Fisioterapia preventiva nas complicações respiratórias da distrofia muscular de Duchenne Resumo Autoras: Camila Fernanda Felippe Soraya Capella Professora Orientadora: Dra. Mariney Flávia Pereira Di-Tanno Ramalho Centro Universitário Anhanguera - Câmpus Leme A distrofia muscular de Duchenne também conhecida como distrofia pseudo-hipertrófica ou distrofia muscular progressiva é uma doença com herança recessiva diretamente ligada ao sexo, causada pela ausência da proteína distrofina, condição determinante da necrose do sarcolema e eliminação de sua propriedade contrátil durante a atividade física. A doença caracteriza-se por degeneração gradativa da musculatura estriada e tem aparecimento insidioso, normalmente apresentando sintomas antes dos 03 anos de idade e evoluindo para incapacidade de caminhar, complicações respiratórias e morte, em geral, até 20 anos de idade. Enquanto os tratamentos baseados em terapia genética não estão disponíveis, tratamentos médicos e abordagens fisioterápicas devem ser explorados para manter as funções básicas e o conforto máximo dos pacientes. Neste contexto, a avaliação fisioterapêutica pulmonar e um programa adequado às necessidades de cada paciente pode prevenir e tratar os sintomas pulmonares resultantes das limitações impostas pela doença. Este trabalho tem como principal objetivo expor as possíveis intervenções fisioterapêuticas para melhorar a capacidade vital dinamizando a mecânica ventilatória e qualificando a sobrevida dos pacientes que apresentam doenças neuromusculares. Palavras-chave: Distrofia, duchenne, dinâmica ventilatória, doença neuromuscular. Introdução Diferentemente de doenças como paralisia cerebral ou poliomielite, a Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) representa uma doença progressiva na qual as crianças enfraquecem e em geral morrem de infecção respiratória ou de infecção cardiorespiratoria no final da adolescência (Tecklin, 2002). A DMD é a forma mais comum de distrofia na infância, representando uma incidência aproximada de 1 para cada 3500 nascimentos masculinos. Sua causa se deve a disfunção de um gene localizado no braço curto do cromossomo X. Este gene defeituoso poderá ser transmitido pela mulher aos seus filhos do sexo masculino, que desenvolverão a doença ou as suas filhas que poderão ser portadoras assintomáticas. A possibilidade dos filhos herdarem o gene da DMD é de 50 porcento. Em 2/3 dos casos a mutação é adquirida da mãe e 1/3 a mutação ocorre no próprio menino afetado (1993). Segundo Tecklin (2002) o começo da doença é insidioso, normalmente resultando em sintomas antes dos três (03) anos de idade; entretanto, os sintomas podem não ser percebidos por meses ou anos, e a doença pode ser mal diagnosticada. Os primeiros sintomas podem incluir dificuldade de caminhar ou de correr nas idades apropriadas, quedas, dificuldades em levantar-se do chão, marcha nas pontas dos pés, desorganização e aumento do tamanho de vários grupos musculares. Conforme a fraqueza progride, a criança levanta-se do chão “escalando pelas pernas”. Essa manobra conhecida como sinal de Gower, é indicativa de fraqueza muscular proximal (Tecklin, 2002).(FIGURA 01) 53 A insuficiência respiratória é uma causa freqüente de mortalidade nas crianças que apresentam essa doença. A paresia ou paralisia dos músculos auxiliares da respiração, principalmente dos músculos da parede abdominal e dos músculos grande dorsal e esternocleidomastoide, impossibilita a inspiração e a expiração normais e, por conseguinte a eliminação do muco mantido nas vias aéreas (Shepherd, 1995). Objetivo O objetivo do presente trabalho foi expor as possíveis intervenções fisioterapêuticas para melhorar a capacidade vital dinamizando a mecânica ventilatória e qualificando a sobrevida dos pacientes que apresentam doenças neuromusculares. Metodologia Para obter informações sobre a abordagem fisioterapeutica na prevenção de complicações respiratórias em pacientes com 54 DMD, foram realizados levantamentos bibliográficos em livros, sites de busca como www.abdim.gov.br, www.distrofiamuscular.net, acessados no período de 01 de Agosto de 2004 a 20 de setembro de 2004. As palavras-chaves utilizadas foram distrofia, duchenne e doenças neuromusculares. Tratamento Fisioterapêutico Tendo em vista o mecanismo de insuficiência respiratória do paciente de DMD, a cinesioterapia respiratória é um recurso de escolha e tem como objetivo melhorar a dinâmica ventilatória, reexpandindo o pulmão e favorecendo ao organismo uma maior demanda de oxigênio (COSTA,1999). A reeducação funcional respiratória é um conjunto de procedimentos terapêuticos que têm a intenção de ensinar o paciente a respirar de forma correta e vantajosa, de acordo com Costas (1999). Para isso exercita-se o padrão muscular respiratório diafragmático, o que faz com que o paciente não exija tanto da musculatura acessória da respiração, garantindo