir-se acima do volume de repouso e retrair-se para o nível de repouso do sistema. Este movimento somente é conseguido quando existe força suficiente para superar as forças que a ele se opõem internamente no sistema respiratório. A interação entra estas diversas forças é denominada por Rozov (1999) de mecânica da ventilação. Na respiração normal, a inspiração é ativa e a expiração passiva. Durante a inspiração, a contração do diafragma realiza a tração das superfícies inferiores dos pulmões para baixo; na expiração, o diafragma simplesmente se relaxa, e é a retração elástica dos pulmões , da parede torácica e das estruturas abdominais que comprime os pulmões. O diafragma é o músculo mais importante da inspiração, é um músculo delgado, com a forma de cúpula, inserido nas costelas inferiores, esterno e coluna vertebral. Ele é inervado pelos dois nervos frênicos, um para cada hemicúpula (direita e esquerda). Durante a respiração intensa, as forças elásticas não são poderosas o suficiente para causar a expiração rápida necessária, a força adicional é obtida principalmente pela contração dos músculos abdominais, que força o conteúdo abdominal para cima, contra a parte inferior do diafragma (ZIN, 2000). De acordo com Zin (2000) os movimentos do tórax asseguram a constante renovação do gás alveolar. A caixa torácica aumenta de volume durante a inspiração e, concomitantemente, os pulmões se expandem. Com o aumento da capacidade pulmonar e a queda da pressão dentro do sistema, o ar ambiente é aspirado para o interior dos pulmões. A inspiração é seguida imediatamente pela expiração, que provoca uma diminuição do volume pulmonar e expulsão do ar. Um novo ciclo reinicia, sem pausa normalmente, pela inspiração, que ocorre devido a contração da musculatura inspiratória. A expiração, em repouso, é passiva, ou seja, não necessita da contração da musculatura expiratória. Todavia, durante a expiração, ocorre uma desativação da musculatura inspiratória que contribui para a saída do ar dos pulmões. West (1990) salienta que durante a inspiração o volume da cavidade torácica aumenta e o ar é levado até o pulmão. O aumento do volume é efetuado parcialmente pela contração do diafragma, que o faz descer, e parcialmente pela ação dos músculos intercostais, que elevam as costelas, aumentando assim a área transeccional do tórax. Devido a sua característica elástica, o pulmão retorna passivamente ao seu volume pré-inspiratório durante a respiração em repouso. Os pulmões podem ser enchidos e esvaziados através de dois mecanismos, citados por Guyton (1997), que são: movimentos do diafragma para cima e para baixo que fazem com que a caixa torácica se encurte ou se alongue e pela elevação e abaixamento das costelas, o que faz com que aumente ou diminua o diâmetro ântero-posterior da caixa torácica. Durante a inspiração em repouso, o diafragma contrai e traciona a superfície inferior dos pulmões para baixo, em seguida, durante a expiração o diafragma apenas relaxa e a retração elástica dos pulmões, da caixa torácica e das estruturas abdominais faz com que os pulmões se comprimam. Porém, durante um esforço, as forças elásticas não são suficientemente poderosas para produzir expirações com a rapidez necessária, então a força adicional é dada pela contração da musculatura abdominal, que empurra o conteúdo abdominal para cima, contra a superfície inferior do diafragma. O segundo mecanismo de expansão dos pulmões citado pelo autor é a elevação do gradil costal, que expande os pulmões porque, em sua posição de repouso normal, as costelas se inclinam para baixo permitindo que o esterno recue em direção à coluna vertebral. Porém, quando o gradil costal é tracionado para cima, as costelas são projetadas para frente, de modo que faça com que o esterno se movimente adiante, ou seja, para longe da coluna, fazendo com que o diâmetro ântero-posterior do tórax se torne maior. Segundo Shaffer et al. (1994) a mecânica respiratória envolve forças da musculatura respiratória necessárias para vencer a retração elástica dos pulmões e tórax bem como a resistência de fricção ao fluxo de ar através das vias condutoras. 2.4.1. Músculos respiratórios De acordo com Guyton (1997) um dos métodos para expandir os pulmões é realizado pela elevação da caixa torácica. Isso ocorre pois no repouso as costelas estão direcionadas para baixo e o esterno pode então inclinar-se para trás, em direção à coluna vertebral. No entanto, quando a caixa torácica é elevada, as costelas se projetam para a frente, e o esterno faz o mesmo movimento, afastando-se da coluna, e com isso aumentando em 20% a espessura ântero-posterior do tórax, em relação à expiração. O aumento é dado na inspiração máxima. Por conseguinte, os músculos que elevam a caixa torácica são chamados de músculos da inspiração, enquanto os que abaixam a caixa torácica são chamados de músculos da expiração. O mais importante músculo da inspiração, segundo West (1990) é o diafragma. Ele consiste de uma camada muscular em forma de cúpula, inserida nas últimas costelas. É inervado pelos nervos frênicos, dos segmentos cervicais 3, 4 e 5. Quando se contrai, o conteúdo abdominal é forçado para baixo e para frente aumentando o diâmetro vertical da cavidade torácica. Na respiração normal em repouso, o nível do diafragma se move cerca de 1 cm, porém numa inspiração e expiração forçada sua excursão pode ser de até 10 cm. Segundo Slutzky (1997) o diafragma é composto na maior proporção de fibras musculares do tipo I (55%), 20% do tipo IIa e os 25% restantes são do tipo IIb. A resistência do diafragma à fadiga parece ser devida à sua elevada proporção de fibras resistentes, bem como à capacidade do seu fluxo sangüíneo aumentar proporcionalmente à ventilação. O diafragma possui uma superfície de aproximadamente 270 cm2, devido a isso consegue empurrar o conteúdo abdominal para baixo e para frente ao contrair-se, aumentando a distância do tórax e alargando sua base. Com isso, garante 50% a 60% da ventilação (ZIN, 2000). O grupo de músculos inspiratórios mais importante são os intercostais externos, que se orientam de cima para baixo e de trás para frente entre as costelas adjacentes. Quando os intercostais externos se contraem, puxam as costelas superiores para a frente em relação às costelas inferiores, provocando um efeito de alavanca sobre as costelas, o que determina sua elevação, causando a inspiração. Os músculos intercostais são inervados pelos nervos intercostais, que deixam a medula espinhal no mesmo nível (WEST, 1990). Na respiração normal, a expiração é um processo passivo. O pulmão e a parede torácica são elásticos e tendem a voltar à sua posição de equilíbrio depois de ativamente expandidos durante a inspiração. No entanto, durante a respiração forçada, a expiração é realizada com o auxílio dos músculos expiratórios. Os mais importantes são os da parede abdominal, que incluem os retos abdominais, os oblíquos externos e internos e os transversos abdominais. Quando estes músculos se contraem, a pressão intra-abdominal se eleva e o diafragma é empurrado para cima. Os retos abdominais tracionam as costelas inferiores para baixo, ao mesmo tempo que, juntamente com os músculos abdominais, comprimem o conteúdo abdominal para cima, contra o diafragma. Os músculos intercostais internos também participam da expiração ativa, eles tem ação oposta à dos intercostais externos, quando eles contraem puxam as costelas para baixo, para trás e para frente, diminuindo o diâmetro torácico ântero-posterior (WEST, 1990). 2.4.2. Musculatura acessória Além do diafragma e dos músculos intercostais externos, existem ainda os músculos acessórios da inspiração, que são assim chamados pois contribuem muito pouco para a ventilação normal, mas podem se contrair intensamente durante o exercício ou na respiração forçada. Esses músculos são os escalenos, que elevam as duas primeiras costelas; esternocleidomastóides, que elevam o esterno e os serráteis anteriores, que elevam muitas das costelas. Os músculos elevadores das asas do nariz, que dilatam as narinas, e os músculos curtos da cabeça e pescoço também assessoram às vezes a respiração (GUYTON, 1997). De acordo com West (1990) os músculos acessórios da inspiração incluem os escalenos, que elevam as duas primeiras costelas e os esternocleidomastoideos, que elevam o esterno. Há pouca atividade destes músculos durante a respiração normal, porém, durante o exercício podem se contrair vigorosamente. Outros músculos considerados acessórios da inspiração, pelo autor, são os das asas do nariz, que agem nas narinas, e pequenos músculos da cabeça e pescoço. 2.4.3. Pressão intrapleural A pressão intrapleural é a pressão do líquido existente no estreito espaço situado entre uma pleura e outra. No início da inspiração a pressão pleural normal é de aproximadamente 5 cm H2O, que corresponde a intensidade do vácuo necessária para manter os pulmões distendidos até sua posição de repouso. Durante o correr da respiração normal, a expansão da caixa torácica traciona a superfície dos pulmões com força ainda maior e cria uma pressão ainda mais negativa, cerca de 7,5 cm H2O (GUYTON, 1997). 2.4.4. Pressão alveolar De acordo com Guyton (1997) a pressão alveolar é a pressão no interior dos alvéolos pulmonares. Quando a glote está aberta e não há fluxo de ar para dentro ou para fora dos pulmões, as pressões em todas as partes da árvore respiratória, inclusive nos alvéolos são iguais à pressão atmosférica, cujo valor, por convenção, é de 0 cm H2O. Para que haja fluxo de ar para o interior dos alvéolos a pressão tem que cair até um valor ligeiramente inferior ao da pressão atmosférica. Na inspiração normal, a pressão alveolar diminui para aproximadamente –1 cm H2O. Essa pressão levemente negativa é suficiente para mover cerca de 500 ml de ar para dentro dos pulmões. Durante a expiração, ocorrem fenômenos inversos, a pressão alveolar aumenta para aproximadamente +1 cm H2O, e isto faz com que os 500 ml de ar previamente inspirados sejam expelidos dos pulmões durante o tempo expiratório. 2.4.5. Complacência pulmonar Guyton (1997) define a complacência pulmonar como sendo o grau de expansão que os pulmões experimentam para cada unidade de aumento na pressão transpulmonar. Em condições normais, num adulto jovem de porte médio, a complacência de ambos os pulmões é de cerca de 200 ml/cmH20, embora este valor varie de acordo com o peso magro da pessoa. Desta maneira, cada vez que a pressão transpulmonar aumenta em 1 cm H2O, os pulmões aumentam seu volume em 200 ml. A complacência pulmonar é descrita por Costa (1999) como o poder de distensibilidade dos tecidos dos pulmões. O mesmo termo pode ser aplicado ao tórax, portanto, aplica-se o termo complacência torácica à expansibilidade do tórax. No indivíduo, a expansão pulmonar ocorre conjuntamente com a expansão do tórax. A complacência, de acordo com o autor, pode ser interpretada quanto o tórax e os pulmões se encontram em movimento, nesta caso seria a complacência dinâmica, ou num determinado ponto entre a inspiração e a expiração (complacência estática). De acordo com Christie e Goldstein (apud EGAN, 2000, p.850) a complacência pulmonar mensura a distensibilidade do pulmão, enquanto que a elastância é a propriedade que o pulmão possui de resistir à deformidade. O autor ainda define a complacência como sendo a interação de volume dividida pela alteração da pressão e diz que a complacência é recíproca da elastância. 2.5. VENTILAÇÃO PULMONAR De acordo com Costa (1999) a ventilação é medida pela quantidade de ar que entre e sai dos pulmões num minuto. Shaffer et al. (1994) classifica a ventilação como um processo cíclico de inspiração e expiração por meio do qual níveis ideais de oxigênio e dióxido de carbono são mantidos nos alvéolos e no sangue arterial. 