Corticoesteróides

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Fórum de Farmacologia
Corticosteroides
CORTICOSTEROIDES
A. Professor Daniel Moura:
Principal característica da toxicidade dos corticosteróides: Qual é o aspecto mais
importante da toxicidade dos corticosteróides para a prática médica?
1ª Proposta de solução:
Penso que a principal característica da toxicidade dos corticoesteróides seja o risco
de insuficiência supra-renal aguda. Um indivíduo medicado com corticoesteróides e que
interrompa bruscamente a terapêutica, pode morrer por insuficiência supra-renal aguda.
Cristiana Marques
2ª. Proposta de solução:
A toxicidade decorrente do uso prolongado de corticosteróides deve-se à frenação
do eixo hipotalamo -hipófise - supra-renal. Estes fármacos têm acções adversas a
diferentes níveis: neurológico, musculo-esquelético, dermatológico, gastrointestinal,
cardiovascular, entre outros.
De todas elas penso que são especialmente relevantes a supressão das respostas
imunitária e inflamatória e as alterações metabólicas e endócrinas. Pelo facto do sistema
imunitário se encontrar "debilitado", a capacidade de resposta do mesmo está diminuida
e a susceptibilidade dos indivíduos às infecções está aumentada. Por outro lado, deve
salientar-se o ganho ponderal e a osteoporose em doentes que tomam corticosteróides de
forma prolongada. Além disso, o uso destes fármacos em crianças pode causar atrasos
de crescimento, pelo que o seu uso deve ser muito bem ponderado nestas faixas etárias.
Andreia Campos
Anti-inflamatórios esteróides e não-esteróides: Que valor médico têm uns e outros?
1ª. Proposta de solução:
AINE’s
• são anti-inflamatórios mas não são imunodepressores
• inibem a síntese de prostaglandinas em doses muito baixas mas, em regra, não
interferem com os leucotrienos, que, à semelhança das prostaglandinas, também são
derivados do ácido araquidónico
• provocam acções anti-inflamatórias e a generalidade de acções adversas por inibição
da síntese de prostaglandinas
• antagonizam apenas os efeitos pirogénicos das citocinas
• a generalidade dos AINE’s são ácidos fracos, que inibem reversivelmente ambas as
COX (à excepção do ácido acetilsalicílico, que as acetila irreversivelmente), sendo que
uns têm maior afinidade para a COX-1 (ácido acetilsalicílico, cetoprofeno, piroxicam,
indometacina,etc) e outros maior afinidade para a COX-2 (meloxicam, nimesulida,
diclofenac, etodolac, celecoxib, rofecoxib,etc)
• são analgésicos eficazes na dor ligeira, quer seja dor inflamatória ou pós-operatória
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• não causam nem depressão respiratória nem dependência física e todos são
antipiréticos
• Como anti-inflamatórios, têm como principal indicação o tratamento sintomático
das doenças musculo-esqueléticas e também a dismenorreia
• são uma das causas mais frequentes de doença iatrogénica; a irritação gastrintestinal
(hemorragia assintomática, erosões da mucosa, úlcera), é a acção adversa mais
frequente dos AINE’s, sendo que o risco de aparecimento destas acções adversas
aumenta com o uso concomitante de corticosteróides. As reacções de hipersensibilidade
(rinite vasomotora, edema angioneurótico, urticária generalizada, asma) são também
bastante frequentes com os AINE’s
AIE’s
• são anti-inflamatórios e imunodepressores
• ligam-se a receptores citoplasmáticos específicos que depois são transferidos para o
núcleo, modificando a transcrição de RNA mensageiro. Desta acção resulta a alteração
da síntese de proteínas específicas. Muitos dos seus efeitos anti-inflamatórios decorrem
destas acções
• induzem a síntese de lipocortina, que tem efeitos inibitórios sobre a fosfolípase A2,
impedindo assim a formação de ácido araquidónico a partir dos fosfolípidos das
membranas celulares, que é, usualmente, muito activa nas reacções inflamatórias.
