UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Andréa Machado Sigolo DEPRESSÃO INFANTIL CURITIBA 2008 Andréa Machado Sigolo DEPRESSÃO INFANTIL Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicopedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná como requisito parcial para obtenção co título de especialistas. Orientadora: Laura Bianca Monti. CURITIBA 2008 Resumo O presente artigo propõe-se a realizar uma elucidação a respeito da depressão, apresentando uma revisão histórica dos estudos realizados sobre tal fenômeno. Dentro de tal contexto buscou-se enfatizar a depressão infantil, acrescentando ao artigo o que estudos recentes informam a respeito de suas causas, sintomas, conseqüências e tratamento. Crianças que apresentam um quadro de depressão infantil sofrem alterações em seus comportamentos, gerando na maioria dos casos, conseqüências negativas em seu rendimento escolar. Pelo fato da aprendizagem apresentar-se prejudicada em crianças acometidas de depressão infantil emite-se freqüentemente diagnósticos equivocados em relação a estas, como por exemplo, quadro de hiperatividade, déficit de atenção dentre outros. Torna-se, portanto, de fundamental importância o conhecimento das características de tal fenômeno, reconhecendo que o suposto fracasso escolar é somente o sintoma de um transtorno emocional. O olhar atento de todos aqueles que estejam envolvidos no dia a dia da criança é de suma importância para que sejam identificadas as mudanças e, desta forma, realizado o encaminhamento necessário aos profissionais especializados que possam realizar tratamento adequado. Busca-se, portanto proporcionar melhora na condição de vida da criança e conseqüentemente daqueles que a rodeiam. Palavras chaves: Depressão; sintomas da depressão infantil; rendimento escolar. Abstract This work proposes to make a clarification about the depression, presenting a historical review of the studies about this phenomenon. Within this context trying to emphasize the child depression, presenting recent studies, showing the information about its causes, symptoms, treatment and consequences. Children who present a framework for child depression change in their behavior, generating, in most cases, negative consequences on their school performance. Because learning is hampered in presenting children with depression child, often wrong diagnoses issues are regarding them, such as framework of hyperactivity, attention deficit, among others. It is therefore of fundamental importance the knowledge of the features of this phenomenon, recognizing that the supposed school failure is only a symptom of an emotional disorder. The eyes of all who are involved in day by day the child is of paramount importance, so that the changes are identified and thus made the necessary referral to specialized professionals who can take appropriate treatment, and thus provide on condition improves the child and consequently those that surround. Key words : Depression; symptoms of child’s depression; income school. 2 1 INTRODUÇÃO Os transtornos depressivos constituem um grupo de patologias com alta e crescente prevalência na população em geral. Freqüentemente ouve-se falar que a depressão é o mau do século, haja visto o crescente número de diagnósticos realizados. E por estar tão presente no contexto social atual, observa-se a importância de conhecer melhor suas características, ou seja, fazer com que a população no geral obtenha maiores informações e esclarecimentos a respeito desta patologia, já que conscientização da população pode produzir um olhar atento e é um meio muito eficaz para evitar tratamentos equivocados ou tardios. Os transtornos depressivos podem apresentar-se em qualquer idade, modificando-se os sintomas de acordo com a faixa etária atingida. Verifica-se atualmente que além dos adultos, um grande número de crianças e adolescentes apresentam um quadro depressivo. Porém, tal fato mostra-se bastante recente sendo que somente há poucas décadas iniciaram estudos mais especifico para tal patologia infantil. Considerando, portanto, a abrangência de crianças vulneráveis a apresentarem tal patologia, propõe-se, neste artigo, realizar uma elucidação dos sintomas da