2.5.1. Volumes Pulmonares Shaffer et al. (1994) evidencia a existência de quatro volumes pulmonares primários: o volume corrente, o volume de reserva inspiratório, o volume de reserva expiratório e o volume residual. O volume corrente corresponde ao volume de gás inspirado ou expirado durante cada ciclo respiratório, sendo que quando combinado com a freqüência respiratória, estes valores descrevem a ventilação. Os volumes de reserva representam os volumes máximos de gás que podem ser movimentados acima ou abaixo do volume corrente normal. Estes valores refletem o equilíbrio entre a elasticidade do pulmão e da caixa torácica. O volume de reserva inspiratório é o volume máximo de gás que consegue ser inspirado do pico do volume corrente. O volume de reserva expiratório é o volume máximo de gás que pode ser expirado após uma expiração corrente normal. Já o volume residual consiste no volume de gás que permanece nos pulmões após uma grande expiração, que tem a função de não deixar que os pulmões colabem. Zin (2000) reafirma dizendo que os movimentos de entrada e saída de gás dos pulmões constituem a ventilação. Estes ciclos de inspiração e expiração se repetem, em repouso, a uma freqüência de 12 a 18 ciclos por minuto. Pode-se denominar de volume corrente à quantidade de gás mobilizada a cada ciclo respiratório. Já o volume de gás ventilado durante um minuto é denominada volume minuto ou ventilação pulmonar e corresponde ao produto do volume corrente pela freqüência respiratória. Outros volumes ainda são citados pelos autores, entre eles, o volume de reserva inspiratório, que consiste no volume máximo que pode ser inspirado voluntariamente a partir do final de uma inspiração espontânea; o volume de reserva expiratório, que é o volume máximo que pode ser expirado voluntariamente a partir do final de uma expiração espontânea; e, o volume residual, ou seja, o volume de gás que permanece nos pulmões após uma expiração máxima. Tal descrição é confirmada por Guyton (1997) que descreve os volume pulmonares e ainda apresenta valores normais para cada um. De acordo com o autor, o volume corrente é o ar inspirado e expirado a cada ciclo ventilatório normal, que num homem adulto é de cerca de 500 ml. Já o volume de reserva inspiratório é o volume de ar que ainda pode ser inspirado ao final da inspiração do volume corrente normal, usualmente vale cerca de 3.000 ml. O volume de reserva expiratório é descrito como o volume de ar que por meio de uma expiração forçada ainda pode ser exalado ao final da expiração do volume corrente normal, que normalmente vale 1.100 ml. E o volume residual, que é o volume de ar que permanece nos pulmões no fim da mais vigorosa das expirações, tem um valor médio de aproximadamente 1.200 ml. 2.5.2. Capacidades Pulmonares Guyton (1997) chama atenção para o fato de que é desejável, as vezes, considerar conjuntamente dois ou mais dos volume já mencionados. Tais combinações constituem as chamadas capacidades pulmonares, que podem ser descritas da seguinte maneira: capacidade inspiratória, ou seja, a soma do volume corrente com o volume de reserva inspiratório ou então a quantidade de ar que a pessoa consegue inspirar partindo de um nível expiratório basal e enchendo ao máximo os pulmões; capacidade residual funcional, que pode ser descrita como a quantidade de ar que permanece nos pulmões após uma expiração normal que seria a soma do volume de reserva expiratório com o volume residual; capacidade vital, que é a soma de três volume, o volume de reserva inspiratório, volume corrente e volume de reserva expiratório, é a maior quantidade de ar que uma pessoa consegue expelir dos pulmões após têlos enchidos ao máximo e, em seguida, expirado completamente; e, capacidade pulmonar total que é o maior volume que os pulmões podem alcançar que seria a soma dos quatro volumes. Silva e Porto (2001) ressalta a importância de se considerar as capacidades pulmonares e as descreve da seguinte maneira. A capacidade pulmonar total seria a quantidade de ar quando o pulmão está plenamente cheio, ou seja, ao final de uma inspiração máxima. A capacidade vital é descrita pelos autores como a quantidade máxima de ar que pode ser expirada a partir da capacidade pulmonar total. A capacidade residual funcional é a quantidade de ar nos pulmões ao final de uma expiração normal, que representa a posição mecanicamente neutra do sistema respiratório como um todo, correspondendo à posição do tórax durante o completo relaxamento muscular. E capacidade inspiratória como sendo a quantidade de ar que pode ser inspirada ao máximo a partir da capacidade pulmonar total. Segundo Shaffer et al. (1994), concordando com os outros autores, os volumes de reserva podem ser combinados para formar quatro capacidades: capacidade pulmonar total, capacidade vital, capacidade inspiratória e capacidade residual funcional. Todavia, os autores salientam que, o tamanho da capacidade residual funcional é determinado pelo equilíbrio de duas forças opostas: o recuo elástico interno do pulmão que tende a colapsá-lo e o recuo elástico externo da parede torácica que tende a expandir o pulmão. Zin (2000) evidencia que os volumes e as capacidades pulmonares, fisiologicamente, variam em função de vários fatores, tais como: sexo, idade, superfície corporal, atividade física e postura. 2.6. FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA A principal função do sistema respiratório é a troca de gases de modo que o oxigênio sangüíneo arterial, o gás carbônico e os níveis de pH permaneçam dentro de limites préestabelecidos em diferentes condições fisiológicas. O conhecimento da fisiologia respiratória é fundamental para o diagnóstico apropriado e tratamento eficaz da doença pulmonar (SHAFFER et al., 1994). Zin (2000) coloca que a função básica do sistema respiratório é de prover o organismo com oxigênio e dele remover o produto gasoso do metabolismo celular, ou seja, o gás carbônico. Porém, o autor enfatiza que, os pulmões não são somente órgãos respiratórios. Eles possuem outras funções como participação no equilíbrio térmico, auxiliam na manutenção do pH plasmáticos dentro dos limites fisiológicos, participam também da filtração de eventuais êmbolos trazidos pela circulação venosa, além de algumas funções bioquímicas que o endotélio pulmonar apresenta (por exemplo, conversão de angiotensina I em angiotensina II). Concordando com os outros autores, West (1990) afirma que a função prioritária dos pulmões é permitir que o oxigênio se dirija do ar para o sangue venoso e o dióxido de carbono vá para o exterior, além de executar outros trabalhos como, metabolizar alguns compostos, filtrar material tóxico da circulação, agir como reservatório para o sangue. De acordo com Costa (1994) a função principal dos pulmões é a troca gasosa, que permite a passagem do oxigênio para o sangue venoso e a saída do dióxido de carbono. Porém os pulmões apresentam outras funções, como filtrar material tóxico da circulação, metabolizar alguns compostos e atuar como um reservatório de sangue para o corpo. A respiração para Guyton (1997) tem como objetivo o fornecimento de oxigênio aos tecidos e a remoção do dióxido de carbono. Silva e Porto (2001) colocam que podem ser desempenhadas três funções básicas no sistema pulmonar: a ventilação, a difusão e a perfusão. Os autores ainda colocam que o desempenho da função pulmonar, sob o ponto de vista mecânico, depende dos movimentos da caixa torácica, que, por sua vez, dependem da inter-relação entre as forças elásticas do conjunto pulmão - caixa torácica e as forças musculares aplicadas. Shaffer et al. (1994) dizem que a manutenção da homeostase depende de cinco processos fundamentais, que são: (1) ventilação e distribuição dos volumes gasosos; (2) troca e transporte de gases; (3) circulação do sangue pelos pulmões; (4) interação mecânica das forças respiratórias que iniciam a respiração (músculos respiratórios) e aquelas que resistem ao fluxo de ar (complacência pulmonar e resistência das vias aéreas; e (5) controle e organização dos movimentos respiratórios. De acordo com Guyton (1997) a respiração pode ser dividida em quatro fases: (1) ventilação pulmonar, ou seja, a renovação cíclica de gás alveolar pelo ar atmosférico; (2) difusão de oxigênio e gás carbônico entre sangue e alvéolos; (3) transporte dos gases; (4) regulação da ventilação e de outros aspectos da respiração. 2.6.1. Circulação Pulmonar A circulação pulmonar se origina no lado direito do coração, o sangue venoso misto pobremente oxigenado é liberado aos pulmões através da artéria pulmonar, esta sai do ventrículo direito e faz um percurso para cima. A artéria pulmonar se divide nas artérias pulmonares direita e esquerda logo abaixo da carina da traquéia, as artérias pulmonares acompanham os brônquios principais direito e esquerdo. Essa simetria continua à medida que os brônquios se dividem nos espaços aéreos distais com as artérias pulmonares adjacentes aos brônquios e bronquíolos. As arteríolas pulmonares se dividem formando um leito de capilares alveolares quando chegam as unidades pulmonares terminais. Estes capilares fornecem uma grande área de superfície para a troca de oxigênio e gás carbônico com os alvéolos. Então, o sangue arterializado deixa os alvéolos através das vênulas pulmonares que se combinam formando veias de maior calibre. Quatro a cinco veias pulmonares principais retornam o sangue arterializado ao átrio esquerdo do coração para a sua liberação na circulação sistêmica (SHAFFER et al., 1994). 2.6.2. Diferenças regionais de ventilação A ventilação não é distribuída eqüitativamente nos pulmões saudáveis. Fatores tanto regionais quanto locais são responsáveis por essa heterogeneidade na distribuição da ventilação. A ventilação desigual ajuda a explicar o porque do pulmão não ser perfeito gasoso. Os dois fatores regionais que afetam a distribuição da ventilação em pulmões saudáveis são as diferenças relativas na expansão torácica e gradientes de pressão transpulmonar torácicos. A configuração das estruturas ósseas torácicas e a ação dos músculos respiratórios provocam proporcionalmente maior expansão nas bases pulmonares do que nos ápices (CHRISTIE e GOLDSTEIN, 2000). Rozov (1999) coloca que a ventilação decresce da base para o ápice, embora as alterações sejam menos acentuadas do que as da perfusão, porém ainda não se sabe o mecanismo correto que leva a alteração da distribuição da ventilação em pulmões normais. A autora ainda comenta que, talvez, o peso do parênquima pulmonar dentro da caixa torácica seja um fator importante, que poderia causar uma compressão das porções inferiores do pulmão e diferenças topográficas nas pressões intrapleurais. Outra alteração colocada pela autora seria na forma do gradil costal e do diafragma, que pela ação gravitacional também contribuem para a desigualdade na ventilação. A postura também influencia na ventilação, ou seja, a parte gravitacionalmente dependente do pulmão é relativamente comprimida e expande mais durante a inspiração nas posições lateral, supina e prona. De acordo com Zin (2000) a ventilação é maior na base pulmonar e decresce em direção ao ápice, no ser humano em pé ou sentado. A razão fundamental para tal distribuição, explica o autor, é a monogeneidade da pressão intrapleural ao longo do pulmão. Isto se deve, provavelmente, à ação da gravidade, pois o pulmão repousa sobre a sua base, ao passo que pende do ápice. Em função da pressão intrapleural menos negativa na base, os alvéolos destas regiões encontram-se menos distendidos do que os do ápice, na situação de repouso. 