assim uma economia maior de energia. Inicia-se um trabalho de orientação respiratória que ajusta o tempo inspiratório/ expiratório e a profundidade da respiração ao padrão respiratório mais adequado para uma freqüência respiratória e um volume corrente ideal. Sendo assim neste método é imprescindível a orientação da inspiração pelo nariz e a expiração pela boca acompanhada de demonstrações práticas feitas pelo fisioterapeuta (COSTA,1999). Segundo o mesmo autor, aplica-se dentro do trabalho da Coordenação e Controle da Respiração, utilizam-se exercícios que conciliam a coordenação do tempo e da profundidade da respiração com o uso de exercícios respiratórios relacionados à fala e à deglutição, além dos movimentos de tronco e membros. Exercícios Respiratórios Os exercícios respiratórios diários, com cerca de 5 minutos de duração, tem como objetivo promover a expansão dos pulmões, podendo ser praticados em domicílio, com alguma supervisão pôr parte do fisioterapeuta. O uso do espirômetro como incentivo é capaz de melhorar a motivação da criança (FIGURA 02).Está provado que a natação e os exercícios respiratórios são capazes de melhorar e manter a função da ventilação respectivamente (Shepherd,1996). Exemplos como soprar uma bola de pingue-pong em volta de obstáculos, incentivar a criança a tocar um instrumento de sopro. Reeducação Postural Em decorrência da fraqueza muscular o paciente de Duchenne tende a adotar posturas viciosas, devendo-se, portanto corrigi-las antes que se transformem em deformidades instaladas (Shepherd, 1996). Quando em postura sentada, a criança deve ficar com os pés em 90º. A cadeira deve ter um encosto firme, mas confortável com angulação de no máximo 10º a partir do ângulo reto. Os braços da cadeira devem oferecer apoio adequado para os cotovelos sem a necessidade de encolher os ombros. O tronco e a cabeça precisam ser firmemente apoiados com almofadas a fim de evitar futuros desvios posturais graves, como a escoliose. Ao dormir, a posição mais adequada é em decúbito lateral, preferivelmente, no caso em questão (devido ter sofrido uma pneumectomia esquerda), adotando-se o decúbito lateral esquerdo (com o pulmão direito voltado para cima), o que permitirá melhor expansibilidade torácica do lado conservado, sem esquecer da manutenção linear da coluna vertebral, a fim de se evitar o agravamento da escoliose, através de apoios sob a cabeça e entre as pernas com travesseiros (Tecklin, 1995) Drenagem Postural A drenagem postural deve ter duração aproximada de 5 a 10 minutos, mas pode ser prolongada se necessário e repetida entre três e quatro vezes ao dia, dependendo da necessidade. O paciente é colocado em decúbito lateral, para a drenagem dos lobos inferiores, a não ser que determinados segmentos precisem ser drenados separadamente (Shepherd, 1996). Vibração As Vibrações são aplicadas uni ou 55 bilateralmente no final da fase expiratória, ela consiste em movimentos oscilatórios rápidos e delicados, realizados com as pontas dos dedos durante a expiração. Nos pacientes de Duchenne é indicada principalmente durante a expiração completa pois contribui para a eliminação das secreções acumuladas nas vias aéreas (Shepherd, 1996). (FIGURA 03). resultantes das limitações impostas pela doença. No campo de atuação do fisioterapeuta, a literatura consultada mostrou-se rica, possibilitando a exploração de exercícios respiratórios, drenagem postural, vibração, compressão e tosse. A fisioterapia respiratória melhora a ventilação pulmonar aumentando a efetividade do mecanismo da tosse e prevenindo outros comprometimentos pulmonares (Kisner & Colby, 1998). Referências Bibliográficas AZEREDO, C. A. C. Fisioterapia respiratória moderna. 3.ed. Ed. Manole, 1999. COSTA, D. Fisioterapia Respiratória Básica. 1ª edição. Editora Atheneu. São Paulo-SP, 1999. COTRAN, R. S., KUMAR, V., ROBBINS, S. L. R., Patologia estrutural e funcional. 6.ed. Guanabara Koogan, 2000. KISNER, C., COLBY, L. A., Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 3.ed. Ed. Manole, 1998. SHEPHERD, R. B., Fisioterapia em pediatria. 3.ed. Ed. Livraria Santos, 1996. TECKLIN, J. S., Fisioterapia Pediatrica. 3ed. Ed. Artemed, 1995. www.abdim.gov.br acessado no período de 04/08/2004 a 20/09/2004 www.distrofiamuscular.net acessado no período de 04/ 08/2004 a 20/09/2004 Conclusão Na literatura consultada observamos o enfoque terapêutico visando a manutenção da qualidade de vida do paciente acometido por doenças musculares e degenerativas como a DMD, uma vez que não está disponível, até o momento, uma abordagem que objetive a cura da doença. Neste contexto, tratamentos médicos e abordagens fisioterápicas devem ser explorados para manter as funções básicas e o conforto máximo dos pacientes. A avaliação fisioterapêutica pulmonar e um programa adequado às necessidades de cada paciente pode prevenir e tratar os sintomas pulmonares 56