Assim, é diminuída a síntese quer de prostaglandinas pela via das COX, quer de
leucotrienos pela via da lipoxigénase, por falta do precursor, o ácido araquidónico
• antagonizam os efeitos pirogénicos e anti-inflamatórios das citocinas
• modificam pouco a expressão de COX-1 mas diminuem a expressão de COX-2, o
que contribui para o seu efeito anti-inflamatório
• reprimem a expressão dos genes da classe II do complexo major de
histocompatibilidade
• condicionam a transcrição de numerosas citocinas, de interferão e também a
expressão membranar de alguns dos seus receptores. Essas acções podem ser quer de
tipo estimulador que de tipo inibidor sobre a transcrição proteica
• exercem acções sobre o movimento e a função leucocitária, bem como sobre os
factores humorais. Uma acção importante é a que resulta da inibição do recrutamento
dos neutrófilos e dos monócitos-macrófagos para os locais da inflamação. Os
glicocorticóides causam leucocitose neutrofílica, monocitopenia, eosinopenia e
diminuem a actividade bactericida dos monócitos-macrófagos
• possuem uma extensa lista de acções adversas, como por exemplo, síndroma de
Cushing iatrogénico, frenação do eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal, neurológicas (
pseudotumor cerebral, convulsões), psiquiátricas (ansiedade, depressão), oculares
(cataratas, glaucoma), cardiovasculares (hipertensão, agravamento de insuficiência
cardíaca), gastrintestinais (úlcera péptica, pancreatite), metabólicas/endócrinas
(obesidade, acne, hirsutismo, impotência, hiperglicemia), dermatológicas (eritema
facial, estrias, petéquias, equimoses, atrasos na cicatrização) e musculo-esqueléticas
(miopatia, osteoporose)
• relativamente às acções adversas gastrintestinais, estas diferem das dos AINE’s na
medida em que não levam ao aparecimento de úlceras de novo mas lentificam a
cicatrização de úlceras preexistentes ou manifestadas de novo
Sara Martins
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Comentário do prof.
O texto da Sara Martins está bem estruturado e compara bem o valor médico dos
anti-inflamatórios esteróides e não-esteróides.
Que diferença há entre entre lipocortina e anexina 1?
Proposta de solução
Anexina 1 e lipocortina são a mesma proteína, sendo que anexina 1 é a designação
mais recente. É uma proteína anti-inflamatória cuja produção está aumentada sob a
acção dos glicocorticóides, assim como a MAPK (fosfatase 1).
Sara Martins
Que outros anti-inflamatórios esteróides se usam por via tópica com o propósito de
se evitar a toxicidade sistémica deste grupo de fármacos?
Proposta de solução
Além da betametasona e da beclometasona, usa-se por via tópica a fluticasona
(tratamento da asma e da DPOC), o budesonido (tratamento da asma brônquica, para
controlo da inflamação das vias aéreas), ambos por via inalatória. A fluticasona também
pode ser usada em creme para o tratamento de doenças do foro dermatológico. Usa-se
também por via tópica a metilprednisolona em creme, emulsão cutânea, pomada ou
solução. As três primeiras formas são usadas para o tratamento de eczema endógeno
(dermatite atópica, neurodermite), eczema de contacto, seco, degenerativo, eczema
vulgar e infantil. A solução é usada para o tratamento de dermatoses inflamatórias e
pruriginosas do couro cabeludo, eczemas seborreico, de contacto, numular e vulgar. A
dexametasona (em creme), para o tratamento de dermatopatias inflamatórias ou
alérgicas, prurido, dermatites, eczema, acne, queimaduras, colagenoses, etc. A
hidrocortisona, também para o tratamento de doenças do foro dermatológico (eczemas,
psoríase, picadas de insectos), bem como a alclometasona, a triancinolona, acetonido,
desonido, clobetasol, clobetasona, mometasona. A fluocortolona é usada em creme ou
supositório como anti-hemorroidário. A prednisolona é usada em pomada oftálmica
para o tratamento de blefarites, conjuntivites, uveítes. A dexametasona é usada em
colírio para tratamento de afecções conjuntivais, iridociclites, situações conjuntivais
alérgicas.
Sara Martins
Que problemas existem com o uso de corticosteróides durante a gravidez?
Proposta de solução
Os corticosteróides têm sido frequentemente utilizados em grávidas sem que se
tenham referido efeitos sérios. No entanto há algumas referências de fenda palatina,
anencefalia e diminuição do peso do recém-nascido associados ao seu uso. Estão
também descritos alguns casos de insuficiência supra-renal do recém-nascido. Os ciclos
de corticoterapia para indução de maturação pulmonar (preferencialmente com
betametasona) devem restringir-se a um único corticosteróide, para assim obviar ao
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apareciemento de efeitos indesejáveis, tais como insuficiência supra-renal aguda, lesões
cerebrais e oculares. A betametasona é usada por um pequeno número de mulheres
grávidas que não evidenciou efeitos nefastos sobre o feto. Apesar de passar para o leite,
não parece ter efeitos deletérios sobre o lactente (nas doses terapêuticas). A cortisona,
dexametasona, hidrocortisona e metilprednisolona são fármacos que pelos seus efeitos
farmacológicos causam ou são suspeitos de poderem causar efeitos deletérios sobre o
feto sem serem directamente teratogénicos. Passam para o leite e têm efeitos deletérios
sobre o lactente, mesmo em doses terapêuticas. A beclometasona e o budesonido, por
inalação, são fármacos de uso frequente e generalizado por um grande número de
mulheres grávidas e que não evidenciaram efeitos nefastos sobre o feto. Quanto às suas
acções sobre o lactente, não há informações. Os esteróides anabólicos e androgénios são
fármacos teratogénicos para o feto e para os quais não há informação quanto à sua acção
sobre o lactente.
Sara Martins
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