2.6.3. Distribuição do fluxo sangüíneo Os vasos pulmonares normais têm paredes delgadas e grande complac6encia. Sofrem grande influência das variações de pressão alveolar resultantes dos movimentos respiratórios, pois estão circundados pelo parênquima pulmonar. Em indivíduos na posição ereta, a perfusão decai quase linearmente da base para o ápice. A imogeneidade da perfusão pulmonar é explicada por diversos autores, entre eles Zin (2000) pelas diferenças das pressões hidrostáticas no interior dos vasos sangüíneos. O fluxo sangüíneo decresce das bases para os ápices dos pulmões em posição vertical em indivíduos jovens normais, diz Rozov (1999). A postura tem efeito acentuado sobre a distribuição de fluxo sangüíneo, por exemplo, na posição supina os fluxos apical e basal tornam-se iguais, embora aumente o fluxo na região dorsal em relação à região ventral. Ou seja, a região gravitacionalmente dependente é sempre melhor perfundida nas posições lateral, prona invertida com a cabeça para baixo. Esta mudanças posturais podem ser explicadas pelo efeito gravitacional nas pressões hidrostáticas dos vasos sangüíneos pulmonares. 2.6.4. Relação Ventilação-Perfusão Uma vez que a função dos pulmões é de trocas gasosas, é importante salientar a influência das relações entre ventilação e fluxo sangüíneo tantos nos pulmões normais quanto em pulmões patológicos. Mais ainda, deve-se estar atento que a causa mais comum de alterações de trocas gasosas é a desigualdade na relação entre ventilação e perfusão (ROZOV, 1999). Silva e Porto (2001) coloca que são desempenhadas três funções básicas no sistema respiratório: a ventilação, a difusão e a perfusão. Desta maneira, o autor simplifica todo o processo, como a difusão dificilmente oferece obstáculos ao transporte de gases, é considerado que o essencial é ocorrer uma adequada relação ventilação-perfusão. Como comentado anteriormente, tanto a ventilação quanto a perfusão, decaem da base para o ápice. Entretanto, sabe-se que a perfusão varia mais do que a ventilação, sendo este fato representada por uma maior inclinação do gráfico relacionado à perfusão. Portanto, a relação ventilação-perfusão será inferior à unidade enquanto a perfusão permanecer maior do que a ventilação, ou seja, da base até aproximadamente o nível da terceira costela; igual à unidade no ponto em que os dois gráficos se cruzam e superior deste ponto para cima. Zin (2000) resume a relação ventilação-perfusão como sendo a base uma área mais ventilada e perfundida do que o ápice, porém o ápice com uma relação ventilação-perfusão maior do que a base. West (1990) estudou a influência da força da gravidade sobre a relação ventilaçãoperfusão observando uma importante diferença na perfusão e da ventilação entre o ápice e a base dos pulmões. A distribuição da perfusão pulmonar depende da força da gravidade, variando conforme a posição corporal. Como conseqüência da influencia da gravidade, as porções mais declives do pulmão recebem mais sangue e as mais aclives recebem menos. Já a ventilação é influenciada pela ação da gravidade e outros fatores, variando craniocaudalmente numa proporção bem menor que a perfusão. Portanto, a relação ventilação-perfusão é bem superior no ápice do que na base. 2.6.5. Controle Nervoso da Respiração De acordo com Guyton (1997), o sistema nervoso, normalmente, ajusta de modo quase exato a ventilação às necessidades do corpo, de modo que as pressões parciais de oxigênio e gás carbônico no sangue arterial pouco se alteram, mesmo durante esforços e na maioria das situações em que a capacidade funcional do aparelho respiratório é colocada à prova. A natureza periódica do ciclo respiratório é controlada por neurônios localizados no bulbo e na ponte. Este conjunto de neurônio foi chamado de centro respiratório. No bulbo há duas áreas conhecidas relacionadas com a respiração. Um grupo de células ativas durante a inspiração está localizado no trato solitário e é chamado de grupo respiratório dorsal. Há uma rede interna de sinapse e recebem esses neurônios conexões aferentes do IX e X pares de nervos cranianos. Esses nervos trazem ao centro respiratório informações oriundas dos pulmões, faringe, laringe e quimiorreceptores periféricos. A segunda região do bulbo compreende a porção caudal do núcleo ambíguo e o núcleo retro-ambigual. Essa região contém neurônios tanto inspiratórios como expiratórios e é denominada grupo respiratório ventral (ZIN, 2000). Figura 7 – Controle Central da Respiração. Fonte: SHAFFER, T. H., et al. Fisiologia Respiratória. 1994. Guyton (1997) ainda coloca que o grupo dorsal de neurônios respiratórios estende-se ao longo da maior parte do comprimento do bulbo. Todos ou quase todos os seus neurônios se localizam no núcleo do trato solitário, embora outros neurônios, situados na substância reticular do bulbo vizinha, talvez desempenhem papéis também importantes no controle da ventilação. O núcleo do trato solitário é também a terminação sensitiva dos nervos vagos e glossofaríngeos, que levam até o centro respiratório sinais sensoriais provenientes dos quimiorreceptores periféricos, dos baroceptores e de diversos receptores localizados nos pulmões. Cerca de 5 mm para frente e para o lado do grupo dorsal de neurônios respiratórios, localiza-se o grupo ventral de neurônios respiratórios, distribuídos longitudinalmente no núcleo ambíguo e caudalmente no núcleo retro-ambíguo. A função deste grupo de neurônios difere em vários aspectos importante da função do grupo dorsal de neurônios respiratórios. Segundo Zin (2000) os neurônios oriundos do centro bulbar projetam-se para a medula contralateral e estabelecem sinapses com os motoneurônios alfa que inervam os músculos respiratórios. Além disso, há uma distinção entre os feixes descendentes oriundos dos grupos respiratórios bulbares e aqueles que se originam no córtex cerebral. O autor finaliza, dizendo que o centro respiratório ainda é bastante desconhecido. As interconexões de seus diversos componentes não estão completamente esclarecidas, bem como a rede de neurônios excitatórios e inibitórios atuando em seus vários níveis. 2.6.5. Trocas Gasosas As trocas gasosas ocorrem nos alvéolos. O oxigênio entre no sangue vindo do ar alveolar, o gás carbônico passa para o ar alveolar vindo do sangue. Esta troca ocorre no alvéolo pelo processo de difusão, ou seja, um movimento aleatório de moléculas até atingir um gradiente de concentração (SHAFFER et al., 1994). 2.7. INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA A insuficiência respiratória é um problema clínico que todos os fisioterapeutas devem ter destreza na avaliação, identificação e tratamento da patologia. David (2000) salienta que a insuficiência respiratória aguda ou crônica agudizada é responsável por grande índice de mortalidade. Segundo Christie e Goldstein (2000) a insuficiência respiratória é a incapacidade da manutenção da liberação normal de oxigênio aos tecidos ou de remoção normal de gás carbônico dos tecidos. Em termos de gasometria arterial, isso pode ser observado quando a pressão de gás carbônico encontra-se superior a 50 mmHg ou uma pressão de oxigênio inferior a 60 mmHg em indivíduos normais respirando ar ambiente ao nível do mar (KNOBEL, 1998). A insuficiência respiratória é definida por Henson e Morrissey (1994) como a incapacidade do sistema respiratório de realizar suas funções básicas de eliminar dióxido de carbono do organismo e assimilar oxigênio. Para Azeredo (2002-b) a insuficiência respiratória é a falha dos pulmões em promover uma adequada oxigenação ou ventilação para o sangue. De acordo com o mesmo autor, a falha da oxigenação se refere mais especificamente a uma pressão de PaO2 no sangue arterial de menos de 60 mmHg, mesmo com uma boa concentração de O2; já a falha da ventilação consiste de uma ventilação inadequada entre os pulmões e a atmosfera, resultando numa inapropriada elevação da pressão de CO2 no sangue arterial num nível maior que 50 mmHg. Summer (2001) ainda salienta que a insuficiência respiratória é um problema clínico bastante freqüente, com uma taxa de mortalidade bastante grande. O autor define como um distúrbio funcional provocado por qualquer condição que possa afetar seriamente a capacidade dos pulmões de manter a oxigenação arterial ou a eliminação do gás carbônico. O autor ainda cita que a insuficiência pode ser dividida em duas categorias: falência da troca gasosa, que se manifesta predominantemente ou totalmente por hipóxia, e falência da ventilação, que se manifesta por hipercapnia ou incapacidade de exalar quantidades adequadas de gás carbônica. Do ponto de vista respiratório, Rigatto (2002) classifica a insuficiência pulmonar como incompetência, absoluta ou relativa, de hematosar. Absoluta quando a hematose não se realiza adequadamente mesmo que o organismo mobilize todas as suas reservas. Relativa quando só adequada em face do emprego parcial ou total destas reservas. O autor ainda salienta que a insuficiência pulmonar implica uma deterioração do ciclo pulmonar da respiração. Este ciclo pode deixar de funcionar satisfatoriamente por alteração de um dos dois processos que o compões: a ventilação e as trocas gasosas. Quanto a etiologia da insuficiência respiratória pode-se dizer que é bastante variada, havendo causas que produzem acometimento primário ou secundário da função pulmonar. De acordo com Zin (2000) a insuficiência respiratória pode ser conseqüente a: lesões do sistema nervoso central, lesões raquimedulares, lesões neuromusculares, lesões da parede torácica, inalação de ar pobre em oxigênio e/ou rico em gás carbônico, obstrução das vias aéreas, lesões do parênquima pulmonar e lesões da vasculatura pulmonar. As causas da insuficiência respiratória envolvem a mecânica do pulmão e da parede torácica, sistemas neuromusculares e controle do Sistema Nervoso Central. Com o aumento da freqüência respiratória, sugere-se alterações da mecânica pulmonar e da parede torácica. Em doenças musculares, ocorre a fraqueza da musculatura respiratória, levando a fadiga. Quando há uma patologia do Sistema Nervoso Central pode apresentar padrões respiratórios como bradipnéia, apnéia e respiração Cheyne-Stokes (BERHMAN, 2000). Rozov (1999) coloca que em vista dos diferentes sinais e sintomas e da diversidade de causas, não há uma definição fisiologicamente precisa para caracterizar a insuficiência respiratória. Porém, a autora classifica a insuficiência respiratória como uma inabilidade do sistema respiratório em satisfazer as demandas metabólicas teciduais, no que se refere à oxigenação e eliminação de dióxido de carbono. 2.8. INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA NA DISTROFIA MUSCULAR PROGRESSIVA DO TIPO DUCHENNE As complicações respiratórias são a causa principal da morbidez e mortalidade nas doenças neuromusculares pediátricas (BIRNKANT, 2002). A insuficiência respiratória crônica é uma complicação bem conhecida da Distrofia Muscular de Duchenne. Surge na fase tardia da história natural desta patologia, sendo que nos estágios iniciais da doença ocorre o aparecimento de hipóxia leve, porém não de forma invariável. (SLUTZKY, 1997). As doenças neuromusculares podem levar à insuficiência respiratória por provocarem uma grande redução da ventilação minuto. Nestas doenças está incluída a Distrofia Muscular de Duchenne. As complacências pulmonar e da parede torácica estão reduzidas nesta doença, exigindo um maior trabalho da respiração para manter a ventilação. A incapacidade de atender essa maior demanda de trabalho muscular pode levar à retenção de dióxido de carbono, insuficiência cardíaca congestiva direita e cor pulmonale (HENSON e MORRISSEY, 1994). Nas doenças musculares, entre elas a DMD, pode ocorrer uma fraqueza da musculatura respiratória causando uma hipercapnia podendo evoluir para a insuficiência respiratória (CHRISTIE e GOLDSTEIN, 2000). De um ponto de vista respiratório, pacientes portadores de DMD seguem normalmente até a adolescência, e sem suporte respiratório a morte acontece geralmente antes dos 21 anos de idade. O declínio progressivo da função pulmonar quase sempre começa após o início do uso de cadeira de rodas e pode estar associado a insuficiência respiratória tornando os pacientes vulneráveis a atelectasias, pneumonias e retenção de secreção (BIRNKANT, 2002). Como já foi comentado anteriormente, há dois gases importantes no sangue, o oxigênio e o dióxido