depressão, principalmente em crianças e adolescente ainda em idade escolar e, assim, alertar os profissionais e familiares quanto a importância do olhar atento às modificações de comportamentos que mostrem características condizentes com o que estudiosos do assunto afirmam ser sintomas de depressão. O automatismo de pensar que o baixo rendimento escolar e os comportamentos “disfuncionais” estão diretamente relacionados a Transtornos de Aprendizagem deve ser revisto, uma vez que as notas baixas, o comportamento agitado, a dificuldade de concentrar-se, dentre outras características podem ser sintomas de um transtorno depressivo. Muitos estudos e inúmeras pesquisas foram feitos e ainda são realizados atualmente sobre a depressão. Desde o século XIX existem tentativas de se estudar a depressão. Porém tal fenômeno era reconhecido inicialmente somente em pessoas adultas. Segundo Kaplan; Sadock 3 A depressão tem sido registrada desde a antiguidade e descrições do que chamamos agora de distúrbio de humor podem ser encontradas em muitos documentos antigos. A história do rei Saul no Antigo Testamento descreve uma Síndrome Depressiva. Por volta de 450 A.C., Hipócrates usou os termos “mania” e “melancolia” para descrever distúrbios mentais. Cornelius Celsus descreve “melancolia” em seu trabalho de medicina por volta do ano 100 A.D., como uma depressão causada por Bile Negra. O termo depressão continuou a ser usado por autores médicos, incluindo Arateus (120-180 A.D.), Galeno (128199 A. D. ) e Alexandre de Talles no século VI. (1990, p. 305) Bandin; Sougei; Carvalho (1995, p. 27) em uma revisão histórica dos estudos sobre a depressão afirmam que Abrahan, em 1912 conceituou a depressão como perda do objeto amado o que conduziria a sentimentos de culpa e melancolia. Já em 1914, Freud acrescentou sentimentos ambivalentes à perda do objeto amado. Em 1946, Spitz descreveu a depressão anaclítica como síndrome característica de bebês institucionalizados, que sofrem de carência afetiva decorrente da separação materna. Em seguida Melanie Klein, em 1975, descreveu a posição depressiva enquanto fase normal do desenvolvimento infantil considerando que na idade dos 6 meses a criança já é capaz de reconhecer o objeto em sua totalidade e não mais parcialmente. O objeto bom e mal formam facetas do mesmo objeto. Em face desta unicidade a criança experimenta a angustia depressiva e uma culpa em virtude do ódio e do amor que tem em relação ao mesmo objeto Embora tenham sido realizados tais relatos clínicos, percebe-se que muito tempo se sucedeu para que a depressão viesse a ser reconhecida como uma patologia vulnerável também a acometer crianças. Grande parte dos especialistas afirmavam que pessoas nesta faixa etária não eram afetas por tal patologia mental. Segundo Cruvinel;Boruchovitch (2003) no campo da psiquiatria, a depressão infantil despertou interesse somente a partir da década de 70, desconstruindo o antigo pensamento de que a depressão em crianças e adolescente não existia ou era muito rara. Nesta mesma época surgiram também os primeiro instrumentos de avaliação objetiva para depressão na infância, com a publicação de Children Depression Inventory e do Personality Inventory for Children - Depression Scale. Desde então, segundo Miller (2003) a depressão infantil passou a despertar maior interesse e preocupação dos profissionais de saúde, uma vez que esta patologia traz comprometimentos importantes nas funções sociais, emocionais e cognitivas, 4 interferindo no desenvolvimento infantil, de maneira a afetar não só a criança, mas também sua família e o grupo com o qual se relaciona. Do ponto de vista biológico, a depressão é encarada como uma possível disfunção dos neurotransmissores devido à herança genética, a anormalidades e/ou falhas em áreas cerebrais específicas. Trata-se da depressão classificada como endógena, ou seja, aquela geneticamente transmitida. Porém não pode-se presumir que um fenômeno como a depressão seja exclusivamente conseqüência de processos neuroquímicos, pois tal afirmação estaria um tanto quanto incompleta e limitada. Sabe-se que as emoções também apresentam expressão neuroquímica envolvida. França (2001, p.11) cita que, (...) a