de carbono. A pressão normal do gás carbônico no sangue oscila entre 35 e 44 mmHg. Valores acima destes (hipercapnia) indicam hipoventilação alveolar e geralmente ocorrem em decorrência da fraqueza da musculatura respiratória. Clinicamente pode-se observar respiração mais superficial e aumento da freqüência respiratória. O oxigênio sangüíneo normalmente encontra-se ligado à hemoglobina, formando a oxi-hemoglobina. A situação de hipoxemia, onde a saturação sangüínea de oxigênio (SpO2) decresce abaixo de 95%, é decorrente da hipercapnia da hipoventilação. Há um bloqueio da membrana de trocas gasosas quando secreções mucosas obstruem as vias aéreas. Como resultado podemos encontrar processos atelectásicos ou pneumonias. Existem enfoques diferentes entre indivíduos com musculatura respiratória normal e processos pulmonares daqueles com doenças neuromusculares. No primeiro caso a hipóxia ocorre devido ao processo pulmonar. Esta hipóxia faz com que o controle respiratório cerebral instrua a musculatura respiratória para que trabalhe mais efetivamente e numa freqüência maior. Os pulmões tornam-se melhores ventilados e os níveis de CO2 caem abaixo do normal. O tratamento para pessoas com hipóxia devida à doença pulmonar é a ministração de oxigênio, pois nestes casos a hipóxia resulta da falência da oxigenação (LANGER, 2000). Em portadores de DMD ocorre uma fraqueza dos músculos respiratórios, inclusive do diafragma e da musculatura da parede do tórax, resultando em uma tosse pouco eficaz e uma respiração superficial (hipoventilação). Com a hipoventilação, as bases pulmonares são arejadas pobremente e os pulmões e a parede torácica se tornam progressivamente mais difíceis de expandir. A hipoventilação acontece primeiro durante o sono e, com a fraqueza progressiva, resulta em uma má qualidade do sono, diminuição da oxigenação do sangue, e aumento das concentrações de gás carbônico no sangue (BIRNKANT, 2002). A falência primária de oxigenação raramente ocorre em pacientes neuromusculares, exceto naqueles onde haja doença pulmonar concomitante. No segundo grupo há falência muscular e conseqüentemente não ocorre ventilação adequada e clearence de secreções. A musculatura inspiratória, enfraquecida, faz com que ocorra hipercapnia, hipoventilação pulmonar e, como decorrência, tem-se hipóxia. Assim, pessoas nestas condições tem primariamente falência na ventilação (LANGER, 2000). A hipóxia na presença de uma PCO2 normal é devida a um equilíbrio ventilação/perfusão abaixo do ideal, nas bases pulmonares, secundariamente à fraqueza dos músculos respiratórios. A PCO2 pode elevar-se, temporariamente, durante as infecções torácicas, porém, não indica um mau prognóstico. De forma contrária, uma PCO2 elevada na ausência de uma infecção respiratória, as perspectivas são desapontadoras, a não ser que se proporcione uma adequada assistência ventilatória (SLUTZKY, 1997). De acordo com Henson e Morrissey (1994) as complacências pulmonares e da parede torácica estão reduzidas na DMD, exigindo um maior trabalho da respiração para manter a ventilação. Fatos importantes devem ser ressaltados: nestes casos, onde a hipoxemia é secundária à hipercapnia, a suplementação de oxigênio faz com que o controle respiratório cerebral não seja estimulado pois há normalização dos níveis de O2. Porém, a hipercapnia torna-se mais grave. O paciente torna-se comatoso (narcose pelo CO2) e, seqüencialmente há parada respiratória. A insuficiência ventilatória é a presença de hipercapnia devido à falência de ventilação normal nas membranas de trocas gasosas. Inicialmente ela ocorre no sono profundo e, progressivamente, atinge outras etapas do sono e das horas do dia. O comprometimento do diafragma pode fazer com que os pacientes não consigam manter a ventilação na posição supina, mas possam fazê-lo sentados. Os sintomas de hipoventilação nem sempre são perceptíveis. Entretanto, alguns deles devem chamar a atenção do médico: fadiga, distúrbios do sono como pesadelos, insônia, terror noturno, cefaléia matinal, confusão, desorientação, ansiedade, diminuição do apetite, perda de peso, alteração da voz ( mais tênue, débil), tosse não produtiva (LANGER, 2000). Ainda não se conhece os reais motivos do aparecimento de hipercapnia depois de um período prolongado de normocapnia em presença da fraqueza da musculatura respiratória. Uma das alternativas é de que o volume corrente caia e aumente o espaço morto em relação ao volume corrente e à elevação da freqüência respiratória, aumentando assim a relação do tempo inspiratório sobre o tempo total (Ti/Ttot). Isto causaria uma diminuição da ventilação alveolar e, através de um aumento do ciclo obrigatório dos músculos inspiratórios, predisporia à fadiga dos músculos respiratórios (SLUTZKY, 1997). Na falência ventilatória há uma superficialização progressiva da respiração, com altos níveis de CO2 e baixos de O2. O CO2, sendo ácido, faz aumentar estes radicais no sangue, levando a uma compensação renal através de reabsorção de bicarbonato. O bicarbonato circulante atua no controle cerebral de forma negativa, permitindo a progressão da hipercapnia e piora do ritmo respiratório. Com a diminuição da amplitude respiratória, algumas áreas pulmonares passam a não serem expandidas, resultando, então, em atelectasias. A piora torna-se mais intensa, a hipercapnia mais importante e o coma torna-se cada vez mais próximo. A falência ventilatória não ocorre repentinamente. Os pacientes, apesar da patologia neuromuscular, conseguem manter uma situação estável por um bom período. A presença de infecções do trato respiratório é responsável por 85% dos casos de falência. Nesta situação, a musculatura é obrigada a trabalhar mais intensamente, podendo ocorrer a fadiga. A presença de secreções e a dificuldade de higiene brônquica pela impossibilidade de uma tosse efetiva corroboram o quadro. Há um bloqueio da via aérea, diminuição da capacidade vital e dos volumes respiratórios. A multiplicação bacteriana é o passo seguinte, resultando em pneumonias, hospitalização, intubação e necessidade de suporte ventilatório. A falência respiratória resultante da hipoventilação e secreção pode ser prevenida. É importante o médico conhecer esta prevenção para poder oferecê-la a seus pacientes. Nos episódios de falência respiratória, o paciente chega aos departamentos de emergência onde médicos, desconhecendo o conceito de falência ventilatória tendem a tratar os sintomas com administração de oxigênio, broncodilatadores e freqüentemente sedativos. Isto leva a uma exacerbação da hipoventilação e falência súbita com conseqüente necessidade de intubação, que é raramente necessária para estes pacientes, ou óbito (LANGER, 2000). Todos as complicações respiratórias que os portadores de DMD possam adquirir como, hipoventilação, complacência pulmonar diminuída, menor expansibilidade torácica, tosse ineficaz, padrões anormais de respiração e aspiração tornam o paciente mais vulnerável a adquirir infecções e a obstrução de vias aéreas o que pode evoluir para um quadro de insuficiência respiratória (BIRNKANT, 2002). A insuficiência respiratória pode apresentar uma extrema variedade em sua intensidade, já que o termo é usado para expressar desde o momento em que ocorre uma evidente redução da reserva funcional pulmonar. Sabe-se que no início da doença não ocorrerá grandes repercussões clínicas e, inclusive, o indivíduo poderá ignorar que está com sua função pulmonar alterada. Chama-se de fase latente o estágio inicial da doença, onde só se pode notar alterações através de provas de função pulmonar. A fase posterior, onde o indivíduo já apresenta sintomas clínicos como a dispnéia, recebe o nome de fase compensada da insuficiência respiratória. E, finalmente, a terceira etapa, onde se observa além da dispnéia, hipoxemia com ou sem hipercapnia, ou seja, falência da hematose, chamamos de fase descompensada da insuficiência pulmonar (RIGATTO, 1997). 2.8.1. Diagnóstico Como já foi comentado anteriormente, indivíduos com DMD, de forma paralela ao enfraquecimento motor, têm progressivamente afetada sua musculatura respiratória. Daí, a importância de um acompanhamento periódico para que medidas adequadas possam ser tomadas em cada momento evolutivo da patologia. O acompanhamento respiratório deve-se iniciar tão logo seja feito o diagnóstico. Assim, pode-se ter um parâmetro inicial que será comparado com futuras observações (LANGER, 2000). A avaliação respiratória básica de um portador de DMD consiste na tomada da história focalizada para o problema respiratório, exame do sistema respiratório e medidas de funções pulmonares e trocas gasosas (BIRNKANT, 2002). Na anamnese deve-se perguntar se o paciente apresenta história de hospitalizações repetidas devido ao comprometimento respiratório (bronquites, atelectasias, pneumonias), casos de infecção respiratória, dispnéia e/ou fraqueza muscular respiratória. Durante a anamnese, deve-se estar atento à ocorrência de algum caso de alteração de fala, regurgitação, dispnéia durante a conversa ou aspirações de secreções. Deve-se ficar atento também à postura, alguns pacientes, quando estão sentados, podem mover o tronco para frente e para trás a fim de melhorar a ventilação dos pulmões para tentar diminuir a dispnéia enquanto conversam (BIRNKANT, 2002). Durante o exame físico do paciente é importante avaliar a parede do tórax, a presença de escoliose ou deformidade de tórax ou alguma outra anormalidade (BIRNKANT, 2002). A escoliose é uma complicação comum da distrofia muscular, comenta Langer (2000), e pode progredir rapidamente se não tratada, comprometendo de forma ainda mais intensa a capacidade vital. Portanto, conclui a autora, durante o seguimento clínico, o grau de curvatura da coluna deve ser sempre avaliado através de exame radiológico. A cirurgia nunca deverá ser postergada, pois a correção não será eficiente e se a capacidade vital estiver menor que 23% poderá ser alto o rico operatório. Ainda durante a inspeção, Birnkant (2002) coloca que é importante estarmos atentos à freqüência respiratória que, em portadores de DMD, geralmente se encontra aumentada para tentar compensar a respiração superficial. A análise do padrão respiratório onde se avalia a coordenação entre caixa torácica e abdome, também é bastante válida para a percepção de algum padrão anormal de respiração, além da possibilidade de observação de uma hipo, hiper ou normoventilação do paciente (THOMPSON, 2000). Podese observar batimentos das asas do nariz (característico de insuficiência respiratória) e alteração do padrão normal da respiração com movimentos paradoxais entre o tórax e o abdome. Estes sinais são indicadores de sobrecarga de trabalho para as condições da musculatura e podem estar associados à fadiga muscular respiratória (DAVID, 2000). De acordo com Birnkant (2002), pode-se avaliar o grau de prejuízo respiratório em um paciente com DMD através de testes para medir a função pulmonar. Um teste freqüentemente usado é a medida da capacidade vital forçada (CVF), onde se mede a quantidade de ar que pode ser expelida, o mais rapidamente possível, após uma inspiração profunda. Freqüentemente há diferença significativa entre a espirometria na posição sentada e deitada. Alguns portadores de DMD podem ter CVF normal no primeiro caso e alterada no segundo. Há, também, enormes diferenças se a avaliação for feita nas posições laterais entre um lado e o outro. Portanto, idealmente, os testes devem ocorrer em várias posições e situações (LANGER, 2000). Esses parâmetros podem ser medidos com um espirômetro e não há nenhum consenso onde os níveis da função pulmonar diminuídos possam ser risco para severas complicações respiratórias, porém, uma capacidade vital abaixo de 1,5 litros coloca um portador de DMD com um risco alto de evoluir para um complicação respiratória grave (BIRNKANT, 2002). Segundo Thompson (apud STOKES, 2000) o espirômetro faz parte da análise regular para monitorar as alterações da função pulmonar. As pressões inspiratória e expiratória na boca também podem ser medidas para determinar a força dos músculos da respiração, através do monovacuômetro. Segundo Azeredo(2000a) a função da musculatura esquelética pode ser avaliada medindo alguns parâmetros como a força, a velocidade de contração e o encurtamento que o músculo experimenta. A força da musculatura respiratória é mensurada pelas pressões respiratórias máximas, a velocidade de contração por meio do fluxo aéreo alcançado e o encurtamento muscular pela variação do volume pulmonar. Um dos métodos usados para avaliar a força da musculatura respiratória é a utilização de um manômetro de pressões positiva e negativa. A mensuração pode ser feita conectando o manômetro no paciente por intermédio de bocal ou diretamente no tubo orotraqueal através do uso de conectores específicos. A medida de força dos músculos respiratórias deve ser feita com a via aérea ocluída e com esforço máximo. A força muscular inspiratória é determinada com a pressão inspiratória máxima e seus valores normais em um adulto jovem está na faixa de –90 a –120 cmH2O.Já a força muscular expiratória é dada pela pressão expiratória máxima tendo seu valor normal em um adulto jovem na faixa de +100 a +150 cmH2O. É interessante realizar este teste em portadores de insuficiência respiratória para determinar com excelência precisão as alterações quantitativas da força muscular respiratória. A medida do fluxo da tosse também é bastante utilizado no diagnóstico da insuficiência respiratória e pode ser feito através de um simples medidor de peak flow ou espirômetro (LANGER, 2000). É também uma forma de verificar se há obstrução pulmonar com acúmulo de secreção, pois o paciente tem dificuldade de expelir o ar com rapidez, através de uma expiração oral posterior a uma inspiração profunda. De acordo com Kang e Bach (2000) o peak flow também pode ser utilizado como uma forma de treinamento para a musculatura expiratória auxiliando na efetividade da tosse. Este exames não invasivos (espirometria, peak-flow, manovacuometria) que quantificam o grau de comprometimento respiratório e têm seus valores comparados com valores referenciais (chamados preditos), são utilizados para ajudar no diagnóstico de insuficiência respiratória nos portadores de DMD, porém alguns destes testes requerem que o paciente tenha maturidade suficiente para o entendimento das instruções e cooperação com o profissional, como a espirometria ou uso do peak-flow (LANGER, 2000). David (2000) salienta que a gasometria arterial também seja feita para se diagnosticar a insuficiência respiratória. O pH pode refletir acidose respiratória, metabólica ou mista. A acidose metabólica ocorre principalmente quando à hipoxemia se associa a distúrbios de perfusão tissular. Os níveis de bicarbonato sérico podem orientar para um processo agudo ou crônico agudizado. Normalmente, na presença de acidose respiratória há retenção de bicarbonato pelos rins, mas para que esta retenção ocorra e equilibre a acidose é necessário um longo tempo e que os níveis de PaCO2 não estejam acima de 60-65 mmHg. Em pacientes com insuficiência crônica agudizada é comum haver acidemia, PaCO2 muito elevada, hipoxemia e bicarbonato elevado. Langer (2000) salienta que a capinografia, ou seja, a medida do CO2 exalado, também é um método de avaliação válido para detectar a insuficiência respiratória. O capnógrafo é um aparelho usado para medir a concentração de CO2 nas vias aéreas, operando com o princípio de que a concentração de CO2 pode ser determinada por uma luz infravermelha de um comprimento de onda através de uma pequena quantidade de gás expirado (AZEREDO, 2000). Entretanto, Langer (2000) coloca que em pessoas com patologia neuromuscular o CO2 do final da expiração é essencialmente igual à concentração do CO2 sangüíneo. A oximetria que mensura a saturação de oxigênio da hemoglobina, ou seja da oxihemoglobina (SpO2), depende da concentração de O2 no sangue. As baixas SpO2 resultam de hipóxia e a hipóxia pode ser resultante de um pulmão mal ventilado. A SpO2 normal é de 95% ou mais e pode ser medida por um simples oxímetro de pulso. A oximetria é também importante para a monitorização noturna. Está indicada quando o indivíduo tem sintomas de hipoventilação, capacidade vital na posição supina menor que na posição sentada ou menor que 40% em qualquer posição, capinografia indicando subventilação (pCO2 >44%mmHg) e SpO2<95% durante o dia na ausência de doença pulmonar associada (BIRNKANT, 2002). Na ausculta pulmonar também pode ser encontrado alterações que podem auxiliar no diagnóstico da insuficiência respiratória. Nos casos específicos de DMD, como ocorrerá um déficit da ventilação, as bases pulmonares serão pobremente ventiladas, portanto a ausculta destas regiões será diferenciada. Segundo David (2000) a diferença da expansão torácica e do murmúrio vesicular entre os hemitórax pode ser observado na ausculta e ruídos brônquicos pode indicar alteração na distribuição gasosa. Azeredo (2000) coloca que a avaliação radiológica do tórax na insuficiência respiratória é fundamental e, muitas vezes, pode apresentar infiltrado pulmonar bilateral. 2.9. O PAPEL DA FISIOTERAPIA NA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA DE PACIENTES PORTADORES DE DMD Este capítulo tem o objetivo principal de mostrar o quão ampla pode ser a atuação da fisioterapia na insuficiência respiratória de pacientes portadores de Distrofia Muscular Progressiva do tipo Duchenne, e apresentar as bases fisiológicas das principais técnicas utilizadas. De acordo com Thompson (2000) as infecções pulmonares são uma complicação grave para os pacientes com DMD e tosse não produtiva. A insuficiência respiratória pode ser precipitada pela infecção pulmonar. Tal afirmação pode ser confirmada pelo estudo realizado por Poponick et al.(1997) onde foi avaliada a força dos músculos respiratórios durante infecção das vias aéreas superiores em pacientes neuromusculares. Foram avaliados 25 pacientes com episódio de infecção de vias aéreas superiores e os autores encontraram uma diminuição significativa da função muscular respiratória e do desempenho físico. O objetivo da fisioterapia é ajudar a eliminar secreções do pulmão efetivamente no menor tempo possível, sempre cuidando a fadiga. Os exercícios de expansão torácica permitem um aumento do fluxo de ar através das pequenas vias aéreas e a fluidificação da secreção, enquanto que técnicas de expiração forçada e tosse assistida auxiliam na remoção de secreções. Devido a atrofia do diafragma algumas posições podem ficar limitadas, como o decubito dorsal ou a posição inclinada, por isso deve-se ter cautela ao realizar a drenagem postural. Concordando com outros autores, David (2000) coloca que o tratamento do paciente em insuficiência respiratória visará à correção da doença de base, ou seja, daquela que está ocasionando graves alterações fisiopatológicas pulmonares e também da manutenção da oxigenação tissular e eliminação de gás carbônico necessário para que a doença regrida. Sabe-se que a DMD não é curável, porém não é intratável, muito se pode fazer para melhorar a qualidade de vida dos portadores desta doença. O tratamento fisioterapêutico da doença de base, ou seja, da distrofia muscular não será tratado neste trabalho devido ao fato de não ser objetivo deste estudo. O objetivo principal deste trabalho é de demonstrar a atuação da fisioterapia frente à insuficiência respiratória de pacientes portadores de DMD e divulgar a importância desta intervenção fisioterapêutica. Segundo David (2000) o tratamento de suporte da insuficiência respiratória visará a troca gasosa pulmonar, a oxigenação tissular e a ventilação alveolar. A fisioterapia respiratória para portadores de DMD incluem técnicas manuais que auxiliam na higiene brônquica, padrões ventilatórios profundos, e técnicas que ajudam na ventilação. A atuação da fisioterapia na área respiratória é bastante ampla da prática profissional que lida com a avaliação, acompanhamento e tratamento de pacientes com diversas alterações pulmonares. Os objetivos do tratamento fisioterapêutico na insuficiência respiratória vai depender do quadro que o paciente vai apresentar, mas de acordo com Birnkant (2002) os principais objetivos são prevenir acúmulo e/ou retirar secreções nas vias aéreas, melhorar a ventilação das vias aéreas, melhorar a resistência à fadiga, reduzir gastos energéticos durante a respiração, melhorar condições de expansão pulmonar, favorecer o trabalho diafragmático e manter e/ou melhorar a mobilidade torácica. 2.9.1. HIGIENE BRÔNQUICA Sabe-se que a retenção de secreções e a inalação de material da orofaringe constituem características bastante comuns de uma série de doenças neuromusculares, entre elas a DMD. O aumento das secreções brônquicas, sua retenção, a inalação de substâncias da faringe e processos broncoaspirativos, constituem características comuns de vários distúrbios neuromusculares, nos quais a tosse é fraca e/ou a deglutição é ineficiente (SLUTZKY, 1997). As técnicas de higiene brônquica são indicadas especificamente quando o sistema de depuração mucociliar está alterado. Hoje existe um consenso que avaliam a eficácia das técnicas de higiene brônquica onde diz que as manobras apenas são eficazes quando há produção diária de secreção acima de 30ml. Porém, deve-se lembrar, que vários fatores influenciam para a eficácia das técnicas de higiene brônquica como a viscosidade da secreção, condições do paciente e a ação ciliar (SOARES et. al., 2000). Segundo Slutzky (1997) as técnicas fisioterapêuticas para a higiene brônquica baseiam-se em três níveis de atuação: (1) descolamento do muco brônquico; (2) deslocamento do muco brônquico; e, (3) eliminação do muco brônquico. A seguir serão apresentadas as principais técnicas da fisioterapia respiratória utilizadas para higiene brônquica. 2.9.1.1. Percussão Segundo Costa (1999) a percussão manual pode ser compreendida como qualquer manobra realizada com as mãos, de forma ritmada, sobre o corpo. No caso específico da percussão pulmonar, a mão percursora entre em contato com a superfície externa do tórax do paciente, proporcionando vibrações mecânicas que deverão atingir os pulmões como uma onda de energia transmitida através da parede torácica para as vias aéreas. O autor ainda complementa dizendo que a percussão pulmonar proporciona a propagação de ondas de energia mecânica que são aplicadas na parede torácica e transmitidas aos pulmões, com o objetivo de provocar o descolamento da secreção pulmonar viscosa, permitindo o seu deslocamento pela árvore brônquica e, desta maneira, facilitando sua eliminação. Soares et al. (2000) complementa dizendo que a percussão pode ser realizada de duas maneiras: tapotagem ou punho percussão. A tapotagem é definida como batidas rítmicas com as mãos em forma de concha criando-se uma espécie de “almofada de ar” sobre a parede torácica e, desta maneira, transmitindo aos pulmões uma vibração que auxilia na expulsão das secreções respiratórias. Já a punho percussão consiste em batidas rítmicas com as mãos fechadas, alternadamente, onde as regiões metacarpofalangeana e falangeana do quinto dedo constituem a área de contato que atinge a parede torácica. Os autores ainda salientam que tais manobras podem ser realizadas tanto na fase inspiratória quanto expiratória e sugerem que a freqüência de realização das manobras seja de duas vezes ao dia em sessões de quinze minutos ou o tempo necessário para provocar o deslocamento das secreções. Deve-se respeitar também a situação do paciente, não deixando ele entrar em fadiga. Figura 8 – Manobra de percussão torácica. Fonte: SOARES, P. R. D., et al. Fisioterapia Respiratória para o Paciente Pneumológico. In: SILVA, L. C. C. Condutas em Pneumologia. V. 2. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. 