depressão se manifesta por uma perturbação no mundo das emoções e torna-se difícil atribuir um processo emocional de tal abrangência apenas a um desequilíbrio químico, negligenciando-se a subjetividade humana. Assim a suposição mais realista que pode se defender, compreende que a depressão é um processo psicopatológico e que por tanto também psíquico, embora não haja como saber que ponto ou medida este psiquismo irá atuar na determinação do desenvolvimento da depressão ou em seu curso. Isto é um novo conhecimento de fronteira que ainda necessita ser enfrentado e explorado pelos estudiosos. De acordo com a Classificação Internacional das Doenças – CID -10 (1993) no capítulo de Transtornos Mentais e de Comportamento, a depressão está classificada entre os Transtornos de Humor, onde o indivíduo acometido de tal patologia apresenta (...) um rebaixamento do humor; redução da energia e diminuição da atividade; alteração da capacidade de experimentar o prazer; perda de interesse; diminuição da capacidade de concentração associadas em geral à fadiga importante, mesmo após um esforço mínimo. Observam-se em geral problemas do sono e diminuição do apetite. Existe quase sempre uma diminuição da autoestima e da autoconfiança e freqüentemente idéias de culpabilidade e ou de indignidade, mesmo nas formas leves. O humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode se acompanhar de sintomas ditos "somáticos", por exemplo, perda de interesse ou prazer; despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar; agravamento matinal da depressão; lentidão psicomotora importante; agitação; perda de apetite; perda de peso e perda da libido. O número e a gravidade dos sintomas permitem determinar três graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave. 5 Conforme citado, tal classificação aponta três graus para a depressão: leve, moderada e aguda. E para diferenciá-las observa-se o número de sintomas apresentados, ou seja, menos sintomas serão apresentados em níveis mais leve de depressão e mais sintomas em graus mais elevados. Dentro dessa classificação incluise os episódios depressivos graves sem sintomas psicóticos e com sintomas psicóticos; outros episódios depressivos e episódios depressivos não especificado. Já o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais DSM -IV (1995) caracteriza a depressão como: A característica essencial de um Episódio Depressivo Maior é um período mínimo de 2 semanas, durante as quais há um humor deprimido ou perda de interesse ou prazer por quase todas as atividades. Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável ao invés de triste. O indivíduo também deve experimentar pelo menos quatro sintomas adicionais, extraídos de uma lista que inclui: alterações no apetite ou peso, sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimentos de desvalia ou culpa; dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões, ou pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio. No DSM-IV (1995), conforme descrito acima, existem algumas ressalvas no que se refere às crianças e adolescentes indicando que pessoas nesta faixa etária, acometidas pela depressão, podem desenvolver “um humor irritável ou rabugento, ao invés de um humor triste ou abatido. Esta apresentação deve ser diferenciada de um padrão de "criança mimada", que se irrita quando é frustrada. ”(DSM – IV, 1995). Dados epidemiológicos atuais evidenciam que apesar da depressão infantil ser um quadro com difícil diagnóstico, pelo fato dos sintomas diferirem dos apresentados pelos adultos, é uma patologia que ocorre em grande escala. A depressão é um transtorno que se manifesta de forma distinta dependendo da etapa evolutiva da personalidade e do ambiente onde a criança está inserida. De acordo com DEPRESSÃO...,[199-] descreve-se as características de um quadro depressivo levando-se em consideração as fases de desenvolvimento do indivíduo, conforme quadro abaixo: 6 IDADE/FASE Em Bebês SINTOMA Expressão facial triste; Apatia; Perda de peso ou dificuldade em se ganhar o peso esperado para a idade; Choro freqüente sem causa orgânica; Insônia; Irritabilidade; Atraso da linguagem ou da parte motora; Fase préescolar Inquietação motora; Retraimento e choro freqüente; Recusa em se alimentar; Perturbação do sono; apatia; Não resposta à estímulos visuais e verbais; Mudança súbita e inexplicável de comportamento; Queixas de dores de cabeça e de estômago; Dificuldade de se separar ou separações sem reação; Isolamento social; Linguagem, movimento ou reações lentas; De 7 a 12 anos Sintomas somáticos - dores abdominais, falha em adquirir peso esperado para a idade; Fisionomia triste e/ou de lamentação; Irritação; Diminuição de apetite; Agitação psicomotora ou hiperatividade; Retardo psicomotor; Distúrbio do sono; Balanceios, estereotipias ou outros movimentos repetitivos; Auto e hetero agressividade, colocando-se em situação de perigo; Regressão da linguagem, ecolalia; 7 Enurese Dependência excessiva; Controle precário dos impulsos; Sentimento subjetivo de depressão, queixas verbais de sentimentos como estar "triste", "infeliz", "culpado" ou "pesado"; Irritabilidade, raiva, mau humor, aborrecimentos e reações desproporcionais aos eventos; Anedonia; recusa em ir para a escola dificuldade de concentração e pensamento lento, provocando queda no rendimento escolar; Cansaço e falta de energia freqüentes; Preocupação com pensamentos de morte ou suicídio; Redução da criatividade, iniciativa e compreensão; Choro imotivado; problema de conduta; De 12 à 19 anos O quadro clínico de adolescentes é semelhante ao do adulto. Sentimentos de desesperança; dificuldade de concentração; ideação suicida, podendo ter tentativas; Distúrbios do sono; Perda de apetite; Perda de energia e desinteresse pelas atividades diárias e extra-curriculares (anedonia); Humor irritável, angústia, ansiedade, inquietação e agressividade, dificuldade de lidar com sentimentos de baixa estima, desamparo e desapontamento consigo; Desesperança, sensação de que as coisas não vão mudar; Abuso de álcool e drogas (25% dos casos); Pensamento depressivo, sentimento de inferioridade, descrevendo-se como "sou bobo", "sou ruim", "ninguém gosta de mim"; Perda de interesse por coisas importantes ao adolescente como praticar esportes, sair com amigos, passear; Hipocondria (mania de doença); 8 Baixo rendimento escolar é percebido pelos pais mais do que queixas como cansaço, diminuição do apetite ou dificuldade de concentração; Como mostra o quadro acima, as diversas possibilidades de manifestação do transtorno depressivo abrangem aspectos emocionais e intelectuais do indivíduo. Tratando-se de aspectos importantes para a aquisição do conhecimento como atenção, criatividade, interesse, dentre outros é praticamente inevitável que a criança ou o adolescente não apresente reflexos em seu rendimento escolar. Feshbach & Feshebach (citado por CRUVINEL;BORUCHOVITCH, 2003) afirmam que crianças com história de depressão apresentam um desempenho acadêmico abaixo do esperado. Sommerhadler (citado por CRUVINEL;BORUCHOVITCH, 2003) descreve que na criança deprimida, as funções cognitivas como atenção, concentração, memória e raciocínio encontram-se alteradas, o que interfere no desempenho escolar, uma vez que na sala de aula a criança com sintomas de depressão normalmente mostra-se desinteressada pelas atividades, apresenta dificuldade em permanecer atenta nas tarefas e esse comportamento interfere de forma negativa na aprendizagem dessas crianças. Percebe-se também, que ocorre com freqüência a classificação errônea de tais comportamentos, ou melhor, de tais sintomas. Tanto as crianças como mesmo os adultos que a rodeiam, muitas vezes “julgam” essas manifestações comportamentais como preguiça, má vontade ou birra. Ou então, estas crianças são indicadas como “portadoras” de problemas de aprendizagem e, o que deve-se perceber é que o “problema” deles não está tão somente na aprendizagem, pois o reflexo no rendimento escolar é somente um sintoma que vem “avisar” que sua vida psíquica não vai nada bem. Para as crianças que apresentam sintomas de depressão Garfinkel et al (1992, p.22) chama a atenção sobre a importância de um diagnóstico diferencial desta patologia afirmando que: 9 Antes que o diagnóstico psiquiátrico seja feito em uma criança ou adolescente, condições orgânicas que imitam ou causam sintomas psiquiátricos devem ser excluídas. A incidência