2.9.1.2. Vibração Manual A técnica de vibração consiste em vibrações manuais realizada pelo fisioterapeuta com as mãos colocadas sobre o tórax do paciente, esta técnica pode estar associada à compressão torácica e deve ser realizada na fase expiratória (SOARES et al., 2000). De acordo com Costa (1999) a vibração manual ou vibratoterapia consiste em movimento rítmicos, rápidos e com intensidade suficiente para causar a vibração em nível bronquial. É realizada com a mãos espalmadas, acopladas e com um certo grau de pressão no tórax do paciente. O objetivo desta técnica é deslocar as secreções pulmonares já soltas, conduzindo-as para as vias aéreas de maior calibre para facilitar a eliminação do sistema respiratório. O autor ainda coloca que a vibração manual não provoca ondas vibratórias tão bruscas como a percussão, podendo ser aplicada em qualquer caso e deve ser feita sempre que possível na fase expiratória. 2.9.1.3. Tosse Assistida A tosse assistida, como o próprio nome já diz, nada mais é do que uma ajuda terapêutica ao ato de tossir (AZEREDO, 2000c). Costa (1999) coloca que é realizada mediante um estímulo manual exercido sobre o tórax do paciente no momento em que ele tenta tossir ou tosse com muita dificuldade pela fraqueza da musculatura expiratória. Esta técnica consiste numa pressão que é exercida com a região palmar de uma das mãos do fisioterapeuta na região póstero superior do tórax e a outra mão apoiando anteriormente o tórax do paciente a fim de proteger e evitar o deslocamento do paciente para frente 2.9.1.4. Estímulo da Tosse Existem dois mecanismos de limpeza das vias aéreas: a tosse e o mecanismo mucociliar. A tosse entra em ação quando há algum fator irritativo nas vias aéreas, produção excessiva de secreções, diminuição da atividade mucociliar ou inalação de corpo estranho. Segundo Soares et al. (2000) a tosse é a manobra mais importante utilizado pela fisioterapia na remoção de secreções. A musculatura inspiratória de pacientes portadores de doenças neuromusculares freqüentemente não tem poder para criação de um fluxo adequado para expulsar as secreções pulmonares (LANGER, 2000). Quando há uma diminuição dos reflexos da tosse ou insuficiência da musculatura respiratória para expulsar as secreções, torna-se necessário um estímulo mecânico na região dos receptores da tosse (a maioria localizados na traquéia) para que este estímulo provoque a tosse (COSTA, 1999). Na DMD a tosse não é efetiva devido a fraqueza da musculatura respiratória, portanto é de grande valia o estímulo para tosse. Como a eficácia da tosse é maior em vias aéreas de grosso calibre, deve-se sempre iniciar a sessão utilizando técnicas que façam com que ocorra um deslocamento da secreções até as vias aéreas de maior calibre. Caso o paciente não consiga tossir adequadamente, podese induzir a tosse realizando um pequena pressão com o dedo acima da incisura jugular (SOARES et al, 2000). Outra forma de estimular a tosse é colocada por Azeredo (2000c), realizada através da estimulação da tosse pelo canal auditivo com o auxílio de um cotonete. Este instrumento associado ao cerume impactado no conduto auditivo externo, quando manipulados, fazem com que os nervos receptores sejam estimulados e desencadeiam a tosse por via reflexa. O processo exato pelo qual este tipo de estímulo faz desencadear a tosse ainda é pouco explicado, porém acredita-se estar associado à comunicação dos receptores dos nervos cranianos vestibulares, facial, vestíbulo-troclear e do próprio vago, no nível do ouvido médio. 2.9.1.5. Drenagem Postural Seletiva A drenagem postural seletiva é uma técnica onde um lobo específico do pulmão é posicionado com o eixo do seu brônquio próximo de uma linha vertical, de maneira que a gravidade possa ajudar o movimento das secreções das vias aéreas periféricas em direção às centrais, de onde elas possam ser expectoradas. Esta técnica pode ser utilizada isoladamente, porém torna-se mais eficaz quando associada à outras técnicas como percussão, vibração, terapia expiratória manual passiva e técnica expiratória forçada. A posição de drenagem deve ser mantida por no mínimo 15 minutos e deve ser realizada duas vezes ao dia. É uma técnica dinâmica e a posição do paciente deve ser mudada de acordo com a avaliação constante do fisioterapeuta através da ausculta e da radiologia (SOARES et al., 2000). Kisner e Colby (1998) confirmam esta idéia quando definem a drenagem postural como uma forma de mobilizar secreções em um ou mais segmentos pulmonares para as vias aéreas centrais colocando o paciente em diferentes posições de modo que a gravidade auxilie no processo de drenagem. Esta técnica pode ser utilizada tanto para remoção de secreções quanto para a prevenção de acúmulo de secreção em pacientes com risco para complicações pulmonares complementam os autores. A utilização deste recurso decorre da necessidade de se deslocar o excesso de secreção broncopulmonar em direção aos hilos pulmonares para então ser expelida dos pulmões reafirma Barbosa (2002). Porém, pode tornar-se ineficaz se utilizada unicamente, sem o preparo anterior do paciente e sem a associação de outras técnicas desobstrutivas, alerta a autora. 2.9.1.6. Terapia Expiratória Manual Passiva (TEMP) A terapia expiratória manual passiva (TEMP) consiste numa compressão do tórax realizada pelo fisioterapeuta com as duas mãos durante a fase expiratória com o objetivo de aumentar o fluxo expiratória e deslocar secreções para vias aéreas de maior calibre (SOARES et al., 2000). Costa (1999) coloca esta técnica como uma depressão passiva do gradil costal do paciente, além do que ele consegue realizar ativamente, durante uma expiração normal ou forçada. O autor salienta que esta manobra, ou seja, a pressão expiratória na sua fase final pode estimular a tosse, que vai ajudar a remover secreções dos pulmões estimulando a expectoração. 2.9.1.7. Técnica de Expiração Forçada A técnica de expiração forçada (TEF) também conhecida como “huffing’ é uma manobra que tem o objetivo de deslocar e remover secreções. Consiste em o paciente realizar uma inspiração até a metade da capacidade inspiratória seguida por uma expiração forçada com a glote aberta (SOARES et al., 2000). 10.1.8. Oscilação Oral de Alta Freqüência (Flutter VRP1) O Flutter VRP1 é um mecanismo que auxilia na desobstrução brônquica e, também, proporciona maior independência de certos grupos de pacientes hipersecretivos (SLUTZY, 1997). Esta técnica combina os efeitos da pressão expiratória positiva com oscilação de alta freqüência (SOARES et al., 2000). O Flutter VRP1 é um aparelho pequeno, em forma de cachimbo, onde uma bola de metal repousa sobre um cone de plástico resistente. O exercício consiste na realização de ciclos respiratórios nos quais a fase inspiratória é via nasal e a fase expiratória é realizada através da peça bucal do aparelho, sendo que, durante a expiração, a pressão gerada pelo fluxo expiratório desloca a bola de metal do cone plástico produzindo oscilações pressóricas que são transmitidas ao longo da árvore traqueobrônquica. A pressão positiva oscilante faz com que os brônquios tenham seu diâmetro aumentado mobilizando as secreções. O tempo de aplicação do aparelho depende da necessidade de cada paciente, sendo recomendado sessões curtas, três a quatro vezes ao dia. Pode-se associar esta técnica com a TEF para uma melhor efetividade (SOARES et al., 2000) (Fig. 9 e 10). Figura 9 – Flutter. Fonte: SOARES, P. R. D., et al. Fisioterapia Respiratória para o Paciente Pneumológico. In: SILVA, L. C. C. Condutas em Pneumologia. V. 2. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. Slutzky (1997) considera que apesar de vários estudos comprovarem a efetividade da expectoração do muco com o uso do Flutter VRP1, ainda não se comprovaram quaisquer melhoras nas provas de função pulmonar. Figura 10 – Manejo correto do flutter. Fonte: SOARES, P. R. D., et al. Fisioterapia Respiratória para o paciente pneumológico, 2001. 2.9.1.9. Insuflação Passiva (Bag-squeezing) De acordo com Soares et al. (2000) essa técnica é utilizada nos pacientes em ventilação mecânica ou traqueostomizados, com o objetivo de facilitar o deslocamento da secreção pelo fluxo turbulento que é gerado pelo uso do ambu. A técnica consiste em posicionar o paciente numa postura de drenagem postural seletiva e hiperinsuflar os pulmões com auxílio de um ambu de três ou cinco litros; durante a expiração o tórax deve ser submetido à vibração e a secreção que chega até a traquéia deve ser aspirada. Pode-se associar esta técnica à TEMP. 2.9.1.10. Aerossolterapia A aerossolterapia é um recurso terapêutico, por via inalatória, que se utiliza da transformação de líquidos em partículas sólidas em suspensão com a finalidade de aumentar o calibre das vias aéreas, umidificar a árvore traqueobrônquica e diminuir a viscosidade da secreção. Esta técnica é usada para umidificar as vias aéreas quando estão ressecadas, pois com isso há o ressecamento do muco, a secreção fica mais espessa e os cílio não conseguem removê-las. Pode ser utilizada para a administração de drogas, onde se torna um método inócuo e seguramente eficaz, pois o medicamento á depositado diretamente em grande quantidade no local a que se destina. Quanto à freqüência, pode ser usado várias vezes durante o dia desde que usado apenas solução fisiológica. Quando se administra medicações deve-se ficar atento para espaçar a nebulização entre 4 a 6 horas para que não ocorra uma superdosagem (BARBOSA, 2002). 2.9.1.11. Aspiração das vias aéreas A aspiração traqueal é bastante utilizada em pacientes com vias aéreas artificial (ventilação mecânica) comenta Soares et al. (2000), pois contribui na remoção das secreções e na estimulação da tosse. Para realizar esta técnica é muito importante uma boa assepsia. Deve-se lavar as mãos antes e após o procedimento, usar luvas especiais e material esterilizado. A manobra deve ser repetida até a completa higiene brônquica, porém algumas complicações podem ocorrer, como a hipoxemia, traumas mecânicos, contaminação e arritmias cardíacas. Barbosa (2002) também chama a atenção para o fato de ter cuidado com a utilização de material esterilizado para a aplicação desta técnica. Este método contribui para a remoção de secreções e estimula a tosse, complementa a autora, e sua freqüência é ditada pela quantidade de secreção e pela avaliação constante do fisioterapeuta. Por ser uma técnica bastante incômoda para o paciente e com várias complicações, todas as outras técnicas para eliminação de secreção devem ser tentadas antes de se iniciar a aspiração de vias aéreas. Quando se torna incapaz do paciente realizarem um tosse eficaz e acumularem secreções nas vias aéreas, também é recomendado realizar a aspiração nasofaríngea. Este tipo de aspiração é realizada com o intuito de estimular a tosse e desobstruir as vias aéreas. E deve-se ter os mesmos cuidados com a assepsia que no caso de aspiração de pacientes em ventilação mecânica (ROZOV, 1999). 2.9.2. EXPANSÃO PULMONAR A inadequação da função muscular respiratória na DMD leva a atelectasias e hipoventilação pulmonar além de aumentar o trabalho muscular respiratório. A hipercapnia surge como resultado do processo respiratório ineficiente e isso aumenta muito o risco de morbidade e mortalidade, por insuficiência respiratória (SLUTZKY, 1997). No caso específico da DMD, a administração de oxigênio suplementar não é capaz de inverter o quadro de insuficiência respiratória pois a falha não está na oxigenação e, obviamente, na ventilação. A atuação da fisioterapia, com suas técnicas expansivas, intervindo o mais precocemente possível, tem condições de beneficiar os pacientes em termos de melhora da função respiratória, qualidade de vida e redução de custos comenta Slutzky (1997). O mesmo autor define a expansão pulmonar como uma técnica manual e/ou mecânica que atua em áreas pulmonares que não estejam ventilando corretamente. Alguma técnicas fisioterápicas de expansão pulmonar serão descritas a seguir. 