de tais condições pode variar de acordo com a idade. Portanto, o conhecimento do desenvolvimento normal é fundamental para fazer um diagnóstico preciso. Por exemplo, pré-escolares apresentando síndromes depressivas deveriam também ser avaliados para malignidades, negligências/ abuso, transtorno de ansiedade de separação, transtorno de ajustamento com humor deprimido. Em crianças pré-puberais, o diagnóstico diferencial para depressão inclui transtorno de ansiedade de separação e transtorno de conduta. Atualmente buscando-se aperfeiçoar o diagnóstico da depressão em crianças, foram desenvolvidos questionários direcionados às crianças, à família e à escola, da mesma forma que busca-se aperfeiçoar os critérios diagnósticos. A depressão, sem dúvida, integra fatores sócio-familiares, psicológicos e biológicos, onde as diferentes teorias não se excluem, mas se completam, contribuindo não somente para uma maior compreensão da natureza multicausal deste transtorno, mas também para a concepção do sujeito em sua totalidade bio-psico-social. Há uma necessidade extrema, portanto, de que sejam realizadas avaliações adequadas com testes e exames eficazes que apontem o problema real evitando um prejuízo ainda maior tanto na produção escolar como no desenvolvimento do indivíduo como um todo. Durante o período em que a criança está na escola ela poderá viver situações que a levem a estados depressivos podendo inclusive agravar seu quadro, caso já o apresente. O contexto escolar torna-se, portanto, de suma importância tanto para identificação de comportamentos alterados como para a própria manutenção dos mesmos. Ocasiões em que a criança sinta-se impedida de brincar sem que entenda que no momento não é possível; ou sinta-se angustiada por reconhecer-se incapaz de realizar atividades em que não tenha compreensão e motivação necessária para persistir ou enfrentar as dificuldades; ou mesmo as constantes perdas em atividades que envolvam competições, são experiências que agem de forma negativa sobre a auto valorização da criança, tornando-a triste e podendo ter conseqüências depressivas. Tanto os professores que estão “ao lado” destas crianças como os demais adultos responsáveis direta ou indiretamente por elas necessitam manterem-se informados a respeito de transtornos mentais e dos principais problemas e conflitos vividos pelas crianças com quem trabalham e convivem, permanecendo atentos às 10 mudanças comportamentais das mesmas. Dentro da escola é o professor, que pelo contato direto com os alunos, tem grandes oportunidades para observar as condições dos mesmos e, se necessário, tomar providências junto aos pais e/ou órgãos de atendimentos para solução de problemas. Da mesma forma, na vida fora da escola os pais, familiares ou responsáveis precisam também se mostrar atentos frente a tais situações. Em ambiente familiar, comportamentos de irritabilidade, agressividade ou tristeza também são possíveis de serem observados, uma vez que para a pessoa deprimida os sentimentos que fazem sofrer podem ser persistentes, incapacitantes e desproporcionais em relação a qualquer causa externa. Como já foi dito no início, a depressão é uma doença como qualquer outra, e pode acometer qualquer pessoa independente de gênero, idade, ou nível social. Portanto, ao identificar tais alterações de comportamentos os professores, ou demais responsáveis devem buscar um especialista sobre o assunto, podendo ser um psicólogo, psiquiatra ou neurologista. E a partir do momento que for identificado algum problema pelo especialista é importante que as pessoas envolvidas com a criança trabalhem juntas: psicólogos, neurologistas, pais, professores, escola, dentre outros. Segundo Fonseca (citado por CRUVINEL;BORUCHOVITCH, 2003) os problemas psicológicos infantis não devem ser considerados como um fenômeno transitório e sem gravidade, já que dados sugerem que essas dificuldades podem apresentar uma grande estabilidade temporal e ainda contribuem para afetar negativamente o processo de desenvolvimento da criança como um todo. A depressão infantil, embora passe por um processo de expansão, já dispõe de tratamentos eficazes. Para as crianças, dificilmente é indicado medicação, a não ser em casos bastantes severos o qual chegue a atrapalhar todo andamento de sua vida. Normalmente a psicoterapia que envolva trabalhos com família e escola mostra-se eficiente. Portanto, um correto diagnóstico mostra-se de grande importância para um tratamento adequado e que de fato venha a proporcionar um bom prognóstico, incluindo prevenção a outras patologias e, sobretudo, para que gere tranqüilidade e sabedoria à família no trato da criança. 