2.9.2.1. Padrão Ventilatório (PV) Segundo Soares et al. (2000) uma das principais técnicas fisioterapêuticas usadas para a expansão pulmonar é a imposição de novos padrões respiratórios ao paciente. Esta técnica tem a vantagem de ser de fácil entendimento além de não necessitar do uso de aparelhos específicos para sua realização, contribuindo dessa maneira para o benefício de grande número de pacientes. Os princípios fisiológicos destes padrões, explica os autores, são o de manter um maior volume de ar dentro dos alvéolos além de estimular uma atividade muscular apropriada e uma melhor respiração. Vários são os objetivos dos padrões ventilatórios, sendo que cada um tem o seu objetivo específico, porém, de maneira geral, os objetivos são de promover uma alteração no padrão respiratório do paciente, diminuir o trabalho respiratório, deslocar secreções, realizar a reexpansão do parênquima pulmonar, manter uma atividade muscular adequada e diminuir o gasto energético durante o ciclo respiratório. Atualmente, existe uma grande variedade de padrões ventilatórios com eficácia comprovada cientificamente, os principais e mais usados são: PV com retardo expiratório ou frenolabial, PV diafragmático, PV com inspiração fracionada, PV com inspiração e expiração fracionada. PV tranqüilo e PV com apnéia após inspiração máxima ou sustentação máxima da inspiração. O PV com retardo expiratório consiste em realizar um inspiraçao nasal e uma expiração oral mantendo-se um retardo que pode ser feito expirando através dos dentes ou com a propulsão dos lábios. Já para realizar o PV diafragmático, o paciente deve inspirar vagarosamente pelo nariz ou pela boca e quando realizar a expiração deve protair o abdome com uma contração voluntária do diafragma. No PV com inspiração fracionada, a inspiração é nasal e programada para ser realizada com dois a seis tempos repetitivos, com uma breve apnéia após cada inspiração. No PV com inspiração e expiração fracionada, tanto a inspiração quanto a expiração são realizadas em ciclos com apnéias após cada ciclo. O PV tranquilo, como o próprio nome já diz, consiste em realizar uma respiração com um trabalho ventilatório mínimo. E o PV com apnéia pós inspiratória consiste em realizar uma inspiração profunda e realizar uma apnéia máxima após a inspiração (SOARES et al., 2000) (Fig. 11). Figura 11 – PV diafragmático com expiração frenolabial. Fonte: SOARES, P. R. D., et al. Fisioterapia Respiratória para o Paciente Pneumológico. In: SILVA, L. C. C. Condutas em Pneumologia. V. 2. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. 2.9.2.2. Incentivadores inspiratórios Slutzky (1997) define os incentivadores inspiratórios como uma técnica que objetiva imitar os suspiros e os bocejos naturais, além de encorajar o pacientes a respirar em um ritmo lento, longo e profundo. Os inspirômetros de incentivo são aparelhos que fornecem um “feedback” ao paciente enquanto realiza exercícios respiratórios. O incentivo visual que o aparelho proporciona ao paciente motiva o mesmo a realizar inspirações com volumes maiores, auxiliando na expansão pulmonar e, com isso, se beneficiando da colateral e reduzindo a resistência ao fluxo de ar pelo aumento do volume pulmonar. Sugere-se que sejam realizados no mínimo 20 ciclos respiratórios com intervalos de pelo menos 2 horas a cada sessão. Existem dois tipos básicos de inspirômetros de incentivo: inspirômetro a fluxo (Fig. 12) e inspirômetro a volume (Fig. 13). O inspirômetro a volume gera um fluxo menos turbulenta (por permitir a entrada de um volume constante de ar) e, dessa maneira, exige mais da musculatura diafragmática conseguindo uma melhor expansão pulmonar. Por outro lado, os inspirômetros a fluxo, são mais acessíveis em relação a custos, porém geram um fluxo de ar mais turbulento, ou seja, menos fisiológico (SOARES et al., 2000). Figura 12 – Incentivadores respiratórios a fluxo. Fonte: SOARES, P. R. D., et al. Fisioterapia Respiratória para o Paciente Pneumológico. In: SILVA, L. C. C. Condutas em Pneumologia. V. 2. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. Para pacientes neuromusculares, o uso dos incentivadores inspiratórios deve ser muito bem avaliada e monitorada pelo fisioterapeuta para não correr o risco de causar fadiga muscular respiratória decorrente do uso inadequado destes equipamentos, comenta Slutzky (1997). Figura 13 – Incentivadores respiratórios a volume. Fonte: SOARES, P. R. D., et al. Fisioterapia Respiratória para o Paciente Pneumológico. In: SILVA, L. C. C. Condutas em Pneumologia. V. 2. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. 2.9.2.3. Descompressão súbita Esta técnica é considerada reexpansiva e desobstrutiva ao mesmo tempo. Nesta manobra o paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal ou lateral, o terapeuta coloca as mãos abertas sobre o tórax do paciente com os polegares ao nível das últimas costelas. Devese acompanhar a expiração e, no final da mesma, realizar um reflexo de estiramento (retirada brusca das mãos) sobre o tórax, favorecendo a expansão pulmonar pelo aumento de ar inspirado na inspiração subseqüente (BARBOSA, 2002). 2.9.2.4. Estímulo diafragmático Esta técnica auxilia na eficiência ventilatória, aumenta a excursão diafragmática e melhora a troca de gases além de facilitar o processo desobstrutivo. É uma técnica que conscientiza o paciente do padrão diafragmático, através de um estímulo sobre o diafragma que tende a favorecer a expansão das bases pulmonares. Após o correto posicionamento do paciente, que deve estar em decúbito dorsal, coloca-se uma das mãos sobre o reto do abdome com o polegar em direção ao esterno, logo abaixo das últimas costelas, à altura do diafragma. Inicialmente, deve-se apenas acompanhar o movimento de subida e descida do diafragma para ir se familiarizando com a movimentação e, posteriormente, ao final da expiração deve ser dado o estímulo no diafragma, onde a borda cubital da mão que está apoiada é levada para dentro da caixa torácica e antes de iniciar a inspiração é dado um estímulo como um reflexo de estiramento no diafragma (BARBOSA, 2002) (Fig. 14). Figura 14 – Estímulo diafragmático. Fonte: BARBOSA, S. Fisioterapia Respiratória – Encefalopatia Crônica da Infância. Rio de Janeiro: Revinter, 2002. 2.9.2.5. Respiração glossofaríngea A técnica envolve o uso da língua e dos músculos da faringe que bombeiam ar para a traquéia e, com isso, insuflam os pulmões explica Slutzky (1997). Mais especificamente, nessa técnica, “goles” de ar são empurrados para a traquéia através da laringe aberta. Fecha-se então a laringe, que passa a atuar como uma válvula para impedir o escape do ar. Este processo deve ser repetido rapidamente, de modo com que os pulmões sejam insuflados freqüentemente e bem acima da capacidade pulmonar total que pode ser obtida com a respiração normal (Fig. 15). A respiração glossofaríngea é uma forma de respirar sob pressão positiva e com uma fase inspiratória prolongada. A pressão intratraqueal aumenta e atinge volumes pulmonares elevados de até 30 cmH2O. Este tipo de respiração propicia um aumento da capacidade de respirar profundamente e, consequentemente, aumenta a complacência dos pulmões através da abertura das vias aéreas de pequeno calibre e, desta maneira, previnem-se os colapsos das vias subsegmentares (SLUTZKY, 1997). Estudos realizados por Baydur et al. (1990) mostraram benefícios da respiração glossofaríngea em casos graves de DMD, onde havia fraqueza severa da musculatura orofaríngea. Além dos benefícios reexpansivos da respiração glossofaríngea, esta técnica pode ser usada também para o alívio da fadiga muscular, visto que os principais músculos inspiratórios repousam durante a aplicação da técnica, uma vez que o trabalho da respiração é realizado pelos músculos orais, da língua e da laringe. A melhora da complacência pulmonar e da parede torácica com o uso da respiração glossofaríngea também ajuda a reduzir riscos de fadiga muscular respiratória (SLUTZKY, 1997). Portanto, em pacientes portadores de DMD, a respiração glossofaríngea é bastante útil como técnica reexpansiva e também como técnica de prevenção e/ou alívio da fadiga muscular respiratória. 2.9.2.6. Alongamento da musculatura acessória O alongamento dos músculos inspiratórios facilita a dinâmica do diafragma, evitando as compensações que distorçam o tórax e, desta forma, prejudiquem a ventilação (AZEREDO, 2002a). Segundo Barbosa (2002) a musculatura acessória deve ser alongada para não ser utilizada em excesso, pois quando utilizada em excesso o diafragma deixa de trabalhar adequadamente. Os principais músculos que devem ser alongados são os cervicais, principalmente o esternocleidomastoideo. Um método que pode ser utilizado para alongar a musculatura cervical é a tração craniana cervical isoladamente ou associada a tração caudal do esterno. 2.9.2.7. Alongamento da musculatura lateral do tronco Embora não seja uma técnica exclusivamente respiratória, o alongamento da musculatura do tronco visa favorecer uma maior mobilidade torácica e, deste maneira, auxilia na reexpansão pulmonar (BARBOSA, 2002). 2.8.2.8. Uso da Máscara de EPAP - Pressão Positiva Expiratória (Peep) A técnica da pressão positiva expiratória consiste em produzir um pressão positiva no final da expiração (Peep) em pacientes com respiração espontânea. No entanto, para a técnica ser realizada, é necessário uma máscara facial com uma válvula unidirecional onde é acoplado um resistor (que pode ser de fluxo ou de limiar pressórico) gerador de Peep. Os mais utilizados são os resistores de limiar pressórico, os quais o mais prático e mais comum é o resistor tipo spring loaded, que consiste em um diafragma disposto no orifício expiratório que impõem uma resistência ao fluxo expiratório por um sistema de molas. Figura 15 – Máscara de EPAP com resistor tipo spring loaded. Fonte: SOARES, P. R. D., et al. Fisioterapia Respiratória para o Paciente Pneumológico. In: SILVA, L. C. C. Condutas em Pneumologia. V. 2. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. 2.9.2.9. Ventilação Não-invasiva (VNI) As opções para ventilação mecânica incluem modalidades invasivas e não-invasivas que utilizam ventiladores geradores de pressão positiva ou pressão negativa (BIRNKANT, 2002). A aplicação do suporte ventilatório não-invasivo para melhorar a ventilação não é uma idéia nova, coloca Piper e Ellis (2002). O respirador tanque ou “pulmão de ferro” que fornece pressão negativa à parede torácica, foi desenvolvido primeiramente no século XIX para tratar as complicações respiratória da poliomielite e nas décadas de 1940 e 1950 passou por modificações, onde foram amplamente utilizados. Com o desenvolvimento dos ventiladores de pressão positiva e a introdução do tubo orotraqueal na década de 1960, fez com que a ventilação não–invasiva fosse menos utilizada. A partir da metade da década de 1980 o interesse pelo suporte ventilatório não-invasivo foi novamente revigorado, especificamente com o uso de ventiladores geradores de pressão positiva nas via aéreas (BIRNKANT, 2002). Nos últimos 10 anos, o desenvolvimento da ventilação mecânica tem permitido prolongar e melhorar a vida de pacientes considerados em fase terminal (LOBATO et al., 1996). A VNI é definida como uma técnica de ventilação mecânica onde não é empregada qualquer tipo de prótese traqueal (tubo orotraqueal, nasotraqueal ou cânula de traqueostomia), sendo a conexão entre o ventilador e o paciente feita através do uso de uma máscara nasal ou facial. A VNI diminui a necessidade de intubação e suas complicações associadas, e em situações específicas é capaz de reduzir a mortalidade (Segundo Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica, -). A VNI envolve modalidades que aumentam a ventilação alveolar e diminuem o trabalho respiratório, sem a necessidade da colocação de próteses invasivas, através do uso de máscaras faciais ou nasais (COSTA, 1999). Dealis et al. (2000) salienta a importância da ventilação não-invasiva quando diz que, ultimamente, ela tem proporcionado um grande interesse em unidades de terapia intensiva e unidades de pronto atendimento, onde os resultados têm mostrado uma grande eficiência em pacientes com insuficiência respiratória aguda. As autoras ainda ressaltam que este modo de ventilação tem os mesmos benefícios obtidos com os da assistência ventilatória convencional, porém sem as complicações associadas às próteses traqueais e ventilação mecânica, sem contar com a melhora das condições clínicas do paciente, da aplicação fácil e baixo custo. Langer (2000) chama atenção para o fato de grande parte dos profissionais da equipe de saúde, ao se depararem com insuficiência ventilatória decorrente de fraqueza muscular, ignoram o problema. A autora comenta que muitos profissionais só introduzem ajuda ventilatória nos episódios de falência aguda, quando geralmente torna-se necessária a intubação e, consequentemente, a traqueostomia. Outros profissionais, complementa a autora, ainda se posicionam de forma mais cética, acreditando que não vale a pena investir em quem imagina ter uma má qualidade de vida. O suporte ventilatório deveria, com freqüência, ser prescrito para pacientes com doenças neuromusculares progressivas em virtude da presença de uma má qualidade de vida desses pacientes. O uso da ventilação não-invasiva a longo prazo mostrou estabilizar a função pulmonar e prolongar a expectativa de vida em pacientes com DMD (PIPER e ELLIS, 2002). Os principais objetivos da ventilação mecânica são colocados por KALICHSZTEIN e VIANNA (2001) como sendo: correção de insuficiência respiratória grave, aliviar o desconforto respiratório, reduzir o gasto respiratório de oxigênio, melhorar as trocas gasosas, reverter a fadiga da musculatura respiratória e evitar as complicações potenciais da ventilação mecânica invasiva. Lobato et al. (1996) complementa dizendo que os principais objetivos da ventilação mecânica são: aumentar a expectativa de vida, melhorar a qualidade de vida, reduzir a mortalidade e melhorar as funções físicas e psíquicas dos pacientes. A ventilação mecânica requer a movimentação de uma coluna de ar que pode ser gerada por intermédio de um aparelho de pressão negativa ou um aparelho de pressão positiva (LOBATO et al., 1996). Ventilação através de pressão negativa O princípio de funcionamento deste modo de ventilação se baseia na criação de uma pressão negativa peri-torácica que permite que o ar seja inspirado para dentro dos pulmões através da boca e do nariz. A expiração ocorre de forma passiva, através do efeito de retração elástica dos pulmões e da caixa torácica (LOBATO et al., 1996). Pela praticidade, preço e portabilidade, os aparelhos geradores de pressão positiva sobre as vias aéreas levam grande vantagem sobre os geradores de pressão negativa. Como resultado, a ventilação mecânica de pacientes com doença neuromuscular é, normalmente, realizada com ventilação não-invasiva de pressão positiva (LANGER, 2000). Os ventiladores de pressão negativa podem apresentar fugas de ar que fazem diminuir a eficácia da ventilação, produzem deformidades torácicas, irritação da pele e sua eficácia depende da superfície que o aparelho cobre, conclui Lobato et al. (1996). Ventilação por pressão positiva A ventilação não-invasiva com pressão positiva consiste em um método de suporte ventilatório em que uma pressão positiva é aplicada à via aérea do paciente através de máscaras ou outras interfaces sem a utilização de qualquer prótese endotraqueal (HOLANDA, M. A. et al., 2001). A criação de uma pressão positiva nas vias aéreas pode ser gerada determinando um volume ou uma pressão. Portanto, o fluxo de ar pode ser gerado através dos ventiladores volumétricos ou barométricos. Neste tipo de ventilação, as fugas são menores que na ventilação por pressão negativa, não ocorrem apnéias e nem produzem deformidades torácicas, além do mais, os equipamentos são mais portáteis e permitem uma facilidade no manejo tornando o paciente mais independente (LOBATO et al., 1996). Os ventiladores volumétricos liberam ar durante a inspiração até alcançar um volume predeterminado, independentemente da pressão que se necessita para isso. Um sistema de alarme acoplado ao ventilador dispara quando ocorre um fluxo de ar que sobrepassa uma determinada pressão no sistema, prevenindo o risco de barotrauma. Ao contrários dos respiradores controlados a volume, nos ventiladores de pressão o fluxo de ar só é liberado quando o circuito alcança uma pressão predeterminada. Estes equipamentos tem a possibilidade de compensar fugas de ar, são mais baratos, porém sua utilização é menos popular que os ventiladores controlados a volume (LOBATO et al., 1996). Vários modos de ventilação mecânica com pressão positiva, quando aplicados pela técnica não-invasiva, são eficientes em diminuir a necessidade de intubação traqueal e promover a melhora das trocas gasosas em pacientes graves. Entretanto, algumas dúvidas ainda persistem à cerca do melhor modo a ser utilizado (DEALIS et al., 2000). Várias são as modalidades de ventilação não-invasiva, porém as mais utilizadas são: pressão de suporte (PSV), pressão positiva em dois níveis (biPAP) ou pressão positiva contínua (CPAP). A ventilação com PSV e o biPAP tem princípios de funcionamento bastante semelhantes. Ajustam-se dois níveis de pressão (inspiratório e expiratório). Ao início do ciclo respiratório, o ventilador percebe uma variação de pressão ou fluxo e, a seguir, um válvula de fluxo é aberta e pressuriza o sistema até o nível de pressão inspiratória predeterminado. O término do ciclo ocorre com a queda da taxa de fluxo inspiratório em torno de 25% do fluxo inicial (VIANNA, A. et al., 2002). A CPAP em vias aéreas pode ser feita através de um fluxo contínuo ou por válvula de demanda. Este modo de ventilação deve ser utilizada quando o paciente tiver estímulo respiratório, para manter aberta as vias aéreas e recrutas unidades alveolares, evitando o colapso alveolar e diminuindo o trabalho muscular respiratório (DAVID, 2000). O uso de CPAP em vias aéreas, através de máscaras nasofaciais, tem-se mostrado capaz de diminuir tanto o trabalho inspiratório quanto o expiratório, melhorando a eficiência diafragmática e evitando a fadiga muscular (SCARPINELLA-BUENO M. et al., 1997) (Fig. 17). Poucos estudos comparam diferentes modos de VNI na DMD. A maioria dos estudos mostram os resultados obtidos com o uso de uma das modalidades de VNI nos pacientes portadores de DMD. Um estudo realizado por Fernandes (-) procurou avaliar os resultados da VNI em crianças com insuficiência ventilatória decorrentes de doenças neuromusculares. A casuística era composta por 40 crianças portadores de enfermidades neuromusculares, sendo que 7 eram portadores de DMD, com idades entre 9 e 16 anos. Do grupo estudado, 36 receberam VNI com dois níveis de pressão positiva e 4 fizeram o uso de CPAP. O tempo médio de uso da VNI foi de 30 meses e todas as crianças tiveram benefícios com o uso do equipamento, como aumento da PaO2 e redução da PaCO2. Outros estudos realizados com ventilação não-invasiva com pressão positiva em pacientes portadores de DMD chegaram ao mesmo resultado, ou seja, aumento da PaO2 e redução da PaCO2. Porém, todos os autores salientam a importância de se continuar estudando os modos ventilatórios não-invasivos como forma de prevenir a morbidade dos pacientes portadores de doenças neuromusculares (CHEVROLET, A. et al., 2002; BAIDUR, A. et al., 2000; ROAD, J. D., 2000; STEFANUTTI, D. et al., 2000; SIMONDS, A. K. et al., 1998; GIBSON, B., 2001). Figura 16 – Equipamento de CPAP. Fonte: SOARES, P. R. D., et al. Fisioterapia Respiratória para o Paciente Pneumológico. In: SILVA, L. C. C. Condutas em Pneumologia. V. 2. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. 2.9.3. REDUZIR GASTOS ENERGÉTICOS Poucas são as técnicas fisioterápicas descritas para reduzir o gasto energético da respiração. Entretanto, para pacientes portadores de DMD a técnica mais indicada é a respiração glossofaríngea que já foi descrita como sendo uma técnica de reexpansão pulmonar. A explicação da eficácia desta técnica para reduzir os gastos energéticos é que, durante a respiração glossofaríngea, os músculos inspiratórios entram em repouso, além de causar uma melhora da complacência torácica o que faz com que reduza o risco de fadiga dos músculos respiratórios (SLUTZKY, 1997). Outras técnicas que podem ser consideradas como apresentando o objetivo de reduzir o gasto energético da respiração são os alongamento da musculatura acessória, visto que quando a musculatura acessória auxilia na respiração, o músculo diafragma trabalha de forma ineficiente fazendo com que o gasto energético da respiração se torne aumentado, as técnicas de ventilação não-invasiva, devido ao fato de a hipóxia dos pacientes portadores de DMD ser devido à falência da ventilação. 3. METODOLOGIA A proposta do trabalho foi de investigar, através de uma revisão bibliográfica, o tratamento fisioterapêutico destinado à insuficiência respiratória de pacientes portadores de DMD. O estudo é caracterizado pela revisão de literatura através de livros e artigos. Procurou-se pesquisar sobre a distrofia muscular de Duchenne, as suas principais características, como etiologia e aspectos clínicos. Realizou-se também uma pesquisa sobre a insuficiência respiratória na distrofia muscular de Duchenne e o tratamento fisioterapêutico destinado a este grave complicação da patologia. Em relação a literatura, teve-se dificuldade em encontrar livros e artigos que comentem especificamente sobre o tratamento fisioterapêutico na insuficiência respiratória na distrofia muscular de Duchenne. Diante da escassa bibliografia encontrada que comentassem especificamente sobre a fisioterapia na insuficiência respiratória na DMD, o trabalho, então, foi desenvolvido em cima das características das complicações respiratórias encontradas na insuficiência respiratória. Desta forma, o trabalho buscou explicitar o tratamento fisioterapêutico utilizado para tais complicações encontradas. 4. CONCLUSÃO Ao iniciar-se esta revisão de literatura, estabeleceu-se como principal meta a intervenção da fisioterapia na insuficiência respiratória na DMD, na tentativa de contribuir para a divulgação da importância da fisioterapia na situação citada acima. Acredita-se que a fisioterapia respiratória pode auxiliar na melhora da qualidade de vida, já que a DMD segue um curso progressivo e não apresenta cura. Verificou-se que mesmo sendo uma enfermidade de caráter progressivo, deve-se dar importância a seu tratamento, pois ao realizar a revisão literária, observou-se que há poucas bibliografias que dão a ênfase necessária a insuficiência respiratória em pacientes portadores de DMD. Finalizando, acredita-se que deve haver mais pesquisas sobre o assunto e que se dê ao caso a importância merecida, principalmente em relação a que exercícios respiratórios são importantes e qual a melhor forma de realizá-los para diminuir as dificuldades do paciente, sem realizar um grande gasto energético e contribuir para a fadiga muscular respiratória. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIDÉ, M. A. et. al. Pneumologia – Aspectos Práticos e Atuais. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. AZEREDO, C. A. Fisioterapia Respiratória no Hospital Geral. São Paulo: Manole, 2000. AZEREDO, Carlos A. C. Fisioterapia Respiratória Moderna. São Paulo: Manole, 2002a. AZEREDO, Carlos A. C. Técnicas para o Desmame no Ventilador Mecânico. São Paulo: Manole, 2002b. BACH, J. R. Prevention of pulmonary morbidity for patients with Duchenne muscular dystrophy. Chest. V. 112, p. 1024-1028, 1999. BARBOSA, S. Fisioterapia Respiratória – Encefalopatia Crônica da Infância. Rio de Janeiro: Revinter, 2002. BAYDUR, A. et al. 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