11 Um contexto familiar que se caracterize por trocas afetivas, intimidade e comunicação apropriada, tem sido identificado como um importante fator de proteção, ajudando as crianças a manterem um senso de estabilidade e rotina frente a mudanças. As condições físicas e mentais das crianças influenciam no seu desenvolvimento, no ajustamento e, por fim, no rendimento escolar. 12 2 CONCLUSÃO Verificou-se, através do estudo desenvolvido, que os transtornos depressivos geram sintomas que comprometem os indivíduos, independente da faixa etária, em suas relações sociais e familiares, bem como no desenvolvimento cognitivo, escolar e emocional, havendo alterações na forma de pensar, mudanças de humor e de comportamento. Tendo em vista a complexidade desse fenômeno, sabe-se que reconhecer os sintomas depressivos nas crianças pode ser uma tarefa difícil tanto para os pais, quanto para os professores, considerando a sua similaridade com outras dificuldades como hiperatividade, distúrbio de conduta, agressividade, entre outros. Nesta estreita relação, confunde-se qual destes problemas aparecem como sendo primário: os sintomas da depressão contribuem para prejudicar a aprendizagem, ou as dificuldades de aprendizagem levam a em estado depressivo? Por isso, vê-se a necessidade de informar, esclarecer e levar ao conhecimento das pessoas quais são os sintomas desta desordem afetiva objetivando conduzir os professores e/ou familiares a um cauteloso olhar às crianças, para que manifestações comportamentais modificadas, ou mesmo o baixo rendimento escolar recebam atenção adequada. Seja qual for o fator primário, precisa ser encarado com seriedade logo no início. Diante do exposto salienta-se a importância de aprofundar os estudos cada vez mais a respeito dos aspectos emocionais das crianças e sua interferência no rendimento escolar. A depressão infantil é um transtorno que merece olhar atento pois acredita-se que o fato de se conhecer melhor a depressão infantil e suas características, possibilita o encaminhamento precoce, bem como uma atuação preventiva por parte daqueles envolvidos com a criança. 13 3 REFERÊNCIAS BANDIM, J. M.; SOUGEY, E. B.; CARVALHO, T. F. R. Depressão em crianças: características demográficas e sintomatologia. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 44 (1), 27-32, 1995. BARBOSA, G. A.; GAIÃO, A. A. Ansiedade e depressão infanto juvenil: um só transtorno? Pediatria Moderna 35:1/2, 46-58, 1999. BARBOSA, G. A.; GAIÃO, A. A. Apontamentos em psicopatologia infantil. João Pessoa: Idéia, 2001. CID-10: Classificação Internacional das Doenças. 1993. Disponível em: http://www.data sus.gov.br/cid10/webhelp/cid10.htm . Acesso em 22 jan. 2008. CRUVINEL, M. & BORUCHOVITCH, E. Depressão infantil: uma contribuição para a prática educacional. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) V. 7, N 1, 77-84. Jan/Jun 2003. DEPRESSÃO infantil: revisão bibliográfica. [199-]. Disponível em: http://www.avape.org.br/ site/jornada/depressaoinfantil.doc. Acesso em 15 mar. 2008. DSM-IV: Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais.1995. Disponível em: http://virtualpsy.locaweb.com.br/dsm.php. Acesso em 22 fev. 2008. FRANÇA, A. A. Depressão infantil: contribuição ao estudo da incidência dos sintomas em crianças em idade escolar. Monografia. Curitiba, 2001. GARFINKEL B. D, CARLSON G. A., WELLER E. B. Transtornos psiquiátricos na infância e adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas; 1992. p. 15-29. 14 KAPLAN, H.; SADOCK, J. Compêndio de psiquiatria. Porto Alegre: artes Médicas, 1990. MARTINS PINTO, R. C.; RIBEIRO DO NASCIMENTO, A. C. Depressão: uma abordagem prática. Joinville: Letra Médica, 2000. MILLER, J. O livro de referência para a depressão infantil. São Paulo: M. Books, 2003.